EDUCAÇÃO - Sociedade Civil, Política, Estado e Futuro.

June 22, 2017 | Autor: V. Silva Do Rego | Categoria: Sociologia da Educação, Educação, Cultura Politica, Ideologia E Hegemonia
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EDUCAÇÃO: sociedade civil, política, Estado e futuro. Microensaio prótese fora do diapasão pedagógico. Volmer Silva do Rêgo

CONCEITOS CHAVES: A Educação como mercadoria – A Educação como produto – A Educação como fruto da desordem social – A Educação como ideologia do continuísmo.

Tenho lido, ouvido e assistido muitas discussões sobre Educação. Eu mesmo, às vezes, me atrevo, nos meus vinte e tantos anos de vivência em escolas públicas, a fazer intervenções críticas sobre o tema. Sempre no risco de perder o emprego, ou de ser transferido para muito longe, a ponto de tornar insuportável o ter de ir e vir do trabalho, uma prática contumaz do estado burocrático autoritário coercitivo (curiosamente eleito) quando não diretamente, através de suas diretorias regionais, lá também para isso... Imagino que as discussões atuais que acompanho e se seguem sobre o tema afastaram-se, e muito, dos paradigmas propostos por Paulo Freyre. a) Valorização da cultura. b) Homem é um ser histórico e, portanto, inacabado. c) Educar para a conscientização. d) Ler a palavra para ler o mundo, compreendendo sua condição de oprimido. e) Binômio: educador-educando, educando-educador. f) Relações afetivas, democráticas e ombreadas. g) Coerência.

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Assim como também percebo a carência de orientadores sociais do calibre de Anysio Teixeira, que se debruçou sobre a problemática educacional do país e apontou caminhos a serem percorridos – nenhum deles sem pedras e tropeços – mas, todos exequíveis. Entretanto, desta vez quero me ater a dois princípios que regem a Educação; primeiro enquanto uma política pública: um serviço de um governo - que pretende responder aos direitos e às demandas organizadas dos indivíduos – movimentos civis – que num determinado pleito, elegeu a plataforma eleitoral que melhor deu tratamento à questão, o que a reduz ao governo eleito e ao seu período de vigência, mas, com vistas ao desenvolvimento do Estado-sociedade e de seus interesses, ele (Estado) dotado de um corpo burocrático pensante e estrutural que procura sempre vencer desafios imputados pelo desenvolvimentismo e pela competição, a meu ver até certo ponto desnecessários, dado muitas vezes ao seu caráter de subserviência e a imposição do modelo, mas ambos apresentados como paradigma atual do sistema, e a direção inquestionável a seguir, como resposta necessária e suficiente para todos os males da modernidade, ou, no mínimo, como modo preventivo para o não retorno à barbárie, uma contradição imanente que parece justificá-la, dado que no limite extremo de suas manifestações as guerras produzem desenvolvimento, binômio apontado pelo historiador egípcio Eric Hobsbawn (¹) no transcorrer de sua tetralogia: “A Era das Revoluções - Era do Capital - A Era dos Impérios - Era dos Extremos, o breve século XX” como motor responsável pelo vai e vem das nações “desenvolvidas contra as em desenvolvimento” (até onde esta falácia conceitual histórica for verdadeira – prefiro traduzir por guerreiras invasoras, de um lado, e pacíficas sem defesas do outro, tendo em mente o que as leva a serem assim), desde a segunda metade do século XVII a partir das revoluções francesa e industrial, e o impacto que tiveram sobre as pessoas e os países. Ocorre que as guerras estão a se fazer por si mesmas, com finalidades absolutamente distintas do desenvolvimento preconizado ou apontado pelo historiador britânico (guerras por território, como as que ocorreram dentro da Europa e atngiram ápices

