EJA – EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: O PAPEL DOS GESTORES PARA A PERMANÊNCIA DOS ALUNOS E SUAS AÇÕES MOTIVADORAS

July 21, 2017 | Autor: Marcia Matias | Categoria: Educação de Jovens e Adultos
Share Embed


Descrição do Produto



Antonio Carlos Leão, diretor do CEEBJA em Ivaiporã/PR. Entrevista em 03/06/2014.
Entrevista concedida pela pedagoga do CEEBJA de Ivaiporã,PR, Nádia Horbus, em 03/06/2014.
Entrevista concedida por Clarice Gallegos,pedagoga no CEEBJA de Ivaiporã, Pr., em 03/06/2014.
Entrevista concedida por Varlei dos Santos em 03/06/2014, professor do CEEBJA em Ivaiporã/PR.
Entrevista concedida pela professora do CEEBJA Rosa Maria Alves Dias, em 04/06/2014.
Idem, pela professora do CEEBJA de Ivaiporã/PR. Jandira Nunes, em 04/06/2014.
Idem, pela professora do CEEBJA de Ivaiporã/PR. Marta Caris, em 05/06/2014.
Ibidem, em 05/06/2014.
Ibidem, em 04/06/2014.




17


EJA – EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:
O PAPEL DOS GESTORES PARA A PERMANÊNCIA DOS ALUNOS E SUAS AÇÕES MOTIVADORAS





Marcia Boer Matias
Acadêmica em Gestão Escolar. UNICENTRO. 2014.
[email protected]

Orientador Professor Cleber Trindade Barbosa
Mestre em Administração pela Universidade Federal do Paraná, UFPR.
Docente do Departamento de Administração da UNICENTRO.

Resumo:
O objetivo deste artigo é apresentar o resultado da pesquisa sobre a influência dos gestores para a permanência de alunos da EJA em sala de aula, no CEEBJA, Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos, Ensino Fundamental e Médio. Identificar quais são os métodos de motivações utilizados pelos professores e gestores para fazer com que haja continuação desses educandos em sala de aula, bem como compreender as dificuldades encontradas por eles, os motivos que os fizeram voltar à escola. Para maior entendimento, tornou-se necessário conhecer estudos realizados por autores como: Dalila Andrade Oliveira, Lourenço Filho, Paulo Freire, entre outros. A metodologia usada foi de pesquisa qualitativa com estudo DE caso, onde foram realizadas entrevistas com alunos, professores e gestores atuantes no EJA.


Palavras-chave: Educação de jovens e adultos, superação, motivações, gestor educador

ABSTRACT
The objective of this paper is to present the results of research on the influence of managers to the permanence of the EJA students in the classroom, in CEEBJA, State Center for Basic Education for Youth and Adults, Elementary and Secondary Education. Identify what are the methods of motivation used by teachers and administrators to make that it will continue these students in the classroom as well as understand the difficulties faced by them, the reasons that made them go back to school. For better understanding, it became necessary to know studies by authors such as: Dalila Andrade Oliveira, Lourenço Filho, Paulo Freire, among others. The methodology used was qualitative research case study where interviews with students, teachers and active managers in EJA were performed.

Key words: youth and adult education, overcoming, motivation, academic manager.


INTRODUÇÃO


Tendo em vista os altos índices de defasagem escolar, principalmente no que diz respeito a alunos com faixa etária incompatível com a série em que estudam a Educação de Jovens e Adultos, EJA, no Brasil, assume um papel de grande importância no processo de formação de muitos brasileiros, tornando-se uma modalidade crucial para a garantia de acesso e permanência do público jovem e adulto à educação. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino com um público bastante peculiar e diversificado: diversificado, porque cada aluno tem sua história de vida e já possui uma experiência acumulada em outras áreas de atuação social (profissionais, familiares, religiosas, etc.). Ressalta-se ainda, que por razões diversas, todos esses alunos apresentam algo em comum: o fato específico de não terem tido acesso à educação na idade idealmente recomendada pela legislação educacional brasileira. Trata-se, portanto, de um público marcado por uma história de vida que, por alguma razão, em algum trecho do percurso, abandonaram a trajetória escolar regular.

E, numa sociedade em que o conhecimento é, mais do que nunca, instrumento de ascensão social e ponto de partida para a plena vivência da cidadania, a exclusão escolar pela qual passou este público não é apenas um detalhe, mas é um problema crucial a ser enfrentado por todos os envolvidos no processo educativo dessa modalidade de ensino.

A educação de jovens e adultos surgiu no Brasil no período colonial, com os jesuítas, mas ganhou forças renovadas ao final do século XIX e início do século XX, quando foi estabelecida sua obrigatoriedade. Entre as razões do investimento nesta modalidade educativa está, sem dúvida, o interesse político na formação de um público leitor e eleitor, já que os analfabetos, segundo a Constituição Federal de 1891, não teriam sequer direito a voto. A falta de acesso à instrução escolar, portanto, equivaleria (e ainda equivale) a outras carências dificilmente supridas por outras vias, já que sem ela, até mesmo o direito de escolher seus representantes era negado a uma considerável fatia da população brasileira. (BEISEIGEL, 1974).

Nesse aspecto e com relação a esse público – marcado pela exclusão – requer dos gestores escolares uma atenção maior para que estas exclusões não venham se repetir. Justamente neste cenário, cabe aos profissionais que atuam neste segmento um papel essencial, uma vez que devem ser eles os principais articuladores do processo educativo, mobilizando toda a comunidade escolar para a garantia de uma educação de qualidade. E, pensando nisso, o desafio que me impulsionou nesta pesquisa foi o interesse em descobrir o que os gestores que atuam na Educação de Jovens e Adultos têm feito para com que esses alunos concluam seus estudos e, também, o que os professores têm realizado para manter esses alunos presentes.

Para dar conta desse desafio, este estudo se baseou numa pesquisa qualitativa, através da realização de entrevistas com professores, alunos, agentes educacionais e secretaria, de um colégio público estadual específico da modalidade EJA, localizado no Vale do Ivaí, no interior do Paraná. Procedeu-se também uma pesquisa bibliográfica, a fim de balizar teoricamente a temática abordada.

