Em nome do que fizemos nos últimos 35 anos

July 18, 2017 | Autor: Pedro Vaz Serra | Categoria: Economics, Politics, Portugal
Share Embed


Descrição do Produto

Em nome do que fizemos nos últimos 35 anos… Em 1974, tinha eu 8 anos. Uma criança, portanto. No dia 25 de Abril, a única percepção que tive foi a ausência de um dia normal de aulas. As notícias eram, para mim, pouco relevantes. Só alguns anos depois, pude aperceber-me do significado de tudo aquilo que, aos olhos inocentes de uma criança, via no ecrã da televisão. Ou ouvia nas conversas dos adultos. E, nos últimos 35 anos, muito fizemos. Nem tudo, naturalmente, correu como gostaríamos. Poderíamos ter feito, certamente, muito mais e muito melhor. Mas, ainda assim, há inúmeros aspectos que merecem uma apreciação positiva. E é em nome de tudo aquilo que soubemos fazer bem que devemos ir buscar forças redobradas para enfrentar estes tempos mais adversos. Portugal conseguiu reduzir a taxa de mortalidade infantil de 80 por mil – uma das piores do mundo – para 4 por mil, a terceira mais baixa da Europa e a quarta menor a nível mundial. E conseguimos aumentar a esperança de vida dos 60 anos para os homens e 65 para as mulheres para os 74 e 80 anos, respectivamente. E, em quatro anos apenas, constituímos o terceiro mais importante registo europeu de dadores de medula óssea, um feito só ultrapassado pelo Reino Unido e pela Alemanha. Fomos criativos e inovadores quando desenvolvemos o processo Via Verde, ou a rede Multibanco, ou ainda os telemóveis pré-pagos – fomos precursores a nível mundial nestas matérias. Temos empresas, com capital e centro de decisão portugueses, que são líderes mundiais: na tecnologia de transformadores de energia; nas máquinas de corte por jacto de água; nos painéis derivados de madeira; no papel de alta qualidade; no software de identificação; no sector da cortiça e transformados; nas soluções biométricas; na tecnologia para calçado, entre alguns outros. Mas temos mais. Temos uma posição de destaque na produção de feltros para chapéus; temos a bilha de gás mais premiada do mundo; inovamos em produtos de higiene e limpeza; exportamos qualidade nos têxteis-lar (há 26 milhões de americanos que usam lençóis portugueses); somos fortes nas embalagens e moldes plásticos; estamos à frente na produção de energia eólica; conseguimos lançar, a nível mundial, um anti-epiléptico de raiz portuguesa; instalamos os mecanismos do desenvolvimento da integração para o Espaço Schengen – o espaço da nossa Europa alargada. Há partes deste nosso país que, hoje, são de primeiro-mundo. Temos vindo a efectuar investimentos muito relevantes em Investigação & Desenvolvimento (I&D) – já ultrapassámos a Grécia e a Itália neste domínio, estamos quase ao nível de Espanha e muito próximos da Irlanda – em 2007, pela primeira vez, as empresas investiram mais do que o Estado em I&D. Temos 5 investigadores por cada 1000 activos (a média na União Europeia é de 5,5); estão a doutorar-se 1.500 portugueses por ano e cerca de 2000 recebem bolsas de doutoramento. Este é o caminho. Mas este não é, infelizmente, o nosso cenário dominante. Estas são franjas de uma realidade que já existe, ou que está a emergir e a afirmar-se, mas que corresponde a uma minoria de bons exemplos e indicadores. Temos imenso para fazer. Muito para percorrer. Em quase tudo, temos um percurso mais longo e, muitas vezes, mais sinuoso, que os nossos parceiros. Mas não podemos baixar os braços. Não podemos deixar de acreditar. Sabemos que, mesmo em condições difíceis e adversas, somos capazes de fazer o (quase) impossível. Temos excelentes exemplos entre nós, em Coimbra e a partir de Coimbra. Temos empresas de grande sucesso, algumas delas ligadas a sectores tradicionais, outras que resultaram de uma articulação eficaz com as fontes de saber, desde logo com origem no

ensino universitário e politécnico. Muitos destes projectos, os mais recentes, nasceram em incubadoras – um destaque especial para o Instituto Pedro Nunes e o Biocant Park, em Cantanhede – locais onde são premiadas as boas ideias, a criatividade e a inovação e, acima de tudo, onde são desenvolvidas as condições de partida para um novo e importante modelo das nossas relações com o mercado externo: a exportação de conhecimento. A inovação tem o poder de motivar as pessoas, essas mesmas pessoas que podem fazer crescer a economia e contribuir para aumentar os índices de produtividade. É por isso necessário criar condições para que os jovens – empreendedores e todos os outros - não desistam ao primeiro obstáculo, para que as novas gerações sintam verdadeiramente a aposta que tem vindo a ser feita no capital humano qualificado – não é um capricho, mas, sim, um caminho - provavelmente o único - para o futuro. O talento torna-se, desta forma, o grande factor de diferenciação de um país como Portugal que, cada vez mais, terá dificuldades acrescidas para competir com base na quantidade. É na qualidade, no acréscimo de valor, que podemos e devemos criar diferenciação positiva. É vital que Portugal recorra a novos factores de competitividade, mais intelectuais que físicos, assentes nas novas redes de conhecimento. É apostando no talento e investindo na inovação, aliada à tecnologia, que Portugal pode responder aos desafios de uma economia global. É este o nosso caminho. Deve ser este o nosso estado de espírito. Em nome de tudo o que fizemos nos últimos 35 anos. E quando estivermos a passar por um momento mais difícil; quando sentirmos a nossa motivação mais débil; quando faltar a coragem para empreender; quando tudo parece mais complicado; quando o horizonte tem mais dúvidas do que certezas - então, quando tudo isto acontecer, lembremo-nos que, ao longo da nossa História, há muito mais de 35 anos, fomos capazes de efectuar coisas extraordinárias. Conseguimos, muitas vezes, ultrapassarmo-nos a nós próprios, conseguimos ir muito para além do que víamos… E quando tal acontece, significa que conseguimos. Sabendo a direcção, vamos no mesmo sentido. Antecipando tendências, criando oportunidades e gerindo e tomando riscos, vamos conseguir!

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.