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em 1918 - a primeira grande guerra mundial - e novamente em 1945 a segunda - o que significa busca e posse de mais recursos enquanto há contiguidade geográfica), por isso mesmo, capazes de acelerar o surgimento e o desenvolvimento de nações mais poderosas e prósperas em detrimento dos processos de obscurantismo que dizem querer evitar, mas que acabam por vitimizar as nações ou países mais frágeis. Levadas ao paroxismo da pós-modernidade o máximo que produzem parece ser novas guerras, num processo de feedback interminável - a guerra pela guerra. No limite, imagina-se que serve apenas e tão somente a um elo da cadeia sistêmica das linhas de produção fabril, industrial e econômicas – a saber, a indústria bélica. A única interessada em promovê-las. Pode-se pensar na indústria da reconstrução urbana que se segue tão logo uma destruição territorial ocorra, mas, isso deve ser assunto para outro texto. Há, contudo, também, que se entender e atentar para a importância e os fundamentos práticos da geopolítica que atuam nas frentes burocráticas, administrativas, de fundo econômico e político, interferindo fortemente na soberania dos países a partir de métodos democráticos e regionalmente aceitos, ainda que ilícitos e irregulares, não necessariamente despidos de violências de toda ordem, inclusive militar, como se tem visto fora do eixo eurocêntrico e norte-americano, fomentadores interessados em projetos hegemônicos que geram desequilíbrios regionais. Qualquer alusão a neocolonialismo e globalização é mera redundância. Pois bem! Decidi dividir inicialmente, e a título de sugestão apenas, a questão nestes ‘departamentos’ para poder diferenciar com mais precisão o que sejam as forças antagônicas, e ao mesmo tempo complementares, que formalizam a existência da nação, ou a sociedade ou o país, e simbolizam a sua liberdade. De um lado a sociedade civil cada vez mais organizada em seus nichos de participação reivindicatória da vida no país: sindicatos, associação de mulheres, moradores de rua, os sem terra, professores, advogados, médicos, engenheiros etc., enfim categorias sociais definidas a partir de suas atividades de trabalho, ou profissionais que procuram pacificamente tornar conhecidas as suas necessidades, institucionalizando-se e às suas lutas com vistas à manutenção da própria sobrevivência, forças sociais pertencentes a diversos substratos que ganharam vulto nos últimos trinta anos. O salto evolutivo na luta por

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consciência cidadã, resolução de conflitos e busca de soluções para os problemas básicos do país são evidentes. De outro lado o Estado, um organismo complexo e analítico de instituições, ambos, Estado e institucionalismo, com vidas próprias, ali representadas e em litígio constante pela organização e funcionamento, que deveria definir e propor uma ordem e orientar os caminhos e percalços necessários e suficientes para que a sociedade como um todo, alcançasse os graus de desenvolvimento e uniformidade desejados, minimizando os conflitos originados por esta aproximação. Embora forte, um organismo ainda desajeitado. E dentro da esfera do Estado e da arena na qual tais conflitos se operam a categoria política (dispensa apresentações) como a ‘qualificada’ (ou que deveria ser) a orientar e canalizar as forças estatais e seu potencial, para dar vazão e apontar soluções de interesse da sociedade civil (povo?) em teoria, dentre as quais a aqui abordada: Educação (²). Dados estatísticos parecem comprovar e apontam a eficácia da Educação como fomentadora essencial para incrementar o desenvolvimento do povo e de um país, e que por ela pode-se alcançar patamares satisfatórios e colocar-se, a partir de então, dentre os competidores, como um dos melhores ou pelo menos dentre os capazes. Entretanto, estas mesmas estatísticas não dizem que há diversos modos de desenvolvimento, e que estes se alcançam de formas diferentes e em diferentes espaços e tempos, equivale dizer cada qual com um papel a representar, se e somente se, imaginarmos o mundo como uma orquestração que busca harmonizar-se por um diapasão comum. E que a educação prima pelo respeito e pelo conhecimento do outro, e que por isso mesmo não o exclui como o método competitivo preconiza apontando a primeira contradição que nos move, tendo em vista o aspecto dialético inerente à natureza histórica e processual e dos diversos graus civilizatórios que cada um alcançou e representa, invariavelmente ligado a interesses particulares. Quem tem mais dinheiro, mais armas, mais territórios, mais poder de fogo e barganha se impõe, e deste fato surge a segunda contradição que abala põe por terra, sem esforço de análise, a proposição de que a educação é balizadora e construtora de mais e melhores mundos apreciáveis.

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Temos o desenvolvimento tecnológico – um modelo - como a ponta, o mais avançado, o preferido a ser alcançado pelas nações. A moderna ciência deu as mãos à tecnologia e aos seus objetos de animação. Foguetes e transportes marinhos e terrestres, sondas nucleares, 'bionanoengenharia' genética, domínio das ondas e das partículas criadoras do universo, telecomunicações etc... O populacho de espírito frágil se encanta com os aparelhos de telefonia móvel e seus apps, teoricamente facilitadores da vida moderna, suas interações e interlocuções com outros utensílios domésticos, com os automóveis, e, ajoelhado na frente da tv ou do computador (modelos que já se vão despedindo da modernidade, vitimados pela obsolescência programada) envolve-se com o mundo numa panaceia estática e bissensorial, enquanto sonha viagens mais distantes, mergulhos mais profundos, sem medo do escuro. Tudo o que o mercado faz, como uma das potências ‘organizadas’ da sociedade civil direcionadas pela natureza humana e sua necessidade de estar próximo de outros, é aproveitar do conhecimento emanado e produzido pelo circuito Educacional (transmissão de conhecimentos, após organização e processamento das informações recolhidas dos dados), selecionar o que melhor lhe convém e investir pesado na ‘publicização’ – divulgação, disseminação - destes processos resultantes, portanto produtos, favorecendo um nicho da indústria contemporânea. Assim, comunicações e transportes disparam na frente e são as pontas de lança desta corrida, rumo ao futuro sem rumo. Todo o resto da cadeia produtiva – física e lógica - fica à deriva ou na dependência, e às vezes na contramão desta disposição competitiva, e para não perder tempo e terreno adere à moda, ou surfa na onda, como diria um técnico publicitário. A Educação não se encontra fora do sistema, adapta-se para não se perder (ou já se perdeu?) e procura acompanhar o fluxograma indutivo dos detentores comandantes dos processos e suas diretivas. Aí tudo se mistura e o reino da quantidade se instaura(³). O carro certo para combinar com o mobile ideal, a roupa, o lugar, a bebida, o tipo de corpo e a forma da mulher, o corte de cabelo, com o relógio de pulso e o cartão de crédito, a conta de seis dígitos no banco Mais, aquele esquema que vai te proporcionar