Na pesquisa de campo, realizada no Ceebja foram entrevistados 20 alunos, assim como o Diretor Antonio Carlos Leão, duas gestoras: Nádia e a Clarice, 8 professores: Marta Caris (professora de história); Rosa Maria Alves Dias (professora de matemática); Graci Maria Pereira (professora de educação física); Maria Conceição Chiareli Costa (professora de artes visuais); Jandira Sagioneti Nunes (professora de língua portuguesa); Varlei dos Santos (professor de Filosofia); Nanci Marisa Strassacapa (professora de química), também Elaine Aparecida Gomes, Coordenadora Geral de APEDs, (Ações Pedagógicas Descentralizadas), a secretária Gislaine da Rocha Fernandes e a agente educacional l Francisca Dirce Bozza. As entrevistas foram realizadas com questionários escritos durante as aulas ministradas pelos professores regentes.

Foram entrevistados 20 alunos, todos responderam individuais os questionários escritos e 12 deles autorizaram expor seus nomes, mas oito alunos não quiseram expor, por isso seus nomes foram preservados. O roteiro de entrevistas utilizado encontra-se nos apêndices deste artigo.

Ressalte-se que este artigo teve como principal objetivo desenvolver uma reflexão acerca do papel do gestor diante das dificuldades encontradas na educação de jovens e adultos no Brasil, tendo em vista as ações tomadas, a fim de que os alunos de EJA concluam seus estudos e melhorem suas condições de trabalho, ou até mesmo ingressem num curso de ensino superior. Intenta-se também apresentar um estudo de motivações mobilizadoras determinantes da permanência deste grupo de educandos em salas de aula.

Conforme opinião de Minayo:


A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (Minayo, 1994 P.21-22).

O trabalho está dividido em três partes. No primeiro capítulo, aborda-se a educação de jovens e adultos (contexto histórico). Para maior entendimento, tornaram-se necessários estudos realizados por diferentes autores como Dalila Andrade de Oliveira e Lourenço Filho. Pesquisou-se, também, sobre os processos educativos de jovens e adultos, nos quais as contribuições de Paulo Freire foram referências fundamentais. No segundo capítulo, com base nos referenciais teóricos que fundamentaram nossa pesquisa, foi realizada a análise dos resultados das entrevistas, buscando compreender melhor as ações que contribuem para o sucesso dos alunos dessa modalidade de ensino e também as ações ou missões que os prejudicam, impedindo sua permanência na escola e conclusão dos estudos. E por fim, serão apresentadas as nossas considerações finais nas quais não propomos receitas, mas compartilhamos os resultados da nossa reflexão sobre o tema aqui proposto.

POLÍTICA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

A educação da EJA teve início no Brasil Colonial com os Jesuítas, os quais tinham como objetivo catequizar os nativos. Sendo considerada tarefa da igreja e não do estado. Essa categoria de ensino durou-se séculos, onde e foram fundaram instalados colégios e desenvolveram uma educação clássica, humanística e acadêmica. Moura (2003) comenta que:


A educação de adultos teve início com a chegada dos jesuítas em 1549. Essa educação esteve, durante séculos, em poder dos jesuítas que fundaram colégios nos quais era desenvolvida uma educação cujo objetivo inicial era formar uma elite religiosa (Moura, 2003, p.26).

Com desenvolvimento industrial e urbano no final do século XIX e início do século XX, foram aprovados projetos de leis com obrigatoriedade da educação de jovens e adultos. Percebe-se o interesse dos políticos, sendo que os analfabetos não tinham direito ao voto. Legalizada pela Lei Saraiva de 1882, acionada depois à Constituição Federal de 1891, que impediu o voto ao analfabeto. Sendo assim a educação começou a ser considerada como apoio ao progresso e do desenvolvimento do país. Segundo Pinto:


A participação cada vez mais ativa das massas - incluindo grande número de analfabetos - no processo político de uma sociedade expande a consciência do trabalhador e lhe ensina por que e como - ainda que analfabeto - deve caber a ele uma participação mais ativa na vontade geral (Pinto, 1982, p 80).

O ensino para jovens e adultos, passou a existir a partir da Reforma João Alves em 1925. João Luís Alves foi um jurista, escritor e político brasileiro, membro da cadeira 11 da Academia Brasileira de Letras, foi eleito deputado estadual e, em abril de 1903, deputado federal. Na Câmara foi eleito membro da Comissão da Constituição e Justiça, tendo ocasião de elaborar pareceres de grande repercussão política. O mesmo colaborou para que houvesse assim o ensino noturno. O interesse era que todos pudessem assim estudar, pois analfabetos não tinham direito ao voto. Visto que, os interesses de que não existissem analfabetos, eram voltadas as classes dominantes. Por volta de 1930, teve inicio um movimento direcionado também pelos políticos, com o objetivo de aumentar o eleitorado. De acordo com Pinto:


O adulto é, por conseguinte um trabalhador trabalhado. Por um lado, só subsiste se efetua trabalho, mas, por outro lado, só pode fazê-lo nas condições oferecidas pela sociedade onde se encontra que determina as possibilidades e circunstâncias materiais, econômicas, culturais de seu trabalho, ou seja, que neste sentido trabalha sobre ele (Pinto, 1982, p 80).

Celso de Rui Beisiegel afirma que foi a partir da década de 1940, que começou a ser divulgada no Brasil a existência de uma política para a educação de jovens e adultos analfabetos. Durante a Primeira República e no período do império havia referências ao ensino noturno de adultos. No entanto, foi pouco o número de alunos atendidos (Beisegel, 1974, p. 78).

Sendo professor Lourenço Filho, foi idealizador e o primeiro coordenador da Campanha de Educação de Jovens e Adultos no Brasil, teve também como cargo a função de gabinete do ministro da Educação Francisco Campos. Portanto, o movimento de mobilização nacional em benefício à educação de jovens e adultos analfabetos, organizado por ele foi extenso. Em conferências pronunciadas em 1948, Lourenço Filho afirmava que:


No caso específico do Brasil, atribuía - se ao ensino supletivo o esforço de fornecer a todos a educação de base ou educação fundamental, entendendo-se por educação de base o processo educativo dedicado a proporcionar a cada indivíduo os instrumentos indispensáveis da cultura do seu tempo, em técnicas que facilitassem o acesso a essa cultura – como a leitura, a escrita, a aritmética elementar, noções de ciências, de vida social, de civismo, de higiene – e com as quais, segundo suas capacidades, cada homem pudesse desenvolver-se e procurar melhor ajustamento social" (Beisiegel, 1974:93).

