Ekphrasis no poema Os Biombos Nambam

June 2, 2017 | Autor: Xana Sequeira | Categoria: Ekphrasis, Sophia De Mello Breyner, Namban, Namban Art
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Sequeira 4

Alexandra Sequeira
Professor Rogério Miguel Puga
Metodologia do Trabalho Científico: Turma A
2 Dezembro 2015

Ekphrasis no poema Os Biombos Namban
Este ensaio visa focar-se numa análise literária, tendo em conta o conceito de ekphrasis e o poema Os Biombos Namban da autoria de Sophia de Mello Breyner Andersen e como estas se interligam. Como bibliografia passiva utilizar-se-á textos de apoio acerca da presença portuguesa no Japão, comprovando assim os traços culturais que lá foram deixados na época dos Descobrimentos e os que de lá se importaram para a cultura portuguesa, e de contextualização, como suporte de pesquisa e comprovação de ideias retiradas.
Primeiramente começar-se-á pela definição de ekphrasis, esta é, de uma forma sucinta, uma descrição gráfica, roçando no dramático, de uma obra de arte visual, proporcionando assim ao leitor uma visão bastante completa do objeto ou situação que é descrito, de uma forma muito sucinta.
Para além disto também se pode afirmar o seguinte:
Initially, ekphrasis was a rhetorical term like many others taught to Greek students. Teachers of rhetoric taught ekphrasis as a way of bringing the experience of an object to a listener or reader through highly detailed descriptive writing. Ekphrasis was one of the last rhetorical exercises students were taught and the challenge was to bring the experience of a person, a place, or a thing to an audience. The true use of ekphrasis was not to simply provide astute details of an object, but to share the emotional experience and content with someone who had never encountered the work in question. The student of ekphrasis was encouraged to lend their attention not only to the qualities immediately available in an object, but to make efforts to embody qualities beyond the physical aspects of the work they were observing.
Deste modo, apercebemo-nos da importância da ekphrasis para a literatura, pois também se pode afirmar que "Ekphrasis was generally understood as a skilled way of describing art and other aesthetic objects after it was learned as a tool of rhetoric. Using the rhetoric successfully was a means of demonstrating prowess, as a scholar and writer and eventually ekphrasis became an art that described art". Acerca disto Wagner clarifica: "Ekphrasis, then, has a Janus face: as a form of mimesis, it stages a paradoxical performance, promising to give voice to the allegedly silent image even while attempting to overcome the power of the image by transforming and inscribing it."
Acerca da obra e da poetisa pode-se dizer que Ilhas é o décimo segundo livro de poemas da autora, cuja primeira edição data de 1989, tendo ainda diversas outras edições autónomas. Este concedeu à autora três prémios, nomeadamente o Prémio D. Dinis da Fundação da Casa de Mateus, em 1989, o Grande Prémio de Poesia Inasset/Inapa e o Grande Prémio de Poesia do Pen Club, ambos em 1990.
Com três partes, Ilhas contém um total de cinquenta poemas, entre os quais Os Biombos Namban. Escrito em 1987, trata do reconhecimento entre as culturas japonesa e portuguesa, até então sem qualquer contacto, representado nos biombos japoneses. Os Biombos Namban é então um poema ecfrástico, no sentido em que retrata e coloca em evidência vários aspetos históricos pertencentes à expansão portuguesa que neste poema são descritos das mais diversas formas pelos olhos de artistas japoneses com os quais os "bárbaros do sul", assim apelidados os portugueses, tiveram contacto, assim sendo imortalizada a sua presença nos biombos que serviam, na altura, no Japão, como divisória e não com a função atual que é decorativa. Como Rafael Bluteau escreveu na composição do primeiro dicionário Português: "Biombos – armação portátil de grades de pao cobertas de panno, ou de outra matéria, pegadas humas às outras e dobradiças, que se empinão nas portas das casas para as abrigar do vento" [sic].
