Enfrentando a dor, semeando a vida: caminhos do Sementinha

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Descrição do Produto

Universidade   F ederal   F luminense   Centro   d e   E studos   S ociais   A plicados   Faculdade   d e   E ducação    

    Enfrentando   a   d or,   s emeando   a   v ida:   caminhos   d o   Sementinha   Capítulo   I I     da  Parte  II  (A  TRAMA)  da  dissertação  de  mestrado   Grotão,  Parque  Proletário,  Vila  Cruzeiro  e  outras  moradas:   história  e  saber  nas  favelas  da  Penha         Mestranda:  Marize  Bastos  da  Cunha   Orientador:  Prof.  Dr.  Victor  V.Valla     Dissertação   apresentada   como   parte   dos   requisitos   para   obtenção   do   grau   de   Mestre   em  Educação  

      N ITERÓI   1995  

  Sumário   APRESENTAÇÃO  

PARTE  1  -­‐  CAMINHOS,  ATALHOS  E  PISTAS  

1    

Capítulo   1   -­‐   As   primeiras   pistas:   do   ponto   de   chegada   ao   ponto    

2  

de  partida  

1.1.  Pista  I:  um  exame  de  corpo  delito  

3  

1.2.  Tiranias  da  Razão  Histórica  

10  

Capítulo  2  -­‐  Os  Caminhos  e  Atalhos  

19  

2.1.   Dos   personagens,   de   suas   ações   e   de   como   insistem   em   lhes   tirar  de  cena  

21  

2.2.  Aquilo  a  que  chamamos  destino  sai  de  dentro  dos  homens,  ao   invés  de  entrar  neles:  sobre  a  subjetividade  da  história  humana  

37  

2.3.   Das   teias   ao   ato   de   tecer:   costurando   uma   abordagem   da   cultura  

39  

2.4.  A  teia  da  exclusão:  sobre  a  subalternidade  

53  

2.5.  Um  elo  que  não  pode  faltar:  a  experiência  

56  

Capítulo   3   -­‐   Encontros   de   meio   de   estrada:   dando   rumo   à  

63  

caminhada  

3.1.   O   quebra-­‐cabeça   de   imagens   de   um   espaço:   entre   caracterizações,  análises,  experiências  e  interpretações  

65  

3.2.  Um  espaço  de  vida  subalterna:  a  favela  

74  

3.3.   Solidarizar-­‐se:   um   verbo   regular,   uma   voz   reflexiva:   experiência  de  vida  e  prática  política  

81  

3.4.  Os  Sujeitos  da  Trama:  movimentos  comunitários  no  Complexo   de  Favelas  da  Penha  

86  

3.5.   Na   Trilha   do   Excepcional   Normal:   uma   possibilidade   de   análise  

PARTE  2  -­‐  A  TRAMA  

Capítulo   4   -­‐   Quero   morar   num   lugar   onde   ninguém   me   pertube,  

92   99  

100  

vou  morar  na  Chatuba:  uma  história  do  Grotão  

Capítulo   5   -­‐   Combatendo   a   dor,   semeando   a   vida:   caminhos   do  

148  

Sementinha  

Capítulo   6   -­‐   Combatendo   a   baixa   tensão,   Construindo   em   alta  

169  

tensão:  o  movimento  do  Sangue  Novo  

PARTE  3  -­‐  RECONSTRUINDO  

Capítulo  7  -­‐  O  Fazer  Histórico  

238  

239  

7.1.  A  necessidade:  da  precisão  à  invenção  

240  

7.2.  Os  mediadores:  estranhamento  e  parceria  

259  

7.3.  A  Luta:  experiência  de  vida  e  prática  política  

313  

366  

Capítulo  8  -­‐  A  Imagem  Histórica  

8.1.  Imagens  Heróicas  

 

8.2.O  lugar  do  acontecimento  

 

E  se  quisermos  contar  outra...:  considerações  finais  

395  

403  

PARTE  4  -­‐FONTES  

   

5. Enfrentando a dor, semeando a vida: caminhos do Sementinha Protagonistas desta História e suas comunidades 1:

Elza e Lourdinha* 2 - Caixa D’Água Neusa, Matilde e Inês* - Caracol Maria de Lourdes e Luiza* - alfabetização de adultos -Caracol Maria José e Antônia Salustiano - Grotão Nair*, Lucineide* e Maria de Lourdes - pré-escola - Grotão Creusa, Antônia e Luiza* - Merendiba Catarina, Terezinha, Antônia* e Marcia* - Parque Proletário Joana, Consuelo* e Lia* -Vila Cruzeiro Silvera* - trabalhos manuais em Vila Cruzeiro Rosângela*: antiga coordenadora do grupo

Apresentando também:

Beno Selhorst, responsável pela Pastoral de favelas da Igreja Bom Jesus da Penha, na época de formação do grupo.

1

A maior parte das agentes comunitárias atuam na área da saúde, por isso só estão caracterizadas as atividades daquelas que atuam ou atuaram em outros trabalhos. Todos os nomes relacionados foram encontrados nos relatórios do grupo, ou então fornecidos por Beno Selhorst, responsável pela coordenação da Pastoral de favelas na época de formação do grupo.