Lourenço Filho como educador defendia uma educação voltada aos jovens e adultos. Em 1947, foi realizado o 1º Congresso Nacional de Educação de Adultos (CEAA). Ele participou de várias Campanhas de Educação de Jovens e Adultos. O mesmo responsabilizava o povo analfabeto pelos problemas do país. Portanto, foi então que se estruturou o Serviço de Educação de Adultos do Ministério da Educação. Portanto, Lourenço Filho era a favor do ensino noturno no Brasil, tanto nas zonas rurais como urbanas. Ele pronunciou na conferência em 1948: Em relação a essa Campanha, Paiva (1987, p. 178) destaca que:
 

A CEAA nasceu da regulamentação do FNEP e seu lançamento se fez em meio ao desejo de atender aos apelos da UNESCO em favor da educação popular. No plano interno, ela acenava com a possibilidade de preparar mão-de-obra alfabetizada nas cidades, de penetrar no campo e de integrar os imigrantes e seus descendentes nos Estados do Sul, além de constituir num instrumento para melhorar a situação do Brasil nas estatísticas mundiais de analfabetismo (Paiva, 1987, p. 178).


No final da década de 50 e início da década de 60, constata-se a emergência de uma nova perspectiva na educação brasileira fundamentada nas ideias e experiências desenvolvidas por Paulo Freire. Este educador idealizou e vivenciou uma pedagogia voltada para as demandas e necessidades das camadas populares, realizada com sua efetiva participação e a partir de sua história e de sua realidade. Esta perspectiva fundamenta a educação de jovens e adultos a partir de princípios da educação popular.


A valorização da escola entre os adultos das comunidades Rústicas estenderia os efeitos da Campanha à própria educação das crianças (...). A criança alfabetizada, em um meio de adultos analfabetos, não logra modificar a situação dos adultos. Mas, o adulto provido de alguma instrução, em meio igualmente rude, pode contribuir para transformá-lo, seja atuando no seio do lar, sobre os filhos, seja nas suas relações mais extensas, sobre a comunidade (Beisiegel apud Santos, 2003, p.23).

Com estes experimentos, a educação e cultura popular passaram a questionar a ordem capitalista, provocando a articulação das organizações e movimentos sociais em torno das Reformas de Base, conduzidas pelo então governo João Goulart. Afirma Paiva (1983, p.259):


A multiplicação dos programas de alfabetização de adultos, secundada pela organização política das massas, aparecia como algo especialmente ameaçador aos grupos direitistas; já não parecia haver mais esperança de conquistar o novo eleitorado [...] a alfabetização e educação das massas adultas pelos programas promovidos a partir dos anos 60 aparecia como um perigo para a estabilidade do regime, para a preservação da ordem capitalista. Difundindo novas idéias sociais, tais programas poderiam tornar o processo político incontrolável por parte dos tradicionais detentores do poder e a ampliação dos mesmos poderia até provocar uma reação popular importante a qualquer tentativa mais tardia de golpe das forças conservadoras. (Paiva, 1983, p.259 apud Fernandes)

Uma das iniciativas importantes do governo de Artur da Costa e Silva na Resolução da educação de jovens e adultos analfabetos foi à criação do Movimento Brasileiro de Alfabetização MOBRAL, nos termos da Lei nº 5.379, de 15 de Dezembro de 1967, segundo Jannuzzi.


A documentação do MOBRAL conceituava educação: como o processo que auxilia o homem a explicitar suas capacidades, desenvolvendo-se como pessoa que se relaciona com os outros e com o meio, adquirindo condições de assumir sua responsabilidade como agente e seu direito como beneficiário do desenvolvimento econômico, social e cultural (Jannuzzi, 1979, apud Brasil, 2000, p.4).

Portanto, também na década de 1960, foi criado um programa de alfabetização, na qual tinha como referência o método de Paulo Freire, professor e escritor, que lutou duramente contra o analfabetismo de jovens e adultos, cria sua própria concepção de alfabetizar, que ficou conhecido como - método Paulo Freire ou método Freiriano -.

Segundo Freire:


A relação professor-aluno deve ser: Para ser um ato de conhecimento o processo de alfabetização de adultos demanda, entre educadores e educandos, uma relação de autêntico diálogo. Aquela em que os sujeitos do ato de conhecer (educador - educando; educando - educador) se encontram mediatizados pelo objeto a ser conhecido. Nesta perspectiva, portanto, os alfabetizandos assumem, desde o começo mesmo da ação, o papel de sujeitos criadores. Aprender a ler e escrever já não é, pois, memorizar sílabas, palavras ou frases, mas refletir criticamente sobre o próprio processo de ler e escrever e sobre o profundo significado da linguagem (Freire, 2002, p. 58).

Porém o MOBRAL era totalmente contrário ao método freiriano, pois ele buscava alfabetizar passando- lhe mensagens apelativas que ofereciam uma sociedade ideal na qual ele seria inserido. Já o método Paulo Freire tem como finalidade a alfabetização tendo em vista à libertação. Essa libertação não se dá apenas no campo cognitivo, entretanto deve suceder, necessariamente, nos campos sócio-cultural e político, pois a ação de conhecer não é apenas cognitiva, contudo político, e se desempenha no meio da civilização. Logo em seguida foi criado a fundação Educar, extinta em março de 1990 no início do governo Collor. (MOLL, 2001, p.94. Apud Silva, 2013, p.4).

