ELIANE HILARIO DA SILVA MARTINOFF O ENSINO TEOLÓGICO-MUSICAL ENTRE OS BATISTAS: UM ESTUDO DE CASO

June 3, 2017 | Autor: Eliane Martinoff | Categoria: Music Education
Share Embed


Descrição do Produto

ELIANE HILARIO DA SILVA MARTINOFF

O ENSINO TEOLÓGICO-MUSICAL ENTRE OS BATISTAS: UM ESTUDO DE CASO

UNESP – Universidade Estadual Paulista São Paulo, 2004

ELIANE HILARIO DA SILVA MARTINOFF

O ENSINO TEOLÓGICO-MUSICAL ENTRE OS BATISTAS: UM ESTUDO DE CASO

Dissertação apresentada como cumprimento parcial das exigências para obtenção do título de Mestre em Música com concentração na área de Musicologia/Etnomusicologia, pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista, sob orientação da Profª Drª Dorotéa Machado Kerr.

UNESP – Universidade Estadual Paulista São Paulo, 2004

Martinoff, Eliane Hilario da Silva. O ensino teológico-musical entre os Batistas: um estudo de caso./ Eliane Hilario da Silva Martinoff. São Paulo, 2004 141p. + anexos Dissertação (Mestrado em Música) – Instituto de Artes – Universidade Estadual Paulista – UNESP, 2004. Orientadora: Profª Drª Dorotéa Machado Kerr.

1. Batistas 2. Educação Musical 3. Música Sacra 4. Música e culto

CDD: 781.7161

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter permitido que chegasse até aqui.

A meu esposo Clovis, amigo, companheiro e também grande incentivador.

A Lenita, Taíse e Adriel, que souberam entender perfeitamente as ausências dessa jornada de estudos.

À Profª Drª Dorotéa Machado Kerr, mais que sábia orientadora, uma pessoa de grande visão.

À Profª Drª Maria de Lourdes Sekeff Zampronha, por seu acompanhamento, dedicação, além de sua amizade.

À Profª Drª Maria Helena Maestre Gios, por sua orientação e apoio no início do processo.

Ao Prof. Dr. Waldemar Marques, por suas valiosas contribuições quanto à estrutura final do texto.

À Profª Drª Sonia Albano de Lima, por sua inestimável ajuda quanto à organização das idéias.

Ao Prof. Lourenço Stelio Rega, diretor geral da Faculdade teológica Batista de São Paulo, por abrir as portas para que esse estudo pudesse ser realizado.

Aos professores José Carlos Brancatelli e Marco Antonio Antonelli, por sua incalculável colaboração com vários aspectos da diagramação.

Soli Deo Gloria.

Resumo: O estudo de caso sobre o curso de Bacharelado em Música Sacra da Faculdade Teológica Batista de São Paulo trata de seu histórico e desenvolvimento para se compreender a origem do curso e a relação entre sua trajetória histórica e seu entorno denominacional. Como instrumental metodológico utilizou-se de: a) análise de conteúdo do documento Fundamentos da música sacra para as igrejas batistas do Brasil, das atas das reuniões pedagógicas do Corpo Docente e dos relatórios apresentados à Convenção Batista do Estado de São Paulo, tanto pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo, quanto pelo Departamento de Música (posteriormente, Conselho de Música) da referida Convenção, além da pesquisa Perfil batista. Buscou-se verificar se a ênfase dada à música tradicional no curso resultou na queda de procura por parte da comunidade, além da evasão escolar detectada nos últimos anos, levando-se em conta as modificações que o culto evangélico sofreu nas últimas décadas; b) descrição do objeto de estudo e de seu entorno denominacional, passos da abordagem de um estudo de caso. A partir do estudo das mudanças ocorridas no culto evangélico a partir da década de 1970, da influência da mídia, da massificação da sociedade e das condições atuais do curso concluiu-se que, para atender às mudanças, o enfoque do curso de Bacharelado em Música Sacra poderia ser mais voltado à educação musical e ministerial e preparar o educador musical capaz de atuar no contexto eclesiástico atual das igrejas evangélicas, refletindo, projetando-se à frente e propondo novas tendências. Palavras-chave: Batistas, educação musical, música sacra, música e culto.

Abstract: This study case is about Sacred Music Bachelorship of the São Paulo’s Theological College. It cares about its historical and development in order to understand the course’s origin and the regard to its historical trajectory and its denominative circuit. The methodological instruments utilized were: a) the contents analysis of the document Sacred Music Grounds to Baptists Churches of Brazil, and records of proceedings of the teaching staff pedagogical meetings and reports presented to the São Paulo State Baptist Convention by São Paulo’s Theological College as much as the Music Department (and after, Music Council) of this Convention, above the search Baptist Profile. The intention was to verify the emphasis in the traditional music resulted in falling of demand by the community, above the student escape detected in last years, to think oneself the evangelical service’s changes suffered in last decades; b) the study object description and its circuit denominative, boarding stages of a study case. Departing of the study of the evangelical service’s changes since 1970, media influence, the society massing and actual conditions of the course. The conclusion were that to attend the changes, the Sacred Music Bachelorship course’s hotbed may be turned about musical and ministerial education and prepare the music educator to be able to actuate in actual ecclesiastic context of evangelical churches, reflecting, on falling ahead and propounding new trends. Key-words: Baptists, musical education, sacred music, music and worship.

ÍNDICE DOS GRÁFICOS

TÍTULO

PÁGINA

Gráfico 1 – Distribuição das áreas de ensino............................................................42 Gráfico 2 – Áreas do curso de Música Sacra............................................................49 Gráfico 3 – Perfil dos alunos de Música Sacra...........................................................73 Gráfico 4 – Instrumentos utilizados nos cultos...........................................................92 Gráfico 5 – Regime de trabalho dos ministros de música..........................................97 Gráfico 6 – Condições de trabalho musical................................................................98 Gráfico 7 – Formação dos Ministros de Música.........................................................99 Gráfico 8 – Quadro de matrículas: 1973 – 1982......................................................104 Gráfico 9 – Quadro de matrículas: 1983 - 1992.......................................................107 Gráfico 10 – Quadro de matrículas: 1993-2002.......................................................110 Gráfico 11 – Quadro geral de matrículas: 1973-2002..............................................111 Gráfico 12 – Quadro de matrículas e conclusão de curso: 1973- 1992...................117 Gráfico 13 – Quadro de matrículas e conclusão de curso: 1983-1992....................117 Gráfico 14 – Quadro de matrículas e conclusão de curso: 1992 – 2003.................121 Gráfico 15 – Quadro geral de matrículas e conclusão de curso: 1973 -2002..........122

ÍNDICE DOS QUADROS E TABELAS

TÍTULO

PÁGINA

Quadro 1 – Programa curricular...........................................................................41 Quadro 2 – Programa curricular (publicado em 1977)....................................... 44

Quadro 3 – Programa curricular (publicado em 1992).........................................47

Tabela 1 – Pré-requisitos das disciplinas de Música Sacra..................................50

ÍNDICE DOS ANEXOS

TÍTULO

PÁGINA

Anexo A – Fundamentos da música sacra para as igrejas batistas do Brasil.......142 Anexo B – Pesquisa Perfil batista...........................................................................159 Anexo C – Inventário: alunos de Música Sacra.......................................................200

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................12 CAPÍTULO 1– O ENSINO TEOLÓGICO MUSICAL ENTRE OS BATISTAS NO BRASIL...............................................................................................25 1.1 – Quem são os Batistas.....................................................................25 1.2 - Os Batistas e a Educação geral.....................................................31 1.3 - Descrição do programa curricular do curso de Bacharelado em Música Sacra..................................................................................36 1.4 – A música nos cultos das igrejas batistas........................................56 1.5 - As mudanças no culto evangélico a partir de 1970........................66 1.6 – O curso de Música Sacra e a música nas igrejas batistas............69 CAPÍTULO 2 – A FUNÇÃO DA MÚSICA NAS IGREJAS BATISTAS DO BRASIL....76 2.1 – A posição dos músicos batistas do Brasil quanto à música no culto.77 2.2 – A música e as necessidades humanas nas igrejas...........................84 2.3 – A música nas igrejas batistas do Estado de São Paulo....................88 2.3.1 – As aulas de música................................................................90 2.3.2 – Os instrumentos utilizados nos cultos....................................91 2.3.3 – Os grupos de louvor...............................................................93 2.3.4 – O repertório utilizado nos cultos.............................................94 2.3.5 – As condições de trabalho musical nas igrejas batistas..........96

CAPÍTULO 3 –O CURSO DE MÚSICA SACRA E A MÚSICA NAS IGREJAS BATISTAS.......................................................................................102 3.1 – O quadro de matrículas do curso de Música Sacra.....................102 3.2 – O curso de Música Sacra e o contexto denominacional..............111

CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................124

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................134

ANEXOS...................................................................................................................142 Anexo A – Fundamentos da música sacra para as igrejas batistas do Brasil....................................................................................142 Anexo B – Pesquisa Perfil Batista.............................................................159 Anexo C – Faculdade Teológica Batista de São Paulo: Inventário dos Alunos de Música Sacra...................................200

11

INTRODUÇÃO

12

INTRODUÇÃO

Temos observado que os cientistas sociais têm dado, atualmente, importância ao estudo das religiões. Dentre as estudadas, nota-se particular interesse pelo protestantismo 1, principalmente devido ao grande crescimento numérico de seus integrantes na América Latina e pelo impacto transformador que a conversão religiosa pode gerar no comportamento pessoal e que se revela no plano social. Chama, também, atenção a maior presença dos evangélicos na vida pública e sua atuação em obras de cunho social junto às periferias das grandes cidades. O resultado do censo demográfico divulgado em 2002 revelou que, no quesito religião, mais de 15% dos brasileiros – 26 milhões de pessoas – são protestantes. É um percentual cinco vezes maior do que aquele de 1940 e o dobro do ocorrido em 1980. (EDWARD, 2002, p. 90).

1

Protestantismo: interpretação do Cristianismo pelos protestantes, que crêem ser a fé o único meio de salvação, que o critério da verdade está só na Escritura; os protestantes não admitem a existência do purgatório, restringem os sacramentos ao batismo e à eucaristia, rejeitam o culto das imagens, dos santos e da Virgem e todas as formas externas ou materiais de devoção. Resultou da Reforma de Lutero e Calvino no século XVI. (MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa, p. 1715).

13

Segundo Camargo e Fogaça (1997), pode-se observar que há no Protestantismo duas correntes compostas por fiéis de diferentes camadas sociais: a primeira corrente é a do pentecostalismo 2, que se expande principalmente entre negros e pardos, nas camadas de baixa renda, e com menor escolaridade; o segundo grupo é o dos evangélicos históricos 3, que inclui batistas, presbiterianos, presbiterianos independentes, metodistas, luteranos, episcopais e anglicanos, em cujo meio observa-se maior concentração de pessoas brancas, com maior renda e mais educação. Ainda segundo as pesquisadoras, no Brasil o crescimento dos pentecostais tem sido maior do que o dos evangélicos históricos. (CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p. 11 e 21). As conseqüências do crescimento do número de evangélicos são muitas para o campo da música4. Estima-se que o “mercado evangélico” no país movimente mais de três bilhões de reais por ano e crie dois milhões de empregos diretos e indiretos. Podemos citar a existência de 96 gravadoras e o controle de 934 instituições de ensino em vários níveis, que recebem 740.000 alunos de ensino fundamental e médio. (ib, p. 90) A música é componente essencial do culto evangélico, juntamente com as orações e a prédica ou sermão. Entretanto, o culto pode transcorrer de diferentes

2

Pentecostalismo: crença religiosa baseada em atributos espirituais referidos no Novo Testamento, como, por exemplo, falar línguas desconhecidas. (MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa, p. 1590). 3 A categoria Protestantismo histórico é, em geral, empregada para designar as denominações vinculadas à Reforma Protestante do século XVI. 4 Levantou-se esse fato, considerando-se que as igrejas protestantes, em função da valorização da música em seus cultos, enfatizam a educação musical, ainda que informalmente. Muitas igrejas evangélicas possuem uma escola de música, que atende não somente aos seus congregados em várias faixas etárias, mas também a pessoas da comunidade.

14

maneiras, conforme a ênfase dada em um ou outro componente. Essas variações existem e são encontradas entre as diferentes denominações e entre igrejas da mesma denominação. A música é utilizada nas igrejas evangélicas em sua forma vocal e instrumental. A música vocal é executada principalmente pela congregação, que canta os hinos dos hinários das diferentes denominações, acompanhada por instrumentos harmônicos, principalmente o órgão e/ou piano, ou teclados. Aos corais existentes nas igrejas evangélicas desde sua implantação no Brasil, compete a execução de hinos, antemas - peças especiais para essa formação - geralmente acompanhados pelos mesmos instrumentos. Para desenvolver tais atividades musicais, as igrejas necessitam de pessoas habilitadas como regentes, organistas e pianistas. As igrejas evangélicas têm buscado manter pessoas preparadas musicalmente para liderar as atividades musicais. Algumas igrejas, especialmente as batistas, passaram a dar a esse líder da área de música, responsável pela condução e execução das atividades musicais eclesiásticas, o título de Ministro de Música, especialmente àqueles que, além da formação musical, obtiveram formação na área teológico-ministerial. Para preparar pessoas direcionadas ao trabalho musical nas igrejas, a Igreja Batista iniciou em São Paulo, na década de 1970, um curso que recebeu o nome de Bacharelado em Música Sacra, oferecido pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo, e criado com o objetivo de preparar pessoas vocacionadas para o trabalho musical e ministerial nas igrejas evangélicas em geral. Esse curso é vinculado ao Conselho de Educação Teológica e Ministerial - órgão instituído pela própria denominação - ao qual deve se reportar por meio de relatórios periódicos e acatar

15

suas determinações. O programa curricular, estabelecido desde a sua fundação, engloba disciplinas teológicas, musicais e pedagógicas, com ênfase no ensino da música sacra tradicional. Embora receba o nome de Bacharelado, o curso não é reconhecido pelas leis educacionais brasileiras. O curso de bacharelado em Música Sacra foi iniciado pelo missionário americano, Dr. Carry Edward Spann, auxiliado por outros professores graduados nos Estados Unidos, e em instituições teológicas brasileiras, também dirigidas por americanos. Observou-se, desde o início, a preocupação de que o curso não fosse percebido como inferior aos cursos seculares de música, mas que, ao contrário, fosse valorizado pelo elemento diferencial que sempre o caracterizou: a ênfase em disciplinas para a formação de Ministros de Música, ou seja, disciplinas teológicas e pedagógicas, além das musicais. Apesar dos serviços reconhecidamente prestados à formação de músicos desde sua fundação, o curso de bacharelado começou a apontar, nos últimos anos, um decréscimo no número de alunos matriculados, além de uma taxa de evasão preocupante. Esse processo foi observado a partir da década de 1980, embora o corpo docente só tenha começado a manifestar certa inquietação com esse fato a partir da década de 1990. Nessa pesquisa, um estudo de caso parcial sobre esse curso, e a partir do problema observado, pretende-se conhecer a origem do curso e a relação entre sua trajetória histórica e seu entorno denominacional para se entender a atual situação do curso. A partir da análise de atas das reuniões pedagógicas do corpo docente do Departamento de Música Sacra, de relatórios da Faculdade Teológica e também do Departamento de Música, (posteriormente nomeado Conselho de Música), e de

16

relatórios prestados à Convenção Batista do Estado de São Paulo, procurou-se levantar dados históricos que possam demonstrar se o enfoque dado ao curso implicou em menor procura por parte de alunos e em crescimento da evasão escolar, levando-se em conta as modificações que o culto evangélico vem sofrendo nas últimas décadas. Para completar esse estudo foram usados dados sobre a atividade musical realizada nas igrejas batistas do Estado de São Paulo segundo a pesquisa Perfil Batista, realizada entre agosto de 1996 e junho de 1997 pelo SPAI, Serviço de Pesquisa, Análise e Informação, hoje denominado Source Seven Planejamento e Pesquisa. Estudando a questão do culto nas décadas de 1980 e 1990, o crítico e historiador cristão Bruce L. Schelley comenta que as mudanças culturais e sociais no final do século XX acabaram por gerar estresse e esgotamento entre os religiosos, pois “a confusão do clero perante essas significativas mudanças culturais era evidente”, o que demonstra que a religião estava mudando e, com ela, a música sacra. (SCHELLEY, 2004, p. 526). Para Schelley, a televisão foi um dos fatores que implicou em mudanças de comportamento porque “supriu a demanda para que toda informação – de qualquer fonte e forma – fosse acessível à pessoa média.[...] O consumidor tornou-se rei”. Em conseqüência disso, as igrejas americanas, nas décadas de 1980 e 1990, tornaramse mais emocionais e as que mais cresceram foram aquelas que apelaram para o gosto religioso popular. (SCHELLEY, 2004, p. 529 e 534). O autor relaciona algumas características comuns dessas igrejas, surgidas nos Estados Unidos: eram igrejas que raramente se ligavam a uma legenda denominacional e tinham um louvor alegre, animado e popular. Além disso, eram fundadas em torno de um pregador

17

carismático e popular, além de disporem de recursos para obter o melhor que o dinheiro pode comprar. (SCHELLEY, 2004, p. 535, grifo nosso). Essa influência da mídia fez-se sentir não apenas nos Estados Unidos. A partir da década de 1980, especialmente no cenário evangélico paulista, começaram a despontar outras tendências musicais. Em 1986, o pastor Estevam Hernandes Filho e sua esposa, a pastora e, posteriormente bispa Sônia Hernandes, fundaram a Igreja Renascer em Cristo. Utilizaram por alguns anos o salão da Igreja Evangélica Árabe e, em 1989, alugaram o antigo Cine Rivera, instalado no bairro do Cambuci, em São Paulo, que, tempos mais tarde, veio a ser a sede da denominação. A Igreja Renascer em Cristo teve como característica, desde o seu início, uma atitude marcante na utilização dos meios de comunicação de massa, principalmente do rádio5 e da televisão, na organização de mega-eventos realizados em ginásios esportivos e chamados shows gospel6, nos quais apresentam-se diversas bandas e a música utilizada é a que se considera a mais apreciada pelos jovens. (BITUN, 1996, p. 50). Assim, a Igreja Renascer em Cristo organizou um mega-evento em 1991, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, com o nome de “S.O.S. da Vida”. Foram convidadas bandas nacionais e internacionais que se apresentaram a um público jovem, que cantava e dançava sob o impacto de muitas luzes e de um som bastante intenso. Devido ao grande sucesso e a divulgação pela

5

A primeira emissora FM a tocar músicas gospel foi a Renascer, em 1990, quando alugou um espaço na Rádio Imprensa, 102,5 FM, em São Paulo. 6 Gospel ou hino evangélico, segundo o Dicionário Grove, é a expressão que designa canção religiosa do movimento evangelizador (revivalist) norte-americano do final do século XIX. Gospel music designa o tipo de canção popular religiosa que sucedeu ao Spiritual. (Dicionário Grove de Música, edição concisa, p. 380). Bitun afirma que a marca Gospel que, em termos de música se refere a um estilo de música popular evangélica que utiliza o instrumental da banda de rock, foi patenteada pela Fundação Renascer, alegando que essa marca poderia ser usada por pessoas que não fossem idôneas. Os produtos Gospel, como chaveiros, canetas, lapiseiras, bonés e camisetas são vendidos em livrarias instaladas junto às igrejas Renascer. (BITUN, 1996, p. 114).

18

mídia, nos próximos “S.O.S. da Vida” a Igreja Renascer em Cristo alugou o Estádio do Pacaembu, a fim de abrigar melhor o grande número de jovens que para lá afluíam. (BITUN, 1996, p. 114). Outro evento organizado pela Fundação Renascer, envolvendo esse estilo de música foi a “Marcha para Jesus” 7 que, em 1996, contou com a participação de 1.200.000 pessoas, segundo estimativas da própria igreja, que se reuniram no Campo de Marte e caminharam até o centro da cidade com as 700 caravanas, que englobavam 50 denominações evangélicas, 20 trios elétricos, 4.500 pessoas trabalhando na coordenação e segurança. Esse evento, segundo Bitun, é realizado simultaneamente em mais de 200 países. (BITUN, 1996, p. 115). Assim, para muitos, a música Gospel tornou-se um movimento, que envolve apreciar esse estilo de música, usar indumentária característica, freqüentar certos espaços, atender a certos eventos e adotar uma linguagem específica. Ao que parece, não foi somente a música que mudou, mas o comportamento religioso das pessoas e sua maneira de cultuar. O professor da área de Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, Leonildo Silveira Campos, comenta também que não há estratégias de marketing que sejam eficientes sem o reconhecimento da mutabilidade histórica das necessidades humanas. Mas, o que são necessidades? Afirma ele que “usa-se geralmente esse termo para designar tudo aquilo que é tido como fundamental para o bem-estar do ser humano”, não só as necessidades biológicas, mas “as de ordem psicossocial, geradas culturalmente”. (CAMPOS, 1997, p. 225).

7

A Marcha para Jesus aconteceu pela primeira vez na Inglaterra, em 1987. A primeira feita no Brasil aconteceu em 1993.

19

Vários fatores podem ter contribuído para essa modificação no fazer musical das igrejas evangélicas e também nas batistas. Um deles é a massificação de informação de todo tipo, inclusive musical, veiculada pela mídia e impulsionada pela indústria de gravação, pois, para essa indústria, a música é um bem de consumo que é produzida em função da demanda que tal indústria provoca. Encontramos a existência de noventa e seis gravadoras que se dedicam à chamada música Gospel (EDWARD, 2002, p.90). Segundo Campos, em um culto de estilo pentecostal, “a oração e os louvores [cânticos] têm por finalidade [...] chamar a atenção do sagrado para o que irá ocorrer naquele lugar”. (1997, p. 95). Talvez por isso, o volume dos amplificadores e caixas acústicas seja utilizado quase sempre em sua potência máxima, tanto para a fala dos líderes como, e principalmente, para a música executada que deve envolver a todos, à semelhança do que acontece na música popular. Desde a década de 1970, começaram a ser observadas modificações no estilo musical praticado durante os cultos evangélicos. O repertório congregacional foi aos poucos admitindo não apenas hinos tradicionais, mas também cânticos no estilo da música jovem contemporânea. Além disso, outros instrumentos passaram a ser utilizados, como o piano, o violão, e mais tarde a bateria, a guitarra, o contrabaixo elétrico, e o teclado. Se essas novas práticas ou inovações surgiram e se desenvolveram nas chamadas igrejas renovadas, sua influência também foi sentida nas igrejas tradicionais. Essas mudanças desencadearam muita celeuma. Para uns indicava possibilidade de perda de identidade denominacional devido à inserção de práticas até então consideradas pentecostais. Além disso, a inclusão de movimentos corporais, considerados típicos da dança, como o erguer das mãos e o acompanhamento rítmico de palmas, que eram vistos como característicos das

20

igrejas religiosamente mais avivadas passaram a ser admitidos também nos cultos mais tradicionais, não sem muito conflito. Nesse contexto de mudança, surgiu a necessidade de se rever o papel e a atuação do curso de bacharelado em Música Sacra da Faculdade Teológica Batista de São Paulo o único em São Paulo que, atualmente, desenvolve o aspecto ministerial. Como coordenadora desse curso desde agosto de 1998, essa pesquisadora, que também obteve lá sua formação em Música Sacra, tem podido observar o quanto as mudanças ocorridas no culto evangélico nas últimas décadas têm levado os Ministros de Música a buscarem novos conhecimentos na área musical para atenderem as necessidades de suas igrejas. Assim, surgiu a idéia desta pesquisa e, em decorrência do objeto proposto que apresenta muitas facetas a serem abordadas, a metodologia empregada foi diversificada: partiu-se da descrição do objeto de estudo e de seu entorno denominacional, o que possibilitou entender-se as razões possíveis para o baixo número de alunos matriculados e o alto índice de evasão escolar; a análise dos dados históricos e de conteúdo dos documentos levantados veio complementar essa descrição. A abordagem utilizada, então, foi o estudo de caso. Segundo Adelman e Kemp, o estudo de caso “é uma descrição minuciosa, dentro de um aspecto de uma cultura atual ou do passado, dentro de limites bem delineados e escolhidos pelo investigador”. (KEMP, 1995, p. 111). O estudo sobre a origem do curso de música sacra e o histórico da denominação batista, onde se insere a Instituição que se constituiu como objeto de estudo, serviu para situar esse curso na questão da Educação Teológica e sua relação com os cursos de Música Sacra. Buscou-se, então, conhecer a filosofia abraçada pelos batistas quanto ao uso da música na igreja. Analisamos o

21

documento Fundamentos da Música Sacra para as Igrejas batistas do Brasil, produzido pela Associação dos Músicos Batistas do Brasil (AMBB) em 1986 e publicado como encarte na revista Louvor, que tem circulação principalmente entre os músicos batistas. Devido ao fato de não ser um material de fácil acesso para consulta, esse documento consta, na íntegra, como anexo neste trabalho. (ANEXO A – Fundamentos da música sacra para as igrejas batistas do Brasil). A seguir, buscou-se levantar parte da história do curso de Bacharelado em Música Sacra, por meio da leitura das atas das reuniões pedagógicas do corpo docente do Departamento de Música e de seus relatórios à Convenção Batista do Estado de São Paulo. Esse livro encontra-se na sala da direção do curso de Música Sacra, na Faculdade Teológica Batista de São Paulo e é de consulta local e interna. Além disso, buscou-se conhecer o ambiente musical na denominação batista, a partir do início do curso (1973) até o presente momento, por meio da análise dos relatórios do Departamento de Música e, posteriormente, Conselho de Música, à Convenção Batista do Estado de São Paulo. Esses relatórios encontramse nos Anais das Assembléias Anuais da Convenção Batista do Estado de São Paulo e podem ser consultados na Biblioteca da Faculdade Teológica Batista de São Paulo e na sede da Convenção Batista do Estado de São Paulo. Para melhor compreensão desse ambiente, buscaram-se dados complementares na pesquisa Perfil Batista, realizada pelo SPAI, Serviço de Pesquisa, Análise e Informação, hoje denominado Source Seven Planejamento e Pesquisa. Essa pesquisa foi realizada entre julho de 1996 e junho de 1997, a pedido da própria Convenção Batista do Estado de São Paulo, com o objetivo de conhecer melhor o perfil das igrejas batistas a ela filiadas. Sua metodologia envolveu a

22

utilização de questionários auto-aplicáveis respondidos pelo membros dessas igrejas. Os resultados dessa pesquisa foram publicados pela Convenção Batista do Estado de São Paulo e enviados às igrejas batistas do Estado. Não sendo esse material de fácil acesso - nem mesmo a própria Convenção possui um exemplar para consulta – uma cópia do exemplar encontrado na biblioteca da Faculdade Teológica Batista de São Paulo integra, como anexo, o final desse trabalho. (ANEXO B – Pesquisa Perfil Batista). Além disso, foram utilizados dados coletados por meio de um questionário simples, aplicado junto aos alunos do curso de Bacharelado em Música Sacra, em abril de 2004, questionário que visava conhecer o perfil das igrejas às quais pertencem, além de alguns dados quanto à sua formação musical. (ANEXO C – Inventário – Alunos de Música Sacra). A dissertação está organizada em quatro partes. Na primeira, buscou-se conhecer a posição do grupo Batista dentro do Protestantismo, a origem do curso chamado de Bacharelado em Música Sacra, o programa curricular vigente e as transformações sofridas desde a implantação do primeiro currículo e a descrição do conteúdo programático das disciplinas, agrupadas em suas respectivas áreas. Buscou-se, também, conhecer qual o estilo musical utilizado inicialmente nos cultos das igrejas batistas, as mudanças ali observadas a partir da década de 1970 e o posicionamento do corpo docente em face à diminuição percebida no número de alunos matriculados. No segundo capítulo buscou-se conhecer a função da música nas Igrejas Batistas do Brasil, segundo o documento Fundamentos da música sacra para as igrejas batistas do Brasil e também a maneira pela qual essas igrejas podem

23

atender às necessidades humanas de cunho social, educacional, psicológico, espiritual e estético, ainda conforme esse documento. A seguir, buscou-se conhecer dados sobre a atividade musical realizada nas igrejas batistas do Estado de São Paulo na década de 1990, pela análise da pesquisa Perfil Batista. No terceiro capítulo, para que se pudessem conhecer e compreender as prováveis causas da queda verificada no número de alunos matriculados e quando se iniciou esse processo, foram analisados dados existentes no livro de atas das reuniões do corpo docente do Departamento de Música Sacra e nos relatórios da Instituição à Convenção Batista do Estado de São Paulo. Também se procurou levantar alguns fatores internos e externos que possam ter motivado as mudanças observadas nos cultos nas igrejas evangélicas, notadamente as batistas, por meio da análise dos relatórios do Departamento de Música, posteriormente Conselho de Música à Convenção Batista do Estado de São Paulo, nas Assembléias anuais. As Considerações Finais apresentam comentários que reforçam e esclarecem os resultados obtidos nesse trabalho de pesquisa, quais sejam, que o curso de Música Sacra poderia ter seu enfoque modificado a fim de atender melhor às necessidades e características do trabalho realizado nas igrejas evangélicas da atualidade.

