Enclaves, repertórios e sistemas culturais. Notas para uma achega ao sistema cultural galego e os enclaves americanos no franquismo

Share Embed


Descrição do Produto

© Universidade de Santiago de Compostela, 2013 Ilustración de cuberta Fotografías correspondentes a actividades realizadas en Galicia por diferentes colectivos de inmigrantes, tomadas en 2010 polo deseñador do libro.

Edita Servizo de Publicacións e Intercambio Científico Universidade de Santiago de Compostela

Deseña e maqueta Felipe Andrés Aliaga Sáez

ISBN 978-84-15876-29-8

ÍNDICE

Presentación

7

Diáspora, memoria e identidad Enclaves, repertórios e sistemas culturais. Notas para uma achega ao sistema cultural galego e os enclaves americanos no franquismo Cristina Martínez Tejero

13

A outra Arxentina: a narrativa de mulleres e a emigración entre ‘tanos’ e ‘gallegos’ Marco Paone

25

A reconstrución das etnicidades galegas transnacionais Xaquín Rodríguez Campos

42

Unha experiencia migratoria: memoria e futuro en Lúa do Senegal, de Agustín Fernández Paz Eulalia Agrelo Costas

61

Contextos específicos, identidades dislocadas. Imágenes de la hibridación cultural en el arte actual Miguel Anxo Rodríguez González

77

Canadá: Little Italy polifónica Federica Angelini

96

Literatura de la inmigración: la construcción de una expectativa de lectura. El caso de Najat El Hachmi Sara Bernechea Navarro

105

ENCLAVES, REPERTÓRIOS E SISTEMAS CULTURAIS. NOTAS PARA UMA ACHEGA AO SISTEMA CULTURAL GALEGO E OS ENCLAVES AMERICANOS NO FRANQUISMO

Cristina Martínez Tejero

O projeto Fisempoga —desenvolvido nos últimos anos polo grupo Galabra da USC— pretendeu, ao igual que o seu imediato antecedente Poluliga, deitar luz no processo de configuração do sistema cultural galego, especialmente no período compreendido entre 1968 e 1982 (sob a hipótese de tratar-se duma etapa de grandes mudanças que determina a evolução posterior do sistema e da definição política da Galiza), e resultado dos quais são diversos trabalhos, centrados de forma preferente no campo literário3. Com uma base metodológica de cunho empírico e com referentes teóricos principais nas achegas realizadas por Pierre Bourdieu (1991, 1992) e Itamar Even-Zohar (1990, 1999, 2010), é destacável neste quadro de investigação a ausência de abordagens específicas e ambiciosas sobre as realizações culturais protagonizadas desde e pola emigração galega, particularmente em América, onde se concentram grande parte dos fluxos migratórios saídos da Galiza durante o século XX4. Entram aqui fatores que justificam estas mesmas deficiências noutras aproximações realizadas desde o campo dos estudos galegos —centradas estas de forma privilegiada em abordagens de caráter individualista, sobre um(ha) agente destacada/o no campo cultural, político ou social— como são as próprias dificuldades para o acesso a documentação primária ou a

3 Alguns dos resultados dos projetos FISEMPOGA (Fabricaçom e socializaçom de ideias num sistema emergente durante un período de mudança política: Galiza, 1968-1982) e POLULIGA (Portugal e o mundo lusófono na literatura galega das últimas três décadas, 1968-2000) podem ser localizados neste endereço: http://grupogalabra.com/investigacaoprojetos/71-fisempoga-fabricacao-e-socializacao-deideias-num-sistema-cultural-emergente-durante-um-periodo-de-mudanca-politica-galiza-1968-1982.html (última consulta, 15.10.2012). 4 Esta avaliação geral merece ser pontualizada mediante a alusão a trabalhos que efetivamente tenhem como objeto direto aspetos relativos aos enclaves, como Samartim (2009), ou os focam dentro de abordagens gerais sobre algum elemento do sistema: por exemplo, Figueiras (2006), Cordeiro Rua e Samartim (2008) ou Samartim (2010). 13