Antes da época dos Descobrimentos a Humanidade era delimitada e restrita, uma vez que as diferentes nações estavam limitadas ao território conhecido e reconhecido como seu. A partir das cruzadas isto tudo mudara, tendo isto em conta, foram os ibéricos que tiveram a iniciativa de dar partida aos Descobrimentos, inspirados pelas atrações dos outros territórios, tais como ouro, especiarias e com o objetivo de espalhar a fé cristã, mudando assim o rumo da História e das mentalidades.
Conhecidos por serem um povo bastante fechado e cingidos às suas próprias tradições e costumes, não é à toa que esta perceção continuou até aos dias de hoje. Estavam, no entanto, auxiliados devido à sua localização geográfica e ao seu clima para isto. Ainda mais contribuindo para este isolamento, a sua sociedade estava de tal modo delineada que acabou por fazer com que os japoneses olhassem com desdém para o Ocidente. Apenas com a chegada dos portugueses é que houve uma reviravolta que tomou imensas repercussões a nível cultural.
Deste modo, é possível denotar no poema um distanciamento, uma vez que fala num sentido de Eu e os Outros. Ainda é bem evidente o conceito de ekphrasis a partir das descrições feitas pela poetisa. Também é clara uma personificação, e assim uma possível alegoria, no sentido que a poetisa escreve "Os biombos Namban contam/ A história alegre das navegações". Como suporte foi também dito o subsequente:
A presença dos Portugueses no Japão influenciou também a própria pintura japonesa. Nas primeiras décadas do século XVII foram pintados muitos biombos retratando a chegada dos nambanjin ao país e a sua convivência com os indígenas. Trata-se dos «biombos namban», peças de um valor cultural extraordinário, pois são um testemunho da forma como os Nipónicos viam os visitantes.
Desta forma apercebemo-nos da razão por detrás do nome namban. Isto deveu-se ao facto de os Nipónicos terem apelidado os Portugueses de nambanjin que significa "bárbaros do sul", suportado também por Maria Helena Mendes Pinto (Março 1986).
Já na segunda estrofe percebe-se que a chegada fora um "alvoroço", como é descrito, pois uma viagem tão longa na época demoraria anos, se fosse preciso, pelo que a tripulação há de ter-se sentido uma grande excitação ao avistar terra.
Nesta mesma estrofe, pode-se denotar o afastamento que se sente ao longo do poema e interliga-lo com a própria definição e função de biombo. Id est, a partir dos versos que constituem esta estrofe "Alvoroço de quem vê/ O tão longe tão ao pé", consegue sentir-se o dito afastamento e quase um sentimento de algo exótico, quase que como oculto e desconhecido. Por outras palavras, a função do biombo é criar uma divisão, separar algo e que de um ponto de vista europeu da época este objeto era considerado exótico e até mesmo misterioso, assim como toda a cultura japonesa.
Ainda outra interpretação importante que se pode retirar deste ponto de vista é a própria representação dos Portugueses nestes mesmos biombos, sendo assim eles considerados os exóticos e o Outro. O próprio apelido concedido aos Portugueses por parte do povo do Japão, nambanjin, pode muito bem aqui ser interpretado. Com isto pretende dizer-se que, os nambanjin ou bárbaros do sul como foi traduzido, são então representados nestes biombos que foram concebidos a partir do mais delicado material, o que se pode quase considerar uma invasão à delicadeza e beleza japonesa deste período.
A partir deste dístico pode também entender-se o quão enclausurados os Nipónicos eram, pois denota-se uma distância e uma tentativa de se esconderem, de serem desconhecidos ou até mesmo misteriosos.
Na terceira e quarta estrofe deparamo-nos com uma enumeração, levemente reforçada, de tudo o que os lusos encontraram neste novo mundo, seja a nível de objetos que consideravam estranhos como a nível do povo com quem se depararam, que dará referência ao distanciamento que se sente no poema, acima mencionado "Laca e leque/ Kimono camélia/ Perfeição esmero/ E o sabor do tempero/ Cerimónias mesuras/ Nipónicas finuras/ Malícia perante/ Narigudas figuras/(…)". Matsuda corrobora ainda esta ideia expressando o seguinte: "Segundo ele (Francisco Xavier), nenhum outro povo se lhe podia comparar, pois os Japoneses eram muito bondosos e honestos, sem albergar maus pensamentos. Escreveu ainda que tinham sentido de humor e uma ambição surpreendente por fama."

