Ensaio Exegético do Novo Testamento - Filipenses 2.5-11

July 25, 2017 | Autor: W. Zacarias | Categoria: Biblical Exegesis, New testament exegesis, Commentary on Philippians Chapter 2:1-11
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FACULDADE LUTERANA DE TEOLOGIA – FLT CURSO DE BACHARELADO EM TEOLOGIA

METODOLOGIA EXEGÉTICA DO NOVO TESTAMENTO: FILIPENSES 2.5-11

WILLIAM FELIPE ZACARIAS

SÃO BENTO DO SUL/SC NOVEMBRO/2013

2 WILLIAM FELIPE ZACARIAS

METODOLOGIA EXEGÉTICA DO NOVO TESTAMENTO: FILIPENSES 2.5-11

Análise Exegética apresentada à Faculdade Luterana de Teologia. Refere-se a perícope de Filipenses 2.511. Compete à disciplina de Metodologia Exegética do Novo Testamento.

Orientador: Prof. Dr. Roger Marcel Wanke

SÃO BENTO DO SUL/SC NOVEMBRO/2013

3 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ARA BJ NTLH LUTERO NTG OSel

1

Bíblia Almeida Revista e Atualizada Bíblia de Jerusalém Bíblia na Nova Tradução à Linguagem de Hoje Die Bibel nach Martin Luther Novum Testamentus Graece Obras Selecionadas de Martin Lutero1

Cf. detalhes na Bibliografia.

4 SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 6 1

O ROSTO DO TEXTO .......................................................................................... 7 1.1

TRADUÇÃO LITERAL.................................................................................... 7

1.2

ANÁLISE TEXTUAL ..................................................................................... 10

1.2.1

VERSÍCULO 5 ......................................................................................... 10

1.2.2

VERSÍCULO 6 ......................................................................................... 11

1.2.3

VERSÍCULO 7 ......................................................................................... 11

1.2.4

VERSÍCULO 9 ......................................................................................... 12

1.2.5

VERSÍCULO 11 ....................................................................................... 12

1.3

ANÁLISE GRAMATICAL ............................................................................. 12

1.3.1

VERSÍCULO 5 ......................................................................................... 12

1.3.2

VERSÍCULO 6 ......................................................................................... 13

1.3.3

VERSÍCULO 7 ......................................................................................... 13

1.3.4

VERSÍCULO 8 ......................................................................................... 14

1.3.5

VERSÍCULO 9 ......................................................................................... 14

1.3.6

VERSÍCULO 10 ....................................................................................... 15

1.3.7

VERSÍCULO 11 ....................................................................................... 16

1.4

ANÁLISE LITERÁRIA .................................................................................. 16

1.4.1

DELIMITAÇÃO DO TEXTO ................................................................. 16

1.4.2

ESTRUTURA DO TEXTO ...................................................................... 18

1.4.2.1

SUBDIVISÃO DO TEXTO ................................................................. 18

1.4.2.1.1

VERSÍCULO 5 ................................................................................. 18

1.4.2.1.2

VERSÍCULO 6.a ............................................................................... 18

1.4.2.1.3

VERSÍCULO 6.b .............................................................................. 18

1.4.2.1.4

VERSÍCULO 7.a ............................................................................... 19

1.4.2.1.5

VERSÍCULO 7.b e 8 ......................................................................... 19

1.4.2.1.6

VERSÍCULO 9 ................................................................................. 19

1.4.2.1.7

VERSÍCULO 10 ............................................................................... 19

1.4.2.1.8

VERSÍCULO 11.a ............................................................................. 20

1.4.2.1.9

VERSÍCULO 11.b ............................................................................ 20

1.4.2.1.10

CONCLUSÃO .................................................................................. 20

5 1.4.2.2

DIAGRAMAÇÃO DO CONTEÚDO .................................................. 21

1.4.2.3

AS “AMARRAS” DO TEXTO ............................................................ 21

1.4.3 1.5 2

CITAÇÕES ............................................................................................... 23 CONCLUSÃO ............................................................................................. 25

OS PÉS DO TEXTO ............................................................................................ 27 2.1

CONTEXTO LITERÁRIO .............................................................................. 27

2.1.1

GÊNERO LITERÁRIO ............................................................................ 27

2.1.2

FORMA LITERÁRIA .............................................................................. 29

2.1.3

SITZ IM LEBEN ....................................................................................... 30

2.1.4

INTENCIONALIDADE DO TEXTO ...................................................... 31

2.2

CONTEXTO HISTÓRICO.............................................................................. 31

2.2.1

DESTINATÁRIOS ................................................................................... 32

2.2.2

AUTORIA ................................................................................................ 32

2.2.4

CONCLUSÃO .......................................................................................... 35

2.3

ANÁLISE DAS TRADIÇÕES ........................................................................ 35

2.4

CONCLUSÃO ................................................................................................. 35

3

O CORAÇÃO DO TEXTO ................................................................................. 37

3.1

A HUMILHAÇÃO DE CRISTO JESUS ............................................................ 37

3.2

A MORTE DE CRUZ DE CRISTO JESUS ....................................................... 42

3.3

A EXALTAÇÃO DE CRISTO JESUS ............................................................... 44

4

OS OLHOS DO TEXTO...................................................................................... 48 4.1

RECEPÇÃO DO TEXTO ................................................................................ 48

4.2

DIÁLOGO COM FONTES SECUNDÁRIAS ................................................ 49

4.3

CONTEXTUALIZAÇÃO E APLICAÇÃO .................................................... 56

4.4

ESBOÇO HOMILÉTICO ................................................................................ 58

4.5

EQUIVALÊNCIA DINÂMICA ...................................................................... 58

CONCLUSÃO............................................................................................................... 60 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 61 LITERATURA ........................................................................................................... 61 LÉXICOS E DICIONÁRIOS ..................................................................................... 63 BÍBLIAS ..................................................................................................................... 64 OUTROS RECURSOS .............................................................................................. 64

6 INTRODUÇÃO

Confessa-se que o árduo trabalho exegético por vezes produziu inquietações e dúvidas em relação a perícope estudada. A mesma, em sua densidade e conteúdo, fala ao íntimo do ser por estar ligada intrinsecamente á cristologia e soteriologia. Falar da encarnação, morte e exaltação de Cristo é falar, sobretudo, de salvação, daquilo que Cristo Jesus conquistou aos seres humanos na rude cruz. Propõe-se, primariamente, um olhar ao rosto do texto procurando perceber suas peculiaridades à primeira vista. O que revela na sua tradução literal, análise textual, gramatical e literária. As mesmas possuem muito a revelar do fulcro do texto. Após a primeira observada, analisar-se-á os pés do texto: por onde caminhou, onde está alicerçado, visando contexto literário e histórico, bem como as tradições que o permeiam. A partir disso também se pode ouvir os batimentos do coração do texto, o que pulsa forte em seu peito, isto é, a profundidade de sua teologia. O último passo metodológico é os olhos do texto onde o hermeneuta põe em seus olhos o óculos do texto afim de o contextualizar para a realidade histórico-atual, culminando em uma nova tradução próxima da linguagem popular atual. Verifica-se, portanto, a relação que há com o texto bíblico como que em uma alteridade. Lógico, o texto não é um ser vivente em si mesmo, mas na interpretação é como se houvesse muito a dizer e a ensinar. Este relacionamento intensifica a intepretação porque o hermeneuta é levado adentro do texto bíblico ao perscrutar seus mais íntimos segredos. Ele se revela ao interprete. Nisto, não se pode, de maneira alguma, descartar a pneumatologia na interpretação, pois o Espírito Santo dá vida a letra. Sem este pressuposto, o texto seria vazio e sem sentido à vida de quem o interpreta. Por isso, o presente texto de Fp 2.5-11 muito ensinou o interprete no seu estudo, não é possível, entretanto, compreender a totalidade daquilo que se encontra escrito, mas fato é que Cristo Jesus fez tudo o que fez por amor, e, como diria Karl Barth, também amor aos teólogos.2 Que o texto e toda as escrituras continuem, no agir do Espírito Santo, se relacionando com os que os estudam, bem como, aos que leem esta empreitada pesquisa.

2

Cf. BARTH, Karl. Introdução á Teologia Evangélica. 8. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2003. p. 97.

7 1

O ROSTO DO TEXTO

Neste passo, deseja-se clarear os princípios gramático-estruturais que regem o texto sugerido de Filipenses 2.5-11 como forma de ver o texto em sua face, assim como se vê o rosto de uma pessoa no horizonte. Busca-se, por conseguinte, uma tradução própria o mais fiel possível do texto grego original dentro daquilo que a Língua Portuguesa e a Língua Alemã3 a partir da tradução de Lutero possuem de termos adequados e com significado próximo dos termos Gregos originais.