2 As

agentes cujos nomes estão assinalados com um asterisco (*) já deixaram o grupo ou encontram-se afastadas. Muitas, no entanto, continuam exercendo algumas das atividades anteriores, especialmente no campo de atendimento individual aos doentes.

O trabalho cotidiano: peregrinação e assistência 3

D. Creusa costuma dizer que “palavras não passam de palavras, passam pelas pedras e não deixam nenhum arranhão. Esses só falam: ‘Saúde, direito de todos’ mas não dão condição para se ter saúde”. Provavelmente porque as palavras passam sem deixar arranhões e a sobrevivência se impõe como necessidade, é que a solidariedade se tece enquanto condição para se ter saúde, ou pelo menos, driblar a dor e reproduzir cotidianamente a vida. Assim, no início dos anos 80, nas favelas da Penha, algumas mulheres se dedicavam à assistência de idosos e doentes, em suas comunidades e no Getúlio Vargas -Hospital público da região-, participando através da sua Pastoral de Saúde. Um trabalho que movia-se em torno do combate à dor e a doença, “a procura de doentes necessitados” que enviavam aos “padres para ajudarem com alimentos”.(D.Maria José) “Éramos da Pastoral de Saúde. Trabalhávamos mesmo sem ter grupo organizado”. (...)“Trabalho na Pastoral de favela, de doentes, não era de saúde, era Pastoral de doentes do Getúlio Vargas”. “Lá no Getúlio Vargas, íamos assistir a missa, cuidávamos dos doentes, dávamos comida, porque botavam comida lá e se não tivesse ninguém para dar eles ficavam morrendo de fome”.(D. Creusa) O cotidiano na favela, bem como o contato sistemático com as instituições públicas, tornavam estas mulheres observadoras privilegiadas da doença, da dor e do abandono que atingia suas comunidades, das peregrinações da população a postos e hospitais públicos. Eram frequentes situações em que: “uma pessoa estava passando mal, levávamos para o hospital. Chegando lá, era mal atendida, voltávamos para casa desanimadas, faziámos chás. (...) às vezes acontecia de pessoas que não precisavam tanto quanto nós serem atendidas. Nós que éramos mais necessitados, estávamos com o número na mão e voltávamos para casa sem sermos atendidos”. (D.Elza) Por isso, a recorrente constatação da falta de atendimento e da precariedade dos serviços públicos de saúde e o enfrentamento do abandono da comunidade eram partes integrantes da experiência de vida destas mulheres.

A história aqui contada teve como base um documento resultante de uma palestra ( Grupo S EMENTINHA : sua história, trabalho e atuação junto à comunidade na área de saúde) , promovida pelo C EPEL e dada pelo grupo, particularmente por três de suas agentes ( Creusa, Elza e Maria José).

3

O saber acumulado: o conhecimento das ervas e rezas

Não era apenas a consciência do abandono da população e a solidariedade que moviam estas mulheres. Algumas delas tinham uma experiência com ervas medicinais e rezas no tratamento de algumas doenças. Conhecimento de uma época em que “só éramos tratados com chá” (D. Maria José). Saber que se passava de geração em geração. Aprendizado muitas vezes adquirido em seus locais de origem, nas regiões rurais do Nordeste ou do Sudeste, e que se reatualizava na vivência adversa na favela. Dentre estas mulheres, “cada uma tem a sua história mas D. Maria José e D. Elza tem mais para contar”. “ (...) No trabalho de ervas, elas tem mais sabedoria, mais vivência, experiência”.( D. Antônia Salustiano e Creusa) “Tínhamos um entendimento do tempo de nossos pais. Meu pai era raizeiro(...) Ele fazia garrafada de plantas que curava moléstia do mundo (doença venérea) , que era usada por todos. Não me lembro de todas as ervas mas tinha Sena, Angico, Cabeça de Nêgo, Prá tudo, Quixabá.... Ele curava pessoas que iam ao médico, tomavam remédio e não conseguiam se curar. Se curavam com a garrafada de meu pai.” (D. Maria José) “Na minha terra conhecia muitas ervas. Me interesso desde criança, sempre gostei de ajudar as pessoas. Quando gestantes chegavam ao hospital na hora de ter o nenem, os médicos mandavam voltar e elas tinham os nenéns em casa. Muitas crianças já nasceram na minha mão mas não sou parteira”. (D.Elza) No cuidado individual às pessoas da comunidade, esta sabedoria das ervas era mais do que um recurso alternativo à precariedade das condições de atendimento nos serviços públicos. Era mais do que um remediar diante dos elevados preços dos remédios. Era, não raro, a própria garantia da cura através de um tratamento, cuja segredo era a atenção e a fé. “Mas não sou eu que curo, é a palavra de Deus. Fiz seis benzimentos, usei a tintura mãe e ensinei a usar e ele ficou curado. Eu rezei e Deus permitiu que saíssem aquelas palavras com fé e força”. (D.Maria José) A reza, ainda mais do que o conhecimento das ervas, é uma experiência particular, saber que pode ser conferido através de alguém que já o possui ou , então, por meio de um sonho. “Minha mãe era muito rezadeira (...) Certa vez minha mãe estava doente e não podia ir rezar uma pessoa doente. Ela, então, me mandou ir rezar a pessoa e eu perguntei como. Ela disse que eu deveria levar um molho de oliveira, pó de guia e um paninho branco. (...) Perguntei a minha mãe o que era pó de guia. Ela disse que era o caminho que a gente anda, que é nosso guia. Foi onde Jesus sofreu todas as agonias, derramou sangue, suor que ele passou para nós. Então o pó cura. Peguei o pozinho, peneirei e levei. Quando cheguei fiz uma reza e a moça ficou boa e eu continuei. Curo com a palavra de Deus também mordida de

