EM BUSCA DOS MORTOS DO PASSADO: CARACTERIZAÇÃO FUNERÁRIA DO CEMITÉRIO PILAR-PE

June 1, 2017 | Autor: I. Pereira de Lima | Categoria: Arqueología histórica, Arqueologia Funeraria
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA CURSO DE BACHARELADO EM ARQUEOLOGIA

EM BUSCA DOS MORTOS DO PASSADO: CARACTERIZAÇÃO FUNERÁRIA DO CEMITÉRIO PILAR-PE Izabela Pereira de Lima

Recife- PE 2016

IZABELA PEREIRA DE LIMA

EM BUSCA DOS MORTOS DO PASSADO: CARACTERIZAÇÃO FUNERÁRIA DO CEMITÉRIO PILAR-PE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao programa de Graduação em Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção de grau de Bacharel em Arqueologia Orientadora: Drª. Ana Catarina Torres Ramos

RECIFE 2016

Lima, Izabela Pereira de. Em Busca dos Mortos do Passado: caracterização funerária do cemitério Pilar- PE. / Izabela Pereira de Lima. –Recife: a autora, 2016. 117 p. il. Monografia orientada pela Profª. Drª. Ana Catarina Peregrino Ramos 1. Arqueologia Funerária. 2- Arqueologia Histórica. 3- Rituais Funerários.

A Moema e Ivan De vocês que recebi o dom mais precioso do universo: a vida. Inspiraram-me a certeza de tua presença e a segurança de teus passos guiando os meus. O carinho da tua voz, a esperança do teu sorriso, o conforto de tuas lágrimas, o brilho de teu olhar me fez tão grande quanto o teu amor por mim. Se eu pudesse te fazer eterno... eterno eu te faria. A vocês, pais, não mais que com justiça, dedico esta vitória.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao CNPq pela bolsa de iniciação cientifica dada desde 2013 até 2015, sendo esta importante para meu desenvolvimento como pesquisadora. A Fundação Seridó por disponibilizar os documentos e registros imagéticos da campanha da quadra 55, pela ajuda de Ilca com o apoio no laboratório. Agradeço ao senhor Ailson (FUNDAJ) que cuida tão bem da livraria e foi tão gentil em me presentear com um livro dos quais foram base da minha pesquisa. Agradeço a biblioteca de Leiden e seus bibliotecários por responderem tão rápidos e eficientes em atender meus e-mails, ao Arquivo Nacional de Haia, Biblioteca Nacional Francesa e a Torre do Tombo por todos os documentos cedidos. Agradeço a Drª. Judith Pollman (professora da Universidade de Leiden) que tão gentilmente cedeu material sobre rituais funerários. Agradeço ao professor Marcos Galindo e a Hans Peters (embaixador dos países baixos no Brasil) pela atenção. Agradeço a meu orientador de PIBIC pela oportunidade de crescer com a bolsa de iniciação científica. Agradeço a Josefa, do 11º andar do CFCH, e a Eveline (tia do elevador), pelos cuidados, sorrisos e ajuda em horas difíceis. Agradeço a minha orientadora, professora Ana Catarina Torres Ramos, pela atenção e apoio durante o trabalho. Agradeço ao professor Bruno Miranda, Vittorio Serafin (O zueiro), Lucia Furquim, Caio Pontual, Leonardo Dantas, J. Terto de Amorim, Christopher Sellars e Pablo Magalhães por toda a ajuda com os documentos, traduções e o conhecimento que vocês meus amigos me passaram. Peço desculpa por todo trabalho que dei, mas finalmente saiu (rsrsrs). Agradeço ao professor José Luiz Motta Menezes, a Paulo Tadeu, e a Roberto Carneiro pelos conhecimentos transmitidos. Agradeço a Ricardo Barbosa, pelos conselhos e conversas inspiradoras, foi gratificante conhecê-lo.

Agradeço a Eleonora (Nora) e Silvia pela amizade, apoio e por todos os ensinamentos passados, vocês são amigas incríveis e ótimas professoras (a doc) que eu poderia ter. Agradeço aos professores Daniela, Carlos, Neuvânia, Demétrio, Viviane, Thais, Jatobá, Sueli e Fernando Guerra por todos esses anos de ajuda, dedicação, apoio, puxões de orelha, amizade, respeito e por sempre acreditarem em meu potencial. Agradeço a meus amigos, Lula Bill, Leandro, Rosângela (Cretina), Endi, Dayse, Clara, Carolina pereira, Fernanda, Meyk, Rhaony (Samba), Ramon, Andrea Burgos, Thales, Leonardo Borges, Kimi e Alcidésio por todos os momentos únicos e engraçados, pela amizade, apoio e cuidados durante todos esses anos. Espero que nossa amizade seja para sempre. Agradeço a Matheus Bello e Leandro pela ajuda em momentos complicados. Agradeço a José Lucas e a sua namorada Natália Faria pelo tempo perdido em me ajudar. Agradeço a meu companheiro de trabalho, melhor amigo Lucas Alves, por toda dedicação, apoio e paciência nas horas de loucuras, sendo meu braço direito, meu pilar depois dos meus pais. Agradeço especialmente a minha família pela força, amor, dedicação, garra, sem vocês minha vida seria vazia e sem graça, são meu maior tesouro no mundo, são parte de mim e por vocês seria capaz de dar minha vida. Sendo os agradecimentos finais os mais importantes para minha vida. Nem sempre o que vem primeiro é o mais importante. Agradeço a Deus pela minha vida, pela oportunidade da vida que tenho, pela força na hora dos problemas e principalmente pela oportunidade de continuar a viver.

RESUMO

Entender atitudes e significados sociais a partir de um sistema de práticas funerárias, não se trata de apenas tentar identificá-los nos objetos, deve acontecer uma análise com a estrutura social em que o vestígio está inserido, tendo o cuidado de perceber que este não está estático, que existem fatores capazes de modificá-los. Tentando assim resgatar na cultural material elementos que possibilitem dar sentido e significados aos rituais de uma determinada época. Logo este trabalho surgiu da preocupação de entender as características sociais e religiosas dos indivíduos que estão inumados no sítio arqueológico Pilar- Bairro do Recife - Recife – PE. Tem como objetivo fundamental identificar os rituais funerários empregados, utilizando as análises imagéticas dos remanescentes humanos, que trarão a tona informações sobre a sociedade que realizou os enterramentos, produzindo dados que sejam suficientes para categorizar o sítio como um cemitério histórico, através da utilização dos métodos da Arqueologia da Morte, da Arqueologia Histórica da compilação bibliográfico e das analises dos sepultamentos através de seu registro imagético.

Palavras chaves: Arqueologia Funerária- Arqueologia Histórica- Rituais Funerária

ABSTRACT

Understanding attitudes and social meanings from a funerary practices system, we are not just trying to identify them on objects, should happen an analysis to the social structure in which the trace is set, taking care to see that this is not static, there are factors able to modify them. Thus trying to rescue the cultural material elements enabling it to make sense and meaning to the rituals of a particular era. Therefore, this paper has risen from the concern about understanding the social and religious characteristics of individuals that are interred at the archaeological site Pilar – Bairro do Recife – Recife – PE. Its main purpose is to identify which were the funeral rituals used there, by using analysis from five of the remaining humans, which will bring information to light about the society that made these buries, making enough data to classify this site as a historic cemetery, through the use of some methods like the Archaeology of Death, bibliographic compilation and burial analysis.

Keywords: Funerary Archaeology – Historical Archaeology – Funeral Rites

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Esqueletos descobertos em vala comum .............................................................. 19 Figura 2: Detalhe do mapa “Vray pourtraict de la situation de Parnambuc”..................... 34 Figura 3: Detalhe do Mapa “Perfecte caerte der gelegentheyt van Olinda de Pharnambuco, Maurits-Stadt ende t'Reiffo” ................................................................................................ 35 Figura 4: Quadro de Gillis Peeters intitulado “Vista Panorâmica do Recife” ..................... 36 Figura 5: Detalhe do Quadro de Gillis Peeters intitulado “Vista Panorâmica do Recife” .. 36 Figura 6: Mapa da Evolução Urbana do Recife .................................................................. 37 Figura 7: Detalhe do mapa de Cornelis Golijath ”Afbeeldinge van drie Steden in Brasil als Olinda de Phernambuco, Maurits Stadt, ende Reciffo(...)” ................................................ 37 Figura 8: Hospital dentro da capital da Holanda. ................................................................ 43 Figura 9: O hospital. ............................................................................................................ 43 Figura 10: Mapa do Recife. ................................................................................................. 46 Figura 11: Parte do mapa do Recife. ................................................................................... 47 Figura 12: Detalhe do folheto “Braslys Schuyt-Praetjen” .................................................. 49 Figura 13: Trecho do folheto “Braslys Schuyt-Praetjen” ................................................... 51 Figura 14: Mapa das cidades dos Países Baixos.................................................................. 54 Figura 15: Pólos de revitalização do Bairro do Recife. ....................................................... 59 Figura 16: Área de Intervenção. .......................................................................................... 60 Figura 17: Continuação do conjunto de sepultamentos. ...................................................... 61 Figura 18: Croqui com localização dos sepultamentos ....................................................... 62 Figura 19: Conjunto de sepultamento.................................................................................. 63 Figura 20: Características do crânio .................................................................................... 64 Figura 21: Erupção dentária ................................................................................................ 65 Figura 22: Tabela de desgaste dentário ............................................................................... 66 Figura 23: Enterramento do sítio pré-histórico Pedra do Alexandre. .................................. 68 Figura 24: Enterramento do sítio pré-histórico Toca do Paraguaio- PI. .............................. 68 Figura 25: Enterramento da Toca do Paraguaio-PI ............................................................. 69 Figura 26: Enterramentos do sítio pré-histórico Furna do Estrago ..................................... 70 Figura 27: Enterramento do Monte dos Guararapes. ........................................................... 71 Figura 28: Enterramento judeu e do Pilar- PE..................................................................... 75 Figura 29: Enterramento do Monte dos Guararapes- PE e do Pilar- PE ............................. 76 Figura 30: Croqui do cemitério de Chareton ....................................................................... 77 Figura 31: Croqui ................................................................................................................ 78 Figura 32: Enterramento de Beacon Island. ........................................................................ 79 Figura 33: Disposições dos membros. ................................................................................. 81 Figura 34: Disposições de membros diferentes. .................................................................. 81 Figura 35: Semelhanças na disposição dos membros.......................................................... 82 Figura 36: Outras semelhanças na disposição dos membros............................................... 83 Figura 37: Semelhanças na disposição dos membros.......................................................... 83 Figura 38: Distinções entre um sítio cemitério e uma vala comum .................................... 86 Figura 39: Relação vertical entre sepultamentos e estruturas construtivas ......................... 88 Figura 40: Diferença estratigráfica. ..................................................................................... 88 Figura 41: Dimensões de um tijolo holandês de frísia ........................................................ 89

Figura 42: Objeto metálico .................................................................................................. 90 Figura 43: Fome e epidemia em Leiden no século XVII...................................................116 Figura 44: Enterro Barroco.................................................................................................117

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Origem geográfica dos militares......................................................................... 38 Tabela 2: Tabela das faixas etárias ...................................................................................... 39 Tabela 3: Tabela de pessoas ligadas ao hospital. ................................................................ 45 Tabela 4: Tabela dos tipos de doenças ................................................................................ 55 Tabela 5: Tabela das epidemias e doenças ........................................................................ 109 Tabela 6: Tabela da localização dos hospitais. .................................................................. 113 Tabela 7: Localização de igrejas e cemitérios ................................................................... 114

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 13 CAPÍTULO I: APORTE TEÓRICO................................................................................... 17 1.1 Cemitério: lugar de memória ...................................................................................... 17 1.2 O Cemitério como patrimônio .................................................................................... 21 1.3 As diferentes formas de enfrentar a morte ................................................................. 22 1.4 Os tipos de enterros e estudos de caso do século XVII .............................................. 25 1.4.1 O enterro Judaico .................................................................................... 26 1.4.2 O enterro Católico................................................................................... 28 1.4.3 O enterro Calvinista ................................................................................ 31 CAPÍTULO II: O RECIFE NO SÉCULO XVII- A OCUPAÇÃO DO ISTMO ............. 33 2.1 O Istmo ................................................................................................................. 33 2.2 O Recife do século XVII ...................................................................................... 39 2.3 Forte de São Jorge e o Hospital do Recife ........................................................... 42 CAPÍTULO III: O ESPAÇO FUNERÁRIO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO PILAR ... 59 3.1 O sítio Pilar- PE ................................................................................................. 60 3.2 A Análise dos dados .......................................................................................... 65 3.3 Os Aspectos culturais ....................................................................................... 68 CAPÍTULO IV: RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................ 74 4.1 Resultados .......................................................................................................... 75 4.2 Discussões .......................................................................................................... 93 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 98 ANEXOS ................................................................................................................................ 110

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INTRODUÇÃO

A palavra patrimônio esteve sempre associada ou à noção do sagrado, ou à noção de herança, de memória dos indivíduos e dos bens de família (SANTOS 2001). O Patrimônio é uma idéia comum a todos os grupos sociais, sendo este definidor de sua identidade e assim tornando-se merecedor de proteção. As ações para proteção do patrimônio cultural nascem no final do século XVIII, com a visão moderna de história e de cidade (BABELON e CHASTEL, 1994 apud SANTOS, 2001, p. 43). A abordagem do patrimônio cultural está relacionada com a retomada da própria definição antropológica da cultura como “tudo o que caracteriza uma população humana” ou como “o conjunto de modos de ser, viver, pensar e falar de uma dada formação social” (SANTOS 1999). Santos (1999: 8), diz que cada expressão cultural tem sua lógica interna, que devemos procurar entender suas práticas, costumes e concepções. Assim estas transformações terão sentido quando tentarmos compará-las com as variedades de procedimentos culturais que existem nos contextos em que são produzidos. “O patrimônio arqueológico é aquela parte do material arqueológico a partir da qual os métodos arqueológicos proporcionam informação primária. Ele compreende todos os vestígios da existência humana e consiste em sítios relacionados com todas as manifestações da atividade humana, estruturas abandonadas, e vestígios de todos os tipos (incluindo sítios subterrâneos e subaquáticos), bem como todos os materiais culturais transportáveis que lhes estão associados” (ICOMOS, 1990) Motta (2009: 18) aponta que entender os significados sociais a partir dos artefatos encontrados com os sepultamentos em um sítio arqueológico ou em um cemitério moderno, possibilita encontrar nesses vestígios sentidos e significados que trazem uma linguagem social sobre determinada época e povo. Permitindo entender e identificar em um sentindo mais amplo características sobre a dinâmica de sua cultura e de sua sociedade. “Existe nos cemitérios a guarda desses significados que são a identidade de um povo e este é um patrimônio arqueológico por que se tornam um local de proteção, trazendo as gerações futuras essa características identitárias” (NORA 1993 Apud GONÇALVES, 2012, P. 29-30).

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Nora (1993 Apud GONÇALVES, 2012, P. 35), afirma que falar sobre memória e identidade de um determinado grupo social, faz com que possamos entender o significado que está intrínseco nos cemitérios, isto é, o significado onde a “memória se cristaliza e refugia”. Esses espaços podem ser compreendidos como sendo aqueles que guardam a memória de um povo e de um indivíduo seja ele morto ou vivo. Sendo eles construídos para preservar suas histórias, se tornando um local onde se recusa esquecer toda e qualquer cultura (NOGUEIRA, 2013: 28). Na década de 2000 foi implantado no Bairro do Recife o Projeto de Requalificação Urbanística do Pilar, com a finalidade de reurbanizar o local visando instituir a valorização do patrimônio e melhorar as condições de vida da população que ali vivia. Estando esta área em Zona de Proteção Histórica, de acordo com a Resolução CONAMA nº 001/86, de 23/01/86, foi necessária a realização de um trabalho de salvamento arqueológico com o intuito de salvaguardar o patrimônio histórico e arqueológico presente, tendo a Fundação Seridó- UFPE como empresa responsável. Nas escavações foram evidenciadas estruturas de casas antigas, que as análises construtivas e historiográficas indicaram ser do século XVII. A surpresa foi quando foram evidenciados remanescentes humanos logo abaixo dessas estruturas, sendo encontrados até a última campanha arqueológica, 80 esqueletos. Desse total apenas 24 foram retirados e analisados, até o momento. Todos os remanescentes estavam inumados em uma deposição primária, alguns em covas individuais, e outras com dois indivíduos, estando em decúbito dorsal estendido, isto é, deitados de costas com os membros inferiores alongados. Não apresentavam enxoval funerário, com os eixos crânio pelves dispostos na direção Oeste-Leste, com os pés voltados para o mar e a cabeça para o continente. Com a descoberta desses esqueletos surgiu o seguinte questionamento: Através da análise das práticas funerárias dos indivíduos inumados pode-se categorizar o sítio Pilar- PE como um cemitério? Com base na bibliografia de referência sobre cemitérios, da análise de rituais funerários, da disposição dos corpos e da relação entre eles, acredita-se que, os remanescentes ósseos encontrados no local em estudo podem enquadrar o sítio na categoria de cemitério.

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Assim, o objetivo geral desta pesquisa é identificar os parâmetros que definem um cemitério, além das várias formas de sepultar nas principais manifestações religiosas existentes, e da pesquisa histórica e iconográfica sobre o local de estudo. Tendo como base um contexto sistêmico1 buscaram-se as variáveis que dizem respeito às práticas funerárias de remanescentes ósseos, que categorizam um sítio arqueológico como um cemitério, assim como a análise dos tipos de inumação existentes nas principais manifestações religiosas do mundo, buscando formas específicas da prática de sepultar, em cada uma delas. A análise historiográfica e iconográfica da área onde se localiza o objeto de estudo deste trabalho forneceu informações que permitiram situar historiográfica e fisicamente os remanescentes ósseos encontrados. A análise dos dados, através da consulta dos relatórios das pesquisas arqueológicas realizadas no local, forneceu as informações necessárias à categorização dos remanescentes encontrados, situando-os em relação aos estudos realizados. Como, por exemplo, os estudos osteobiológicos realizados no Pilar. Esses tipos de dados informam sobre as probabilidades de eventos sofridos por um indivíduo durante o seu tempo de vida em curta ou longa duração, uma história demográfica, epidemiológica e cultural de uma população do passado. Assim o capítulo I deste trabalho, tratou das informações trazidas por diversos autores sobre o tema morte, sobre a questão arqueológica e a discussão sobre o que caracteriza um cemitério. O capítulo II tem como objeto de estudo a área onde está localizado o sítio Pilar. Aqui foram discutidos os dados sobre o contexto histórico e as descobertas arqueológicas. O capítulo III aborda as análises realizadas sobre os remanescentes ósseos do Pilar em seus aspectos biológicos e culturais. No capitulo IV temos uma análise sucinta dos resultados encontrados através observação do registro imagético do sítio tanto dos sepultamentos como dos materiais encontrados no cemitério. Além disso, temos um breve apontamento sobre possíveis marcadores cronológicos e por fim as discussões sobre toda a pesquisa.