1.1

TRADUÇÃO LITERAL “A tradução é o primeiro passo a ser realizado na exegese. Ele é necessário pelo simples fato do Novo Testamento ter sido redigido originalmente em grego”.4

5 Tou/to fronei/te evn u`mi/n o] kai. evn Cristw/| VIhsou/( Isto5 pensai6 em vós aquilo como7 em Cristo Jesus

6 o]j evn morfh/| qeou/ u`pa,rcwn ouvc a`rpagmo.n h`gh,sato to. ei=nai i;sa qew/(|

que em forma de Deus8 existente9 não usou de seu proveito para si10 o ser igual a Deus,

3

O presente autor da exegese não possui amplo conhecimento da língua alemã e nem a fala fluentemente, mas com a tradução do texto também nesta língua a partir de dicionários e outros recursos se puderam fazer alguns apontamentos. 4 WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento. Manual de Metodologia. 7ª ed. revisada e ampliada. São Leopoldo: Sinodal, 2012. p. 46. 5 Optou-se por esta tradução por ser este o significado literal do termo, visto que é neutro acusativo (Cf. SCHALKWIJK, Francisco Leonardo. Coinê. Pequena Gramática do Grego Neotestamentário. Patrocínio: CEIBEL, 2004. p. 44). ARA, NTLH e BJ eliminaram o termo de suas traduções. LUTERO usa o termo Seid que significa praticamente o mesmo do que o termo grego. 6 Este termo se origina do verbo frone,w que significa pensar, ter em mente também no sentido de defender um argumento. (Cf. WILBUR, Giengrich. Léxico do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2007. p. 219). A ARA e a BJ traduzem o termo como sentimento, já a NTLH é mais acertada ao utilizar a tradução o mesmo modo de pensar. LUTERO utiliza o termo so unte euch gesinnt que tem a ver com ter em mente. 7 Neste caso, a expressão o] kai precisa ser traduzida idiomaticamente, pois no literal não faz sentido (Cf. WILBUR, Giengrich. Op. Citatum. p. 107), logo, o termo é traduzido pelo pronome demonstrativo aquilo como. No literal seria o também. Com este termo, Paulo sugere o que os filipenses devem ter em mente: aquilo como também houve em Cristo Jesus. A ARA traduz por que houve também em Cristo Jesus. A BJ optou pelo termo mesmo que simplifica a frase, pois os filipenses apenas devem ter o mesmo sentimento de Cristo Jesus. A NTLH interpreta o termo colocando-o no final da frase como um modo de pensar que Cristo Jesus tinha. LUTERO traduz por o que também estava em Jesus Cristo Jesus. Portanto, neste caso, a ARA e LUTERO são os que mais se aproximam do original, visto que este termo é de difícil tradução.

8

7 avlla. e`auto.n evke,nwsen morfh.n dou,lou labw,n( evn o`moiw,mati avnqrw,pwn geno,menoj\

kai. sch,mati eu`reqei.j w`j a;nqrwpoj mas ele mesmo (se) esvaziou11 (em) forma de servo12, tornando (-se), em semelhança dos homens13 e a aparência exterior tendo sido encontrado14 assim como homem,

_____________________________ 8

Optou-se por esta tradução pela construção dativa-genitivo. ARA, BJ e LUTERO traduzem da mesma maneira. Porém, a NTLH vai mais longe e utiliza o termo natureza de Deus que, em síntese, significa o mesmo. 9 Cf. WILBUR, Giengrich. Op. Citatum. p. 212, o termo significa existir no sentido de ser presente. REINICKER, Fritz. Chave Linguística do Novo Testamento Grego. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 407, também concorda com a tradução, afirmando que o termo significa a continuidade de um estado anterior. A ARA utilizou o termo subsistindo que cf. MICHAELIS. Dicionário escolar da língua portuguesa. 3. ed. São Paulo: Melhoramentos, 2008. p. 818 significa “existir em sua substância e individualidade”. Não se sabe e nem se pode dizer que foi isto que João Ferreira de Almeida pensou quando resolveu traduzir o original grego por esta palavra, pois não se sabe que significado ela tinha no português de sua época, porém, crê-se que provavelmente quis falar de Cristo Jesus como aquele ser individual que existe em si mesmo sem necessitar de mais nada ou de ninguém. A BJ optou pela tradução estando que não muda o sentido, mas concorda com o original. A NTLH parece não expressar este termo. LUTERO utiliza war que tem o mesmo significado que sein (ser, existir cf. MICHAELIS. Dicionário Escolar Alemão. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos, 2012. p. 251-252). 10 Toda esta construção é de difícil tradução principalmente por causa do termo a`rpagmo.n. Ele tem o significado literal de “algo a ser conseguido, ou grandemente desejado, prêmio, algo a que se aferrar” (Cf. WILBUR, Giengrich. Op. Citatum. p. 34). Pode significar também “um sentido ativo roubando ou passivo prêmio adquirido pelo roubo” (Cf. REINICKER, Fritz. Op. Citatum. p. 407). Nisto é preciso adequar o termo grego à nossa língua, por isso, talvez Paulo quisesse dizer que Cristo não apanhou para si com força o direito de ser igual a Deus como um Filho que deseja as coisas apenas para si. No literal, o termo quer significar algo que alguém tomou para si de forma a não compartilhar para mais ninguém, um egoísta. Este egoísta Jesus não foi. A ARA traduz como não julgou como usurpação. Com isso, provavelmente ele quis dizer que o próprio Cristo não disse a si mesmo que iria usurpar de seus direitos, mas ele julga, ou seja, ele se vê e não abusa de seu direito. A BJ traduz por não usou de seu direito de ser tratado como deus. Nisto, ela também evidencia que Jesus Cristo tem seus direitos por ser igual a Deus, mas ele os deixa de lado. A NTLH tragicamente traduz como não tentou ficar igual a Deus como se Jesus Cristo tivesse sido o Filho de Deus que não quer ser Deus, como se ele tentasse algo que nem ele mesmo poderia cumprir. Esta tradução é especialmente problemática por não deixar claras as duas naturezas de Cristo conforme os Credos da Igreja Antiga (Niceno-Constantinopolitano de 381 e Calcedonense de 451) e conforme o grego original irá ressaltar afirmando que ele já era existente com Deus. LUTERO usa o termo ein Raub que significa um roubo (Cf. MICHAELIS. Alemão Op. Citatum. p. 229) como que se Jesus não tivesse roubado para si como usurpação de ser igual a Deus. Neste termo, o mais acertado foi LUTERO. 11 Cf. WILBUR, Giengrich. Op. Citatum. p. 115, significa vazio, esvaziar. Também Cf. REINICKER, Fritz. Op. Citatum. p. 408, esvaziar, tornar vazio. O termo se refere ao Cristo Jesus que se esvaziou de sua divindade (não deixando de ser Deus) para tomar a forma humana. Por isso ele não roubou para si exageradamente o direito de ser igual a Deus. Nas traduções em língua portuguesa, a ARA traduz como a si mesmo se esvaziou. A BJ usa o termo se despojou que também é adequado. A NTLH usa inadequadamente os termos abriu mão de tudo o que era seu de forma a tentar explicar algo que nem esta explicitamente no texto, visto que o significado deveria ser próximo de esvaziar. Já LUTERO usa o termo esvaziar como nas versões BJ e ARA da língua portuguesa. 12 Interessante é o termo de LUTERO onde ele usa a palavra Knechtgestalt que significa forma de servo (Cf. MICHAELIS. Alemão Op. Citatum. p. 174 e 130) quando Cristo Jesus assume a forma humana. A ARA traduz como forma de servo. A BJ traduz por forma de escravo, enquanto a NTLH traduz por natureza de servo. Novamente, a NTLH busca não uma tradução mais próximo-literal do texto, mas a partir da tradução explicar o próprio significado do texto. No NTG aparecem os termos morfh.n dou,lou que estão na construção acusativo-genitivo significando forma de servo, por isso, a ARA, a BJ e LUTERO encontram acertadamente a tradução mais própria (Cf. também WILBUR, Giengrich. Op. Citatum. p. 138 e 59).

9

8 evtapei,nwsen e`auto.n geno,menoj u`ph,kooj me,cri qana,tou( qana,tou de. staurou/Å

rebaixou a si mesmo15, sendo obediente16 até (à) morte, morte (em) cruz. 9 dio. kai. o` qeo.j auvto.n u`peru,ywsen kai. evcari,sato auvtw/| to. o;noma to. u`pe.r pa/n o;noma( por esta razão, também Deus a ele exaltou17 e dando de graça18 para ele o nome superior a todo nome

10 i[na evn tw/| ovno,mati VIhsou/ pa/n go,nu ka,myh| evpourani,wn kai. evpigei,wn kai.

katacqoni,wn para que em o nome de Jesus todo joelho se dobre no céu e sobre a terra e debaixo da terra19.