24

CAPÍTULO 1 O ENSINO TEOLÓGICO-MUSICAL ENTRE OS BATISTAS NO BRASIL

25

CAPÍTULO 1 O ENSINO TEOLÓGICO-MUSICAL ENTRE OS BATISTAS NO BRASIL

1.1.

Quem são os Batistas.

O Protestantismo constitui-se numa das três principais divisões do Cristianismo, ao lado do Catolicismo Romano e da Igreja Ortodoxa e tem uma história de pouco mais de quatro séculos (DUNSTAN, 1964, p. 7). Surgiu no século XVI, com os reformadores Martinho Lutero na Alemanha, Úlrico Zuínglio na Suíça de língua alemã e João Calvino em Genebra; foi nessa época que surgiu a expressão “protestante”. (BOISSET, 1971, p. 15). Atualmente pode-se distinguir entre as igrejas protestantes as chamadas tradicionais ou históricas, as pentecostais, estas fruto do movimento avivalista ocorrido no século XIX na Inglaterra e nos Estados Unidos, além das neopentecostais, que surgiram no início da década de 1930 (WALKER, v. 2, 1967, p. 269 - 312). São consideradas igrejas do protestantismo histórico a Batista, a Metodista, a Luterana, a Congregacional, a Anglicana e a Presbiteriana.

26

Os estudiosos protestantes distinguem três correntes a respeito da origem dos batistas. A primeira é a teoria JJJ, ou seja, Jerusalém – Jordão – João. Essa corrente diz que os batistas vêm em linha ininterrupta desde os tempos em que São João Batista efetuava seus batismos no rio Jordão. A segunda linha defende a idéia de que os batistas seriam oriundos do movimento anabatista 8 do século XVI, enquanto que a terceira corrente defende a idéia de que os batistas se originaram dos separatistas ingleses. (PEREIRA, 1987, p. 9). De qualquer modo, os primeiros registros sobre a Igreja Batista organizada foram encontrados na Inglaterra por volta de 1633. No início do século XVII, a religião oficial era a Anglicana, dentro da qual havia um grupo dissidente, os Puritanos. Estes aceitavam a doutrina oficial da Igreja Anglicana, mas não toleravam as pompas cerimoniais e o relaxamento dos costumes. Além dos Puritanos havia um outro grupo numeroso que recebia a designação de Separatistas, os quais queriam ter igrejas independentes do Estado e cultuar a Deus a sua maneira. Segundo Pereira, foi do Separatismo que surgiram os primeiros batistas ingleses. (PEREIRA, 1987, p. 9). A perseguição contra os grupos dissidentes obrigou muitos a abandonarem a Inglaterra. Alguns foram para a Holanda, porém um grande grupo de fugitivos preferiu ir para a América do Norte, cuja colonização estava em seus primórdios. Desembarcaram nas costas do atual estado norte-americano de Massachussetts, em 1620, e deram àquela região o nome de Nova Inglaterra. (PEREIRA, 1987, p. 73).

8

Anabatista significa aquele que é batizado novamente, referindo-se àquelas pessoas que, mesmo tendo sido batizadas por aspersão, recebiam o batismo por imersão de corpo inteiro em água corrente ou pia batismal.

27

O trabalho missionário dos batistas americanos iniciou-se no século XIX, quando foi organizada a “Convenção Geral da Denominação Batista nos Estados Unidos para Missões no Estrangeiro”, em maio de 1814, a qual, reunindo-se a cada três anos, passou a ser chamada de Convenção Trienal. Aos poucos, várias missões foram sendo enviadas a outros países. (PEREIRA, 1987, p. 78). Segundo Pereira, o primeiro pregador batista que chegou ao Brasil foi Thomas Jefferson Bowen, no Rio de Janeiro em 1859, vindo da África, onde trabalhara entre os nativos durante vários anos. Por não conseguir se adaptar ao clima africano, por razões de saúde, Bowen solicitou sua transferência para o Brasil, mas como não recuperou a saúde, o casal retornou logo em seguida aos Estados Unidos. (PEREIRA, 1987, p. 81). O segundo marco na história batista no Brasil foi a vinda de colonos norteamericanos após a Guerra de Secessão, em 1866. Derrotados pelas forças do Norte, muitos sulistas pensaram em reconstruir suas vidas em outro lugar que ainda tivesse escravatura e o Brasil foi a terra escolhida. (PRICE, 2001, p. 36). Segundo Pereira (1987), a política do imperador D. Pedro II com relação aos imigrantes estrangeiros os favoreceu e eles assim puderam se estabelecer em várias regiões da então Província de São Paulo, enquanto que um grupo menor fixou-se no norte do país, em Santarém, no Estado do Pará. Esses colonos pertenciam a várias igrejas evangélicas das denominações presbiteriana, metodista e batista. Depois de assentados na nova terra, começaram a estabelecer suas igrejas e a primeira igreja batista, oficialmente organizada em solo brasileiro, foi a Igreja Batista de Santa Bárbara, local próximo de Campinas, em 1871. Seus cultos eram em língua inglesa e destinavam-se apenas aos imigrantes americanos.

28

Mais tarde, esses colonos solicitaram a seus compatriotas o envio de missionários ao Brasil. O primeiro casal enviado foi o pastor William Buck Bagby e sua esposa, Ann Luther; posteriormente, chegou outro casal de missionários, Zachary e Kate Taylor. Os pastores Bagby e Taylor fizeram uma longa viagem pelo Brasil para verificar onde poderiam iniciar uma nova igreja e decidiram-se por Salvador. Assim, em 15 de outubro de 1882 foi organizada a Primeira Igreja Batista da Bahia, com cultos em língua nacional. Em 1884, a igreja na Bahia já alcançara um certo desenvolvimento e o casal Bagby resolveu se transferir para o Rio de Janeiro, onde organizou a Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, em 24 de agosto de 1884. (PEREIRA, 1987, p. 83). Devido à grande extensão do território e para melhor realização do trabalho missionário, os missionários da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos 9 (os primeiros a implantarem igrejas batistas no Brasil), dividiram o Brasil em duas grandes missões à semelhança do que acontecera na América do Norte: a missão do Norte, que abrangia os Estados do Amazonas até a Bahia e a missão do Sul, que ia do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul. Foram fundados inicialmente dois seminários: o Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em 1906, na cidade de Recife e o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro, em 190810. Com o tempo, outros Seminários foram sendo fundados, como o Seminário Teológico Batista Equatorial, em Belém, no Estado do Pará em 1966. Além dessas instituições, que são consideradas pela própria denominação como sendo de nível 9

Os cismas denominacionais mais sérios do século XIX aconteceram em conexão com a luta contra a escravidão. Os batistas do norte e do sul dos Estados estavam divididos em relação a essa questão. A Convenção Batista do Estado do Alabama exigiu, em 1844, que a Junta de Missões Estrangeiras não fizesse discriminação contra os possuidores de escravos na nomeação de missionários, mas a Junta declarou que não tomaria nenhuma atitude que implicasse apoio à escravidão. O resultado foi a formação da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, em 1845 e a divisão da igreja. (Walker, v. 2, 1967, p. 279). 10 Hoje não há mais Missão do Norte e do Sul, mas os nomes das instituições continuam os mesmos.

29

superior11, embora não reconhecidas pelo Ministério de Educação, foram criadas também as escolas batistas de ensino teológico de nível médio – os chamados Institutos Teológicos. Tem havido por parte dos batistas, ao longo do tempo, uma grande resistência à oficialização dos cursos teológicos junto ao Ministério de Educação, embora hoje já existam no Brasil alguns cursos de Teologia de Seminários Batistas (como o Seminário Teológico Batista do Paraná) e de outras denominações (como da Universidade Metodista, em São Paulo), que já obtiveram esse reconhecimento 12. Alguns enfatizam a necessidade do reconhecimento do curso pelo Ministério de Educação; outros acreditam que o reconhecimento poderá trazer algumas dificuldades, tais como modificar o perfil profissiográfico dos alunos e passar de um curso ministerial a teológico profissional. Entretanto, a não oficialização desse curso, segundo seus dirigentes, não significa descuido na qualidade do ensino realizado em suas instituições de ensino teológico, as quais têm buscado sempre um padrão de excelência. Assim, durante a Primeira Conferência de Educação Teológica realizada em Salvador de 28 de abril a 1º de maio de 1967, foi criada a ABIBET, Associação Brasileira de Instituições Batistas de Ensino Teológico, com a finalidade de agrupar todas as instituições de ensino teológico dentro do âmbito batista no Brasil. Essa Associação, sem fins lucrativos, visa a estimular a cooperação mútua entre as instituições filiadas, além de promover a realização de conferências e simpósios que estudem temas relacionados à educação teológica. Funciona, também, como um 11

A hierarquização das instituições foi decidida durante a 2ª Conferência de Educação Teológica promovida pela ABIBET – Associação Brasileira de Instituições Batistas de Ensino Teológico, em maio de 1973 em Brasília. 12 A Faculdade Teológica Batista de São Paulo, cujo curso de Bacharelado em Música Sacra constitui-se nosso objeto de estudo, já solicitou autorização de funcionamento ao Ministério de Educação, a princípio para o curso de Teologia e, até o presente momento, aguarda a visita da comissão verificadora.

30

órgão regulamentador para as instituições ali arroladas - que devem ser filiadas à Convenção Batista Brasileira ou às Convenções Estaduais - embora não tenha reconhecimento das políticas públicas. (FERREIRA, 1996). Segundo Ferreira as exigências da ABIBET para o arrolamento das instituições são: 

duração mínima de quatro anos para os cursos de bacharelado,



currículo equilibrado,



corpo docente constituído somente por professores graduados e, em cada uma das áreas, pelo menos um professor pós-graduado,



biblioteca adequada ao curso e possuindo, no mínimo, 5.000 volumes,



matrícula de alunos somente com ensino médio completo,



atividades extra-classes. (FERREIRA, 1996, p. 1).

Além dos cursos de Teologia, os Seminários e Faculdade Batistas passaram a oferecer posteriormente, também em nível de Bacharelado, os cursos de Educação Religiosa e Música Sacra. Os cursos denominados de “Bacharelado em Música Sacra”, embora não sejam reconhecidos pelo Ministério da Educação do governo brasileiro, nem sigam as exigências intrínsecas a esse reconhecimento, têm seguido as regras de funcionamento das demais instituições de ensino superior em que estão inseridos, que por sua vez obedecem às normas estabelecidas pela ABIBET. Além desses cursos chamados de Bacharelado em Música Sacra, algumas instituições como o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro, e a Faculdade Teológica Batista de Campinas, têm oferecido também cursos de música em nível médio, com duração de dois ou três anos e aulas noturnas em dois ou três dias por semana.

31

Os órgãos regulamentadores da denominação, aos quais as Instituições são filiadas, como a ABIBET, prestam relatórios à Convenção Batista Brasileira, que é a agremiação de igrejas batistas do Brasil 13. Dentro do sistema batista cada igreja é autônoma, com personalidade jurídica própria. A reunião de igrejas de cada Estado recebe o nome de Convenção Batista Estadual (paulista, mineira, carioca, entre outras). A Convenção Batista - qualquer que seja - administra os assuntos referentes às instituições a ela filiadas, como os Seminários e Faculdades Teológicas, além das escolas batistas de ensino fundamental, médio e/ou superior, que prestam relatórios à Convenção Estadual ou à Convenção Batista Brasileira.

1.2.

Os batistas e a educação geral.

Os batistas não se dedicaram apenas ao ensino teológico em vários níveis, mas também à educação geral, abrindo escolas de ensino fundamental e médio, pois, à época de sua chegada ao Brasil e, durante muito tempo, as escolas de educação geral eram vinculadas à Igreja Católica e eram freqüentadas principalmente por pessoas de classes mais abastadas. Na implantação dessas escolas de ensino médio, o modelo seguido era também americano, visto que o trabalho missionário batista era dependente

13

Existe também a Convenção Batista Nacional que reúne igrejas batistas que professam doutrinas de cunho pentecostal, não aceitas pela Convenção Batista Brasileira.

32

economicamente das missões americanas14 e contou sempre com um missionário americano à sua frente, o que determinava a maneira como eram concebidas e instaladas as instituições de ensino batista em todo o país, especialmente nos seus primórdios. Portanto, esses professores, que eram, no início, majoritariamente americanos, foram os responsáveis pelas características do ensino implantado. Segundo Machado, os motivos que levaram os batistas pioneiros a abrirem escolas foram o desejo de evitar o constrangimento 15 que as crianças protestantes enfrentavam nas escolas católicas, visto que o catolicismo, nessa época, era considerado a religião oficial do Brasil; também o desejo de implantar a cultura evangélica, com vistas a atrair os filhos de pessoas instruídas e o anseio de, por meio do ensino, evangelizar toda a comunidade discente. (MACHADO, 1994, p. 49). Segundo estimativas da própria denominação, registradas no relatório da Associação Nacional de Educandários Batistas (ANEB) à assembléia da Convenção Batista Brasileira, havia em 2000 aproximadamente oitenta mil estudantes nas escolas batistas de ensino fundamental, médio e superior, administradas pelas diversas Convenções estaduais em todo o país. (81ª Assembléia da Convenção Batista Brasileira, 2000, Manaus. Anais, p. 554).

14

Segundo Walker, uma das mais importantes conseqüências do movimento avivalista ocorrido na Inglaterra e nos Estados Unidos no início do século XIX, foi o surgimento das missões protestantes. O interesse pelos povos não cristãos começou na Inglaterra em conseqüência das viagens de descobrimento do Pacífico, feitas pelo capitão James Cook, de 1768 até sua morte em 1799. Tais descobrimentos despertaram o interesse do missionário William Carey, um sapateiro e pregador batista que, em outubro de 1792, ajudou a organizar a Sociedade Batista para a Propagação do Evangelho entre os Pagãos, que o enviou como seu primeiro missionário à Índia. (WALKER, v. 2,1967, p. 224). 15 Segundo Price, durante o século XIX, os protestantes sofriam algumas restrições por parte da população católica e da legislação vigente. Os templos protestantes não podiam se parecer com templos religiosos, não podiam ter sinos, nem crucifixos, ou qualquer outro tipo de ornamentação religiosa. As reuniões protestantes deviam ocorrer em lugares fechados e particulares. O único casamento válido era o realizado na igreja católica, assim como, o único registro de nascimento válido, era o registro de batismo na igreja católica. Assim, os filhos dos protestantes eram considerados bastardos e, portanto, não poderiam herdar as terras recebidas por ocasião da imigração. Além disso, um reformado não poderia ser enterrado no cemitério, pois os restos mortais de um protestante profanariam um cemitério católico. (PRICE, 2001, p. 38).

33

Assim, em 1901, o casal Bagby transferiu-se para São Paulo, após ter realizado um trabalho não apenas de evangelização, mas também de educação em Salvador e no Rio de Janeiro. Ao chegar a São Paulo, a professora Ann Luther Bagby tomou ciência de que uma antiga conhecida sua, a professora Mary Ellis McIntire, manifestara vontade de vender uma escola de sua propriedade fundada em Campinas em 1890 e, mais tarde, transferida para São Paulo. A escola foi adquirida por três mil dólares, permanecendo no mesmo endereço (Alameda dos Bambus, n. 5, atual Avenida Rio Branco) de 1902 a 1915, sendo transferida, posteriormente, para a atual Praça Princesa Isabel. Oito anos mais tarde, o Colégio Batista Brasileiro, como ficou sendo chamado, foi transferido para sua sede própria, à Rua Dr. Homem de Mello, 537 no bairro de Perdizes, onde está localizado até a presente data. (MACHADO, 1994, p. 73). A história desse Colégio mostra que sua atuação ultrapassou os limites do ensino médio para atender à comunidade batista em geral e aos anseios da Convenção. Além de cuidar da educação desde a pré-escola até o nível médio, sua direção preocupou-se também com a abertura de escolas para a formação em nível superior de obreiros na área da Teologia. Foi criada assim a Faculdade de Teologia do Colégio Batista Brasileiro de São Paulo, em 1º de março de 1957. Ela cresceu rapidamente, obteve ajuda financeira da Junta de Richmond (instituição que enviava e sustentava os missionários americanos da Missão do Sul dos Estados Unidos), inclusive para a construção de seus espaços físicos, e alcançou autonomia financeira já no primeiro ano de atividade. Em 1965 desligou-se do Colégio passando a ser administrada por Junta própria (o mesmo que Conselho Diretor), constituindo-se na Faculdade Teológica Batista de São Paulo.

34

Dessa instituição primeira, para aumentar seu campo de ação e atender ao crescimento do trabalho batista, surgiu a idéia de se criar também um curso de música voltado ao ministério nessa área nas igrejas, à semelhança do que já acontecia nos Seminários Teológicos Batistas do Sul e do Norte do Brasil, no Rio de Janeiro e Recife, respectivamente. No início da década de 1970, o então diretor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Dr. Thurmon Bryant, convidou outro missionário americano, Dr. Carry Edward Spann, para vir a São Paulo e articular a criação do curso que se chamou de Bacharelado em Música Sacra. Mas foi o pastor brasileiro, Dr. Werner Kaschel, que assumiu a direção da Faculdade após o retorno do Dr. Bryant aos Estados Unidos no primeiro semestre de 1972, quem apoiou a criação do curso, que começou a funcionar no primeiro semestre do ano seguinte. Esse curso, desde seus primórdios, teve como objetivo “o treinamento de vocacionados para o trabalho musical nas igrejas evangélicas” (Faculdade Teológica Batista de São Paulo, 20 Anos a serviço das igrejas treinando vocacionados, p. 3), os quais recebem esse título das igrejas que os convidam para ali exercerem tal atividade, em cerimônia pública, em geral após concluírem sua graduação em Música Sacra. Por se caracterizar a forma de governo da igreja batista como uma administração democrática direta, na qual os assuntos são deliberados em assembléias regulares ou extraordinárias e decididos por votação de todos os membros presentes, as funções e cargos nas igrejas batistas, inclusive a dos Ministros de Música, e a escolha das pessoas que devem exercê-los, são decididos nessas assembléias gerais. Não é, portanto, uma imposição da Convenção Batista Brasileira, a existência do cargo de Ministro de Música.

35

Quanto à estrutura do curso, os primeiros docentes foram missionários americanos e brasileiros graduados em universidades americanas. Aos poucos, professores formados no Brasil, em Seminários com estrutura semelhante, foram sendo agregados ao corpo docente e, com o passar dos anos, vários ex-alunos graduados na instituição foram convidados a lecionar. A música sacra que se tinha em mente no momento da criação desse curso é a que podemos denominar de música da tradição erudita européia e americana, principalmente. Posteriormente, a produção

musical

brasileira

de

compositores

evangélicos

passou

a

ser

progressivamente incorporada, mas em muito menor número. A Faculdade Teológica Batista de São Paulo distingue-se dos demais seminários existentes por ser a primeira a oferecer o curso em nível de bacharelado no turno da noite, visando atender especialmente os alunos que não podem abandonar seu trabalho para ir ao Rio de Janeiro ou Recife para estudar em período integral. Visando a formar pessoas para o ministério na área da música, o curso denominado de Bacharelado em Música Sacra abrange em seu currículo, desde a sua implantação, disciplinas tanto de conteúdo bíblico-teológico, quanto música teórica e prática e ministério da música, ou seja, relacionadas às atividades musicais eclesiásticas. As disciplinas oferecidas na área chamada de Teoria Musical são Harmonia, Contraponto, Análise, Percepção Musical, entre outras, além daquelas relacionadas às áreas histórica e prática musical. As disciplinas da área teológica e ministerial são, na verdade, o diferencial em relação aos demais cursos seculares de música, visto que ele se destina a preparar Ministros de Música, isto é, liderança musical para todo o trabalho que envolva música, realizado pelas igrejas evangélicas, especialmente as batistas.

36

Nesses trinta anos de atividades didáticas pode-se observar uma persistência dos ideais fundadores da escola, que ainda se destina ao treinamento de pessoas vocacionadas para o trabalho musical nas igrejas evangélicas em geral.

1.3. Descrição do programa curricular do curso de Bacharelado em Música Sacra.

No intuito de conhecer o caminho didático-pedagógico percorrido pelo corpo docente da Divisão de Música da Faculdade Teológica Batista de São Paulo na busca de adequação do curso de Bacharelado em Música Sacra à realidade das igrejas, faz-se necessária uma descrição sobre o programa curricular desse curso. Apresenta-se organizado em cinco áreas educacionais: Histórica, Teológica e Ministerial, Pedagógica, Estruturação e Performática. A área Histórica abrange as disciplinas: História da Música, Música Brasileira e Hinologia. Na disciplina História da Música (4 créditos)16 é feita uma introdução ao estudo do desenvolvimento de estilos, formas e compositores desde as culturas primitivas até a época contemporânea com o objetivo de levar o aluno a conhecer os variados estilos musicais de cada período histórico, os principais compositores e suas obras. Em Música Brasileira (2 créditos) é feito o estudo do desenvolvimento da música brasileira, suas características e principais compositores com o objetivo de levar o aluno a conhecer a História da Música no Brasil, no âmbito erudito e nas manifestações populares, traçando um paralelo com a cultura musical européia no 16

Crédito é o nome dado ao total de aulas dadas num semestre, com duração de 45 minutos semanais. Assim, uma disciplina que tem 90 minutos de aula semanais, eqüivale, ao final do semestre, a 2 créditos.

37

mesmo período. Na disciplina Hinologia (4 créditos), é feito um estudo do desenvolvimento da hinologia17 desde os tempos bíblicos até a Hinódia18 Alemã, passando pela Salmódia Francesa, Hinódia Inglesa, Americana e Brasileira, desde sua criação até os dias atuais, com o objetivo de levar o aluno a conhecer as características dos principais períodos da hinódia, suas causas, conseqüências e os principais hinistas19, além de desenvolver uma atitude de pesquisa no campo da hinódia. A área Teológica e Ministerial abrange as disciplinas Introdução Bíblica, Introdução à Teologia, Ministério da Música, Hermenêutica, Formação de Líderes e Teologia da Adoração. A disciplina Introdução Bíblica (8 créditos) apresenta uma visão panorâmica dos livros que compõem o Antigo e o Novo Testamentos analisando a formação, tema, propósito, data da escrita e personagens principais, para que o aluno compreenda como o texto bíblico foi formado e chegou até os dias de hoje. A disciplina Introdução à Teologia (4 créditos) conceitua e problematiza pontos sistemáticos da literatura bíblica, estudando temas teológicos contemplados pelos teólogos contemporâneos e tendências modernas da Teologia Sistemática e Bíblica. Na disciplina Ministério da Música (8 créditos) é estudada a conceituação de Ministério de Música e a liderança e administração do programa musical de uma igreja, além da preparação de cultos para diversas ocasiões, com o objetivo de levar o aluno a conhecer e refletir sobre os variados tipos de igrejas e cultos e a posicionar-se diante de cada um deles, refletindo sobre sua própria filosofia de ministério. A disciplina Hermenêutica (4 créditos) visa a apresentar uma introdução a

17

Hinologia é o estudo dos hinos (KEITH, s/d, p. 11). Hinódia é o estudo das formas do hino cristão (KEITH, s/d, p. 11) 19 Hinista é o nome dado ao autor dos hinos (KEITH, s/d, p. 47). 18

38

esse estudo, e identificar os princípios históricos de interpretação, abordando a importância da disciplina para o estudo da Bíblia e análise das letras dos hinos e cânticos. Na disciplina Formação de Líderes (2 créditos) estudam-se os vários perfis de liderança, buscando capacitar os alunos a descobrirem em suas igrejas pessoas com aptidões diversas, não somente musicais, a fim de treiná-las para o exercício dessas capacidades. A disciplina Teologia da Adoração (2 créditos) estuda a base bíblica para o culto e adoração e os elementos que constituem a ordem e as partes de uma liturgia, discutindo os estilos atuais, com o objetivo de

desenvolver no aluno a

capacidade de estruturar um culto conforme ocasião e estilo. A área Pedagógica abrange as disciplinas Educação Musical, Pedagogia Musical, Didática e Recursos Didáticos para Música. Na disciplina Educação Musical (4 créditos) estuda-se o desenvolvimento do ser humano do berço à adolescência, do ponto de vista psicológico, social e musical, com o objetivo de instrumentalizar os alunos para elaborarem um programa de musicalização para cada faixa etária de acordo com suas caraterísticas, por meio de coros graduados. Em Pedagogia Musical (2 créditos) é feito o estudo da aplicabilidade dos diversos métodos de musicalização (Orff, Kodály, entre outros) e também a discussão de problemas relacionados ao ensino da música. Em Didática (2 créditos) são estudadas definições e importância da didática geral, elaboração de objetivos de ensino e de planejamento de cursos e de aulas, além de

métodos e técnicas de ensino e

avaliação. A disciplina Recursos Didáticos para Música (2 créditos), eminentemente prática, visa à criação e confecção de recursos visuais para aulas de música, como cartazes e jogos, entre outros.

