Efeito da macro e micromorfologia estruturais na resistência à corrosão de amostras de Zn puro e da liga Zn-4% Al

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ISSN 1517-7076

Revista Matéria, v. 10, n. 3, pp. 428 – 436, 2005 http://www.materia.coppe.ufrj.br/sarra/artigos/artigo10663

Efeito da Macro e Micromorfologia Estruturais na Resistência à Corrosão de Amostras de Zn Puro e da Liga Zn-4%Al Wislei Riuper Osório, José Eduardo Spinelli, Célia Marina A. Freire e Amauri Garcia Departmento de Engenharia de Materiais, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP CEP: 13083 – 970, C.P.: 6122 - Campinas – S.P., Brasil e-mail: [email protected], [email protected], cé[email protected], [email protected] RESUMO Diferentes morfologias macroestruturais e tamanhos de grãos desenvolvem-se devido a uma ampla gama de condições operacionais que podem existir durante a solidificação. Sabe-se que as propriedades mecânicas e resistência à corrosão têm-se mostrado fortemente dependentes da morfologia estrutural. Assim, o objetivo desse estudo é investigar: (a) a influência das estruturas colunares e equiaxiais (macromorfologia) na resistência à corrosão de amostras de zinco puro na condição de fundido e (b) a influência do arranjo dos espaçamentos dendríticos secundários (micromorfologia) na resistência à corrosão da liga Zn-4%Al. Para estudar os efeitos da micro e macromorfologia sobre a resistência à corrosão, utilizou-se tanto um aparato de solidificação vertical ascendente refrigerado à água, quanto um molde maciço em aço. A resistência à corrosão foi analisada por espectroscopia de impedância eletroquímica (EIE) e pelo método de extrapolação de Tafel nas curvas de polarização. Os testes de corrosão foram realizados em uma solução 3% de NaCl a temperatura ambiente. Palavras chaves: Macromorfologia, Tamanho de grão, Micromorfologia, Espaçamento dendrítico secundário, Resistência à corrosão, Zinco e ligas de Zn-Al.

Effect of Structural Macro and Micromorphologies on the Corrosion Resistance of Pure Zn and Zn 4%Al Alloy Samples ABSTRACT Different macrostructural morphologies and grain sizes may develop due to a wide range of the operational conditions that may exist during casting. It is well known that both mechanical properties and corrosion resistance have been shown to depend strongly on the structural morphology. Thus, the aim of this study is to investigate: (a) the influence of columnar and equiaxed structures (macromorphology) on the corrosion resistance of pure zinc as-cast samples and (b) the influence of the secondary dendrite arm spacing arrangement (micromorphology) on the corrosion resistance of a Zn-4%Al alloy. In order to study the effects of macro and micromorphologies on the corrosion resistance both a vertical upward solidification apparatus and a permanent steel mould casting assembly were used. The corrosion resistance was analyzed by electrochemical impedance spectroscopy (EIS) technique and Tafel extrapolation method from potentialdynamical curves. Corrosion tests were conducted in a 3% NaCl solution at room temperature. Keywords: Macromorphology, Grain size, Micromorphology, Secondary dendrite arm spacing, Corrosion resistance, Zinc and Zn-Al alloys.

1

INTRODUÇÃO

Na atualidade existe uma grande preocupação, principalmente no ambiente industrial, com a produção e desenvolvimento de materiais que apresentem uma ampla gama de propriedades, tais como mecânicas e resistência à corrosão. Na literatura encontram-se alguns trabalhos relacionando limite de escoamento do material com tamanho de grão cristalino [1-3] e também relacionando limite de resistência à tração e espaçamentos dendríticos secundários [4-6]. Sabe-se que várias morfologias estruturais podem desenvolver-se devido à amplitude de condições operacionais e formas de crescimento que podem ser aplicadas ao volume de metal líquido, durante o processo de solidificação. Os parâmetros estruturais são fortemente influenciados pelo comportamento térmico do sistema metal/molde, que resulta em uma estreita correlação com as estruturas resultantes de solidificação [4, 7-9].

