Efeitos da apresentação contingente (FI1min.) e não-contingente (FT1min.) de um evento aversivo (jatos de ar quente) sobre a freqüência de pressão à barra em Rattus Norvegicus

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Capítulo 14 Efeito da apresentação contingente (Fhmin.) e não contingente (FTlmín.) de um evento aversívo (jato de ar quente) sobre a frequência de pressão à barra em rattus norvegicus1 Marcus Bentes de Carvalho Neto* Hernando Borges Neves Filho Rubilene Pinheiro Borges CJracy Kelly da Silva Tobias UFPa

As pesquisas experimentais sobre contingências aversivas em animais nãohumanos adotaram majoritariamente o choque elétrico como estimulo aversivo (Azrin & Holz, 1975, p.463; Baron, 1991, p. 176; Donjam & Burkhard, 1993, p. 283). Com o objetivo de testar a generalidade das regularidades observadas, recentemente um jato de ar quente (JAQ), emitido p or um secador de cabelos, vem sendo testado como um evento aversivo alternativo ao choque elétrico em Rattus norvegicus. Até o momento o estímulo se mostrou um supressor eficaz de respostas prévia e concorrentemente fortalecidas por reforçamento positivo, tanto quando apresentado de maneira contínua, quanto quando apresentado de mâneira intermitente (Carvalho Neto et al, 2005; Carvalho Neto, Maestri & Menezes, 2007). Carvalho Neto, Rico, Tobias, Gouveia Jr e Angerami (2005) recentemente relataram uma supressão maior do responder (percentual e total) quando o êstímuto foi apresentado de maneira nãocontingente (FT10 seg.) do que quando foi apresentado contínua e contingentemente em ratos. Os dados são incompatíveis com os apresentados por Camp, Raymond & Church (1967) usando choque elétrico contingente e não-contingente. Os autores verificaram nesse estudo que o choque contingente suprimiu mais intensamente o responder do que o não1O trabalho foi parcialmente financiado pelo CNPq através de bolsas PIBIC, concedidas aos T e 3-autores, e pelo Edital Universal 019/2004 (Proccsso No '176238/2004-8). ! E-rrail [email protected]

Sobfc Comportamento c Cognição

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contingente. Uma conclusão possível seria atribuir a diferença de resultados aos aversivos utilizados em cada estudo: choque elétrico e jatos de ar quente. Contudo, o trabalho de Carvalho Neto, Rico, Tobias, Gouveia Jr. & Angerami (2005) não é conclusivo, pois alguns detalhes de procedimento permitiriam uma explicação alternativa. No referido estudo não só o esquema de apresentação do JAQ, contingente e não-contingente, foi manipulado, mas a densidade de eventos aversivos também. No grupo não-contíngente o JAQ era apresentado em um esquema FT10 seg., ou seja, o evento avensivo foi apresentado a cada 10 segundos, independentemente dos que os sujeitos faziam, ao longo de toda a sessão. No grupo contingente, por sua vez, o JAQ só era apresentado após a emissão da resposta-alvo: pressionar a barra. O número de jatos apresentados para cada grupo, foi, por isso, desproporcional. O máximo que um sujeito recebeu de jatos no grupo contingente foi 21 (PC2), enquanto qualquer sujeito do grupo não-contingente recebeu, após 25 minutos de sessão, aproximadamente 150 jatos. Outra variável seria o intervalo entre jatos do esquema temporal. A apresentação continuada do JAQ a cada 10 seg. poderia produzir um efeito de somação do aquecimento na caixa, o que seria outra dimensão do aversivo. Assim, um JAQ que produziria uma elevação de aproximadamente 2 graus após 10 segundos de acionamento, terá efeitos muito diversos se a temperatura inicial for 25 ou 30 graus. Além das variáveis de procedimento, o estudo de Carvalho Neto, Rico, Tobias, Gouveia Jr. & Angerami (2005), em função de problemas técnicos, realizou apenas uma sessão de apresentação não-contingente do jato que ar quente. O objetivo desse trabalho foi replicar o experimento de Carvalho Neto, Rico, Tobias, Gouveia Jr. & Angerami (2005), controlando uma das variáveis problenáticas mencionadas: o tamanho do FT. Aumentou-se o intervalo entre jatos para 1 minuto no esquema não-contingente, evitando com isso o efeito de somação. O número de sessões também foi aumentado para cinco em cada fase.

Método Sujeitos 6 ratos albinos, machos, da espécie Rattus norvegicus, linhagem Wistar, experimentalmente ingênuos. O regime alimentar para todos os sujeitos era a d libitum. Em uso experimental eram privados de água por 24 horas, com fornecimento desta após as sessões durante 20 minutos.

Equipamentos e Materiais O aparato, uma Caixa de Condicionamento Operante Adaptada, e os parâmetros do jato de ar quente, JAQ, foram os mesmos descritos por Carvalho Neto et al (2005).