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Dantas (2014) diz que “O pensamento sistêmico é uma nova forma de abordagem que compreende o desenvolvimento humano sobre a perspectiva da complexidade, para percebê-lo, a abordagem sistêmica lança seu olhar não somente para o indivíduo isoladamente, considera também seu contexto e as relações ali estabelecidas.”

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A morte é um tabu desde o início da humanidade, um mistério que envolve todos os seres desde a criação, se há vida, há morte, sendo o antagonismo básico da criação após o ser humano ter comido o fruto proibido no reino de Deus, sendo esta uma visão religiosa. Na perspectiva científica a morte é o final da maquina humana, do funcionamento básico dos órgãos e organelas, o fim da existência. Surge daí o mistério, por que a criação dos rituais fúnebres, de onde surgiram, por que motivo, ações que levaram a evoluir em um estado que hoje conhecemos, em diferentes lugares, cada qual a sua maneira, a sua “imagem e semelhança” tão humana. Assim a Arqueologia tem como preocupação fundamental estudar os bens materiais que o ser humano deixou, tentando através destes, entender os caminhos que levaram à humanidade as relações presentes e as que levam ao futuro, tendo assim estes como um todo e também dividido em nações, sociedades e grupos.

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CAPÍTULO I- APORTE TEÓRICO Nada mais misterioso que um cemitério e seus mortos. A maneira como foram enterrados nos dá idéia de como cada cultura lida com a morte e como se relacionam com o mundo dos mortos. Então qual o motivo para a criação dos rituais fúnebres, de onde surgiram que ações os levaram a evoluir em um estado que hoje conhecemos, em diferentes lugares, cada qual a sua maneira, sendo de acordo com a sua cultura, tão humana e diversa. A noção destes rituais se inseriu em algo mais amplo que foi a tentativa de estabelecer formas de ler e entender as atitudes e significados sociais que estão contidos nos rituais fúnebres é necessário saber interpretar os objetos funerários encontrados nos cemitérios (MOTTA 2009: 17-18). Motta (2009: 18), fala que “não se trata de substituir enunciados por objetos ou vice-versa, temos também que identificar e localizar na cultura material funerária elementos que possibilitem dar sentido e significado a uma linguagem social e culturas dos povos de uma determinada época.” Assim é possível compreender as dinâmicas socioculturais de um povo através do estudo dos objetos funerários, que podem inferir uma perspectiva do contexto arqueológico e trazer uma leitura mais aprofundada de suas mudanças temporais e sociais. Logo a Arqueologia tem como preocupação fundamental estudar os bens materiais que o ser humano deixou, tentando por meio de estes entenderem os caminhos que levaram à humanidade as realizações identificadas no registro arqueológico.

1.1 Cemitério: lugar de memória

O cemitério é um local de deposição, onde os corpos são inumados de forma ordenada, seguindo um ritual de deposição específico de acordo com cada grupo cultural. Castro (2008: 82), fala que “o cemitério é por si só, um lugar da luta pelo não esquecimento” e este é visto como um grande patrimônio erguido em memória das pessoas que morreram, sendo um local de recordação para os vivos.

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Saxe (apud STRAUSS, 2012, p. 54), fala que “um cemitério é uma área formal, espacialmente delimitada, cujo uso se destina especial, permanente e exclusivamente para o sepultamento dos mortos.” Nora (Apud GONÇALVES, 2012, p. 12-13), diz que os cemitérios podem ser fontes de informações que tem como principal função o resgate da significação da identidade de um povo e por ser referência no estudo de uma cultura se torna um patrimônio arqueológico, pois traz às gerações futuras essas características identitárias. Logo reconhecer um cemitério, no registro arqueológico significa, portanto, atestar que todas essas condições são satisfeitas. O cemitério é um local destinado a uso específico de enterramentos, onde é possível identificar o ritual fúnebre específico. (SAXE, 1970 apud STRAUSS, 2012, p. 56) Assim para a melhor compreensão desses rituais é necessário um estudo mais aprofundado da sociedade em que os realizou. Nogueira (2013: 28), diz que “para analisar essas práticas fúnebres é necessário um diálogo com as diferentes formas de controle simbólico do tempo e da individualização nas sociedades humanas.” É necessário tentar entender essas experiências e as relações que cada cultura insere nos rituais, sendo esse um modo deste dialogarem com os mortos. “O indivíduo, apesar de sua existência temporária, pode, após a morte, ser reverenciado e cultuado na memória ou na recordação de grupos específicos ou da sociedade como um todo” (NOGUEIRA, 2013: 28). “Os lugares de memória são considerados como parte dos rituais. Sendo estes rituais sacralizações passageiras numa sociedade que dessacraliza; fidelidades particulares de uma sociedade que aplaina os particularismos; diferenciações efetivas numa sociedade que nivela por princípio; sinais de reconhecimento e de pertencimento de um grupo numa sociedade que só tende a reconhecer indivíduos iguais e idênticos” (NORA, 1993 Apud GONÇALVES, 2012, P. 29-30). Cisneiros (2006: 179), fala que os rituais funerários são estudados por ciências preocupadas com o desenvolvimento cultural dos grupos humanos, como a História, a Etnologia, a Antropologia e a Arqueologia. Seus estudos evidenciam que os mortos foram e são os objetos de preocupação nas mais variadas sociedades e culturas, mesmo em cronologias bem recuadas.

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Assim a será feita uma primeira abordagem sobre a questão de cemitério, apresentando alguns conceitos, termos e divisões inferidas na pesquisa, tanto com bases arqueológicas como históricas. O cemitério é um local onde os restos mortais humanos são enterrados, e neste lugar o sepultamento segue um ritual de acordo com cada prática cultural ou religiosa, sendo este geralmente uma marcação para estabelecer sua identidade social e cultural. Ele pode estar ligado a uma igreja, ocupando um espaço no seu terreno ou fora dela. (ARIÈS, 2014: 54) O termo origina-se do grego κοιµητήριον, que significa lugar de dormir, e pode incluir qualquer grande parque ou terra de enterro especificamente destinados para o depósito dos mortos. O primeiro registro do termo cemitério no Brasil surge no século XVII, mas especificamente entre 1624-1625 na invasão holandesa na Bahia. O livro Historia

do

Brazil

por

Frey

Vicente

de

Salvador

mostra

este

termo.

(SALVADOR,1975:404) Os primeiros locais de cemitério pode se remontar o século em VII Guiry-enVexin na França, onde foram encontrados pelos arqueólogos 47 sepulturas, 10 fossas contendo ossadas de 250 corpos (ARIÈS, 2014: 50) em pleno campo. Na Europa os cemitérios em pleno campo foram substituídos pelos cemitérios na igreja, esta transferência não contém a data certa, pois vai variar de acordo com cada região ou país. Ariès (2014: 51), diz que os pagãos e convertidos, como da Germânia e da Carolíngia, tinham que abandonar seus cemitérios (aqueles onde os túmulos se alinhavam ao longo das grandes estradas, fora das portas da cidade) e obrigados a enterrar seus mortos na igreja. “Os cemitérios em pleno campo foram abandonados, cobertos pela vegetação e esquecidos, ou então só serviam em tempo de peste.” No Brasil os enterros eram realizados dentro da igreja até o século XVIII, quando por questões de saúde pública foram proibidos, pois as pessoas ficavam doentes pelos miasmas que saiam dos corpos. Temos como exemplo Pernambuco, que a partir de 1837, o Presidente da província, Francisco do Rego de Barros, em um plano de modernização e higienização do Recife, propôs a construção do primeiro cemitério publi da cidade, o que foi aprovado apenas em 1850 e inaugurado no ano seguinte, 1851.

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Com isso vemos que existem alguns tipos de cemitérios, dentre eles podemos citar alguns, como: •

Cemitério público- é aquele usado por toda a comunidade.



Cemitério particular- é utilizada apenas por uma porção da população específica ou por uma família grupo. De acordo com os conceitos acima temos também outra denominação que é a

questão de vala comum, sendo ela uma cova normalmente localizada nos cemitérios onde um conjunto de cadáveres que não podem ser colocados em sepultura individual, é enterrado sem cerimônia cultural ou religiosa, normalmente os indivíduos enterrados são mortos por uma peste ou epidemia.

Figura 1: Esqueletos descobertos em vala comum sob supermercado em Paris. Fonte: MOURA, 2015.

A imagem acima mostra um exemplo de vala comum descoberta em Paris, todas as vítimas segundo os arqueólogos morreram da peste bubônica.

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1.2 O cemitério como patrimônio

Fundamentado em todas as informações sobre cemitério, podemos abordar o conceito da palavra patrimônio e como este é capaz de nos inferir informações sobre o que deve ser ou não protegido e a importância do cemitério como definidor de identidade cultural. “A palavra patrimônio está historicamente associada ou à noção do sagrado, ou à noção de herança, de memória do indivíduo, de bens de família” (SANTOS 2001: 43). Santos (1999:19), diz que “a abrangência conceitual na abordagem do patrimônio cultural está relacionada com a retomada da própria definição antropológica da cultura” e que essa descrição é um conjunto de significados que caracterizam uma sociedade. “Todo o conhecimento que uma sociedade tem de si mesma e sobre outras sociedades, reflete sobre o meio material em que vive e sobre sua própria existência” (BOSI 1993: 166). Santos (2001: 44) fala que, o conhecimento das formas de sepultar e de cuidar dos mortos é transmitido através da construção de idéias, de objetos, das práticas artísticas e práticas funerárias. “O patrimônio arqueológico compreende a porção do patrimônio material para o qual os métodos de arqueologia fornecem conhecimentos primários. Engloba todos os vestígios da existência humana e interessam todos os lugares onde há indícios de atividades humanas, não importando quais sejam elas, estruturais e vestígios abandonados, de todo tipo, na superfície, no subsolo ou sob as águas, assim como o material a eles associados” (CARTA DE LAUSSANE). Cisneiros (2006: 176), fala que “mesmo distintas para cada grupo, as práticas funerárias como representantes de um ritual, possuem pouca mobilidade dentro das sociedades. As mudanças, quando ocorrem, são efetuadas de forma muito lenta, quase imperceptível para o grupo. Como a maioria dos rituais, as práticas funerárias têm uma característica de permanência e estabilidade.” Logo um cemitério é um patrimônio arqueológico, pois tem como bem material os símbolos que descrevem os rituais funerários, os quais vão mais além que o morto, está

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ligado à relação com os vivos e como estes se relacionam em sociedade, passando assim para estes suas características e seu legado para as gerações futuras.

1.3 As diferentes formas de enfrentar o universo post-mortem

A Arqueologia tem como objetivo estudar as alterações sociais que possam servir de respostas para o entendimento do contexto material, o qual apesar de parecer estático hoje, esteve no passado em constantes mudanças, as quais modificaram o registro arqueológico. Tal estudo é capaz de definir os fatores que criaram o sítio e assim traz informações sobre o contexto cultural, social e religioso em que ele esteve inserido. Sobre isso é interessante citar: “A Nova Arqueologia passa, então, a abordar questões até então não formuladas por todos os arqueólogos, como a reconstrução do meio ambiente, a compreensão dos vestígios no contexto cultural, o comportamento humano, os padrões de assentamentos, a reconstrução dos subsistemas de organização social, econômica e política dos povos antigos estudados arqueologicamente, e o estudo das variáveis que interferem nos padrões culturais.” (RIBEIRO 2007: 68)

Logo, os rituais funerários não podem ser estudados como algo estático, devem ser analisados de acordo com a estrutura social que o criou e os fatores que os modificaram, sejam eles externos ou internos ambientais ou antrópicos. Entender os ritos fúnebres como um sistema formado por subsistemas traz à tona questões como a compreensão dos vestígios no contexto cultural, do comportamento humano, da reconstituição dos subsistemas social e das variáveis econômicas e políticas que interferem nas formas de sepultar de cada grupo. Ribeiro (2007: 69), diz que para entender as modificações sociais e os diversos subsistemas que fazem parte de sua intricada complexidade é necessário que a Arqueologia tenha novas áreas de estudo que consigam ampliar o conhecimento para entender suas modificações e como estás estão inseridas em um sítio arqueológico. Nogueira (2013: 28) diz que o estudo dos rituais fúnebres é necessário um aprofundamento na pesquisa sobre as diferentes formas do controle simbólico e das características individuais na sociedade. Fato que traz informações sobre as experiências e relações de cada cultura e como esta se insere na vida post-mortem.

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Ribeiro (2007: 19), aponta que para a Arqueologia, conseguir registrar o contexto funerário em que o corpo está inserido é necessário realizar um estudo aprofundado sobre as modificações que o esqueleto sofreu antemortem, peri-mortem e post-mortem.

Sobre essas análises podemos citar Souza e Carvalho (2013): “Enquanto o lugar a ser escavado for considerado apenas o ‘lugar onde estava o morto’, e não o testemunho de cenas e gestos funerários, parte da informação se perderá. Uma variedade de pistas associadas aos ossos buscada em associação com o funeral, indo além do corpo e de seus acompanhamentos mais óbvios. Em sítios arqueológicos onde a construção de lugares para os mortos é evidente, os funerais podem ter durado longos períodos e ter sido associado a diferentes eventos de preparação do terreno. Os gestos e atos realizados sem momentos distintos e em seqüência devem ser elucidados em relação ao morto ali depositado” (SOUZA e CARVALHO 2013).

Duarte (2003: 265-268), diz que “para entender as características funerárias do sítio em estudo é necessário conceituar os diferentes tipos de inumação em que podem ser encontrados os remanescentes humanos.” Como exemplo é interessante conceituar os tipos de inumação: Inumação primária: sendo definida como o primeiro local em que os restos humanos foram depositados logo após a morte do indivíduo; Inumação secundária: define-se como deposição secundária aquela em que os restos humanos são colocados em locais distintos daqueles onde foram depositados após a morte. Isto é, a deposição secundária resulta de um tratamento mais complexo do cadáver, em fases distintas e sucessivas. White, Black e Folkens (2005), abordam sobre a importância do registro das modificações do esqueleto post-mortem, só que antes é necessário compreender o esqueleto humano, desde sua ontogênese. Além disso, para entender seu contexto funerário é necessário compreender os rituais, os costumes, modo de vida, em que estes estavam inseridos. Estes autores dizem que as características que “estão associados às práticas funerárias ou a eventos em contexto arqueológicos extras funerários, resultam em ocorrências diferentes e muito particulares, se tornando dados de importante valia no entendimento do contexto arqueológico do cemitério.” Strauss (2012: 53), diz que a formação da pessoa como individuo social será de acordo com a estrutura social e seus princípios de organização. “A morte de um indivíduo é uma situação social particular, que resulta num número de relações de identidades muito

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maior do que é usual no cotidiano, demandando uma representação plena das várias identidades sociais do indivíduo.” Para Saxe (apud STRAUSS, 2012: 56), a questão entre identidade social, relação de identidade e pessoa como indivíduo social são determinadas pela sociedade, e com um estudo mais aprofundado é possível identificar estas características no registro arqueológico através do estudo da Arqueologia da Morte. Ele acredita ser possível recuperar a própria estrutura social da população em questão. Para entender essa dinâmica social em que o morto se encontra é necessária entender seu status social dentro do grupo, através das análises de algumas variáveis, as quais são determinadas pelo estudo de cada parte do sepultamento isolada e como um todo. Ribeiro (2007: 103), diz que o status social apresenta dois tipos de distinções em seu estudo:

a) Verticais: são aquelas que apresentam as camadas com diferentes padrões de riqueza; b) Horizontais: são aquelas que apresentam subgrupos sociais, clãs, famílias, diferenças entre pessoas que pertencem à mesma camada social.

Ribeiro (2007: 114) pontua inclusive que as características horizontais são as mais difíceis de estudar e que para se realizar tal estudo é necessário considerar as seguintes variáveis: roupa, pequenos objetos, cabelos, orientação do corpo e postura. Sendo tais fatores uma série de diferentes formas de expressão social, que são propagadas entre grupos e indivíduos de diversas culturas. Binford (1972), diz que “existe um tratamento diferenciado do corpo, quando se trata dos rituais funerários e isso depende de quatro variáveis: sexo, idade, status e filiação social.” “Tais variáveis podem ser notadas até hoje dentro de rituais funerários de diversas culturas, principalmente na sociedade cristã desde o século XII, que foram perpetuadas até os dias atuais” (ARIÈS, 2012: 275). Contudo tais dados não são suficientes para buscar grupos culturais distintos, é necessário compilar informações, isto é, ter um conjunto de dados mais completos, os quais possam nos dar idéia de como proceder na análise e coleta de informações dos rituais

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funerários, para isso O’Shea (apud CISNEIROS, 2006: 183), dividiu esses dados em seis categorias: a) Aspectos biológicos (números de indivíduos, sexo e idade); b) Preparação e tratamento do corpo (tipo de deposição e a posição em que foi colocado na sepultura); c) Características da sepultura (dimensão, profundidade, forma); d) Acompanhamentos funerários (o enxoval funerário); e) Localização (área do enterramento, distribuição espacial do sítio); f) Aspectos ambientais (estudo das condições ambientais na época do enterramento).