Autor Responsável: Amauri Garcia

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Por outro lado, as morfologias estruturais também têm um importante papel no comportamento do processo de corrosão dos materiais. Diversos trabalhos, de âmbito experimental, têm dado destaque aos efeitos da estrutura sobre a resistência à corrosão. Apresenta-se na literatura, variadas formas estruturais, em variados tipos de processos, tais como, soldagem convencional, métodos de revestimentos, tanto por imersão à quente (HDG- Hot Dip Galvanizing), quanto por revestimento eletroquímico [10-11] e modificação superficial por laser (LSM - Laser Surface Melting, LSA - Laser Surface Alloying [12-15], PVD - Physical Vapor Deposition e CVD - Chemical Vapor Deposition [16-17]) ou ainda, qualquer método no qual, o processo de solidificação ou formação estrutural seja rápido para resultar uma estrutura refinada [18]. Entretanto, é claro que parâmetros estruturais, incluindo percentual de soluto ou conteúdo da liga, tamanho de grão e tanto quantidade, quanto distribuição homogênea de fases secundárias e porosidade podem ser parâmetros também importantes no que diz respeito ao comportamento de corrosão do material em estudo. Na condição de fundido, uma liga pode apresentar dentro de grão individual uma rede dendrítica de soluto distribuído, segundas fases e possíveis porosidade e inclusões [4, 7-8]. Para uma liga fundida, os espaçamentos dendríticos podem até serem mais importantes quanto à resistência à corrosão que a formação macro-morfológica. Entretanto, não é claro, na literatura, se um refino dendrítico representa um melhor comportamento frente ao fenômeno corrosivo, como é feito quando se trata de microestrutura e resistência mecânica. Desde o início dos anos 70, as indústrias têm procurado e desenvolvido soluções para aumentar a vida útil e minimizar efeitos do processo de corrosão sobre seus produtos. A indústria siderúrgica tem amplamente utilizado o zinco e suas ligas para a proteção de aços em fitas ou em chapas. A expectativa de crescimento no setor siderúrgico mundial, para os próximos anos, tem sido focada no aumento da demanda por produtos galvanizados que atinge um percentual de 85% com os setores civis e automotivos [19-20]. Assim, o objetivo desse estudo consiste em investigar: (a) a influência das estruturas colunares e equiaxiais (macromorfologia) na resistência à corrosão de amostras de zinco puro na condição de fundido e (b) a influência do arranjo dos espaçamentos dendríticos secundários (micromorfologia) na resistência à corrosão da liga Zn-4%Al 2 2.1

PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Tipos de Estruturas

A direção de crescimento dos grãos colunares é controlada pela condição de fluxo de calor durante a solidificação e direção preferencial de crescimento cristalográfica. Caracteriza-se pelo crescimento de grãos alongados, basicamente da mesma direção e paralelos entre si. A estrutura equiaxial é caracterizada pelo crescimento de grãos em diferentes direções e os grãos vizinhos não são necessariamente paralelos uns aos outros, como é caso dos grãos colunares [21-22]. Nesse estudo, as estruturas colunares foram obtidas, utilizando-se de um sistema de solidificação vertical ascendente, conforme detalhes em artigo prévio [23]. As estruturas equiaxiais, por sua vez, foram obtidas utilizando-se do sistema de molde permanente, confeccionado em aço, também detalhado em artigo prévio [24-25]. 2.2

Tamanho de Grão

A direção de crescimento de um agregado policristalino e seu tamanho, têm um importante efeito em suas propriedades. Esse fenômeno é conhecido na literatura, como o efeito do tamanho de grão e expressa o conhecimento das propriedades mecânicas por intermédio da equação de Hall-Petch [1-3]. Amostras, na condição de fundido, foram cortadas longitudinalmente a partir do centro de um lingote, devidamente lixadas e atacadas quimicamente para visualização da macroestrutura. No ataque químico utilizou-se ácido clorídrico concentrado para revelar as macroestruturas de Zinco. Os tamanhos dos grãos da estrutura equiaxial foram medidos de acordo com procedimentos descritos na Norma ASTM E 112/88. Em prática metalográfica, o termo “tamanho de grão”, geralmente refere-se aos parâmetros que descrevem a média do diâmetro do grão. No intuito de obtenção da média desses valores, realizou-se 20 medidas para cada grão selecionado. O tamanho de grão colunar, por sua vez, foi determinado, medindo-se a largura dos grãos selecionados, também com 20 medições para obtenção do valor médio.

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2.3

Espaçamentos Dendríticos

Os valores de espaçamento dendríticos secundários (λ2) variam ao longo do lingote obtido entre espaçamentos refinados para grosseiros em função da distância da interface metal/molde, devido às variações da taxa de resfriamento que é afetada pela eficiência de extração de calor nessa interface. Para realização das medidas dos valores de λ2 nas amostras a liga Zn-4%Al, utilizou-se do regente de Palmerton para o ataque químico e um sistema de processamento de imagem (Neophot 32) conectado a um software (Cambrigde Leica 500) para realização das medidas. Foram realizadas sempre 20 medidas para cada posição de estudo para obter-se uma média aritmética. 2.4