39

A área de Estruturação abrange as disciplinas Teoria Musical, Percepção Musical, Harmonia, Análise Musical, Contraponto e Instrumentação.

Em Teoria

Musical (4 créditos) trabalha-se com as noções de figuras musicais, compassos, escalas, tonalidades, termos musicais e sinais, grafia, transposição e pequena introdução à harmonia. Em Percepção Musical (8 créditos) são desenvolvidos a sensibilização, o treinamento auditivo (melódico, rítmico, harmônico e timbrístico) e a escrita musical a partir da escuta, com o objetivo de aprimorar a habilidade de identificar, reproduzir e escrever diferentes padrões. Em Harmonia (4 créditos) são estudadas as relações entre os sons, cifragem, acordes (tríades, tétrades e pêntades) em estado fundamental e inversões, maiores, menores, aumentados e diminutos, encadeamento harmônico, progressões e re-harmonizações objetivando levar o aluno a conhecer e utilizar as técnicas de harmonização. Em Análise Musical (4 créditos) é feito o estudo dos elementos formais e das principais formas - binária, ternária, rondó, fuga, suíte, sonata, concerto e composições livres - com o objetivo de levar o aluno a conhecer e compreender a trajetória histórica das formas musicais e a sua execução adequada. Em Contraponto (4 créditos) é feito o estudo da aplicação em composição a duas ou mais vozes do contraponto a partir do século XVI, com o objetivo de levar o aluno a conhecer e utilizar as 5 espécies de contraponto a duas ou mais vozes. Na disciplina Instrumentação (4 créditos) realizase o estudo dos instrumentos musicais quanto à sua extensão, timbre e uso apropriado em conjuntos e a prática de arranjos, com o objetivo de levar o aluno a conhecer e utilizar as técnicas de instrumentação musical. A área de Performance abrange o estudo de Canto, Piano, Regência, Coro, Prática em Grupo, Técnicas de Ensaio e Recital. Todos os alunos devem cursar um número mínimo de créditos em cada uma dessas disciplinas, a fim de cumprir quatro

40

níveis em piano, canto e regência, seis semestres de Coro e Prática em Grupo e dois de Técnicas de Ensaio, além do Recital, que todos devem fazer na sua área de escolha. Em Canto (inicialmente em classe com 4 créditos) é abordado o estudo da fisiologia da voz, respiração, articulação, postura, relaxamento, ressonância, higiene e classificação vocal; num segundo momento, os alunos têm aulas individuais para o estudo de repertório histórico nas línguas originais, além de música brasileira sacra e profana; em Piano (mínimo de 8 créditos em aulas semanais de 30 minutos, podendo ser aumentado de acordo com a disponibilidade financeira e temporal do aluno) são feitos estudos técnicos e desenvolve-se repertório de peças, hinos e arranjos de hinos, com o objetivo de levar o educando a se preparar para atuar em sua igreja executando músicas solo e também acompanhamento para coros e solistas. Em Regência (8 créditos em classe) são estudados gestos e padrões para condução de hinos congregacionais e também a

regência coral, além de

treinamento com madrigal e preparação para recital para os que optarem por essa área, em aulas individuais de 30 ou 60 minutos, dependendo da disponibilidade financeira e temporal do aluno. O Coro (6 créditos em 6 semestres) é um grupo vocal misto, cujo repertório consiste de peças eruditas sacras e não sacras de vários períodos históricos e de estilos variados, cujo objetivo é levar o aluno a perceber e vivenciar o universo coral dentro do panorama da história da música sacra e profana no Brasil e no Ocidente, a partir de uma abordagem prática. Em Prática de Grupo (6 créditos em 6 semestres) exercita-se a vivência musical instrumental e/ou vocal em conjunto; em Técnicas de Ensaio (4 créditos) são estudados aspectos técnicos referentes ao ensaio de grupos vocais e instrumentais, tais como formação e rudimentos de acústica. O Recital (6 créditos) acontece próximo à formatura e é

41

dado na área de concentração escolhida pelo aluno: Canto, Piano ou Regência. Alguns escolhem fazer uma monografia de formatura em assunto prático sempre relacionado ao exercício do ministério, a qual é apresentada publicamente. A seguir, apresenta-se o quadro com o programa curricular vigente destacando-se as cinco áreas:

QUADRO 1 - PROGRAMA CURRICULAR CURSO DE BACHARELADO EM MÚSICA SACRA

1º SEMESTRE

Teoria Mus Percep Mus I Hinologia I Prát Grupo I Coro I Clas. Canto I Introd. Bíbl. I Com. e Expres. Subtotal Piano Total

02 créd. 02 créd. 02 créd. 01 créd. 01 créd. 02 créd. 04 créd. 02 créd. 16 créd. 01 créd. 17 créd.

2º SEMESTRE Teoria Mus. II Percep Mus. II Hinologia II Prát. Grupo II Coro II Clas. Canto II Introd. Bíbl. II Hermenêutica Subtotal Piano Total

02 créd. 02 créd. 02 créd. 01 créd. 01 créd. 02 créd. 04 créd. 02 créd. 16 créd. 01 créd. 17 créd.

3º SEMESTRE Harmonia I 02 créd. Percep Mus III 02 créd. Regência I 02 créd. Hist da Mús I 02 créd. Mini da Música I 02 créd. Coro I 01 créd. Prát. Grupo I 01 créd. Introd. à Teol. I 02 créd. Subtotal 14 créd. Piano e Canto 02 créd. Total 16 créd.

5º SEMESTRE

Análise Mus I Contraponto I Regência III Ed Mus I Min da Mús III Coro I Prát Grupo I Introd. à Teol.II Subtotal Piano/canto Total

4º SEMESTRE Harmonia II Percep. Mus. IV Regência II Hist. Mús. II Coro II Prát. Grupo II Minist. Mús. II Teol. Ador. Subtotal Piano e Canto Total

02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 01 créd. 01 créd. 02 créd. 02 créd. 14 créd. 02 créd. 16 créd.

02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 01 créd. 01 créd. 02 créd. 14 créd. 01 créd. 15 créd.

6º SEMESTRE Anál. Mus. II Contraponto II Regência IV Ed Mus II Min.. Mús. IV Coro II Prát. Grupo II Hermen. II Subtotal Piano/Canto Total

 Histórica  teológico-ministerial  pedagógica

02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 01 créd. 01 créd. 02 créd. 14 créd. 01 créd. 15 créd.

estruturação

7º SEMESTRE

Pedag. Mus. 02 créd. Instrument. I 02 créd. Form. Líderes 02 créd. Técn. Ensaio I 02 créd. Subtotal 08 créd. Recit. prát. mus I 06 créd.

Total

14 créd.

8º SEMESTRE Instrument. II Mús. Bras. Didática Técn. Ensaio II Subtotal Recit. prát. mus. II Total

02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 08 créd. 06 créd. 14 créd.

 performance

Fonte: Quadro construído a partir de dados obtidos em 2004 na Secretaria da Faculdade Teológica Batista de São Paulo.

42

No gráfico 1, pode-se perceber a percentagem atribuída a cada uma dessas áreas, notadamente performance, estruturação e teológico-ministerial. Esse gráfico foi construído levando-se em conta o número mínimo de créditos (124) que os alunos devem fazer durante o curso e o número de créditos cursados em cada área, somando-se o seu número em disciplinas e calculando-se a sua porcentagem em relação ao total de créditos.

GRÁFICO 1 – Distribuição das áreas de ensino

Fonte: Gráfico construído a partir de dados obtidos em 2004 na Secretaria da Faculdade Teológica Batista de São Paulo

Observa-se que a área teológico-ministerial, que é o diferencial do curso, ocupa 22% do total de créditos, contrapondo-se aos 34% da área performática que se somam aos 26% da área de estrutura, ou seja, o curso que visa formar pessoas para

desenvolverem

atividades

musicais

relacionadas

prioritariamente

aos

43

momentos de culto nas igrejas evangélicas, notadamente as batistas, tem contemplado menos a formação ministerial de seus alunos do que sua formação musical. Observa-se também que a área pedagógica não recebe grande ênfase no programa curricular, embora uma das atividades do futuro Ministro de Música será o atendimento às escolas particulares de música das diferentes igrejas, que muitas vezes, são também abertas à comunidade; a área que recebe maior destaque é a de performance, seguida pela de estruturação. Parece que o curso enfatiza a formação especificamente musical - que o aluno conheça música e saiba fazer música - em detrimento das outras áreas. No intuito de compreender melhor a trajetória percorrida pelo corpo docente na composição do programa curricular, buscaram-se dados históricos. De início, o curso apresentou apenas duas disciplinas. Segundo Dr. Ed Spann, o criador desse curso, o mesmo foi iniciado em 1973 com apenas quatro créditos (duas disciplinas): Música e Louvor e Introdução ao Ministério de Música na Igreja, que eram cursados por todos os alunos da Faculdade, inclusive os de Teologia. Assim foi feito para que a idéia dessa nova atividade - Ministério de Música - pudesse ser despertada entre os futuros pastores. Além disso, é preciso levar em conta o fato de o curso de música ter principiado suas atividades com apenas três alunos, o que, de certa forma, não viabilizava sua existência, do ponto de vista financeiro. No segundo semestre foram adicionados mais três créditos com a prática do Coro. O modelo seguido era o americano, como afirmou Spann: “o programa curricular desse curso foi baseado nas sugestões da Associação Nacional das Escolas de Música, entidade que aprova todos os currículos de cursos de música nos Estados Unidos”. (CHECAN, 1998, p.95).

44

Ano a ano, o programa curricular foi sendo implantado e, o que consta a seguir, foi publicado no Prospecto da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, em 1977.

QUADRO 2 - PROGRAMA CURRICULAR BACHARELADO EM MÚSICA SACRA (publicado em 1977) 1º SEMESTRE

Novo Testam. Velho Testam. Culto e Louvor Teoria e Solfejo Prát Mus. Maior Prát Mus. Menor Coral Total

3º SEMESTRE

02 créd. 04 créd. 02 créd. 04 créd. 02 créd. 01 créd. 01 créd. 16 créd.

Pedagogia Geral 02 créd. Hist Eclesiástica 02 créd. Harmonia 02 créd. História da Música 02 créd. Regência I 02 créd. Prát Mus. Maior 02 créd. Prát Mus. Menor 01 créd. Coral 01 créd. Total 14 créd.

5º SEMESTRE

Teol- Eclesiol. Hinologia Análise Minist. da Música Prát Mus. Maior Prát Mus. Menor Coral

Optativa

Novo Testam. 02 créd. Velho Testam. 04 créd. Coros Graduados 02 créd. Teoria e Solfejo 04 créd. Prát Mus. Maior 02 créd. Prát Mus. Menor 01 créd. Coral 01 créd. Total 16 créd.

4º SEMESTRE Introd. Ed. Relig. 02 créd. Hist Eclesiástica 04 créd. Harmonia 02 créd. História da Música 02 créd. Regência I 02 créd. Prát Mus. Maior 02 créd. Prát Mus. Menor 01 créd. Coral 01 créd. Total 16 créd.

Composição Orquestração Prát Mus. Maior Prát Mus. Menor Coral Optativas

Total

02 créd. 02 créd. 02 créd. 01 créd. 01 créd. 08 créd.

16 créd.

02créd. Total

2º SEMESTRE

04 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 01 créd. 01 créd.

7º SEMESTRE

16 créd.

6º SEMESTRE Teol- Eclesiol. Hinologia Contraponto Literatura Mus. Minist. da Música Prát Mus. Maior Prát Mus. Menor Coral

04 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 01 créd. 01 créd.

8º SEMESTRE Pedagogia Musical 02 créd. Mús. Brasileira 02 créd. Recital 03 créd. Coral 01 créd. Optativas 08 créd. Total 16 créd.

Optativa 02créd. Total

16 créd.

Fonte: Faculdade Teológica Batista de São Paulo, 20 Anos a serviço das igrejas servindo vocacionados, p. 7.

Se compararmos o Programa Curricular publicado em 1977 com o que está em vigência desde 2000 e apresentado neste trabalho à página 41, observamos que não há diferenças significativas. 

Novo Testamento (4 créditos), foi substituído por Introdução Bíblica II (4 créditos);



Velho Testamento (8 créditos) foi substituído por Introdução Bíblica I (4 créditos);

45



Culto e Louvor (2 créditos), posteriormente chamado de Culto e Música, passou a se chamar Teologia da Adoração (2 créditos);



Teoria e Solfejo (8 créd.) passou a ser Teoria Musical (4 créditos) e Percepção Musical (4 créditos);



A Prática Musical (Piano ou Órgão e Canto) era chamada de Maior ou Menor, dependendo da opção do aluno em relação à duração das aulas (30 ou 60 minutos);



Coral, passou a chamar-se Coro e continua valendo 1 crédito, embora os ensaios tenham a duração de 90 minutos semanais (o equivalente a 02 créditos);



Pedagogia Geral (2 créditos) foi substituída por Didática (2 créditos);



História Eclesiástica (6 créditos) deixou de ser oferecida como disciplina, porém alguns de seus conteúdos são ministrados na disciplina Hinologia;



Harmonia (2 créditos) mudou o enfoque, de tradicional, para funcional;



História da Música (2 créditos) não sofreu alterações;



Regência (4 créditos) teve sua carga horária aumentada para 8 créditos;



Introdução à Educação Religiosa (2 créditos) foi suprimida;



Teologia – Eclesiologia (4 créditos) passou a ser Introdução à Teologia (4 créditos);



Hinologia (4 créditos) passou a ser oferecida no primeiro ano;



Análise (2 créditos) passou a se chamar Análise Musical (4 créditos);



Ministério da Música (4 créditos) foi acrescido de mais 4 créditos;



Contraponto (2 créditos) aumentou para 4 créditos;



Literatura Musical (2 créditos) deixou de ser oferecida;



Composição (2 créditos) foi retirada, com intenção de ser oferecida num curso de Pós-graduação;

46



Orquestração (2 créditos) passou a se chamar Instrumentação (4 créditos);



Pedagogia Musical (2 créditos) permaneceu inalterada;



Música Brasileira (2 créditos) permaneceu inalterada;



Recital (3 créditos) continuou a ser exigência para a conclusão do curso. As disciplinas optativas contavam 2 créditos cada e eram as seguintes:

Arranjos, Pedagogia Vocal, Psicologia Musical, Seminário de História da Música, Seminário de Teoria Musical, Composição, Regência, Filosofia da Música Sacra, Acústica, Pedagogia Instrumental, Flauta Doce, Estágio Supervisionado. Parece que, nesses trinta anos, o curso não sofreu alterações em sua essência e nas prioridades estabelecidas. Em 1992 foi divulgado um novo currículo, que trouxe não só o acréscimo de várias disciplinas, como também deu maior ênfase à área de performance. As disciplinas acrescentadas estão em vermelho, e as que mudaram de nome ou de enfoque, em azul. Vejamos:

47

QUADRO 3 - PROGRAMA CURRICULAR BACHARELADO EM MÚSICA SACRA 1º SEMESTRE

Ministro de Deus Novo Testam. I Mét. Est. e Pesq. Teoria Musical I Percepção Mus. I Prát Mus. Classe de Canto Coral Hora Cultural Total

3º SEMESTRE

02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 01 créd. 01 créd. 16 créd.

2º SEMESTRE

Culto e Música Hist Eclesiástica Harmonia I Percep. Mus. III História da Mús. I Regência I Prát Mus. Coral Hora Cultural Total

02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 01 créd. 01 créd. 16 créd.

4º SEMESTRE

Novo Testam. II 02 créd. Introd. Bíbl e Crit. 02 créd. Comun. e Expr. 02 créd. Realidade Den. 02 créd. Teoria Musical II 02 créd. Percepção Mus. II 02 créd. Prát Mus. 02 créd. Coral 01 créd. Hora Cultural 01 créd. Total 16 créd.

Introd. Ed. Relig. 02 créd. Hist Eclesiástica 04 créd. Harmonia II 02 créd. Percep. Mus. IV 02 créd. História da Mús. II 02 créd. Regência II 02 créd. Prát Mus. 02 créd. Coral 01 créd. Hora Cultural 01 créd. Total 18 créd.

5º SEMESTRE

Antigo Testam. I Eclesiologia Hinologia I Análise Mus. I Minist. da Mús. I Ed. Mus. Infantil I Prát Mus. Coral Hora Cultural Total

04 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 01 créd. 01 créd. 18 créd.

7º SEMESTRE

Didática Introd. à Teol. Composição Orquestração Minist. da Mús. III Prát Mus. Coral Hora Cultural

Total

6º SEMESTRE Antigo Testam. II Hinologia II Análise Mus. II Contraponto Minist. da Mús. II Ed. Mus. Infantil I Prát Mus. Coral Hora Cultural Total

04 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 01 créd. 01 créd. 18 créd.

02 créd. 04 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 02 créd. 01 créd. 01 créd.

16 créd.

8º SEMESTRE Pedagogia Geral 02 créd. Pedagogia Musical 02 créd. Mús. Brasileira 02 créd. Literatura Mus. 02 créd. Minist. da Mús. IV 02 créd. Recital 03 créd. Coral 01 créd. Hora Cultural 01 créd. Total 15 créd.

Fonte: Faculdade Teológica Batista de São Paulo, 1992-1993, p. 32.

Esse programa curricular era composto por 144 créditos no total, o que levava o aluno a cursar também disciplinas eletivas para concluir o número de créditos exigidos. Além disso, era considerado natural que o aluno cursasse sempre uma hora de prática musical da área escolhida e mais uma hora e não trinta minutos de outra área prática. A partir de 1996, as disciplinas ministradas por professores da área de música foram agrupadas por áreas, a saber: 

Teórica Musical I – Teoria Musical (curso preparatório, 0 créditos) Teoria Musical I e II (4 créditos)

48

Percepção Musical (curso preparatório, 0 créditos) Percepção Musical I,II,III,IV (8 créditos) Solfejo (curso preparatório, 0 créditos) Harmonia I e II (4 créditos) Harmonia Funcional (2 créditos) 

Teórica Musical II – Contraponto (2 créditos) Análise Musical I e II (4 créditos) Orquestração (2 créditos) Composição (2 créditos)



Histórica – História da Música I e II (4 créditos) Literatura Musical (2 créditos) Música Brasileira (2 créditos)



Pedagógica – Educação Musical Infantil I e II (4 créditos) Pedagogia Musical (2 créditos)



Ministerial – Ministério da Música I,II,III,IV (8 créditos) Culto e Música (2 créditos)



Prática – Piano Órgão Flauta-Doce Canto Regência Monografia de conclusão de curso.

49

Os créditos da área prática eram cursados conforme decisão do aluno. Porém, todos os alunos deveriam cursar um mínimo de quatro créditos em piano, quatro em canto e quatro em Regência, que eram pagos em separado, em relação ao valor da mensalidade. Na área de concentração escolhida, esse número deveria ser duplicado. O aluno deveria dar um mini-recital, que equivalia a dois créditos e o recital de formatura, que valia três. Além disso, deveria cursar oito semestres de Coro e oito de Hora Cultural. Os créditos restantes (sete) poderiam ser preenchidos com disciplinas optativas, inclusive da área prática. As disciplinas denominadas Gerais eram cursadas pelos alunos de todos os cursos (Bacharelado em Teologia, Educação Religiosa, Missões e Música Sacra) e somavam 46 créditos. Para melhor visualização da quantidade de créditos cursados em cada área, observemos o gráfico:

Fonte: Gráfico construído a partir de dados obtidos em Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Atas, p. 24 - 25.

50

Os pré-requisitos para cada disciplina ficaram estabelecidos da seguinte forma:

TABELA 1 - PRÉ-REQUISITOS DAS DISCIPLINAS DE MÚSICA SACRA 1º ANO

2º ANO 2º sem.

3º ANO

1º sem.

2º sem.

1º sem.

1º sem.

2º sem.

Teoria Musical I

Teoria Musical II

Harmonia Harmonia Análise Análise I II Musical I Musical II

Percepção Musical I

Percepção Musical II

PercepPercepção Musical III ção Musical IV

4º ANO 1º sem.

2º sem.

Composição

Orquestração

Regência Regência Regência Regência I II III IV Educação Musical Infantil I História da Música I

Educação Musical Infantil II

História Hinologia Hinologia da I II Música II

Pedagogia Musical

Literatura Musical

Música Brasileira

Ministéro Ministério da da Música I Música II

Ministério Ministério da Música da Música III IV

Coro

Coro

Coro

Coro

Coro

Coro

Coro

Coro

Hora Cultural

Hora Cultural

Hora Cultural

Hora Cultural

Hora Cultural

Hora Cultural

Hora Cultural

Hora Cultural

Fonte: Tabela construída a partir de dados obtidos em Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Atas, p. 26

Para se entender melhor o currículo do curso de Bacharelado em Música Sacra, utilizaram-se os conceitos de quatro tipos de currículo: acadêmico, tecnológico, humanista e de reconstrução social, apresentados pela educadora Lea Depresbiteris, especialista em avaliação (in SOUSA, 1997), no capítulo Avaliação da Aprendizagem – revendo conceitos e posições apresenta. Para a autora, o currículo acadêmico busca o desenvolvimento da mente racional e o treinamento do aluno no

51

uso das idéias e processos mais proveitosos para a investigação de problemas da pesquisa especializada. No currículo tecnológico, os objetivos têm uma ênfase comportamental ou empírica, especificando produtos ou processos de aprendizagem em formas nas quais possam ser observados ou medidos, enquanto que a principal finalidade do currículo humanístico é propiciar a cada aluno experiências gratificantes de modo que contribuam para a liberdade e o desenvolvimento pessoal. O cerne do currículo humanístico é o ideal da pessoa auto-realizadora, aquela que não é apenas friamente cognitiva, mas também desenvolvida nos aspectos estético e moral. Finalmente, o currículo de reconstrução social tem como objetivo confrontar o aluno com os problemas sociais, utilizando métodos que possibilitem aos alunos encontrar soluções para tais problemas. Enfatiza-se a cooperação com a comunidade e o aprendizado é promovido não somente por meio de livros e laboratórios, mas também pelo envolvimento direto nas experiências das pessoas em suas comunidades. À luz do pensamento dessa educadora, podemos inferir que o programa curricular foi construído dentro do enfoque tecnológico, sem deixar de levar em conta o aspecto social. A preocupação que emerge é ensinar pessoas que saibam treinar outras pessoas para servirem às igrejas e atingirem a comunidade em que estão inseridas. Entretanto, considerando-se a grande importância atribuída às áreas de Performance e Estruturação, vemos que o enfoque do programa curricular vigente pode, na prática, ser considerado acadêmico. É possível que a ênfase em um currículo acadêmico tenha sido motivada pelo desejo de ver o curso reconhecido pelas leis brasileiras como um curso superior e, ao mesmo tempo, valorizado no meio batista como importante, necessário e de alto nível.

52

Em entrevista concedida a Checan, em 3 de fevereiro de 1997, Ed Spann, o iniciador do curso, afirmou que o objetivo do mesmo era “treinar brasileiros nativos a compor sua própria música, que seria típica e notoriamente brasileira, mas não tão secular, num estilo de música que não pudesse vir a ser utilizado como música para adoração”. Seus principais interesses concentraram-se na educação musical e na música de louvor e adoração. (CHECAN, 1998, p.95, grifo nosso). No entanto, uma professora brasileira, que lecionou no curso de Música Sacra, no período de 1976 a 1978, Simei Monteiro, era responsável pelas disciplinas Música Brasileira, Flauta Doce e Culto e Música, nome atualizado da disciplina Música e Louvor, ministrada inicialmente pelo Dr. Spann e tinha uma visão diferente. Comentou ela, em entrevista cedida a Checan, em 13 de janeiro de 1997, que a Faculdade era muito elitista e o curso não atendia à realidade das igrejas; que o currículo não formava os alunos dentro da cultura brasileira e que os professores e missionários “achavam que a música sacra até podia ser pop americana, mas não podia ser brasileira. Enfatizou que o repertório dos recitais de piano, canto e órgão era basicamente constituído de música européia.” (CHECAN, 1998, p. 99, grifo nosso). As observações de Simei Monteiro, que acompanhara o curso quase que desde o seu início, apontavam a importância de o curso ser voltado à realidade e, consequentemente, às necessidades das igrejas 20. A resistência à cultura brasileira e à cultura popular, referida por Monteiro, pode ser observada não somente pela análise do programa curricular, mas também

20

Na década de 1970, houve um movimento evangélico expressivo de valorização da música nacional, como parte do ideário do que ficou conhecido como Teologia da Libertação.

