Em Fins Desse Inverno

EM FINS DESSE INVERNO
22.09.04


Spyller espiã de centelhas, chamas e brasas, acomodou-se de mansinho bem
pertinho da lareira só para escutar o sussurro do pulsar desse fogo.

Deu-se conta de que estava ali alguém a desejar... Ela a ele e ele a ela.

Aterrisou seu caldeirão borbulhante de paixão e por pura generosidade,
chamou Taipã do Arco-Íris e o Morcego do Radar.

Todos se aquietaram em festa de luz porque o barco da solidão, após tão
longo período adormecido, agora cruzava o fogo das águas por ter
simplesmente ouvido a canção da terra sonhando com a chuva do céu.

Na cena atentamente assistida, Ela em desejo pedia: "Eu não tenho asas para
voar.... Seria primavera feliz se um homem simples, nascido das entranhas
de um ato de amor, trouxesse seu desejo de pouco, bem pouco, se negar."

O mistério do querer bem, tessitura mágica do corpo para o corpo, fez
estalar carinhos, saudades, sentidos e sementes.

Sem demora, dali ele brotou trazendo a generosidade de seu desejo. E o amor
teve prazer em visita-los, enlaçando-os para o nunca mais.
Efêmero e eterno, intenso e fugaz, se imprimiu para o sempre do belo das
revelações de que são capazes somente os mortais causa da inveja dos anjos.

Dos dois bilhões de sóis daquela tenra manhã, ele veio e estancou o tempo
sem tempo. Abriu das sombras a própria luz e tão pouco se negando trouxe-
lhe a água e o vento.

Sem nem se quer tentar se conter, Spyller chorou.

Taipã sabedor das cores, disse ao que chegou:
"Querida querendo para sempre ficar em carinhos tão quentes é feito os
sentidos que a vida tem doado sem pensar".

O morcego do radar, que enxergando o longe não vê aquilo que está tão
perto, um tanto quanto abobalhado perguntou:

"O que são esse Sol e essa Lua brincando no tempo do Céu?"

Spyller, já com seu caldeirão de substâncias delirantes a se derramar para
outras estórias contar, rindo se levantou e respondeu sem pestanejar:

"São os 'couros' de homens e mulheres entoando a arte de amar."