Cultura y migraciones. Enfoques multidisciplinarios

complexidade e diversidade das distintas comunidades estabelecidas fora do território galego5. Dentro deste quadro, este estudo pretende, duma parte, oferecer umas primeiras hipóteses para a abordagem dos enclaves americanos duma perspetiva sistémica. Em relação ao período cronológico abrangido desde o projeto Fisempoga, esta achega situase numa etapa anterior, principalmente na década de 50 e anos próximos, ao considerar que, embora os enclaves continuem ativos no tardo-franquismo, e inclusive em etapas posteriores, a sua capacidade para exercer uma oposição efetiva ao que se fai na Galiza é muito menor do que em fases prévias. Isto é, na medida em que fazer cultura é em si um ato programático das dimensões e caraterísticas que se lhe atribuem a este elemento, a continuidade das atividades culturais na América nos anos 60 e 70 pode representar uma divergência a nível repertorial em relação às próprias realizações culturais feitas na Galiza territorial, porém, com um grau de impacto no sistema pouco relevante dada a concentração definitiva do seu centro geográfico no território galego peninsular e, portanto, constituindo-se esta na localização principal dos diferentes conflitos intra-sistémicos (o que não é alheio à própria decadência dos fluxos migratórios a América

—substituídos na altura por uma migração de caráter mais próximo e menos

definitivo a Europa—, junto com o regresso à Galiza de muitos dos agentes culturais mais ativos durante a década de 60, como Rafael Dieste, Eduardo Blanco Amor, Isaac Díaz Pardo ou, de forma mais intermitente, Luís Seoane).

Cartografia do sistema: os enclaves americanos O sistema cultural galego apresenta nesta altura (década de 50 e imediatamente próximas) uma série de deficiências na sua configuração que impedem até a sua consideração como entidade sistémica e, polo qual, a denominação eleita neste trabalho responde a critérios utilitários, postos em jogo sob a consciência da dificuldade para encontrar o termo exato que abranja as práticas culturais desenvolvidas com duas orientações contrapostas, embora nem sempre coerentes ou homogéneas: aquelas 5 No relativo à documentação, assim como polos avanços realizados neste âmbito de estudo, é destacável o labor do Arquivo da Emigración (http://www.consellodacultura.org/aeg/; última consulta, 15.10.2012) dependente do Consello da Cultura Galega e que se soma aos fundos existentes na Fundación Penzol de Vigo. 14

Cultura y migraciones. Enfoques multidisciplinarios

tendentes à configuração dum sistema cultural próprio e diferenciado do espanhol, corrente proto-sistémica, e aquelas encaminhadas à sua inclusão dentro deste último se bem com algum tipo de especifidade, corrente sub-sistémica (Torres Feijó, 2004). Estamos, portanto, ante um sistema em processo de emergência, em que joga um papel importante a própria dimensão nacional/identitária que se está a desenvolver nos campos ideológico e político, e com a complexidade acrescentada de partilhar espaço social com um sistema reconhecido, legitimado e com uns capitais (culturais, sociais e económicos) associados altamente superiores, como é o espanhol. O já introduzido conceito de enclave responde a uma adaptação metodológica realizada por Torres Feijó (2004: 429 e ss.) a partir de Naftoli Bassel (1991) com o intuito de denominar e adscrever ao mesmo sistema o conjunto de atividades culturais (e elementos sistémicos derivados) desenvolvidas num espaço social determinado e diferente do da comunidade de referência do sistema em consideração. No caso que nos ocupa, os enclaves americanos (localizados de forma privilegiada em Latino-América) apresentam uma situação de heteronomia ou dependência em relação às práticas culturais desenvolvidas na Galiza territorial pola sua vontade de influir ou ter algum tipo de reconhecimento nelas. A noção de enclave fai referência, portanto, à dimensão cultural duma comunidade migrante introduzindo o matiz de vincular esta atividade ao sistema cultural de origem da população deslocada6. Compreender o papel que os enclaves jogam no sistema cultural galego exige ter em consideração a própria natureza das comunidades de emigrantes galegos estabelecidas no continente americano, caraterizadas pola sua própria situação diferencial em relação tanto a outros assentamentos nos diversos países, assim como a sua própria configuração temporal, e em que influem fatores como a quantidade e tipologia dos fluxos migratórios ali assentados, o estabelecimento ou não de pessoas exiladas, o grau de institucionalização e visibilidade pública ou as tendências políticas dominantes. No período cronológico eleito para este estudo (e que genericamente é