53

pela leitura das Atas das reuniões do corpo docente da Divisão de Música Sacra da Faculdade Teológica Batista de São Paulo21. Na ata de número um, da reunião ocorrida em 02 de agosto de 1988 e presidida pelo terceiro diretor do Departamento, Pastor Marcílio de Oliveira Filho, mencionou-se a necessidade de reavaliar os objetivos do curso de Música Sacra. O assunto, entretanto, só voltou à discussão em 16 de dezembro de 2000, numa reunião presidida pelo então diretor geral da Faculdade, professor Lourenço Stelio Rega, a qual destinava-se ao estudo de uma possível reforma curricular. Em 1992, o professor Israel Feitosa Pessôa, ao início de sua atividade como coordenador do curso, apresentou seus alvos para o Departamento, entre os quais, o conhecimento por parte dos professores do conteúdo programático de cada disciplina, o aprofundamento dos relacionamentos entre os professores e entre professores e alunos, visando comunhão e troca de experiências;

maior

envolvimento da faculdade com as igrejas, tendo como objetivo não somente igrejas grandes, mas também igrejas pequenas que ainda não conheciam, ou não tinham condições de ter um ministro de música. (Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Atas, p. 20, verso, grifo nosso). Ao que parece, reconhecia-se que havia necessidade de entrosamento entre os conteúdos ministrados pelos professores e também entre o curso e as igrejas. A partir de 1º de agosto de 1998, esta pesquisadora assumiu a direção do Departamento de Música Sacra, a princípio interinamente, por um ano. No dia 11 de março de 1999, foi feita uma reunião apenas com os professores da área de regência, a fim de “adequar o nível de exigência da área em relação às demais e

21

Embora o curso de Música Sacra da referida faculdade tenha iniciado suas atividades escolares no primeiro semestre de 1973, encontramos registro de reuniões do Corpo Docente apenas a partir de agosto de 1988.

54

também à realidade dos coros das igrejas” (Faculdade teológica Batista de São Paulo, Atas, p. 30, verso). Foi decidida a extinção do mini-recital, (que tinha exigência apresentação de trinta minutos de música) que acontecia no terceiro ano do curso, visto que a exigência em relação à diversidade de estilos a serem abordados era bastante semelhante a do recital de formatura. A medida foi posteriormente estendida às outras áreas práticas (piano e canto), o que parece demonstrar uma certa diminuição da ênfase do curso na área de performance. Durante o ano de 1999, todas as áreas reuniram-se em separado e no dia 14 de dezembro, o Departamento de Música Sacra reuniu-se para “definir os conteúdos programáticos das disciplinas fundamentais do curso”. (Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Atas, p. 32). Além disso, passou a ser oferecido também o Curso Básico de Música, aos sábados, voltado à liderança das igrejas, com algumas disciplinas práticas, para o qual houve 24 inscritos na primeira turma. Foi feita também uma parceria com o Conselho de Ação Social da Convenção Batista do Estado de São Paulo e, numa experiência pioneira na Faculdade e em outros Seminários, iniciou-se o Coro Comunitário, voltado para as pessoas da terceira idade, cristãs ou não, que residissem nas imediações. Outra experiência nova foi a Oficina de Violinos, disciplina prática que possibilitou não só aos alunos interessados, mas também a alguns músicos de igrejas batistas, conhecerem melhor esse instrumento. Esta turma apresentou-se no culto do dia 02 de dezembro de 1999. A partir do primeiro semestre de 2000, ficou decidido que todos os alunos que fizessem os cursos de Noções de Música, duas noites na semana, ou o Básico de Música aos sábados e obtivessem aprovação, teriam o direito de se matricularem no Curso de Bacharel em Música Sacra sem exames vestibulares de Música (o

55

candidato deveria fazer somente os exames de Bíblia, Doutrina, Português e Inglês). À pessoa que tivesse conhecimentos musicais anteriores suficientes e, por isso, não desejasse fazer um destes cursos, seria aplicada uma prova de Proficiência em Música, mediante a qual, se obtivesse nota igual ou superior a sete, seria considerada apta para ingresso imediato no Curso de Bacharel em Música Sacra. Em 2001 foi dado um novo enfoque, bem mais prático para a disciplina Hora Cultural, pois foram convidadas várias pessoas com vivência na área, para compartilhar suas experiências de prática musical em grupo, atividade sempre presente no ministério eclesiástico. Além disso, o Coro Comunitário para a Terceira Idade, em seu terceiro ano de existência, iniciou o primeiro semestre com atividades musicoterápicas antecedendo os ensaios, com o intuito de trabalhar a atenção, autoestima e memória musical dos participantes. Em 18 de dezembro de 2002, numa reunião que contou com a presença da coordenadora acadêmica da faculdade, foi discutida a possibilidade de criação de um curso seqüencial, com duração aproximada de dois anos e com enfoque na área ministerial. Comentou-se novamente sobre a possibilidade de criação de um curso de pós-graduação Lato sensu. “O assunto foi amplamente debatido, sentindo-se, entretanto, a necessidade de uma reflexão mais aprofundada sobre as questões levantadas” (Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Atas, p. 35), o que aponta para a resistência do corpo docente a alterações significativas no programa curricular. O objetivo geral do curso - preparar pessoas para servirem às igrejas, especialmente no tocante às atividades musicais - nos levou à questão: o perfil de músico acadêmico, que emerge da análise do programa curricular, aplica-se às atividades musicais desenvolvidas nos cultos das igrejas batistas?

56

1.4. A música nos cultos das igrejas batistas.

Como já referimos anteriormente, o trabalho batista no Brasil foi iniciado por missionários americanos enviados pela Missão do Sul dos Estados Unidos. Assim sendo, a estrutura eclesiástica das igrejas batistas do Brasil foi calcada nos moldes das igrejas batistas do sul dos Estados Unidos. No que diz respeito à música, não poderia ser diferente. Os hinos22 entoados durante os cultos pela congregação foram, em sua grande maioria, traduzidos dos hinários americanos e ingleses. O hino evangélico na América do Norte, desenvolveu-se a partir dos salmos 23 bíblicos metrificados, usados na Inglaterra desde meados do século XVII. O primeiro hinário batista surgiu na América do Norte em 1772 e os primeiros setenta hinos tinham como tema o batismo; aos poucos outros temas foram acrescentados. (FORD in ICHTER, 1977, p. 13-14). Os primeiros hinos evangélicos cantados no Brasil 24, em língua portuguesa, foram, provavelmente, aqueles entoados em 19 de agosto de 1855, à tarde, na cidade de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, quando os missionários da Igreja Congregacional, Dr. Robert R. Kalley e sua esposa, Sarah, iniciaram a realização de

22

Hino é um termo usado desde os tempos antigos para nomear canções em honra aos deuses, heróis ou homens notáveis; no culto cristão, designa canções estróficas em louvor a Deus. Os primeiros hinários latinos com melodias datam dos séculos XI ou XII. O hino em vernáculo começou com a Reforma e tornou-se parte constante do culto luterano. A Reforma Inglesa, porém, tendeu para o calvinismo, levando-a a opor-se ao hino na liturgia e, durante dois séculos, a música paroquial inglesa foi essencialmente o salmo métrico. No século XVIII, não-conformistas, como John Wesley, promoveram o hino a uma posição fundamental em seu culto, atraindo assim, inúmeros convertidos. (Dicionário Grove de Música, edição concisa, p. 432). 23 Salmo: termo aplicado aos versos dos salmos bíblicos. No templo do rei Salomão, os salmos eram cantados diariamente por cantores profissionais (levitas) e acompanhados por instrumentos. No século XVI, as igrejas protestantes estimularam o canto congregacional dos salmos, adotando versões métricas em linguagem vernacular. A tradução para o francês, considerada mais importante é a de Clément Marot, base do saltério calvinista. Passou a existir um repertório de melodias harmonizadas com acordes simples. Eram reunidos em coletâneas, que incluíam o saltério completo de L. Bourgeois (1563), amplamente reconhecido como uma versão oficial. (Dicionário Grove de Música, edição concisa, p. 815). 24 Os dados sobre a história da atividade musical nas igrejas evangélicas no Brasil foram compilados por Henriqueta Rosa Fernandes Braga, que realizou um trabalho minucioso, feito a partir de questionários enviados às igrejas, por meio dos quais ela pode compor o panorama histórico dessa atividade.

57

aulas bíblicas dominicais, com a presença de cinco crianças. Dois ou três domingos mais tarde, começou a funcionar uma classe de adultos, dirigida por Dr. Kalley, com aulas em português, destinada aos moradores locais e que foi freqüentada também por alguns escravos. Essa atividade ficou conhecida como Escola Bíblica Dominical e era dirigida a pessoas de todas as idades e condição social. Com o desenvolvimento das Igrejas Evangélicas no Brasil 25, a Escola Bíblica Dominical tornou-se uma das atividades de evangelização e catequese mais importantes. Há notícias de que, no ano seguinte, a Escola Bíblica Dominical passou a ser ministrada em português, inglês e alemão; naquelas realizadas em inglês eram usados hinos ingleses e americanos sem tradução. (BRAGA, s/d, p.108 - 110). O primeiro hinário editado no Brasil foi o Salmos e Hinos, fruto do trabalho de compilação e tradução daquele casal de missionários. Esse hinário serviu, posteriormente, como base para outros hinários de várias igrejas. A primeira edição, somente com letra, foi publicada no Rio de Janeiro, em 1861, com dezoito salmos e trinta e dois hinos em português. A segunda edição foi ao prelo em 1865, com vinte e cinco salmos e cinqüenta e oito hinos; em1868 saiu a terceira edição com cem hinos. A primeira edição com música, contendo somente a primeira estrofe dos hinos foi elaborada em 1868; recebeu o nome de Música Sacra, passando a chamar-se posteriormente de Salmos e Hinos com Músicas Sacras e tinha o intuito de fornecer material musical para a execução dos hinos, que era liderada pelo coro da igreja. Por muitos anos, esse foi o único hinário no Brasil, e foi usado, inicialmente, por todas as igrejas protestantes. (KEITH, s/d, p. 181).

25

Por ordem cronológica, estabeleceram-se definitivamente no Brasil as seguintes denominações evangélicas: Anglicana, em 1810, Luterana, em 1824, Congregacional, em 1855, Presbiteriana, em 1859, Metodista, em 1866, Batista, em 1871, Episcopal, em 1890 entre outras. (Braga, s/d, p. 27).

58

O segundo hinário dos evangélicos brasileiros foi o Cantor Cristão, compilado por Salomão Ginsburg,26 judeu convertido ao Protestantismo. Esse hinário foi editado em Salvador em 1891, com letras de dezesseis hinos. A nona edição continha 224 hinos e a décima primeira, revisada e aumentada por Ginsburg, foi impressa pela Casa Editora Batista, no Rio de Janeiro e trazia na capa a inscrição “Hinário das Igrejas Batistas do Brasil”. Em 1921, saiu a 17ª edição, com 571 hinos, dos quais 102 tinham letra de autoria ou tradução de Ginsburg. Somente em 1924, sob a direção editorial de Ricardo Pitrowsky, saiu a primeira edição do Cantor Cristão com música. (KEITH, s/d, p. 182). É importante ressaltar a aceitação que esse hinário teve, levando-se em conta que, no prazo de trinta anos (1891 – 1921) foram ao prelo dezessete edições. Os hinos eram cantados pela congregação, mas a atividade musical nas igrejas que se abriam entre os batistas e outras denominações não se restringia a essa prática. Começaram a surgir, assim, os corais. O primeiro coro entre os batistas surgiu na Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro em 1919. Os coros participavam dos cultos semanalmente, aos domingos pela manhã e à noite, por todo o ano, e exerciam com fidelidade a missão de conduzir o canto congregacional, além de participar dos cultos apresentando antemas 27 corais do repertório sacro evangélico e

26

Salomão Ginsburg converteu-se ao Evangelho na Inglaterra, para onde havia fugido a fim de escapar de um casamento com uma menina de 12 anos, que fora arranjado por seu pai, um judeu fanático que desejava que ele se tornasse rabino. Passou a morar na casa de um tio, de onde foi expulso quando se converteu. Ajudado por um missionário, foi a Portugal para aprender o idioma, a fim de vir para o Brasil como missionário da Igreja Congregacional. No Brasil, teve contato com os batistas, tendo sido batizado, ordenado ao pastorado e se tornado um dos missionários da Junta de Missões Estrangeiras dos Batistas do Sul dos Estados Unidos. (KEITH, s/d, p. 189). 27 Antema: peça coral não litúrgica do canto anglicano é o equivalente anglicano do moteto católico. Forma coral especificamente inglesa de canto alternado, o texto é uma tradução ou uma paráfrase da Bíblia. (NASSÁU, 1994, p.30).

59

obras corais do repertório erudito, sempre em português. Aos poucos os corais foram incorporando também práticas dos cultos americanos e ingleses, adotando o uso de togas longas, muitas vezes com golas sobrepostas. Os templos, que começaram a ser construídos, reservavam espaço para os corais, um lugar separado no santuário, atrás do púlpito, ou à sua frente, à esquerda ou à direita, conforme a localização do instrumento acompanhador, que era, em geral, o órgão ou o harmônio. Alguns corais ocupavam a galeria, por questões de acústica, ou até mesmo de reverência. Como segunda atividade musical, aos poucos, alguns corais começaram a se apresentar em forma de concerto sacro, o que ocorreu a partir da década de 1950, especialmente por ocasião da Páscoa e Natal, apresentando também obras do repertório sacro erudito, mas sempre traduzidas para o português. Braga afirma que

dentre as numerosas igrejas batistas (cento e vinte e cinco) hoje (1960), existentes no Rio de Janeiro, DF, quase todas possuindo coros organizados, destaca-se a da Tijuca onde, além do coro eclesiástico (misto) dirigido por Onílio Silva, existem um conjunto vocal masculino e um grupo coral infanto-juvenil [...] [que] já se fez ouvir em várias igrejas, em programas radiofônicos e na Televisão Tupi. (BRAGA, s/d, p. 181).

A autora também informa que, “com a execução de peças de Palestrina, Pergolesi, J. S. Bach, Haendel, J. Stainer e outros, o coro da Igreja Batista em São Francisco Xavier [no Rio de Janeiro] realizou seu primeiro concerto sacro em 20 de novembro de 1954”. (BRAGA, s/d, p. 181)28.

Essa

atividade

musical,

que

acontecia não apenas nas igrejas batistas do Rio de Janeiro, então Distrito Federal,

28

A apresentação do concerto era uma atividade não-litúrgica e poderia envolver o que se considerava o repertório tradicional sacro-erudito. Assim, corais protestantes praticavam música de Palestrina, Pergolesi e outros compositores não de confissão reformada.

60

mas também nas igrejas batistas de Salvador, Recife, São Paulo, Manaus, entre outras, levou a Missão Batista do Sul dos Estados Unidos, também chamada de Junta de Richmond, a enviar em 1956, o primeiro missionário músico, William Harold Ichter (Bill Ichter), para trabalhar entre os batistas no Brasil. Não foi o único, entretanto. Vários outros missionários músicos foram enviados para atuarem em outros estados, como o casal John Boyde e Joan Sutton, que organizou o Departamento de Música do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro; James F. Spann que, desde 1962, atuou no Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, no Recife, e também Gene Wilson, que chegou em 1962 ao Rio Grande do Sul. Em 1966, o Estado de São Paulo recebeu seu primeiro missionário músico, Roger Cole. (CHECAN, 1998, p.16 - 17). Alguns líderes de música em igrejas chegaram a receber o título de Ministros de Música e foram até mesmo sustentados por suas igrejas, como foi o caso de Gunars Tiss, músico de origem leta, na Primeira Igreja Batista de Vitória, no Espírito Santo, considerado o primeiro no Brasil a usufruir dessa prerrogativa. Trabalhou também no Estado de São Paulo, onde foi ordenado ao pastorado em 1966, por iniciativa da Primeira Igreja Batista em Nova Odessa. Entretanto, o primeiro a receber o título de Ministro de Música nas Igrejas Batistas do Brasil, foi Almir Rosa, que trabalhou nas Igrejas Batistas de Vila Brasilândia e Liberdade, na capital paulista, na década de 1970. (CHECAN 1998, p. 78). A chegada do casal Roger e Elizabeth Cole a São Paulo atendia a preparação de uma grande campanha de evangelização que visava todo o continente americano, liderada pelo pastor Rubens Lopes, na ocasião, pastor da Igreja Batista de Vila Mariana, em São Paulo. Para essa finalidade, Cole organizou

61

grandes coros, reunindo grupos corais de várias igrejas batistas da capital para participar das concentrações evangelísticas. Devido ao teor evangelístico da chamada “Campanha das Américas” (1968 – 1969), Cole trabalhou na tradução e edição de partituras corais com características mais populares para uso nessas concentrações. Essas peças consistiam de arranjos para coro de alguns hinos do Cantor Cristão, além de outros hinos originais com harmonizações simples e letras de teor evangelístico. A partir daí, e durante muito tempo, esse foi o repertório utilizado nas Igrejas: hinos

congregacionais,

peças

corais

de

compositores

evangélicos

e

de

compositores do repertório tradicional e também algumas peças de caráter mais popular. Esta tradição hinológica foi mantida nas igrejas batistas. No entanto, outras tendências musicais começaram a ser observadas em São Paulo, a partir da década de 1970. Em seu relatório anual à Convenção Batista do Estado de São Paulo, referente ao exercício de 1974, Cole observou que,

-

dependendo dos níveis e da experiência musical, educacional e cultural de determinadas áreas do Estado se escuta nas Igrejas Batistas uma variação tremenda de música: apresentação formal de um coral em togas escuras, cantando em tonalidades menores sem acompanhamento, no estilo dos corais do Vaticano há séculos atrás; arranjos de hinos evangelísticos apresentados numa maneira mais pentecostal, com órgão num vibrato forte e com piano brincando em todas as 88 teclas; canções bem simples ao ar livre, no estilo sertanejo ou caipira, acompanhadas por acordeão ou gaita; música clássica de Bach, Beethoven e Händel, com orquestra de câmara; bandinhas de crianças tocando pandeiro sem fundo e cantando sobre “cowboyzinhos”; conjuntos jovens gritando corinhos com guitarra em alto volume, no estilo da juventude moderna; quartetos masculinos refazendo harmonias da era romântica de 1890, música secular com palavras sacras em português; órgãos transistorizados “made in Japan” que dão o efeito de um trem atravessando o salão de culto logo depois do amém final. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 67, 1975. Anais, p. 96, grifo nosso).

Pelo relatório de Cole, percebe-se que havia uma variedade de formas de participação musical nos cultos e nas atividades gerais das igrejas, desde a música sacra erudita européia, passando pela influência da música dos americanos

62

brancos, e dos afro-americanos, esboçando uma mistura de estilo erudito e popular e também música popular semelhante àquela veiculada pela mídia. Os objetivos evangelísticos e missionários de Cole levaram-no a fazer esse inventário das atividades musicais, a apontar a situação variada de música nas igrejas batistas e, a partir daí, realizar o seu trabalho, sem perder de vista toda a diversidade encontrada. Observa-se que o tipo de música praticada não visava apenas aos coros adultos tradicionais, mas também outros grupos que apreciassem música de estilo mais descontraído, acompanhados por órgão em vibrato forte e num estilo mais emocional, além dos coros infantis e da música jovem acompanhada pela guitarra e outros instrumentos eletrônicos. Essa preocupação com outros estilos musicais, que pudessem agradar também aos adolescentes e jovens, aponta para uma tendência emergente. Segundo a pesquisadora italiana Luisa Passerini, após a Segunda Guerra Mundial, o adolescente passou a ter, nos Estados Unidos e em outros países uma atenção especial em termos sociais, em contrapartida ao contraste entre a aparente ausência de adolescentes no período bélico, quando a tônica era colocada nos jovens combatentes e nos adultos, de um lado, e de outro nas crianças. (PASSERINI, in LEVI e SCHMITT, 1996, p. 352). A opinião pública e os especialistas atribuíam uma grande parcela de responsabilidade pela ampliação desse comportamento aos meios de comunicação de massa preferidos pelos jovens: histórias em quadrinhos, rádio e cinema, enquanto a televisão era a mídia preferida pelas famílias. A indignação era imensa em relação ao rádio e ao cinema, mas também contra as revistas juvenis, que difundiam e defendiam músicas capazes de dar coesão e identidade à cultura juvenil

63

(o rock’n’roll) e seus cantores, como Bill Haley e Elvis Presley. (PASSERINI, in LEVI e SCHMITT, 1996, p. 367). A sociedade americana passou a produzir indivíduos que não eram mais voltados à tradição, mas sim preocupados com a aprovação social, numa sociedade caracterizada pela abundância econômica, sendo então orientados para a o consumo. Essa tendência se fez presente em vários países ocidentais, atingindo também as igrejas. Hustad afirma que na onda dos Beatles e da Twentieth century folk mass (missa folclórica do século XX) de Geoffrey Beaumont a “música folclórica evangélica” e o “rock evangélico” apareceram na Inglaterra no começo da década de 1960. Estes estilos foram rapidamente transportados para os Estados Unidos, onde tornaram-se populares especialmente nas comunidades eclesiásticas litúrgicas mais liberais. Foi anunciada como “renovação em comunicação” pelas igrejas, cuja freqüência e sustento financeiro estavam decrescendo, e onde era notável a ausência dos jovens. (HUSTAD, 1986, p. 140).

O quadro apontado por Cole, e referido anteriormente, parece ter sido encontrado não somente em São Paulo, mas em vários Estados do Brasil. Segundo esse quadro havia coros adultos que cantavam hinos solenes de autores eruditos, coros infantis que cantavam repertório variado e quartetos masculinos, que cantavam músicas a capela em harmonias características do século XIX. Além disso, entretanto, foram formados também conjuntos jovens, de estilo similar ao do conjunto The Beatles e suas versões brasileiras, como Os Mutantes e Beat Boys. Esses grupos eram inicialmente voltados às reuniões de adolescentes e jovens que aconteciam aos sábados à noite, ou aos momentos que antecediam aos cultos, porém seu espaço não era o templo, mas outras dependências da igreja. Alguns desses conjuntos também tinham o propósito de desenvolver um trabalho de evangelização durante as férias.

64

Para fazer face a esse novo quadro, que apontava para profundas mudanças, Roger Cole instituiu um evento denominado “Instituto de Música”, uma espécie de clínica musical que consistia de aulas de teoria musical, canto, regência, instrumentos como teclado, guitarra e outros, além de noções de planejamento de cultos e organização do Ministério de Música, aulas que aconteciam uma vez por ano, durante uma semana, todas as noites. Inicialmente, esses “institutos” ou “clínicas” eram centralizados em uma igreja grande e de fácil acesso. Com o aumento do número de participantes, a capital de São Paulo foi dividida em vários setores, e passou-se a realizar até seis institutos simultâneos. Também aconteceram alguns no ABC, em Santos, Bauru, entre outras localidades. Além dessas aulas ministradas em grupos, formou-se o Grande Coro do Instituto, que contava com a participação de todos os inscritos e que se apresentava no encerramento do Instituto, dissolvendo-se a seguir. Após alguns anos, houve a divisão entre coros de adultos – que cantavam música sacra tradicional - e de jovens, com repertório mais moderno e ritmado, acompanhado não somente por piano, mas também por bateria e guitarra, além do órgão eletrônico. Como resultado desse trabalho, surgiu o Coral Jovem Batista de São Paulo, que fez sua primeira apresentação como tal, em 13 de fevereiro de 1972, no salão nobre do Colégio Batista Brasileiro, em São Paulo, no encerramento do III Instituto de Música. A partir desses Institutos, jovens que deles participavam foram motivados a organizar coros ou conjuntos jovens em suas igrejas.

65

Influenciado diretamente pelo Jesus Movement29, que aconteceu nos Estados Unidos no início da década de 1970, Roger Cole trouxe ao Brasil, principalmente por meio das cantatas Boas Novas, de Bob Oldenberg e Vida, de Otis Skillings, uma nova linguagem para o jovem, muito semelhante àquela proposta pela “Jovem Guarda”. (CHECAN, 1998, p. 33). Segundo Checan, o Coral Jovem Batista de São Paulo foi um dos responsáveis pela introdução da bateria e dos instrumentos eletrônicos, como guitarra, teclado e contrabaixo no cenário eclesiástico batista do Estado de São Paulo, acompanhado de movimentos coreográficos. (CHECAN, 1998, p. 34). Essa tendência espalhou-se por várias igrejas, não somente as batistas, e difundiu-se também em outros Estados. Grupos musicais que agregavam jovens de várias igrejas evangélicas, como Vencedores por Cristo, Jovens da Verdade e Som Maior, eram recebidos com cautela pela liderança das igrejas. As reações foram as mais extremas, indo da total rejeição, até à aceitação sem limites.

29

O Jesus Movement ou Revolução de Jesus foi um movimento de avivamento, baseado na pregação bíblica e promovido por várias organizações cristãs que trabalhavam com jovens nos Estados Unidos, em 1971 e que se espalhou também por outros países. Utilizando uma linguagem clara para os jovens, logrou que vários deles se libertassem das drogas e outros vícios, numa reação ao movimento hippie e ao materialismo, embora muitos jovens acreditassem que Cristo foi o primeiro hippie. Alguns espetáculos espelharam esse contexto, como a peça teatral Godspell (Fascinação de Deus), apresentada pela Broadway, o filme Brother John (Irmão João) em que Sidney Poitier fez o papel de Jesus Cristo na figura de um negro do Alabama e a ópera inglesa, Jesus Christ Superstar. (GRAHAM,1978, p. 13-24, 165).

66

1.5. As mudanças no culto evangélico a partir de 1970.

Embora haja muitas atividades nas igrejas (reuniões por faixas etárias, atividades sociais e de evangelismo), o culto é considerado o momento mais importante. O professor Paul Basden, ao abordar os diferentes estilos de culto 30, comenta que a adoração modificou-se bastante nos dias atuais, variando de tradição para tradição e de denominação para denominação. [...] Não existe outro lugar onde isso se torne mais claro do que em minha denominação: a Igreja Batista. (BASDEN, 2000, p. 38). Refere ele também que essa diversidade de estilos de culto presente em minha denominação também está se disseminando pelas várias denominações cristãs: entre os metodistas, presbiterianos, luteranos, episcopais e até mesmo entre os católicos romanos. Ao que parece, a adoração apresenta hoje uma diversidade jamais vista em outros momentos da história cristã. (BASDEN, 2000, p. 38).

