Elogio da incerteza. Três reflexões a partir dos Jogos Olímpicos

May 30, 2017 | Autor: Eduardo Galak | Categoria: Brazil, Educación, Brasil, Deportes, Esportes, Mídia, Juegos Olímpicos, Mídia, Juegos Olímpicos
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O PROJETO – APRESENTAÇÃO – EDIÇÃO ATUAL – EDIÇÕES ANTERIORES – INSTRUÇÕES AOS COLABORADORES ­ CONTATO

Ano 4 ­ Nº 134 / sexta­feira, 02 de setembro de 2016 

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"Pensar a Educação em Pauta"

O  "Pensar  a  Educação  em Pauta"  é  um  informativo semanal,  publicado  as sextas  feiras,  que  divulga as  principais  notícias, artigos  de  opinião  e reportagens  veiculadas  na mídia  sobre  a  educação. Ele  tem  como  público  alvo

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Eduardo Galak Na  passada  semana  o  meu  querido  amigo  Ivan  Gomes  me  pediu  algumas reflexões  sobre  a  minha  experiência  no  Rio  de  Janeiro  durante  os  Jogos Olímpicos, que ocorreram em agosto passado. A intenção dele era compartilhar diferentes  olhares  sobre  esse  evento  com  seus  alunos  da  graduação  em Educação Física da Universidade Federal do Espírito Santo. Mais do que “Pensar a Educação”, a minha intenção publicando estas palavras neste jornal é “Pensar o Brasil” e a sua complexa e contraditória sociedade.   1)  A  primeira  coisa  que  destaco  foram  as  manifestações  de  segurança,  numa imagem exuberante de uma cidade conhecida internacionalmente pela violência. Por um momento, numa explicitação parecida à pornografia, o show das armas bélicas e de militares vestidos para a guerra dava uma sensação de segurança para “os gringos”, mas completamente alheia a nossa cotidianidade. Além disso, esse  exagero  contrasta  o  lema  dos  Jogos  de  “um  novo  mundo”  com  a  cor escura  da  nossa  história  latino­americana  que  não  se  esquece  dos  anos  de chumbo. Posso dizer que não vi tantas armas, nem aquela cor verde militar, em nenhum dos  40  países  que  conheci  na  minha  vida,  com  exceção  de  Israel.  É  preciso dizer  que  as  sociedades  do  Oriente  Médio  coexistem  cotidianamente  com  o perigo  de  atentados  e  respostas  militares,  mas  não  superam  os  mortos  que  o Rio de Janeiro sozinho tem diariamente.   2)  Quando  os  Jogos  foram  inaugurados,  Thomas  Bach  (atual  presidente  do Comitê  Olímpico  Internacional)  pronunciou  uma  frase  que  não  demorou  a  ser questionada:  os  Jogos  foram  organizados  à  brasileira.  Após  isso,  ocorreram explicações  que  tentavam  justificar  aquelas  palavras  como  um  elogio.  Certo  é que  o  Brasil  demonstrou  que  pode  fazer  Jogos  com  estruturas  igualmente grandiosas  aos  dos  países  “desenvolvidos”,  embora  essas  grandes  estruturas ficarão para um Brasil que não existe num futuro próximo. Apesar das críticas à Bach, é preciso dizer que os Jogos foram feitos no jeitinho brasileiro:  muitas  pessoas  envolvidas,  numa  complexa  estrutura  na  qual ninguém  sabe  muito  bem  quem  é  o  chefe  e  nem  todos  têm  todas  as informações  necessárias.  Qualquer  semelhança  com  a  realidade  política  não  é mera coincidência. Apenas  um  exemplo:  a  todo  momento,  em  todo  lugar,  qualquer  um  podia  ver nas  ruas  grupos  de  voluntários  ajudando  as  pessoas.  Ou,  dito  de  outra  forma, ajudar  era  a  intenção.  Embora  os  grupos  estivessem  organizados,  geralmente, entre  três  e  cinco  voluntários  identificados  e  com  boa  disponibilidade  em  falar em outros idiomas, nunca consegui respostas diretas a perguntas básicas como, por  exemplo,  quanto  tempo  demorava  ir  a  pé  até  os  estádios,  onde  podia comprar as passagens para ir a uma arena, ou coisas semelhantes. Apesar de estarem  parados  com  grandes  cartazes  sinalizadores  e  camisetas  com  a  frase “Posso ajudar?”.1