6 Estudos específicos deveriam dar conta da interação real entre estes dous conceitos, analisando, por exemplo, se a existência duma comunidade migrante exige sempre um enclave —e, inclusive, as razões e franjas temporais em que isto acontece— ou as próprias relações (complexas) que se estabelecem ao nível de práticas culturais com a comunidade de acolhida e de procedência. A este respeito são de interesse as conclusões achegadas por Corbacho Quintela (2009) quem demonstra como, apesar da ação individual de certos agentes, não chega a configurar-se nenhum enclave vinculado ao sistema cultural galego no Brasil, a diferença do que acontece na maior parte dos países latinoamericanos recetores de emigração galega. 15

Cultura y migraciones. Enfoques multidisciplinarios

possível situar entre as décadas de 40 e 60), existem notáveis diferenças numa mesma comunidade em dependência de fatores de evolução própria como a continuidade ou não de fluxos migratórios (e o seu grau de intensidade e características), a existência duma renovação geracional (com as problemáticas das segundas gerações) ou, inclusive, as tensões políticas que marcarão uma ou outra orientação. A existência de suficiente literatura sobre este assunto (como Núñez Seixas, 2001 e 2005; ou Núñez Seixas e Cagiao Vila, 2006), fai desnecessária aqui uma focagem das características e perfis das distintas comunidades, apesar do qual convém destacar a importância —tanto em termos quantitativos como qualitativos— do núcleo sediado em torno ao Río de la Plata, destino histórico da emigração galega. A emigração é um fenómeno social comum na Galiza, desde as primeiras vagas no século XVIII e alcançando o seu máximo entre entre 1880 e 1920 em que aproximadamente um milhão e meio de pessoas atravessam o Atlântico (Núñez Seixas, 2005). Isto dá lugar inclusive a situações pouco comuns no geral das comunidades no mundo como que, em plena década de 50 do século XX, a maior concentração de população urbana galega esteja em Buenos Aires (Primeiro Congreso da Emigración Galega, 2006:13). Dentro deste perfil global, cumpre deter-se nas consequências da saída forçada cara América à raiz da guerra civil e a instauração do regime franquista dum contingente de população cifrada em 3 mil pessoas. Ao igual que no caso das migrações, há diversidade de perfis entre as pessoas exiladas segundo o ponto de destino, mas destacam as “profesións liberais, os obreiros e artesáns urbanos e as clases medias” (Núñez Seixas, 2005) face aos setores baixos ou meio-baixos e de procedência rural que dominam na emigração económica. Segundo Núñez Seixas (2006:57 e ss.), não há diferenciação entre os percursos e práticas de emigrantes e exilados e, inclusive, estes últimos tendem a integrar-se dentro das entidades criadas previamente pola coletividade galega nos países americanos. Da perspectiva dos campos culturais são, não obstante, necessárias algumas matizações que assinalem a importância dos acontecimentos do ano 36, dada a fratura que suponhem num campo que experimentara notáveis avanços na sua autonomia e que por primeira vez na história alcançara a articular minimamente um espaço público de carácter galeguista (sobre isto, pode ser consultado Figueroa, 2010: 74 e ss.). Além da já conhecida ação de extermínio, dispersão ou silenciamento dos agentes implicados, é importante chamar a atenção para uma chave —colocada aqui de forma esquemática e 16