Além disso, contrapondo os estilos de culto e a música que os caracteriza, Basden comenta que o estilo Louvor e Adoração, que tem tido boa aceitação entre as igrejas, tem sua música oriunda naquilo que ele chama de culto negro nos Estados Unidos, isto é, o culto que surgiu a partir da conversão dos negros escravos. Segundo ele, a chave para decifrar o significado do culto negro está na experiência opressiva da escravidão. A primeira característica comum ao culto negro é o amor pelos sermões que abordam passagens da Bíblia que atingem as estruturas sociais responsáveis pela opressão ou marginalização dos afro-americanos; a segunda é a reação alegre e espontânea dos adoradores enquanto o sermão é pregado; [...] a terceira é o poder e a prevalência da música:

30

O professor americano Paul Basden, especialista em culto e adoração, reconhece nas igrejas evangélicas e entre elas a batista, cinco estilos de culto: litúrgico, que utiliza somente hinos tradicionais acompanhados por órgão e antemas corais; tradicional, utiliza hinos e cânticos, mas não valoriza o aspecto sentimental; avivado, tem objetivo evangelístico e utiliza hinos e cânticos que estimulam as emoções; louvor &e adoração, tem como propósito levar a congregação a adorar a Deus, mesmo não tendo conotação pentecostal, utilizam estilos musicais populares e contemporâneos; facilitador, sensível aos não-cristãos, utiliza linguagem musical popular e contemporânea . Para melhor compreensão de cada um deles, pode-se consultar o livro de sua autoria, Estilos de Louvor (Basden, 2000).

67

[...] os cânticos espirituais dos negros revelam uma sensibilidade nem sempre presente em hinos tradicionais e cânticos contemporâneos. (BASDEN, 2000, p. 82, 83).

Embora se reconheça o papel que as raízes dessa música tem nos Estados Unidos, deve-se ressaltar e levar em conta a grande influência que os meios de comunicação de massa têm exercido sobre a vivência e apreciação musicais das pessoas em geral, e dos jovens em particular, que têm sido imersos numa nova cultura musical especialmente a partir da segunda metade do século XX. O estilo Louvor e Adoração também sofreu influências do estilo Avivado ou pentecostal, no qual uma das principais características é a improvisação. Segundo Basden, o “objetivo desse culto é proporcionar a qualquer adorador uma experiência imediata com o Espírito [Santo] independentemente da revelação escrita de Deus [a Bíblia]. Essa tendência de separar o Espírito da Palavra intensifica as críticas à teologia e ao culto pentecostais, acusados de subjetividade excessiva”. (BASDEN, 2000, p. 85). Esse estilo de culto tem sua ambientação festiva criada pela música, que ocupa um lugar proeminente na liturgia, ao lado dos momentos de orações. Podemos perceber inúmeras diferenças no ambiente de culto desde a década de 1960, quando cabia à música a criação de um ambiente de recolhimento. Comentando as mudanças observadas nos cultos, a partir da década de 1970, Hustad afirma que a opinião dos grupos tradicionalmente evangélicos sobre a música sacra contemporânea era de que essa música mundana [não sagrada] não era digna da mensagem de Cristo. Todavia, grande parte dos evangélicos depressa recuperou seu equilíbrio, e os seus jovens juntaramse ansiosamente ao som de baterias, guitarras e vozes. [...] Nos últimos dez anos, a música evangélica no estilo “rock” tem se tornado comum. [...] Já se verifica que podemos estar vendo a mais completa invasão de formas seculares na expressão religiosa experimentada na história, com os peritos mudando os estilos musicais usados na igreja quase mensalmente, para se conservarem atualizados em relação às últimas tendências da música popular secular. (HUSTAD, 1986, p. 140, grifo nosso).

68

Estudando os estilos de culto nas igrejas batistas da atualidade, Emirson Justino, professor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo na disciplina Culto e Louvor, comenta que o estilo [de culto] tradicional ainda é o predominante entre os batistas brasileiros e nas denominações históricas, embora venha cedendo cada vez mais espaço para o estilo Louvor & Adoração. Igrejas com maior número de membros e de recursos possuem orquestras, grupos instrumentais eruditos e populares, coros e uma estrutura musical que permite o desenvolvimento de atividades mais aprimoradas tecnicamente, como, por exemplo, os coros graduados. (JUSTINO in BASDEN, 2000, p. 161).

No estilo Tradicional, os cânticos dirigidos pelo Grupo de Louvor alternam-se com os hinos e, assim, as oportunidades de participação e de apreciação dos fiéis são consideráveis. Para Justino, é possível que esse estilo, com o tempo, vá perdendo a caracterização de tradicional, transformando-se em algo que ele chama de “contemporâneo formal”, mantendo assim o “clima solene, mas não rígido, descontraído, mas não totalmente informal, natural sem ser relaxado”. (JUSTINO in BASDEN, 2000, p. 161). Comenta ele ainda que passado mais de um século, os brasileiros começam a buscar uma liturgia mais brasileira, uma forma de culto mais significativa e relevante para o nosso povo. [...] O povo tem exigido maior participação na adoração, seja mediante a inserção durante o culto de mais músicas congregacionais, seja na utilização de estilos mais contemporâneos e, portanto, mais contextualizados. (JUSTINO in BASDEN, 2000, p. 162 - 166).

Observa-se atualmente uma série de características que permeiam todas essas

manifestações,

independente

de

denominações

específicas.

Essas

características dizem respeito tanto à música em si, quanto à forma como ela é veiculada: com melodias claramente definidas, de fácil aprendizado, associadas com letras que revelam sentimentos pessoais e harmonizadas de maneira simples, porém usando dissonâncias e em ritmos populares, como a balada. Além disso, é comum repetirem-se várias vezes os mesmos trechos; o acompanhamento cabe aos

69

instrumentos eletrônicos, quase sempre num volume bastante elevado, o que muitas vezes dificulta a compreensão do texto que está sendo cantado. Pode-se reconhecer, também, na música sacra evangélica contemporânea com características populares, uma inclinação à valorização dos sons graves. Schafer comenta que isso se dá porque, ao enfatizar os sons de baixa freqüência e alta intensidade, “a música popular procura mistura e difusão e não clareza e foco e não necessita de atenção para os detalhes”, sendo propícia à expressão de sentimentos. (SCHAFER, 2001, p.168). Observa-se grande mudança no ambiente de culto desde a década de 1960, quando cabia à música facilitar a introspecção dos fiéis. Nesse quadro que se observa hoje em grande parte das igrejas evangélicas, históricas ou não, qual poderia ser a ênfase mais adequada para o curso de Bacharelado em Música Sacra?

1.6. O curso de música sacra e a música nas igrejas batistas.

Na década de 1990, o Conselho de Música da Convenção Batista do Estado de São Paulo, observando as mudanças que o culto parecia estar apresentando, realizou em 1997 o IV Encontro de Músicos, com o assunto “A dinâmica do culto e a identidade batista”. Essa preocupação com a identidade batista em face das mudanças inseridas na forma de culto parece demonstrar que a variedade de estilos de culto vinha sendo encarada como ameaça à identidade da denominação. Atentos às mudanças que vinham ocorrendo há alguns anos e às preocupações da liderança da denominação quanto à possível perda da identidade batista, realizaram-se no Departamento de Música da Faculdade Teológica no

70

primeiro semestre de 2003, vários preparativos para as comemorações dos 30 anos da Divisão de Música Sacra. Essas comemorações aconteceram na semana de 2 a 6 de junho, quando estiveram presentes o Dr. Ed Spann, fundador do Curso de Bacharel em Música Sacra, bem como o Pr. Marcílio de Oliveira Filho, a Profª Dacyr Bernardes Gatz e outros ex-diretores do Departamento, exceto o Prof. Israel Pessoa. Compareceu um número significativo de ex-alunos e de membros das igrejas, cantando, apreciando recitais e ouvindo reflexões sobre adoração e o Ministério de Música na atualidade. Como resultado dessas comemorações, a direção do curso de bacharelado em Música Sacra decidiu lançar, no segundo semestre, um curso especial com duração de dois semestres, direcionado aos Líderes de Louvor. O curso, entretanto, não teve aceitação das igrejas - seu número de inscritos foi insuficiente - e teve seu início adiado para o semestre seguinte quando, novamente, não teve procura suficiente. No curso de bacharelado em Música Sacra, o segundo semestre de 2003 iniciou-se com um decréscimo no número de alunos, ou seja, quarenta e três, o que abaixou a média anual de matrículas de 67 para 54 alunos. Conforme se constatou, a maioria dos que não retornaram foi por dificuldade financeira. Em 17 de dezembro de 2003, numa reunião que contou com a presença do diretor geral, professor Lourenço Stelio Rega e da coordenadora acadêmica, professora Madalena de Oliveira Molochenco, comentou-se sobre o baixo número de alunos matriculados no curso de bacharelado em Música Sacra. Discutiu-se sobre a possibilidade de mudanças no programa curricular com a finalidade de agilizar a finalização do curso, a possível criação de programas curriculares diferenciados e, conseqüentemente, formar perfis diferenciados de alunos, conforme

71

a área de atuação. Além disso, discutiu-se sobre a necessidade de mudança na imagem do curso. A decisão tomada foi a criação de um grupo de trabalho (GT) para estudar mais detalhadamente estas questões. Esse GT reuniu-se no dia 31 de janeiro de 2004 e discutiu a necessidade de maior aproximação com a Ordem dos Pastores Batistas do Estado de São Paulo e a possibilidade de transformação do programa curricular seriado em sistema modular. Voltou-se a comentar sobre a criação de um curso seqüencial na área ministerial. Nada ficou decidido, entretanto. A conclusão dessa reunião foi a de que era possível capacitar o aluno para atuar em diferentes contextos eclesiásticos (p. 36), mas nada de mais prático em relação a essa afirmativa chegou a ser votado. No dia 19 de abril de 2004, com a presença da professora Jacira Silva Lima, professora da Faculdade Teológica e especialista em educação é que se comentaram outros tópicos e não somente os referentes ao programa curricular, como: o papel das instituições teológicas nos dias atuais, a resistência dos professores às mudanças, a necessidade de definição dos papéis do Ministro de Música na igreja da atualidade e sua motivação para cursar uma faculdade não reconhecida pelo Ministério de Educação. Nessa reunião ficou decidido que se buscasse conhecer o perfil detalhado dos alunos atuais. Foi feito um levantamento de dados por meio de questionários que foram respondidos por todos os alunos. Os resultados mostraram que:  50% dos alunos eram casados;  50% trabalhavam e estudavam;  86% provinham de escola pública;  43% pertenciam a igrejas com mais de 250 membros;

72

 59% estudaram música com professor particular (e não conservatórios ou escolas especializadas); 

27% moravam e participavam de igreja na zona leste e 25% na zona oeste, onde a escola está localizada.



50% participavam de igrejas cujo estilo de culto é misto (no estilo Tradicional, mas também com características do estilo Louvor e Adoração). Analisando esses dados, observou-se que esses alunos pertenciam a

igrejas de porte médio. Um dado que chamou a atenção é que 50% respondeu que o culto em suas igrejas era de estilo misto, isto é, com elementos dos estilos Tradicional e também Louvor e Adoração. Além disso, esses alunos vinham para o curso com vários elementos populares em sua formação pessoal e participavam de igrejas que também desenvolviam essas características. O gráfico 3 mostra os dados indicados:

73

Gráfico construído a partir dos dados obtidos nos questionários respondidos pelos alunos de Música Sacra em abril de 2004.

Além desses dados, os questionários tinham um espaço reservado para outros comentários que os alunos desejassem fazer. Nem todos preencheram essas linhas, porém alguns itens apontados foram as necessidades de:   

melhoria do conhecimento musical, vinculado à melhor absorção do conhecimento bíblico; obter o máximo de informação musical, assim como eclesiástica; formação que habilite a conduzir a congregação com qualidade musical e espiritual;



aulas mais práticas (preparo mais específico para o ministério) (grifo nosso);

74



sair da Faculdade com capacidade para administrar a área musical da igreja em que for trabalhar (grifo nosso);



que o curso trabalhe com a realidade das igrejas hoje (grifo nosso);



habilitação plena para atuar em toda e qualquer área ministerial ligada à igreja;



conhecimento musical, obtendo informação inclusive sobre administração eclesiástica;



conhecimento bíblico, para condução da congregação com qualidade espiritual;



preparo mais específico para o ministério;



habilitação plena para atuar em toda e qualquer área ministerial ligada à igreja;



um curso formador de músico e de ministro para servir na casa de Deus (100% cada um deles);



um curso atualizado dentro do contexto eclesiástico e mundial;



reconhecimento do curso [pelo Ministério de Educação] (grifo nosso);



redução do preço (grifo nosso);



um curso que abra os horizontes intelectuais e espirituais de cada um. (grifo nosso).

Observou-se que os alunos apontaram a necessidade de estudar música de maneira para poderem trabalhar em suas igrejas, suprindo suas necessidades, que, a nosso ver, podem ser agrupadas como: 

Necessidades educacionais:  conhecimento musical, obtendo informação inclusive sobre administração eclesiástica (programa musical da igreja);  reconhecimento do curso ( pelo Ministério de Educação);



Necessidades espirituais:  conhecimento bíblico, para condução da congregação com qualidade espiritual;  preparo mais específico para o ministério;

75



Necessidades psicológicas e sociais:  habilitação plena para atuar em toda e qualquer área ministerial ligada à igreja;



Necessidades estéticas:  um curso que abra os horizontes intelectuais de cada um. Observou-se também que as necessidades sociais quase não são

mencionadas, enquanto as mais apontadas foram as educacionais, além das espirituais e administrativas que, em algumas afirmações, se mesclavam com as psicológicas: 

um curso formador de músico e de ministro para servir na casa de Deus (100% cada um deles);



um curso atualizado dentro do contexto eclesiástico e mundial. Assim, parece que o curso, na opinião dos alunos atuais, deve formar líderes

preparados para atender às necessidades humanas por meio da música, e voltar-se mais atentamente para a realidade das igrejas. A música, juntamente com a pregação e a oração, é um dos elementos chaves do culto, independente da denominação a que se pertença. Qual seria a função exercida pela música no culto evangélico, especialmente nas igrejas batistas? É dessa indagação que nos ocuparemos no próximo capítulo.

76

CAPÍTULO 2 A FUNÇÃO DA MÚSICA NAS IGREJAS BATISTAS DO BRASIL

77

CAPÍTULO 2 A FUNÇÃO DA MÚSICA NAS IGREJAS BATISTAS DO BRASIL

2.1. A posição dos músicos batistas do Brasil quanto à música no culto.

A Associação dos Músicos Batistas do Brasil (AMBB), que é constituída por músicos membros de igrejas batistas filiadas à Convenção Batista Brasileira, em sua reunião plenária em Porto Alegre, em janeiro de 1984, elegeu um Grupo de Trabalho (nove músicos representantes de várias partes do Brasil, cujos nomes não foram relacionados na redação final do documento) para estudar e apresentar diretrizes para a música nas igrejas batistas brasileiras. Esse Grupo de Trabalho apresentou seu relatório à AMBB, na reunião plenária em Maceió, em janeiro de 1985. Para dar continuidade a esse trabalho, foi nomeada uma nova comissão, que se reuniu em junho e setembro de 1985 e preparou um documento sobre as bases do trabalho musical nas igrejas batistas brasileiras, o qual foi submetido a alguns líderes da denominação antes de sua apresentação à AMBB em sua reunião plenária ocorrida em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em janeiro de 1986. Os músicos que participaram do segundo GT eram todos graduados em Música Sacra

78

nos Seminários batistas e também bacharéis em canto, instrumento ou regência em universidades brasileiras ou americanas. Além disso, eram pessoas atuantes na liderança da música em suas igrejas e em seus Estados, a saber: 

Pr. Marcílio de Oliveira Filho, bacharel em Música Sacra pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e bacharel em Canto, com Licenciatura Plena em Educação Artística, pela Faculdade de Música Santa Marcelina, São Paulo, presidente da AMBB e membro ex-officio do GT.



Joan L. Sutton, relatora (Porto Alegre). Missionária americana, hinógrafa, compositora, tradutora, violinista, responsável, juntamente com John Boyd, seu esposo, pela organização do Departamento de Música do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro em 1960.



Célia Câmara Reis (Manaus). Compositora sacra, bacharel em Música Sacra pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife.



Edith B Mulholland (Brasília). Missionária americana, especialista em Hinologia, iniciadora do curso de Música Sacra na Faculdade Teológica Batista de Brasília.



Pastor Elias Moreira da Silva (São Paulo). Bacharel em Música Sacra pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, Mestre em Música Sacra pelo Southwestern Baptist Theological Seminary, em Forth Worth, Texas.



Fred Spann (Recife). Missionário americano, chefe do Departamento de Música do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife.



Urgél Rusi Lóta (Vitória). Bacharel em Música Sacra pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, e licenciado em Música pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

79

Surgiu assim o documento intitulado Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do Brasil, publicado em 1986, como encarte na Revista Louvor ano VII, volume III, que foi posteriormente impresso em separata, para uso exclusivo em congressos regionais da Junta de Educação Religiosa e Publicações (JUERP). Segundo esse documento, “a função primordial da música na igreja é ministrar 31 às necessidades espirituais de seus membros” (OLIVEIRA FILHO et al., 1986, p. 5) e para dar conta dessa tarefa, a música deveria ser praticada nos cultos de maneira direta - por meio de coros, conjuntos, ou solistas - ou indireta, pela audição dos presentes na congregação. Ainda segundo o documento, o programa musical da igreja, ou seja, os conceitos e as noções que devem reger essa atividade visam a:

a) Providenciar um ambiente de liberdade e criatividade, isto é, ambiente que proporcione crescimento na expressão da adoração, tanto em termos de texto, quanto de música. O professor Donald Hustad, doutor em música eclesiástica afirma que parece que os evangélicos estão adorando de maneira autêntica, quando enfatizam a obra redentora de Deus através de Cristo. Todavia, precisamos insistir no fato de que grande parte da nossa expresão dessa redenção (especialmente na forma da música) é centralizada no homem. [...] Ela freqüentemente fala da nossa experiência pessoal de Deus, sem revelar [algumas vezes] adequadamente o Deus que podemos conhecer e os Seus propósitos para nós no mundo.(HUSTAD,1986, p. 75).

31

Segundo o Novo Dicionário da Bíblia, a palavra ministrar significa prestar serviço religioso. (p. 1048)

80

b) Glorificar a Deus e não à música em si mesma, além da edificação 32 das pessoas. A adoração coletiva é praticada através do envolvimento e da participação individual de cada membro da congregação. Por isso, a música deve ser suficientemente simples para que as pessoas, sem treino musical, e sem profundos conhecimentos teológicos, possam aprendê-la com facilidade. Hustad afirma que “a verdadeira medida de nosso louvor é a sinceridade com que oferecemos a nossa melhor adoração a Deus” e não o tipo de música que oferecemos. (HUSTAD, 1986, p. 97) c) Enfatizar os conceitos teológicos e musicais e promover o crescimento espiritual. A música usada na adoração e na evangelização pode facilitar a expressão das doutrinas, quando a letra vem carregada de ensinos bíblicos. As próprias palavras das Escrituras são consideradas ideais para serem usadas com música, observando-se que o texto deve ser sempre compreensível a todos. Hustad refere que “todas as funções da música na comunidade da igreja primitiva podem ser consideradas como sustentação da expressão da fé cristã. [...] Parece haver uma injunção bíblica33 clara do uso do cântico para doutrinar e ensinar a fé cristã“. (HUSTAD, 1986, p. 96). d) Trabalhar em harmonia com o programa de educação cristã, que visa ao estudo da doutrina por meio de estudos bíblicos. Assim, o uso da música não deve perder de vista a missão da igreja de instruir e ministrar aos fiéis.

32

A palavra edificação é usada como metáfora, associada à igreja como edifício. A idéia é produzir crescimento e estabilidade espirituais e fortalecimento da fé, através do encorajamento mútuo. 33

A referência é ao texto escrito pelo apóstolo S.Paulo aos cristãos de Colossos: “A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria, ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações”. (Colossenses 3:16).

81

e) Promover o desenvolvimento de compositores, executantes e apreciadores. O documento afirma, ainda, que “as igrejas devem preparar-se para apoiar seus adolescentes e jovens em suas tarefas e atividades musicais, dando também oportunidade para que eles comecem a liderar em áreas de sua competência. (OLIVEIRA FILHO et al., 1986, p. 11) f) Seguir uma seqüência cíclica, tendo em vista as faixas etárias dos participantes. O documento reitera que, não somente as crianças, adolescentes e jovens, mas “os adultos [...] também devem ser beneficiados pelo papel educacional que a música lhes oferece”. (OLIVEIRA FILHO et al., 1986, p. 9 - 11). A partir desses objetivos percebe-se que os músicos batistas responsáveis pela redação do documento atribuíam importância à educação musical em todas as faixas etárias, de acordo com a seqüência cíclica. Compreendiam que essa continuidade no aprendizado seria benéfica, pois poderia levar as pessoas a um desenvolvimento musical em termos técnicos e apreciativos. Entretanto, ao manifestar a preocupação em formar bons músicos para atuarem na igreja, mostraram cuidados ou inquietação com a possibilidade de que tais músicos se ocupassem da música como fim em si mesma e não como um meio para a glorificação de Deus. Sabe-se que a música sacro-litúrgica, historicamente, sempre tem estado ligada a cerimônias de culto, nas quais a música não era o foco principal de atenção. Com o passar do tempo, entretanto, a música sacra passou a ser composta com outras finalidades, que não apenas o culto ou a missa. No século XIX vimos o surgimento de composições como o Requiem de Verdi, ou a Missa Solemnis de Beethoven, entre outras obras, que eram destinadas à sala de concerto e não ao ambiente eclesiástico. No entanto, a música sacra a que o documento se refere é

82

aquela que é escrita com finalidade eclesiástica e cultual, como a que é utilizada nas igrejas batistas. O documento Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do Brasil afirma também que, a finalidade da música na igreja - ministrar às necessidades espirituais de seus membros - está relacionada às tarefas da igreja, que são: cultuar (adorar), edificar os congregados (educar e encorajar), suprir as necessidades espirituais dos membros, evangelizar. (OLIVEIRA FILHO, et al., 1986, p. 5). Todas essas tarefas da igreja podem ser realizadas e, seus resultados corroborados, por meio da música. Além disso, o documento afirma também, que a música exerce papéis diferentes dentro da experiência de culto, entre os quais promover conforto no sofrimento, “reconhecendo que a música tem poder de gravar na mente as palavras a ela associadas”. (OLIVEIRA FILHO et al., 1986, p. 9). Assim, a letra é o elemento mais importante daquilo que genericamente chamamos de “música”. O sentido religioso ou teológico será esclarecido, ensinado e experienciado pela letra. Martinho Lutero, ao propagar os ideais da Reforma Protestante do século XVI, via na música e no canto um poderoso aliado; não somente escreveu corais (hinos), como traduziu vários textos latinos, além de adaptar letra religiosa à música popular de seu tempo, para que os fiéis pudessem não apenas cantar, mas assimilar os preceitos bíblicos de maneira significativa. No documento Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do Brasil encontra-se a afirmação de que “desde cedo as crianças precisam aprender [...] a beleza da disciplina musical, através de música apropriada” (OLIVEIRA FILHO et al., 1986, p.10). A expressão “beleza da disciplina musical através de música apropriada” indica que os autores tinham parâmetros que deveriam ser observados na escolha do repertório considerado “apropriado” para a consecução da

83

programação musical na igreja. O que seria apropriado para eles? Segundo Braga, a música sacra, praticada na liturgia evangélica no Brasil até 1960, apresentava como elementos essenciais, os cânticos (hinos) congregacionais, tirados dos hinários, geralmente entoados em uníssono e com acompanhamento de órgão ou harmônio, que preparavam ao recolhimento e à oração. (BRAGA, s/d, p. 293). A menção à “música apropriada” no documento Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do Brasil (OLIVEIRA FILHO et al., 1986, p. 10) evidencia a preocupação com a possibilidade de que outro tipo de música não condizente com os padrões aceitos como adequados, estivesse sendo praticada em algumas igrejas batistas. Em uma primeira leitura, pode-se dizer que o que era considerado ”apropriado” era o tradicional. Dessa maneira, não foram poucas as vozes de pessoas que se preocuparam com as mudanças que aconteciam. O pastor Júlio Sanches, ex-presidente da Convenção Batista do Estado de São Paulo, comentando sobre a ortodoxia batista, referiu-se a igrejas que “aboliram os hinos do Cantor Cristão [hinário oficial dos batistas] em troca de alguns corinhos animados”, provavelmente acompanhados com violão ou guitarra elétrica e bateria e manifestou sua preocupação com o fato de que essa prática pudesse descaracterizar a música de tais igrejas em relação às demais igrejas batistas. (SANCHES, 1986, p. 80). Essas

afirmações

deixam

transparecer

algumas

preocupações

com

mudanças na liturgia do culto e também quanto aos estilos e instrumentos musicais utilizados no mesmo.

84

2.2. A música e as necessidades humanas nas igrejas.

O documento Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do Brasil enfatiza a noção de que “a música deve ser usada para suprir as necessidades humanas, sejam elas sociais, educacionais, psicológicas, espirituais ou estéticas”. (OLIVEIRA FILHO, et al., 1986, p. 12). Assim, a música atende às necessidades sociais quando “incentiva a participação em atividades coletivas como coros ou grupos menores. A recreação musical desinibe e facilita o entrosamento do indivíduo no grupo”. (p. 12). Reconhece-se, assim, a capacidade agregadora das atividades musicais, especialmente aquelas realizadas em grupo. O Programa de Música desenvolvido por meio de Coros Graduados34 tem se mostrado como um elemento importante no entrosamento individual ao grupo, de casais (no coro jovem ou de adultos, em que ambos cantam) e de crianças que também participam dessa atividade. As necessidades educacionais também são alvo do programa musical das igrejas batistas, pois, como afirma o documento em estudo, “a música serve de veículo para o ensino [do Evangelho] em todas as faixas etárias” (OLIVEIRA FILHO et al., 1986, p. 12). Hustad comenta que a música adiciona significado aos rituais da sociedade, sejam eles políticos, sociais ou religiosos. (HUSTAD, 1986, p. 27). E observa que focalizando o lado positivo, é evidente que os sons musicais na verdade tendem a encorajar certo tipo de atividades na pessoa que freqüenta a igreja [...] certos tipos de melodia e de formas vocais podem fazer as pessoas se lembrarem de que estão no lugar tradicional de adoração e encorajá-las a pensar em Deus. [...] Os sons musicais freqüentemente são usados para dar sinal à congregação para ficar de pé, para se assentar, ou para orar. (HUSTAD, 1986, p. 38).