Testes de Corrosão

Embora os testes de corrosão acelerada venham sendo utilizados em ampla escala desde meados dos anos 1900 [26], para algumas situações particulares, a agressividade excessiva da solução usada para estudo, pode equivocar ou ludibriar o entendimento do real desempenho do material avaliado [27]. Nesse particular, as técnicas eletroquímicas e métodos de polarização foram escolhidos para auxiliarem na investigação do comportamento e desempenho à corrosão dos metais. Tem sido reportado que essas técnicas podem detectar avarias devido à corrosão, em intervalos de tempo relativamente curto e no início do processo, além de estimar a taxa e a duração do fenômeno de corrosivo [27]. Nesse trabalho, todos os testes de impedância eletroquímica (EIE) foram conduzidos em solução aquosa de 3% NaCl, em temperatura ambiente, utilizandose um potenciostato da EG & G Princeton Applied Research, modelo 273A, conjugado a um analisador de freqüência, Solartron modelo 1250, uma célula de vidro contendo o eletrodo de trabalho (amostras), um contra eletrodo retangular de platina e eletrodo de referência padrão (SCE). Todos os testes de polarização foram realizados com taxas de varredura de 0,2mV/sec de –250mV para +250mV em relação ao potencial em circuito aberto. As curvas de polarização são expressas como função de log da densidade de corrente e potencial de eletrodo, determinando-se a densidade de corrosão (Icorr) e o potencial de corrosão (Ecorr). Os testes de EIE foram conduzidos com o campo de freqüência entre 50kHz e 10mHz, com amplitude de 10mV em potencial de circuito aberto. Antecedendo a cada ensaio, as amostras, foram lixadas com folhas de papel de 600 granas de SiC, lavadas em água e acetona e secadas por fluxo de ar natural. Os testes de impedância e polarização foram respectivamente de 40 e 15 minutos. O volume de eletrólito (Solução NaCl), foi mantido o mesmo para cada um dos testes. O eletrólito foi trocado sempre no início de cada ensaio, com intuito de manutenção dos valores iniciais do pH da solução, situado na faixa entre 6,3 e 6,7 em temperatura entre 24 e 26 °C. 3 3.1

RESULTADOS E DISCUSSÕES Macromorfologia de Zn puro

Na Figura 1 são exibidas as macromorfologias com estruturas colunares e equiaxiais, resultantes da solidificação, respectivamente em sistema refrigerado por água, com solidificação vertical ascendente (a) e (b) e por molde permanente, em aço (c) e (d) para amostras de Zn puro. Os valores médios e faixa de erros para os tamanhos dos grãos são mostrados na Figura 2.

Figura 1: Macromorfologias de Zn Puro: Colunares grosseira (a) e refinada (b) e Equiaxiais grosseira (c) e refinada (d). Ampliação 1X, Reagente: HCl concentrado.

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Estruturas de Zinco Puro

Tamanho de Grão [ mm ]

4,0 3,5 3,0 2,5 2,0

3.15

3.45

Equiaxial Grosseira

Colunar Grosseira

2.30

1,5 1,0 0,5 0,0

0.45 Equiaxial Refinada

Colunar Refinada

Figura 2: Variação do tamanho de grão para diferentes tipos de estrutura para estruturas de Zn puro.

Pode ainda ser observado na Fig 2, como esperado, que o aumento da taxa de crescimento ou velocidade de solidificação, resulta em uma estrutura de grãos mais refinados. Salienta-se que dependendo das condições operacionais escolhidas e impostas no sistema refrigerado a água, uma faixa de taxas de crescimento é possível de ser obtida, permitindo a obtenção tanto de estrutura colunar grosseira, quanto mais refinada, além da possibilidade de grãos equiaxiais também, dependendo do caso. Na investigação sobre a influência do tipo de estrutura e tamanho de grão na resistência à corrosão, realizaram-se algumas comparações entre estruturas refinadas e grosseiras de ambos os tipos de morfologias, colunar e equiaxial. Os resultados experimentais das curvas de polarização, obtidos em vários ensaios estão resumidos em valores médios. Na Figura 3 exibe-se a comparação entre as curvas de polarização obtidas para as estruturas refinada e grosseira tanto para estrutura colunar, quanto equiaxial das amostras de Zn puro.

Figura 3: Comparação de curvas de polarização das estruturas de Zinco, colunares e equiaxiais com grãos refinados e grosseiros.