Desde a antiguidade o homem tenta descobrir como a morte influencia as diversas culturas e como está ligada a nossa evolução. É papel de a Arqueologia estudar os rituais funerários para melhor compreender a evolução do homem e como ele se relacionava em sociedade. Assim nesta pesquisa tem-se uma compilação de idéias com autores que abordam estratégias de análise de sítios cemitérios. Além disso, o cemitério é tratado como lugar de memória trazendo informações significativas e que cada vez mais possam destacar as modificações culturais e sociais dos diversos grupos culturais. Mostrando assim metodologias aplicáveis em campo e em laboratório, que possam ser úteis e auxiliar no resgate, identificação, análise e interpretação dos ossos humanos e os ritos fúnebres empregados nos sítios arqueológicos.

1.4 Os tipos de enterro e estudos de caso do século XVII

No Recife do século XVII viviam povos de diversas nacionalidades e credos. Aqui são abordados os rituais funerários das três grandes ordens religiosas que se estabeleceram em Pernambuco: a judaica, a católica e a protestante.

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1.4.1 O enterro Judaico

O enterro feito através da doutrina Judaica tem um cuidado relacionado ao corpo da pessoa morta, pois a dor da perda do ente querido é sentida pela família e também pela comunidade. Assim que a pessoa morre, o corpo tem que ser cuidado seguindo os rituais Judaicos:

“Banham os defuntos, lançavam-lhes calções de lenço amortalhando-os com camisa comprida, pondo-lhe uma mortalha dobada ao estilo de capa, enterrandoos em terra viva e em covas funda (...) pondo-lhes em sua boca um grão de alfajor ou um dinheiro de ouro ou prata, dizendo que era para pagar a primeira despesa”. (GARCIA, 1929.p. XXI; CASCUDO, 2001, p.315-317)

O uso das moedas, pedras ou ate perolas nos olhos ou na boca é um ato simbólico. O autor Richard Zimler, do best-seller “O ultimo cabalista de Lisboa”, menciona que depois do massacre realizado em Portugal no século XVI, onde centenas de judeus foram mortos, os que sobreviveram colocavam na boca dos mortos uma moeda, “para pagar a travessia do Rio Jordão” (ZIMLER, 2010: 125; VAINFA (org).1997:23; FARIAS, 2000:410-412). Esse costume é discutível, pois segundo Câmara Cascudo (2001: 21-28) tal costume vem de hábitos mortuários greco-romanos. Eles colocavam na boca do morto ou sobre os olhos, moedas para pagar a Caronte, o barqueiro que fazia a travessia do mundo dos vivos para o mundo dos mortos, depois foi absorvido por outras culturas como pelos cristãos e pelos Judeus. O costume de se enterrar os mortos em terreno virgem (em alguns casos eram enterrados em caixões), não maculada pela mão dos homens, em uma cova profunda, com seus sete palmos, sendo sempre uma cova individual, alguns destes aspectos estão mencionados em algumas denunciações feitas ao Santo Oficio quando esteve no Brasil no final do século XVI (DENUNCIAÇÕES, 1984: 54; MENEZES, 2001:24-25). A deposição do morto, segundo pesquisas arqueológicas pode variar, sendo sua orientação definida como Leste-Oeste ou Oeste-Leste. Além disso, Falcon (2006: 327) fala de uma descrição sobre a deposição dos remanescentes em um cemitério na Espanha, que “Consistia em uma inumação individual em posição decúbito dorsal, com os pés e braços

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estendidos e as palmas das mãos apoiadas na pélvis ou nas coxas com algumas variações pontuais, o rosto voltado sempre para sul e as covas orientadas no sentido Oeste-leste.” Além disso, em Portugal e na Espanha antes da expulsão dos judeus pelos reis católicos, existia uma área onde as comunidades judaicas viviam chamadas de “Judiaria”. Os cemitérios se encontravam longe destas áreas urbanas, “a cerca de 50 passos [aproximadamente 16,5 metros] da ultima casa da judiaria, muitas vezes ficava fora da muralha” (MIGUEL, 2007: 57). Na Holanda houve um diferencial, o cemitério judeu fundado pelos judeus portugueses, ficava um pouco longe da judiaria da cidade de Amsterdam, localizando-se em Ouwerkerque, onde o único acesso era por meio fluvial. Talvez tal cemitério tenha dado a idéia da criação do cemitério dos Judeus do Recife na época da ocupação holandesa, aonde se encontrava distante do núcleo urbano. (MENEZES, 2001; 2015: 91; MELLO, 1996, p. 282-283, 293) Além disso, nos cemitérios judaicos a presença das lapides tumulares é mais que uma necessidade, é um memorial em nome daquele que já partiram em diferentes cemitérios como o de Ouwerkerque, New York, Caraíbas e Espanha, foram localizados diversos cemitérios que possuem lápides tumulares, sejam verticais ou horizontais, com motivos decorativos variados, mais sendo os principais o menorá (candelabro de sete braços.) a estrela de Davi, e pode ter seu epitácio escrito ou em hebraico ou em outra língua, sempre contendo o nome do falecido. (SCHAMA, 2015; VAINFAS, 2010, p. 205206.) O cemitério dos Judeus do Recife aparece representado pela primeira vez na carta “Caerte van Haven van Pharnambocque met de stad Mouritia’t Dorp Reciffo em Byeggende forten met allegelegenheden van dien. In ‘t Jaer Anno 1639” (Planta do porto de Pernambuco com a cidade Maurícia, a aldeia do Recife e os fortes circunvizinhos e todas as particularidades deles no ano de 1639,” possuía uma forte Paliçada que foi mandada ser derrubada no inicio da restauração pernambucana, no ano de 1641, foi construída uma guarita próximo a ela (MELLO, 1976 a: 26). Depois da rendição, as terras que compreendiam os cemitérios e a olaria de Gaspar Kock entre outras áreas, foram doadas a Henrique Dias e não se sabe o que foi feito com o cemitério após a expulsão dos holandeses, podendo ter sido ou não profanado como

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aconteceu com os cemitérios protestantes e enterramentos em igrejas (MELLO, 1988: 4546; COSTA, 1983: 426-433; SCHALKWIJK, 1986: 458). Seguindo os preceitos da congregação, ainda existem critérios usados em enterramentos dentro de um cemitério da comunidade judaica. Entre os principais temos como exemplo ser um membro da comunidade, mas se o mesmo praticar atos errados segundo o judaísmo poderia ser privado do direito de ser enterrado. Além que criminosos e suicidas não teriam direito de uma sepultura se não pedir perdão de seus crimes, “pois o Mahamad tinha os poderes de negar o enterro no cemitério da comunidade”. (WIZNITZER, 1966: 119-120; 1953, p. 211 -235.) Seguindo os preceitos da congregação, ainda existem critérios usados em enterramentos dentro de um cemitério da comunidade judaica. Entre os principais temos como exemplo ser um membro da comunidade, mas se o mesmo praticar atos errados segundo o judaísmo poderia ser privado do direito de ser enterrado. Além que criminosos e suicidas não teriam direito de uma sepultura se não pedir perdão de seus crimes, “pois o Mahamad tinha os poderes de negar o enterro no cemitério da comunidade”. (WIZNITZER, 1966: 119-120; 1953: 211 -235.) Um caso pode ser mencionado é do Judeu Moises Abendana, que foi encontrado enforcado no ano de 1642, o conselho do escabinos considerou que foi suicídio devido à alta dívida que o mesmo tinha e não conseguiu pagar, por esse motivo o mesmo conselho proibiu o enterro do corpo e mandou que o ele fosse exposto em praça publica, uma maneira de prejudicar a comunidade judaica. Outros judeus desconfiavam que não fossem um suicídio e sim um assassinato, então uns grupos dos mais influentes judeus foram negociar para que tal pena fosse dissolvida e o corpo devolvido para ser devidamente enterrado. Eles conseguiram, mas no ponto de vista do ritual judaico tal ação poderia condenar a alma do morto a uma eternidade de sofrimento sem pode ressuscitar no dia do Julgamento. (RIBEMBOIM, 1995, p. 71-73; WIZNITZER, 1966, p. 75-76; MELLO, 1996, p. 269-270, 489; VAINFAS, 2010, p. 214-215)

1.4.2 O enterro Católico

O caso do enterro católico entre os séculos XVI e XVII possuíam poucas variações. Uma diferença era entre as classes sociais, pois podemos dividir os rituais

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funerários católicos em duas grandes áreas: A da classe mais abastarda e a da classe mais humilde, sendo os dois explicados para se pode compreender a ritualística do funeral católico. Os enterros mais abastardos, segundo os historiadores Philippes Áries (2014: 22) e Georges Duby (2013: 92) descreve o enterro como um momento suntuoso, aonde todo um “espetáculo” é elaborado desde a preparação do próprio morto, o modo que ele é transportado, todo seu enxoval, desde a mortalha até as medalhas e rosários que vão com o morto para a igreja e sua deposição na sepultura na igreja ou no cemitério dela. Esses enterros eram chamados de “Barrocos” pela sua suntuosidade. O segundo tipo era, mais humilde, somente os familiares, o padre e algumas outras testemunhas, o morto era deixado com os pés voltado para a entrada e certos cuidados eram tomados, depois do período de despedida, o morto era posto no caixão ou enrolado em uma mortalha dependendo e levado para a sepultura (ARIÉS; DUBY (org.) 2013: 92-98; REIS, 2012: 73-88) Todavia o contexto vale para os momentos de Paz. Nas guerras que existiam na Europa entre os séculos XVI e XVII, muitos eram deixados em campos de batalhas, sem o menor cuidado, sem direito a uma sepultura como ultimo repouso. Feridos, mendigos, órfãos eram assistidos pelas confrarias que cuidavam dos hospitais, casas de misericórdia, asilos e orfanatos, sendo os dois primeiros mencionados, lugares onde os feridos de guerra eram tratados e muitos morriam, eram enterrados da melhor forma possível. (ARIES; DUBY (org.) 2013, p.98-100; REIS, 2012, p. 73-88) A deposição variava, conforme é possível ver em iluminuras, gravuras e até mesmo em quadros que representava a hora da morte na sociedade do século XVII, envoltos em mortalhas ou dentro de caixões, com as mãos sobre o tórax, a pelve ou ate mesmo estendido. Segundo Câmara Cascudo em seu livro Anubis e outros ensaios diz que:“ não pode ir solta e sim com um rosário ou terço amarrado no pulso” (CASCUDO, 2001: 21-22; ALBUQUERQUE, LUCENA, 1997: 177-179). Tal costume de levar o rosário ou terço é mencionado por um Cronista Frances de nome Pierre Moreau, em seu livro “Historia das ultimas lutas entre Holandeses e portugueses.” Relata à presença de amuletos mágicos contras as armas inimigas, junto com escapulários que os “Brasileiros Mortos” levavam consigo (MOREAU, 1979: 72).

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Tal costume de levar o rosário ou terço é mencionado por um Cronista Frances de nome Pierre Moreau, em seu livro “Historia das ultimas lutas entre Holandeses e portugueses.” Relata à presença de amuletos mágicos contras as armas inimigas, junto com escapulários que os “Brasileiros Mortos” levavam consigo (MOREAU, 1979: 72). No caso das batalhas temos relatado do enterro de Dom Luiz de Rojas, morto em 1635, aonde foi sepultado em um caixão com os adereços religiosos e honras militares, depois segundo Robert Southey, os ossos foram desenterrados e enterrados com maiores honras na igreja de porto Calvo (SOUTHEY, 1980: 391) e segundo Cuthbert Pudsey diz que o cadáver foi levado a Espanha (PUDSEY, 2000: 117) Dois trabalhos arqueológicos provaram a presença deste material do culto católico em enterramentos, todos dois localizados pelo Dr. Marcos Albuquerque, um no monte do Guararapes de um soldado, que morreu durante uma das batalhas do Guararapes (16481649) e tinha consigo material bélico e um rosário na sua mão, o outro foi na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos, na Várzea, aonde uma cova coletiva foi encontrada, com diversos traumas (LIMA, ROCHA, GAMEN, 2015; ALBUQUERQUE; LUCENA, 1997: 177-179). Diversos são os relatos sobre os enterros realizados pelos católicos, mostrando alguns de seus costumes e locais de sua deposição, o que ajuda os pesquisadores da área mortuária a entender sobre o ritual católico perante a morte.

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1.4.3 O enterro Calvinista

O enterro protestante foi dividido de acordo com as várias ramificações conhecidas. O ritual calvinista era o que mais deixava os observadores impressionados por sua formalidade e suas variações. Áries e Duby (2013: 110), falam que o ritual funerário entre Luteranos e Calvinistas eram algo “doméstico” e não algo “público” como o caso das missas aos mortos dos Católicos, sendo que “Nem Lutero, nem Calvino no purgatório ou na ação dos vivos para sala as almas dos mortos” (ARIES; DUBY (org.), 2013:110). Os calvinistas eram os mais extremistas na realização da inumação do morto, como descreve alguns Historiadores: “Entre os calvinistas o despojamento é ainda maior. Não foi o próprio Calvino que deu o exemplo, ao pedir que seu corpo, envolto num pano grosseiro, fosse levado ao cemitério sem cântico nem discursos e nenhuma pedra assinala-se o local de sua sepultura? Tal procedimento choca Católicos e ate os luteranos, como em 1643, Elie Brackenhoffer, cidadão de Estramburgo de passagem por Genebra: “ Não há oração fúnebre, nem cânticos, nem comemoração, muito menos dobre de sinos em tal circunstância. Quando o homem morre, morre. Não concedem sequer a esmola de um Pai-Nosso. Assim, os enlutados e os outros voltam para a casa sem consolo, sem exortação.” Realmente, a Discipline des Églises réformées de France [ Disciplina dos Ingleses Reformados da França] proíbe que os pastores assistam as inumações e determina: “ Não fará preces ou predica nos enterros para se evitar qualquer superstição.”Para o defunto, de nada serve as preces dos parentes e dos amigos, e esses, seguros da sua eleição, não precisão de consolo: A salvação é assunto pessoal e a esperança dos sobrevivente é uma esperança” (ARIES; DUBY(org.). 2013: 110-111).

No Brasil Holandês, os documentos relacionados à igreja reformada Cristã, que eram em sua maioria de Calvinistas, tinham bases bem similares as descritas acima, e ainda aprofundando mais ainda, mostrando o desprezo das imagens, sejam elas as dos altares como as portáteis, como terços, rosários e escapulários, jamais era permitido a um calvinista carrega tal adereço, seja vivo ou morto (WATJEN, 2004: 349; SCHALKWIJK, 1993: 246). Além disso, a assistência aos doentes, feridos de guerra era feita pela Igreja Reformada, de forma que pessoas da igreja cuidassem dos doentes na hora de maior necessidade. Inclusive para fazer seus testamentos e um local para o enterro, seguindo as mesmas ordens de caridade, pois além de alimentar e cuidar era dever da igreja

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responsabilizar-se de que todos tivessem o direito de serem enterrados (ARIES; DUBY (org.). 2013: 98-100; ÁRIES, 2010; SCHALKWIJK, 2004:164-169). A deposição em que os corpos eram colocados na cova é muito similar a católica e até mesmo a judaica. Sendo envolto por uma mortalha ou colocados em um caixão, em casos raros como nos enterramentos do irmão de Nassau, João Ernesto, narrado por Frei Manuel Calado, como por um Almirante que teve seu corpo levado para ser enterrado na Holanda (SILVA, 2001, p. 167-169; HAEXS, 1950, p.; CALADO, 2004 a).

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CAPÍTULO II: O RECIFE NO SÉCULO XVII- A OCUPAÇÃO DO ISTMO Em 1630 a 1654 a República das Sete Províncias Unidas ocupou as áreas produtoras de açúcar, o Nordeste do Brasil, num total de 24 anos de história conhecido como período holandês. Período de um grande confronto armado entre a coroa lusoespanhola e os Países Baixos, representado pela Companhia das Índias Ocidentais e com a conquista das capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Rio Grande do Norte e Ceará pelos neerlandeses. É necessário recordar primeiramente que os neerlandeses vieram para o Brasil visando à cana de açúcar e outros bens da terra. Depois da tomada de Olinda, de seu saque e destruição, os neerlandeses foram para Recife que nesta época era o porto de Olinda. Foi na faixa de areia o Istmo (o qual eles chamavam de arrecife de areia), que os holandeses sofreram com as imensas batalhas e os ataques feitos pelos luso-brasileiros contra sua investida.

2.1 O Istmo

Assentado em uma estreita faixa arenosa entre o mar e o rio, o núcleo de povoamento inicial do Recife nasceu primeiramente como uma pequeno povoado de pescadores, aumentando sua importância com a instalação do Porto para escoamento da produção da Capitania de Pernambuco. Antes de ser povoado o Istmo de Olinda era inóspito e isolado, sendo sempre um dos acidentes geográfico que mais chamaram atenção dos navegantes na costa do Nordeste. Recém descoberta, aquela pequena e estreita lingüeta de areia tinha de um lado o rio Capibaribe e do outro o oceano Atlântico, sendo cercada ainda pelo arrecife que deu nome ao porto da capitania de Pernambuco. Local onde ocorreram lutas entre Duarte Coelho e os índios caetés a quem pertenciam às terras, sendo estas travadas durante parte do século XVI (ANDRADRE, LINS, 1982, p. 15-20; BARBOSA, 2007, p. 85-109). “A necessidade de mais terras para ocupação veio com o ritmo acelerado de crescimento a partir do século XVII, mais precisamente durante o período de ocupação

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holandesa no Nordeste do Brasil, o qual dispõe de informações históricas que fazem referências aos aterros que teriam expandido as terras firmes do Recife a partir desta época” (MELLO, 1987: 75). O istmo foi retratado logo no inicio do mapeamento da costa da capitania de Pernambuco, no primeiro mapa conhecido que pertence ao códice do século XVI com o titulo “Roteiro de todos os sinais...", de Luís Teixeira”, feito entre 1582-1585. O istmo, estar de forma representada na sentença “ O caminho para vila hua légua”. (SILVA, 2001: 26) A partir do ano de 1609, ele já é retratado com uma lingüeta de areia e recebe o nome de “arrecife de areia” no qual foi assentado o forte de São Jorge, forte de quatro baluartes, que por causa do terreno ficou a sofrer reparos (MORENO, [1609]1984.p.198204). Neste local, antes em 1593 havia uma bateria ou “uma simples casa de taipa, térrea e com algumas peças” que o corsário James Lancaster tomou quando atacou o porto do Recife, logo após isso o forte foi ampliado (SIQUEIRA [1605]1999: 134-135). Havia apenas dois caminhos para se chegar ao porto dos arrecifes, ou por água ou pelo istmo. O forte de São Jorge, as baterias do Recife e o forte do Picão ou do Mar que estava nos arrecifes impediam uma aproximação pela água. Para mover as tropas em direção às fortificações havia uma estrada ou caminho que passava pelo povo e pelo lado do forte de São Jorge. Próximo ao forte de São Jorge havia o forte Diogo Paes (Figura 2), que logo depois da tomada neerlandesa, teve sua construção finalizada e foi batizado de Bruijn (depois vulgarizado de Brum), em homenagem a um dos conselheiros da Companhia das Índias Ocidentais (WIC) (ALBUQUERQUE et al, 1999: 66-77). Com a chegada de Nassau em 1637, o Istmo sofreu algumas mudanças. Entre elas temos a construção de mais uma fortificação e um honaveque2 (ver figura 3). Tal fato pode ser visto em uma tela do período que mostram “casas próximas ao forte de São Jorge....”, discute-se sobre a veracidade dessas casas, o que levanta a discussão se o autor elaborou a sua obra in loco ou na Europa, baseado em informações de terceiros. (HERKENHOFF, 1999, p. 96-97; LEITE, 2014: 222-224) e perto de São Jorge após 1637 são mostrado casas ou armazéns (Figura 4 e 5) (MIRANDA, 2011, p. 172; BARLEUS, 1980: 142-143).