34

Os batistas dão o nome de Coros Graduados ao programa de grupos corais organizados por faixas etárias, como Coro infantil, Coro juvenil, Coro jovem e Coro de adultos.

85

Assim, a música é vista não apenas como veículo para os ensinamentos bíblicos por meio da letra, mas reforça certas atitudes, como o comportamento diante de uma autoridade/divindade, e o comportamento social diante do sagrado, como levantar ou ajoelhar-se, além de criar ambientação para o culto. As necessidades psicológicas, segundo o documento Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do Brasil, “são supridas na medida em que a criança, o jovem, ou adulto aprendem a se expressar através da música” (OLIVEIRA FILHO et al., 1986, p. 12). Hustad afirma que sem sombra de dúvida, o uso de música como expressão das emoções é comum em todas as igrejas. Na tradição evangélica, em que se enfatiza a experiência religiosa pessoal, este é um dos mais importantes significados da música. [...] O poder emocional da música talvez seja melhor compreendido na vida da igreja, quando essa música se ajusta bem a um texto apropriado. Nesta união, a música dramatiza, explica, sublinha, “sopra vida” nas palavras, resultando em mais significado do que as palavras isoladamente poderiam expressar. (HUSTAD, 1986, p. 35).

Todavia, segundo essa visão, a emoção não deveria cair em mero sentimentalismo. Para Hustad, alguns fatores servem como indicativos de que o sentimentalismo pode estar sendo uma força motivadora no programa musical de uma igreja como, a tendência de usar demasiadamente certos hinos e canções favoritos, falta de conexão entre a música e as demais partes do culto (músicas que não se coadunam com a temática do culto) e a resistência a novas seleções musicais, bem como a novas formas de música. (HUSTAD, 1986, p. 36). Se a expressão dos sentimentos é algo que as igrejas reconhecem ser necessário incentivar, ao mesmo tempo reconhece-se que deve haver certa cautela, para que não se perca de vista a finalidade do culto, que é a glorificação de Deus e sua conseqüência natural, a edificação espiritual dos fiéis.

86

Ainda, segundo o documento em estudo, as necessidades espirituais são supridas quando a pessoa consegue “extravasar através da música, seus mais profundos anseios e petições, mesmo quando as palavras não conseguem traduzilos”. (OLIVEIRA FILHO et al., 1986, p. 12). O teólogo Dr. Russel P. Shedd, ao estudar o sentido da adoração à luz da Bíblia, comenta que a igreja cumprirá seu objetivo de adoração, entre outros, se “a música atrair o coração para a beleza de Deus revelada na criação, na redenção e na regeneração [princípios basilares do evangelho], refletindo assim a harmonia do universo por Ele criado”. (SHEDD,1987, p. 25). Acrescenta que a música envolve os sentidos, o corpo e a criatividade dos adoradores.[...] A harmonia musical atrai porque as vibrações sonoras não entram em choques contraditórios, mas se complementam e despertam nossa admiração. (SHEDD, 1987, p. 90). Esse aspecto do fazer musical religioso, descrito no documento Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do Brasil (Oliveira Filho et al.,1986), tem sido observado também em outros domínios do saber. O musicoterapeuta americano Kenneth Bruscia, referindo-se às práticas auxiliares da musicoterapia (música funcional, cerimonial e música para inspiração), afirma que o canto congregacional serve para unir as pessoas, enquanto que os hinos do coro parecem levar os fiéis a refletirem sobre a fé e os valores da religião e suas implicações para si como indivíduos. [...] Os dias de casamento, de funerais e os dias religiosos especiais adquirem maior sentido através das músicas elaboradas para intensificar o significado da ocasião. (BRUSCIA, 2000, p. 241).

Assim, a primazia é dada à funcionalidade da música e no quanto ela pode ajudar os fiéis a crescerem em sua espiritualidade. Hustad comenta que, desde a

87

Reforma, optou-se por uma abordagem mais “popular” da música, a fim de que todas as pessoas pudessem dela partilhar, por meio do canto, principalmente congregacional. A música também pode ser vista como objeto artístico, conforme refere o documento Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do Brasil, quando ensina valores estéticos que “modificam e elevam a capacidade apreciativa e criadora do indivíduo”. (OLIVEIRA FILHO et al., 1986, p. 12). Assim, os critérios de seleção do repertório vocal e instrumental a ser utilizado em cada momento do culto, a fim de que a música cumpra seu papel de veículo da mensagem a ser pregada e elemento reforçador dos princípios por ela veiculados, devem estar calcados em valores estéticos aceitos na comunidade e passam necessariamente pela função que a música exerce no culto. Hustad afirma que em toda a Escritura, a idéia de ”beleza” nunca está associada com a música; ela é, de fato, limitada a experiências visuais (como uma face “linda”). A música é obviamente importante em seu funcionamento, mas é descrita como “agradável” – palavra que tem a conotação mais ética do que estética. É interessante notar que na longa descrição do Primeiro Templo [do rei Salomão] e seu ritual (I Reis, capítulos cinco a oito), nunca se usou a palavra “belo” ou seus sinônimos. (HUSTAD, 1986, p. 57).

Se, conforme afirma o documento em estudo, a música deve ser usada para suprir as necessidades humanas, qual será, no entender dos membros das igrejas batistas, aquela que melhor atende essa finalidade?

88

2.3. A música nas Igrejas Batistas do Estado de São Paulo.

Em 1996, portanto, dez anos após a redação e publicação do documento Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do Brasil, a Convenção Batista do Estado de São Paulo encomendou ao SPAI 35 uma pesquisa denominada Perfil Batista com o objetivo de conhecer o perfil dos pastores, dos membros e freqüentadores das igrejas batistas ligadas a essa Convenção. O universo dessa pesquisa, realizada pelas sociólogas Ivani Vasconcelos de Camargo e Jôse Rocha Fogaça, entre dezembro de 1996 e julho de 1997, era constituído por todos os pastores das igrejas batistas do Estado de São Paulo e dos membros dessas igrejas36. A composição da amostra de pastores constou de 117 questionários respondidos e integralmente utilizados; dos 3500 questionários respondidos pelos membros das igrejas, 1000 foram sorteados aleatoriamente nesse universo de retorno das respostas. Essa amostra apresentou a seguinte composição: 30,4% freqüentavam igrejas na capital, 19,4% na Grande São Paulo e 50,2% no interior, 41,4% eram freqüentadores de igrejas de pequeno porte (até 100 membros), 51,6% freqüentavam igrejas de médio porte (de 101 a 600 membros) e 7% freqüentavam igrejas de grande porte (com mais de 600 membros). (CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p.9).

35

SPAI: Serviço de Pesquisa, Análise e Informação, hoje denominado Source Seven Planejamento e Pesquisa. Acesso pelo e-mail: [email protected] 36 No dizer dessas pesquisadoras, “Perfil Batista é uma pesquisa quantitativa por amostragem aleatória e questionários auto-aplicáveis planejada como uma mala direta com reforço na entrega e no recolhimento”. Os questionários foram enviados a todos os membros das igrejas batistas do Estado de São Paulo, obtendo-se um retorno de 3500 respostas. (CAMARGO e FOGAÇA. 1997, p. 3 – 4). As pesquisadoras esclareceram também que cada igreja recebeu um questionário para o pastor e uma via do questionário de membros, para ser reproduzida para todos os membros da igreja. Em relação às associações, às igrejas e aos pastores, as maiores perdas e recusas alegadas para a realização da pesquisa foram prazo muito curto, falta de recursos para a reprodução dos questionários, alegação de que essa pesquisa não era considerada prioridade para aquela igreja ou associação e a percepção de tal pesquisa como uma estratégia de controle por parte da Convenção.

89

Embora os resultados da pesquisa possam ser questionados quanto à propriedade de sua generalização e critério de validade, essa pesquisa é utilizada nesse trabalho por ser um documento que aponta várias tendências da atividade musical. Esses dados parecem ser significativos ao entendimento do contexto musical das igrejas batistas na década de 1990, contexto esse que atua e interage com o Bacharelado em Música Sacra. A pesquisa esclareceu que, no Brasil, as igrejas evangélicas reuniam fiéis de todos os níveis de renda e grau de instrução, mas que se expandiam mais nas camadas de baixa renda e menor escolaridade, onde mostravam maior penetração. Era, todavia, entre os evangélicos históricos, como os batistas, que se encontrava a maior concentração de pessoas brancas, com maior renda e mais educação, enquanto que no Estado de São Paulo, de 1980 a 1994, os evangélicos pentecostais – que, entre outras características, valorizam os aspectos emocionais no culto apresentaram um crescimento de 7,2%, e os tradicionais (históricos) um crescimento negativo de -0,3%. (CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p. 11, 21 e 23). A pesquisa Perfil Batista informou que a maioria dos entrevistados pertence à classe social C, embora não tenha mencionado os percentuais e trouxe dados para se entender o universo musical das igrejas batistas, tais como informações sobre o repertório dos cultos, o uso de instrumentos e de que tipos, o uso de acompanhamento rítmico de palmas durante o cantar, as condições de trabalho musical dos responsáveis por essa atividade e das aulas de música nas escolas existentes nas igrejas. Revelou também que, no entender dos respondentes, as tarefas que os membros das igrejas julgavam essenciais eram as de cunho espiritual, seguindo-se das de cunho social. Assim, as igrejas deveriam preocuparse

principalmente

com

evangelização

(89,4%),

ensino

bíblico

(79,7%),

90

doutrinamento dos membros (67,9%), ajuda espiritual aos membros (67,2%), cuidado com os membros necessitados (58,2%), cuidado com os necessitados de maneira geral (37,7%), visitação a hospitais (31,2%), ajuda psicológica aos membros (32,9%), aulas de música (30,7%), visitação a presídios (29,9%), recuperação de dependentes químicos 27,4%), organização e manutenção de creches e asilos (15,7%). (CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p. 12 e 65, grifo nosso). A seguir serão apresentados esses dados de maneira mais específica.

2.3.1. As aulas de música.

Analisando a lista de tarefas consideradas essenciais a serem desenvolvidas pelas igrejas, encontramos que as aulas de música foram citadas dentre as tarefas de cunho social e consideradas por 30,7% dos pesquisados como tarefas essenciais à igreja. O ensino de música tem sido oferecido aos membros das igrejas, ou seus filhos, mesmo que ainda não batizados37, e também a pessoas que, mesmo não sendo ainda batizadas, freqüentem os cultos. Havendo disponibilidade de horários, são estendidas também aos membros da comunidade em geral, com o intuito de atraí-los para a igreja. O objetivo principal é preparar pessoas para participarem dos cultos cantando, regendo ou tocando. Em geral, as aulas abrangem técnica vocal, teoria musical e instrumentos, aqueles à disposição na igreja, como piano, teclado,

37

O batismo infantil não é praticado na Igreja Batista. Não há idade mínima para ele ser ministrado; entretanto não é comum batizarem-se crianças menores de nove anos, idade em que se acredita que elas possam escolher por si mesmas se desejam ser iniciadas na igreja.

91

violão e bateria, entre outros. Não havendo na própria igreja professores com tempo disponível para ministrarem as aulas, outras pessoas habilitadas são chamadas de outras igrejas, mesmo que não batistas. O custo financeiro desse trabalho é repassado aos alunos. Não se trata de uma escola oficialmente regulamentada, mas é encarada como parte do Ministério de Música de cada igreja. Não houve possibilidade ainda de se obterem dados quanto ao número exato de igrejas que mantêm aulas de música, pela ausência de um censo institucional das igrejas filiadas à Convenção Batista do Estado de São Paulo.

2.3.2. Os instrumentos utilizados nos cultos.

Quanto ao uso de instrumentos no culto, a pesquisa Perfil Batista revelou que 73,5% das igrejas utilizavam guitarra elétrica, 72,6% teclado, 70,1% violão, 59,8% bateria, 54,7% órgão (eletrônico, em geral com uma oitava de pedaleira), 44,4% piano. Observa-se que não há menção a instrumentos de sopro, metal, ou cordas, com exceção do violão, que é um instrumento acústico, utilizado em 70,1% das igrejas. O piano reponde por apenas 44,4 % contra 72,6% de utilização do teclado. Os dados parecem indicar preferência por instrumentos não acústicos e usados no estilo popular; pode-se notar, também, que esses instrumentos, por seu preço, são mais acessíveis do que os instrumentos acústicos. O gráfico 4 demonstra essa condição:

92

Fonte: Gráfico construído a partir de dados constantes em CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p. 41.

A respeito do uso desses instrumentos, a pesquisa Perfil Batista informou que a grande maioria das igrejas (82,1%) possuía grupos de louvor38, os quais participavam dos cultos com regularidade, embora muitas igrejas continuassem a manter coros que se apresentavam freqüentemente. Entretanto, a pesquisa não informou a porcentagem das igrejas que mantinham coros e/ou grupos de louvor.

38

Grupos de louvor são conjuntos que executam música de estilo Gospel, via de regra acompanhada por guitarra, baixo elétrico, teclado e bateria.

93

Quanto ao uso de instrumentos, pode-se inferir, pela presença de grupos de louvor em 82,1% das igrejas, que os instrumentos mais utilizados parecem ser o violão, a guitarra, o teclado e a bateria.

2.3.3. Os grupos de louvor

A pesquisa Perfil Batista esclareceu que, entre as igrejas batistas de porte médio do Estado de São Paulo, 90,2% possuíam grupos de louvor que participavam regularmente dos cultos, sendo que, entre as igrejas da capital, a freqüência desses grupos era de 89,3%; revelou também que, no culto, os membros das igrejas preferiam a pregação (36,5%) e, em seguida, o louvor (35,8%), entendendo-se por louvor o período de cânticos congregacionais acompanhados por instrumentos eletrônicos e bateria, sendo conduzidos por alguns cantores usando microfones e não por um regente, às vezes no início do culto, outras vezes no meio, mas sempre num momento separado para isso. (CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p. 40, 41, 67). Essa prática descrita revelava uma tendência ao surgimento de conjuntos com instrumental da banda de rock (guitarra, baixo elétrico, teclado e bateria), que faziam os acompanhamentos em harmonizações simples, criavam ou copiavam de outros conjuntos os cânticos, esses, geralmente, com letras que abordavam os sentimentos pessoais em relação a Deus, criando, assim, o que hoje é conhecido como música Gospel. Esse tipo de cântico emocional, com letras pessoais e sempre acompanhado pelo conjunto instrumental eletrônico, tornou-se a música preferida nos cultos de estilo Louvor e Adoração, e por meio dela, define-se o clima do culto. Nessa prática,

94

a congregação canta de oito a dez cânticos, geralmente estróficos, que podem ser uma seqüência de músicas encadeadas, das quais repetem-se algumas estrofes várias vezes. O acompanhamento musical é feito normalmente por piano, órgão eletrônico e sintetizadores digitais. Bandas com guitarras e bateria completam o grupo musical padrão desses cultos. O som aproxima-se muito ao de bandas de rock mais leve ou de música popular, apelando assim a um público jovem que não se identifica com música erudita, nem com o estilo avivado e tampouco com os hinos tradicionais. O coro e o grupo de louvor normalmente executam uma ou mais músicas especiais e sempre há lugar para os momentos de testemunho pessoal, durante essas apresentações. (BASDEN, 2000, p. 86, 87).

2.3.4. O repertório utilizado nos cultos.

Quanto ao repertório musical dos cultos, a pesquisa Perfil Batista informou que a preferência por cantar exclusivamente hinos estava com 90,8% das pessoas com mais de 61 anos; a preferência por cantar exclusivamente cânticos encontravase com os jovens com até 19 anos (61%) e só 29,6% deles declaram também gostar de cantar hinos. As pessoas nas faixas etárias intermediárias, aparentemente não se incomodavam com o tipo de música utilizada nos cultos. (CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p. 71). Esse dado parece apontar ainda para certa preferência pelo culto com características do estilo tradicional, seguida pelos cultos Louvor e Adoração, um estilo onde se pratica mais os cânticos, os Gospel, do que hinos tradicionais.

95

O uso de palmas como acompanhamento do canto, ou como forma de incentivo à participação dos fiéis durante o canto congregacional, referia-se mais a músicas em estilo popular. A pesquisa Perfil Batista mostrou também que, contrapondo-se o perfil levantado dos pastores batistas do Estado de São Paulo e o dos membros das igrejas, “os membros gostavam mais de palmas do que os pastores”. (CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p. 14). A pesquisa esclareceu que a variável que introduz maior diversidade sobre a utilização das palmas é a idade do pastor. Entre os de 26/36 anos, 61,8% utilizam as palmas, enquanto que entre aqueles com 50 anos ou mais, 27% não utilizam. Quem decide a questão, engrossando as fileiras dos que são a favor das palmas, são aqueles com idade entre 37/49 anos, com 50% de utilização. Os pastores das igrejas da Grande São Paulo e as de grande porte apresentam os maiores índices de utilização das palmas com 71,4% e 75% respectivamente. (CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p. 41).

Assim, os cantos congregacionais que eram entoados em uníssono e com acompanhamento de órgão ou harmônio na década de 1960, para criar um ambiente de recolhimento e oração, conforme referido por Braga, foram suplantados pelos cânticos mais descontraídos, com acompanhamento rítmico de palmas. (BRAGA, s/d, p. 293). Embora a pesquisa não tenha mencionado o uso de outros movimentos corporais, observa-se nesses cultos de caráter mais informal de estilo Louvor e Adoração, que, outros gestos, como levantar as mãos e mover o corpo ao ritmo da música, também são aceitos. Quanto aos ritmos das músicas utilizadas no culto, a pesquisa Perfil Batista informou que, entre os jovens até 19 anos, o índice de aprovação do rock era de 55% e entre os de 20 a 30 anos, o índice era de 39,6%. Para os ritmos nacionais,

96

como forró e baião, o índice de aprovação elevava-se entre os jovens até 30 anos, mas não atingia os 30%. (CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p. 70).

2.3.5. As condições de trabalho musical nas igrejas batistas.

Os pastores apontaram a falta de recursos financeiros e humanos como as maiores dificuldades para a execução do trabalho evangélico nas igrejas batistas, o que significa dizer que, se não houver recursos humanos suficientes, é preciso ensinar e treinar as pessoas que ali congregam, ou encaminhá-las para cursos específicos para que se habilitem a desenvolver atividades de todo tipo, inclusive as musicais. Entretanto, a pesquisa revelou que as igrejas não participavam de atividades com outras igrejas, nem batistas, nem de outras denominações, o que vale dizer que a maior parte do treinamento acabava sendo feito internamente, principalmente nas igrejas que dispunham de liderança musical preparada para isso. (CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p. 12, 14). A pesquisa Perfil Batista nos informou que 44,5% das igrejas tinham ministro de música, porém em diferentes regimes de trabalho. Assim, 65,3% trabalhavam nos finais de semana, isto é, realizando ensaios aos sábados e domingos e participando dos cultos; 25% em tempo parcial, isto é, aos sábados e domingos e algumas horas durante a semana, quando são realizados ensaios e, possivelmente, algumas aulas de música e 9,61% em tempo integral, isto é, uma média de quarenta horas de trabalho, com um descanso semanal, geralmente às segundas-feiras. (CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p. 39).

97

Para melhor visualização, observemos o gráfico:

Gráfico 5 - Regime de trabalho dos ministros de música.

10%

25% 65%

final de semana

tempo parcial

tempo integral

Fonte: Gráfico construído a partir de dados constantes em CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p. 39.

A referida pesquisa nos informou também que 27% das igrejas tinham líder ou dirigente de música (na maioria dos casos sem formação específica). Pode-se observar que 28,5% das igrejas que responderam à pesquisa não dispunham de liderança formal na área de música. Isso pode ser melhor percebido através do gráfico:

98

Fonte: Gráfico construído a partir de dados constantes em CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p. 39.

Outro dado apontado pela pesquisa Perfil Batista referiu-se à formação dos ministros, líderes ou diretores de música: 48% tinham formação secular em música (conservatórios e/ou faculdades de música), 27% não tinham formação completa na área de música e 23,8% tinham formação em música sacra pela Faculdade Teológica (nosso objeto de estudo) ou seminário. (CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p. 39, grifo nosso). O gráfico 7 demonstra essas condições:

99

Gráfico 7 - Formação dos Ministros de Música

24% 49%

27%

formação em música

sem formação musical

formação em música sacra

Fonte: Gráfico construído a partir de dados constantes em CAMARGO e FOGAÇA, 1997, p. 39.

Observa-se então que, se 44,5% das igrejas tinham ministro de música, ainda que em regimes variados de trabalho, e se apenas 23,8% desses ministros tinham formação em música sacra, pode-se inferir que as igrejas batistas, ao escolherem seus ministros de música, podem estar valorizando mais a formação musical específica que a teológico-ministerial, que é o diferencial no programa curricular do curso de bacharelado em Música Sacra, ou que o número de egressos dos cursos de Música Sacra dos Seminários Teológicos não é suficiente para atender à demanda. Entre as igrejas grandes (que tinham ministro ou liderança musical) foi onde se encontrou o menor índice de preferência pelo louvor (20%) e nas médias – 100 a 600 membros - o maior (37,5%). Esse dado aponta para o fato de que nas igrejas batistas da capital e Grande São Paulo e nas de médio porte - onde a

100

empregabilidade do ministro de música é maior - o estilo de culto, ainda que não totalmente definido, é mais voltado para a música popular. Os dados revelados na pesquisa Perfil Batista parecem apontar para um processo de mudança no estilo dos cultos realizados nas igrejas batistas do Estado de São Paulo, que vem se instalando nas últimas décadas. Assim, a preferência demonstrada pelo uso da música popular e dos instrumentos eletrônicos nos cultos seria um elemento atingido por esse processo de mudança que, não estando ainda concluído, desenvolve-se de maneira diversificada nas igrejas evangélicas, de maneira geral, e nas batistas, em particular. Esses dados nos levaram a uma reflexão sobre o perfil diversificado de igrejas batistas que existem no Estado de São Paulo, na pluralidade de contextos sócio-econômicos e culturais e que a atuação do Ministro de Música em uma ou outra região requererá estratégias diferenciadas de atuação. O Programa Curricular do curso de Bacharelado em Música Sacra, conforme vimos no capítulo anterior, tem privilegiado a área de Performance em Canto, Piano, Órgão ou Regência. Seria o Bacharelado - sem reconhecimento das políticas públicas e privilegiando somente a música sacra erudita - a formação mais indicada para o Ministro de Música das igrejas batistas da atualidade? Poderia o baixo número de alunos matriculados, ser considerado um indício de inadequação do curso à realidade das igrejas? É dessa inquietação que se tratará no próximo capítulo.

101

CAPÍTULO 3

O CURSO DE MÚSICA SACRA E A MÚSICA NAS IGREJAS BATISTAS

102

CAPÍTULO 3

O CURSO DE MÚSICA SACRA E A MÚSICA NAS IGREJAS BATISTAS

3.1. O quadro de matrículas do curso de Música Sacra. Na intenção de conhecer quando se teria iniciado a queda no número de alunos matriculados e os prováveis fatores que a ocasionaram, buscaram-se dados nos relatórios da Faculdade Teológica à Convenção Batista do Estado de São Paulo e no livro de atas das reuniões pedagógicas do corpo docente do Departamento de Música da referida faculdade. Um dos primeiros problemas com que a direção do curso deparou-se foi com o pequeno número de alunos, o qual parecia demorar a crescer. Segundo Spann, iniciador do curso, não havia nenhum esforço especial a ser feito; o que era preciso fazer era “anunciar que estava aberto o Departamento e oferecer o grau em música e as pessoas estavam interessadas e vinham fazer o curso”. (CHECAN, 1998, p. 95). No primeiro semestre só três alunos inscreveram-se e sete no segundo. Observa-se, entretanto, que, mesmo representando um crescimento de mais de

103

100%, era um número bastante baixo, considerando-se que nos vários prospectos da faculdade, afirmava-se que o curso de música era um sonho dos batistas do Estado de São Paulo. Comparando-se com o número de igrejas levantado nos resultados parciais de estatística realizada pela Convenção Batista do Estado de São Paulo em 1973, via-se que havia no Estado aproximadamente 387 igrejas batistas, sendo 135 na capital e que, portanto, esse número de alunos poderia ter sido bem maior já no início do curso. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 66, 1974. Anais, p. 28). Em 1974, o Coral da Faculdade contava com 60 vozes, o que indica que os alunos de outros cursos também participavam, já que havia 15 alunos matriculados no curso de Música Sacra nesse ano, ocasião em que foram realizadas três audições corais. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 67, 1975. Anais, p. 50). A formatura da primeira turma – com apenas dois alunos - aconteceu em 1976. No ano seguinte, o Departamento de Música da Faculdade ofereceu um curso gratuito de musicalização infantil, na disciplina Coros Graduados, para treinamento dos alunos, por iniciativa do Pastor Marcílio de Oliveira Filho e sob sua supervisão. Além disso, o Coro realizou várias apresentações, tanto na Assembléia da Convenção Estadual, como em igrejas da capital e São José dos Campos e também na estação São Bento do Metrô. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 70, 1978. Anais, p. 93). Em 1981 “a classe de Coros Graduados e o Coral Infantil da Igreja Batista do Ipiranga deram excelente recital, em que foi apresentada a cantata Os Heróis, letra e música do professor Marcílio de Oliveira Filho”. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 74, 1982. Anais, p. 153).

104

Observa-se que nessa primeira década, além do cuidado com as disciplinas, havia a preocupação com a vivência ministerial prática, por meio de apresentações musicais dos coros e conjuntos em igrejas, participações de alunos e professores em clínicas de música e divulgação de obras compostas por professores. Os dados apontam o crescimento do curso, a despeito de não ter sido ainda consolidada nas igrejas a idéia de ministério de música. A partir de 1979, entretanto, observou-se uma estagnação, seguida de leve queda. Vejamos o quadro de matrículas nessa primeira década:

Gráfico 8 - Quadro de matrículas: 1973 -1982 70 60

59

59

60 51

50

43

40

Nº Alunos

30

26

20

30 23

15

10

4

0

1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 Gráfico construído a partir de dados obtidos na Secretaria da Faculdade Teológica Batista de São Paulo em 2004.