insetos, de cobra, com a oração que minha mãe me deu, que era de um tio meu. Tem muita coisa que eu sonho e escrevo”. (D.Maria José) “Aprendi a rezar sonhando: uma senhora de idade chegava perto de mim chorando muito porque estava com muita dor de cabeça. Me pedia para rezá-la e eu dizia que não sabia rezar. A pessoa dizia: ‘Sabe sim, vim aqui porque me disseram que você sabe rezar’. Eu ouvia uma voz dizer: ‘Você vai rezar porque sabe rezar’. Eu dizia que não sabia. A voz dizia: Pega um copo com água, leve-o sobre a cabeça da pessoa que está com a dor’. A voz me ensinava o que eu deveria fazer e dizer as palavras: Assim como Jesus fez o cego enxergar, o mudo falar, o surdo escutar e paralítico andar, vai fazer essa dor de cabeça passar. Eu tinha que falar três vêzes. Quando acordei, acordei chorando. De manhã, bateu na minha porta uma senhora de idade dizendo que vinha para eu fazer um grande favor: rezar uma dor de cabeça. Me lembrei do copo d’água, das palavras, rezei e ela foi embora e não teve mais dor de cabeça. Daí começei a rezar as palavras. Rezo torção, caxumba, dor de dente. Faço também remédios.”(D.Elza) As simpatias também são parte do tratamento. Mas é um segredo ignorado pelo paciente já que “simpatia você não pode saber”. Assim como ocorre com a reza, “um tem o dom de fazer e outro não tem” (D.Maria José). E é na assistência individual a doentes e idosos e no trabalho com ervas, rezas e simpatias que estas mulheres se tornam conhecidas e reconhecidas em suas comunidades. Encontros: unindo-se a pastoral de favelas e reconhecendo a comunidade

Ao mesmo tempo que as mulheres desenvolviam seu trabalho de atendimento em saúde e de encaminhamento de idosos e doentes a bancos, hospitais, ambulatórios, a Pastoral do Hospital Getúlio Vargas, que já era antiga, “foi se aperfeiçoando, evoluindo e aperfeiçoando as coisas”. No hospital, “os diretores que trabalhavam, Fernando William, Gouveia, Luis Antônio, eles eram interessados nas comunidades, visitavam, eram médicos bons” (D.Creusa). Foi logo no início dos anos 80 que o “Padre Carlos veio para Paróquia Bom Jesus da Penha. Dr. William se interessava pelas comunidades e começou a fazer reuniões na Bom Jesus da Penha com os médicos do Getúlio Vargas. Formaram no Grotão um postinho e começaram a atender doente lá. Juntos víamos as dificuldades das pessoas nas comunidades e sempre querendo ajudar. “(D.Creusa). Fernando William e o Padre Carlos começaram então a desenvolver um trabalho de saúde nas comunidades, provocando discussões a partir de slides com o objetivo de conscientizar. Mas depois o trabalho foi diminuindo. Padre