_____________________________ 13

Cf. WILBUR, Giengrich. Op. Citatum. p. 146 e REINICKER, Fritz. Op. Citatum. p. 408 concordam na tradução do termo o`moiw,mati como semelhante, igual, da mesma natureza. Logo, Cristo Jesus que é o Deus que não usurpou de seu direito de ser como Deus, mas se torna semelhante, da mesma natureza e igual a nós (Calcedônia, 451). A ARA traduz acertadamente como se tornando em semelhança de homens. A BJ também corretamente como semelhante aos homens. A NTLH também acerta e coloca como igual aos seres humanos. LUTERO traduz como gleich que tem o sentido de idêntico (Cf. MICHAELIS. Alemão op. citatum. p. 132). Nestes termos, as versões conhecidas do português e a alemã de Lutero traduzem o mais próximo que conseguiram dos termos originais. 14 ARA irá traduzir como reconhecido. Ambas as expressões tem mesmo sentido, pois querem afirmar que Cristo Jesus foi visto como homem embora fosse Deus. 15 Cf. WILBUR, Giengrich. Op. Citatum. p. 203 e REINICKER, Fritz. Op. Citatum. p. 408 este termo significa rebaixar. O mesmo, cf. MICHAELIS. Op. Citatum. p. 727 significa “fazer diminuir, humilharse”. A ARA traduz adequadamente como a si mesmo se humilhou, visto que este é “sinônimo” de rebaixou cf. MICHAELIS. Op. Citatum. p. 727. A BJ traduz como abaixou-se que também é correto conforme o significado de rebaixar. A NTLH traduz como ele foi humilde e nisto também traduz próximo do original. LUTERO utiliza o termo erniedrigte que significa humilhar, rebaixar, diminuir (Cf. MICHAELIS. Alemão Op. Citatum. p. 95) e, portanto, também se aproxima do original. 16 Cf. WILBUR, Giengrich. Op. Citatum. p. 213 e REINICKER, Fritz. Op. Citatum. p. 408 o termo significa obediente. A ARA, a BJ, a NTLH e LUTERO (que usa o termo gehorsam que significa obediente Cf. MICHAELIS. Alemão Op. Citatum. p. 124) seguem literalmente o original. 17 Cf. WILBUR, Giengrich. Op. Citatum. p. 213 e REINICKER, Fritz. Op. Citatum. p. 408 a palavra u`peru,ywsen significa exaltar até a máxima altura. A ARA traduz como exaltou. A BJ como soberanamente o elevou. A NTLH tenta explicar traduzindo como deu a Jesus a mais alta honra. LUTERO usa o termo erhöht que significa aumentar, elevar, levantar (Cf. MICHAELIS. Alemão Op. Citatum. p. 94). Neste sentido, a ARA, BJ E LUTERO são mais próximos do termo original, porém a NTLH não faz uma interpretação tão longe do que seria o significado. 18 Esta é a tradução mais próxima para evcari,sato que tem em sua raíz ca,rij (graça), cf. WILBUR, Giengrich. Op. Citatum. p. 222. A ARA e a NTLH utilizam o termo lhe deu que também possui o sentido de graça. Para isso, basta comparar o significado de dar e do termo graça em MICHAELIS. Op. Citatum. p. 248 e 422 (veja também SCOTTINI, Alfredo. Dicionário Escolar com a Nova Ortografia da Língua Portuguêsa. Blumenau: Todo Livro, 2009. p. 181 e 288). A BJ utiliza o termo conferiu que prejudica o termo original por não destacar a graça como dádiva. LUTERO usa o termo gegeben que significa dar, entregar, conceder (Cf. MICHAELIS. Alemão Op. Citatum. p. 120) e por isso também é próximo do original. 19 Esta expressão debaixo da terra carece de uma análise aprofundada. No NTG aparece o termo katacqoni,wn. Cf. WILBUR, Giengrich. Op. Citatum. p. 113 e REINICKER, Fritz. Op. Citatum. p. 408, este termo significa sob a terra. A ARA, a BJ e LUTERO traduzem como todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra. A NTLH traduz como todas as criaturas no céu, na terra e no mundo dos mortos caiam de joelhos. Embora esteja subentendido que os joelhos são de criaturas celestiais, terrestres e abaixo da terra, é errôneo colocar isto na tradução ainda que se pretenda explicar o texto ao invés de

10

11 kai. pa/sa glw/ssa evxomologh,shtai o[ti ku,rioj VIhsou/j Cristo.j eivj do,xan qeou/

patro,j e toda língua admita abertamente20 que o Senhor é Jesus Cristo para glória de Deus Pai. 1.2

ANÁLISE TEXTUAL “Sua tarefa consiste em determinar com maior exatidão possível o texto grego que deverá servir de base para a tradução e a pesquisa posteriores. A necessidade [da análise textual] advém do fato de que o Novo Testamento foi escrito em grego e em manuscritos cujos originais desapareceram. Estes manuscritos foram sucessivamente copiados no decorrer dos séculos, de modo que conhecemos milhares dessas cópias na atualidade”.21

1.2.1

VERSÍCULO 5 A NTG em seu aparato sugere uma inclusão. O termo proposto é gar presente

em vários manuscritos. Destaca-se aquele conhecido como um dos mais antigos e, portanto, mais próximo do original: î46 (papiro do século II).22 Esta inclusão aparece ainda em textos como



(patrística, 2º corretor), D Bezae (Séc. V/VI, Uncial

Ocidental), F Boreelinanus (séc. IX, Bizantino), G Seidelianus (séc. X, Bizantino), 075. 0278. (Unciais maiúsculos) 1739. 1881 (minúsculos). Neste caso, a tradução seria “pois isto”23 Esta versão se encaixa bem no texto e se considera válida por ser apoiada pelo î46. Aliás, possui ainda o apoio de outros manuscritos antigos. O próprio contexto revela o perfeito encaixe que tal partícula daria se estivesse no texto. Também a _____________________________ apenas traduzi-lo. Para isso, a NTLH poderia ter feito uso de notas de rodapé. Pensa-se que, em última análise, o autor do texto quer antes argumentar que o nome de Jesus é tão sobremodo elevado que em todas as instâncias, visíveis e invisíveis, existentes e não existentes, seres e não seres, se dobrem perante seu senhorio. 20 Cf. REINICKER, Fritz. Op. Citatum. p. 408, evxomologh,shtai significa admitir abertamente, reconhecer, aclamar. A ARA traduz como confesse. Talvez por esta palavra conter o termo omologe,w que significa declarar, confessar (Cf. WILBUR, Giengrich. Op. Citatum. p. 146). A BJ usa o termo proclame. O termo permanece adequado se esta proclamação tiver o sentido de declarar aos outros o que se crê. A NTLH traduz como declarem abertamente sendo aquela que mais se aproxima do original grego. Logo, todas as traduções se aproximam do original, mas a que se demonstra mais literal é a NTLH. 21 WEGNER, Uwe. Op. Citatum. p. 60. 22 Cf. WEGNER, Uwe. Op. Citatum. p. 73. 23 OMANSON, Roger L. Variantes textuais do Novo Testamento. Análise e avaliação do aparato crítico de “O Novo Testamento Grego”. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010. p. 414.

11 substituição simples onde fronei/te, em alguns manuscritos como, por exemplo, o Ephraemi 2º corretor datado ao século V, proveniente do texto alexandrino, é substituído por –neisqw (presente imperativo médio na 2 pessoa do plural, logo froneisqw significa pensai para si.24 O mesmo, conforme aparato, aparece nos seguintes manuscritos: C² Ephraemi 2º corretor (séc. V, Alexandrino), Y Laurensis (séc. VIII, Bizantino), 075. 0278 (Unciais maiúsculos).

1.2.2 VERSÍCULO 6

Há neste verso uma substituição maior onde o texto tem algumas mudanças de palavras variando o manuscrito. Conforme o aparato, os termos ouvc a`rpagmo.n (não usou de seu proveito para si)25 seriam substituídos por ouk apragmon que não possuem significado nenhum. Nisto, é evidente um erro de copista que acabou por trocar as letras das palavras. Os aparato não apresenta os manuscritos onde acontece a modificação.

1.2.3 VERSÍCULO 7 Há uma substituição simples onde avnqrw,pwn (dos seres humanos) como construção genitiva seria substituído por avntrw,pou (do ser humano) também como construção genitiva. A diferença está no fato de que o primeiro é plural enquanto o segundo é singular26. Fato é que nem um e nem outro interferem na interpretação pelo fato de apontarem para a mesma realidade: Cristo Jesus se tornou em semelhança ao(s) homem(ns).27 Esta substituição se encontra no î46 (papiro do século II) e também de Marcião, “expulso da comunidade cristã romana por volta de 140, havido por herege e muito combatido”.28 Igualmente Cipriano inclui a substituição em seus escritos.

24

Cf. WEGNER, Uwe. Op. Citatum. p. 72 e SCHALKWIJK, Francisco Leonardo. Op. Citatum. p. 132. Cf. já citado em: 1.1 TRADUÇÃO LITERAL. p. 6. 26 Veja a mudança em SCHALKWIJK, Francisco Leonardo. Op. Citatum. p. 20, § 65. 27 Nas traduções em língua portuguesa, tanto a ARA como a NTLH optam pelo plural. Já a BJ pelo singular. LUTERO também optou pelo singular Mensch (Cf. MICHAELIS. Alemão Op. Citatum. p. 198). 28 BITTENCOURT, B. P. O Novo Testamento: cânon, língua, texto. 2. ed. Rio de Janeiro e São Paulo: JUERP/ASTE, 1984. p. 147. 25

12 1.2.4 VERSÍCULO 9

Neste há uma omissão simples. Alguns manuscritos como D Bezae (séc. V/VI), F Boreelinanus (séc. IX), G Seidelianus (sec. X), Y Laurensis (sec. VIII), 075. 0278. (Unciais maiúsculos) 1881. (minúsculos).29 omitem o termo to.. Com o sinal txt se introduz o apoio de outros manuscritos à versão NTG, inclusive, um dos textos é o î46, considerado o mais antigo.