A Constituição de 1988 no artigo 208 declara a garantia do ensino fundamental, sendo obrigatório e gratuito, para as pessoas que a ele não tiveram oportunidade na idade adequada. O artigo 208 enfatiza-se ainda que "o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito subjetivo" e que "o não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente", vejamos:


O artigo 208, já mencionado, estabelece que o ensino fundamental obrigatório e gratuito para todos é dever do Estado. Mais adiante, o artigo 211 dispõe que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração os seus sistemas de ensino. O dever educacional do Poder Público se distribui, assim, entre União, Estados e Municípios. E não obstante se afirme (no parágrafo 2o do artigo 211) que os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e pré-escolar, na verdade nada há de explícito na Constituição ou nas propostas de legislação complementar que realmente obrigue os Municípios a responderem pelos deveres constitucionais do Poder Público na Educação de Jovens e Adultos analfabetos. (BEISIEGEL, apud SANTOS, 2003, p.30)


Portanto, para diminuir as taxas de analfabetismo e tentar sanar o tamanho abismo, os responsáveis pelas resoluções políticas educacionais criaram a EJA - Educação de Jovens e Adultos (Moura 2004, Apud Santana, 2011, p.3).

Com o desígnio de atender as pessoas que não tiveram oportunidades de estudar no tempo e idade certa, a EJA surge. No entanto, da construção até a concretização desta ideia foram grandes os desafios. Segundo Couto (1933, p.190):


O analfabetismo é o cancro que aniquila o nosso organismo, com suas múltiplas metástases, aqui a ociosidade, ali o vício, além o crime. Exilado dentro de si mesmo como em um mundo desabitado, quase repelido para fora da espécie pela sua inferioridade, o analfabeto é digno de pena e a nossa desídia indigna de perdão enquanto não lhe acudirmos com o remédio do ensino obrigatório. (COUTO apud SILVA,2009, p.7).

As Diretrizes Curriculares para a Educação Jovens e Adultos (DCNs/EJA),foi regulamentada em 2000, pela Resolução CNE/CEB Nº 1, de 5 de Julho de 2000, e pelo Parecer 11/2000 do Conselho Nacional de Educação, tivemos a regulamentação das Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos (DCNs/EJA) O documento das DCNs/EJA indicou o seu reconhecimento como uma modalidade da educação básica, com especificidades próprias a serem analisadas.

A EJA, de acordo com a Lei 9.394/96, passando a ser uma modalidade da educação básica nas etapas do ensino fundamental e médio, usufrui de uma especificidade própria que, como tal, deveria receber um tratamento conseqüente (BRASIL, 2000, p.2).


HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM IVAIPORÃ PR

Segundo o Projeto Político Pedagógico do CEEBJA, a educação deve ter prioridade para o desenvolvimento de um país e deve ser entendida como um meio de promoção humana, de desenvolvimento pleno do cidadão. Essa consciência, aos poucos vem ganhando espaço na sociedade.

Com a preocupação de minimizar a situação crítica de jovens e adultos que estão à margem do sistema escolar, decidiu-se pela criação do CES (Centro de Estudos Supletivos) no município de Ivaiporã. O objetivo da implantação do CES foi atender as diferenças individuais, através de um ensino personalizado, o que possibilita a escolarização e a formação do cidadão consciente, com discernimento para desvendar a realidade que o rodeia e a capacitar-se a tomar decisões.

Nesta perspectiva o CES (Centro de Estudos Supletivos) de Ivaiporã foi criado em 05 de julho de 1994, com a Resolução Secretarial nº 3.565/94, com funcionamento num dos pavimentos das dependências do Núcleo Regional de Educação desta cidade, na Avenida Paraná, nº 1435 – município de Ivaiporã-PR, mantido pelo governo do estado do Paraná e administrado pela secretaria de educação.

O Centro de Estudos Supletivos de Ivaiporã, atualmente denominado Centro Estadual de Educação Básico para Jovens e Adultos de Ivaiporã – Ensino Fundamental e Médio, atendendo ao disposto na Constituição Federal e Estadual, na Lei nº 5.692/71 e na Deliberação 034/84 do Conselho Estadual de Educação, passou a ofertar cursos e exames de 1º e 2º graus, destinados à preparação de adolescentes e adultos através da metodologia adequada ao desenvolvimento intelectual dos educandos.

Documentos que marcaram alguns momentos significativos na história do CEEBJA (Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos):

Resolução nº 3.565/94 – cria o Centro de Estudos Supletivos de Ivaiporã;

Resolução nº 4.573/96, de 03 de dezembro de 1996 – autoriza a mudança de domicílio do Centro de Estudos Supletivos de Ivaiporã, do Município de Ivaiporã, NRE (Núcleo Regional de Educação) de Ivaiporã, mantido pelo Governo do Estado do Paraná, a partir de 1996, transferindo-se para a Rua Santa Catarina, nº 185, Centro de Ivaiporã – PR;

Resolução nº 2.100/98, de 23 de junho de 1998 e Parecer 151/98, de 06 de maio de 1998 – reconhece o Curso de 2º Grau Supletivo – Função Suplência de Educação Geral, do Centro de Estudos Supletivos de Ivaiporã, do Município e NRE de Ivaiporã, Mantidos pelo Governo do Estado do Paraná;

Resolução nº 1.746/98, de 25 de maio de 1998 e Parecer 148/98, de 17 de abril de 1998 – Reconhece o Centro de Estudos Supletivos de Ivaiporã e o Curso de 1º Grau Função Suplência de Educação Geral;

Resolução 3.120/98, de 31 de agosto de 1998 – autoriza a adequação na nomenclatura do Centro de Estudos Supletivos para Centro de Educação Aberta, Continuada à Distância – CEAD;

Resolução nº 4.561/99, de 15 de dezembro de 1999 – determina que os Centros de Educação Aberta, Continuada à Distância – CEAD, mantido pelo Governo do Estado do Paraná, anteriormente denominado Centro de Estudos Supletivos – CES, passem a denominar-se Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA), com suas respectivas ofertas de Ensino;

Resolução nº 2.856/2001, de 27 de novembro de 2001 – autoriza o funcionamento do Ensino Fundamental e Médio, na modalidade de Educação de Jovens e Adultos semipresencial, no CEEBJA (Centro Estadual de Educação para Jovens e Adultos), a partir do 1º semestre de 2002;

Resolução nº 721/02, de 19 de março de 2002 – cessa a partir de 31 de janeiro de 2002 todos os PACs – Postos Avançados Subordinados aos CEEBJAs (Centros Estaduais de Educação Básica para Jovens e Adultos), com Ato autorizatório emitido até a 2001;