Cultura y migraciones. Enfoques multidisciplinarios

sem os numerosos pormenores que seria necessário introduzir numa reflexão mais profunda— de que haverá que ponderar as consequências na configuração do sistema: o facto de que os sectores mais esquerdistas que conseguem salvar a sua vida partam para o exílio entanto os galeguistas históricos que permanecem no interior são de tendência mais conservadora. No relativo à incorporação das/os exiladas/os de perfil mais intelectual aos enclaves, é destacável a tendência a concentrar-se em Buenos Aires (ainda que este não fosse o seu primeiro ponto do destino) e o estabelecimento desta urbe como a grande capital galega na diáspora, tanto em termos culturais como políticos, ao fundar-se ali o Consello da Galiza na década de 40, representante do governo galego no exílio7. Um último aspeto a introduzir em relação às características e evolução das comunidades de emigrantes de origem galega na América tem a ver com a criação durante o século XX de toda uma estrutura societária e institucional de carácter quase para-guvernativo e destinada cobrir as dimensões assistenciais, recreativas e culturais da população de origem galega residente nesse continente. A complexidade desta rede varia novamente segundo o país e cidade em foco, destacando uma vez mais a Argentina e, em particular, Buenos Aires. São necessárias, porém, duas matizações que situem a importância desta estrutura, dado que um grande número das pessoas associadas a estas entidades não tenhem procedência (direta ou indireta) da Galiza e, inclusive, o seu número é pequeno em relação às cifras da comunidade de emigrantes galegas/os, uma boa parte dos quais permanece alheio ou distante desta rede organizacional. Será, não obstante, esta cobertura institucional a que dê suporte à maioria das atividades da comunidade galega, particularmente as culturais, o que se manifesta na própria existência de secções de carácter cultural dentro dos Centros Galegos (como os Patronatos da Cultura Galega de Montevideu, México ou Buenos Aires). Dentro do processo de autonomização do sistema cultural galego, os enclaves jogam um papel específico e variável segundo a franja temporal considerada. De forma genérica a relação da Galiza territorial com a diáspora americana experimenta no período em foco três grandes fases correspondentes às décadas de 40, 50 e 60 e que estão marcadas pola progressiva abertura de possibilidades de atuação na Galiza (nulas 7 Existem diversos estudos que, com distintas perspetivas, tentam deitar luz sobre as relações entre literatura galega e exílio como Martínez López (1987) ou González-Millán (2003). 17

Cultura y migraciones. Enfoques multidisciplinarios

na década de 40, incipientes na de 50 e em processo de consolidação na de 60), o que encontra tradução direta na progressiva decadência dos enclaves avalada, aliás, pola falta de relevo geracional e o referido regresso de agentes com um alto capital cultural e simbólico nos anos sessenta8. É verificável, portanto, uma tendência a concentrar a atuação no território galego, ante o qual a sua deslocalização a outros espaços responde estratégias de supervivência que, não obstante, permitem questionar a pertinência de falar em enclaves durante a década de 40, quando quiçá seja o próprio núcleo (precário) do sistema galego o que está localizado em Río de la Plata, dando lugar a uma situação singular mas reveladora. A interação no plano cultural entre a Galiza territorial e a diáspora americana está marcada tanto pola existência de capitais específicos associados a cada uma destas áreas, como pola configuração nelas duns espaços de possíveis totalmente dessemelhantes. A vontade de conquista dos grupos do interior em relação ao capital simbólico associado aos enclaves (em grande medida derivados do peso de certos agentes instalados em América a raiz da guerra civil como é o caso de Castelao, líder do movimento galeguista) é visível, por exemplo, nas digressões de agentes do interior pola diáspora ou na participação (em diferentes formas) nas atividades da emigração face as dificuldades para inverter isto. O espaço de possíveis associado aos enclaves é completamente distinto ao nível de recursos contemplados —tanto económicos como materiais— ou de grau de liberdade política, entre outros, o que determina tanto a efervescência cultural dos anos 40 e primeiros 50 —em menor medida a sua continuidade até os 70— e, do mesmo modo, a sua conformação como fonte de recursos para os projetos da Galiza interior, mediante um labor de mecenato. Por último, e embora de forma esquemática, é preciso fazer referência a uma série de pontos de conflito exclusivos dos enclaves e com um núcleo de atividade concentrada em distintos momentos dentro do período contemplado. Trata-se de três eixos de tensão articulados entre os enclaves galegos e forças externas (como enclaves do sistema espanhol ou com o próprio governo franquista) ou, numa dimensão interna, entre as distintas correntes ideológicas existentes no seu seio. Duma parte, as tensões entre os enclaves galegos e o republicanismo espanhol ou, inclusive, com os próprios sistemas dos países de destino, torna-se visível especialmente no caso dos exilados que 8 Sobre os efeitos no sistema cultural galego das migrações, assim como das mudanças de tendências percetíveis nelas no tardo-franquismo, pode ser consultado Súarez Diaz (2011). 18