Carlos se voltou para atuação nas comunidades de base . O gabinete dentário que havia sido criado na favela do Grotão foi passado para administração da Associação de Moradores, tornando-se algo independente. Em 1983 chegou a Paróquia Bom Jesus da Penha um novo Padre: o Beno. Então, “(...)Carlos se uniu com Beno e compraram uma casa no Grotão (...) foram morar lá”. Na época, “diziam assim: ‘Como eles vão se adaptar em favela? ‘. Mas eles queriam trabalhar e conhecer o povo. A pessoa só conhece se está no meio das pessoas; eles na paróquia com conforto não iam saber do que as pessoas precisavam. Combinaram e foram morar lá”( D.Creusa). “Quando foi em 85, começou o pensamento do Beno em formar um grupo...”. E aí, “ele convidou seis comunidades do Complexo da Penha, duas agentes de cada comunidade. E nós começamos no Cruzeiro, na Igreja Nossa Senhora da Aparecida”.( D.Creusa). O trabalho das mulheres já era conhecido nas comunidades pois “algumas participavam da Pastoral de Saúde do Getúlio Vargas mas agora todas participavam de trabalhos comunitários, ligados à Igreja, não necessariamente em saúde. A maioria delas tinham alguma atuação em saúde por conta própria. Não era uma coisa institucionalizada mas nas suas comunidades elas eram vistas como alguém que tinha alguma coisa haver com saúde, por saber mais de chás, de ervas ou de curativos. Uma iniciativa individual. Elas tinham participação comunitária mas não enquanto ações em saúde, a não ser esse do Getúlio. “(Beno) Todas estas mulheres, chamadas para formar o grupo, eram ligadas à Igreja Católica. Só “uma já não participava da Igreja Católica mas tinha participado e como tinha um trabalho interessante foi convidada. É a Creusa. Ela já não era mais da comunidade católica mas tinha sido. Mas pela pessoa que ela era, pelo trabalho comunitário, o grupo concordou que ela participasse“. Não houve portanto, um critério de exigência quanto à religião , embora fosse natural porque o trabalho feito era ligado à Igreja, os trabalhos sociais tinham uma ligação com a Igreja. Então era natural que o pessoal basicamente fosse da Igreja (Beno) Já reconhecendo o trabalho que as mulheres vinham desenvolvendo em suas comunidades, e tendo em vista os problemas aí identificados , foi que, o então Padre Beno e Ana Lúcia, uma assistente social, começaram a alimentar idéias quanto a um projeto de saúde: “Quando a gente começou, no fundo a gente tinha a pretensão, com a concepção e a cabeça da época, que o grupo começasse com algumas ações de saúde, alguns serviços de saúde para a população mas que isso fosse apenas uma entrada nas comunidades, nas famílias, nas casas, um contato, era um abrir portas. Essa era a nossa cabeça no início. Era uma forma de entrar, de chegar, até provocar uma demanda. Então por exemplo, o primeiro aparelho que elas

tiveram em mãos era um aparelho de medir pressão. É um negócio que custa um pouco de dinheiro, que é uma coisa rara nas favelas alguém ter . A gente imaginou que isso seria um serviço, teria essa finalidade também de prestar um serviço mas era muito mais criar uma demanda (...) e com o tempo o grupo avançasse a ponto do centro do trabalho ser de mobilização política, de reivindicação por questões mais básicas, mais fundamentais, como o saneamento principalmente. Na nossa cabeça da época era isso, basicamente luta por saneamento, questão de esgoto, de lixo, qualidade do serviço hospitalar da área. Lutar nesta perspectiva, né?” (Beno) Diante desta perspectiva, em 1984, elaboraram o projeto para uma entidade alemã e enquanto aguardavam a resposta, que levou quase um ano, organizaram o grupo, continuando os trabalhos que vinham fazendo: de comunidade, os círculos bíblicos, a Pastoral de Saúde do Getúlio Vargas Foi em 1985 que receberam uma verba para iniciar o trabalho com o grupo. “Quando o Beno começou com o grupo, fizemos um cadastramento dos problemas da comunidades para ver os que eram piores. Começamos a trabalhar com saúde preventiva”. Assim, “(...) já não ia tratar de doente, já ia procurar saúde. Então saímos a procura de saúde. Encontrava lixo, focos, aquelas coisas que davam doenças e não fomos átras de doença, então a gente tinha que prever para acontecer saúde”. (D.Creusa) Organizadas enquanto grupo, as mulheres que atuavam na Pastoral do Hospital Getúlio Vargas e dedicavam-se ao atendimento individual nas comunidades, passaram também a se voltar para problemas com que se defrontavam , como o saneamento básico, o lixo, salários, enfim, as próprias condições de vida da população. E nas idas à casas dos moradores, descobriam mais sobre as razões que os levavam a adoecer. Descobriam que os doentes de que tratavam não eram casos isolados e que a cura exigia melhoria na qualidade de vida da comunidade. “No começo muitas pessoas não nos atendiam mas insistíamos. Ficamos sabendo o motivo das doenças das comunidades. Não é tanto por causa de água e esgoto, é salário baixo. A pessoa tem que comer e não tem. A pessoa fica nervosa. Não adianta querer prevenir doença porque a prevenção está no salário. O salário é a primeira doença.” (D.Elza) “Gripe, a gente pega porque não se alimenta bem. Não tem as vitaminas que precisa. Mas as pessoas lá não podem comprar um pezinho de couve. Ninguém pode comprar cenoura, então a gente vai ficando fraco e doente. (...) Tá ruim sem moradia que preste, sem água que preste. A gente fala: ‘olha, esta água dá doença’ e a pessoa responde: ‘mas o que eu posso fazer? Só tenho essa vasilha e é uma vez por semana que a água vem’ (D.Creusa) Descobrindo mais sobre os motivos que levam a população a adoecer, e procurando atuar sobre estas causas, foi que em algumas comunidades, como por

