EM BUSCA DE INTERAÇÃO NO ECOSSISTEMA MIDIÁTICO DIGITAL: estratégias das organizações jornalísticas nas mídias sociais da web

May 27, 2017 | Autor: Luciana Carvalho | Categoria: Web 2.0, Social Media, Interactive and Digital Media, Digital Ecosystems
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EM BUSCA DE INTERAÇÃO NO ECOSSISTEMA MIDIÁTICO DIGITAL: estratégias das
organizações jornalísticas nas mídias sociais da web[1]


Luciana Menezes Carvalho [2]
Eugenia Mariano da Rocha Barichello[3]



1 Uma perspectiva ecológica do jornalismo


O objetivo principal é analisar as estratégias empreendidas pelas
organizações jornalísticas visando relacionamento com os interagentes nas
mídias sociais digitais, entendidas como ambiências que possibilitam formas
distintas de interação midiatizada (MATTOS e VILLAÇA, 2012). Tais
ambiências são caracterizadas por uma lógica conversacional marcada pela
participação, o compartilhamento, a conversação propriamente dita e mesmo a
difusão de informações (BARICHELLO e CARVALHO, 2012).
A perspectiva adotada é alinhada à Ecologia dos Meios, ou Media
Ecology, escola fundada por Postman (2000) a partir dos pressupostos de
Innis e McLuhan, pelos quais os meios fundam ambientes culturais que, em
conjunto, formam um ecossistema interdependente onde ocorrem rupturas,
hibridismos, coevoluções e outros processos de adaptação (SCOLARI, 2010,
2011, 2012). Nesta proposta, o eixo a ser investigado diz respeito às
transformações que ocorrem na instituição jornalística[4] em correlação com
novos meios e ambientes no ecossistema.
2 Estratégias de interação

O jornalismo tem o relacionamento com o público entre seus pressupostos
fundamentais. No entanto, durante a vigência do modelo de comunicação
massivo, representado pela imprensa, o rádio e a televisão, a possibilidade
de se dar visibilidade midiática à interação entre as organizações
jornalísticas e a audiência limitava-se às cartas do leitor, telefonemas
para a rádio ou e-mails para a emissora de televisão.
Com a emergência do ecossistema digital, as organizações de um modo
geral passaram a valorizar estratégias, discursos e ações de promoção da
interatividade. As organizações jornalísticas têm explorado essas
estratégias desde os primórdios da web, em iniciativas que começam com a
simples troca de e-mails entre leitores e a redação (MIELNICZUK, 2003),
passando pelas seções de jornalismo participativo[5] (PRIMO e TRÄSEL, 2006;
BELOCHIO e MIELNICZUK, 2009) e, nos últimos anos, a inclusão da audiência
em coberturas nas mídias sociais digitais (CARVALHO e BARICHELLO, 2012).
Atualmente, as possibilidades de interação aproximam-se cada vez mais
da ideia de uma conversação da qual o jornalismo acaba por tomar parte,
junto com outras fontes que atuam na produção e na circulação das notícias
(PRIMO, 2011). Mas, as organizações jornalísticas estão efetivamente
dialogando com o público nestes espaços caracterizados pela socialidade[6]
e práticas interacionais? Ou permanecem atreladas ao modelo massivo de
transmissão no qual se desenvolveram desde sua origem?


3 Institucionalisade x socialidade

A hipótese principal é que a relação comunicacional a ser investigada
se dá por meio de tensionamentos entre as lógicas da institucionalidade
jornalística e da socialidade que prevalece na ambiência das mídias sociais
da web. Outra hipótese é que a conversação, em seu sentido de diálogo,
representaria o nível mais alto de interação mútua (PRIMO, 2007) nos meios
de comunicação, e o mais adequado ao ecossistema de mídia social. No
entanto, este nível não estaria sendo observado pelas organizações no
contato com os interagentes, ainda que estes utilizem os espaços
institucionais das organizações jornalísticas nas mídias sociais para
conversar entre si. O que temos observado, em pesquisas exploratórias, é
que as organizações não se integram a esses diálogos, como é o caso dos
comentários no Facebook[7], apesar de adotarem uma linguagem voltada para a
conversação em suas postagens no site de rede social.
Decorrente dessas duas primeiras, a terceira hipótese, que explicaria
as anteriores, é que as organizações jornalísticas precisariam rever as
lógicas de sua institucionalidade, marcada historicamente pelo caráter
massivo e disciplinar do jornalismo, para se adaptar à lógica de
socialidade, cujo caráter conversacional é uma de suas principais marcas.
São utilizados estudos de caso como ilustração – conforme o Grupo de
Pesquisa de Jornalismo Online (GJOL) da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal da Bahia (UFBA) – através de triangulação de técnicas
qualitativas e quantitativas, observações, entrevistas e análise de
conteúdo (MACHADO e PALACIOS, 2008). A pesquisa encontra-se em fase de
mapeamento e observação preliminar dos casos que compõem o corpus de
análise. Pretende-se contribuir para o mapeamento dos processos de
transformação pelos quais passa o jornalismo e os próprios meios de
comunicação no atual ecossistema midiático.

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[1] Trabalho apresentado no Seminário de Interação Mediada por Computador –
SIMC 2013, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, de
15 a 17 de abril de 2013.
[2] Professora no curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano
(UNIFRA), doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da
Universidade Federal de Santa Maria (POSCOM-UFSM), e-mail:
[email protected].
[3] Professora titular e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria (POSCOM-UFSM), doutora
em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e-mail:
[email protected].
[4] Utilizamos a ideia de instituição jornalística como campo ideológico,
discursivo e profissional, caracterizado por um ethos próprio, do qual
fazem parte organizações e atores sociais que à instituição se vinculam por
meio de sua ética e prática.
[5] Neste trabalho estamos nos referindo apenas às seções participativas do
jornalismo de referência, sem levarmos em conta as iniciativas
independentes de produção aberta de notícias ou de jornalismo cidadão.
[6] Nos termos de Maffesoli (2007, 2008).
[7] Site de rede social (http://www.facebook.com) com aproximadamente 1
bilhão de usuários no mundo. No Brasil, são mais de 60 milhões de usuários
(Fonte: http://www.socialbakers.com).
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