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É uma construção fortificada que servia de anexo para o forte.

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Com o crescimento e a modernidade, o Istmo foi mudando sofrendo vários aterros e ampliando sua ocupação. Foram construídos ali galpões e armazéns, além de outras edificações ao longo dos séculos. Na figura 6 é possível notar essa evolução, já na figura 7 temos o Recife depois da chegada dos neerlandeses, pode-se identificar seu crescimento.

Figura 2: Detalhe do mapa “Vray pourtraict de la situation de Parnambuc “ feito por Baltashar Moncornet mostrando o povo e suas Fortificações em 1630, o forte de assinalado A é o de São Jorge e o assinalado C é o Diogo Paes que viria a ser o Bruyn (ou Brum), mostrando uma troca de local por desconhecimento do Autor. Fonte: Biblioteca Nacional da França.

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Figura 3: detalhe do Mapa “Perfecte caerte der gelegentheyt van Olinda de Pharnambuco, Maurits-Stadt ende t'Reiffo ” feita por Conelis Golijath , impresso por Claes Jansz Visscher em 1648 mostrando o Recife e o Forte de São Jorge e o Brum com seu Honaveque. Fonte: MELLO, 1987: 84.

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Figura 4: Quadro de Gillis Peeters intitulado “Vista Panorâmica do Recife” ou “Vista do Recife” datada de 1637, aonde de forma precisa é descrita as fortificações em Recife e Mauricia. Fonte: LEITE, 2015; HERKENHOFF (org.). 1999: 222-224.

Figura 5: Detalhe do Quadro de Gillis Peeters intitulado “Vista Panorâmica do Recife” ou “Vista do Recife” datada de 1637, aonde mostra na parte sul próximo ao forte, uma construção, desconhecida nos mapas que representa a área.. Fonte: LEITE, 2015; HERKENHOFF (org.). 1999: 222- 224.

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Figura 6: mapa da Evolução Urbana do Recife, com foco na área do Pilar. Fonte: SERIDÓ, 2013.

Figura 7: Detalhe do mapa de Cornelis Golijath ”Afbeeldinge van drie Steden in Brasil als Olinda de

Phernambuco, Maurits Stadt, ende Reciffo(...)” de 1648, um dos mapas mais precisos do Recife e Arredores. Fonte: MELLO, 1976 a.

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2.2 A WIC no Recife no século XVII

A vida no Recife era extremamente frágil e problemática, causando diversos problemas aos milhares de estrangeiros que aqui aportaram com a invasão holandesa. Em solo brasileiro os militares vindos de fora não tinham forças para lutar devido a várias doenças, como o escorbuto. Eles não estavam acostumados a fatores como o clima tropical. Em missivas e outros documentos mandados aos estados gerais pelo coronel D. Van Weerdenburch em 1630, ele afirma que dos 2500 homens que estavam aqui muitos morriam por causa do calor, dos trabalhos pesados e dos males e doenças que assolavam as tropas (DOCUMENTOS HOLANDESES, 1945: 33). O perfil dessa população de homens que compunham as tropas da WIC pode ser visto em várias obras. Miranda (2014: 74), fala que “os emigrantes eram maioria na WIC, e que 60% eram jovens em fase produtiva e sua faixa etária estava entre 20 e 30 anos e quanto mais velho maior sua patente dentro da companhia, sendo 32,6% dos soldados oriundos das Províncias Unidas, sendo a maior parte dos estrangeiros 35,5% dos Estados Alemães. Outros vinham da Escandinávia, Inglaterra, França, Suíça, Escócia, Irlanda, Polônia, entre outros” (Tabela 1). Tabela 1: origem geográfica dos 4303 militares que serviram no Brasil entre 1632 a 1654.

Fonte: MIRANDA, 2014: 56.

39 Através das pesquisas realizadas foi possível criar uma tabela identificando as faixas etárias na Holanda no século XVII, a partir da qual foi possível realizar a identificação de algumas das idades de alistamento na WIC. Segue abaixo a tabela e os dados obtidos.

Tabela 2: a tabela mostra as faixas etárias na Holanda no século XVII.

Faixa etária

Designação

0-11

Criança

12-20

Adolescente

21-59

Adulto

60-70

Idoso Fonte: SCHAMA, 1992: 514- 516; MELLO,1987:114

De acordo com a documentação estudada percebeu-se que muitos dos soldados alistados tinham uma faixa etária produtiva estavam entre 17 e 38 anos. Só que muitos já estavam fora de casa desde os 15 anos, como é o caso de Ambrosius Richshoffer (MIRANDA, 2014: 75-78). É possível ainda, distinguir os soldados da WIC que aqui viviam segundo sua classe social. Wieseborn (2006: 9), diz que “aqui era possível encontrar diversos tipos de pessoas, entre eles estão as altas autoridades, os funcionários públicos, militares, comerciantes, agricultores (dos grandes senhores de engenhos até os pequenos camponeses), artesãos, pastores, padres, cientistas e artistas.” Wieseborn (2006: 9), completa ainda que de acordo com seu credo podemos separá-los em: •

Cristãos (protestantes, tanto calvinistas como luteranos, além de católicos);



Cristão-velhos e cristãos-novos;



Judeus sefardistas e ashkenazim;



Mulçumanos;



Religiões africanas e indígenas;



Animistas, na sua maioria xamãnistas.

40 As autoridades civis vis e militares eram geralmente neerlandesas, s, na sua maioria, calvinistas. Schalkwijk (19 1986: 31), fala que “o exército, que defendia ia o interesse dos neerlandeses, era constitu ituído por mercenários europeus, católicos os, mas também protestantes.” Completa que qu a igreja cristã reformada teve seu movimeento iniciado nos Países Baixos no ano dee 1520, mais forte no sul do país, local que favoreceu sua expansão. Retomando a ques uestão da sobrevivência, Miranda (2014: 219) 9), aborda em seu trabalho como os índices de mortes por doença e combate das tropas da WIC, chegaram em alguns momentos a um uma situação extrema devido a quantidade.. Completa C que as taxas ficaram em torno de 33,52% (1630) e 29,80% (1649), oscilandoo de d acordo com o ano. Essa oscilação pode ser se visualizada através do gráfico abaixo:

Baixas por doenças 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% Baixas por doença

1634

1635

1639

1649

1650 650

1651

26,04 6,04%

20,14%

13,08%

10,22%

10,48% ,48%

18,42%

Fonte: MIRANDA DA, 2014: 219.

Logo, um dos grand ndes problemas a ser visto foi o aumento da po população em uma área limitada que era o Recife, Re havia muitas pessoas que vieram dur urante a investida holandesa nas batalhas e outras ou tantas após. Com o número de doentes aumentando, se tornou necessárioo ter t uma unidade médica para cuidar dos soldados so e outros militares. O modo de vida ida de muitos e a alimentação não ajudavam a prevenir as doenças, principalmente porque ue Recife tinha os

41 bordeis “mais vis do mundo” (SILVA, 2001.p.18-19, MELLO, 1987. 124-125) o que contribuía na difusão de muitas doenças, entre elas a sífilis. As doenças naquela época eram fatais de uma forma que uma simples diarréia poderia matar um soldado em questões de dias. Faltava comida e lugares para viver, muitas vezes esses homens morriam mais por causa das doenças do que das batalhas (GALINDO org. BOOGAART, 2005: 21). O tratamento dado muitas vezes a certos casos graves de doenças e outros males eram uma das causas das mortes na tropa como aborda o autor do livro “Cajueiro Nordestino” Mauro Motta. Dependendo da gravidade da doença o modo como era tratada variava (MOTTA, 1982: 107). Temos o exemplo de doentes com escorbuto, que segundo o autor dependendo da seriedade os indivíduos tinham seus lábios cortados com navalhas, provocando em alguns casos deformação e até a morte por hemorragia. Já Ambrósio Richshoffer em seu “Diário de um Soldado”, traz um relato de um soldado da Companhia das Índias Ocidentais que morreu por causa de uma infestação de piolhos, mostrando assim como a questão da higiene também contribuiu para as mortes de muitos soldados. Após o período das batalhas e com crescimento demográfico do povo do arrecife, cogitou-se que deveria ser feito algo com relação a quem chegava da Europa para as novas terras. Muitos morriam antes mesmo de sua chegada, nem todos agüentavam a viagem que ocorria em situação quase desumana, pois muitas vezes a comida estava estragada, sem víveres frescos para a quantidade de pessoas embarcadas.

2.3 O Forte de São Jorge e o Hospital do Recife

O forte de São Jorge foi erguido em 1593, como uma casa de taipa com canhões. Nesse primeiro momento, em que foi chamado de Forte de São Jorge Velho, foi provavelmente ocupado pelo corsário inglês James Lancaster. (SIQUIERA, 1977: 134135).3 Em mapas do início do século XVII ele é mostrado como um forte localizado no Istmo com quatro baluartes e com uma paliçada no lado voltado para o mar (MORENO [1609] 1984: VI). Destruído, o forte de São Jorge foi reconstruído em 1629 por ordem

3

Em Siqueira (1977: 134- 135) existe um documento datado de 1605 que descreve o forte neste momento.

42 de Mathias de Albuquerque. O forte de São Jorge novo- foi retratado com apenas três baluartes, aproveitando as bases do antigo (ALBURQUERQUE et al, 1999: 32-36). Com a tomada do forte pelos holandeses em 1630 foi solicitada a utilização do mesmo, que se encontrava em ruínas, para a instalação, naquele local, do hospital do Recife (MELLO, 2004 a: 119-120; 2004 b: 281-282). “Após o reparo da fortificação depois dos ataques feitos nos anos de 1630 a 1632, o forte poderia receber os doentes e feridos das batalhas entre os holandeses e luso-brasileiros (que podemos mencionar não se limitava a apenas portugueses e brasileiros, mais italianos e até mesmo ingleses)” (MELLO, 1987: 21- 40; MIRANDA, 2014). Assim a transformação do forte de São Jorge em 1638 num hospital foi necessária para abrigar o grande numero de doentes que havia no Recife holandês. “Existia mais de 12 mil pessoas entre os anos de 1630 a 1654, tanto no povo como em Maurícia nova e velha e nas fortificações e arredores” (MELLO, 1987: p.73). O forte de São Jorge abrigou o primeiro hospital instalado pela WIC em Pernambuco, diferenciando do primeiro hospital de Pernambuco e do Brasil que se localizava na vila de Olinda, na casa de Misericórdia anexada à igreja de Nossa Senhora da Misericórdia (MELLO, 1993: 288-289). A historiografia indica que o forte de São Jorge ficou sobre a responsabilidade da igreja Cristã Reformada que tinha o propósito de reformá-lo e transformá-lo em um hospital. Na Europa, devido aos períodos de Guerras, como a Guerra dos 30 anos, entre 1618 e 1648, havia muitos hospitais, tanto nas cidades como em locais pertos dos campos de batalhas. Dois autores do século XVII retrataram esses locais em suas obras, o primeiro foi Pieter Van de Aas, autor holandês em que em sua obra “La galerie agreabé du monde, oúl’onvoit em grand de caertes (..) (ver figura 8)” no tomo II dedicado a Holanda ele representa um Hospital dentro da cidade, local usado para hospitalizar as pessoas que sofriam com as doenças que assolavam na época, mostrando uma visão mais calma do que as do tempo de guerra. Diferentemente do autor, Frances Jacques Callot (1592-1635) em sua série de águas-fortes intituladas “Lês Miseres et lês mal-heures de La guerre” de 1633, onde o autor descreve em formas vivas e intensas a guerra como ela é, retratando os horrores das batalhas. Entre as águas-fortes é interessante destacar a de número 15 com o título “O Hospital” (ver figura 9) sendo esta a que mais se aproximaria da visão de um

43 hospital em tempos de guer uerra, com as pessoas feridas, amputadas e out utros traumas que ela traz aos homens que viv ivem nela.

Figura 8: Hospital dentro da capita ital da Holanda. Fonte: AAS, 1680.

Figura 9: O hospital, gravura ura do século XVII de Jacques Collet, onde retrata um hospital de

campanha. Fonte: COLLET,, 1633. 1

44

Com base nas imagens representadas acima é possível perceber dois exemplos das faces funcionais de um hospital em dois períodos distintos: no de paz e no de guerra. Com os dados obtidos em pesquisas bibliográficas realizadas, foi possível trazer informações capazes de mostrar uma noção de como era a vida naquele período, principalmente em um hospital. “O hospital do Recife foi uma referência, tanto que no ano de 1647 quando o ocorreu um grande período de epidemias, ele passou a receber doentes do Recife” (MIRANDA, 2011: 215). Existem breves menções em relatórios e cartas sobre os primeiros anos do hospital do Recife. Ele não suportou a grande demanda de doentes e feridos. Então foi criado outro hospital na parte do continente, em Maurícia, cuja localização não se tem menções e as suspeitas seriam que este fosse dentro do próprio palácio de Friburgo (Fryburng) ou em seus arredores (MIRANDA, 2011: 219). Os dados sobre o funcionamento do hospital do Recife são escassos, algumas fontes históricas dizem que existia um hospital que começou a funcionar em 1634 e foi até o ano de 1654 (MELLO, 1987: 194; SCHALKWIJK, 2004: 290). O hospital que funcionava em Maurícia, devido a problemas financeiros teve seus doentes transferidos para o hospital do Recife. Assim mais de 1000 pacientes foram parar no hospital do Recife, em condições insalubres dentro de um local que vivia repleto de pessoas doentes e com pouco orçamento para pagar os trabalhadores (Médico e Consoladores de Enfermos) que tinha (MELLO, 1987.p.127; SCHALKWIJK, 2004: 164-169). Outras informações sobre o hospital do Recife dizem respeito aos responsáveis por sua organização. Temos o nome de três dos seus diretores: “Guilherme Piso (ou Willhen Piso) que foi médico particular do próprio Nassau e diretor do hospital até a sua partida ou um pouco antes em 1643. Para lhe suceder foi mandado Jacob Vinckenborch, não sendo possível descobrir informações sobre sua atuação. O único dado encontrado foi sobre o valor de seu soldo, que seria de 250 florins anuais” (XAVIER, 2011: 193). Quem provavelmente o sucedeu “foi Eduard Ooms, que de consolador de enfermos, virou pai interno (responsável geral sobre as questões da igreja dentro do Hospital) e diretor no ano de 1649” (SCHALKWIJK, 1986:193).

45 A pesquisa possibilitou criar uma relação com o nome de todos que trabalharam no Hospital do Recife. Esta relação contém nomes, funções, tempo de trabalho e referências, além disso, foi encontrado um mapa que indica, de forma esquemática, sua localização. Temos a seguir a tabela e o mapa.

Tabela 3: tabela de pessoas ligadas ao hospital do Recife.

Nome Guilherme Piso

Função Diretor e Medico

Período 1637-1643

Referencia Mello, 1987:127

Jacob Vinckenborch Jan Bruijnes Rodrigo Gonçalves Carolus Menedeth Mathias Grausius

Diretor e Medico Escrivão no Hospital Medico Medico Medico

1644-(?) 1641

Abraham Duurcoop Jacques (?) Jan Codde Johannes Pretoruis Abrão de Mercado

Medico Mestre Mestre Mestre Medico

Inglês (?) Jan Lodewijcks Eduardo Ooms Servaes Carpentier Simon Kohout Manuel Nunes Dr. Musaphia Dr. Jacob Tierens Bernardino Pessoa de Almeida

Consolador de enfermos Consolador de Enfermos Diretor e Medico Medico Medico Medico Medico Medico Cirurgião e fisico–mor Português

1654 ate o abandono do Forte

WIESEBORN, 2011:195 WIESEBORN, 2011:450 Mello, 1987:45 Mello, 1987:127 Mello, 1987:127 NL-HaNA_SG 1.01.07, inv. nr. 12564.43 Mello, 1970, p.82 Mello, 1987:127 Mello, 1987:127 Mello, 1987:127 Mello, 1987:127 Mello, 1996:378-379 Filho, 2007:179-180 Calado, 2004-319 Schalkwijk, 1993:205 Schalkwijk, 1993:205 Schalkwijk, 2004:205 Mello, 1987, p. 197 Miranda, 2011, p.217 Miranda, 2011, p.217 Miranda, 2011, p. 217 Mello, 1970, p.82 Mello, 1970, p.82

Phillipe Domingos Joseph Maria Antonio

Escravo Escravo Escravo Escravo Escravo

1651 1651 1651 1651 1651

1648

1640 1638-1640 1648-(?) 1636 Antes de 1648

Mello, 1987, p. 197 Mello, 1987, p. 197 Mello, 1987, p. 197 Mello, 1987, p. 197 Mello, 1987, p. 197

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Figura 10: o mapa acima em tamanho natural se chama, mapa do Recife, nele observa-se a representação figurativa da localização do hospital. Legenda: H- Hospital; I- groot Fort , o

grande Forte São Jorge; C- la Dique o dique , o Istmo. Fonte: ROUEN, BARO e MARSEILLE, 1651.