1.2.5 VERSÍCULO 11 Tem-se uma substituição simples onde evxomologh,shtai (subjuntivo) seria substituído por evxomologh,setai. (futuro do indicativo médio). Logo, ao invés de significar admita abertamente, iria significar ele admitia para si. Em síntese, não há mudança de sentido.30 Os manuscritos que seguem a diferença são o A Alexandrinus (sec. V), C Ephraemi (sec. V), D Bezae (sec. V/VI), F Seidelianus (sec. X), G Ciprius (sec. IX), etc. O texto também é apoiado pelo î46.

1.3

ANÁLISE GRAMATICAL

A análise linguística e sintática inventaria o vocabulário de um texto e analisa os tipos de palavras que ocorrem num texto (substantivo, verbo, adjetivo, pronome, preposição, artigo, conjunção), as formas das palavras (tempo, gênero, modo, número, declinação), bem como a concatenação interna segundo as regras da gramática. Descreve as palavras, locuções e frases se inter-relacionam, como estão ligadas uma à outra e de que maneira se estabelece a coerência (por exemplo, por repetição, variação, amplificação, substituição, supressão, posicionamento de termos-chave, proformas).31

1.3.1 VERSÍCULO 5 O texto inicia com o pronome demonstrativo Τοῦtο32. Isto significa que há algo anterior ao próprio texto. Ela indica que Paulo está falando sobre algo e agora insere 29

Cf. WEGNER, Uwe. Op. Citatum. p. 63. Nas traduções, em português, as variações são distintas. A ARA segue o subjuntivo, traduzindo como confesse. A NTLH segue o futuro indicativo médio traduzindo como declarem abertamente. Já a BJ buscou outro significado colocando proclame. LUTERO utiliza o termo bekennen que significa confessar (Cf. MICHAELIS. Alemão Op. Citatum. p. 45). 31 SCHNELLE, Udo. Introdução à Exegese do Novo Testamento. 5ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Edições Loyola, 2004. p. 50. 32 Cf. SCHALKWIJK, Francisco Leonardo. Op. Citatum. p. 44. 30

13 outro texto para complementar a sua argumentação. Nas próximas palavras, nota-se que Paulo fala aos Filipenses sobre o Jesus Cristo humilde. Isto complementa sua argumentação anterior. Na práxis cristã se deve ter a mesma atitude (sentimento, ou pensamento) de Cristo Jesus que significa seguir o Senhor como um discípulo, orientarse em sua palavra e em seu exemplo, seu caminho de humilhação. O exemplo da humilhação de Cristo é o exemplo que a comunidade deve seguir. Na continuação da argumentação, Paulo afirma categoricamente que os filipenses devem ter em suas (ἐν ὑμῖν) mentes (frονεῖtε) aquilo como em Cristo Jesus. frονεῖtε é um presente imperativo ativo, logo, o sujeito da frase (Paulo) é quem pronuncia o imperativo à comunidade. Ele pede, em amor, que possuam o mesmo sentimento que havia em Χrιstῷ Ἰηsοῦ que é objeto indireto (dativo).

1.3.2 VERSÍCULO 6 O pronome relativo ὃj (que) serve para dar continuidade ao texto. Ela irá demonstrar o que esse Χrιstῷ Ἰηsοῦ fez. É seguido da preposição evn, do substantivo morfh|/ declinado no dativo singular feminino, do substantivo qeou/ declinado no genitivo singular masculino e do particípio presente ativo u`pa,rcwn nominativo singular masculino. Esta construção genitivo-nominativo diz muito: A forma da qual Paulo está falando é a forma do próprio Deus que Χrιstῷ Ἰηsοῦ tem. O advérbio de negação ouvc é seguido do substantivo a`rpagmo.n declinado em acusativo singular masculino. Com o verbo h`gh,sato na terceira pessoa do singular do aoristo indicativo médio é perceptível que Jesus, o sujeito, faz, conforme o narrador, uma ação sobre si mesmo. É por espontaneidade que Jesus Cristo não usurpa, não abusa de seu direito de ser Deus. O artigo definido to. faz a ligação entre a frase anterior e a sentença ei=nai i;sa qew/. ei=nai está no infinitivo do presente, i;sa é adjetivo do verbo anterior. qew é dativo, ou seja, objeto indireto, portanto, ser igual a Deus.

1.3.3 VERSÍCULO 7 Com a partícula adversativa avlla. é perceptível um antagonismo em relação ao que foi dito anteriormente. evauto,n é um pronome enfático/intensivo. Este pronome está se referindo ao sujeito da frase que é Jesus Cristo. A palavra evke,nwsen é a terceira

14 pessoa do plural do aoristo indicativo ativo de keno,w (esvaziar). morfh.n está no acusativo e dou,lou no genitivo, portanto significa forma de servo. Logo, aquele que é Deus se torna simplesmente um servo por sua própria vontade. Ele mesmo se esvaziou e fez de si mesmo como servo, entretanto, isto é visto por alguém de fora que usa o termo evauto,n, ou seja, ele. Alguém aponta o sujeito Jesus Cristo que faz estes verbos. la,bom (tomando) é o particípio aoristo médio de lamba,nw. A preposição evn aponta para o substantivo ovmoiw,mati está no dativo. anqrw,pwn (dos seres humanos) está no genitivo plural. Por ser genitivo, Χrιstῷ Ἰηsοῦ é aquele que toma a natureza humana como posse sua. kai (conjunção “e”) e sch/ma no dativo singular feminino. eu`reqei.j encontrase no nominativo particípio aoristo passivo. wj é um advérbio e faz a ligação da sentença anterior com a palavra a;nqrwpoj,, nominativo singular.

1.3.4 VERSÍCULO 8 ἐταπείνωσεν é o aoristo indicativo ativo de tapeino,w e`autoj uvph,kooj me,cri qana,tou de. staurou/ A ação de ἐταπείνωσεν é feita pelo próprio sujeito que é obediente até a morte, e morte de cruz. Aquele que não necessita a ninguém obedecer o faz por sua própria vontade. Aquele que não precisa morrer o faz por seu próprio arbítrio. staurou/ é um genitivo, logo, a morte é um genitivo objetivo da cruz. Jesus se submete de tal forma como servo obediente que inclusive se deixa prender em uma cruz e matar por ela.

1.3.5 VERSÍCULO 9 Este versículo inicia com uma conjunção superordenativa dio.. Isto significa que a frase é inferencial conclusiva, ou seja, pressupõe uma oração antes, logo ele faz a ligação entre a oração anterior e a seguinte de forma a colocar a seguinte como conclusão.33 καὶ é um adjetivo adverbial. ὁ é um artigo definido que está no nominativo masculino singular. θεὸj (Deus) é um substantivo nominativo masculino singular. Desta forma, por estar no nominativo, θεὸj é o sujeito ativo da oração, ou seja, é ele quem faz a ação do verbo que aparecerá adiante. αὐtὸν é um substantivo pronominal acusativo

33

Cf. FRIBERG, Barbara & FRIBERG, Timothy (ed.). O Novo Testamento Grego Analítico. São Paulo: Vida Nova, 1987.p. 849.

15 masculino da segunda pessoa do singular. Isto quer dizer que αὐtὸν é objeto indireto da ação do verbo. ὑπεrύywsεν é um verbo indicativo aoristo ativo neutro da terceira pessoa do singular. Sua ação é efetuada por θεὸj e tal ação é realizada sobre Cristw/| VIhsou, pois ele é aquele que em forma de Deus foi feito em forma de servo, porém, Deus efetua a ação de elevar seu nome sobre todo nome. ἐcαrίsαtο é um verbo indicativo aoristo médio depoente da terceira pessoa do singular. Seu significado é dar de graça. O sujeito θεὸj concede a Cristw/| VIhsou o nome que está acima de todo nome. Se torna claro que esta é uma ação efetuada pelo próprio Deus onde Jesus Cristo se torna seu bom objeto/resultado da ação. αὐtῷ é um substantivo pronominal dativo masculino da terceira pessoa do singular. Significa ele. tὸ é um artigo definido acusativo neutro singular. ὄνομα é um substantivo acusativo neutro singular e significa nome. Por ser acusativo, Jesus Cristo recebe de Deus o nome, logo, é o Pai quem dá significado à pessoa de Jesus Cristo. Aquele Cristo que se humilha, fazendo-se servo é também exaltado pelo Pai. O Pai o fez com o maior nome. ὑπὲr é uma preposição acusativa e significa sobre. πᾶν é um adjetivo acusativo neutro singular. Novamente aparece o termo ὄνομα no mesmo sentido gramatical do anterior. Este versículo pode ser dividido em sujeito e predicado. Destaca-se que o sujeito θεὸj se encontra no nominativo, por tanto, obviamente é ele quem faz algo. Praticamente, todo o resto da frase, o predicado, se encontra no acusativo, ou seja, os termos são objeto direto da ação do sujeito. Logo, Deus é quem concede a Jesus Cristo o nome que está acima de todo nome, Jesus aqui é objeto direto do agir de Deus.