Procedimento O experimento foi dividido em 7 fases. Na Fase 1 foi estabelecida uma linha de base inicial em nível operante. Na Fase 2 a resposta de pressionar uma barra (RPB) foi estabelecida através do treino ao bebedouro e da modelagem. Na Fase 3 depois de estabelecida a RPB foi fortalecida ao longo de cinco sessões de CRF. Na Fase 4 o JAQ foi apresentado de modo contingente à resposta (RPB) em esquema Fi 1 minuto. Cada JAQ durava 5 segundos e concorria com a água, apresentada simultaneamente em CRF. Na Fase 5 foram realizadas sessões de recondicionamento da RPB. Na fase 6 o JAQ foi novamente apresentado, mas agora de maneira não contingente. Vigorou para o JAQ um esquema FT 1 minuto. Novamente, cada JAQ durava 5 segundos e concorria

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com a água, apresentada simultaneamente em CRF. Na fase 7 foram realizadas sessões de recondicionamento da RPB. A figura 1 a seguir resume o delineamento: Fase 1

Fase 2

Fase 3

Nivd

Treino

Operante

Bebedouro e

de CRF

1 sessão

Fase 5

1*

F&cortiiaonamerrto 2*

Fase 6

Fase 7 Reoondidofiament d

Modelagem 1 sessão

Fase 4

do JAQ

Final

do JAQ

5 sessões Continpjente

S sessões em CRF NSo-

5 sessões em CRF

em

ÇÁgua)

(Agua)

CRF

(Agua)

JAQ

por

Oonöngerte

5

Seg em Fl 1

JAQ

por

5

min. + Agua

Seg.em FT 1

em CRF

mn. + Aflua em

5sessóes

CRF) 5 sessões

Fig. 1 - Delineamento Experimental.

Resultados e discussão A figura 2 mostra a freqüência absoluta da RPB de cada sujeito ao longo das sessões: Figura 2: Freqüência absoluta da RPB dos três sujeitos (S1, S2 e S3) ao longo das sessões.

Sessões

Figura 2 * Freqüência absoluta da RPB

dos três sujeitos (S1, S2 e S3) ao longo das sessões.

S o b re C om portam ento c C o g n içã o

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A figura 3 compara as freqüências médias dos sujeitos ao iongo das fases:

Fig. 3 - Freqüências médias dos sujeitos ao longo das fases.

Os resultados indicam que: a) O JAQ funcionou como um supressor parcial do responder nas duas condições (Contingente e Não-Contingente) com percentuais acima de 21%. Os dados diferem dos trabalhos anteriores, quando a supressão se manteve acima de 85% (Carvalho Neto et al, 2005; Carvalho Neto, Rico, Tobias, Gouveia Jr. & Angerami, 2005; Carvalho Neto, Maestri & Menezes, 2007). A explicação para a menor supressão provavelmente está relacionada ao esquema de punição utilizado. Nos trabalhos anteriormente mencionados o JAQ era apresentado continuamente (CRF) e no presente estudo ele foi apresentado de modo intermitente (seja em FI1 Min., seja em FT1 Min.). O efeito supressivo da punição é afetado por muitas variáveis e uma das principais delas seria o seu esquema de apresentação. Existe uma relação direta entre a freqüência de respostas punidas e a sua supressão. Espera-se que um esquema contínuo reduza mais a freqüência de um responder do que um intermitente (Azrin & Holz, 1975). Portanto, os dados aqui descritos corroboram a literatura com choque elétrico (como em Estes, 1944, e Banks, 1966, por exemplo). Em relação ao grupo não-contingente usado por Carvalho Neto, Rico, Tobias, Gouveia Jr. & Angerami (2005), que produziu níveis de supressão igualmente altos mesmo sendo, teoricamente, um esquema intermitente, a unidade temporal adotada em cada caso poderia explicar as diferenças. No tópico a seguir o argumento será desenvolvido. b) Em FI1 Min. (contingente) a diminuição foi 23,5%, houve posteriormente um aumento de 84,7% durante o Recondicionamento e novamente uma queda após a segunda introdução do JAQ, em FT1 Min. (Não-Contingente), de 21,9%. Não foi observada uma supressão significativamente diferente nas fases contingente (23,5%) e não-contingente (21,9%). Os dados diferem dos produzidos por Carvalho Neto, Rico, Tobias, Gouveia Jr. & Angerami (2005), quando foi observada uma supressão maior no esquema não-contingeníe. O vaior usado no FT de cada trabalho pode ter sido a variável crítica. Na referida pesquisa, o JAQ era apresentado a cada 10 segundos, enquanto no presente estudo a mesma intensidade do jato era apresentada a cada 60 segundos. O espaçamento entre as apresentações do aversivo foi maior agora. Na ocasião o FT adotado foi de 10 Seg., enquanto o do presente estudo foi de 60 Seg. A possibilidade das respostas serem consequenciadas com o JAQ foi muito maior no primeiro estudo. No estudo aqui apresentado mais respostas puderam ocorrer na ausência do aversivo programado, o que provavelmente fortaleceu mais o responder. Os dados aqui descritos sugerem que o efeito observado por Carvalho Neto, Rico, Tobias, Gouveia Jr. & Angerami (2005) tenha sido na verdade um artefato da densidade diferencial de JAQ apresentada em cada caso e não um efeito do esquema de apresentação dos eventos aversivos (não-contingente) em si. c) Quanto às respostas emocionais (‘'Defecar'', “Urinar”e “Lamber as Patas Dianteiras e Passar no Focinho"), observou-se que houve um aumento na freqüência dessas respostas em ambas as fases de apresentação de JAQ, em comparação com as fases CRF e Recondicionamento. Contudo, esse aumento ocorreu em maior freqüência na fase não-