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as férias perfeitas com a alimentação correta e balanceada que seu corpo precisa para você tornar-se cobiçado, invejado, querido, preferido e destacado entre os milhões de seres circundantes quase todos curiosamente sem face, aqueles perdidos que estão circulando sem direção exata, atoleimados na multidão sem função definida, deseducados, feios, esquecidos, abandonados e muito distantes do paraíso artificial para onde todo enunciado anterior aqui em cima já te remeteu. Dentro da 'mistura fina' que a sociedade da quantidade reinante, resultado do processo criativo, orgânico, egocêntrico porquanto competitivo promove, entra a novamente a Educação como método, não exclusivamente, mas inclusivamente entranhada ao processo, a condição essencial para que o indivíduo alcance seus fins, a percepção individual das suas necessidades como resultante dos conflitos internos e do jogo das contradições que o formam, ao observar a sociedade sem compreendê-la, às pessoas, o planeta, os recursos pessoais seus e os coletivos, mundiais, a concentração destes nas mãos de poucos, a distribuição não equilibrada, o fomento de crises contagiosas com interesses pré-definidos e tudo o mais que se lhe chega sem que tenha solicitado ou pedido formalmente, misturando-se aos meios e deturpando seus fins, obrigando-o a novas necessidades, não necessariamente suas por princípio, mas que além de responder e induzir ao modelo que uma parcela da sociedade desenvolveu para si, na defesa de seus interesses particularistas reduzidos, e que procura através de truques e efeitos cinematográficos refletir o anseio coletivo, a vontade comum e geral, criou e determinou como sendo o melhor, o da posição certa, no lugar certo, na hora certa, tapam-lhe o sol, turbam-lha a visão, impedem-lhe a crítica e entropicamente não lhe traz nem lhe dá satisfações e oportunidades de fugir da direção do discurso único, de mudar o rumo e escapar da sociedade baseada em desejar, esforçar-se, consumir, usar e descartar para se tornar o número um, o destaque entre tantos... O espermatozoide que vai fecundar a nova era em uma fêmea perfeita, limpa, saudável, fértil... Os ícones confusos e vazios da contemporaneidade... Daí que tenho lido, ouvido e visto muitas discussões sobre Educação: uma que prima pela necessidade de criar as condições ideais para que os indivíduos se projetem

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socialmente e projetem uns nos outros as suas necessidades, o papel da política social de estado que deve gerir tais condições na sociedade, torná-la produtiva como um todo para que participem da novidade, do progresso, do desenvolvimento, obviamente depositada nas mãos de gente despreparada, irresponsável e irresponsiva e, por isso mesmo, a criação de subsistemas inócuos, se autorreproduzindo e incapazes de avançar na geração de indivíduos pensantes para recriar uma sociedade capaz de mudar este rumo, e, por outro lado, àquilo ao qual o indivíduo responde como estímulo dado, a criação de uma postura contrária à provocação constante e sua resistência à aderência, a anemia espiritual que não se opõe ao consumo destes objetos e ideias num mundo curioso, cada vez mais feito para servir, mas que ainda são produzidos por mãos humanas (muitos processos de inteligência artificial já substituem a intervenção direta do homem - máquinas produzindo máquinas), até o momento em que aqueles nascidos, criados e educados ou feitos para servir, deixarem de ser necessários...

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REFERÊNCIAS (1) HOBSBAWN , Eric - A Era das Revoluções _____ Era do Capital _____ A Era dos Impérios _____ Era dos Extremos, o breve século XX. (2) – EPT (Educação para todos) A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO – Relatório UNESCO – Brasil 2000- 2015 em: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single view/news/only_a_third_of_countries_reached_global_education_goals/#.VjpQtXpViko (3) GUÉNON, René - O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos (Lisboa, Dom Quixote, 1989, e S. Paulo, Irget, 2009).

COMPLEMENTARES - Vale à pena ler:

http://www.pucpr.edu.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/541_365.pdf Anysio Teixeira em: - http://www.scielo.br/pdf/es/v21n73/4203.pdf

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