1.3.6 VERSÍCULO 10 Este versículo é iniciado com a conjunção subordinativa i[na, seguido da preposição dativa evn. tw/| é um artigo definido neutro singular. ovno,mati é um substantivo dativo neutro singular. Por ser dativo, o mesmo é objeto indireto. VIhsou é um substantivo de nome próprio genitivo masculino singular. Este Jesus Cristo recebe de Deus um nome que é somente seu. pa/n é um adjetivo nominativo neutro singular. go,nu é um substantivo nominativo neutro singular. ka,myh é um verbo subjuntivo aoristo ativo da terceira pessoa do singular. pa/n é o adjetivo de go,nu e ka,myh afirma o que estes dois termos devem fazer: dobrar-se. evpourani,wn, evpigei,wn e katacqoni,wn são adjetivos pronominais genitivos masculinos plurais. Especialmente nestes últimos três termos

16 existe uma concordância em vários sentidos, eles se referem a lugares onde apenas um é localizado geograficamente. Deve-se dobrar os joelhos perante Jesus Cristo, a saber, todas as coisas na terra e embaixo da terra. O Senhor a quem se deve dobrar os joelhos é Jesus Cristo.

1.3.7 VERSÍCULO 11 pa/sa é um adjetivo nominativo feminino singular. glw/ssa é um substantivo nominativo feminino singular. evxomologh,shtai é um verbo subjuntivo aoristo médio plural. Este pa/as é o adjetivo de glw/ssa. O verbo evxomologh,shtai expressa o que os dois termos anteriores devem fazer: confessar. o[ti é uma conjunção coordenativa, estabelecendo ligação entra a freasse anterior e posterior. ku,rioj VIhsou/j Cristo.j são substantivos nominativos masculinos singulares, ou seja, o sujeito da frase é o Senhor Jesus Cristo. Agora se compreende que evxomologh,shtai é o confessar de pa/as glw/ssa os substantivos ku,rioj VIhsou/j Cristo.j, mas não as palavras em si somente, porém o próprio Cristo: realidade de tais palavras. eivj é uma preposição acusativa (obj. direto). do,xan é um substantivo acusativo feminino singular, logo, aqui se começa a caminhar para o objeto da ação do verbo. qeou/ patro,j são substantivos genitivos masculinos singulares.34 O confessar de Jesus Cristo é realizado para que o Pai receba a glória, ou seja, glória aqui tida como um verbo substantivado.

1.4

ANÁLISE LITERÁRIA A análise literária (AL), também denominada “crítica literária”, procura estudar os textos como unidades literariamente formuladas e acabadas.35

1.4.1 DELIMITAÇÃO DO TEXTO

Nas traduções do texto não há unanimidade quanto a sua delimitação. Apenas a ARA o separa em 2.5-11, enquanto a BJ, a NTLH, o NTG e LUTERO mantém a construção 2.1-11. Fato unânime é que todas estas que não seguem a delimitação de 34

Todas as informações gramaticais foram retiradas dos seguintes livros: FRIBERG, Barbara & FRIBERG, Timothy (ed.). O Novo Testamento Grego Analítico. São Paulo: Vida Nova, 1987.p. 605. SCHALKWIJK, Francisco Leonardo. Op. Citatum. 35 WEGNER, Uwe. Op. Citatum. p. 112.

17 ARA fazem um destaque no texto. LUTERO colocou em negrito, a BJ, o NTG e a NTLH colocaram o texto alinhado apenas à esquerda, enquanto a ARA continuou o texto normalmente, com alinhamento em ambos os lados. A partir disso, torna-se evidente a delimitação de 2.5-11 pelos seguintes motivos: a)

A Perícope anterior: Há uma clara diferenciação do texto anterior (2.1-4),

pois o mesmo é uma parênese comunitária36 enquanto o texto que segue (2.511) é um poema/hino.37 “Paulo encaixou esse hino em sua argumentação, instando os filipenses a serem semelhantes a Cristo e especificamente a viverem com humildade”.38 Em síntese, ao pedir para a comunidade dos filipenses que completem a sua alegria (2.2) de forma a serem humildes, Paulo encaixa um hino a fim de complementar e incentivar a comunidade a viver aquilo da qual estava falando. b)

A Perícope Posterior: Já nos próximos versículos (2.12-28), Paulo retoma

a parênese comunitária, todavia, com outro tema, pois agora exorta benignamente os filipenses fazer tudo sem murmurações (2.14), preservando a palavra da vida (2.16) de forma que os filipenses continuem crescendo e servindo da mesma maneira como Cristo serviu aos homens.39 c)

A análise gramatical: Pode-se delimitar o começo do texto a partir da

partícula Τοῦtο que é o pronome demonstrativo isto. Logo, na sua argumentação, Paulo usa este pronome para demonstrar aos filipenses por que devem ser humildes, conforme 2.1-4. O exemplo máximo de humildade que os cristãos de Filipos devem seguir é o que Cristo Jesus concedeu. No final da perícope pode ser observado no texto posterior, especificamente em 2.12 onde Paulo introduz a partir da partícula Wste (por esta razão), que está “introduzindo uma cláusula independente, (...) dependente, (...) ou o resultado pretendido”.40 Portanto, o texto posterior à perícope de Fp 2.5-11 sugere novo tema.

36

Cf. BERGER, Klaus. As Formas Literárias do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 1998. p. 118119. 37 Cf. WEGNER, Uwe. Op. Citatum. p. 261-262. 38 CARSON, D. A. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 357. 39 LUTERO colocou o título Sorge um das Heil (cuidado por causa da salvação). Nisto se percebe que aqui a exortação de Paulo parte a uma preocupação quanto à salvação dos filipenses de modo que os mesmos devem continuar praticando o que até aqui já fizeram e ainda se aprimorar no amor ao próximo. 40 WILBUR, Giengrich. Op. Citatum. p. 228.

18 1.4.2 ESTRUTURA DO TEXTO “A estrutura dos textos procura familiarizar com as disposições externas de seu conteúdo. Ela ainda não pressupõe um exame acurado desse conteúdo. Baseia suas descobertas unicamente na atenção concedida às partes exteriores do texto, ou seja, na disposição, subdivisão, realce e interconexão. Por isso alguns autores dizem que a estruturação não procura mostrar o “interior”, mas somente a “cara” do texto, o perfil do seu rosto”. 41

1.4.2.1 SUBDIVISÃO DO TEXTO

Pretende-se subdividir o texto conforme a sua própria proposição versículo por versículo.

1.4.2.1.1

VERSÍCULO 5

Aqui se faz a introdução do texto. A partir da partícula Tou/to, Paulo introduz o novo texto para afirmar aos filipenses todo o resto de seu conteúdo. Em síntese, todo este versículo é a frase de introdução à citação como aqui se denominará.

1.4.2.1.2

VERSÍCULO 6.a

A partir da frase o]j evn morfh/| qeou/ u`pa,rcwn, delimita-se que Paulo está falando quem é Cristo Jesus: aquele que tem a forma de Deus existente. Da mesma sentença, surgem os desdobramentos seguintes do texto.

1.4.2.1.3

VERSÍCULO 6.b

Começam-se os desdobramentos do versículo anterior. Fala-se que aquele que é Deus existente ouvc a`rpagmo.n h`gh,sato to. ei=nai i;sa qew/|. Nota-se que quem faz tal separação é o advérbio de negação ouvc. Este quer afirmar aquilo que Cristo Jesus não fez: se aproveitar de seu poder por ser Deus.

41

WEGNER, Uwe. Op. Citatum. p. 117.

19 1.4.2.1.4

VERSÍCULO 7.a

Com a conjunção superordenativa avlla,. aponta-se para o contrário daquilo que foi dito anteriormente. Como a frase anterior é negativa, ele propõe agora o que é positivo, ou seja, o que é realmente verdadeiro. Destarte, Cristo Jesus não é aquele Deus perverso que abusa de seu senhorio, mas avlla. e`auto.n evke,nwsen morfh.n dou,lou, ou seja, o que se torna tão humano ao ponto de servir aos seres humanos.

1.4.2.1.5

VERSÍCULO 7.b e 8

Este contém a explicação da sentença anterior, pois labw,n( evn o`moiw,mati avnqrw,pwn geno,menoj kai. sch,mati eu`reqei.j w`j a;nqrwpoj. O versículo 8 prossegue o aforismo anterior. Cristo Jesus ser humano servo é aquele que evtapei,nwsen e`auto.n geno,menoj u`ph,kooj me,cri qana,tou( qana,tou de. staurou/Å Esta é a máxima destes versículos, pois aquele que é totalmente Deus se torna também totalmente humano a inclusive se auto rebaixar a uma morte, a mais cruel e aterrorizante morte de cruz. Percebe-se assim uma “linha diagonal decrescente” do versículo 6 até o versículo 8 da pessoa e do Deus tornado também homem Cristo Jesus.