exemplo na Merendiba, “elas conseguiram uma boa articulação com a Associação de Moradores e levaram uma luta grande, principalmente em cima do lixo”.(Beno). Sobre isso, D.Creusa conta que “fizemos mutirão de lixo, mulherada toda ajudando, procuramos aqueles gatões para matar rato porque se a gente acabasse com o lixo, deixava eles morrendo de fome; então tinha que procurar uma coisa para acabar com eles porque eles iam entrar na casa da gente”. Em outras comunidades, as mulheres também chegaram a se aproximar das Associações, como no Caracol e Caixa D’água. Mas em locais, como Parque Proletário e Vila Cruzeiro, a articulação com a associação tornou-se mais complicada já que “as próprias Associações de Moradores através dos anos não conseguem levar um movimento (...) a associação representa mas em determinados momentos tem que mobilizar, tem que agitar, aí é muito difícil, é muito complicado. Não é o Sementinha que não conseguiu. É muito difícil fazer alguma coisa pelo tamanho, pela massa” (Beno). Já formadas enquanto grupo, as mulheres, contavam com o apoio financeiro da Misereor, “é a misericórdia de Deus, o pagamento era cem cruzeiros, era pouco mas com Deus é muito”. E contavam, sobretudo, com o encorajamento do então Padre Beno que “trouxe vida para comunidade, ele e o Padre Carlos, trouxeram vida. Era pastoral mesmo. Pastor que pastora tem que ver as ovelhas, o que é que está sofrendo, sentindo. Ele sabia de nossa precisão mas sózinho não podia fazer nada (...) Nós tínhamos que ajudar então...” (D.Creusa) Organizadas em grupo, as mulheres, não iam só “tratar de doente, já iam procurar saúde”. À peregrinação pelos serviços públicos de saúde e pelas casas de doentes, junta-se a peregrinação pela comunidade, num trabalho de levantamento de seus problemas e da procura por respostas a eles. Em busca de novas ferramentas: ensinando e aprendendo

Foi na busca de uma maior compreensão da dor daqueles com quem convivia e num esforço de procurar alternativas aos problemas que descobriam, que o grupo de mulheres, agentes comunitárias de saúde, ampliou suas atividades na comunidade e ao mesmo tempo saiu da favela a procura de respostas. O trabalho acumulado lhes mostrava o caminho da “educação e saúde na Saúde” e por isso: “(...) Começamos a trabalhar com Saúde Preventiva. Gosto muito do trabalho preventivo. Não gosto de ficar aplicando injeção. Queria que nunca tivesse ninguém para eu aplicar. Queria que nunca tivesse uma pessoa para eu levar ao hospital. Se a gente ensina a eles como fazer para se

defenderem, eles não vão ficar doentes. (...) Se a gente chega na casa do doente que tem pressão alta e diz que ele não deve comer muito sal, beber café, fumar, beber, estamos prevenindo”(D.Creusa). Ao mesmo tempo, o contato cotidiano com as comunidades as tornava sensíveis às necessidades da população e às dificuldades do trabalho que desenvolviam. “(...)O porco traz muita doença e já sabíamos que não poderíamos proibir a criação de porcos porque eles sobreviviam daqueles porcos que criavam. Então hoje tem poucas pessoas que criam porcos porque já se conscientizaram. Quando teve aquela enchente que teve leptospirose, essas doenças..., nós falamos: ‘Olha, está acontecendo isso por causa dos porcos’. Eles foram acabando com os porcos aos poucos, sem briga, sem confusão. Hoje em dia tem pouco porco”. (D.Creusa) Procurando criar condições para o desenvolvimento de suas atividades, em 1985, fundaram com o apoio da Pastoral, particularmente do Beno, a primeira horta comunitária do grupo, onde cultivam 70 qualidades de plantas medicinais. No cuidado com a horta, enfrentam um transtorno cotidiano nas comunidades da região: a falta da água. “O problema com a horta é que o terreno é seco e não temos água para molhar as plantas. Precisamos de água porque ela dá vida. Sem vida as plantinhas morrem e sem elas como vou dar remédio para o povo?” (D.Creusa). As ervas plantadas servem na preparação de chás curativos, produção de pomada, xarope e do sabão medicinal . Produtos feitos pelo próprio grupo coletivamente e que, muitas vêzes, não circulam apenas pelas comunidades, como o sabão medicinal, por exemplo: “...Então ajuda muito. Não tem aspecto bonito mas gaiola bonita não dá comida a canário. O conteúdo do sabão é bom. A minha propaganda não é cara, é barata para satisfazer as pessoas, as pessoas necessitadas, e não só carentes que precisam mas pessoas da alta sociedade, estão precisando até mais. Porque eles vão átras do que é bonito e terminam se estragando todo”.(D.Creusa) “(...) tem outra enfermeira do Estado do Rio. Ela já mandou pedir para suprir as crianças de lá, mordida de mosquito, brotoeja. E eu estou feliz porque vejo a cura no meio do mundo se espalhando . É Nova Iguaçu, São Paulo, é para o Estado do Rio, é aqui na Penha, é em todo canto. É uma maravilha”. (D.Maria José) Ao mesmo tempo, o conhecimento do tratamento com ervas medicinais vai sendo também aperfeiçoado. Por isso “fizemos vários cursos e fizemos cursos também em Cuiabá para falar sobre as plantas porque os remédios são feitos delas e a gente fica muito feliz de ter essa experiência dada por Deus (...) Saber é muito bom. Na minha casa é cheia de tintura-mãe e tudo é curado: ferida, corte, rachaduras. E é bom. Isso é incentivo para trabalhar”. (D. Maria José).