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estudantes,  pesquisadores, professores  e  demais pessoas  interessadas  nos acontecimentos  que envolvem  a  educação  no Brasil e no mundo.  O  "Pensar  a  Educação,  em Pauta" é uma realização do projeto  "Pensar  a Educação,  Pensar  o  Brasil 1822­2022", que articula as ações  de  ensino,  pesquisa e  extensão  em universidades  públicas brasileiras,  na  busca  de alternativas  para  se  pensar o  Brasil,  a  partir  de  uma reflexão  sistemática  sobre um  dos  grandes  desafios do  nosso  tempo:  a educação pública.

  3) Uma coisa que tem relação com meus estudos: o treinamento do olho para assistir  aos  a  Jogos.  Estamos  educados  para  assistir  os  movimentos  de  uma maneira televisiva, produzida para o espectador detrás da tela. Acho importante dizer  que  isso  eu  já  sabia  por  minha  presença  regular  nas  arenas  de  futebol, mas descobri o mesmo em outros esportes que nunca tinha assistido: handebol, vôlei  de  praia,  hóquei  de  grama,  atletismo,  entre  outras,  com  particularidades para cada caso. Quero destacar principalmente as competições de vela: além de assistir  as  provas  a  uma  distancia  longínqua,  você  tem  um  grande  telão  onde você  pode  ver  o  mesmo  que  veria  na  TV.  E  caso  você  queira  saber  o  que acontece,  é  quase  a  única  maneira  de  compreender  o  que  está  realmente ocorrendo na água. Por outro lado, também confirmei o que suspeitava: o show é produzido para a TV,  ou  então,  para  as  arquibancadas  mais  caras.  Vivi  as  constantes  trocas  de horários  das  partidas,  argumentadas  pelo  interesse  da  televisão  norte­ americana, sem possibilidade de protestar.   Por último, uma reflexão final à margem dos Jogos (ou nem tanto). Chamou­me a  atenção  uma  questão  que  achava  que  me  chamaria  a  atenção,  mas  ao contrário do que suspeitava, presenciei uma nula expressividade política. Achava que  me  encontraria  com  uma  sociedade  politizada,  que  expressaria  seu  “Fora Temer”  ou  rejeição  para  a  Dilma.  Achei  um  Brasil  fora  do  Brasil:  brasileiros passeando  pelo  Brasil,  mas  sentindo­se  no  exterior,  uma  mídia  falando  de temas  importantes  como  Bolt,  esportistas  brasileiros,  o  time  de  futebol,  as medalhas  nacionais,  as  vaias  para  “inimigos”  esportivos,  e  um  pouco  mais  de Bolt.  Finalizados  os  Jogos,  com  a  satisfação  de  ter  organizado  um  evento esportivo  impecável  ­  além  das  críticas,  do  Zika  e  da  contaminação  da  baía  da Guanabara ­ e após as merecidas comemorações, é hora de acordar do sonho, com a certeza de uma realidade de ressaca golpista. 1  Aqui  valoro  muito  a  observação  do  Ivan  Gomes  acerca  da  imagem  de “voluntários desconectados”, um dos outros e para com o evento.

  Eduardo Lautaro Galak Profesor  en  Educación  Física  (UNLP),  Magíster  en  Educación  Corporal  y  Doctor en Ciencias Sociales en la Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación (UNLP).  Becario  del  Consejo  Nacional  de  Investigaciones  Científicas  y  Técnicas (CONICET)  en  el  Instituto  de  Investigaciones  en  Humanidades  y  Ciencias Sociales (IdIHCS­FaHCE) [email protected]

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