Cultura y migraciones. Enfoques multidisciplinarios

nalguns casos se incorporaram —muitas vezes em virtude da sua adscrição partidária— a plataformas vinculadas a enclaves do sistema espanhol. Por outro lado, nos próprios enclaves galegos existem conflitos com linhas ideológicas distintas do galeguismo, como o comunismo ou certo republicanismo, tendências estas desativadas no caso da Galiza territorial em que são os galeguistas quem constroem ou reconstroem o sistema e em que só a partir da década de 60 é verificável, por exemplo, uma orientação comunista. Finalmente, a vontade do franquismo por fazer-se com o controlo do aparelho institucional dos enclaves especialmente nos anos 60 vai configurar igualmente um ponto de luta em torno a esta questão. Na continuidade dos pontos de tensão enunciados, existem diferentes conceções sobre a cultura e os repertórios9 promovidos desde os enclaves e a Galiza, tal como pode ser visualizado através dos diferentes textos recolhidos nas atas do Primeiro Congreso da Emigración Galega, evento celebrado em Buenos Aires entre o 24 e 31 de julho de 1956, e impulsionado polo Consello de Galiza10. Valorizar isto exige, no entanto, ter em consideração a impossibilidade de considerar a diáspora de forma unitária devido aos condicionantes já explicitados, mas também a inexistência duma uniformidade ao nível repertorial na própria Galiza (por exemplo, nas ideias a este respeito manejadas por Galaxia ou os produtores associados ao movimento da Nova Narrativa). Se bem isto será objeto dum estudo específico, é necessário indicar que as divergências existentes no plano cultural são paralelas às próprias perspetivas de horizontes políticos manejadas para a Galiza desde um e outro lado do Atlântico, dada a procura de novas vias no interior face à manutenção do discurso do pré-guerra na diáspora e a conseguinte rotura entre ambos na década de 50 (Beramendi e Núñez Seixas, 1996:199 e ss.). Desde os enclaves é manifestado, de forma geral, um maior interesse polo popular e a função didática da cultura, face a um maior intelectualismo defendido desde o interior, e cujos ecos podem ser encontrados em diferentes conflitos acaecidos nos

9 A noção de repertório foi definida por Even-Zohar (1999:31) como o conjunto de modelos, regras e materiais que regulam a produção e consumo dum determinado produto no interior do sistema cultural considerado. 10 As atas deste encontro saíram do prelo três anos depois, em 1959, sob o selo Nós sediado em Buenos Aires. Em 2006, comemorando os cinquenta anos desde a celebração do congresso, o Consello da Cultura Galega realizou uma edição fac-similar com estudo introdutório de Marcelino Fernández Santiago, a qual está disponível através do endereço: http://consellodacultura.org/mediateca/documento.php?id=162 (última consulta, 15.10.2012). 19

Cultura y migraciones. Enfoques multidisciplinarios

campos culturais, como a polémica em torno à publicação de A Esmorga de BlancoAmor na Galiza. Segundo a análise de Álex Alonso este feito exemplifica as diferentes opções estéticas e políticas eleitas desde a diáspora, dum lado, e, do outro, polo grupo hegemónico na Galiza interior da altura, Galaxia, mas que pola sua vez representam a própria fratura existente entre estes dous polos (Alonso Nogueira, 2009:32-33): tratábase de dúas apostas, de dúas tomas de posición que ían máis alá das escollas estilísticas, e que levan implícitas concepcións non reconciliables do que era a literatura: mentres que para Blanco Amor a lingua popular é un instrumento clave para a redefinición do público, Piñeiro, a partir dunha posición escolástica non se relaciona tanto cos uso populares como con certa tradición literaria requintada, que considera a lingua non só como clave identitaria, senón coma expresión espiritual, isto é coma forma de alta cultura.