E também “fizemos o curso no Posto XI e em vários lugares, como Itaguaí. Passamos um dia, troca de experiência, foi uma aprendizagem sobre a falha do aipim que é uma vitamina muito boa. Às vêzes o médico fala: ‘olha, você vai dar sulfato ferroso a seu filho mas a mãe vai na farmácia e não pode comprar. Então a gente já tem em casa, a casca do ovo, a folha do aipim e a sementinha de abóbora. É mais uma experiência que buscamos lá fora”.(D.Elza) Buscando experiências lá fora, novos e necessários conhecimentos são também adquiridos. Em um curso no Posto XI ( Centro Municipal de Saúde da Penha) aprendem, por exemplo, a verificação de pressão arterial e de temperatura corporal, aplicação de injeções, curativos. Através destes cursos e de debates estabelecem novas relações, entrando em contato com profissionais de saúde que atuam em entidades públicas na região. “Começamos a fazer reunião com o Valla e Eduardo Stotz, fomos encontrando doença (...)”. No Posto XI (Centro Municipal de Saúde da Penha), a Dra. Mary Baran, “ajudava, fazia reunião. Aí começaram a fazer um cursinho porque a gente sabia mas não sabia muito, como a gente não sabe até hoje porque quanto mais se estuda, mais tem que estudar” (D.Creusa). Participam também de atividades ligadas a instituições públicas, como foi o caso de uma pesquisa organizada pela UFRJ e pela Campanha Nacional contra a tuberculose ( Ministério da Saúde) que acabou por dar origem a um vídeo. “Quando começamos nosso trabalho, fizemos uma pesquisa de tuberculose. Fomos de casa em casa para fazer um trabalho com aquelas pessoas”. (D.Creusa) “(...)Encaminhamos pessoas que encontramos vomitando sangue e fazendo tratamento no hospital ‘Del Castilho’. Os médicos não davam o diagnóstico da causa da doença, então enviamos todos ao Centro de Saúde. Com seis meses estavam de alta e curados”.( D. Maria José). Foi ampliando as atividades nas comunidades e o contato com as instituições públicas de saúde da região, que o grupo foi fazendo novas descobertas e avaliações. Como, por exemplo, a respeito dos serviços dos profissionais no hospital: “(...) eu não posso falar dos que trabalham lá, eles se esforçam muito mas nem uma luva eles tem prá trabalhar (...) Antigamente, eu falava deles mas eles não tem recurso. Trabalham em três, quatro empregos. Podia ser só um se fosse bem pago" (D.Creusa). “(...)Os médicos não aceitam a gente porque acham que são os donos da situação. Se a gente diz que chá de cidreira com alecrim baixa a pressão, eles dizem que é ilusão, o que baixou a pressão foi o Aldonet”. (D.Creusa). Avaliações que nem sempre implicam em uma coincidência de opinião no grupo:

“Eles recomendam que tenha limpeza mas eles não têm. Onde se encontra as maiores imúndices é lá, são nos hospitais”. (D.Creusa). “Tem um porém, quando abre o hospital, isso é em qualquer hospital, porque eu já fui muito em hospitais, sempre está limpinho. Com o decorrer da horas, o dia vai passando, as pessoas vão chegando, aí é que vai sujando. Aí o médico já está por fora porque quem suja somos nós, o usuário. Quando a gente entra está sempre limpo”.( D.Elza). Mas que expressam a consciência da necessidade de seu trabalho e de até onde é possível ir: “Nosso trabalho não é só com hortas. Verificamos pressão, aplicamos injeção, levamos doentes ao hospital, levamos pessoas idosas ao banco. Fazemos um trabalho com idosos e crianças. Tiramos ponto, curativos. E às vêzes, as pessoas nos procuram porque atendemos bem. Somos solidários”. (D.Creusa) “A gente leva um doente no Posto de Saúde. Ele consulta, aí passa remédio para comprar. Não tem nem para comer..., se ele tivesse dinheiro para comer não estava doente não. Mas não tem. A situação está triste (...) e as pessoas estão desempregadas porque tem milhares de pessoas desempregadas. A gente não pode se transformar em emprego. E tem pessoas que ganham pouquinho, não dá prá nada, vai na tendinha e entorna. E quem paga é a mulher e os filhos”. (D. Creusa). “Atendemos qualquer pessoa mas quando vem com algum problema sério, a gente manda ir ao médico”. (D.Elza) “Tem lugar que não atende direito mas a gente vai lá e insiste (...) ‘Doutor, assim não dá pode ficar, faz qualquer coisa’. Mas aí o médico fala: ‘mas o que adianta passar remédio se vocês não compram?’. Aí eu digo: ‘Tá certo sim mas passe que eu vou andar aqui e ali para conseguir o remédio’. Agora da nossa cabeça é que não dá para curar uma doença que a gente não conhece ...” (D.Creusa) Análises que traduzem a avaliação do grupo a respeito de alguns profissionais ou instituições que dele se aproximam ou com quem tem contato: “Nós trabalhamos há muitos anos. Nós gostamos de trabalhar nas comunidades carentes. Mas tem pessoas que às vêzes vai na sua comunidade. Como pessoas importantes que marcam. Você vê que ela não vai com o objetivo de te ajudar. Só para colher e não volta mais. Fica marcada essa atitude (D.Neusa). “(...) as coisas que a gente deixou mas que eu não esqueci e acho que o grupo também. Pessoas que trabalharam e depois foram embora. Acho que é bom ficar claro, eu quero isso e vocês me dão aquilo. Tem pessoas que trabalharam, foram embora e a gente viu que elas aprenderam muito, foram embora. Eu falei, a pessoa vem de longe é com algum interesse. Ninguém faz nada de graça mas esclareça porque o interesse...”( D. Antônia).