1.4.2.1.6

VERSÍCULO 9

Começa-se uma “linha diagonal crescente” que deseja relatar a exaltação daquele que se humilhou. O mesmo Cristo Jesus ressurreto é o que morreu na cruz e isto não pode ser esquecido. Aquele que se torna servo e sofre para si mesmo a morte da cruz é o que dio. kai. o` qeo.j auvto.n u`peru,ywsen kai. evcari,sato auvtw/| to. o;noma to. u`pe.r pa/n o;noma.

1.4.2.1.7

VERSÍCULO 10

Primeiramente se falou o que Cristo Jesus fez, o que Deus, o Pai fez e agora o texto aponta para o que os anqropo,i devem fazer: i[na evn tw/| ovno,mati VIhsou/ pa/n go,nu ka,myh| evpourani,wn kai. evpigei,wn kai. katacqoni,wn. Não se fala de uma atitude voluntária, mas se fala que todos os joelhos se dobrarão perante Cristo Jesus. Porém,

20 não se trata restritamente aos homens, mas embora não apareça de forma explícita, o texto fala de céu, terra, debaixo da terra. Em síntese, isto significa que todas as realidades existentes criadas por Deus se dobrarão perante Cristo Jesus.

1.4.2.1.8

VERSÍCULO 11.a

kai. pa/sa glw/ssa evxomologh,shtai o[ti ku,rioj VIhsou/j Cristo.j eivj do,xan qeou/ patro,j. Não apenas os joelhos se dobrarão, mas todas as línguas confessem o Senhor Jesus Cristo.

1.4.2.1.9

VERSÍCULO 11.b

Este fala do confessar universal de Jesus Cristo como o Senhor como algo feito unicamente eivj do,xan qeou/ patro,j. Não há exceção nesse confessar, mas declara-se que todas as línguas o confessarão.

1.4.2.1.10

CONCLUSÃO

Sugere-se, portanto, a seguinte subdivisão do texto bíblico de Fp 2.5-11:

1ª Parte: a)

Façam o mesmo que Cristo Jesus (v. 5)

b)

que era Deus, (v. 6.a).

c)

mas disso não se aproveitou, (v. 6.b),

d)

porém servo se tornou (v. 7.a)

e)

sendo homem (v. 7.b)

Centro: morrendo a morte de cruz (v. 8).

2ª Parte: f)

Nisto, Deus o exaltou lhe dando o nome acima de todo nome (v. 9).

g)

Perante Jesus Cristo todos os joelhos se dobrarão (v. 10)

h)

e todas as línguas confessarão o Senhor Jesus Cristo (v. 11.a),

i)

para que Deus seja glorificado (v. 11.b).

21

1.4.2.2 DIAGRAMAÇÃO DO CONTEÚDO

A partir da subdivisão do texto, apresentar-se-á a seguinte diagramação do conteúdo:

v.5. Introdução à citação.

v. 6.a. Jesus Cristo Deus. v. 6.b. Ele não se aproveita por ser Deus. v.7.a. Jesus Cristo servo. v.7.b. Jesus Cristo homem. v.8. Jesus Cristo Deus e homem morre a morte de cruz. v.9. Deus o exaltou lhe dando um nome acima de todo nome. v. 10. Perante Jesus Cristo todos os joelhos se dobrarão. v. 11.a. As línguas confessarão Jesus Cristo como o Senhor. v. 11.b. Isto é feito para a glória de Deus Pai. 1.4.2.3 AS “AMARRAS” DO TEXTO

Muitas vezes, o mero exame da superfície de um texto já nos permite constatar o assunto ou termo que o perpassa como um fio vermelho, ou seja, que “amarra” suas diferentes partes num todo orgânico e coerente. Nesses casos, a regra costuma ser que o termo ou assunto que amarra o texto se evidencia pela sua repetividade.42

5 Tou/to fronei/te evn u`mi/n o] kai. evn Cristw/| VIhsou/( 6 o]j evn morfh/| qeou/ u`pa,rcwn ouvc a`rpagmo.n h`gh,sato to. ei=nai i;sa qew/|( 7 avlla. e`auto.n evke,nwsen morfh.n dou,lou labw,n( evn o`moiw,mati avnqrw,pwn geno,menoj\ kai. sch,mati eu`reqei.j w`j a;nqrwpoj 8 evtapei,nwsen e`auto.n geno,menoj u`ph,kooj me,cri qana,tou( qana,tou de. staurou/Å 9 dio. kai. o` qeo.j auvto.n u`peru,ywsen kai. evcari,sato auvtw/| to. o;noma to. u`pe.r pa/n o;noma( 42

WEGNER, Uwe. Op. Citatum. p. 123.

22 10 i[na evn tw/| ovno,mati VIhsou/ pa/n go,nu ka,myh| evpourani,wn kai. evpigei,wn kai. katacqoni,wn 11 kai. pa/sa glw/ssa evxomologh,shtai o[ti ku,rioj VIhsou/j Cristo.j eivj do,xan qeou/ patro,jÅ As marcações acima trazem as seguintes informações: a) Cristw/| Vihsou; morfh/| qeou; i;sa qew ↔ do,xan qeou/ patro,j: Não resta dúvidas na leitura deste texto que Jesus Cristo é Deus, bem como Filho de Deus. Tem a forma de Deus, é igual a Deus e é exaltado novamente ao seu “cargo” original para a glória de Deus Pai. b) a`rpagmo.n ↔ pa/sa glw/ssa evxomologh,shtai: Aquele Deus humilde que não usa mal de seus direitos é confessado universalmente. O Senhor que não se aproveita de seu poder, este é o Deus confessado, e todas as línguas o confessarão. c) morfh.n dou,lou ↔ pa/n go,nu ka,myh: Este Deus Jesus Cristo assume sobre si a forma de servo, de escravo, como homem. Este servo é feito Senhor, este servo é exaltado, perante ele todos os joelhos irão se dobrar. A loucura da lógica cristã é o prostrar-se perante um servo. d) qana,tou( qana,tou de. staurou/: O Deus homem que serve tem como ápice sua morte, morte de cruz. O ponto máximo de sua servidão e de seu esvaziamento é a cruz. e) eu`reqei.j w`j a;nqrwpoj ↔ qeo.j u`peru,ywsen: O Jesus Cristo como Deus que se faz homem é exaltado pelo Pai. É por causa da sua descida, de seu rebaixamento a ser humano que é exaltado em sua obra e pessoa. Ganha de presente do Pai o nome sobre todo nome. Por ser um hino, perceberam-se certas “rimas” no texto. Embora não se encontre nenhum autor que cite esta ideia e/ou que comunique como era a funcionalidade das rimas e da métrica no período neotestamentário, sugere-se ainda assim, porém de forma cautelosa, uma análise das mesmas. Para isto, se colocará o texto alinhado à esquerda da mesma maneira como aparece no NTG. 5 Tou/to fronei/te evn u`mi/n o] kai. evn Cristw/| VIhsou/( 6 o]j evn morfh/| qeou/ u`pa,rcwn ouvc a`rpagmo.n h`gh,sato

23 to. ei=nai i;sa qew/(| 7 avlla. e`auto.n evke,nwsen morfh.n dou,lou labw,n( evn o`moiw,mati avnqrw,pwn geno,menoj kai. sch,mati eu`reqei.j w`j a;nqrwpoj 8 evtapei,nwsen e`auto.n geno,menoj u`ph,kooj me,cri qana,tou( qana,tou de. staurou/Å 9 dio. kai. o` qeo.j auvto.n u`peru,ywsen kai. evcari,sato auvtw/| to. o;noma to. u`pe.r pa/n o;noma( 10 i[na evn tw/| ovno,mati VIhsou/ pa/n go,nu ka,myh| evpourani,wn kai. evpigei,wn kai. katacqoni,wn 11 kai. pa/sa glw/ssa evxomologh,shtai o[ti ku,rioj VIhsou/j Cristo.j eivj do,xan qeou/ patro,jÅ 1.4.3 CITAÇÕES

O texto em si é uma citação. Por isso é confusa também a questão da autoria do hino, porém, não é isto que se deseja verificar neste ponto. Fato é que o autor da epístola aos Filipenses, Paulo, usa de tal citação para dar peso à sua argumentação. A tradição tem transmitido que à epístola foi incorporado um hino pré-paulino.43 Há também tanto evidências simétricas de hino no texto quanto possíveis alterações que o próprio Paulo fez nele.44 Paulo encaixou esse hino em sua argumentação, instando os filipenses a serem semelhantes a Cristo e especificamente a viverem com humildade. Assinala-se que o hino, como geralmente é entendido, é o exemplo mais antigo que conhecemos de uma divisão da vida de Cristo em preexistência, vida na terra e exaltação nos céus.45