Linhas de investigação abertas Este estudo pretende abrir caminhos e levantar questões sobre o funcionamento complexo dos enclaves dentro do sistema cultural galego. As análises realizadas necessitam de novas achegas que as revalidem e complementem polo que são introduzidas na continuação algumas das possíveis linhas de estudo —inéditas ou insuficientemente exploradas— a desenvolver em futuras investigações. Em primeiro lugar, parece imprescindível focar os efeitos do regresso, isto é o deslocamento dalguns agentes sediados de forma estável nos enclaves à Galiza, e em particular, do núcleo gestado em torno a Sargadelos (e que previamente levara a cabo o projeto da fábrica Porcelanas de Magdalena em Argentina), responsável pola introdução de certos elementos de vanguarda e inovação no sistema e, portanto, contribuindo de forma importante para a autonomização dos campos culturais. Numa perspetiva menos específica e atendendo à própria complexidade do fenómeno migratório, entre as possíveis vias a explorar figura igualmente o estudo do seu impacto na população galega ao nível cultural, tal como fica explicitado na seguinte citação extraída dum dos relatórios apresentados no Primeiro Congreso da Emigración Galega, e em que, entre os

20

Cultura y migraciones. Enfoques multidisciplinarios

aspetos positivos da influência das/os emigrantes na Galiza, é assinalado (Primeiro Congreso da Emigración Galega, 2006:111): No cultural: Ensinos que se trasmiten por cartas, livros e folletos que se remesan, ou, persoalmente pol-os que voltan con algo adeprendido; novas inquedanzas, ideias, sistemas, métodos, conceptos e maneiras de ver e xuzgar, etc. En suma: sementes que froitifican nas xentes d’aló.

Uma outra linha a percorrer em termos investigadores tem a ver com a necessidade de aprofundar no grau e natureza do funcionamento para-sistémico dos enclaves, isto é, na existência (ou não) de relações e interferências efetivas com os sistemas culturais dos respetivos países americanos. Nos enclaves é percetível uma vontade de intervenção no sistema e no espaço social da Galiza territorial mas no próprio temário do referido congresso —em que a organização introduzia temas a abordar nele— figura o seguinte apelo para uma certa inserção nas culturas americanas (Primeiro Congreso da Emigración Galega, 2006:18): A emigración galega e as culturas nacionaes americáns. O aporte galego. En qué mesura pode axudar a emigración galega ao enrequecemento das culturas americáns. Difusión dos nosos valores culturaes n’estes países. Maneiras de levalo a cabo. Estreitamento de vencellos con destacadas figuras e entidaes culturaes americáns.

Por último e em relação direta com o anterior, faltam estudos que deem conta do percurso ambivalente de certos agentes galegos, como Luís Seoane ou Rafael Dieste, que apresentam uma participação ativa tanto na cultura argentina como no exílio espanhol e as negociações e pactos derivados disto no próprio sistema galego.

Bibliografia Alonso Nogueira, A. (2009). “Blanco Amor e a constitución do campo literario galego durante os anos de Galaxia”. Grial, 184, XLVII, 28-35.

21

Cultura y migraciones. Enfoques multidisciplinarios

Bassel, N. (1991). “National Literature and Interliterary System”. Poetics Today, 12, 4, 773-779. Beramendi, J. G. e X. M. Núñez Seixas (1996, 2ª ed.). O nacionalismo galego. Vigo: A Nosa Terra. Bourdieu, P. (1991). “Le Champ Littéraire. Avant-propos”. Actes de la Recherche en Sciencies Sociales, 89, 3 -46. Bourdieu, P. (1992). Les Règles de l’Art. Genèse et structure du champ littéraire. Paris: Éditions du Seuil. Corbacho Quintela, A. (2009). A aculturação e os galegos do Brasil. O vazio galeguista. Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela (http://www.tesisenred.net/handle/10803/36694?show=full,

última

consulta

15.10.2012). Cordeiro Rua, G. e R. L. I. Samartim (2008). “O panorama editorial galego no tardofranquismo e na transição”. P. Romero Portilla & M.-R. García Hurtado (eds.). El libro en perspectiva. Una aproximación interdisciplinaria. III Simposio de Estudos Humanísticos, A Corunha: Universidade da Coruña, 161193. Even-Zohar, I. (1990). “Polysystem Theory”. Poetics today, 11, 27-96. Even-Zohar, I. (1999). “Factores y dependencias en la cultura. Una revisión de la Teoría de los Polisistemas”. M. Iglesias Santos (ed.). Teoría de los Polisistemas. Madrid: Arco/Libros, 23-52. Even-Zohar,

I.

