EducaTV - um projecto em desenvolvimento em Moçambique

May 30, 2017 | Autor: A. Batel Anjo | Categoria: Education, Teacher Education, Television, Comunicación Audiovisual
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um projecto em desenvolvimento em Moçambique António Batel Anjo Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano ISCTEM – Instituto Superior de Ciências, Tenologia e Engenharia de Moçambique

Soraia Amaro UPI – Unidade de Processamento de Ideias, Lda.

Resumo A EducaTV é um sistema de apoio ao sector educativo, dedicado às áreas que apresentam piores resultados de aprendizagem, cujo público-alvo são os docentes, os alunos e a comunidade em geral. Neste projecto estão abrangidas as disciplinas de Matemática e Ciências Naturais, principalmente na vertente Experimental e de Campo. Através da televisão – neste caso particular tendo a TVM como parceiro privilegiado – estes conteúdos são replicados a nível nacional, podendo ser usados das mais variadas formas em todo o país e por toda a comunidade escolar com o objectivo de melhorar globalmente a qualidade de Ensino. Neste primeiro conjunto de programas privilegiam-se, como foi dito anteriormente, as Ciências Naturais e a Matemática que, no sistema de ensino, apresentam resultados muito fracos e com uma grande erosão de alunos que precocemente abandonam as disciplinas destas áreas. A passagem de programas da EducaTV em canal aberto contribui fortemente para contrariar, e de preferência inverter, a procura de cursos que dão acesso às profissões de Ciências e Engenharias. Um baixo número de alunos no Ensino Superior nas áreas referidas compromete seriamente o desenvolvimento do País. Além de todos os aspectos já referidos, a utilização da televisão como forma de divulgação destes programas contribui para a Divulgação de Ciência através de um aumento da Cultura Científica da população. Tecnologia | Ensino | Aprendizagem Conteúdos |Televisão

1. Introdução A produção e a difusão de material didáctico audiovisual visa a melhoria do processo de ensino e aprendizagem, de acordo com o currículo do Ensino Secundário Geral, das disciplinas de Ciências Naturais (Biologia, Física, Química e Geologia) e Matemática, é um auxiliar para a melhoria da capacidade de professores e alunos fazerem uso dos equipamentos e laboratórios que se encontram nas escolas. Sabemos que nem todas as escolas possuem laboratórios equipados, mas nas escolas onde existem não há motivo para que os professores e os alunos não os explorem. Existe um leque generoso de objectivos que se cumprem com a EducaTV: 1. Criação nacional de material didáctico para os alunos e professores. Além da aula em formato audiovisual, esta é acompanhada por dois textos sendo um para os alunos, com a exploração teórica e teórico-prática da matéria apresentada, e outro texto de exploração do vídeo em sala de aula dedicado ao professor. Este tem, assim, uma planificação da aula desde a introdução do conceito à exploração experimental ou em trabalho de campo; 2. Dinamização de actividades experimentais e, de um modo geral, da sua abordagem ao ensino das Ciências. Os programas podem ser enviados em DVDs, conjuntamente com o material de apoio, para as escolas, o que irá contribuir para melhorar a formação dos docentes no uso do material de laboratório; 3. Profissões para o futuro. Ao melhorar a aprendizagem dos alunos nestas matérias, estamos a melhorar o seu envolvimento nas áreas cientificas e a sua apetência pelas profissões de Ciências; 4. Equidade. A Difusão em sinal aberto faz com que os conteúdos saiam da esfera da escola, e possam ser visto pelas famílias e nas comunidades, contribuindo para a dignificação do Professor, reforçando o seu importante papel de elemento de suporte da instrução e educação; 5. Referência para pais e encarregados de educação que, desta forma, terão um elemento de comparação com a realidade que observam na escola e podem, assim, acompanhar os alunos na sua aprendizagem. A EducaTV cumpre uma função ainda mais abrangente, que vai para além do seu espaço em sala de aula - é um poderoso instrumento de Comunicação de Ciência. Ao desmistificar as Ciências e a Matemática através das experiências e do trabalho de campo, leva a um entendimento dos fenómenos da natureza levando a um aumento da curiosidade e à elevação da Cultura Científica. A escolha do meio audiovisual justifica-se pelo seu carácter dinâmico de multiplataforma, que vai desde a circulação através da internet, mobile e computador, até ao simples DVD cuja tecnologia está presente na maioria das escolas. A criatividade do audiovisual é imensa. As condições técnicas e tecnológicas permitem criar conteúdos atractivos, versáteis, de fácil manuseamento e duráveis tanto para professores como para os alunos e para as comunidades. A sua difusão na televisão pública em canal aberto tem uma característica que se deve acentuar – a equidade. Todos os alunos, todos os professores têm a oportunidade de os ver já que a cobertura televisiva é total. A aposta na TVM multiplica o nosso público-alvo por largos milhões de espectadores. Através de um canal público, chegamos mais longe – levando a Educação e Ciência a todo o território – um meio democrático e equitativo.