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Figura 11: a imagem é parte o mapa do Recife, nele observa-se a representação figurativa da localização do hospital. Legenda: H- Hospital; I- groot Fort , o grande Forte São

Jorge; C- la Dique o dique , o Istmo. Fonte: ROUEN, BARO e MARSEILLE, 1651.

48 Além dos citados na relação anterior, outros funcionários foram mandados para o hospital como Pieter de Bruijn, consolador de doentes e Jan Bruijn, como escrivão do hospital, sendo esse de essencial, pois era ele que realizava as anotações sobre as mortes, gastos e outros fatos que ocorriam dentro do hospital, e que seriam direcionadas ao Conselho do XIX (Hereen XIX) (XAVIER, 2011: 499). Alguns documentos relatam as dificuldades ocorridas dentro do hospital. Wajten (2004: 393) descreve que em 1645, ocorreram desavenças entre os funcionários e o diretor, cuja família vivia dentro do hospital fazendo o que bem entendia, causando atritos que foram denunciados ao conselho dos XIX. O mesmo autor menciona que “entre os anos de 1640 a 1645, os panos para uso interno no hospital estavam escassos e era reaproveitado tudo e talvez até o que não poderiam” (WATJEN, 2004. p.391-394). Em 1646 receberam, entre Janeiro e Fevereiro daquele ano, panos e medicamentos vindos da Holanda, além de medicamentos que vieram a bordo do navio Graaf Enno. Muitos destes medicamentos estavam estragados (HAGEMAN, 2005: 393- 441.), e neste mesmo ano uma epidemia se alastrou sobre Pernambuco e as outras capitanias (WATJEN, 2004: 393) Os cronistas da época deixam claro que este foi um período terrível, devido à fome e epidemias que assolavam a colônia, como pode ser lido em diversas crônicas e outros documentos, a morte ceifava de forma cruel e implacável até os recém nascidos que segundo Joan Nieuhof, “de três nascido, somente um vivia”, além da descrição das misérias feitas por Pierre Moreau e pelo próprio Gaspar Barleus que nunca veio ao Brasil, mais teve acesso a documentos do período em que Nassau esteve aqui e descreveu diversas epidemias como as de sarampo e varíola (MOREAU [1651/1652]1980: 50- 65- 67; NIEUHOF [1684]1980: 97- 110- 343; BARLEUS [1644]1980: 236-237). Na figura 12 temos o trecho do Folheto Braslys Schuyt-Praetjen, cujo autor anônimo descreve alguns detalhes sobre o Brasil Neerlandês entre os anos de 1646 a 1649. Dentre as informações contidas, temos dados sobre os enterros no Recife, sendo esses dados descritos pelo Historiador Jose Antonio Gonsalves de Mello, em seu livro “Tempo dos Flamengos”: “Diz que os coveiros não abrem túmulos sem o pagamento prévio de 60 florins, nas igrejas e 30 florins nos cemitérios, e quem não tiver esse dinheiro terá que levar os seus e enterrar na praia nas proximidades do hospital.” (MELLO, 1987: 114)

49

Figura 12: Detalhe do folheto “Braslys Schuyt-Praetjen” aonde esta o trecho referido o valor dos enterros na igreja e cemitério e a observação dos enterros próximos ao hospital. Fonte: Braslys Schuyt-Praetjen, 1649.

50

Foi realizada uma pesquisa no documento e esta mostrou que a parte transcrita pelo historiador era mais extensa e que teria mais informações sobre esses “enterros”. Com base nisso, foi pedido à ajuda ao Dr. J. Terto de Amorim e da Srª Henriette Silverberg, pesquisadores especializados em Brasil holandês, para que fosse realizada uma nova transcrição do texto original que além de estar em caracteres Góticos, estavam em holandês arcaico. Após uma leitura cuidadosa do documento, os historiadores deram sua transcrição e tradução para o português atual. O início do texto segue a transcrição realizada pelo Historiador José Antônio Gonsalves, mostrando o valor pelos enterros nas igrejas e nos cemitérios, mais sofre uma complementação graças à transcrição realizada pelo Dr. J. Terto e pela Srª Henriette Silverberg, no texto se encontra na seguinte forma, em Holandês: “Die dit niet konnen betalen worden op´t strand begraven by´t Gast-huis/ daer der menich warch (een nr. oo hout is) wort inghestopt/ dat haer Godt vergeven wil.” (Braslys Schuyt-Praetjen, 1649: 9-10)

A tradução realizada para o português apresenta o seguinte texto: “Aquele que não pode pagar é enterrado na praia do Hospital. Onde muitos são enterrados antes mesmo que esfriem. Que os seus Deus os perdoe.” (BRASLYS SCHUYT-PRAETJEN, 1649, p.9 -10. Trad. Sr. J. Terto de Amorim e Srª Henriette Silverberg.)

Com a nova transcrição, foram incorporadas novas informações sobre o local dos enterramentos, e as pessoas que ali foram enterradas. A proximidade com o Hospital, que se localizada próximo a uma praia, traz uma localização geográfica distinta dentro da paisagem do Recife. O Hospital do Recife se localizava no Forte de São Jorge, que situado no Istmo que ligava Olinda a Recife, era banhado pelo mar, no lado leste, tendo a possibilidade desta ser a “praia” mencionada no texto. Uma pergunta que deve ser levantada: será que naquele local existia ou não uma paliçada para impedir o avanço do mar sobre os enterramentos? Devido a sua proximidade com o mar possivelmente haveria uma paliçada ao redor da área aonde os enterros eram efetuados, podendo ter uma função de demarcação e proteção dos corpos ali depositados, similar a do Cemitério dos Judeus (MELLO, 1976 a: 26).

51 Outro detalhe importante é a frase: “Aquele que não pode pagar é enterrado na praia do Hospital” (BRASLYS SCHUYT-PRAETJEN, 1649: 10), isso quer dizer que seguindo um ponto de vista proposto pelo Sr. J. Terto, quem ali se enterraria seriam “pobres”, mas não podemos entender indigente como a tradução usada hoje em dia, antigamente significa que seriam as pessoas que não conseguiam pagar os preços exorbitantes dos enterramentos nas igrejas e cemitérios (MELLO, 1987: 114; BRASLYS SCHUYT-PRAETJEN, 1649: 9). Entram nesta possível categoria: soldados, comerciantes de baixa renda, empregados de baixos cargos, agricultores simples e etc. Sendo sua renda algumas vezes tão pouca que muitos morriam devendo a diversas pessoas, desde comida até roupas e armamentos. (MIRANDA, 2014: 143-206, 241-246, 428; MIRANDA, 2012: 51-55) Além disso, muitas vezes as pessoas, que iam para o hospital e morriam nele, poderiam ser enterrados nesta área, como pode ter sido o caso do soldado Stephan Carl Behaim, que morreu com idade entre 25 a 26 anos no Hospital do Recife, devido a envenenamento Sanguíneo (MIRANDA, 2014: 246-247, 258-259, 425-426). Um detalhe chama a atenção: “se for o desejo será indicado seu credo.” (BRASLYS SCHUYT-PRAETJEN, 1649: 10), quer dizer que muitos ali enterrados podem ter diversas crenças religiosas, mais se não “indicado o credo” seriam sepultados de acordo com os rituais funerários calvinistas. Para enterrar o morto haveria um cuidado religioso na sua deposição, pois era dever também da igreja Reformada Cristã, que possivelmente tomava conta do Hospital, dar um último local de descanso aos moribundos e necessitados, e assim ter um último cuidado com o corpo antes de enterrálos.

Figura 13: trecho do folheto “Braslys Schuyt-Praetjen” aonde esta o referido o valor dos enterros na igreja e cemitério e a observação dos enterros próximos ao hospital. Fonte: Braslys Schuyt-Praetjen, 1649.

52 Mello (1987: 114), descreve em seu livro “O Tempo dos Flamengos” informações sobre “a questão de preços de mortalhas, sendo as mortalhas de boa qualidade taxadas em 6 florins e as de qualidade inferior em 4 florins.” Aborda ainda “a questão de pagamentos para enterros nos cemitérios de Maurícia e Recife. Até a questão da hora era estipulada, se esgotasse o tempo seria pago um valor a mais pelo trabalho do coveiro.” Isso denota que apenas pessoas com boas condições monetárias eram capazes de pagar um enterro digno nos cemitérios da vila. A historiadora Tania Kauffman sugeriu em 2013 (PESSIS et al, 2013: 27) que poderia existir um cemitério em Recife, sem ser o ligado a Igreja do Corpo Santo, seguindo a nota do Historiador Jose Antonio Gonsalves de Mello (MELLO, 1987: 114.). A informação deste cemitério fora dos muros da cidade se comprova verídico através da transcrição do documento e ainda um complemento maior sobre ele. Uma Dag. Notule de 12 de fevereiro de 1650 menciona o cemitério fora do Recife da seguinte forma: “Como há abuso diariamente nos enterramentos, assim como no cemitério- a que agora se junta, de novo, a igreja do Recife. - aonde nenhuma taxa é cobrada, resolveu-se prover a isso e fica estabelecido que o enterro de um cadáver de adulto no dito cemitério se pagara 18 florins para um menor de idade [ isso é abaixo de 12 anos] 9 florins.” (MELLO, 1987: 114)

Entre as listas de 1640 e 1645, organizadas na Tabela 6 dos anexos, não havia nenhum cemitério aonde não se pagava taxa em Recife e Antonio Vaz (Mauricia), somente em 1649 se mencionou um possível “cemitério” nas proximidades do Hospital, aonde pessoas sem o dinheiro necessário para o enterro eram sepultadas. A partir de 1650 começou a ser cobrada um taxa para os enterros, devido a ação de pessoas que possivelmente não estava registrando os mortos daquele local, e assim pegando o dinheiro que deveria ir paras viúvas e outras pessoas para si e seus cúmplices, como era comum entre as queixas daquela época (BARLEUS, 1980: 313; SCHALKWIJK, 1993: 250-251). Vale salientar que no hospital as mortes ocorridas dentro deste período de 24 anos de dominação batava, muitas vezes aconteciam porque os homens que viam para o Brasil já estavam doentes “com sífilis, escorbuto e outras doenças que somadas às más

53 condições e a má alimentação agravavam de forma fulminante o estado de saúde dos soldados, levando muitos a óbito, mostrando que na maioria das vezes não eram as batalhas que tiravam as vidas desses homens e mulheres, e sim as condições adversas as quais eles não estavam acostumados” (PISO, 1957: 29-73; MIRANDA, 2011: 258-270). Zumthor (1989: 303), fala que “o homem de tropa comprava seu pão na intendência. Embora seu soldo fosse menos miserável, sua condição permanecia precária. Muitas vezes estava endividado com o capitão, via-se ligado à companhia pelo tempo que continuasse a ser um homem válido. Ferido, doente, era abandonado à própria sorte: precisava procurar um lugar no asilo, e pagá-lo com seus últimos tostões.” Isso mostra como eram as condições monetárias, o que faziam com que fosse difícil para os soldados conseguir um enterro digno, dependo apenas de caridade. Com relação às epidemias devemos começar a mostrar a situação na Europa mais especificamente nos países baixos. Veremos abaixo uma tabela com as doenças, ano, região e tipo de clima, sendo esta uma parte necessária para comparar com o clima do Brasil e como este ajudaram a tamanhos surtos endêmicos. Essas epidemias atingiam, sobretudo as classes pobres, subalimentadas e alojadas em pardieiros, contudo depois de sua continuidade até a burguesia perecia com elas, fato que terminou causando uma mudança na legislação testamentária do país e estas cidades não passavam três verões sem elas. Os estrangeiros que viviam nos Países Baixos se queixavam de melancolia e doença biliar devido ao regime alimentar (ZUMTHOR, 1989: 180). O mapa abaixo tem como função a representação de algumas cidades dos países baixos que sofreram com epidemias no século XVII, sendo elas segundo Miranda (2014: 60-61) cidades de origens de alguns dos soldados da WIC (Companhia das Índias Ocidentais).

54

Figura 14: Neste mapa as setas indicam algumas das cidades dos Países Baixos que sofreram epidemias no século

XVII. Fonte: www.google.com.br

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Tabela 4: Na tabela abaixo é possível observar os tipos de doenças que causaram epidemias nos Países Baixos, suas datas trágicas, tipo de clima e algumas das cidades que foram afetadas. Fonte: ZUMTHOR, 1989:179.

Doenças

Varíola, cancro, escrófula, malária, escorbuto e gota*, febre cerebral mortal, Sífilis.

Datas trágicas

Local

Características Climáticas

Observações Em 1 ano treze mil perecem na cidade. Em 1639 os cemitérios já não eram suficientes para conter os cadáveres. É preciso enterrá-los sobre as muralhas. Na cidade 1/3 da população ou 18000 morreram por causa das epidemias. Em 1655 a municipalidade assustada com as epidemias criou um conselho da peste. Arruinaram as tecelagens da região.

1602-1635-1639

Leiden

Falta de água corrente, úmido, calor intenso no verão.

1601

Amsterdam

Grande número de pessoas, calor intenso no verão.

1602-1655

Zwolle

Más condições de vida, úmido, calor intenso no verão.

1636

Helmond

Úmido, calor intenso no verão.

1597-1604-16171624-1635-1636 a série continua.

Diversas cidades

Úmido, calor intenso no verão.

*Sendo essas doenças consideradas típicas dos neerlandeses. Gota é um tipo de artrite que ocorre quando o ácido úrico se acumula no sangue e causa inflamação nas articulações. A gota também pode ser chamada de Doença dos Reis.

Como exemplo, temos a sífilis, que pode ter sua evolução dependendo do caso, sendo entre 1, 5 e 25 anos de incubação. Para maiores informações ler o artigo de Barros et al, 2005: 122. A relação das epidemias e doenças no Brasil (98) foi colocada em uma tabela (ver anexo 1). Dentre os tipos de doenças relacionadas, 30 assolaram o Recife no período da dominação Batava.

56 Zumthor (1989: 10), aborda que “os neerlandeses envelheciam depressa e se algum chegasse aos 60 anos com boa saúde sabia que viveria muito e aqueles com 70 anos eram casos raros.” A questão religiosa era um fator importante, pois mostra dados diferenciais entre as duas culturas que podem ser visto no registro arqueológico, diferenças que o historiador Evaldo Cabral de Mello já aponta (MELLO, 2014: 248-266; MELLO, 2001: 21- 40). Um duvida surgiu, quando foi visto as referências sobre “o hospital do Recife”, pois analisando a documentação percebemos a presença real de “dois hospitais no Recife”, como o próprio Historiador Herman Wajten, menciona ser “um dos mais antigos edifícios publico construídos pelos Holandeses” em Recife (WAJTEN. 2004: 491), mais como o mesmo autor menciona não se sabe sua localização. Segundo o “Breve Discurso” de 1638, temos a seguinte menção: “Fora do Recife encontra-se primeiro o velho castelo denominado de São Jorge. Achando-se este castelo muito arruinado, os administradores do Hospital pediram-no para servir de enfermaria, com promessa de o repararem interiormente e conservarem-no a sua custa, utilizando-se dele ate que seja necessário ao serviço militar e á defesa do Recife, o que resolvemos conceder-lhes para poupar despesas á companhia” (NASSAU; CEULLEN; DUSSEN [1638], in, MELLO: 2004 a: 119).

Um fator percebido é a diferenciação funcional, que mostra que existia os “administradores do Hospital” e a criação de uma “Enfermaria” no forte de São Jorge, o que mostra que realmente existia outro hospital em Recife (MIRANDA, 2014:256), que atendia civis e militares. Esse Hospital é relatado por Serveas Carpentier em 11 de junho de 1636 (MELLO, 1987:194) e em documentação em 1635, sobre “o envio de um cirurgião” para o hospital de Recife (SCHALKWIJK, 2004:290), talvez tenha atuado neste hospital o próprio Conselheiro Servaes Carpentier e o Dr. Jacob Stalpart van der Wiele, que morava em Recife antes de 1635, aonde veio a falecer (MELLO, 1987:51). Outro dado importante é sobre sua Administração, segundo o relatório de Adrian van Der Dussen entre 1639 e 1640, revelam que havia uma “Câmara de Mordomos do hospital.” que era responsável por todos os bens pertencente ao hospital,

57 inclusive alguns obtidos da Misericórdia, esse grupo era dividido em quatro portugueses e três Neerlandeses (DUSSEN [1640], in MELLO: 2004 a: 195) o que faz acredita que esse grupo seja o mesmo dos “sete curadores” ou “pais do hospital” mencionados em outros documentos (SCHALKWIJK, 2004: 165). Outro dado interessante é que quando Johan Niehouf chega a Pernambuco em 14 de dezembro de 1640, ele vai fazendo a descrição de sua estadia no Nordeste do Brasil ate o ano de 1645, mais logo nas paginas inicias ele descreve algo interessante, pois ele mencionada que: “Antes de se edificar a cidade Mauricia, a maior parte dos negócios se fazia em Recife (...). Construía [em Recife] um bom hospital para doentes e feridos de tudo necessário” (NIEHOUF, [1645] 1980: 42).

O que leva que entre os anos de 1638 a 1640, o hospital em Recife ainda funcionava e o forte de São Jorge era uma “enfermaria”, caso que foi mudando com as diversas mudanças econômicas no cenário da época, como aconteceu com o Hospital de Mauricia que durante as batalhas dos Guararapes, foi fechado e seus doentes mandados ao Hospital do Recife dentro do forte de São Jorge (MELLO, 1987: 127).

No caso dos enterramentos as diferenças eram de forma gritante, pois os holandeses (entendemos neste caso como os grupos de pessoas que vieram das Províncias Unidas, e tinha como base religiosa o calvinismo, pois não podemos generalizar as formas de inumação dizendo que todos os protestantes enterram deste jeito, pois seria errôneo) apesar de ter algumas semelhanças em seus rituais funerários com os católicos e judeus, tinham disparidades que só podem ser percebidas no registro arqueológico com um estudo aprofundado sobre ritos fúnebres das religiões que atuaram em Pernambuco neste período.