Resolução nº 3.529/2005, de 08 de dezembro de 2005 – autoriza a mudança de Endereço do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos de Ivaiporã, da Rua Santa Catarina, nº 185, para a Praça da Independência, nº 385, do mesmo município, a partir de 27 de julho de 2004;

Resolução nº 3.955/06, de 22 de agosto de 2006 – autoriza o funcionamento do Ensino Fundamental Fases I e II e Ensino Médio presencial, na modalidade Educação de Jovens e Adultos de Ivaiporã, com implantação simultânea a partir do ano de 2006;

Resolução nº 3.226/07, de 20 de julho de 2007 – cessa o funcionamento do PEJA – Projeto de Escolarização de Jovens e Adultos do Ensino Fundamental (Fase I – 1ª a 4ª séries), autorizados a funcionar em estabelecimentos de Ensino jurisdicionados ao NRE (Núcleo Regional de Educação) de Ivaiporã, mantidos por prefeituras municipais;

Resolução nº 2913/10, de 02 de julho de 2010, renova o Reconhecimento do Ensino Fundamental e Médio da Modalidade de Jovens e Adultos presencial no Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos de Ivaiporã Ensino Fundamental e Médio.

Para atender aos antigos PACs, (Posto Avançado do CES) (Centro de Estudos Supletivos) PNAC, PROGRAMA NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO E CIDADANIA – Foram implantadas no CEEBJA (Centro Estadual de Educação Básica Para Jovens e Adultos) as APED's – Ações Pedagógicas Descentralizadas. Dessa forma o CEEBJA (Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos) oportuniza um ensino de qualidade, um aprendizado para a vida, em que o educando, tendo acesso ao conhecimento, passa a fazer as diversas leituras de mundo e assim ser atuante e exercer com dignidade sua cidadania.

Conforme as entrevistas realizadas e o Projeto Político Pedagógico da escola, o CEEBJA funciona nos períodos Vespertino, das 13 horas às 17 horas e Noturno das 19 horas às 22h30min horas. Durante o período vespertino o fluxo de alunos é menor do que o noturno. O Estabelecimento de Ensino oferta a Educação Básica nas seguintes modalidades: Ensino Fundamental Fase I e II e Ensino Médio com um número de 2.000 matrículas, mas existem alunos que estão cursando mais que uma disciplina. Tendo como Diretor o Professor Antonio Carlos Leão e pedagoga as professoras Nádia Horbus e Clarice Gallegos. Para tanto se observa que todos os espaços para a realização das atividades educacionais encontram-se em condições favoráveis à efetivação dos trabalhos escolares.


PERFIL DO ALUNO

Com base na pesquisa de campo realizada com alunos, professores e agentes educacionais no EJA, foi traçado o perfil doaluno da educação de jovens, adultos e idosos onde requer conhecer a sua história, cultura e costumes dos indivíduos, entendendo-o como um sujeito com diferentes experiências de vida e que em algum momento afastou-se da escola devido a fatores sociais, econômicos, políticos e/ou culturais. Entre esses fatores, destacam-se o ingresso prematuro no mundo do trabalho, a evasão ou a repetência escolar. Segundo Paulo Freire, o sentido que a escola tinha para o povo:


Não devemos chamar o povo à escola para receber instruções, postulados, receitas, ameaças, repreensões e punições, mas para participar coletivamente da construção de um saber, que vai além do saber de pura experiência feito, que leve em conta as suas necessidades e o torne instrumento de luta, possibilitando-lhe ser sujeito de sua própria história. (FREIRE, 2001, p.16).

Atualmente, os adolescentes são presença marcante nas escolas da EJA, a grande maioria é oriunda de um processo educacional fragmentado, marcado por freqüente evasão e reprovação no ensino fundamental e médio regulares. A demanda desses adolescentes para com a EJA não pode ser vista apenas como um fato, mas também como a oportunidade da educação escolar responder a alguns questionamentos, dentre os quais: como reverter à cultura do "aligeiramento" da escolarização ou de uma pedagogia da reprovação por uma pedagogia da aprendizagem?

Muitos adolescentes, jovens, adultos e idosos ingressos na EJA trazem modelos internalizados durante suas vivências escolares ou por outras experiências. Há necessidade de romper com esses modelos e motivar a autonomia intelectual, a fim de que se tornem sujeitos ativos do processo educacional. Outra demanda a ser atendida, pela EJA é a de sujeitos idosos que buscam a escola para desenvolvimento ou ampliação de seus conhecimentos, bem como para outras oportunidades de convivência, inclui-se aqui o convívio social e a realização pessoal.

Há na EJA uma grande presença de mulheres, que durante anos sofreram, e por diversas vezes ainda sofrem as conseqüências de uma sociedade desigual com predomínio de tradição patriarcal, que a impediu das práticas educativas em algum momento de sua história de vida. Algumas mulheres que chefiam suas famílias enfrentam o trabalho como diaristas, bóias frias e domésticas para dar o sustento aos filhos, chegam cansadas à escola, mas almejam por um emprego onde possam ser melhor remuneradas e com melhores condições de trabalho.

Percebe-se que é um desafio não só para os professores como também para esses alunos, que vêem em busca de um sonho que talvez já estivesse esquecido no passado e com a ajuda dos professores os estão realizando. Há presença de avós e mães que levam as crianças junto à escola, pois não tem com quem deixar. Essas crianças ficam juntas na sala. Na escola há colchões para colocar as crianças.

A EJA contempla também, o atendimento a educando com necessidades educacionais especiais. Considerando a situação em que se encontram individualmente estes educandos, devem-se priorizar ações educacionais específicas e que oportunizem o acesso, a permanência e o êxito destes no espaço escolar.

A EJA, também contempla a educação do campo. Considera-se que "o campo" retrata uma diversidade sócio-cultural, que se dá a partir dos sujeitos que nela habitam, ou seja, os assalariados rurais temporários, posseiros, meeiros, arrendatários, acampados, assentados, reassentados, agricultores familiares, vileiros rurais, descendentes de negros e outros mais. A afirmação do campo enquanto espaço de vida contribui para a auto-afirmação da identidade destes povos, no sentido da valorização do seu trabalho, da sua história, da sua cultura e dos seus conhecimentos.