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2. A Ciência como resposta Avaliando o contexto do ensino em Moçambique e os números referentes ao acesso ao Ensino Superior, somos confrontados com uma profunda diferença entre os alunos que escolhem cursos superiores na área das Ciências Sociais e os alunos que enveredam por cursos de base científica e matemática. Oitenta por cento dos alunos que acede ao Ensino Superior opta por cursos de Letras e Ciências Sociais, o que deixa uma fatia muito pequena para os cursos de pendor científico, levando a que se graduem muito poucos alunos nestas áreas, como o gráfico abaixo ilustra.

Estudantes Registados em 2015 Serviços Saúde Agricultura

3139 5269 3075

Engenharia

12798

Ciências Naturais

8116

Ciências Sociais Artes e Humanidades Educação

41989 4406 34037

O País não está a formar engenheiros e cientistas em número suficiente. Segundo a Ordem dos Engenheiros, em 2014 havia apenas 1.795 profissionais inscritos na Ordem, distribuídos da seguinte forma: 45% especializados na construção civil, 25% em eletrónica, 11% em agronomia, 11% em mecânica e 8% em química. Há, no entanto, os engenheiros que trabalham e não estão inscritos na Ordem. Isto mostra como é grande a lacuna de profissionais de base cientifica em número suficiente para dar resposta às necessidades do país. Estes dados são ainda mais evidentes hoje, com o desenvolvimento dos grandes projectos que necessitam de profissionais em áreas de crescimento já identificadas. Se nada for feito para alterar este cenário, a procura de profissionais continuará a ser maior que a oferta, mantendo o país refém da importação de mão de obra qualificada ao estrangeiro.

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Na EducaTV, a Comunicação em Ciência tem um papel de grande importância já que será ela a responsável pela actracção de jovens para a Ciência. A linguagem usada e o formato televisivo aproximam os jovens, e o público em geral, dos conteúdos científicos sendo um contributo assinalável para a criação da cultura científica. É importante fazer este trabalho junto das crianças e dos jovens, para que ganhem desde o início da sua carreira escolar gosto e apetência pelas Ciências e, assim, não tracem o seu percurso à margem destas áreas, tendo depois de enveredar por cursos de Humanidades e Letras, já sobrecarregados. A criação de conteúdos que sejam visualmente atrativos, dinâmicos, que prendam a atenção do espectador, despertem a curiosidade para saber mais e sejam cientificamente correctos, implicam uma produção com cuidados redobrados. São vários os aspectos a ter em conta – o guião, a produção televisiva, os aspectos didácticos e científicos -, merecem um cuidado especial e nada pode ser deixado ao acaso.

3. Democratização do Acesso O acesso ao livro, no Ensino Secundário, e a outros materiais didácticos ao longo de todo o território é profundamente desigual. São poucas as livrarias fora da Cidade de Maputo e os preços praticados estão muito para além daquilo que o cidadão comum pode despender. Esta situação conduz a situações de iniquidade gritantes, já que os alunos são submetidos a exames nacionais sem estarem em posse dos mesmos materiais de estudo. A mesma situação pode ser referida em relação aos professores cuja formação em exercício e o acesso às tecnologias está condicionada pelo local onde trabalham. Estas iniquidades fazem com que os resultados obtidos pelos alunos nos exames nacionais não sejam comparáveis. É urgente encontrar medidas que conduzam à equidade e democratização do Ensino. Quando falamos das Ciências e da Matemática as preocupações aumentam e a necessidade de resposta passa a ser urgente dentro de todas as urgências. A difusão em canal aberto de conteúdos escolares de base científica ajuda a atenuar tudo o que foi dito. É desde logo uma resposta à necessidade de democratização e equidade no acesso a materiais de estudo, mas encontramos outra virtude que é a de ajudar a criar na população uma consciência e cultura cientificas. Sem dúvida, esta é uma contribuição para o desenvolvimento nacional. A desmitificação de algumas crenças em áreas como a saúde, as práticas agrícolas ou os fenómenos meteorológicos, por exemplo, são aspectos que podem ser explicados de forma a que todos entendam. Sabemos que quando um assunto é apresentado em televisão as pessoas debatem e discutem ganhando desta forma maior visibilidade e proximidade. Podemos assim ter uma população mais esclarecida e mais apta a discutir a Educação e a qualidade desta.