58

CAPÍTULO

III:

O

ESPAÇO

FUNERÁRIO

DO

SÍTIO

ARQUEOLÓGICO PILAR

O antigo istmo de Olinda, local onde se estabeleceu a cidade do Recife abriga hoje o Bairro do Recife, protegido por legislação, que o define como uma área de proteção rigorosa. Entre as décadas de 70 e 90 do século passado, aconteceram diversas reuniões entre a prefeitura e a comunidade em um escritório no Bairro do Recife. A reunião tinha como finalidade dialogar com o povo sobre o projeto de crescimento e importância histórica do bairro que seriam executados. O projeto tinha como finalidade a realocação de alguns moradores da favela do rato (Hoje comunidade do Pilar) para outros locais. Então a partir do ano de 2002, um novo plano, incluiria os moradores dentro desta área de preservação. (LACERDA, 2007, p. 630-631) A área hoje conhecida como comunidade do Pilar, foi um dos pólos definidos no inicio dos projetos de urbanização da cidade do Recife desde a década de 70 do século passado, assim como o pólo Bom Jesus e Alfândega. A comunidade do pólo Pilar era a região onde se encontrava o maior número de pessoas que não possuíam emprego ou moradia fixa, o que causava um “desconforto” as políticas publicas da cidade do Recife. A partir do ano de 2009 a prefeitura do Recife elaborou o projeto de implantação das habitações para reconduzir a comunidade do pólo Pilar para casas mais dignas. Com base nas leis de preservação do patrimônio, qualquer obra de grande porte na região, deve ser acompanhada por uma equipe de arqueólogos, para a preservação e salvaguarda dos artefatos e estruturas de valor histórico e arqueológico encontrados. A equipe de arqueologia da Fundação Seridó, ligada a Fundação do Homem Americano, acompanhou as obras para criação do habitacional da área do Pilar, se ocupando das escavações e salvaguarda do material encontrado nas quadras. Durante os anos que ocorreu o acompanhamento diverso alunos trabalharam com os materiais retirados dos sítios, seja em laboratório ou em campo junto com os profissionais, o que ocasionou um grande numero de estudos sobre o sítio (RAMOS, et al, 2010 ; PESSIS et al, 2013).

59

Figura 15: Mapa mostrando os pólos de revitalização do Bairro do Recife. Na parte norte, tem-se o pólo Pilar. Fonte: VIEIRA, 2007.

3.1 O Sítio Pilar- PE

A Fundação Seridó realizou as suas atividades de acordo com o cronograma da obra: •

ETAPA 1 – Apresentação, defesa, acompanhamento e aprovação da proposta de intervenção arqueológica à Prefeitura do Recife. Atividade realizada em 2009;



ETAPA 2 – Acompanhamento arqueológico da demolição de construções que não são de interesse arqueológico, da escavação e da consolidação

60 temporária das ruínas de interesse arqueológico e Acompanhamento das obras civis para a implantação do habitacional do Pilar; •

ETAPA 3 - Prospecção arqueológica para localização do Forte de São Jorge; Pesquisa arqueológica das quadras Q40 parte I (ruínas), Q60 (ruínas), Q55, Q45, Q46 e Q25. Desde o inicio dos trabalhos, em março de 2010 “as escavações têm revelado

vestígios de estruturas arquitetônicas e fragmentos de utensílios de uso cotidiano das comunidades, que possivelmente sejam dos séculos XVII e XIX” (PESSIS et al, 2013:3). Pessis (et al, 2013;3), diz que os vestígios são “das mesmas categorias dos que vêm sendo identificados durante o acompanhamento das obras desde 2010, seja nas Quadras 40, I e II, na Quadra 25 e na Quadra 55, respectivamente do lado da Rua Bernardo Vieira de Melo e Rua de São Jorge.”

Figura 16: Área de Intervenção. Quadras 40 parte I, 40 parte II, 60, 45, 46, 25, 55 e pátio da Igreja do

Pilar. Fonte: SERIDÓ, 2013.

61

A pesquisa na quadra 55 teve início “em 07 de janeiro de 2013 e durante todo o ano de 2013, no mês de maio e no mês de setembro” (SERIDÓ, 2013: 7). Nela, foi encontrado restos de estruturas em alvenaria de tijolo e alvenaria mista, pertencentes às edificações anteriormente existentes (PESSIS et al, 2013: 3). Seridó (2013: 33), fala que dos “51 sepultamentos identificados, aqueles que começaram a ser escavados durante o período de abrangência da pesquisa foram: SEP (sepultamentos) 08, 09, 11, 19, 21, 25, 27, 28, 44, 45, 46, 47, 48 e 50.” Até a finalização das escavações foram achados 80 esqueletos, porém só foi possível retirar 24, todos estavam “inumados em uma deposição primária simples, alguns individuais, outros com dois indivíduos, estavam em decúbito dorsal estendido, não apresentavam enxoval funerário, seu eixo crânio pelve é Oeste-Leste, com os pés voltados para o mar e a cabeça para o continente” (PESSIS et al, 2013).

Figura 17: Continuação do conjunto de sepultamentos identificados e parcialmente escavados até dezembro de 2013. Fonte:

SERIDÓ, 2014.

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Figura 18: Croqui com localização dos 38 sepultamentos encontrados na Quadra 55. Fonte: SERIDÓ, 2013.

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Figura 19: Conjunto de sepultamentos identifi tificados e parcialmente escavados até dezembro de 2013 013. Fonte: SERIDÓ, 2013.

A Arqueologia da Morte tem em seu papel como ciência o de entender os aspectos que englobam um m ritual funerário em um sítio cemitério, e sua ua abordagem será

64 aplicado a está pesquisa com o intuito de avaliar e caracterizar os aspect ectos funerários do sítio Pilar, mais especificam amente a quadra 55.

3.2 A Análise dos dados

Estimativa de sexo xo . O crânio possui ca características que diferem de acordo com o sexo, se podendo ser notados facilmente ou serem rem pouco nítidas, tais diferenças podem serr de d grande auxilio na identificação de um esqu queleto. São observadas as características morfológicas congênitas, peculiares pe a cada população, e as característic ticas morfológicas adquiridas, resultantes da atividade at cultural. As variações das caracterí erísticas morfológicas congênitas entre difere rentes populações podem ser exemplificadas as entre nossos próprios grupos pré-históric ricos. A imagem abaixo demonstra os ponto tos do crânio os quais foram analisados nos remanescentes re do sítio:

Figura 20: mostra m todas as características do crânio que servem

para realizar zar a identificação do sexo. Fonte: PEREIRA e MELLO e ALVIM, A 1979.

Idade biológica

65 A avaliação da idade biológica é feita através da análise da cronologia da dentição e da erupção dentária em subadultos (crianças e adolescentes através do grau de desgaste dos dentes e pela obliteração das suturas cranianas em indivíduos adultos). Depois da idade adulta, determinar a idade biológica pode ser bastante problemático quando não se tem um conhecimento bastante profundo da população em exame. Para diminuir a possibilidade de erro deve haver uma estimativa de faixa etária de acordo com a erupção dos dentes. Pereira e Mello e Alvim (1979: 106), abordam em seu livro que para a realização da análise e identificação da idade biológica e suas variações deve-se observar a erupção dentária a partir de 1 ano Pereira e Mello e Alvim (1979: 107) pontuam que algumas dessas “variações na ordem de erupção”, em alguns dentes ocorrem antes da erupção do primeiro molar e se desenvolvem durante todo o processo de crescimento do individuo, variando de acordo com o sexo e os tipos de regiões.

Figura 21: a erupção dentária, nesta imagem, demonstra uma erupção óssea, no

crânio seco, que se consideram quando o dente expõe toda sua face oclusa ou inicial e não somente a ponta de suas cúspides. Fonte: Pereira e Mello e Alvim, 1979: 107.

66

Figura 22: a imagem mostra uma tabela de desgaste dentário, mostra por idade o tipo de desgaste. Fonte: BROTHWELL, 1981. Legenda: M= Molar

67

3.3 Os aspectos culturais

É amplamente aceito que o conhecimento das origens e do desenvolvimento das sociedades humanas é de grande importância para o ser humano, pois este pode ajudá-los a entender suas raízes culturais e sociais.

Na questão dos aspectos culturais a análise levará

em conta todos os dados que caracterizem as práticas funerárias de um povo, sendo estes significativos para a compreensão dos símbolos presentes nos ritos fúnebres identificados nos sepultamentos do sítio Pilar. Para conseguir caracterizar as práticas funerárias dos indivíduos do sítio e categorizá-lo como cemitério será necessária a análise dos seguintes aspectos culturais: Preparação e tratamento do corpo Nesse aspecto é necessária a observação de como foi o tratamento do corpo e sua exibição de acordo com cada ritual, sua deposição na cova trará informações sobre os materiais empregados no ritual e também suas modificações nas representações empregadas nos enterramentos. Para contextualizar os sepultamentos devemos levar em conta a deposição do corpo e a disposição dos membros, que podem estar associados as questões socioculturais de uma determinada população ou associadas ao sexo biológico do indivíduo. Nas imagens abaixo temos enterramentos com deposição do corpo na cova diferenciados. Os indivíduos estão depositados na sepultura de modo menos recorrente, com os seus membros dispostos a frente do corpo, excessivamente fletidos (flexionados) e foram colocados na cova deitados de lado (decúbito lateral). O remanescente ósseo (Figura 23-direita) tem sua posição em decúbito lateral direito e o segundo indivíduo (Figura 23- esquerda) esta em decúbito lateral esquerdo.

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Figura 23: Enterramento 2 (direita) e enterramento 10 (esquerda) do sítio pré-histórico Pedra do Alexandre. Fonte: CISNEIROS, 2004: 82-83.

Figura 24: Enterramento primário do sítio pré-histórico Toca do Paraguaio- PI. Fonte: MARTIN, 2005: 318.

69 Na imagem 24 o remanescente está com a deposição do seu corpo diferente da imagem anterior (figura 23). Sendo depositado na sepultura em decúbito dorsal estendido, isto é, deitado com as costas ao chão e seus membros estão dispostos ao lado do corpo. Características da sepultura Cada cultura tem uma modo de abrir uma sepultura, além de características distintas com relação a forma, dimensão e profundidade. Analisando essas diretrizes, temos informações importantes sobre a sociedade que realizou o sepultamento, além disso, auxilia o entendimento se os indivíduos foram enterrados ao mesmo tempo ou em intervalos diferentes.

Figura 25: Enterramento da Toca do Paraguaio-PI. Fonte: MARTIN, 2005: 318.

Na imagem acima (figura 25) nota-se marcado o limite da cova que de acordo com a análise em campo pode trazer informações relevantes sobre o modo de enterrar de um povo. Silva (2014: 54) diz que “a orientação da cova relaciona-se com os diferentes pontos de referência estabelecidos, como as coordenadas geográficas, diferenças de relevo, como rios, lagos, morros, características que revelam preferências na forma de orientação do morto.”

70

O enxoval funerário A caracterização do enxoval constitui uma etapa significativa para a distinção do caráter funerário de um povo, pois este vestígio é útil na tentativa de inferência sobre aspectos culturais de status social, mudança ou continuidade cultural e adaptação das populações.

Figura 26: Enterramentos primários individuais do sítio pré-histórico Furna do Estrago PE. Fonte: MARTIN, 2005, p. 312.

Na imagem acima (Figura 26) temos dois enterramentos individuais e alguns objetos usados como enxoval funerário, como colares, pingentes de pedra, ossos, conchas,

71 sementes e uma flauta. Marti rtin (2005: 311), aponta para o fato da “fossa ssa funerária estar forrada com fibras vegetais qu que envolviam também o corpo dos indivíduos. os.” Silva (2014: 54), fa fala que “os acompanhamentos funerários os de deposições diversas no interior ou exteri erior da cova, constituem os remanescentess arqueológicos e caracterizam a terceira etapa das d práticas funerárias.”

Figura 27: as imagens acima mostram o enterramento exumado pela equipe do professor Marcos Albuquerque A no Monte dos Guararapes. Fonte: LIMA, ROCHA A e GANEM 2015.

Na imagem acima (Figura (Fi 27) temos mais um exemplo de enxova val fúnebre usado em um sepultamento. Neste ca caso específico, usado em um enterramento de um soldado do Monte dos Guararapes que faleceu fal entre 1648-1649. Nota-se algo típico,, o rosário comum em rituais fúnebres católicos.



Localização A localização e distr stribuição espacial dos indivíduos no sítio tê têm como função

além de entender as preferê erências sociais de um povo, traz informa mações que pode categorizar se este é um cemité itério ou vala comum.

72

Aspectos ambientais Essa etapa tem uma característica considerável com relação às condições em que ocorreu o enterramento e que tipo de ambiente o sítio está inserido, sendo tal aspecto fundamental para entender a questão do desgaste do possível enxoval funerário (envoltório) e assim entender o motivo da sua ausência no local.

73

CAPÍTULO IV: RESULTAD ADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo serã rão concentrados todos os resultados ob obtidos sobre os remanescentes ósseos de o síti ítio Pilar. A caracterização funerária dos indiví ivíduos inumados, como os aspectos biológicos, os o aspectos culturais e sua correlação com os rituais fúnebres e todas as variáveis que podem em possivelmente categorizar o sítio como um m cemitério. Além disso, uma análise dos vestí stígios achados no mesmo nível que sirvam m de marcadores cronológicos. Será abordado ainda a neste capítulo um discussão sucinta sob obre os resultados obtidos. Para realizar a carac racterização das práticas funerárias empregad gadas no sítio foi necessária uma escolha minu nuciosa das variáveis a serem trabalhadas. Dessas D variáveis, foram estabelecidas aquelas que q inferiam dados mais significativos, que possibilitassem p o reconhecimento dos aspectoss culturais empregados no ritual fúnebre do oobjeto de estudo. Depois esses dados são comppilados para que essas práticas forneçam info nformações gerais que configurem o sítio como um u cemitério.

Deposição Preparação e Tratamento do corpo Unidades Funerárias (enterramento) to)

Disposição dos membros Enxoval funerário rio

Posição Orientação Distância

Quadro 1: no quadro acima temos as variáveis estabelecidas para a análise do sítio.

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4.1 Resultados

Nestes aspectos as unidades funerárias (enterramentos) serão analisadas em conjunto seguindo a variável religiosa que determina a existência dos comportamentos funerários em sítios cemitérios. Para melhor compreensão do sítio deve-se tentar uma reconstrução dos atos que acompanham a preparação das práticas funerárias. Neste trabalho é importante uma breve descrição dos indivíduos encontrados, com todos os aspectos que revelaram características para a realização da pesquisa. A escavação da quadra 55 teve início em 2013, sendo evidenciadas antigas estruturas e em um nível abaixo, os remanescentes humanos foram descobertos. Todos os indivíduos localizados estão em decúbito dorsal estendido (deitados de costas, com os membros inferiores estendidos), com as mãos sobre o tórax, estando com os pés voltados para o mar e a cabeça para o continente, sendo sua orientação eixo crânio-pelve definida de acordo com a análise do Drº. Sérgio Francisco Serafim Monteiro da Silva (PESSIS et al, 2013), voltada para leste. Os aspectos biológicos foram analisados por Silva (2015) e a autora aponta suas idades entre 15 e 30 anos e seu sexo como masculino com observação para os mais novos, que devido a sua idade muito baixa e seu desenvolvimento que não estão completos. Logo fica difícil estimar o sexo precisamente. Foi observada a relação das variáveis escolhidas do sítio com outros do mesmo período escavados na região metropolitana do Recife (RMR). Além disso, foram levados em conta padrões estabelecidos de acordo com as ordens religiosas que atuavam no século XVII e cujas características fúnebres estão descritas no capítulo I. Assim os resultados serão divididos de acordo com o quadro acima e sempre realizando uma comparação imagética entre os indivíduos de o sítio Pilar com os outros sítios escavados do período.

Preparação e Tratamento do corpo

No universo analisado, os enterramentos totalizam 24. Os ossos estão em avançado grau de conservação, articulados e todos aparecem na mesma camada

75 estratigráfica. Isso contribui na visibilidade na hora de analisar as características do ritual fúnebre. A deposição do corpo na cova varia de acordo com cada grupo cultural, com relação as religiões, podem apresentar diferenças e semelhanças e estas variações dependem de sua origem. As ordens religiosas (Católica, Judaica e Protestante (Calvinista)) que atuavam em Pernambuco no século XVII têm uma origem Judaico-cristã. Apresentam suas características de ritual funerário semelhante e mesmo assim, distintas entre si. Muitas podem ser confundidas, mas se analisadas profundamente percebe-se seus aspectos bem demarcados.

Figura 28: Na imagem (direita) temos um enterramento judeu em Cerro de La HorcaEspanha e a imagem (esquerda) apresenta um enterramento 65 de o sítio Pilar- PE. Fonte: Imagem direita (TABOADA, 2015) e imagem esquerda (imagem cedida pela Fundação Seridó).

76 Na imagem 28 acima, temos o indivíduo da direita cujo enterramento foi identificado como judeu.O sítio em que foi encontrado se chama Cerca de la Horca em Toledo (TABOADA, 2015), Espanha. O enterramento da esquerda é do sítio Pilar- PE (65). A imagem do enterramento judeu utilizado foi de um sítio fora do Brasil, pois não existem ainda estudos sobre cemitérios judaicos em Pernambuco.

Figura 29: Na imagem direita é do enterramento do Monte dos Guararapes- PE escavado pelo professor Marcos Albuquerque. Sendo ele católico. A imagem esquerda é o enterramento 55 do sítio Pilar-PE. Fontes: Imagem direita (http://vivointensamenteascoisasmaissimples.blogspot.com.br) e imagem esquerda (cedida pela Fundação Seridó).

77 Na imagem acima temos um indivíduo envolvido por um vidro, este é o enterramento católico exumado pelo professor Marcos Albuquerque no Monte dos Guararapes-PE e o da imagem esquerda é o enterramento 55 do sítio Pilar- PE. Com a invasão holandesa em 1630 e a vinda da WIC para Recife, a Igreja Reformada passou a administrar a Vila e seus estabelecimentos tanto civis como militares. O Forte de São Jorge abrigou um dos primeiros hospitais da companhia e estava sendo administrado pelos Calvinistas, estes também coordenavam os enterros. Assim é necessário também realizar uma comparação com sepultamentos protestantes. Como não temos outros exemplos escavados aqui no Brasil teve-se que buscar em outros países.