As

atividades

musicais,

conforme

descrição

encontrada

nas

atas,

diversificaram-se na década seguinte. Em1983 lê-se que “os alunos de Música Sacra estiveram ativos nas férias de julho. Dois deles cooperaram com o trabalho batista em Rondônia e vários tomaram parte em Institutos de Música Sacra”. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 76, 1984. Anais, p. 139).

105

Nesse mesmo ano, Dr. Spann, que havia retornado definitivamente aos Estados Unidos em 1976, veio ao Brasil a convite da próxima diretora do Departamento, professora Dacyr Gatz, para participar das comemorações dos dez anos de atividades do Departamento de Música Sacra, quando foi apresentada a primeira parte do Oratório São Paulo, de Mendelssohn, em português, com tradução do professor David Hodges. No ano seguinte, houve a estréia e publicação de duas cantatas de autoria de professores da casa, Ele está vivo, para coro misto, do professor Nabor Nunes Filho e Salmo do Messias, para coro feminino e solista tenor, de autoria do professor Marcílio de Oliveira Filho. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 77, 1985. Anais, p. 127). A atividade maior de 1985 foi a Semana de Atualização Musical, evento que contou com palestras proferidas por diversos músicos batistas do Brasil como Edith Mulholland, Célia Reis, Fred Spann, Joan Sutton e Urgél Lóta, todos envolvidos na elaboração do documento Fundamentos da Música Sacra para as igrejas batistas do Brasil. O Coro apresentou dois recitais com obras de diversos períodos da História da Música, além de peças inéditas de compositores brasileiros. O relatório referente a esse ano letivo mencionou também a composição de hinos pelo professor Marcílio de Oliveira Filho, em parceria com o Dr. Werner Kaschel, diretor geral da Faculdade e a tradução de vários hinos americanos pelo professor David Hodges, todos envolvidos com a comissão que estava preparando o novo hinário batista a ser publicado pela JUERP (Junta de Educação Religiosa e Publicações). Além disso, informou que diversas equipes de alunos estiveram ministrando cursos para igrejas no Estado de São Paulo nas férias de julho. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 78, 1986. Anais, p. 147).

106

Em 1986, foram apresentadas a cantata Luz eterna, de J. M. Talbot e Phil Perkins, em primeira audição em português e a ópera José – da prisão ao trono, de autoria do professor Marcílio de Oliveira Filho. Apesar das atividades práticas desenvolvidas, na reunião ocorrida em dezembro

de

1990,

alguns

alunos

foram

taxados

como

“cronicamente

problemáticos” e foram encaminhados ao Deão 39 da Faculdade. (Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Atas, p. 13, verso). Na reunião datada de 20 de junho de 1991, voltou à pauta o caso dos alunos “cronicamente problemáticos”, que haviam sido encaminhados ao Deão e alertados de que, se não apresentassem mudanças, seriam convidados a se retirarem da faculdade e que ficariam em observação durante este semestre. (Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Atas, p. 16 verso). Essa designação de “cronicamente problemáticos” referia-se a alunos que apresentavam problemas de aprendizagem na área de Performance. Não há registro, entretanto, das medidas pedagógicas que possivelmente tenham sido tomadas antes desse encaminhamento. Em dezembro de 1991, vários professores relataram as atividades realizadas durante o semestre e a professora de Teoria Musical, Susie Costa, apontou o “grande desânimo apresentado pelos alunos”. (Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Atas, p. 18 verso). Observou-se, pela análise do quadro de matrículas, que as mesmas apresentaram crescimento entre os anos de 1986 e 1987, após o que, a queda foi de mais de 50% nessa década em que não se registraram muitas atividades ministeriais aplicáveis à realidade das igrejas. Vejamos o gráfico:

39

Deão era o título dado na época ao Coordenador Acadêmico.

107

Gráfico 9 - Quadro de matrículas: 1983-1992 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0

73

81

76

66

86

78 65

54

Alunos

38

42

1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992

Gráfico construído a partir de dados obtidos na Secretaria da Faculdade Teológica Batista de São Paulo em 2004.

Em 1994, os coros da Faculdade se apresentaram no anfiteatro da Universidade Mackenzie, num programa realizado sob a direção do Conselho de Música da Convenção Batista do Estado de São Paulo. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 87, 1995. Anais, p. 218). Observou-se um certo relacionamento entre o trabalho musical realizado na Faculdade Teológica e na Convenção Batista. Em 1995, a professora Susie Duarte Costa assumiu a direção do Departamento, tendo realizado algumas mudanças internas nas áreas pedagógica, acadêmica e administrativa. Além disso, o Coro realizou uma audição acompanhada por orquestra no Teatro Municipal Teotônio Vilela, em Sorocaba. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 88, 1996. Anais, p. 114). Com a mudança da assembléia convencional de janeiro para julho, o próximo relatório abarcava o período de janeiro a abril de 1997 e informava que “as exigências acadêmicas passaram a ser cumpridas com mais freqüência, agilizando o processo de finalização de curso” e que “esse foi um ano de conscientização de

108

melhoria na qualidade do ensino, bem como de interação entre matérias afins”. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 90, 1998. Anais, p. 11 – 12 do relatório do Conselho de Educação Teológica e Ministerial). A partir da próxima reunião de professores do Departamento de Música Sacra, realizada em 24 de agosto de 1996, começou-se a registrar o número de alunos que não retornaram no semestre seguinte: a princípio quatro, contrapondo-se a oito que ingressaram; no semestre seguinte, quatro não retornaram, porém ingressaram sete; no segundo semestre de 1997, mais quatro não retornaram, porém retornaram três alunos antigos; no primeiro semestre de 1998, uma aluna antiga retornou e outros seis do semestre anterior, não. A partir daí, não foi feito mais esse tipo de registro. Percebe-se nas atas uma mudança na atitude do Corpo Docente, que não mais “ameaçava” convidar os alunos a se retirarem do curso, mas se inquietava com o número de alunos matriculados, demonstrando, pela primeira vez uma leve tendência a repensar a estrutura do curso. No período de 6 a 23 de outubro de 1998 o Coro da Faculdade realizou uma viagem aos Estados Unidos, visitando e cantando nos Seminários de New Orleans (New Orleans Baptist Theological Seminary), Fort Worth (Southwestern Baptist Theological Seminary) e Louisville (Southern Baptist Theological Seminary) e em várias igrejas nessas mesmas cidades e também em Chicago. A partir de agosto do mesmo ano, a Faculdade Teológica passou a cooperar com o Programa de Educação Religiosa e Música Sacra da Convenção Batista do Estado de São Paulo e, nessa condição, foram realizadas algumas clínicas, como por exemplo, na Igreja Batista do Jardim Brasil, para a Associação Nordeste da Capital, da qual participaram 213 pessoas, pertencentes a 14 igrejas daquela região. Durante o ano de 2002, alunos, ex-alunos e professores colaboraram com a realização de sete

109

Clínicas de Música, na capital e no interior do Estado, alcançando 377 pessoas. O ano de 2002 iniciou-se com um total de 87 alunos no Departamento de Música, sendo 55 no curso de Bacharel em Música Sacra, 28 no Curso Básico de Música, que acontecia aos sábados e 4 no curso de Noções de Música, realizado duas noites na semana por um semestre. Note-se que o número de alunos no Curso Básico, com duração de um ano, eqüivalia a 50% do total de alunos matriculados no curso de Bacharelado. Observou-se nesses dez últimos anos uma tendência à adequação do programa curricular e dos conteúdos programáticos à necessidade dos alunos e das igrejas, apesar da resistência observada em alguns professores, quanto a mudanças expressivas no programa curricular, além de um aumento na incidência de atividades voltadas para os aspectos ministeriais. Nessa década, esse foi o quadro de matrículas:

110

Gráfico 10 - Quadro de matrículas: 1993-2002 80 70

67

60

58

50 40

67

66 59

54

49

42

42

Alunos

40

30 20 10 0 1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

Gráfico construído a partir de dados obtidos na Secretaria da Faculdade Teológica Batista de São Paulo em 2004.

Pode-se visualizar um crescimento a partir de 1997, apresentando leve queda em 1999, voltando a subir em 2001, após o que, o índice recrudesceu novamente, porém não tão acentuadamente como na década anterior. De maneira geral, pode-se observar que nesse período de trinta anos, o quadro de matrículas apresentou crescimento sempre que o curso proporcionou aos alunos a vivência ministerial prática, por meio da participação em Clínicas de música e apresentações musicais em ambientes diversos, como o anfiteatro da Universidade Mackenzie e a estação São Bento do metrô. Esses eventos produziam experiências, cujo conhecimento poderia ser aplicado no trabalho realizado em suas igrejas de origem. Para melhor visualização, observemos o quadro geral de matrículas, de 1973 a 2002:

111

Gráfico 11- Quadro Geral de Matrículas: 1973-2002 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0

81 73 74

66

59 59 60

86 78

43

67

58 59

54

51

26 23

67 66

65 49

38

42 42 42

54

40

30

15

4

Alunos Gráfico construído a partir de dados obtidos na Secretaria da Faculdade Teológica Batista de São Paulo em 2004.

Seria a formação oferecida pelo curso de Bacharelado em Música Sacra a mais adequada para a prática das atividades musicais realizadas nos cultos das igrejas batistas de São Paulo?

3.2. O curso de Música Sacra e o contexto denominacional. O trabalho no Departamento de Música da Convenção Batista do Estado de São Paulo, desde o início da década de 1970, apresentou sinais de dinamismo. Em seu relatório referente ao ano de 1975, o missionário Roger Cole afirmou que

112

de vez que o ministério do Departamento está agora sendo mais descentralizado, muitas tarefas estão sendo feitas com grupos ou equipes menores e selecionados. No caso de gravações e promoções, formamos recentemente um novo grupo musical com instrumentos e vozes com a finalidade de fazer gravações e apresentações especiais. Foi denominado Som Maior.[...] Este conjunto acabou de gravar músicas Negro Spirituals nos estúdios da Rádio Trans Mundial para usar em programas de rádio no Nordeste e Norte do Brasil. Dez igrejas batistas estão representadas e participam deste ministério. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 68, 1976. Anais, p. 80).

Comentando as atividades desse período, Oliveira Filho, em entrevista cedida a Checan em dezembro de 1995, fez algumas observações sobre o trabalho realizado na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, traçando um paralelo com o que vinha sendo realizado pela Convenção Batista do Estado de São Paulo, pelo missionário americano Roger Cole. Afirmou ele que a visão do Roger era mais o povo, o campo missionário, o interior e a própria capital, mas a nossa visão, por ser faculdade, era mais acadêmica. Ele [Roger Cole] fez coisas que eram até um escândalo. [...] No começo, o impacto era assustador; depois, quando os pastores começaram a ver que havia mais continuidade, espiritualidade, qualidade, as igrejas começaram a receber os reflexos do Coral Jovem, Som Maior, festivais de música.[...] De qualquer forma, a gente, lá na faculdade, sentia bem as resistências [por parte dos professores], apesar de o pessoal que participava das clínicas, depois vir para a Teológica. (CHECAN, 1998, p. 89, grifo nosso).

Nessa época, os convites para a realização de clínicas e institutos eram numerosos. Assim, o Pastor Marcílio iniciou a preparação de seus alunos para participarem como professores desses eventos, ministrando aulas de teoria musical, canto, regência ou música na igreja, embora voltadas para o modelo tradicional. Pode-se dizer que havia uma relação entre o trabalho musical realizado pela Convenção Batista e a Faculdade Teológica Batista de São Paulo, mesmo reconhecendo-se uma prática de estilos musicais diferentes e de orientações musicais: a “visão moderna” e a “visão acadêmica”. No início da década de 1970, o cenário eclesiástico alterou-se com o surgimento de uma nova igreja, que veio a ser conhecida como Igreja Batista do Morumbi, organizada formalmente em 1980 pelo pastor Ary Veloso, missionário da

113

SEPAL (Serviço de Evangelização para a América Latina). Esse trabalho coincidiu com a atividade do pastor americano Jaime Kemp com o Ministério Vencedores por Cristo. Esse ministério, sem vínculo com igrejas específicas ou denominações, tinha objetivo evangelístico e preparava equipes de jovens para viajar pelo interior e outros Estados do Brasil, cantando e pregando o Evangelho, principalmente ao público jovem. Segundo Checan, até 1977, o modelo de repertório foi americano. O pastor Ary Veloso, da Igreja Batista do Morumbi, procurou entre os integrantes da equipe de Vencedores por Cristo alguns músicos que pudessem ajudá-lo na nova igreja. Nessa época, a Igreja Batista do Morumbi, que visava a atingir a classe média alta com um novo modelo de igreja e o Ministério Vencedores por Cristo dividiam espaço na mesma sede, à rua Professor José Marques da Cruz, 365, no Brooklin, em São Paulo. Assim, o compositor e arranjador Guilherme Kerr Neto, graduado em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo, foi convidado para compor o ministério colegiado da Igreja Batista do Morumbi, trabalhando na área de Missões e Louvor, atividade que exerceu entre 1976 e 1981. Em 1982 foi ordenado ao ministério pastoral e passou a trabalhar com o ministério de evangelismo. Nessa igreja, Guilherme Kerr, como é conhecido, organizou e liderou o Ministério de Louvor, pois, mesmo sendo músico, acreditava que “o ministro de música não é necessariamente o ministro de louvor”. (CHECAN, 1998, p. 137). Por sua influência, esse título “ministro de louvor” foi aos poucos sendo utilizado também por outras igrejas, onde as pessoas que trabalhavam com música e, mais especificamente, música gospel, não tinham necessariamente formação musical apurada, ou eram músicos práticos na área.

114

Kerr Neto afirmou que a liturgia da Igreja Batista do Morumbi não tinha a pretensão de ser alternativa, mas apenas mais leve que a liturgia tradicional. Segundo ele, foi no início da existência dessa igreja, que “muitas pessoas com talento criativo e desejosas de se envolverem com o Reino de Deus encontraram espaço na igreja e foram acolhidas. A ênfase do ministério de louvor foi dada ao canto congregacional e aos chamados líderes leigos40”. (CHECAN, 1998, p. 135). Pode-se observar que o modelo de ministério de música ensinado pelo curso de Música Sacra da Faculdade Teológica de São Paulo – um ministro graduado em Música Sacra, dedicando parte de seu tempo, ou a sua totalidade à direção do programa musical da igreja - alicerçado no modelo americano, já não era seguido por algumas igrejas batistas. Nesse período, além de uma certa estagnação seguida de declínio no quadro de matrículas do curso de Música Sacra da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, observou-se que o quadro de conclusão de curso foi bem inferior ao de matrículas, como mostra o gráfico:

40

O termo leigo, no meio evangélico, se refere àquele que não foi consagrado formalmente para o ministério.

115

Gráfico 12 - Quadro de matrículas e conclusão: 1973-1982 70 60 50 40 30 20 10 0

59

59

60 51

43

26

30

Matrículas Conclusão

23

15 4 4 3 3 2 1 0 0 0 0 0 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982

Gráfico construído a partir de dados obtidos na Secretaria da Faculdade Teológica Batista de São Paulo em 2004.

Com a saída de Roger Cole, o Departamento de Música da Convenção continuou sem um diretor oficial até 1985, quando outro missionário músico, David William Hodges, também professor na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, assumiu a direção interinamente. O conjunto Som Maior, entretanto, continuou suas atividades, sob a liderança de Noemi Barcelos apresentando-se em igrejas e eventos denominacionais e produzindo material para gravação de disco. Em 1986, outro missionário assumiu o Departamento de Música, Robert Malone, também professor na Faculdade Teológica, o qual permaneceu até julho de 1988, quando retornou aos Estados Unidos, por razões de enfermidade por parte de familiares. Em 1989, após a saída de Malone, que havia realizado clínicas de música, treinamento e direção da parte musical de programas liderados pela Convenção, encontrou-se no relatório que tivemos que tratar muitas vezes de assuntos relacionados com o Conjunto Som Maior, encontrando sempre dificuldades para enquadrá-lo de forma correta dentro do Departamento, visto que, na visão do diretor, ele não estava nos seus objetivos e dentro de sua visão de qual deveria ser a atribuição de um Departamento de Música. Com a saída do diretor, o assunto Som Maior se tornou mais sério ainda e a Junta estuda outras alternativas

116

para seu destino. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 81, 1989. Anais, p. 63, grifo nosso).

Na seqüência desse mesmo relatório, registrou-se que “o conjunto Som Maior está com um novo LP totalmente pronto (músicas ensaiadas, partituras feitas, arranjos concluídos), esperando a definição para uma gravação”. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 81, 1989. Anais, p. 64). Esse conjunto continuou representando seu papel, produzindo material novo, gravando discos e fazendo apresentações em igrejas e em eventos denominacionais, mesmo sem um diretor oficial no Departamento. No entanto, a própria existência do conjunto, ou o estilo de música praticado e a difusão daí decorrente, não só pelas apresentações, como pela disponibilização de partituras e play-backs, parecia configurar-se num problema para a liderança da denominação. Alguns estudos foram feitos pela Secretaria Executiva da Convenção para verificação da viabilidade da transferência do

conjunto

Som

Maior

para

outras

entidades,

desvinculando-o

assim

definitivamente do Departamento de Música, que estava sem diretor oficial naquele momento. Enquanto isso, o conjunto continuava com suas atividades, porém no aguardo dessa resolução. Para resolver a questão do Departamento de Música, a solução encontrada pela liderança da Convenção, foi tomar como base o Conjunto Som Maior, escolhendo uma pessoa que lideraria o conjunto e ao mesmo tempo o Departamento. Esta decisão seria válida por doze meses, em caráter experimental e seria renovada se lograsse êxito. A princípio parece que se tentou voltar às origens, mas estudando os relatórios, é possível entrever que a intenção poderia ser confrontar a liderança do conjunto Som Maior com a sua incapacidade ou indisposição em praticar o estilo musical tradicional.

117

Observou-se nesse período que a figura do Ministro de Música que inovava, compunha e estava atento às necessidades e interesses musicais de todas as faixas etárias foi aos poucos sendo substituída por um Ministro mais acadêmico e profissionalizado. Pode-se perceber, entretanto, que não somente o quadro de matrículas apresentou queda considerável, como o índice de conclusão de curso permaneceu bastante baixo, o que demonstra a situação de evasão escolar. Esse foi o quadro de matrículas e conclusão de curso nesse período:

Gráfico 13 - Quadro de matrículas e conclusão de curso: 1983-1992

100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0

73

81

76

86

78

66

65

Matrículas

54

6

5

6

3

7

10

5

4

38

42

5

6

Conclusão

1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 Gráfico construído a partir de dados obtidos na Secretaria da Faculdade Teológica Batista de São Paulo em 2004.

A estrutura organizacional da denominação foi se modificando e com ela o trabalho de música. Dos Anais da Assembléia, ocorrida em 1994, constou o primeiro relatório do Conselho de Música, referente ao período de agosto a dezembro de 1993. Esse Conselho era constituído por quatro integrantes (músicos batistas atuantes em suas igrejas) e um relator, pastor Elias Moreira da Silva, ex-professor da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, que também acumulava a função de Coordenador, em caráter de interinidade. Constou nesse relatório, o desligamento oficial do conjunto Som Maior.

118

Dentre as atividades realizadas pelo Conselho de Música, foi citada a apresentação do oratório O Messias de Händel, no dia 18 de dezembro de 1993, na Primeira Igreja Batista do Brás, como parte das comemorações de Natal da Convenção. Participaram os coros da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, da Escola de Canto Coral Sacro de São Paulo - vinculada à Primeira Igreja Batista do Brás - e o coro dessa igreja, onde o pastor Elias Moreira da Silva exercia o ministério de música. Afirmou ele que o evento foi coroado de êxito, com o templo superlotado, o que também mostrou que o nosso povo está aberto a apreciar obras de tal envergadura, quando o nosso Deus foi amplamente glorificado. Inspirado no sucesso desse trabalho, criamos um grande Coral Batista de São Paulo, formado pelos coros das igrejas batistas em todo o Estado que, duas vezes por ano, no mínimo, se juntará para apresentar à comunidade de São Paulo, obras sacras de grande expressão. [...] Foi excelente a iniciativa da Convenção Batista do Estado de São Paulo em criar o Conselho de Música, pois este é um meio de resgatarmos a boa música sacra nas Igrejas Batistas. (Convenção Batista do Estado de São Paulo, 86, 1994. Anais, p. 235, grifo nosso).

Observou-se, pela importância dada a essa apresentação de uma obra como o Messias de Händel, que a prioridade era dada à música sacra erudita. No relatório seguinte, referente ao exercício de 1994, encontrou-se que o Coordenador ainda era o maestro Elias Moreira da Silva. O relator, Urgél R. Lóta, escreveu que procurou ouvir, ler, estudar e aproveitar tudo o que a Convenção já havia feito até então e, entendendo que esse momento fosse um “divisor de águas”, apontou para a necessidade urgente de um planejamento estratégico e apresentou seus objetivos: -

conscientizar as diversas igrejas, associações [de igrejas batistas] e líderes sobre a importância do ministério de música; valorizar o trabalho cooperativo; estabelecer uma ligação entre o Conselho de Música e o Departamento de Música da FTBSP [Faculdade Teológica Batista de São Paulo].(Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 87, 1995. Anais, p. 99, grifo nosso).

Mais adiante, afirmava ele que foi constatado um grande interesse e procura por Ministros de Música para as igrejas. “Temos orientado aos que nos procuram e encaminhado suas solicitações à Faculdade Teológica Batista de São Paulo”.

119

(Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 87, 1995. Anais, p. 100). Entretanto, apesar dessa afirmação, os gráficos apontam para o baixo número de alunos matriculados em Música Sacra, o qual passou a decrescer a partir de 1987. Além disso, tanto o Departamento de Música da Convenção, quanto a Faculdade Teológica Batista de São Paulo continuavam a praticar a música sacra tradicional. Ao se observar também o baixo número de alunos que concluía o curso, pode-se supor que uma das razões tenha sido a ênfase na música tradicional praticada na Faculdade Teológica. O relatório referente ao ano de 1995, projetando-se para as modificações na estrutura denominacional que estavam sendo cogitadas, pela mudança da assembléia convencional de janeiro para julho, e a troca sucessiva de coordenadores e relatores num curto espaço de tempo, referiu que O Batista Paulistano [jornal de circulação trimestral e distribuição gratuita entre as igrejas batistas] em sua edição de maio de 1996, publicou uma pequena homenagem de reconhecimento ao pastor Elias Moreira da Silva, salientando seus dois anos e meio de trabalho voluntário nos seguintes termos: A contribuição do maestro Elias para a música nas igrejas batistas do Estado de São Paulo é de inestimável valor. Já percebemos novo entusiasmo pela música coral nas igrejas e a busca de qualidade na escolha de música para o culto. Sem dúvida alguma, seus conceitos, ensinos e exemplo trarão mais resultados abençoadores”. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 88, 1996. Anais, p. 153, grifo nosso).

O relatório referente ao ano de 1996 informava que “todas as ações, na medida do possível, foram orientadas por diretrizes provisórias, até que a pesquisa Perfil Batista seja concluída e tenhamos mais informações sobre o povo batista no

120

Estado e de suas necessidades”. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 89, 1997. Anais, p. 1 do relatório). No relatório referente ao exercício de 1997, o Coordenador, Valdomiro Pereira da Silva Júnior, apresentou suas atividades, sob a relatoria de Urgél R. Lóta. Chamaram-nos a atenção as diretrizes para o ano seguinte, especialmente a de “conscientização quanto à adoração bíblica, respeitando o contexto sócio-cultural das igrejas” e o relato da organização do IV Encontro de Músicos, com o assunto “A dinâmica do culto e a identidade batista”. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 90, 1998. Anais, p. 3 do relatório). Ao que se depreende, as inquietações que o documento Fundamentos da Música Sacra para as Igrejas Batistas do Brasil havia tentado esclarecer e minimizar continuavam em pauta. No ano seguinte, o relator, Ministro de Música Sidney Vieira Costa, afirmou que constatamos, pelos fatos, que igrejas que reconhecem e investem na área do Louvor e Adoração e utilizam a boa música para o serviço do culto que prestam a Deus, são igrejas que crescem e têm ministérios eficazes. Nós batistas, pela nossa tradição temos, ao longo do tempo, investido na área do Louvor e Adoração, através do preparo e incentivo à formação de nossos ministros e líderes de música. [...] Nosso desejo sincero é que este princípio seja conservado e as ações práticas que implementarmos, independente da forma de funcionamento, sejam verdadeiramente para continuidade de tudo aquilo que até hoje foi realizado. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 91, 1999. Anais, p. 162).

E assim, no IV Encontro de Músicos, realizado em julho de 1998, o tema foi: “Culto dinâmico, desejo de Deus, razão de ser da igreja”, que contou com 180 inscritos e mais 600 participantes entre preletores, coros e público presente nas noites de recitais. (Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 91, 1999. Anais, p. 163).

121

A partir de agosto de 1999, o Conselho de Música e o Conselho de Educação Religiosa foram dissolvidos e as atividades dessas áreas passaram a ser responsabilidade do Conselho de Educação Teológica e Ministerial, ou seja, as Faculdades Teológicas Batistas de São Paulo e de Campinas passaram a ser responsáveis pelas clínicas e outras atividades. Nessa época esta pesquisadora já estava à frente do Departamento de Música da Faculdade Teológica Batista de São Paulo; foram realizadas as clínicas e palestras solicitadas, pois o trabalho de Coordenação foi direcionado para a reestruturação do curso. Pode-se

perceber

que,

nessa

década o

enfoque

do

trabalho

do

Departamento de Música da Convenção Batista do Estado de São Paulo continuou a ser direcionado à música sacra tradicional, e os resultados da pesquisa Perfil Batista parecem não ter sido levados em conta. Eis o quadro de matrícula e conclusão de curso nesse período:

Gráfico 14 - Quadro de matrículas e conclusão de curso: 1992 - 2003 80 70

67

58

50 40

67

66

60

59

54

49 42

42

Matrícula

40

Conclusão

30 20 10 0

0 1993

4 1994

3 1995

5 1996

7 1997

12 1998

9 1999

6 2000

4 2001

5 2002

Gráfico construído a partir de dados obtidos na Secretaria da Faculdade Teológica Batista de São Paulo em 2004

122

Observou-se que o número de concluintes de curso ficou muito abaixo do de matrícula, e essa situação manteve-se constante desde o início do curso, o que evidencia o alto índice de evasão escolar. Para melhor visualização, observemos o quadro geral de matrículas e conclusão de curso no período de 1973 a 2002:

Gráfico 15 - Quadro Geral de Matrículas e Conclusão de curso: 1973-2002

100 90

86

81

80 73

70

76

78

66

60

67 66

65

59 59 60 54

51

50

42 42 42

38

30

26

20

40

30

23

15 10 0

7 6 5 6 4 4 3 3 1 3 0 0 0 2 0 0 1973

1975

54

49

43

40

67

58 59

1977

1979

1981

1983

1985

1987

matrícula

10

12 5 4 5 6

1989

1991

0

1993

7 4 3 5 1995

1997

9

1999

6 4 5 2001

conclusão

Gráfico construído a partir de dados obtidos na Secretaria da Faculdade Teológica Batista de São Paulo em 2004.