Entretanto, se o texto for realmente uma citação, deve-se perguntar pela sua autoria, mas isto se fará adiante. Embora o próprio hino não possua citações literais em

43

Cf. KÜMMEL, Werner. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 1982. p. 437. Cf. KÜMMEL, Werner. Op. Citatum. p. 437. 45 CARSON, D. A. Op. Citatum. p. 357. 44

24 sua estrutura, fato é que, conforme a NTG, há alusões no conteúdo a outros textos. Farse-á uma breve análise dos mesmos. a) Fp 2.5  Rm 15.5: Paulo fala da imitação de Cristo, que Deus conceda aos Romanos o mesmo modo de agir como Cristo Jesus. Os Romanos devem agir uns com os outros seguindo o exemplo de Jesus. b) Fp 2.6a  Jo 1.1s; 3.13; 17.15: Esta forma de Deus que aparece em Fp 2.6, Nestle-Aland vê como paralelo Jo 1.1 onde Jesus é tido como o verbo de Deus. Antes da encarnação, Jesus Cristo já era existente e possuía a forma de Deus, como verbo de Deus. Em 3.13 João fala que Jesus Cristo é aquele que desceu do céu porque lá estava, já era ser existente no céu. No 17.15, a relação se estabelece no fato de Cristo Jesus ter descido a este mundo terreno, este mundo com seus males. c) Fp 2.6b  Jo 5.18: Na ocasião em que os judeus procuravam matar a Jesus, estes afirmam que Jesus deveria ser morto em função de dizer que Deus é seu Pai a se fazer igual a Deus. d) Fp 2.7a  2 Co 8.9: Paulo afirma que Jesus, na sua graça, sendo rico, fez-se a si mesmo pobre em amor a fim de tornar os homens ricos. Este é o esvaziar de Cristo Jesus, o não usar seu direito como Deus. e) Fp 2.7b  Is 53.3 e 11: Este texto é o famoso relato do Servo Sofredor. Este servo, em paralelo com Fp 2.7, é desprezado, rejeitado, homem que sofre, mas que este, com seu conhecimento, justificará a muitos. Embora não seja diretamente, é notável o paralelo existente entre os dois textos. f) Fp 2.7c  Rm 8.3: Em Romanos, Paulo firma que Deus enviou seu Filho em semelhança de carne pecaminosa. Este paralelo se faz com o termo semelhante aos homens. g) Fp 2.7d  Rm 12.2: Trata-se apenas de uma relação de termos, pois em ambos os textos surge a palavra sch,mati. h) Fp 2.8a  Lc 14.11; Hb 2.9: Ambos os textos tratam da exaltação como consequência de uma humilhação anterior. Não se trata de uma “receita à exaltação”, mas de um critério para agir e pensar. Jesus Cristo dá este exemplo por excelência. i) Fp 2.8b  Hb 5.8: O tema destes dois versículos é comum: A obediência do Filho de Deus. O autor de Hebreus traz a obediência de Cristo na tônica de ser ele o Auto da Salvação que deve ser obedecido como Sumo Sacerdote.

25 j) Fp 2.8c  Hb 12.2: Este texto de Hebreus é um pequeno resumo da perícope de Fp 2.5-11.46 k) Fp 2.9a  At 2.33 e 5.31: Ambos textos tratam da exaltação de Cristo à destra do Pai. Ambos são relatos de Pedro. O primeiro em um discurso e o segundo em um Sinédrio. l) Fp 2.9b  Ef 1.21; Hb 1.4: Ambos os textos falam de Cristo Jesus como aquele que está acima de todas as realidades existentes: potestades, anjos, tendo maior nome do que estas coisas. m) Fp 2.10a  Is 45.23; Rm 14.11: No primeiro, Deus se afirma com o único Senhor, pois os ídolos nada são. Perante este Deus verdadeiro todo joelho irá se dobrar e toda língua o confessará. Em Romanos, Paulo cita o mesmo texto já citado no contexto da tolerância para com aqueles que são fracos na fé. É a mesma ênfase dada na carta aos Filipenses. n) Fp 2.10b  Ap 5.13: A correlação se faz nos termos céu, terra e debaixo da terra. Ap 5 é uma doxologia que exalta ao cordeiro, exalta o cordeiro que foi morto. o) Fp 2.11a  Is 45.23: Como já afirmado no ponto m, a relação aqui com o versículo 11 se dá no confessar com a língua. p) Fp 2.11b  Rm 10.9: No contexto que segue do capítulo 9 ao 11 sobre a salvação de Israel, Paulo afirma que o que confessar em seu coração, declarar abertamente Jesus como o Senhor, este será salvo, não por sua própria declaração, mas pelo agir de Deus no conceder o dom da fé.

1.5

CONCLUSÃO

A partir da pintura do rosto do texto, percebem-se claramente muitos detalhes antes obscurecidos. A tradução do texto não apresenta muitas dificuldades, pois ao mesmo tempo em que há termos de simples tradução, existem também os mais complexos que resultam em variações consideráveis de tradução em outras versões de língua portuguesa e na LUTERO alemã. Quanto a sua originalidade, há indícios de manuscritos antigos dando confiabilidade ao texto, entretanto, o mesmo sofreu algumas modificações que normalmente são efetuadas por erros de copistas. Com a análise

46

Cf. WIESE, Werner. Ética Fundamental. São Bento do Sul: União Cristã, 2008. p. 204 e 206.

26 gramatical é perceptível o que realmente Paulo sugere com tal texto. Com linguagem ativa, afirma categoricamente o que Cristo Jesus fez, o que Deus Pai fez e o que os homens farão. Quanto à delimitação do texto, este se faz pela mudança de gênero literário tanto pelo texto anterior quanto pelo posterior. Na estrutura, percebem-se claras linhas quanto à pessoa de Cristo Jesus. Ele é apresentado como Deus (v. 6.a), decrescendo para ser humano sem deixar de ser Deus, morre a morte de cruz (v. 8) e crescendo para a exaltação por Deus Pai (v. 9). Nas amarras do texto, verificou-se os paradoxos que a perícope possui. Nisto, também há paralelos entre forma de Deus e forma de servo. Verificou-se ainda que o texto aparenta conter certas rimas que também auxiliam nas suas amarras. Em termo de citações, o texto em si é uma citação, um hino que Paulo aloca em sua argumentação. Nele há alusões no conteúdo a outros textos bíblicos tanto do Antigo quanto do Novo Testamento.

27 2 OS PÉS DO TEXTO

Neste passo, procura-se saber onde o texto está firmado, por onde ele andou. Enfim, a situação histórica que levou o texto a ser escrito. Nisto se descobre em qual contexto literário e histórico ele foi escrito, seu gênero literário, sua forma literária, o seu Sitz im Leben47, intenção, destinatário, autor, data e tradições.

2.1

CONTEXTO LITERÁRIO

Neste ponto se voltará os olhos para a forma e para o conteúdo do texto em sua totalidade. Para isso, será necessário saber qual o gênero do texto, a sua forma, a vivência e sua intencionalidade.

2.1.1 GÊNERO LITERÁRIO

A análise de gênero literário delimitar o estilo de escrita do livro onde a perícope está localizada, bem como o gênero da própria perícope. Sobre esse assunto quanto ao livro de filipenses, Gerhard Hörster afirma: A carta tem caráter mais pessoal do que oficial. Nesse sentido, é de se perguntar se deveríamos chamá-la de carta apostolar aberta. É, na verdade, uma carta pessoal a uma igreja intimamente relacionada com o apóstolo. Que nessa carta há também assuntos eclesiásticos se deve às características do apóstolo.48

Nisto, é perceptível que Hörster trabalha filipenses como carta e não como epístola. Quanto a isso, há tanto autores que fazem diferenciação entre carta e epístola quanto outros que consideram sendo o mesmo. Dos escritos do NT, vinte e um têm a forma de epístola. Mas nem todos são realmente cartas, ou seja, escritos endereçados em ocasiões específicas a pessoas determinadas ou a círculo de pessoa, escritas com a finalidade de comunicação íntima, sem intenção de maior divulgação (...). O esquema o qual são redigidas as epístolas é o seguinte: logo no começo uma fórmula de saudação, com o nome do remetente e do destinatário; segue-se uma oração de ação de graças a Deus; seguida de fórmula introdutória; na conclusão, mensagens de saudações e votos de felicidade em nome de alguém, em substituição da nossa assinatura atual (...). Mas as epístolas assumem certa superioridade sobre este tipo de epístola, desprovida de artifícios literários de caráter popular.49

47

Lugar vivencial. HÖRSTER, Gerhard. Introdução e Síntese do Novo Testamento. Curitiba: Esperança, 2008. p. 122. 49 KÜMMEL, Werner. Op. Citatum. p. 316-317. 48