4. A qualidade e experiência Quando comunicamos Ciência, o rigor não é opcional – é fundamental. É fundamental traduzir a linguagem científica de uma forma que os jovens e os cidadãos comuns compreendam, mas tal não implica colocar de lado o rigor científico. Este cuidado redobrado na abordagem de conteúdos científicos implica tempo. E uma equipa com experiência e sensibilidade para esta temática, capaz de transformar matérias cientificas em atrativos conteúdos de televisão. A experiência do programa “Geração 2030” que, sendo um programa de divulgação de ciência produzido entre Moçambique e Portugal, foi um projecto muito enriquecedor e demonstrativo da capacidade de produzir em Moçambique programas desta natureza. O programa foi uma 4

iniciativa do PmatE/Universidade de Aveiro, do Projecto Pensas e do Ministério da Educação de Moçambique, financiado pela Agência Nacional de Ciência Viva de Portugal com verbas do Compete, e contemplou, na TVM, um ano de emissões semanais dedicadas a temática de Ciência. Porque é que o céu é azul? Porque é que o mar é salgado? Como é que é feito o vidro? Como é que os meteorologistas prevêem o tempo? Filmado entre Portugal e Moçambique, o Geração 2030 deu voz a alunos e investigadores portugueses e moçambicanos e procurou acordar nestes alunos a vontade de serem os cientistas de amanhã.

5. O Ensino em Moçambique Como descrito acima, o contexto do Ensino das Ciências não é encorajador. Apesar das Escolas Secundárias estarem, em boa parte, equipadas com material de laboratório, os docentes nem sempre possuem as qualificações necessárias para o ensino experimental ou estão motivados para o fazer. O Plano Curricular do Ensino Secundário Geral estabelece que as áreas curriculares do Ensino Secundário representam um conjunto de saberes, valores e atitudes interrelacionados entre si. Estes integram um conjunto de disciplinas orientadas para domínios de estudo específicos. Os conteúdos das disciplinas estão organizados tendo em conta a perspetiva de abordagem integrada e em espiral. A área de Matemática e Ciências Naturais é constituída pelas disciplinas de Matemática, Biologia, Física e Química. As principais competências a desenvolver nos alunos passam por relacionar, interpretar, analisar, sintetizar, deduzir e provar. Essencialmente, pretende-se que os alunos desenvolvam conhecimentos para a resolução de problemas, realizar experiências, mas também que contribuam para a formação de uma cultura Científica e Tecnológica efectiva, que permita ao aluno a interpretação dos factos, fenómenos e processos naturais. Esta cultura implica a compreensão do conjunto de equipamentos e procedimentos, técnicos e tecnológicos, do quotidiano doméstico, social e profissional. É com base nestas considerações e princípios orientadores dos curricula que são desenvolvidos os recursos audiovisuais que serão explorados em sala de aula e com difusão na televisão em sinal aberto. A convicção é que possam abrir novas possibilidades no processo de ensino e aprendizagem. Aos professores, usuários destas matérias, caberá reconhecer os modelos de ensino retratados nas matérias audiovisuais a ser produzidos, selecionar os que melhor se adaptam à sua prática pedagógica e explorar todos os recursos oferecidos para comtemplar, simultaneamente, produtividade, eficiência e qualidade no ensino a fim de facilitar a aprendizagem. A produção de material audiovisual aborda conteúdos sobre: 1. a Genética, Evolução, Fisiologia Vegetal e Animal de acordo com os programas da disciplina de Biologia; 2. o equilíbrio Químico, Reações Redo, Eletroquímica e Química Orgânica de acordo os programas da Disciplina de Química; 3. Eletricidade, Mecânica, Ondas, Física Atómica e Nuclear e Gases e Termodinâmica de acordo com os programas da Disciplina da Física; 4. Geometria, Trigonometria, Calculo Combinatório e probabilidades, Calculo Diferencial, primitiva de uma Função e Números Complexos de acordo com os programas da disciplina de Matemática. 5