“Eles não acreditam no trabalho da gente. A gente é carente mas não é boba. O importante é que a gente confia no trabalho da gente. Eles não confiam”. (D.Elza) E assim, no desenvolvimento de suas atividades nas comunidades, e fora delas, as mulheres do grupo percebiam que ensinar e aprender era parte importante de seu trabalho. Então, “...fomos para Heliópolis. Levamos sabão, tintura, pomada e conversamos com o povo. Ensinar e aprender também porque aprender nunca enche. A gente tem vontade de aprender mais”. (D. Maria José) E deste jeito, amadureciam seu trabalho, fazendo germinar um semente que já haviam plantado há muito tempo.

“Só se aprende caminhar, caminhando”: traçando os próprios rumos

Em 1987, o Padre Beno que vinha acompanhando o grupo durante os anos anteriores, deixa o trabalho que vinha desenvolvendo nas comunidades da Complexo de favelas da Penha. Com sua saída, o grupo de mulheres desliga-se da Pastoral já que: “(...) o Beno entregou para nós. Ele viu que já estávamos formadas e não ia ficar dando leitinho para nós toda vida. Ele achou que a gente tinha que aprender a caminhar. E só se aprende a caminhar, caminhando porque quem fica parado é poste”. (D.Creusa). “Como quem fica parado é poste”, as mulheres deram continuidade às suas atividades, contando com a união e tenacidade do grupo, os recursos e a experiência adquirida durante os anos anteriores . Por isso, “se uma se fere no grupo, então todas nós sentimos a mesma dor Enquanto não tiver nada nos atingindo, uma coisa que venha nos maltratar, então está ótimo”. ( D. Elza). Possuiam uma casa que funcionava como sede do grupo, e duas hortas comunitárias: uma no Parque Proletário do Grotão, ao lado da sede, e outra na Merendiba, num terreno cedido pela Irmandade da Igreja Nossa Senhora da Penha. Ao mesmo tempo que prosseguiam as atividades que já desenvolviam, organizavam-se, procurando registrar o trabalho nas comunidades, avaliar e planejar suas atividades da seguinte maneira: “A gente pega uma folha de papel e escreve todo o nosso resultado e faz um mural, todo o trabalho durante o ano”( D.Joana). “Aí depois a gente faz o planejamento para o próximo ano. O que a gente vai continuar, que tem para fazer, o que a gente está pensando”. 4 4

Alguns depoimentos, existentes nos relatórios de reuniões do Cepel com o Sementinha, não tinham identificação do nome da agente comunitária.