Figura 30: Na imagem direita temos o croqui mostrando um enterramento do cemitério de Chareton na França e a imagem esquerda o cemitério Pilar em Recife. Fonte: INRAP, 2005 (imagem direita) e imagem cedida pela fundação Seridó (imagem esquerda).

78 Na imagem 30 acima, temos o croqui (direita) onde se observa um enterramento encontrado em um cemitério protestante do século XVII na França, chamada de cemitério Charenton e o da imagem esquerda são o enterramento 55 do sítio Pilar- PE. Nota-se que a deposição do corpo na cova é semelhante, estando os dois enterramentos em dispostos em decúbito dorsal estendido, isto é, deitados de costas com os membros inferiores estendidos e os superiores dispostos sobre o tórax paralelamente.

Figura 31: Na imagem direita temos um croqui mostrando enterramento do cemitério de Chareton na França e a imagem esquerda o enterramento do cemitério Pilar em Recife. Fonte: JEAN-YVES DUFOUR, 2005 (imagem direita) e imagem cedida pela fundação Seridó (imagem esquerda).

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Na imagem 31 acima, temos o croqui (direita) onde se observa os enterramentos que foram encontrados em um cemitério protestante do século XVII na França (cemitério de Chareton) e a imagem esquerda, têm-se os indivíduos 47 e 48 do sítio Pilar- PE. Nota-se que a deposição do corpo na cova é semelhante, estando os dois enterramentos dispostos em decúbito dorsal estendido, isto é, deitados de costas com os membros inferiores estendidos e os superiores sobre o tórax e sobre a pelve.

Figura 32: Na imagem direita temos um enterramento de Beacon Island e a

imagem esquerda um enterramento do cemitério Pilar em Recife. Fonte: http://www.news.uwa.edu.au/ (imagem direita) e imagem cedida pela fundação Seridó (imagem esquerda).

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Na imagem 32 acima, temos o enterramento da direita, que foi encontrado em Beacon Island, Austrália e a imagem esquerda, cujo indivíduo é o enterramento 55 do sítio Pilar- PE. Nota-se que a deposição do corpo na cova é semelhante, estando os dois enterramentos em dispostos em decúbito dorsal estendido, isto é, deitados de costas com os membros inferiores estendidos e os superiores paralelamente sobre o tórax. Ao analisarmos todas as imagens percebem-se as semelhanças na deposição do corpo na cova em todos. Todos os casos estão com seus corpos colocados na cova em decúbito dorsal estendido, isto é na posição horizontal, deitado de costas com seus membros estendidos. Contudo existem diferenças com relação à disposição dos membros e ao uso de enxoval funerário, fato que será abordado ainda neste capítulo.

Disposição dos membros

Os dados sobre a disposição dos membros é parte integrante do estudo, integrando informações capazes de trazer o estabelecimento de padrões que podem inferir dados sobre os aspectos culturais e sua inter-relação com elementos que possibilitem a associação com uma determinada religião. Na imagem 33 que segue abaixo, temos dois sítios cemitérios diferentes, os indivíduos têm a disposição dos seus membros distintos. O indivíduo da direita é um enterramento judeu encontrado no sítio em Cerro de La Horca, Toledo, Espanha. O indivíduo da esquerda é o enterramento 06 do sítio Pilar- PE. Ao analisarmos percebemos as diferenças na disposição de seus membros. O indivíduo de Toledo estar com os membros dispostos ao lado do corpo, sendo tal característica comum nos rituais judaicos, como pode ser visto no capítulo I. O enterramento do Pilar exibe uma diferença na disposição dos membros, estando com as mãos sobre a pelve, dispostas lado-a-lado. Essa diferença define um padrão que pode ser analisado e comparado com outros.

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Figura 34: A imagem acima mostra ass diferentes d disposições de membros das diversas cultu lturas. Fonte: Imagem direita (TABOADA, 2015) e a imagem esquerda da (cedida pela Fundação Seridó).

Figura 33: a imagem mostra as distintas disposições d dos membros em rituais funerários realiza izados por grupos diferentes. Fontes: Imagem direita (http://vivointensa nsamenteascoisasmaissimples.blogspot.com.br) e image agem esquerda (cedida pela Fundação Seridó).

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Na imagem 34 acima, temos os enterramentos 47 e 48 do sítio Pilar-PE e do Monte dos Guararapes-PE (direita). Ao realizar uma análise da figura nota-se que a disposição dos seus membros tem distinções, apesar de estarem sobre a barriga. Na imagem direita os braços estão cruzados sobre o peito e o da imagem esquerda eles estão paralelos sobre o tórax. Essas características díspares representam comportamentos nos rituais fúnebres que sofreram variações com o passar do tempo.

Figura 35: a imagem mostra as semelhanças na disposição dos membros nos rituais funerários realizados nos sítios Pilar e

Beacon Island. Fontes: Imagem direita (http://www.news.uwa.edu.au/) e imagem esquerda (cedida pela Fundação Seridó).

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Figura 36: a imagem mostra as semelhanças na disposição dos membros nos rituais funerários realizados nos sítios

Pilar- PE e Charenton. Fontes: Imagem direita (JEAN-YVES DUFOUR, 2005) e imagem esquerda (cedida pela Fundação Seridó).

Figura 37: a imagem mostra as semelhanças na disposição dos membros nos rituais funerários realizados nos dois sítios. Fontes: Imagem direita (JEAN-YVES DUFOUR, 2005) e imagem esquerda (cedida pela Fundação Seridó).

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Nas imagens 35, 36 e 37 acima, nota-se a semelhança de rituais fúnebres entre os remanescentes de o sítio Pilar- PE e os enterramentos de Beacon Island na Austrália e no cemitério de Charenton, mesmo estes sendo em países distintos. Beacon Island e Charenton foram identificados pelas equipes arqueológicas como tendo rituais fúnebres protestantes, isto traz uma luz sobre a identificação das práticas funerárias do cemitério Pilar. Além disso, os três sítios são do século XVII, mostrando assim que tais características representam comportamentos da mesma ordem religiosa.

O enxoval funerário

A cultura material associada a um enterramento tem um papel diferencial neste estudo, estes são elementos encontrados junto aos esqueletos e diferem de acordo com cada cultura. Estes vestígios podem variar de acordo com os tipos de elementos, como adornos de uso pessoal (colares, medalhas, rosários), ossos e objetos associados. Binford fala que essa variável pode estabelecer no contexto funerário diferente formas de relação social dentro de um grupo, como formulações de leis, mudança cultural, continuidade, processos de contato, etc. Assim podemos ressaltar que apesar da importância do enxoval funerário em algumas culturas, não se pode generalizar, pois existem grupos que acreditam que na vida após a morte o morto deve-se privar de adereços. Estes seriam vistos como objetos de magia, sendo assim impuros e não poderiam ser levados, pois traria conseqüências para a salvação da alma do indivíduo, isto abordando os rituais protestantes. O povo que realizou as inumações no sítio estudado não tinha o costume de utilizar materiais associados ao seu ritual fúnebre. De acordo com a comparação realizada entre outros sítios do mesmo período histórico percebeu-se que na inumação dos indivíduos do local, tiveram algumas disparidades entre as práticas funerárias Judaicas e Católicas e muitas semelhanças com os sítios com enterramentos protestantes. Temos o exemplo dos enterramentos localizados no Monte dos Guararapes pelo professor Marcos Albuquerque cujos corpos continuam junto a si rosários e outros

85 elementos (ver figura 34). Com relação a enterros Judaicos aqui no Brasil não foram encontrados sítios escavados. Então foi necessária a obtenção de material arqueológico sobre sítios fora do país, para a análise comparativa. O sítio escolhido foi o de Cerco de La Orca na Espanha, cujos enterramentos foram identificados como sendo realizados pela religião judaica. Nos rituais fúnebres Judaicos o único enxoval funerário usado são pedras, moedas ou conchas nos olhos e na boca. Além disso, estes enterram cada corpo individualmente em sua própria cova e usam caixões, adornando a cova com abóbodas de tijolo.

Orientação

A orientação dos enterramentos na cova caracteriza uma variável considerável que trará dados capazes de categorizar o sítio Pilar- PE como um cemitério. Revela particularidades nas práticas de inumação de cada cultura e os pontos de referências podem estar ligados a fatores como a localização de um lugar sagrado ou até mesmo pela questão de a alma do morto ter uma passagem mais tranqüila para o outro mundo. Além disso, tal variável define um sítio arqueológico como sendo um cemitério ou vala comum, pois os dois tipificam diversas formas de tratamento do indivíduo. Sendo que em um sítio cemitério teremos os rituais funerários bem demarcados, tendo os corpos orientados para o mesmo lado, existindo ainda uma distância mínima entre eles, fatores identificáveis no sítio Pilar.

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Figura 38: as imagens acima most ostram as distinções entre um sítio cemitério e uma vala va comum. Fontes: ALBUQUERQUE, 2006 (imagens em e baixo) e imagem cedida pela Fundação Seridó (ima magem em cima).

87 Na imagem 38 acima, nota-se a diferença entre o sítio Pilar - PE e os outros do mesmo período. Ao realizar uma breve observação constatam-se as distinções entre as questões de orientação e pode se perceber que diferente do objeto de estudo, os outros sítios não possuem sua organização de acordo com um ritual funerário distinto.

Para uma melhor definição do período histórico em que o sítio está inserido, foi necessária uma análise do seu contexto, em especial a estratigrafia e os vestígios arqueológicos que serviriam de marcadores cronológicos. Na lógica desta distinção, verticalmente o sítio apresenta três camadas estratigráficas:



A primeira camada do aterro: sendo esta iniciada a partir do século XIX onde para o desenvolvimento do porto aconteceu os aterros, tendo que haver uma ampliação do istmo. Sendo esta a mais recente;



A segunda camada, as construções: que datam de 1682, final do século XVII. Cuja doação do governador Aires de Sousa Castro ao capitão-mor João do Rego Barros, sendo 25 braças de terra de comprido no sítio em que esteve o Forte Velho (Forte de São Jorge) (COSTA, 1984);



A terceira camada, o terreno do istmo: Sendo esta a mais antiga, onde foi encontrado o cemitério. Pessis (et al, 2014), diz que “alguns esqueletos estão imediatamente abaixo das fundações, sendo inclusive danificados por elas; outros estão a até 25 centímetros abaixo das estruturas de fundação. Essa variação na relação de nível entre sepultamentos e estrutura é causada pelo porte da estrutura: algumas são mais profundas, outras mais rasas. Mas os esqueletos estão num mesmo nível de ocupação.”

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Figura 39: Relação vertical entre sepultamentos e estruturas construtivas, indicando a anterioridade dos sepultamentos em relação às construções. Fonte: PESSIS et al, 2013.

Figura 40: a imagem mostra a diferença estratigráfica entre a camada das estruturas e os esqueletos. Fonte: imagem cedida pela Fundação Seridó.

89 Nas imagens 39 e 40 observa-se a relação vertical entre a camada onde foram encontradas as estruturas de antigas casas e a camada estratigráfica onde estão os esqueletos. Nota-se uma disparidade de acordo com cada área do sítio. Em algumas partes a distância é de 40 centímetros em outras chegam a quase 1 metro de distância entre as estruturas e os remanescentes ósseos. É possível contatar que mesmo com uma distância em alguns casos tão pequena, as estruturas não chegam a nenhum momento tocar diretamente nos indivíduos.

Embora não tenha sido possível traçar uma seqüência cronológica para o sítio com precisão, este apresenta aspectos como a estratigrafia e alguns vestígios arqueológicos que apareceram na área que podem ajudar a estabelecer uma estimativa sobre a possível idade do objeto de estudo.

Um dos vestígios encontrados no sítio que estava sobre o braço do enterramento 11, é um tijolo o qual foi obtido apenas sua imagem, com isso foi realizada uma pesquisa e visto que este seria possivelmente um tijolo holandês de Frísia, cujas dimensões foram achadas em Mello (1981), e em seu relato ele aborda que existem dois tamanhos diferentes.

Figura 41: as imagens acima mostram as dimensões de um tijolo holandês de frísia (imagem esquerda) e um tijolo de frísia real. Fonte: MELLO, 1981(imagem esquerda).

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Durante a escavaçãoo realizada no sitio Pilar, na quadra Q-55, foi oi evidenciado um objeto metálico, que em suas sua faces possuía baixo revelo de dois símbolos sím bastante conhecido dentro da cultura Ju Judaico-Cristã: em um verso estava à estrela la de Davi (estrela de seis pontas) e do outro um m Menorá (candelabro de sete braços.). Tal objeto ob poderia ser um forte indicador que ali exis xistia um cemitério Judaico (ALVES, 2013).

Figura 42: Objeto metálico ev evidenciado nas escavações do cemitério, próximo aos a sepultamentos. Fonte: PESSIS, et al 2013.

sado Judaico perto Na entrevista dada ao Jornal do Comércio, cujo titulo é “O passad da Revelação.”, foi mencionad nado que o objeto era feito de “Alpaca”- ligaa metálica m feita de cobre, níquel e zinco- mas, devido de a uma discussão, perguntou-se: Será que qu tal material já existia no Brasil Holandês?

A alpaca já era conhe hecida na china desde a dinastia Qing ou Chi hing (1644-1911), mais foi sendo importada paraa o leste da índia, era conhecida como Bai-to tong ou Paktong, era um metal prateado quee imitava i a prata esterlina. (DWIGHT DANA NA, 1869, p.265; OBERG; JONES, 1917, p. 412 12)

91 Na Europa o Paktong, chega em 1597, mais somente no século XVIII, ele é "imitado" na Alemanha, aonde depois outros países começam a produzir tal material, também era conhecida como "prata alemã" (DWIGHT DANA, 1869, p.265; OBERG; JONES, 1917, p. 412).

Foi bastante usada para a fabricação de talheres durante o século XIX, além de outros materiais como jarras e outros objetos. No Brasil se popularizou com a abertura dos portos para nações amigas a Portugal, quando a família real teve que vir para o Brasil, por causa da pressão de Napoleão Bonaparte (FREYRE, 1948, p. 289; 2004 p. 579-580). Pode-se encontra esse material com duas cores: dourado, que quando a liga ganha a inclusão do estanho, mas a coloração natural da liga é a prateada, sendo conhecida como “prata alemã” ou “prata de alpaca” quando passa por um banho de prata dado por um processo de galvanoplastia (HISTÓRIA, 1996, p. 68).

Em estudos sobre os metais utilizados no Brasil Holandês, foram mencionado ouro, prata, latão, estanho, bronze, cobre, mais nada que se refere à alpaca ou até mesmo o Paktong nas terras Brasileiras naquele período (LEITE, 2004, p.254-256, 257-260, 269278; MELLO, 1976, p.185-228; SALAZAR, 1994).

Assim todas as análises abordadas acima sobre as práticas fúnebres, sobre a estratigrafia e sobre os vestígios que podem ser utilizados como marcadores cronológicos, lançam bases metodológicas para, no futuro, as pesquisas sobre os rituais e sobre a cronologia do sítio sejam aprofundados e assim construindo um panorama sobre os tipos de inumações Protestantes no Brasil no século XVII e sobre o período em que o objeto de estudo está inserido.

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4.2 Discussões Neste trabalho a proposta foi evidenciar os rituais funerários observados nos remanescentes humanos do sítio Pilar, e com isso surgiu o seguinte questionamento: Através da análise das práticas funerárias dos indivíduos inumados pode-se categorizar o sítio Pilar- Q-55 como um cemitério? A questão dos cemitérios dentro do Brasil colonial é algo complexo, pois existe uma ausência deste “termo” dentro da historiografia ou das próprias pesquisas arqueológicas, a questão da terminologia e aplicação do “cemitério” em si começa no século XIX, quando aparece por questões de higiene e precaução com o miasma dos cadáveres em decomposição dentro do recinto religioso. O sitio Pilar, pelas suas características observadas é um dos poucos cemitérios remanescentes do Brasil colonial. Uma característica que existia no século XVII era a inexistência de cemitérios fora do solo sagrado da igreja, em pleno campo, contudo foi abordada na pesquisa a primeira menção, até agora localizada da palavra cemitério antes da criação dos cemitérios públicos no século XIX. Sendo Frei Vicente de Salvador que em sua obra sobre a história do Brasil que falou a primeira vez aqui no Brasil a palavra, mas no final do século XVII e início do século XVIII, vemos essa palavra presente em cartas e livros, como na carta mandada ao rei Dom João V de Portugal pelos Carmelitas do Recife que Reclamavam por ter seu cemitério transferido para outro lugar, isso em 1707 (AHU_ACL_CU_015, Cx.22, D. 2058). Já no caso de descrições entre esses dois séculos temos uma questão dos cemitérios, bem descritas por Fr. Antonio de Santa Maria Jaboatan, aonde ele descreve cemitérios em locais dentro ou ao redor delas, como no Claustro (pátio interno dos conventos ou mosteiros) das igrejas (JABOATAN, 1859: 205). Jaboatan descreve diversas vezes enterros de religiosos e de membros de confrarias e outras pessoas, em “cemitérios”, fazendo ver o conhecimento desta palavra.

Nos períodos entre 1685 a 1692 em Recife, um dos médicos que descreveu a epidemia de Bexiga que ocorreu neste período em Pernambuco, Dr. João Ferreira Rosa menciona quais áreas serviram de cemitério “para acomoda os mortos” (ROSA, 1694: 21).

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Sendo utilizadas covas coletivas em áreas aonde tinha igrejas e longe das populações, igualmente descreve Daniel Defoe em “Diário do ano da peste” que narra na forma de Romance uma epidemia que atacou a Inglaterra em 1664, e que atacou a Holanda em 1663, onde diversas vítimas foram enterradas em covas coletivas dentro de cemitérios nas igrejas, dando um aspecto misto muitas vezes ao local entre covas coletivas e cemitérios (DEFOE, 2010:21).