A produção de material didático audiovisual de Ciências Naturais e de Matemática visa a melhoria do processo de aprendizagem das disciplinas de Ciências Naturais (Biologia, Física, Química) e Matemática, através de conteúdos que serão desenvolvidos de acordo com o currículo do Ensino Secundário Geral. Pretendemos melhorar a capacidade de professores e alunos fazerem uso do material didático existente nos laboratórios escolares e, assim, melhorar a sua relação com as disciplinas de carácter laboratorial. Pretendemos ainda capacitar os professores que lecionam as disciplinas de Matemática e Ciências Naturais no uso e exploração das técnicas audiovisuais em sala de aula. A escolha do meio audiovisual justifica-se pelo seu carácter dinâmico, cujas possibilidades permitem criar conteúdos criativos, atractivos para professores e alunos. A sua difusão na televisão pública, em canal aberto, é uma mais valia no cumprimento do objectivo de levar estas aulas a todos os pontos dos país. A par com isto a sua reprodução em DVD e veiculação na Internet permite que sejam vistas de forma repetida. Cada aula terá uma duração de cerca de dez a quinze minutos e incidirá, o mais possível, no método experimental. Na fase de pré-produção definir-se-ão com exatidão quais os temas de cada um dos vídeos a serem produzidos, e a sua abordagem. Segue-se a fase da concepção da estória, que implica a criação de um guião. O guião/script é um elemento fundamental para a fase seguinte, pois é com base neste que se vai definir o tempo e complexidade de cada filme. O grupo de trabalho será constituído por professores e especialistas em produção de audiovisuais.

6. Conclusão A EducaTV é uma resposta à necessidade de democratização e equidade do Sistema de Educação Nacional com vista a uma melhoria da qualidade global da Educação. Actualmente a resposta a esta necessidade passa pela utilização da televisão, já que meios como a Internet são de difícil acesso a professores e mais ainda a alunos, o que não quer dizer que estes conteúdos e restante documentação não esteja em plataformas mobile, para quem tiver acesso. A criação de conteúdos é também uma oportunidade de desenvolver outros conteúdos em papel que levem à planificação das aulas e ao estímulo do ensino experimental e de campo. A questão económica é também determinante. Os conteúdos assim produzidos são duráveis e versáteis na sua utilização. Isto vai permitir construir uma biblioteca nacional de conteúdos que podem ser explorados de várias formas ao longo do tempo. Ou seja, o investimento é rentabilizado ao longo do tempo, além de que estes conteúdos podem ser utilizados por outros países com programas curriculares semelhantes. Um dos aspectos igualmente relevante é a criação de capacidade nacional de produzir conteúdos para a Educação. Trata-se de uma equipa transdisciplinar que utiliza muitas e diferentes competências – desde os professores de várias disciplinas e de graus de ensino, guionistas, técnicos de som e luz, operadores de câmara e produtores. A rentabilização e multiplicação desta equipa cria emprego e faz com que o investimento e o retorno sejam completamente nacionais. O essencial é melhorar a qualidade da Educação. A EducaTV é um das respostas!

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7. Bibliografia experimental, E. -v. (Jun de 2016). EducaTV. Obtido de https://www.youtube.com/watch?v=K3IbF-6BMsM INTERNATIONAL LABOUR OFFICE. (2014). GLOBAL EMPLOYMENT TRENDS 2014. MINEDH. (2016). Levantamento Estatístico de "03 de Março". Maputo, Moçambique: MINEDH. Ministério da Educação - Direcção de Coordenação do Ensino Superior. (2014). Dados Estatísticos sobre o Ensino Superior em Moçambique. Direcção de Coordenação do Ensino Superior. Maputo, Moçambique: MINED. Obtido em Setembro de 2014 Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social. (Março 2016). Boletim Informativo do Mercado de Trabalho, Nº1. Oliveira, L. (2009). CINEMA EDUCATIVO E CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE: CRIANDO IDENTIDADES ATRAVÉS DA LEITURA E DA ESCRITA DO MUNDO COM O AUDIOVISUAL. Actas do X Congresso Internacional Galego-Português de Português de GalegoPortuguês de Psicopedagogia. Oliveira, N., & Mariotto, V. ( jan./jun. de 2010). Televisão, educação e crianças: os desafios da escola e da família. ECCOM. Silva, F., Neto, F., Silva, M., & Nogueira, N. (2008). A Influência da televisão na educação. Brasil: Revista de Estudos do Norte Goiano. UNESCO. (2012). SHANGHAI CONSENSUS Recommendations of the Third International Congress on Technical and Vocational Education and Training ‘Transforming TVET: Building skills for work and life. UNESCO. United Nations Development Programme. (2015). Human Development Report 2015.

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