Efeito hipnótico de medicação homeopática e do placebo. Avaliação pela técnica de \"duplo-cego\" e \"cruzamento\".

June 16, 2017 | Autor: L. Troncone | Categoria: Homeopathy, Sleep Medicine
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Efeito hipnótico de medicação homeopática e do placebo. Avaliação pela técnica de "duplo-cego" e "cruzamento"*

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E.A. Carlinil, Sandra Brazl, Lanfranco R.P. Troncone1, Sergio Tuflkt, Anna K. Romanach2, Marcelo Pustiglione2, Mário C. Sposatl2, Oswaldo Cudizio F112, Maria Isabel Almeida Prado3 São Paulo, SP

Quarenta e quatro pacientes com insônia foram atendidos nos consultórios de médicos homeopatas e encaminhados ao Departamento de Psicobiologia para responderem a um questionário que avaliava parâmetros do sono: tempo de indução, manutenção, sonhos e pesadelos, e despertar. Estes pacientes passaram a receber em esquema "duplo-cego" a medicação homeopática ou placebo, durante três meses, por seis vezes, com intervalos de IS dias. Metade dos pacientes iniciou o tratamento com placebo e após o 4S!! dia passou a tomar a medicação homeopática, ocorrendo o inverso com a outra metade. Vinte e seis pacientes terminaram o tratamento, tendo havido melhora marcante da insônia em todos. Esta melhora independeu de medicação ou do placebo e foi observada tanto pelos médicos homeopatas como pelo questionário de sono. Também não houve distinção entre a melhora apresentada por pacientes que iniciaram o tratamento recebendo o medicamento e aqueles que iniciaram com o placebo.

II I

II

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Unitermos:

Homeopatia. Insônia. Experimento duplo-cego.

Key words: Homeopathy. Insomnia. Double-blind experiment.

~

.,jun.. 1987

Em editorial publicado no British Journal of Clinical Pharmacology9 enfatizou-se a necessidade de que fossem realizados ensaios clínicos com medicamentos homeopáticos utilizando-se os rigorosos procedimentos experimentais empregados na avaliaçào de medicamentos ortodoxos. Esta necessidade tem sido também reafirmada por homeopatas brasileirosó", conforme acentuado em artigo de revisão sobre o assuntos. Entretanto, poucos trabalhos foram publicados atendendo às sugestões acima; inclusive o mencionado editorial foi motivado por um destes raros exemplos". E, ao comentar a necessidade de mais pesquisas na área o editorial termina dizendo: 11 is to be hoped that this Journal will be privileged in due course to publisn lhe results of sucb investigations. Por outro lado, são grandes as dificuldades para a execução destes trabalhos, dada a conhecida falta de aceitação mútua entre médicos alopatas e horneopatas,

SETOR DE PSICOFARMACOLOGIA CLÍNICA DEPARTAMENTO DE PSICOBIOLOGIA ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA Consentimento de participação Eu,

, concordo

em participar de experiência para tratar minha insônia (falta de sono). Estou informado que receberei na Escola Paulista de Medicina. após consulta por 2 médicos homeopatas, um medicamento ou uma substância sem efeiio e que tanto o medicamento como a substância não são tóxicas (não fazem mal). Deverei voltar ao consultório dos médicos e à Escola Paulista de Medicina a cada 15 dias para consulta e acompanhamento durante 3 meses e que a metade do tratamento (45 dias) será feito com o remédio e a outra metade com a substância sem efeito.



l'rojet o aprovado previamente pelo Comitê de Controle Ético de Pesquisas Clínicas "111 Anima Nobile" da Esc. Paul. de :'>Ied. '.processo n~ 03/84). 1. Setor de Psicofarmacol. Clín., Dep. de Psicobiol., Esc. Paul. de 'fedo 2. '.1M. Homeopatas, São Paulo. J. Farmacêutv Homeopata,

Rev Ass Med Brasll- vot. 33. n~' 5/6 - rnai.qun.