Observou-se pela análise dos dados que a relação entre o número de matrículas e o de concluintes era muito desigual, com uma alta porcentagem de evasão. Os fatores determinantes nessa situação podem ter sido motivados pela incongruência entre o estilo musical praticado no curso e aquele que foi sendo aos poucos implantado nas igrejas, influenciado pela música veiculada na mídia, pelo não reconhecimento do curso junto ao Ministério de Educação e pelo preço elevado

123

para um curso que não habilita o formado ao mercado de trabalho nas escolas seculares.

124

CONSIDERAÇÕES FINAIS

125

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos que o objetivo principal do curso de Bacharelado em Música Sacra tem sido a formação de pessoas vocacionadas para o trabalho musical realizado nas igrejas evangélicas, especialmente nos momentos de culto. A questão da liturgia do culto é delicada, pois além de ser o cerne do serviço religioso, é também uma questão cultural, ou seja, um conjunto de práticas consagradas pelo uso e que têm um caráter simbólico. Estudando o culto cristão, Shedd afirma que “a adoração pode ser definida como a resposta de celebração a tudo que Deus tem feito, está fazendo e promete fazer”. Assim, “a maneira como uma igreja adora reflete a teologia da comunidade” e, portanto, sua maneira de relacionar-se coletivamente com o sagrado. (SHEDD, 1987, p. 9, 14). Sabe-se que a emoção pode ser expressa nas celebrações religiosas principalmente por meio de canções, danças e orações. Dessa forma, a música utilizada no culto atua como elemento de comunhão com o sagrado e também entre os fiéis e, ao mesmo tempo, serve para estabelecer e conservar a identidade do grupo. Assim, podemos dizer que o tipo de música utilizado e o teor de suas letras não apenas identifica a comunidade religiosa do ponto de vista teológico e doutrinário, mas é também um fator decisivo na definição do estilo de culto adotado.

126

Refletindo sobre as relações entre religiosidade e comportamentos sociais, a socióloga Maria das Dores Campos Machado afirma que a constituição de grupos religiosos que privilegiam o elemento emocional e as formas não verbais de expressão constituem uma “consumação emocional da secularização” em curso na própria esfera religiosa. (MACHADO, 1996, p.15). Assim, no plano social, a formação dessas comunidades ou a adequação de outras a esse estilo, representaria uma espécie de “adaptação das religiões ao mundo contemporâneo”. Essa pesquisadora identifica alguns pontos de afinidades entre essas comunidades, que privilegiam os elementos emocionais em seus momentos de culto, e a cultura moderna na insistência quanto ao direito da subjetividade nas questões religiosas, na primazia da realização emocional dos indivíduos e na ênfase nas vantagens pessoais e interpessoais da atividade na comunidade. (MACHADO, 1996, p. 23). Afirma ela que o discurso teológico cria uma intermediação lógica entre as diversas camadas sociais e uma “divisão de papéis que marginalizam os fiéis em relação ao sagrado. Altamente racionalizadas, essas religiões [tradicionais] tendem a perder seus adeptos para as formas de religiosidade em que a crença e o ritual favorecem canais de acesso ao sagrado sob a forma de misticismo e êxtase”. (MACHADO, 1996, p. 27). Estudando sobre a vida religiosa e as atividades concernentes a ela, Schelley comenta que, no último quarto do século XX, a penetração da televisão originou uma tendência para o individualismo e, talvez, a característica mais surpreendente da vida religiosa nessa era do individualismo seja a falta de comprometimento com a denominação e a própria igreja. (SCHELLEY, 2004, p. 524). Isso significa que, nessa adaptação à modernidade, vários itens do comportamento cultual foram

127

sendo revistos e modificados, como a valorização e expressão dos sentimentos individuais, mesmo em momentos de culto coletivo. Dessa forma, o estilo de culto parece estar passando por mudanças, não apenas em relação à música, mas também quanto ao estilo de pregação e à temática utilizada mais constantemente, como nos momentos em que o líder do culto apresenta um comportamento semelhante ao que é observado em certos shows de televisão, proporcionando aos fiéis um ambiente descontraído. Vê-se, então, que as mudanças surgidas paulatinamente nos cultos evangélicos, em função das transformações sociais e culturais, parecem requerer revisão de posturas também por parte dos pastores e líderes. Sabe-se que o comportamento do freqüentador dos cultos pode impor certas pressões ao fazer musical, como, por exemplo, a prática de cantos segundo o estilo musical em voga na mídia. Por outro lado, pode haver, por parte dos pastores e líderes, uma resistência a essa prática a fim de que não haja mudanças na estrutura estabelecida, seja ela musical ou cultual. A tensão assim gerada entre liderança e fiéis (principalmente a camada mais jovem) requer uma atitude mais clara quanto aos objetivos do trabalho musical nas igrejas e também conhecimento e aceitação das necessidades da congregação. Se as igrejas são freqüentadas por pessoas que vivem em sociedade, como seria possível o serviço religioso e a experiência de culto ficarem afastados dessa avalanche da comunicação? O curso de Bacharelado em Música Sacra, que historicamente tem tido por objetivo preparar líderes para o trabalho musical nas igrejas, enfatizou sempre a área de Performance, e privilegiou uma formação mais acadêmica voltada à música sacra tradicional. Dr. Fred Spann, irmão do iniciador do curso em São Paulo, Ed Spann, afirmou que “a formação educacional, cultural e musical da maioria dos

128

músicos educados nas instituições da Igreja Batista do Sul dos Estados Unidos compreende uma grande dose de conhecimentos e experiência da música do passado. Foi incutida neles a reverência pela expressão musical litúrgica tradicional como o tipo mais elevado de obra musical”. (SPANN, 1977, p.13). Vimos, entretanto, pela análise dos relatórios estudados, que as igrejas batistas do Estado de São Paulo não têm apreciado unicamente esse estilo musical, mas têm valorizado também outras manifestações, como a dos grupos de jovens, que utilizavam guitarra e bateria desde a década de 1970, conforme relatado por Cole. Essa atitude de “reverência” à música tradicional, que se tem perpetuado, sem admitir apreciação por outros estilos de música, pode estar afastando os alunos do curso de Música Sacra, visto que as igrejas têm manifestado não apenas sua preferência pela música sacra contemporânea, mas também um certo afastamento dos hinos congregacionais constantes nos hinários, e uma diminuição da presença dos coros entoando antemas dominicalmente. Inferiu-se, então, que o perfil de músico acadêmico, que emerge da análise curricular, não se aplica totalmente às características das atividades musicais realizadas nas igrejas evangélicas da atualidade, notadamente as batistas, sendo necessário um novo olhar para essa questão. Vimos que as igrejas batistas têm apresentado mudanças em seu comportamento cultual, em vários aspectos, como temática de pregação, ambiente, estilo musical e gestual nos momentos de cântico; no entanto, o curso de Música Sacra tem perseverado em manter sua estrutura através dos anos; por isso, é importante que tais mudanças sejam levadas em conta nesse processo de reavaliação do programa curricular do curso de Bacharelado em

129

Música

Sacra,

contemplando

também

a

música

sacra

de

caráter

mais

contemporâneo e popular. Observamos que os alunos atuais do curso de Música Sacra pertencem a igrejas de estilo misto de culto, o que significa que elas, embora mantenham aspectos tradicionais, cultivam outros, que são característicos do estilo Louvor e Adoração, como os grupos de louvor e o uso maciço de instrumentos eletrônicos. Qual será hoje, a capacidade e habilidade desses alunos graduados dentro do enfoque da música sacra tradicional de se enquadrarem aos desafios de um novo tipo de música sacra e de culto? Não seria necessário que o curso permitisse ao aluno aprender, vivenciar e criar outros estilos musicais que conviessem às necessidades das igrejas hoje? Observou-se, pela análise das atas e documentos, que houve uma inquietação latente por parte do Corpo Docente, em relação ao quadro de mudanças no culto observado nas igrejas e o quadro de evasão no próprio curso. Porém as alterações feitas não podem ser consideradas modificações profundas, talvez porque o padrão do passado parecesse mais confortável e as mudanças exigissem grandes esforços. Na verdade, não se percebe, nos textos dos relatórios e atas, nem mesmo uma ponta de preocupação com o fato de que o aluno poderia não ter recursos financeiros para cursar as aulas práticas, que sempre foram pagas separadamente. O que não se poderia dizer, então, a respeito da escolha do conteúdo de tais aulas e sua relação com os cultos nas igrejas onde esses alunos atuam? A pesquisa feita entre o corpo discente do curso de Música Sacra da Faculdade Teológica Batista de São Paulo revelou que a maioria provém de igrejas de porte médio (43% pertencem a igrejas acima de 250 membros). Sabe-se que as

130

aulas de música têm sido, através do tempo, uma atividade constante entre os evangélicos; desde 16 de setembro de 1863, no Rio de Janeiro, Sarah Kalley iniciou uma classe de música, que funcionava às quartas-feiras, antes do culto noturno. Essa atividade despertou interesse também nos jovens, que manifestaram desejo de aprender música e, foi criada em 1866, nova classe para atendê-los. Segundo Braga, essa tradição de aulas de música foi mantida até a década de 1960. (BRAGA, s/d, p.112). Hoje, entretanto, é dentro de um contexto onde a tecnologia e a globalização criam novos parâmetros de pensamento e comportamento que as aulas de música são apontadas como atividades essenciais à igreja. Como poderia então, o Ministro de Música dedicar-se primordialmente à performance, sem se preocupar com a formação de músicos para atuarem nos cultos? Vimos que, segundo o documento Fundamentos da Música Sacra para as Igrejas Batistas do Brasil, a função primordial da música na igreja, entre os batistas, é a adoração a Deus. Observamos, entretanto, que nestes últimos anos, a tendência ao individualismo tem crescido fortemente, o que pode estar levando os fiéis, especialmente os mais jovens, não somente a apreciarem a música divulgada pela mídia, mas também a quererem praticar pessoalmente essa música nos momentos de culto e não apenas ouvi-la. Todos esses dados levam a inferir, à luz das reflexões feitas sobre as necessidades humanas apontadas pelo documento Fundamentos da Música Sacra das Igrejas Batistas do Brasil, bem como de todos os outros documentos, que o enfoque do curso de Bacharelado em Música Sacra, conquanto seja hoje voltado à performance, já que os alunos, ao final do curso devem preparar um recital de Formatura que privilegia grandemente a música sacra tradicional, poderia ser mais voltado à Educação Musical e Ministerial. Assim, nesse curso, poderiam ser

131

preparados educadores musicais aptos para atuarem no contexto eclesiástico atual das igrejas evangélicas. Daí a importância de se formarem ministros com capacitação musical e pedagógica para que, atendendo às necessidades das igrejas, estejam ao mesmo tempo contribuindo para o desenvolvimento musical e cultural da comunidade em que se inserem, refletindo, projetando-se à frente e propondo novas tendências. Observou-se, pela análise da pesquisa feita entre os alunos, que estes apontaram a necessidade de estudar música de maneira a poderem trabalhar em suas igrejas, suprindo suas necessidades, que, a nosso ver, foram as mesmas expressas no documento Fundamentos da Música Sacra para as Igrejas Batistas do Brasil (OLIVEIRA FILHO et al., 1986). Observou-se também que, no documento supra citado, as necessidades mencionadas em primeiro lugar não foram as espirituais, mas as sociais, o que pode ser um indício de que desde a década de 1980, o coletivo acabava sendo priorizado, demonstrando a importância dada à reunião dos fiéis nos momentos de culto. Sabemos que a congregação pode exercer algumas pressões sobre a escolha do repertório nos cultos, pois o estilo musical de uma igreja, associado com a sua identidade, e, em dependência da comunidade em que se insere, poderá ser mais popular, emocional ou austero. É preciso considerar também que as igrejas são agremiações livres de pessoas e, dependendo do bairro em que cada uma estiver inserida, poderá haver um número maior de indivíduos de determinada condição social, grau de instrução e mais propenso à apreciação de determinados estilos musicais, o que torna bastante complexa essa busca de um perfil único para o músico de igreja e conseqüentemente para o aluno de Música Sacra.

132

É por isso que se acredita que o curso poderia não apenas privilegiar vários estilos musicais, como também incentivar o aluno a não ficar apegado a um único estilo de sua preferência pessoal. De qualquer modo, esse Ministro de Música precisa estar preparado para, nessa adequação da religião à modernidade, ser capaz de adaptar o mundo sonoro em que se trabalha, em todos os seus quesitos, especialmente no que se refere “à insistência no direito da subjetividade e à primazia da realização emocional”. (MACHADO, 1996, p. 23). Por isso, o Ministro de Música, para estar preparado para atuar na atual diversidade musical, poderia ter em sua formação básica a marca da Educação Musical. A ênfase na formação pedagógica poderá prepará-lo melhor para atuar com mais flexibilidade e maleabilidade diante das diferentes situações musicais, e, ao mesmo tempo, contribuir para enfatizar os aspectos criativos da prática musical e assim abrir novos horizontes para a música sacra no Brasil. Por isso, este estudo conclui, parcialmente, que o curso atenderia melhor às necessidades das igrejas, se, além de trabalhar com estilos diversificados de música sacra, permitisse ao aluno vivenciar e experienciar o papel de educador musical, na concepção mais profunda e abrangente do termo. Assim, a estrutura do curso poderia modificar-se de Bacharelado para Licenciatura, privilegiando mais a área educacional e proporcionando aos alunos a vivência ministerial prática durante o curso, por meio de estágios. O trabalho de reestruturação do programa curricular pode ser feito em curto espaço de tempo. Basta que o Corpo Docente continue a realizar os estudos que já vêm acontecendo. Os dados indicam que o baixo índice de matrícula e a evasão escolar estão relacionados não apenas à defasagem do ensino em relação à prática musical observada nas igrejas evangélicas da atualidade, mas também a outros fatores

133

como a não regulamentação do curso junto ao Ministério de Educação e o preço elevado das mensalidades. Todavia, esses poderão ser temas para outros trabalhos de pesquisa. Em outubro de 2004, durante a XVIª Conferência Teológica da ABIBET (Associação Brasileira de Instituições Batistas de Ensino Teológico), realizada no Estado do Espírito Santo, discutiu-se sobre a viabilidade ou não da continuidade dos cursos de Bacharelado em Música Sacra oferecidos pelos Seminários e Faculdades Teológicas Batistas. Nada de mais concreto ficou assentado a esse respeito. Por isso entendemos que esse estudo de caso, embora parcial, possa trazer alguma luz a essa questão que tem provocado certa perplexidade aos envolvidos com o ensino teológico-musical e, quem sabe, servir de ponto de partida para outros estudos.

134

Referências Bibliográficas

135

Referências Bibliográficas

Assembléia da Convenção Batista Brasileira, 81., 2000, Manaus. Anais. Rio de Janeiro: Convenção Batista Brasileira, 2000.

Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 66., 1974, São Paulo. Anais. São Paulo: Junta Coordenadora da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1975.

Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 67., 1975, Bauru. Anais. Relatório da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, p. 49-54. São Paulo: Junta Coordenadora da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1975.

Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 68., 1976, Campinas. Anais. Relatório do Departamento de Música, p. 78-80. São Paulo: Junta Coordenadora da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1976.

Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 70., 1978, São Paulo. Anais. Relatório da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, p. 92-95. São Paulo: Junta Coordenadora da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1978.

Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 74., 1982, São Paulo. Anais. Relatório da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, p. 152-154. Relatório do Departamento de Música, p. 41-44. São Paulo: Junta Coordenadora da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1982.

136

Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 76., 1984, São Paulo. Anais. Relatório da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, p. 137-143. São Paulo: Junta Coordenadora da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1984.

Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 77., 1985, São Paulo. Anais. Relatório da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, p. 126-131. São Paulo: Junta Coordenadora da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1985.

Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 78., 1986, Santos. Anais. Relatório da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, p. 145-153. São Paulo: Junta Executiva da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1986.

Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 81., 1989, Americana. Anais. Relatório do Departamento de Música, p. 63-64. São Paulo: Junta Executiva da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1989.

Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 86., 1994, São Paulo. Anais. Relatório do Conselho de Música, p. 235. São Paulo: Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1994.

Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 87., 1995, Atibaia. Anais. Relatório da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, p. 218-230. Relatório do Conselho de Música, p. 97-103. São Paulo: Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1995.

Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 88., 1996, Ribeirão Preto. Anais. Relatório da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, p. 107-120. Relatório do Conselho de Música, p. 153-158. São Paulo: Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1996.

Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 89., 1997, Campinas. Anais. Relatório do Conselho de Música, p. 1-4. São Paulo: Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1997.

Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 90., 1998, São Paulo. Anais. Relatório da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, p. 5-19. Relatório do Conselho de Música, p. 1-5. São Paulo: Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1998.

137

Assembléia da Convenção Batista do Estado de São Paulo, 91., 1999, Bauru. Anais. Relatório do Conselho de Música, p. 162-165. São Paulo: Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1999.

BASDEN, P. Estilos de louvor: descubra a melhor forma de adoração para a sua igreja. Tradução. Emirson Justino. São Paulo: Mundo Cristão, 2000. Original em inglês.

BITUN, R. O neopentecostalismo e sua inserção no mercado moderno. 1996. 141 Fs. (Dissertação de Mestrado - Ciências da Religião. Instituto Metodista de Ensino Superior. São Bernardo do Campo, S. P.: 1996.

BOISSET, J. História do protestantismo. Tradução. Heloysa de Lima Dantas. Coleção saber atual. São Paulo: Difusão européia do livro, 1971. Original em francês. BRAGA, H. R. F. Música sacra evangélica no Brasil. Contribuição à sua história. Rio de Janeiro: Livraria Kosmos Editora, s/d.

BRUSCIA, K. E. Definindo musicoterapia. Tradução. Mariza Velloso Fernandez Conde. 2ª ed. Rio de Janeiro: Enelivros, 2000. Original em inglês.

CAMARGO, I. V de & FOGAÇA, J. R. Perfil batista. São Paulo: Convenção Batista do Estado de São Paulo, 1997.

CAMPOS, L. S. Teatro, templo e mercado: organização e marketing de um empreendimento neopentecostal. Petrópolis, RJ: Vozes: Simpósio Editora e Universidade Metodista de São Paulo, 1997.

CHECAN, E. C. B. M. A música evangélica e os batistas. Panorama histórico dos anos 70 e início dos anos 80, em São Paulo. 1998. 144 Fs. (Trabalho de conclusão de curso – Área de concentração Ministério da Música). – Faculdade Teológica Batista de São Paulo, 1998. DEPRESBITERIS, L. Avaliação da aprendizagem – revendo conceitos e posições. In: SOUSA, C. P. de (org) Avaliação do Rendimento Escolar. 6ª ed. Coleção Magistério: Formação e trabalho pedagógico. Campinas, S.P: Papirus, 1997. Parte I Análises da teoria da avaliação educacional, p. 51-79.

DICIONÁRIO GROVE DE MÚSICA. Edição concisa. Tradução. Eduardo Francisco Alves. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1994. Original em inglês.

138

DUNSTAN, J. L. Protestantismo. Tradução. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1964. Original em inglês.

EDWARD, J. A força do Senhor. Revista Veja, São Paulo, 3 de julho de 2002, p. 8895.

FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE SÃO PAULO. 20 Anos a serviço das igrejas servindo vocacionados. São Paulo: Faculdade Teológica Batista de São Paulo, 1977.

FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE SÃO PAULO. Atas das reuniões da Divisão de Música Sacra. São Paulo, 1988.

FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE SÃO PAULO. História, corpo docente, cursos, regimentos. São Paulo: Faculdade Teológica Batista de São Paulo, 1992.

FERREIRA, E. S. A história da ABIBET. Associação brasileira de instituições batistas de ensino teológico. Rio de Janeiro: Exodus Editora, 1996.

FORD, W. M. A música no culto. Tradução. Edio de Macedo. In ICHTER, B. H. (org.). A música e seu uso nas igrejas. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1977, p. 11- 20. Original em inglês.

HUSTAD, D. P. Jubilate! A música na igreja. Trad. Adiel Almeida de Oliveira. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1986. Original em inglês.

GRAHAM, W. F. Jesus e a geração jovem. 5ª edição. Tradução. Amantino Adorno Vassão. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1978. Original em inglês.

JUSTINO, E. Os estilos de culto no Brasil. Capítulo especial. In BASDEN, P. Estilos de louvor: descubra a melhor forma de adoração para a sua igreja. Tradução. Emirson Justino. São Paulo: Mundo Cristão, 2000, p. 157-178. Original em inglês.

KEITH, E. D. Hinódia cristã. Tradução. Bennie M. Oliver. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, s/d. original em inglês.

139

KEMP, A. E. (org.) Introdução à investigação em Educação Musical. Tradução. Ilda Alves Ferreira e Fernanda Magno Prim. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995. Original em inglês.

MACHADO. J. N. A contribuição batista para a educação brasileira. Rio de Janeiro: JUERP, 1994.

MACHADO, M. das D. C. Carismáticos e pentecostais: adesão religiosa na esfera familiar. Campinas, SP: Autores Associados; São Paulo: ANPOCS, 1996.

NASSAU, R. de (org). Dicionário de música evangélica. Brasília, edição do autor, 1994.

MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo; Companhia Melhoramentos, 1998.

O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA, v. II. São Paulo: Edições Vida Nova, s/d.

OLIVEIRA FILHO, M. et al. Fundamentos da música sacra da igrejas batistas do Brasil. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira, 1986.

PASSERINI, L. A juventude, metáfora da mudança social. Dois debates sobre os jovens: a Itália fascista e os Estados Unidos da década de 1950. In História dos jovens v. 2. A época contemporânea. Tradução. Paulo Neves, Nilson Moulin, Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. Original em italiano.

PEREIRA, J. R. Breve história dos batistas, 3ª ed. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1987.

PRICE, D. A implantação das Assembléias de Deus no Brasil e dos Batistas brasileiros: um contraste entre dois modelos missionários. Teológica, São Paulo, ano 3, nº 4, p. 36-52, 2001.

SANCHES, J. de O. Ortodoxia Batista.1ª ed. São Paulo: Livraria Reencontro, 1986.

SCHAFER, R. M. A afinação do mundo. Tradução. Marisa Trench Fonterrada. São Paulo: Editora UNESP, 2001. Original em inglês.

140

SCHELLEY, B. L. História do cristianismo ao alcance de todos: uma narrativa do desenvolvimento da Igreja Cristã através dos séculos. Tradução. Vivian Nunes do Amaral. São Paulo: Shedd Publicações, 2004. Original em inglês.

SHEDD, R. P. Adoração bíblica. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1987.

SPANN, J. F. A influência da música popular na música sacra contemporânea. Simpósio, ano X, n. 16, dezembro de 1977. São Paulo: Associação de Seminários Teológicos Evangélicos.

WALKER, W. História da igreja cristã, v.2. Tradução. N. Duval da Silva. São Paulo: Associação de seminários teológicos evangélicos, 1967. Original em inglês.

141

LEITURAS COMPLEMENTARES

BAGGIO, S. Revolução na música gospel: um avivamento musical em nossos dias. São Paulo: Exodus, 1997.

BENENZON. R. Teoria da musicoterapia - contribuição ao conhecimento do contexto não-verbal. Tradução. Ana Scheila M. de Uricoechea. São Paulo: Summus, 1988. Original em língua espanhola.

GAINZA, V. H. de Estudos de Psicopedagogia Musical. Tradução. Beatriz A. Cannabrava. São Paulo: Summus, 1988. Original em língua espanhola.

MOTA, C. G. Ideologia da cultura brasileira, 1933-1974. 6ª ed. São Paulo: Editora Ática, 1990.

TINHORÃO, J. R. Pequena história da música popular (da modinha à canção de protesto). 2ª ed. Petrópolis, R.J., Editora Vozes, 1975.

142

ANEXO A Fundamentos da Música Sacra para as Igrejas Batistas do Brasil (OLIVEIRA FILHO, et.al., 1986)

143

144

145

146

147

148

149

150

151

152

153

154

155

156

157

158

159

ANEXO B

Pesquisa Perfil Batista. (CAMARGO E FOGAÇA, 1997)

160

161

162

163

164

165

166

167

168

169

170

171

172

173

174

175

176

177

178

179

180

181

182

183

184

185

186

187

188

189

190

191

192

193

194

195

196

197

198

199

200

ANEXO C

FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE SÃO PAULO INVENTÁRIO – Alunos de Música Sacra

201

FACULDADE TEOLÓGICA BATISTA DE SÃO PAULO INVENTÁRIO - ALUNOS DE MÚSICA SACRA - Abril de2004

Informações pessoais

Escolaridade: Ensino Médio

Igreja

Conhecimento musical

Experiência musical

Estado civil Casado (a) Solteiro (a) Você trabalha e estuda Salário : até R$ 300,00 até R$ 500,00 até R$ 800,00 até R$1 500,00 mais de R$1 500,00 Só estuda Idade: entre 20 e 25 entre 25 e 30 acima de SOanos Tipo de escola: Particular Pública Período: Diurno Noturno Tipo de curso: Regular Supletivo Localização Zona Norte Zona Sul Zona Oeste Zona Leste Culto Tradicional Contemporâneo Misto Perfil da Igreja: até 50 membros de 50 a1 50 membros de 150 a 200 membros acima de 250 membros Estudou música: Conservatório Professor particular Auto didata Ensino Superior Canta no coro na banda solos 1° contato musical: na infância na adolescência na fase adulta Rege Coro Banda Conjunto Toca instrumento ? Desde quando: infância adolescência juventude

Viúvo (a) Divorciado (a)

Outro Sim

Não

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.