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contingente. Mais especificamente, as respostas de ‘defecar" e “urinar” mantiveram o mesmo nível, em médte, em íoçjqs as fases. A resposta de “Lamber as Patas Dianteiras e Passar no Focinho" fembem se'manteve com mesmo nível de freqüência nas sessões de CRF, de apresentação contingente do JAQ e de Recondicionamento, entretanto, aumentaram em três vezes na fase de Apresentação não-contingente. Portanto, a resposta “emocional” que aumentou diferencialmente na fase não-contingente foi o "Lamber as Patas”, provavelmente em função do maior aumento da temperatura no piso pelo acionamento mais sistemático do JAQ. Tal resposta seria provavelmente de fuga (e talvez esquiva), mantida pelo resfriamento das patas. Tais dados diferem dos produzidos por Carvalho Neto e colaboradores (2005), quando o defecar e o urinar aumentaram consistentemente de freqüência no grupo ,não-contingente. A explicação talvez esteja no delineamento em cada estudo. No trabalho citado o JAQ era apresentado de maneira ou contingente ou não-contingente em cada um dos dois grupos. Cada sujeito só tinha experiência com umà forma de apresentação do JAQ. No presente trabalho os mesmos sujeitos recebiam primeiro o JAQ de maneira contingente e depois de maneira nãocontingente. Essa exposição iniciai ao JAQ de maneira controlável pode ter sido suficiente para produzir tanto habituação ao aversivo, diminuindo o seu efeito eliciador, quanto “vacinação", neutralizando ou reduzindo o efeito ''emocional” da incontrolabilidade posterior, “imunizando” os sujeitos e também diminuindo a função eliciadora do defecar e do urinar.

Referências Azrin, N. H. & Holz, W. C. (1975). Castigo. In W. K. Honig, (E d ), Conducts operante: investigation y apiicadones (pp. 455-531) (F. López, E Galindo e E. R. Ingesta, Trads). México: Trillas. Banks, R. K. (1966). Persistence to continuous punishment and nonreward following training with intermittent punishment and nonreward. Psychonomical Science, 5 (3), 105-106. Baron, A. (1991), Avoidance and punishment. In I. H. Iversen & K. A. Lattal (Eds.), Techniques in the behavioral and neural sciences: Experimental analysis o f behavior. A m sterdam , The Netherlands: Elsevier. Camp, D. S.; Raymond, G. A & Church, R. M. (1967). Temporal relationship between response and punishment. Journal o f Experimental Psychology. 74 (1), 114-123. Carvalho Neto, M. B. ; Rico, V. V. ; Tobias, G. K. S.: Gouveia Jr, A. ; Angerami, J. G. T. (2005). O jato de ar quente como estímulo aversivo: Efeitos da sua apresentação contingente e nãocontingente. Em: H. Guühardi (Org.), Sobre Comportamento e Cognição. Santo André: ESETec. Carvalho Neto, M. B., Maestri, T. C. & Menezes, E. S. R. (2007). O jato de ar quente com o estím ulo a versivo: efe itos supressivos da exp osição prolongada em Rattus Norvegicus. Acta Comportamentalia, 14 ( 1). Carvalho Neto, M. B., Maestri, T. C., Tobias, G. K. S., Ribeiro, T. C . , Coutinho, E. C. N. N . , Miccione, M. M . , Oliveira, R. C. V ., Ferreira, F. S. S . , Farias, D. C ., & Moreira, O. (2005). O jato de ar quente como estímulo punidor em Rattus norvegicus Psicologia: Teoria e Pesquisa, 21 (3), 335-339. Domjan, M. & Burkhard, B. (1993). The principies o f learning and behaviour. Pacific Grove, CA: Brooks/Cole. Estes, W K. (1944). An experimental study of punishment. Psychological Monographs, 5 /(3 ), 1-40.

Sobre C om portam ento e C o g n içã o

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