1987

Fui ainda esclarecido que terei direito à desistência em caso de impossibilidade

no prossequirnento da prova, comprometendo-me,

se

assim acontecer, a comunicar esta minha decisão. Quadro 1 - Consentimento de participação dicamento homeopático e p/acebo.

utilizado na pesquisa com me-

83

José Ribeiro do Vallc, o decano da Farmacologia brasileira, costumava mesmo dizer: "Em s6 havendo críticas entre os homeopatas e alopatas, acabaremos todos quatro-patas." De fato, a-farmacologia e terapêutica clássicas não aceitam o princípio básico da dinamizaçâo homeopática sob a alegação de que em não havendo moléculas ativas na medicação não poderá haver efeito. Ou seja, um impasse intransponível já se estabelece desde o princípio dado que pelas teorias de Hahnemann: "Não é propriamente a matéria que determina a doença, mas a essência imaterial da qual ela é apenas o suporte ... a cura s6 é possível se a intervenção for realizada ao mesmo nível imaterial, ou seja, a ação dos medicamentos é forçosamente imaterial; (a massa é

Ouestionário de sono (para ser preenchido pelo pesquisador após entrevista)

I -

âesnecessârial?" O presente trabalho constitui uma tentativa de transpor as dificuldades acima, com médicos alopatas e homeopatas procurando interagir, somando seus conhecimentos. Basicamente, usando um ensaio terapêutico "duplo-cego" com "cruzamento" entre medicação homeopática e placebo, pacientes que apresentavam insônia como queixa proeminente em suas histórias clínicas foram tratados e acompanhados durante 90 dias. 11-

9 e 10).

Após essa entrevista o paciente recebia o medicamento (ou placebo), com instruções para tomá-Ia durante 15 dias, após o 84

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INDUÇÃO DO SONO 1. Quanto tempo você tem demorado para pegar no sono, após iniciado o remédio?

Respostas 15min 15-30min 30-45min 45-60min >60min

2. Com a tomada da medicação

muito bem bem nada mal muito mal

5 4 3 2 1

>8 7-8 6-7 5·6

horas horas horas horas 5

5 4 3 2 1

5. Você acha que tem tido um bom sono após ter iniciado o remédio?

sim não

como você tem se sentido na cama antes de pegar no sono?

MATERIAL E MÉTODOS O esquema básico do trabalho realizado está representado na figura I, e foi em parte baseado no trabalho de Gibson et alii", Pacientes tendo insônia como um dos sintomas proeminentes na queixa deveriam submeter-se a tratamento de 90 dias com retornos a cada 15 dias. Metade iniciava o tratamento com placebo (grupo I) e a outra metade com o medicamento homeopático (grupo lI). Após a 4! consulta (452 dia) havia o "cruzamento", ou seja, invertia-se o tratamento. Os pacientes selecionados eram convidados a participar do projeto e, em concordando, assinavam um termo de consentimento pós-informado (consentimento de participação), conforme especificado no quadro 1. Planejou-se, inicialmente, que 60 pacientes seriam submetidos ao protocolo experimental. Para isto duas equipes de médicos homeopatas (Equipe A: Drs. Anna Romanach e Marcelo Pustiglione; Equipe B: Drs. Mário Sposati e Oswaldo Cudizio P-) selecionariam 30 pacientes cada, que seriam encaminhados para o Departamento de Psicobiologia onde receberiam a medicação ou o placebo em vidros idênticos. O medicamento (ou frasco com placebo: etanol 30% usado no preparo do medicamento e não dinamizado) era rotulado por um dos pesquisadores do Departamento e atribuído ao paciente, por sorteio. O código era conhecido apenas por este pesquisador que não participou das avaliações; ou seja, o trabalho foi conduzido sob sistema de duplo-cego (double-blind). O planejamento geral constou dos seguintes passos: 1) A inclusão, ou exclusão de pacientes era de critério exclusivo dos homeopatas, segundo a sintomatologia referida nas entrevistas clínicas. Como critério de inclusão tomou-se a queixa de insônia como sintoma proeminente. A anarnnese e o exame clínico eram feitos por duplas de médicos .homeopatas. 2) Uma vez havendo consenso sobre a medicação, a receita era enviada para a farmácia homeopática para rigorosa confecção. O remédio era então enviado ao Departamento de Psicobiologia, onde um dos pesquisadores o rotulava, ou o substituía por placebo, mas com o rótulo do medicamento. 3) O paciente dirigia-se a esse Departamento, onde era entrevistado com o fito de responder a um questionário destinado a avaliar o seu sono. Esse questionário (quadro 2), adaptado de Bloonfield et alii' e já utilizado anteriormente em nosso meio'', consta de perguntas destinadas a avaliar a indução do sono (perguntas 1 e 2), a manutenção do sono (perguntas 3, 4 e 5), os sonhos e pesadelos (perguntas 6 e 7) e o despertar (perguntas 8,