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Na Figura 3(a), observa-se a comparação entre as estruturas colunar grosseira (CG) e colunar refinada (CR). Na Figura 3(b) exibe-se a comparação entre as estruturas equiaxiais grosseira (EG) e colunar refinada (ER) e também uma comparação entre grãos grosseiros tanto da estrutura equiaxial, quanto colunar, conforme pode ser observado na Figura 3(c). A corrente de corrosão (densidade de corrente de corrosão), potencial de corrosão e também valores do tamanho de grão para cada um dos tipos de estruturas são apresentados em forma de tabela na Figura 3(d). A estrutura colunar grosseira (CG) apresenta uma corrente de corrosão (Icorr) de 6μA/cm2 e um potencial de corrosão (Ecorr) de –1080mV. A estrutura colunar refinada (CR), por sua vez, apresenta respectivamente corrente e potencial de corrosão de 15μA/cm2 e –1090mV. A estrutura grosseira exibe um potencial similar ao da estrutura refinada, mas apresentando considerável decréscimo, em torno de 2,5 vezes no valor da corrente de corrosão. Por outro lado, pode ser observado que a estrutura refinada apresenta corrente e potencial de corrosão, respectivamente de 11,5μA/cm2 e –1070mV contra 4,0μA/cm2 e –1060mV para a estrutura grosseira. Tendência similar obtida para essas morfologias de Zn puro também foram verificadas para amostras de Al puro. Embora o método de polarização forneça resultados precisos e confiáveis a respeito do comportamento do material, estudos de espectroscopia de impedância eletroquímica (EIE) foram realizados para obtenção de maiores informações e confirmação da tendência obtida pelos resultados dos ensaios de polarização. Na Figura 4 mostram-se comparações entre resultados de EIE para amostras de Zn, com estruturas colunares e equiaxiais que apresentam grãos grosseiros e refinados. Observa-se que os resultados dos ensaios de EIE confirmam àqueles obtidos pela técnica de Tafel. Análise qualitativa dos diagramas apresentados na Fig. 4, permite observar a clara tendência das estruturas grosseiras apresentarem melhor resistência à corrosão tanto na estrutura de grãos colunares, quanto equiaxiais. Além disso, conclui-se também que a estrutura equiaxial apresenta uma maior susceptibilidade a melhorias na resistência à corrosão. Análise quantitativa realizada em outro trabalho [24] por intermédio de circuitos equivalentes também mostrou essa mesma tendência.

Figura 4: Comparação entre testes de Espectroscopia de Impedância Eletroquímica para estruturas colunares e equiaxiais com grãos refinados e grosseiros para Al e Zn.

Comparações dos resultados dos testes de corrosão de diferentes morfologias estruturais e diferentes tamanhos de grãos indicam forte influência das condições de solidificação que podem ser parâmetros de importância significativa na resistência à corrosão. Esses resultados estão associados aos contornos de grãos devido à presença de defeitos e deformação plástica. Assim, uma morfologia mais grosseira, em um metal puro, apresenta maior tendência de melhoria da resistência à corrosão, pois apresenta menor quantidade de defeitos de deformações entre os contornos. 3.2

Micromorfologia da Liga Zn-4%Al

Em estudos preliminares observou a maior influência da micromorfologia em relação à macromorfologia, quando tratando-se de ligas [23]. Isso mostra que o espaçamento dendrítico que representa um parâmetro microestrutural fundamental é mais susceptível na resposta quanto ao fenômeno corrosivo que a macromorfologia propriamente dita. Assim, obtiveram-se lingotes com estruturas completamente colunares, apresentado uma variação dos valores de espaçamentos dendríticos secundários a partir da base de solidificação (interface metal/molde), conforme mostrado na representação esquemática da Figura 5. Nessa Figura exibe-se também a lei experimental de variação dos valores de espaçamentos dendríticos.

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Figura 5: Valores experimentais de λ2 como função da posição da interface metal/molde para a liga Zn4%Al (a) e a correspondência entre posição e distância da interface metal/molde (base de solidificação) (b).

Nas Figuras 6(a) e (b) mostram-se diagramas de EIE nas representações Bode e Bode-Phase, respectivamente. Nas Figuras 6(c) e (d) exibem-se as curvas de polarização para mesma liga, realizadas na mesmas posições onde realizaram-se os ensaios de EIE.

Figura 6: Diagramas de EIE em representações: Bode (a) e Bode-Phase (b) e curvas de polarização para a liga Zn-4% Al em diferentes posições da interface metal/molde.