Foi nesta época que o grupo aprovou também um estatuto constituindo-se em entidade civil, com a finalidade de desenvolver atividades culturais, educacionais, de promoção humana, asssim como artesanais e produtivas, cujos benefícios fossem revertidos para as próprias comunidades onde as componentes do grupo atuassem. O nome dado a entidade, foi escolhido pelas próprias mulheres: Sementinha Serviços Comunitários. O grupo se constituiu enquanto entidade voltada para várias áreas, já que, naquela época, começava um trabalho em educação infantil e alfabetização de adultos, sob a responsabilidade de uma agente de educação, bem como algumas atividades artesanais. A flexibilidade do estatuto mostrava as possíveis áreas de atuação nas comunidades. Com o desligamento da Pastoral e o fim do financiamento da Misereor, o grupo contou então com um apoio financeiro alemão, concedido por uma pessoa física e repassado pela Fundação Fé e Alegria, com quem já tinha contato. Bastante próximo do Fé e Alegria, o Sementinha começou a receber uma assessoria sistemática da fundação, trabalho que resultou em vários cursos e na troca de experiências com agentes comunitárias de outras regiões e municípios. Época vista pelas mulheres como “muito boa”, quando iam para diversos lugares, faziam passeios, tinham material para trabalhar. Posteriormente, com o afastamento do Fé e Alegria, que se voltou particularmente para o trabalho com creche, o grupo continuou a receber o apoio financeiro vindo da Alemanha, desta vez repassado pelo Campo ( Centro de Assessoria ao Movimento Popular), cuja assessoria concentrou-se particularmente no repasse de recursos financeiros. Ao mesmo tempo, as agentes de saúde do Sementinha amadureceram o antigo contato com Victor Valla, professor da ENSP (Escola Nacional de Saúde Pública) e presidente do CEPEL (Centro de Estudos e Pesquisas da Leopoldina), passando então a receber uma assessoria sistemática desta última instituição. Atualmente, o Sementinha constitui-se enquanto um grupo autônomo, sem vínculos institucionais com a Igreja ou com orgãos públicos ou privados. Conta com oito agentes de saúde e duas de educação que trabalham na creche comunitária. Traçando seus próprios rumos, tem enfrentado o desafio da sobrevivência em meio às diversas dificuldades que lhe são colocadas. Dificuldades que indicam mudanças e o agravamento das condições de saúde que “agora está péssima. Aquelas pessoas que nos ajudavam, Dra. Mery, Marcia, Fernando William, foram para outros lugares. E os que entraram na crise, já chegaram sem dar jeito porque não tem verba. Tínhamos acesso às farmácias, pegava remédio. Agora as farmácias estão fechadas. No Fundão que era um hospital muito agradável, agora está uma miséria”. “Agora mudou tudo. Saúde, só tem o nome. É tudo doença” (D.Creusa)

...E que apontam a situação da maioria da população do país pois “a gente fala de saúde mas a maior doença que tem no país é a fome. As pessoas não tem onde morar. Não tem como ir para o trabalho. Passagem cara. Quantas vêzes na marmita só tem farinha e arroz? (D.Creusa). Dificuldades que revelam as mudanças no país , percebidas nos momentos em que “eu vejo uma senhora tirar fora um pedaço de queijo e carne da sacola porque vê que o dinheiro não dá. A gente pensa que é porque é centavo dá mas não dá”(D.Elza). ....E que o grupo acompanha cotidianamente em suas comunidades, nas visitas domiciliares, como quando: “Eu estive numa casa. É de dar dó. Um barraco com oito pessoas dentro. Chão molhado. Dentro do barraco tem um fogão, um sofázinho de pau que fizeram e o restante é para oito pessoas dormirem no chão. Eu estou doente de ver tanta pobreza, tanta fome, tanto fracasso. Eu não aguento mais” (D.Maria José). Dificuldades que trazem problemas que procuram driblar .Mas que vem limitando as atividades já que “o que desestimulou demais nosso trabalho foi a violência”. “Nós agora não estamos indo nas casas devido à violência. Eu ainda tenho coragem de emburacar em qualquer canto”. Dificuldades que se traduzem na falta de sustentação material do trabalho do grupo mas que tentam combater. Um exemplo: “Sabe como a tia Elza está fazendo curativo? Ela pega pedaço de malha, passa com ferro quente e usa como gaze”. (Catarina). Dificuldades que vem se refletindo nos últimos anos na progressiva diminuição do apoio financeiro recebido pelas mulheres, que não cobre as necessidades fundamentais ao desenvolvimento de suas atividades e que as fazem avaliar: “Se tem um projeto de dar uma ajuda de custo e estão vendo a situação do país precária, como diminuir? O que vou fazer com 23 reais?”(D. Creusa). ...E que também leva o grupo a discutir interna e externamente alternativas de auto-sustentação, como a perspectiva de montagem de uma cooperativa de produção caseira de medicamentos, possivelmente em parceria com outra entidade civil: “Nosso grupo é de saúde, não é de cooperativa. Mas se fizer a cooperativa para cuidar dos doentes....” Para não cair nosso trabalho tem que colocar uma ajudante”( D.Creusa). “De que adianta a gente produzir e não vender nada? “(D.Elza) “ Se nós vamos produzir muito, será que terão pessoas suficientes para comprar?” (D.Antônia Salustiano). “Eles não querem o que a gente quer. Se fosse parceria, eu ficava sabendo o que eles queriam” (D.Creusa).

Dificuldades que fazem com que algumas mulheres deixem o grupo, por desgaste físico e emocional, problemas de saúde ou financeiros, como D.Joana, Tereza ou Lourdinha. ...E que a fazem afirmar que o que fazem “é um trabalho muito penoso”. “A gente não fica de férias, só fica de férias de reunião”. E que há muito tempo “não temos nada de diversão” (D.Creusa e D.Elza). Dificuldades, enfim, de “uma tristeza triste”, para a maioria do grupo, composto de mulheres já idosas que sabem que “a gente fica doente, velha e não tem um amparo”( D.Creusa e Maria José). Mas dificuldades que elas insistem teimosamente em ir enfrentando, na certeza da necessidade de seu trabalho para os moradores das comunidades pois a “doença deles é a miséria e não tem quem dê uma esperança para eles. E o nosso trabalho é de esperança.” (D.Creusa) E “...o povo pede com os olhos com lágrimas: dá uma ajuda para gente”

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