Tabe dinar

SETOR DE PS1COFARMACOLOGIA CLíNICA DEPARTAMENTO DE PSICOBIOLOGIA ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA Projeto sobre Homeopatia

111-

MANUTENÇÃO DO SONO 3. Quantas horas você acha que passou a dormir depois de iniciado com o remédio?

SONHOS E PESADELOS 6. Você lembra de ter tido sonhos ultimamente?

DESPERTAR 8. Como você tem acordado após ter iniciado o medicamento?

9. Você tem se sentido sonolento pelas manhãs?

sim não

10. Você tem tido dificuldades em se concentrar pelas manhãs?

sim não

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7. Você tem tido pesadelos?

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Graus 5 4 3 2 1

Argen Arseni Bryoni Calcar Calcar Kaliurr Lache: Lycopc Mercur

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5 4 3 2 1

código j grupo li -não) in Fisher; Q de Me ~ (graus), ; de Mann Wilcoxor foi consi.

Dos 4 NOTA: Adaptar as perguntas na primeira entrevista (antes de tomar o primeiro medicamento). Quadro 2 - Questionário

de sono utilizado na pesquisa.

que deveria retomar aos médicos homeopatas para nova consulta. Nesta. era avaliado o efeito do tratamento sobre a insônia, de acordo com à seguinte escala em graus: O - mesmo estado inicial da insônia; 1 - melhora discreta; 2 - melhora regular; e 3 - melhora acentuada. Além disso, podia ser receitado um novo medicamento ou ser repetido o medicamento anterior, dependendo da sintornatologia global do paciente. O mesmo esquema geral era então seguido, ou seja, a nova receita era encaminhada à farmácia, esta enviava o medicamento ao Departamento de Psicobiologia que, por sua vez, o entregava ao paciente após este ter respondido o questionário. 4) Esse procedimento foi repetido mais cinco vezes. Ou seja, os pacientes foram consultados sete vezes, a primeira ainda sem ter recebido qualquer medicamento e as outras seis vezes, a caRev Ass Med Brasil-

vaI. 33.

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5/6 - rnai.qun .. 1987

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(figura 2; II (que re çou com, toda a ex, kíênticas ; A aval na figura tinuaram i fase drog. 13 para ca COnfOI o medican ~gunda c melhora e basa], Mas los homeo !~ primeii continuar Rev Ass Med

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Tabela 1 - Medicamentos dinamizações

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homeopáticos

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e respectivas

o

Argentum nitricum - C'2-C30 Arsenicum album - C6-C'2-C30 Brvonia alba - C'2 C~lcarea carbonica - C12-C30-D60 Caicarea sulfurica - C6-D24 Kalium brornaturn - C30 Lachesis - D60-C30 Lycopodium - C12 Mercurius solubilis - C12

ós

receitados

Natrium muriaticum - C'2-C30-050 Nux vomica - C'2-060-0'2-C30-C35 Phosphorus - C'2-C30-D60 Pulsatilla - C30-C6-C12-D60 Sepia - C30 Silica - C20 a C200 Staphisagria - C12-C30-D60 Sulphur - C32-D24-C1S-C6