(2010).

Papers

in

Culture

Research

(http://www.tau.ac.il/~itamarez/works/books/EZ-CR-2005_2010.pdf, última consulta 15.10.2012). Figueiras, C. G. (2006). O Protossistema Literário Galeguista: Proposta metodológica e linhas de investigaçom aplicadas a 1968. Trabalho de Investigação Tutelado (inédito), Santiago de Compostela: Faculdade de Filologia, Universidade de Santiago de Compostela. Figueroa, A. (2010). Ideoloxía e autonomía no campo literario galego. Ames: Laiovento. González-Millán, X. (2003). “Exilio, literatura e nación”. Anuario Grial de estudios literarios galegos. Vigo: Galaxia.

22

Cultura y migraciones. Enfoques multidisciplinarios

Martínez López, R. (1987). A literatura galega no exilio. Trás-Alva (Ourense): Fundación Otero Pedrayo. Núñez Seixas, X. M. (ed.) (2001). La Galicia austral. La inmigración gallega en la Argentina. Buenos Aires: Biblos. Núñez Seixas, X. M. (2006). “Itinerarios exiliados: sobre a especificidade do exilio galego de 1936”. Actas do Congreso Internacional “O Exilio Galego”. Santiago de

Compostela:

Consello

da

Cultura

Galega,

17-69

(http://consellodacultura.org/mediateca/extras/congreso_internacional_exilio.pdf, última consulta 15.10.2012). Núñez Seixas, X. M. (2005). “Emigración”. B. Casal Vila (dir.). Gran Enciclopedia Galega Silverio Cañada. El Progreso/Diario de Pontevedra [edição em CD-R]. Núñez Seixas, X. M. e P. Cagiao Vila (eds.) (2006). O exilio galego. Política, sociedade,

itinerarios.

Sada/Santiago

de

Compostela:

Ediciós

do

Castro/Consello da Cultura Galega. Primeiro Congreso da Emigración Galega (2006). [Atas do] Primeiro Congreso da Emigración Galega [1856 – Banquete de Conxo – 1956: Primeiro Congreso da Emigración Galega: feito desde o 24 ao 31 de xulio de 1956 en Buenos Aries. Documentación. Crónicas]. Santiago de Compostela: Consello da Cultura Galega [Edição fac-similar realizada a partir da publicada por Nós em Buenos Aires em 1959]. Samartim, R. L.-I. (2009). “O discurso (lingüístico-) identitário e a lusofonia em “El Correo de Galicia” (1968-1975)”. C. Villarino Pardo, E. J. Torres Feijó e J. L. Rodríguez. Da Galiza a Timor. A lusofonia em foco. [Actas do] VIII Congresso da Associação

Internacional

de

Lusitanistas.

Santiago

de

Compostela:

Universidade de Santiago de Compostela, Vol. III, 2001-2010. Samartim, R. L.-I. (2010). O processo de construção do sistema literário galego entre o franquismo e a transição (1974-1978). Margens, relações, estrutura e estratégias de planificação cultural. Tese de doutoramento orientada polo prof. E. J. Torres Feijó, Santiago de Compostela: Departamento de Filologia Galega, Universidade de Santiago de Compostela. Súarez Diaz, V. (2011). “De cruzar o charco a atravessar os Pirineus. Repercussons das mudanças dos fluxos migratórios no campo cultural galeguista (1968-1972)”. H.

23

Cultura y migraciones. Enfoques multidisciplinarios

Rebelo (coord.). Lusofonia: Tempo de Reciprocidades. Actas do IX Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas. Porto: Afrontamento, Vol. II, 289294. Torres Feijó, E. J. (2004). “Contributos sobre o objecto de estudo e metodologia sistémica. Sistemas literários e literaturas nacionais”. A. Abuín e A. Tarrío (coords.). Bases Metodolóxicas para unha Historia Comparada das Literaturas da Península Ibérica. Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela, 423-444.

24

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.