Imediatamente nas estrofes seguintes vê-se referências à alegria anteriormente mencionada e destaca-se pela hiperbolização da mesma através de expressões como "Fazem pinos dão saltos" e "Dançam de alegria".
A sétima e última estrofe conclui o poema ao afirmar que "…o mundo encontrado/É muito mais belo/Do que o imaginado".
Com visão no aspecto formal reconhece-se a inexistência da rima consistente, uma vez que existem palavras rimáticas ocasionais tais como "encontrado" com "imaginado" entre outros, a partir da utilização de versos soltos. As descrições feitas no tempo presente auxiliam ainda ao conceito de ekphrasis pois intentam inserir o leitor no meio que é descrito.
Em conclusão, pode-se ver que este poema de Sophia de Mello Breyner Andersen é um perfeito exemplo do conceito de ekphrasis, no sentido que descreve o mundo exótico que era o Japão da altura e que permite ao leitor uma visualização do que os descobridores virão, retratando, de uma forma alegórica, os próprios sentimentos dos portugueses envolvidos na descoberta do Japão e do que por lá encontraram.
Estas descrições alegóricas são quase fiéis ao que na realidade aconteceu, uma vez que a excitação sentida neste poema é, muito provavelmente, a que fora sentida na época pois os Portugueses navegavam por mares que nunca antes haviam navegado à descoberta de um novo mundo, um mundo exótico onde a sua presença ficou marcada e os seus horizontes foram abertos pelos próprios Japoneses. O que começara por ser uma viagem em busca de um território para onde efetuar trocas comerciais resultou numa troca de costumes que teve um grande efeito na História e na cultura destes países.

Andersen, Sophia de Mello Breyner. "Os Biombos Namban". Ilhas. Lisboa: Texto, 1989. 54-55. Impresso
Curvelo, Alexandra. A Arte Namban no contexto dos impérios ibéricos. Instituto Português de Conservação e Restauro. Investigadora do Centro de História de Além-Mar
"Ekphrasis." Ekphrasis. N.p., n.d. Web. 28 Nov. 2015. .
Janeira, Armando Martins. Figuras de Silêncio a Tradição Cultural Portuguesa no Japão de hoje. 1981: n.p. n.p.
Marques, A. H. de Oliveira. História dos Portugueses no Extremo Oriente. Vol. I. Tomo II. Fundação Oriente: 2000
Matsuda, Kiichi. 1965. The Relation between Portugal and Japan, Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar e Centro de Estudos Históricos Ultramarinos.



The Chambers Dictionary, Chambers Harrap, Edinburgh 1993 ISBN 0550102558
"ekphrasis," Grove Art Online.

In http://csmt.uchicago.edu/glossary2004/ekphrasis.htm ( In 27-11-2015)
Wagner, Icons-Texts-Iconotexts, 13
"Os Biombos Namban" estrofe 1, versos 1-2
In "História dos Portugueses no Extremo Oriente" 1º Vol. Tomo II "De Macau à Periferia"
"Os Biombos Namban", estrofe 2
"Os Biombos Namban" estrofes 3 e 4
Kiichi Matsuda "The relations between Portugal and Japan" (1965:61)
"Os Biombos Namban" estrofe 5, verso 3
"Os Biombos Namban" estrofe 6, verso 1
"Os Biombos Namban" estrofes 6 e 7, versos 2, 1-2



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