2 1

da 15 dias de intervalo, quando receberam o medicamento ou placebo. 5) A partir da 4!!consulta, era feito o "cruzamento" das medicações, isto é, os pacientes que vinham recebendo placebo passaram a receber medicamento (grupo I) e o contrário aconteceu com os pacientes do grupo lI. No caso dos pacientes do grupo I, o medicamento homeopata agora administrado era aquele receitado na primeira consulta (basal) e que havia sido guardado ao ser substituído por placebo; na S!!, 6!!e 7!!consultas os medicamentos eram aqueles da 2!!.,3! e 4!!consultas, respectivamente. Os medicamentos receitados para os pacientes e suas dínamizações estão na tabela 1. Os diferentes medicamentos e os placebos correspondentes eram fornecidos em frascos idênticos, sempre rotulados como se fossem a droga e eram tomados por via oral, geralmente seis gotas à noite, de acordo com a prescrição médica. A pesquisa foi realizada de maio de 1984 a maio de 1986. Dos 60 pacientes inicialmente planejados, 44 apenas foram estudados. Isto porque a equipe B de homeopatas conseguiu recrutar somente seis pacientes, enquanto que a equipe A obteve o número de 38 pacientes no mesmo período de tempo. Análise estatistica - Uma vez terminado o último paciente, o código foi quebrado e identificou-se aqueles dos grupo I e do grupo 11. As comparações entre as respostas nominais (ex., sim-não) intergrupos foram feitas com o método do Qui2 ou de Fisher: quando a comparação era inrragrupo, aplicava-se o teste de Me Nemar ou teste binomial. No caso de respostas ordinais (graus), as comparações intergrupos foram feitas com o teste U de Mann- Whitney e as comparações intragrupo com o teste de Wilcoxon. Para todas as comparações o nível de significância foi considerado a partir de p~0,05.

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3 2 1

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aIAS CONSULTAS . ENTREVISTAS

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Fig. 1 - Esquema básico da pesquisa. Os pacientes passaram por 7 consultas com médicos homeopatas e 7 entrevistas com os pesquisadores do Departamento de Psicobiologia da EPM, durante 90 dias. Por saneio. parte dos pacientes recebeu inicialmente placebo e após a 4~ consulta e entrevista passou a receber medicação homeopática (grupo 1). Para OU"OS pacientes o esquema foi ao contrário (grupo 1/).

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CRUZAMENTO 10

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ENTREVISTAS

Fig. 2 - Percentagem

de desistências ao longo do tratamento. Número topacientes (x----,t); pacientes do grupo I: placebo-droga (O O) e pacientes do grupo Il: droga- placebo (e e). Notar que O número foi semelhante para os dois grupos. ( ) = número de pacientes. tal

de

RESULTADOS l

Dos 44 pacientes que se inicraram na pesquisa, 18 terminaram o protocolo, isto é, completaram os 90 dias e a 7!!consulta (figura 2). Pelo sorteio, 25 pacientes foram incluídos no grupo [I (que recebeu inicialmente droga) e 19 no grupo I (que come-

tomar o

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a insônia, no estado :g~lIar;e 3 , um novo ir, .iepen) ":"y'Jcma ;a;"inbada de ienic após

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s. Ou seja, ainda sem ezes, a caai. lun .. 1987

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çou com o placebo). Nove pacientes de cada grupo terminaram toda a experiência. Ou seja, as desistências foram praticamente idênticas em ambos os grupos. A avaliação feita pelos médicos homeopatas está sumariada na figura 3. Somente foram considerados os pacientes que continuaram pelo menos até a 4! consulta, isto é, que terminaram a fase droga ou placebo (antes do cruzamento); este número foi 13 para cada grupo. CUIlJ"onne (XX1e ser visto, os 13 pacientes que iniciaram com " medicamento e cujo estado nasal de insônia era de O (zero), na
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