Considerando o perfil diferenciado dos alunos da EJA e suas necessidades, assim como, as características próprias desta modalidade de ensino, deve-se garantir o retorno e permanência destes educandos à escolarização formal, pela manutenção da oferta da Educação de Jovens e Adultos. Desta forma pode-se garantir essa formação através de políticas públicas direcionadas especificamente ao atendimento nesta modalidade, de forma permanente e contínua, enquanto houver demanda.

Em síntese, o atendimento à escolarização de jovens, adultos e idosos, não se refere exclusivamente a uma característica etária, mas a articulação dentre outros, das populações do campo, em privação de liberdade, com necessidades educativas especiais, que demandam uma educação que considere o tempo/espaço e a cultura desses grupos.

Durante as entrevistas realizadas com os alunos, percebe-se o contentamento por ter voltado a estudar, e a motivação que emerge a cada nova aprendizagem. Vejamos alguns depoimentos dados pelos professores do CEEBJA durante as entrevistas e dos alunos.

Segundo a pedagoga Nadia Horbus, valorizam-se muito os conhecimentos que esses alunos trazem consigo podendo assim ampliar e não restringir. Portanto, um aluno que não é estimulado, faz com que ele desista de estudar, por isso o professor deve valorizar o seu conhecimento empírico, de modo a não ocasionar evasão escolar. Para tanto Pinto descreve:


O educador tem que considerar o educando como um ser pensante. É um portador de ideias e um produtor de ideias, dotado frequentemente de alta capacidade intelectual, que se revela espontaneamente em sua conversação, em sua crítica aos fatos, em sua literatura oral. O que ocorre é que em presença do erudito arrogante, "culto" (o "doutor") o analfabeto se sente inferiorizado e seu comportamento se torna retraído. (PINTO - 1982, p 83).

Alguns professores de artes visuais trabalham a prática, com bordados, crochês, bordados em chinelos, pintura em tecidos etc. isso tudo é realizado para ajudar esses alunos também no mercado de trabalho. De acordo com o Diretor Antonio Leão, a escola é um refúgio, pois aqui nós temos alunos oriundos de todas as outras escolas, alunos que foram expulsos de outras escolas, os que não tiveram oportunidades de estudar na idade certa, os deficientes físicos entre outros. Já, de acordo com a entrevista realizada com a professora Elaine Aparecida Gomes, Coordenadora Geral de APEDs, (Ações Pedagógicas Descentralizadas), é gratificante este trabalho. De acordo com a professora:


Aqueles que voltaram a freqüentar uma sala da EJA vêm em busca da concretização de um sonho em saber ler e escrever. Existem alguns idosos que querem ler a bíblia, outras mães querem poder ajudar os filhos nas lições de casa, outros em busca de poder concluir o ensino fundamental e médio e poder ingressar na faculdade. Percebe-se que a maioria deles almeja por uma qualidade de vida melhor.

Segundo o Diretor Antonio Carlos Leão, o trabalho pedagógico deve ser desenvolvido de acordo com as Diretrizes Curriculares que fundamentam a educação de jovens e adultos, constituindo uma escola verdadeiramente comprometida com a construção dos conhecimentos científicos e a formação humana dos educadores.

Através das analises da pesquisa, foi possível constatar que os gestores realizam um trabalho escolar diferenciado, desenvolvendo ações pedagógicas descentralizadas, efetivadas em situações de evidente necessidade, sendo dirigidas a grupos sociais com perfis e necessidades próprias e também onde não haja oferta de escolarização para jovens, adultos e idosos, respeitando assim a proposta pedagógica e o regimento escolar.

Portanto, os gestores também atuam numa prática inclusiva envolvendo-se nas organizações de reuniões pedagógicas, desenvolvendo ações relacionadas aos professores e alunos, identificam e realizam as adaptações curriculares de grande porte e fomentam as de pequeno porte, possibilitam o intercâmbio e o suporte entre os profissionais externos e a comunidade escolar.

Segundo a professora pedagoga Nádia Horbus:


A maioria dos alunos são trabalhadores, os mesmos vêm de um dia de trabalho muito árduo. Alguns trabalham na cana de açúcar, alguns bóias frias, pedreiros, diaristas, outros no comércio. Percebe-se que esses alunos são de classe muito carente. Eles merecem nosso respeito e toda dedicação.


Na entrevista realizada com a professora pedagoga Clarice Gallegos, pude perceber sua satisfação em trabalhar naquela escola. Cheguei ao momento em que a mesma estava atendendo o aluno Amaro, ele tem necessidades especiais, e frequentava a APAE, (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), atualmente está estudando no CEEBJA. Disse Clarice:


Na escola há alunos de várias faixas etárias, de 14 a 83 anos. Diferentes crenças religiões, mas nota-se que um respeita o outro. Eles não estão acomodados, aceitando o destino que lhes foi atribuído quando criança devido a várias situações, mas buscam e desejam por educação culta, transformadora e auxiliadora em sua influência na sociedade.

Complementou a professora Nádia Horbus que:

Quando for o caso e necessário os alunos poderão requerer o aproveitamento de estudos realizados com êxito, amparado pela legislação vigente, conforme regulamentado no regimento escolar, por meio de cursos ou de exames supletivos, nos casos de matrícula inicial, transferência e prosseguimento de estudos.

A professora Nanci ressaltou:

O aluno necessita de uma escola onde o mesmo sinta o desejo de ir à busca de novos conhecimentos, não só como obrigação, mas sim como prazer em voltar a estudar. Sendo então necessário que os professores e gestores, façam dinâmicas em suas aulas capazes de estimular o interesse do aluno para aprender e resolver os problemas que devem surgir das próprias atividades organizadas e orientadas pelo professor.


Segundo o professor Varlei dos Santos:

Para os alunos que saem dos seus trabalhos dirigindo-se diretamente para a escola, eles têm acesso ao Buffet quando chegam aqui, podendo assim servir-se. O professor já está orientado sobre alguns casos, pois alguns alunos chegam atrasados. Portanto, é realizado um trabalho de esclarecimento com os professores, gestores e agentes, em reuniões pedagógicas, onde são citados os problemas de cada aluno, visto que, todos da escola devem ter consciência de que há alunos com dificuldades e problemas financeiros.