A análise qualitativa dos diagramas Bode e Bode-Phase para a liga Zn-4%Al, permite afirmar que tanto o módulo da impedância eletroquímica (Z), quanto o ângulo de fase (θ) decrescem com o aumento da distância a partir da interface metal/molde. Como conseqüência direta, os dois parâmetros do ensaio EIE, Z e θ, decrescem com o aumento dos valores de espaçamento dendrítico. Sabe-se que maiores valores do módulo de impedância e do ângulo de fase estão, geralmente, correlacionados a um comportamento eletroquímico

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Taxa de Corrosão ( ICorr ) [ μA/cm ]

mais nobre. Em outras palavras, os ensaios de EIE indicam que para a Zn-4% Al, uma melhora na tendência da resistência à corrosão está diretamente correlacionada aos espaçamentos dendríticos mais refinados que encontram-se próximos à base de resfriamento. Análises por intermédio de circuitos equivalentes realizadas em trabalho prévio [23] também indicam essa mesma tendência, ou seja, uma morfologia mais refinada promove tendência de melhor resistência à corrosão, para esta liga. Na Figura 7 exibem-se os valores das taxas de corrosão como função da distância da interface metal/molde, deixando clara a tendência de melhora na resistência à corrosão com o refino microestrutural.

Liga Zn-4% Al λ2=53μm

6

λ2=44μm

λ2=50μm

4 λ2=47μm

λ2=39μm

2

Dados Experimentais Curva de Tendência

λ2=33μm

0 0

20

40

60

80

100

Posição da interface metal/molde [ mm ]

Figura 7: Tendência da resistência à corrosão como função da posição da interface metal/molde para a liga Zn-4% Al.

Entretanto, estes resultados experimentais que indicam que uma estrutura dendrítica mais grosseira apresenta uma tendência na redução da resistência à corrosão, não se pode aplicar a todas as ligas do sistema Zn-Al, pois no caso de ligas hipereutéticas, o fenômeno de rejeição de soluto é inverso [23]. Esta observação interessante é atribuída à redistribuição de soluto nos braços dendríticos e ao comportamento anódico/catódico do soluto rejeitado. No caso dessa liga, o elemento em maior representatividade nos interstícios dendríticos para a liga em estudo (liga hipoeutética) é o Alumínio que tem comportamento mais nobre que o Zinco. Assim, ligas hipoeutéticas imersas em meio agressivo ativam as regiões ricas em Al como uma barreira anódica ao fenômeno corrosivo, protegendo a matriz rica em Zn. Em contra partida, as regiões ricas em Zn funcionam como regiões de proteção catódica. Assim, pode dizer que existem três importantes fatores que afetam a resistência à corrosão: (i) a taxa de resfriamento, (ii) redistribuição de soluto e (iii) o comportamento eletroquímico do elemento catódico ou anódico da liga. Além disso, para a liga Zn-4%Al, os contornos dos grãos e os interstícios dendríticos são ricos em solução de Al, na forma de lamelas eutéticas. Desse modo, uma morfologia dendrítica refinada apresenta uma distribuição mais homogênea desse eutético respondendo com uma maior resistência à corrosão. 4

CONCLUSÕES

A análise dos resultados experimentais dos efeitos da macro e micromorfologia na resistência à corrosão do Zn puro e da liga hipotética Zn-4%Al, permite que as seguintes conclusões sejam extraídas: (1) Para metais puros, os contornos mostram-se bastante influentes na resistência à corrosão por representar região rica em defeitos e imperfeições. Assim, as estruturas colunares e equiaxiais apresentando grãos grosseiros apresentaram uma melhor resistência ao fenômeno corrosivo, que as amostras de com granulação mais refinada; (2) A estrutura equiaxial grosseira (EG) apresentou uma maior susceptibilidade a melhorias, quanto a resistência à corrosão. A seqüência decrescente, em termos de resistência à corrosão foi: Equiaxial grosseira (EG) > Colunar grosseira (CG) > Equiaxial refinada (ER) > Colunar refinada (CR); (3) No caso de ligas, existem três importantes fatores que afetam a tendência de resistência à corrosão: i) a taxa de resfriamento que define a rede dendrítica; ii) o fenômeno de redistribuição de soluto que depende do bi-metálico soluto/solvente de cada liga estudada; e iii) o comportamento anódico ou

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catódico de cada elemento da liga. A liga Zn-4%Al (liga hipoeutética do sistema Zn-Al) apresenta-se com os contornos dos grãos e interdendríticos ricos em Alumínio. Nesse caso, estruturas dendríticas mais refinadas propiciam uma melhora na tendência de resistência à corrosão que estruturas dendríticas mais grosseiras; e (4) O controle macroestrutural para metais puros e microestrutural para ligas, na condição de fundidos, podem ser utilizados como um caminho alternativo para produção de componentes com melhor resistência à corrosão, por intermédio da manipulação das variáveis do processo de solidificação. 5

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