\'Em Troviscais (Alentejo), casas feitas em taipa\' (2012)

July 23, 2017 | Autor: Ana Assis Pacheco | Categoria: Arquitectura, Arquitetura, Women Architects, Alentejo, Arquitectura Vernacular
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ARQUITETURA Ana Assis Pacheco

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Casas feitas ein taipa « Vem de longe a utilização da taipa na construção de paredes, perde-se no tempo diríamos. Em Portugal usou -se predominantemente na região do Alentejo, mas caiando- se sempre após as paredes estarem secas, ficando brancas tal como hoje as conhecemos. Seca ao sol, a taipa é um excelente isolamento térmico, estando por isso adequada a climas difíceis, não deixando entrar frio nem calor. Este foi um dos sistemas construtivos levados para o Brasil, logo no século XVI, um dos know- how que nem os jesuítas dispensaram quando construíram a sua primeira casa em São Paulo. O sistema permaneceu durante séculos em algumas regiões onde escasseia a pedra, mas hoje começa a ser substituído pelo banal tijolo, que não dá às casas o conforto climático que a taipa proporciona. Mas há quem saiba disto, e não dispense a sua aplicação. Passaram umas décadas sobre uma exposição na Gulbenkian em que se mostravam muitos exemplos da aplicação de 'arquitetura de terra', uns mais tradicionais outros mais modernos. Pelo espaço expositivo foram dispostos alguns estiradores que exibiam desenhos, eram belissimos e podíamos sentar-

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nos num banco alto de arquiteto e ficar a olhá -los para os entender. A maior parte da arquitetura de terra, vinha de paises africanos. Começou- se nessa altura a dar importância às construções em materiais sensíveis e eficientes, e ao mesmo tempo a esquecê- las. Porcáfornosesquecendo,usando a famosa 'placa' de betão armado a torto e a direito, paredes duplas em

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As suas casas merecem uma ida ao Alentejo, e se Troviscais não vem no mapa, garanto que existe tijolo sem a respetiva respiração e mais recentemente até construímos com ligeiros painéis em gesso, tão brancos quanto frágeis. Mas como o Alentejo continua com um clima difícil, é bom lembrar os velhos sistemas construtivos, que ali são os mais eficientes. E foi com

taipa que a arqa. Graça Jalles fez as suas casas, afinal é lá que vive. Mas não as caiou, deixou ficar à vista o material sensível que é a terra seca, cheia de pequenas partículas, que tanto podem ser pedrinhas corno fragmentos de conchas. Com essa sua opção vemos também as marcas de cada fase da construção, umas linhas horizontais dizem- nos onde termina cada camada e com isso fazem um desenho. Nos Troviscais, onde vive, Graça Jalles fez também a sua própria casa em taipa, acrescentando- lhe um jardim de inverno em madeira. E no profundo vale que lhe fica próximo, tem vindo a recuperar e remodelar velhas construções que estavam em ruína, duas das quais já estão prontas. se Nelas vê um desenho coeren-

te, de quem sabe o que é a proporção, a harmonia, a funcionalidade, o clima e o respeito pelo lugar. As suas pequenas casas de taipa têm dois tratamentos diferentes, as fachadas principais são quase lisas e as outras rugosas, com uma belis sirna textura. E também as janelas das fachadas de topo são diferentes, dando lugar a uma aplicação de tijolo burro recortada à maneira do século XIX. Nenhum detalhe foi esquecido, nota-se que gastou tempo no seu desenho. No vale profundo, escondemse as pequenas casas desenhadas no estirador de Graça Jalles, são 'na floresta' , como me informou o vizinho do monte em frente. E eu que julgava que sabia o que era uma floresta, perdi-me mais de uma hora

a encontrá- la. Ainda vi passar a arqi. ao longe, de carro, deixando atrás de si uma nuvem de poeira castanha avermelhada, seguia decidida numa estrada de cumeeira. 'Vai ali a arquiteta', apontou a vizinha mais pequena. As suas casas merecem uma ida ao Alentejo, e se Troviscais não vem no mapa, garanto que existe. " '·

NR - A Capela Árvore da Vida, no Seminário Concilia r de Braga, de que aqui se falou na edição de 8 de

fevereiro, dos arquitetos André e António Cerejeira Fontes, acaba de vencer o prêmio Edifício do Ano 2011 do webs1te de arquitetura ArchDai ly. Entre

os dez finalistas portugueses estavam a Casa das Histórias da Paula Rego (Cascais), o Centro Cultura l de Sines e. os museus do Designe da Moda (Lisboa), e da Vila Velha (Vila Real).

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