Foram realizadas as seguintes questões para a professora Nádia Horbus: O que os Gestores têm feito para fazer com que esses alunos permaneçam na escola e consigam terminar seus estudos? Os gestores junto aos professores realizam atividades diferenciadas com esses jovens e adultos? Segundo ela:


No CEEBJA desenvolvemos vários projetos e atividades complementares que propiciam uma integração com a comunidade. Projetos de hidroginástica para alunos e comunidade escolar, projeto de serigrafia, projetos esportivos desenvolvidos nos finais de semana, projeto semanal de leitura, palestras aos alunos e profissionais de todos os segmentos da comunidade, visitação às feiras e eventos promovidos pelas instituições sociais, atividades de recuperação desenvolvidas nas horas-atividades dos professores, atendendo às necessidades específicas dos alunos, atividades artísticas e trabalhos manuais, orientadas pelos professores para a comunidade escolar, programa de acompanhamento dos alunos do ProInfo, projeto de Iniciação à Informática Básica, palestras interdisciplinares desenvolvidas pelos professores, participação dos alunos das APEDs em atividades esportivas e hidroginástica


De acordo com a professora Rosa Maria Alves Dias:

Nós professores devemos valorizar os conhecimentos que esses alunos têm. Pois eles são portadores de um saber adquirido em sua participação na sociedade como trabalhador. Eles possuem um conhecimento de mundo muito amplo. Tendo a capacidade em adquirir conhecimentos de forma semelhante com os colegas de sua idade que tiveram melhores oportunidades de escolarização .

Segundo a professora Jandira:

Na ação educativa deve-se valorizar um todo como: a escola deve estar presente no dia a dia da comunidade, de modo que, os valorizar a cultura dos alunos. Devemos ter ações que envolvam estudantes os professores e comunidade, que possam ser voltadas para o bem estar de todos, trabalhar projetos que repercutam dentro e fora da escola.

De acordo com a professora Marta Caris:

Na ação educativa deve-se valorizar e estimular o aluno para que sejam resgatadas atitudes que valorizem a prática da solidariedade na sala de aula onde eles possam trocar suas experiências de vida, pois a maioria deles é adulta, que já vêm com um amplo conhecimento de vida, onde deve ser respeitado.


Conforme a professora Elaine:

Os alunos necessitam que os professores do CEEBJA possam oportunizar um atendimento diferenciado, ou seja, diferente da escola regular. Porém muitos deles estão frustrados por vários motivos que os impediram de estudar quando eram jovens.

De acordo ainda com a professora Elaine Aparecida Gomes:

Os encontros são para realizados para discutir os problemas da EJA e resolve-los, sendo essencial, pois visa a permanente qualidade da educação, onde possa abrir novos horizontes na atuação do profissional. São organizados através da participação em cursos oferecidos pela Secretaria de Estado da Educação, grupos de estudos, eventos voltados à formação do professor, participação em seminários e palestras durante as horas-atividades dos professores, entre outros.

Na entrevista realizada com professor e Diretor Antonio, ele aborda que o professor que trabalha com alunos do CEEBJA deve ter um perfil diferente da escola regular, segundo o mesmo os alunos do CEEBJA são diferentes dos alunos da escola regular. Sendo que o profissional deve transmitir conhecimentos, mas também respeitar os conhecimentos desses alunos, pois a maioria dos alunos é adulta e têm uma experiência de vida.

Percebe-se que todos os alunos têm motivos parecidos pelos quais fizeram com que voltassem a estudar. Alguns alunos são agricultores e mesmo tendo sua moradia na zona rural sentem necessidade do saber letrado, pois não têm como fazer leitura dos contratos de financiamentos/empréstimos realizados nas instituições de créditos. Vejamos alguns depoimentos de alunos acerca dos motivos que os fizeram retornar aos estudos:


De acordo com Romildo Romagnole, o retorno aos estudos se deu por conta de sua profissão, pois o mesmo é agricultor e fica difícil ir à cooperativo Coamo negociar ou fazer financiamentos no Banco do Brasil, sem ter leitura. Ele tem 66 anos, casado, católico, agricultor e mora no distrito de Alto Porã.

Outro aluno, Erasmo Carlos, disse: "Professora, sou pedreiro e na maioria das vezes me atrapalho para somar, escrever e tenho que pagar os ajudantes". Ele é casado com Alaíde que estudam juntos no ensino fundamental, eles têm uma filha e são da igreja Congregação do Brasil.

Ana Cristina, disse: "Quero arrumar um emprego para ajudar meu esposo". A mesma é dona de casa, tem uma filha.

Silvana disse: "Estou cansada dos outros me fazerem de boba". Trabalha de diarista e babá. É solteira, mora com os pais.

Calisto disse: "Quero ler a BIBLIA nos cultos". Ele tem 72 anos é agricultor e aposentado. Aprendeu a ler e escrever no programa Paraná Alfabetizado, com a professora Nilda.

A aluna Vanda Rosa está no ensino médio, trabalha o dia inteiro como zeladora na Campagro que é uma empresa de insumos agrícola, mora com seus três filhos no distrito de Alto Porã. A mesma levanta antes das 6 horas da manhã para ir ao trabalho, segundo ela: "é um emprego temporário, só no período de colheita, depois vou ser dispensada e volto a ser diarista".

Claudio Ribeiro Muzilo é um verdadeiro exemplo de vida, tem 68 anos de idade, está cursando o ensino fundamental II, estudou no programa Paraná alfabetizado, fez uma avaliação para estudar no CEEBJA. O mesmo tem um problema sério de saúde, onde cada 15 dias têm que se deslocar até a cidade de Londrina para fazer o tratamento contra a leucemia. Mas percebe-se que isso não o abala, mesmo tendo que sair de madrugada no dia seguinte ele vem à escola e fica até o termino da aula. Adora escrever, não gosta de trabalhar com o livro didático, segundo ele: "o importante é encher as folhas do caderno".

Outra aluna, Alaíde, casada com Erasmo Carlos, tem apenas uma filha, os dois estudam juntos no ensino fundamental II, trabalha como diarista e babá. Seu sonho é estudar para trabalhar no comércio comenta: "professora tenho que aprender a atender as pessoas e dar troco de dinheiro, pois antes de estudar não tinha noção nenhuma e algumas pessoas me passavam para trás".

