psicologia
rodrigo fernandes meireles
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Educar no amor
H
á quem diga que estamos vivendo a era da informaAs reverberações desse fenômeno social na educação ção, ou era digital, marcada pela difusão do cibe- familiar são sentidas quando percebemos pais que não têm respaço e pelo dinamismo da troca de informações tempo para um contato mais duradouro e fecundo com seus entre as pessoas. O acesso à informação se ampliou filhos e quando os filhos já não respeitam seus pais e respone o conhecimento está ao alcance das pessoas a uma veloci- sáveis, crescendo sem limites, regras ou diálogo. As relações dade cada vez maior. Assistimos ao surgimento de novas fer- desenvolvidas no seio familiar ultrapassam as paredes do próramentas educacionais e à ampliação do acesso à internet e prio lar e alcançam outros espaços da vida social, podendo ser às redes sociais, o que possibilita mais troca de informações percebidas em pessoas que enaltecem os próprios direitos, e conhecimentos, além de novas formas de aprendizado. mas ignoram seus deveres; que reclamam por liberdade, mas Nesse contexto, percebe-se temem assumir responsabilidades. uma multiplicação de vozes, fonSabemos que a educação deve tes e referências sobre os assuntos ser capaz de proporcionar sujeitos A educação deve ser capaz mais diversos. A todo instante nos livres e autônomos, mas é deveras deparamos com novos persona- de proporcionar sujeitos livres importante esses sujeitos também gens de sucesso na internet, com serem dotados de consciência crídicas e opiniões variadas e, não e autônomos, mas é importante tica, saberem assumir responsabiliraro, também com uma enxur- que eles também sejam dotados dades e preservar interesses tanto rada de postagens nas redes soindividuais quanto sociais. Nessa ciais repletas de receitas de vida, de consciência crítica e saibam perspectiva, a ação do educador, orientações ou frases de efeito na família e na escola, assume um assumir responsabilidades cujo sentido importa apenas para papel relevante como contraponto quem as postou. Muito se diz e se à lógica pós-moderna individuacompartilha, mas pouco se esculista na medida em que, além de ta. Tal polifonia pode impactar na educação e no desenvol- transmitir informações, também prepara um ser humano a vimento de uma pessoa, sobretudo no que tange à solidez relacionar-se com o seu meio e com os outros. dos valores que esta pessoa aprendeu e escolheu para a Sob esse prisma, educar é um ato de amor, pois é capaz sua vida e na qualidade das relações interpessoais. de proporcionar ao educando a descoberta de si e um cresNão obstante o aumento do acesso e da circulação da cimento pessoal na relação consigo mesmo, com os outros e informação, alguns pensadores, como Gilles Lipovetsky e com o mundo onde vive. Segundo o filósofo italiano Giuseppe Zygmunt Bauman, destacam que a pós-modernidade nos Maria Zanghì, amar é fazer com que o outro seja, o que implica levou a uma individualização dos valores, proporcionando ir ao encontro do outro, ser presença de amor e, através do diuma “era do vazio” ou ainda a uma efemeridade das rela- álogo, possibilitar o desenvolvimento de uma consciência resções. Cada um produz a sua própria linha de valores e esco- ponsável. Educar no amor significa, portanto, fortalecer as relhe como quer viver. Com isso, palavras como respeito, tole- lações e valorizar a solidariedade e a fraternidade, sendo uma rância e confiança vão sendo revistas à luz de perspectivas preciosa resposta aos dilemas sociais que atravessamos. individuais, ameaçando destruir a importância de relações significativas, como as relações familiares. Numa sociedade que valoriza o próprio bem-estar e a felicidade pessoal, o O autor é psicólogo, psicoterapeuta com formação em Psicoterapia Humanista-Fenomenológica, especialista em Psicodiagnóstico e mestre em outro passa a ter sentido apenas como meio para o desen- Fundamentos e Perspectivas de uma Cultura da Unidade (IUS). É membro do grupo Psicologia e Comunhão volvimento do próprio eu.
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Cidade Nova • Dezembro 2016 • nº 12
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