Hoje através da Arqueologia diversos sítios arqueológicos vêm sendo estudados que possuem dados importantes sobre os primeiros séculos do Brasil, como a cova coletiva que data do período de Epidemia de Bexiga do século XVII, sendo uma delas que se localizam hoje ao redor da cidade do Recife (OLIVIA, 2006). Outros sítios foram estudados por Marcos Albuquerque e sua equipe, mais ainda assim precisa-se de uma análise comparativa entre esses diversos sítios seja na analise funerário como forense, para se entender a cultura da morte no Brasil Colônia.

Um das questões mais importantes na Guerra Brasílica era a questão de como cuidar dos seus doentes e feridos, muitas às vezes os hospitais de campanha, sendo originalmente criada no século XV pela Rainha Isabel de Castela e Aragão e em 1620 pelo Nobre Maximiliano I da Batavita instalou um hospital na Alemanha, para atender os soldados feridos aonde possuía separação dos doentes pelas suas doenças para evitar o contagio mútuo, além de serem bem arejados (ORLANDO, 2016:178).

No Brasil, a questão de Hospitais de campanha era algo penoso, Mello (2009:208), aborda em seu trabalho que no lado Luso-Brasileiro o socorro médico e os próprios medicamentos eram algo escasso, pois depois da perda dos Navios de Francisco Vasconcelos, apesar de ter médicos e cirurgiões da Ordem de São João de Deus que chegaram em 1634, só puderam funda um hospital em porto Calvo em 1637, devido à falta de remédios, que muitas vezes eram contrabandeados e vendidos a altos preços para os soldados, os que não tivessem dinheiro para comprar só tinha a opção de “padecer e perecer”, como aconteceu também aos Neerlandeses ate sua expulsão (MELLO, 2009:209).

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Além disso, caso como de desrespeito aos mortos do campo de Batalha eram comuns, como narra diversos cronistas (MELLO, 2009:208), pois em alguns casos quando do lado Luso-brasileiro conseguiam enterra seus mortos usavam uma corda amarrada ao pescoço do morto para arrastá-lo para a cova, provocando assim na visão arqueológica, que alguns podem ter morrido por enforcamento quando na verdade era um habito levar os mortos assim, provocando lesões post-mortem. Outra pratica singular, mais que não houve uma retratação no Brasil Neerlandês, foi o caso de se matar doentes com sérios ferimentos, como foi retratado por um medico Francês em 1536, aonde um companheiro matou o outro, devido ao serio ferimento que tinha, e quando indagado pelo medico, ele disse que se algo assim acontece-se a ele, queria que um companheiro fizer-se o mesmo, pois se o ferimento não tinha cura, era o melhor jeito de acabar com a agonia do companheiro (FARMAN, (ed) 1993:78-79). Assim de acordo com os dados arqueológicos foi possível identificar que os remanescentes do sítio Pilar- PE foram organizados de acordo com um ritual fúnebre específico, tendo sua deposição para a mesma direção, isto é, pés para o mar e cabeça para o continente (direção crânio-pelve, Oeste-leste), existindo também uma distância mínima entre eles, o que difere de uma vala comum onde os indivíduos inumados são dispostos com maneiras diferentes. Além dessa variável foi vista a questão de disposição dos membros, que no objeto de estudo estão todos com um padrão, alguns remanescentes com as mãos sobre a pelve dispostas lado a lado, e outros indivíduos com os braços dispostos paralelamente sobre o tórax (barriga). Existem muitas variáveis que estabelecem os padrões funerários, como a econômica, a cronológica, a espacial e a religiosa, dentre essas, a variável que melhor se enquadrou no perfil do sítio estudado foi à religiosa. No capítulo I é possível ler mais sobre essas variáveis religiosas, que trouxeram informações capazes de inferir dados sobre os aspectos culturais de cada religião pesquisada no século XVII. Logo dentre as três ordens religiosas que foram pesquisadas, pode-se identificar que seus rituais fúnebres vêm do mesmo ramo religioso o Judaico- Cristão. Analisando as características de seus rituais funerários no contexto arqueológico do sítio Pilar podem-se apontar as seguintes conclusões:

95 a. A religião Judaica: tem características semelhantes em seu ritual fúnebre com o objeto de estudo, estes utilizam como enxoval funerário apenas pedras nos olhos ou em alguns casos moedas, sendo que estes não foram encontrados nos enterramentos em campo (PESSIS et al, 2013). Contudo existem disparidades, como as questões da disposição dos membros que no caso do judaísmo, os braços são sempre colocados ao lado do corpo e todos os indivíduos só podem ser sepultados em uma cova individual. (HAGOORT,2015) b. A religião Católica: tem características que se assemelham as encontradas no cemitério, contudo aparece uma disparidade entre eles, a questão do enxoval fúnebre. Fato que os católicos usavam medalhas, rosários ou cruzes como enxoval funerário, como exemplo podemos citar o enterramento que estar no forte do Brum, escavado pelo professor Marcos Albuquerque no Monte dos Guararapes. c. A religião Protestante: em concordância com os dados observados temos em seu ritual funerário variáveis, cujas características tiveram pontos semelhantes às analisadas nos remanescentes do sítio Pilar- PE. Como no objeto de estudo temos a deposição do corpo em decúbito dorsal estendido (deitado de costas com os membros inferiores estendidos), já as disposições dos braços podem variar entre colocadas as mãos lado a lado sobre a pelve ou paralelamente sobre o tórax (barriga). Além disso, estes também não usam nenhum objeto como enxoval funerário e realizam enterramentos coletivos (com dois indivíduos). Observam-se nos resultados dois exemplos que são Charenton na França e Beacon Island na Austrália, os dois apresentam variáveis em concordâncias com as observadas no sítio. Sendo achados também na Inglaterra sítios cemitérios também do mesmo período, século XVII com as mesmas características (GORDON, 1996). Outro fator que assemelha entre as três ordens religiosas é a questão da prática de amortalhar o corpo e do uso de caixão. Uma observação vista na pesquisa é a questão da diferenciação com relação à classe social. Em Charenton a equipe que o escavou notou que os remanescentes eram pessoas pobres, porque nem todos tinham caixões e era usada pouca madeira para cobrir a cova.

96 Além disso, eles tinham o hábito de enterrar dentro dos templos e havia uma divisão, as crianças tinham uma área separada no cemitério para ser enterradas. De acordo com a historiadora Marianne Carbonnier-Burkard (Apud JEAN-YVES DUFOUR, 2005) os corpos sempre eram cuidadosamente alinhados para a mesma direção (com exceção de algumas crianças) com eixo crânio- pelve para leste. Os esqueletos eram sobrepostos e não havia separação entre homens e mulheres, eram enterradas na mesma área. Ela diz ainda que o cemitério fosse junto ao templo e que para este, não era dado nenhum significado religioso apenas funcional. Assim as práticas fúnebres analisadas tiveram uma intensa mensuração e compilação dos dados, os quais ajudaram a criar uma tabela com os rituais funerários da época e assim inferir que os enterramentos identificados no sítio Pilar foram realizados possivelmente pela Igreja Reformada (Calvinista) (ZUMTHOR, 1989; GAARDER, HELLER, NOTAKER, 2005). Deve ser realizado um estudo mais amplo dos objetos encontrados in situ que remetem ao período holandês, dentre eles cerâmica, cachimbos e tijolos. As informações coletadas desses materiais podem inferir dados sobre a contextualização do cemitério no espaço e no tempo. A pesquisa mostrou-se satisfatória, obteve dados parciais sobre os rituais funerários do século XVII. A morte ainda neste período pode nos dá uma visão de outras partes da sociedade, como os rituais africanos (NIEUHOF, 1988; SOLER, 1997), dos índios e de outros que ainda não foram estudados profundamente. Assim, com o limiar da pesquisa nos deparamos com outros sítios arqueológicos forenses e funerários do século XVII que estavam esquecidos. Isso mostra a importância do estudo da Arqueologia Funerária e Forense para construirmos um panorama mais completo e aprofundado da vida e morte do legado cultural deixado pelos diversos grupos que aqui viveram.

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109

ANEXOS

Tabela 5: tabela em anexo representa as epidemias e doenças que assolaram o Brasil no período holandês.

Período

Epidemias e doenças

Referência

Século XVI

Frialdade Estupor Maculo Febres Oftalmias Bicho

Pereira da Costa, 1983: 494-495 Souza, 2000 Gândavo, 1995

Entre 1600 a 1615

Bicho Febres Doenças congênitas Sarampo Bexiga “Pele de Lixa” Camara Infecções urinariam “Mordexim”

Brandão, 1966:39-71 Tauney, 1927. Soares, 1950.

Entre 1616-1629

Bicho Febres Doenças congênitas Sarampo (1616-1617) Bexiga (1616-1617) “Pele de Lixa” (Variação bexiga) Câmara Infecções urinárias “Mordexim” Escorbuto

Brandão, 1966:39-71 Tauney, 1927. Soares, 1950.

Entre 1630-1635

de

Escorbuto Cegueira Noturna Doença do País Febres Moléstia de fígado Gripe Disenterias Sanguíneas Gonorréia Vermes Sarampo Varíola Catarros Males dos olhos Estupor de Membros Obstrução das vísceras Hidropisia Prolapso da Cartilagem Mucronada Fluxo de ventre

Miranda, 2014 Mello, 1987 Mello, 1992 Holanda (org). 2003a Holanda (org). 2003b Miranda, 2011 Documentos Holandeses, 1945 Galindo; Hulsman,2001 Barleus, 1980 Mackgrave, 1648 Piso, 1658 Mota, 1982 Lima, 1997 Galindo (org).2005 Wätjen,2004 Boxer,2004 Souto, 1992 Richsheffor,1970

110 Tenesmo Cólera Disenteria Fluxo hepático de ventre Ulcera Inflamações nos anus (Maculo) Lombrigas Lues Indica (Sífilis) Feridas Inflamações Ulceras Furúnculos Impigem

Mello, 2007 Mello,2006 Salazar, 1994 Silva,2011 Schalkwijk,2004 Pereira da Costa,1984 Lopez, 2002 Laet,

Entre 1636-1644

Escorbuto Cegueira Noturna Doença do País Bicho Febres Moléstia de fígado Gripe Disenterias Sanguíneas Gonorréia Vermes Sarampo (1641) Varíola (1641) Catarros Males dos olhos Estupor de Membros Obstrução das vísceras Hidropisia Prolapso da Cartilagem Mucronada Fluxo de ventre Tenesmo Cólera Disenteria Fluxos hepáticos de ventre Ulcera Inflamações no anus (Maculo) Lombrigas Lues Indica (Sífilis) Feridas Inflamações Ulceras Furúnculos Impigem

Nieuhof, 1981 Moreau, 1979 Miranda, 2014 Mello, 1987 Mello, 1992 Holanda (org). 2003a Holanda (org). 2003b Miranda, 2011 Documentos Holandeses, 1945 Galindo; Hulsman,2001 Barleus, 1980 Mackgrave, 1648 Piso, 1658 Mota, 1982 Lima, 1997 Galindo (org).2005 Wätjen,2004 Boxer,2004 Souto, 1992 Richsheffor,1970 Mello, 2007 Mello,2006 Salazar, 1994 Silva,2011 Schalkwijk,2004 Pereira da Costa,1984 Lopez, 2002 Laet,

Entre 1645-1654

Escorbuto Cegueira Noturna Sífilis Doença do País Bicho Febres Moléstia de fígado Gripe Disenterias Sanguíneas Gonorréia Vermes Sarampo Varíola

Nieuhof,1981 Moreau,1979 Calado, 2004 b Mello, 1993 Miranda, 2014 Mello, 1987 Mello, 1992 Holanda (org). 2003a Holanda (org). 2003b Miranda, 2004 Documentos Holandeses, 1945 Galindo; Hulsman,2001 Barleus, 1980

111 Catarros Males dos olhos Estupor de Membros Obstrução das vísceras Hidropisia Prolapso da Cartilagem Mucronada Fluxo de ventre Tenesmo Cólera Disenteria Fluxo epatico de ventre Ulcera Inflamações no anus (Maculo) Lombrigas Lues Indica (Sífilis) Feridas Inflamações Ulceras Furúnculos Impigem

Mackgrave, 1648 Piso, 1658 Mota, 1982 Lima, 1997 Galindo (org).2005 Wätjen,2004 Boxer,2004 Souto, 1992 Richsheffor, 1970 Mello, 2007 Mello,2006 Salazar, 1994 Silva,2011 Schalkwijk, 2004 Pereira da Costa, 1984 Lopez, 2002 Laet, ?

Entre 1655- 1666

Xumbregas (1666) Bouba Bócio endêmico Parasitoses Dermatoses várias Disenterias Paludismo Lues Varíola Sarampo Escarlatina Tuberculose Lepra Doenças venéreas Sarnas Filariose Dracunculose Febre Amarela Ancilostomíase Verminose Tracoma Maculo Ainhum- mau perfurante plantar GunduExostose Paranasal

Lima,1997 Couto, 1980 Mello, 2012 Rocha Pita, 1950 Aquino; Mendes; Boucinhas:2009 Gama,1844 Holanda (org). 2003a Holanda (org). 2003b

Entre 1667-1685

Malês. (Febre Amarela) Bouba Bócio endêmico Parasitoses Dermatoses várias Disenterias Paludismo Lues Varíola Sarampo Escarlatina Tuberculose Lepra Doenças venéreas

Santos, 1986 Lima, 1997 Couto,1980 Jaboatan, 1889 Osório, 1977 Mello, 2012 Aquino; Mendes; Boucinhas:2009 Gama,1844 Osorio, 1992 Rosa, 1694 Pimenta,1703 Holanda (org). 2003a Holanda (org). 2003b

112 Sarnas Filariose Dracunculose Febre Amarela Ancilostomíase Verminose Tracoma Maculo Ainhum- mal perfurante plantar GunduExostose Paranasal Entre 1686-1700

Malês (Febre Amarela.) Bouba Bócio endêmico Parasitoses Dermatoses várias Disenterias Paludismo Lues Varíola Sarampo Escarlatina Tuberculose Lepra Doenças venéreas Sarnas Filariose Dracunculose Febre Amarela Ancilostomíase Verminose Tracoma Maculo Ainhum- mau perfurante plantar GunduExostose Paranasal

Santos, 1986 Lima, 1997 Couto,1980 Jaboatan, 1889 Osório, 1977 Mello, 2012 Aquino; Mendes; Boucinhas:2009 Gama,1844 Osorio, 1992 Rosa,1694 Pimenta,1703 Holanda (org). 2003a Holanda (org). 2003b

113 Tabela 6: a tabela em anexo mostra a localização dos hospitais existentes em Recife e seus arredores.

Hospitais

Localização

Referencia

Santa casa de Misericórdia

Igreja da Misericórdia, em Olinda

MELLO, 1993 CALADO, 2004 b

Hospital de São Jorge ou do Recife

No istmo de Olinda e Recife, nas proximidades da Igreja do Pilar

MELLO, 1987; 1976 a;1976 b; 1956 b; 2004 a; 2004b; MOREAU, 1979; NIEUHOF,1980

Hospital de Mauricia

Dentro da cidade Mauricia, possivelmente próximo aos jardins de Nassau

Hospital da Várzea

Localizado dentro das terras pertencentes a João Fernandes Viera, na Várzea

MELLO, 1987

CALADO, 2004 b MELLO, 1993

114 Tabela 7: Dados sobre localização de igrejas e cemitérios em Recife e Mauricia, o valor dos enterros e outros dados funerários. Fonte: MELLO, 1987, p. 114

Local

Valor (1642) Criança 75 florins 12 florins e 10 Stuivers 32 florins e 10 Stuivers 6 florins

Valor (1645) Adulto 70 florins 12 florins

Valor (1645) Criança 35 florins 6 florins

30 florins

15 florins

12 florins

6 florins

32 florins e 10 Stuivers 6 florins

30 florins

15 florins

12 florins

6 florins

Valor (1650) Adulto 18 florins

Valor (1650) Crianças 9 florins

Abertura de túmulos

Igrejas (1650)

Cemitérios (1650)

Recife Mauricia

60 florins 60 florins

30 florins 30 florins

Taxas e materiais Padiola para carregar o corpo

?

?

Valor (1645) 2 florins

Valor (1645) 1 florim

Luto para cobrir a padiola

?

?

1 florim

10 Stuivers

Para abrir e fechar túmulos nas igrejas Para abrir e fechar túmulos nos cemitérios Mortalhas de boa qualidade Mortalhas de baixa qualidade

?

?

12 florins

12 florins

?

?

6 florins

3 florins

? ?

? ?

6 florins 4 florins

3 florins 2 florins

Encomendações nas igrejas

?

?

8 florins

4 florins

Encomendações nos cemitérios

?

?

4 florins

2 florins

Igreja do Corpo Santo (Recife) Cemitério da Igreja (Recife) Convento de São Antonio (Mauricia) Cemitério do Convento de Santo Antonio (Mauricia) Igreja Francesa (Mauricia) Cemitério da Igreja Francesa (Mauricia)

Valor (1642) Adulto 150 florins 25 florins 75 florins 12 florins 75 florins 12 florins

Local (Caso especial) Cemitério do Recife (Retorna a guarda da igreja do Recife em 1648-1650)

115

Figura 45: Imagens retiradas da obra de Pieter Van der Aa (1659- 1733) “ Les Delices de Leiden (...)” publicado em 1712, aonde mostra a fome (imagem superior.) e as epidemias (imagem inferior.) que assolavam a Holanda( em principal a cidade de Leiden, como o titulo da obra menciona.) e outras cidades da Europa no final do século XVII e inicio do século Seguinte, um trecho na pagina 25 do mesmo livro quando o autor menciona que Ratos e outros animais era finas iguarias neste tempo difíceis, quadro muito similar ao que aconteceu no Brasil Holandês, principalmente entre 1640 a 1646, como narra Pierre Moreau. Fonte: AA, 1712.

116

Figura 46: Enterro de Frederick Henry, retradado no livro de Isaac Commelyn em “Historie de la vie & Actes Memorables de Frederic Henry, princi de Orange” (1656) Nesta ilustração se mostra um enterro tipicamente Barroco (REIS,2012:74), cheio de pompa, diferente do que pregava Calvino e seus seguidores, os Calvinistas. Fonte: COMMELIN, 1656

117

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