Percebe-se a satisfação desses alunos que estão lendo e escrevendo, vê-se que é a realização de um grande sonho para todos.




























CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho, de certa forma, possibilitou identificar o que os gestores têm realizado junto aos professores para evitar a evasão escolar, fazendo com que esses jovens e adultos permaneçam na escola, conseguindo atingir em partes os objetivos esperados pela comunidade escolar.

Analisando os discursos dos educadores e gestores, foi possível identificar que neles há indicação de que buscam soluções para a ação pedagógica com a EJA. Demonstram assim empenhos pela construção de uma imagem profissional estimada positivamente no âmbito da comunidade escolar. No diálogo de alguns professores percebe-se um comprometimento com o trabalho que realizam com a EJA. Através da análise da pesquisa de campo entende-se que o papel da oferta da educação de adultos é levar o saber letrado ao aluno para que o mesmo possa mudar a qualidade de vida. Para que haja essa construção do novo saber, acontece um trabalho em equipe na escola, envolvendo assim, a equipe pedagógica e o corpo docente. Contudo, o professor é um suporte na sala de aula e muitos alunos têm seu professor como o espelho. Enfim, foi evidenciado que o professor que atua com jovens e adultos deve ter uma capacitação específica para lidar com esses alunos.

Observa-se também nas respostas fornecidas pelos alunos da EJA, através dos questionários que lhes foram entregues na ocasião da entrevista realizada na pesquisa de campo, que as dificuldades em sua maioria são iguais, ou seja, eles encontram dificuldades com transporte, à distância, cansaço, filhos pequenos e não têm com quem deixá-los, mas mesmo com essas dificuldades os mesmos têm permanecido na escola.

Com relação às dificuldades da maioria dos alunos e para minimizar os problemas enfrentados por eles, torna-se necessário que os gestores busquem implementar ações que já constam na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96), onde estão garantidos os direitos dos alunos no qual essas ações necessitam serem construídas e executadas junto aos alunos.



















REFERÊNCIAS
BEISEIGEL, Celso de Rui. Estado e educação popular: um estudo sobre a educação de adultos. São Paulo: Pioneira, 1974.

BOGDAN, R. e BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto Editora, 1982.

Documento elaborado pelo departamento de educação de jovens e adultos - secretaria de estado da educação; Governo do Estado do Paraná/Secretaria de Estado da Educação do Paraná/ Departamento de Educação de Jovens e Adultos/eja / coordenadora geral: Maria Aparecida Zanetti. Disponível no site: http://viviane.meister-gamer.tripod.com/id17.html. Acesso em 03/06/2014

BRASIL, Cristiane Costa. História da alfabetização de adultos: de 1960 até os dias de hoje. Artigo. Universidade Católica de Brasília. Disponível em: http://www.ucb.br/sites/100/103/TCC/12005/CristianeCostaBrasil.pdf - Acesso em 06/06/2014.

FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 10ª ed. São Paulo. Paz e Terra. 2002.

_____. A educação na cidade. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2001, p.16.

_____. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 32ª ed. São Paulo: Cortez, 1996.

MINAYO, M.C.S. (Org.). "Pesquisa Social: teoria, método e criatividade". Petrópolis,RJ., Vozes, 1994.

MOURA, Maria da Gloria Carvalho. Educação de Jovens e Adultos: um olhar sobre sua trajetória histórica/ Maria da Glória Carvalho Moura – Curitiba: Educarte, 2003.

_____. Educação de Jovens e adultos – módulo 1. Teresina: UFPI-EAD, 2011.

PAIVA, Vanilda Pereira. Educação Popular e Educação de Adultos. 5º Ed. São Paulo: Loyola, Ibrades, 1987.

PINTO, Álvaro Vieira. Sete lições sobre educação de adultos. São Paulo, ed. 1982.

SANTANA, Daniella Cordeiro dos Santos de. EJA: Breve análise da trajetória histórica e tendências de formação do educador de jovens e adultos. Disponível em:http://editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/28e93eb53881513e51959a43ae232800_1862.pdf – Acesso: - 08/07/2014.

SANTOS, Ramofly Bicalho dos. Alfabetização de jovens e adultos nos acampamentos e assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na Baixada Fluminense. Dissertação de mestrado Universidade Federal Fluminense. Niteroi, 2003. Beisiegel, 1974:93.

SILVA, Gislaine Rodrigues Da. A Educação de Jovens e Adultos: Estudo das Motivações Mobilizadoras Determinantes da sua Permanência em Sala de Aula. Disponível em: http://www.pedagogia.com.br/artigos/ejaestudo/. Acesso em 06 /05/2014.

SILVA, Jorge Luiz Teles da. Princípios da Educação de Jovens e Adultos. Disponível em: http://www.ceeja.ufscar.br/legislacao-vigente-para-a-eja - Acesso: 20/07/2014.

SILVA, Maria José Pereira da. Alguns aspectos da evasão escolar na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Monografia de Pós Graduação Especialização – IFSP – Campus, São Paulo – 2009.













































APÊNDICE 1 – Questões formuladas nas entrevistas aos alunos da EJA:

1 - O que os Gestores têm feito para fazer com que esses alunos permaneçam na escola e consigam terminar seus estudos?
2 - O que os gestores fazem com esses trabalhadores que saem do serviço e vem direto para a escola?
3 - Como é realizado o processo de classificação do aluno na regulamentação de documentos escolares e inserção nas séries?
4 - Existem alunos que conseguiram ingressar em algum curso superior? Caso seja sim, quais alunos e cursos.
5 - Os gestores junto aos professores realizam atividades diferenciadas com esses jovens e adultos?
6 - Professor, na ação educativa, o que você valoriza?
7 - Que tipo de escola esses alunos necessitam?
8 - Quais os momentos que a escola tem para realização do debate da EJA? Como esses encontros são organizados?
9 - Aluno: Quais são os motivos que o levaram a voltar estudar?
10 - Diretor: Qual é o perfil do professor para trabalhar com alunos do EJA? Você acredita que deve ser o mesmo que ele tem na escola regular?



Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.