28 Neste sentido, também a epístola aos filipenses possui uma estrutura delimitada pelo seu gênero literário. Neste caso, Berger afirma que se trata de uma epistolaria onde o autor de uma carta fomenta elementos pessoal-pragmáticos.50 Para ele, uma epistolaria possui os seguintes elementos: parusia; notícias sobre as pessoas que estão com ele; os relatos sobre viagens anteriores e futuras, bem como projetos de outros autores; recomendação de outras pessoas; pedidos do autor; a atuação do apóstolo antes de escrever a carta; pedidos a pessoas específicas; e comunicações sobre ações práticas.51 Destaca-se assim a seguinte estrutura de gênero literário na carta de Paulo aos filipenses a partir daquela já proposta por Merril Tenney52:

I. Saudações II. Ação de Graças pela comunhão pessoal Gratidão Confiança Oração III. Encorajamento nas circunstâncias pessoais A coragem pessoal de Paulo O encorajamento de Paulo aos filipenses Cristo, o modelo do serviço O objeto do serviço IV. Relações pessoais com mensageiros V. Aviso pessoal contra o legalismo Exemplo pessoal Exortação aos filipenses VI. Conselhos e saudações finais Unidade Alegria Pensamento Ação de graças Saudações

1.1-2 1.3-11

1.12 – 2.18 1.12 – 26 1.27 – 30 2.1 – 11 2.12 – 18 2.19 – 30 3.1 – 4.1 3.1 – 16 3.17 – 4.1 4.2 – 23 4.2 – 3 4.4 – 7 4.8 – 9 4.10 – 20 4.21 – 23

O texto analisado de Fp 2.5-11, porém, quebra o gênero literário da carta. O mesmo se constitui de um hino cristológico alocado por Paulo em sua carta a fim de complementar e dar apoio a sua argumentação (Fp 2.1-4). Um hino geralmente é caracterizado por estrofes, ritmo, métrica e poema.53

50

Cf. BERGER, Klaus. Op. Citatum. p. 252. Cf. BERGER, Klaus. Op. Citatum. p. 253. 52 TENNEY, Merril. O Novo Testamento. Sua Origem e Análise. São Paulo: Shedd Publicações, 2008. p. 333. 53 Cf. WEGNER, Uwe. Op. Citatum. p. 261-262. 51

29 2.1.2 FORMA LITERÁRIA

A perícope, como citada anteriormente, possui em seu interior um hino que trata da humildade de Cristo Jesus e de sua exaltação. Conforme Berger, o hino cristológico se caracteriza como encômio do Cristo. O mesmo apresenta alguns elementos da seguinte estrutura:54 a)

Uma série de atributos de Deus.

b)

A descrição de origem divina de quem é louvado.

c)

Enumeração das obras.

d)

Formulações como “(pois) de ti procede” e (pois) sem ti...”.

e)

Predições como “só tu...” ou “só ele...”, em doxologias.

f)

Predições com “tudo...”.

g)

O louvado é Início, Guia, Primeiro.

h)

Poder de Criador e domínio universal.

i)

Semântica: salvar e salvador, luz, dar, redimir e libertar.

j)

Aretologia na primeira pessoa gramatical.

Fato é que os hinos neotestamentários geralmente podem ser identificados pela sua estrutura de estrofes e pela métrica.55 O texto de Fp 2.6-11 apresenta, conforme Berger, uma “estrutura de estrofes”.56 Nisto os autores diferem consideravelmente, pois “há ampla discordância sobre se o número de estrofes é três, quatro, cinco ou seis ou se devemos pensar em seis dísticos”.57 Wegner, porém, aponta para a construção em duas estrofes: 6-8 e 9-11.58 Nisto, Carson iria afirmar a Wegner que “é difícil resistir à conclusão de que muitos estudiosos contemporâneos têm insistido exageradamente que um hino cristão do século I tem de se conformar a regras modernas de versificação”.59 Em síntese, o texto possui sim a clara estrutura de hino tanto pelo seu conteúdo quanto pela forma como aparece citado (alinhado a esquerda). Se o mesmo possui uma, duas ou mais estrofes é difícil dizer. Entretanto, vale dizer que praticamente todos os autores assinalam concórdia ao afirmar Fp 2.6-11 como hino. A partir da diagramação do texto,

54

Cf. BERGER, Klaus. Op. Citatum. p. 220. Cf. SCHNELLE, Udo. Op. Citatum. p. 107. 56 Cf. SCHNELLE, Udo. Op. Citatum. p. 107. 57 CARSON, D. A. Op. Citatum. p. 357. 58 WEGNER, Uwe. Op. Citatum. p. 261. 59 CARSON, D. A. Op. Citatum. p. 357. 55

30 o presente autor da exegese supõe a existência de três estrofes: Humilhação  cruz  exaltação. Fp 2.5-11 segue, em partes, a estrutura citada por Berger. Fala-se dos atributos de Cristo, como existente em forma de Deus que não se vangloria e não usa mal isso. Fala-se da sua origem na eternidade como Deus. Suas obras porém, acontecem ao contrário do costumeiro: sua obra é a obediência até a morte humilhante da cruz. As formulações “pois de ti procede” e “pois sem ti” não são encontradas, nem a doxologia com “só tu”. Nesta estrutura, destaca-se no hino cristológico apenas seu poder criador e seu domínio universal, pois o Pai o exaltou e lhe deu um nome sobre qualquer nome para que todas as realidades existentes confessem seu nome e se dobrem perante seu senhorio.

2.1.3 SITZ IM LEBEN

O estudo do lugar vivencial visa determinar em que situação e com que finalidade foram repetidos e transmitidos os ditos e as histórias sobre Jesus, de modo que acabaram adquirindo as formas características dos diversos gêneros aos quais pertencem. 60

É difícil encontrar a situação em que o hino de Fp 2.5-11 surgiu, pois o mesmo é uma citação que o apóstolo Paulo faz em sua carta. O que se pode dizer é que na carta quem está falando o hino é o próprio apóstolo Paulo. Os ouvintes são a comunidade de Filipos. O clima situacional é a argumentação de que os filipenses devem ainda mais aumentar a alegria de Paulo de modo a serem submissos e humildes da mesma forma como Cristo Jesus foi. Paulo deseja com isso alcançar os corações dos cristãos filipenses à humildade de forma a completarem a sua alegria. O hino muito provavelmente era cantado nas liturgias dos cultos na Igreja Primitiva e, possivelmente, tem muito da estrutura dos hinos do Antigo Testamento. Em todo o Novo Testamento a música recebe seu significado específico: Jesus Cristo. Todo louvor é centrado em Cristo, na adoração e na doutrina sobre a sua pessoa e obra. O Novo Testamento exibe pelo menos três formas de louvor: a doxologia, a eulogia e as ações de graças. A doxologia caracteriza-se em dar glória ao nome e à pessoa de Jesus. A eulogia quer tratar das bênçãos recebidas e as ações de graças, como

60

WEGNER, Uwe. Op. Citatum. p. 210.

31 já expressada pelo nome, significa gratidão por aquilo que foi feito/recebido. 61 A própria hinologia neotestamentária usa, a exemplo de Fp 2.5-11, a música como forma de expressar e proclamar a confissão de fé sobre a pessoa e obra de Jesus Cristo. Hustad afirma que “O Novo Testamento enfatiza tanto a fonte humana de som como a divina. A música flui da experiência humana e sem dúvida também afeta esta experiência”. 62 Em resumo, os hinos da Igreja do Novo Testamento são basicamente expressão da fé cristã,63 ou seja, nas três formas já citadas anteriormente, é a vivência e a proclamação de Cristo.

2.1.4 INTENCIONALIDADE DO TEXTO

Paulo possui uma clara intenção ao fazer a citação de um hino da comunidade em seu escrito: ressaltar a importância da humildade. Porém, a sua intencionalidade se encontra no texto anterior, especificamente em 2.1-2 onde Paulo afirma que se há algo em que deve exortar e/ou consolar os filipenses é que completem a sua alegria não se tornando orgulhosos pelos elogios recebidos. Tem-se, portanto, uma função diretiva64, pois Paulo está pedindo algo à comunidade cristã de Filipos. Em síntese, sua clara intenção é o crescimento dos filipenses na vida cristã a partir da humildade de Cristo Jesus. Paulo quer que os filipenses vivam aquilo que cantam na sua comunidade: a humildade de Cristo deve ser refletida para que sejam humildes como e com Cristo. O exemplo de Cristo é um critério ético tanto para crer como para agir. Viver em Cristo é participar da sua humildade, esvaziar-se dos bens e poderes como ele fez, não se aproveitar do status social, viver a humanidade assim como ela mesma é em sua totalidade não deificando tal humanidade.

2.2

CONTEXTO HISTÓRICO

Filipos não era uma cidadezinha qualquer, mas uma importante cidade da macedônia de extrema significância por causa de seus portos. A mesma era também uma colônia pertencente a Roma.65 Acredita-se que a cidade foi fundada por Filipe II, o

61

Cf, FREDERICO, Denise C. S. Cantos para o culto cristão. São Leopoldo: Sinodal, 2001. p. 86. HUSTAD, Donald P. A Música na Igreja. São Paulo: Vida Nova, 1991. p. 96. 63 Cf. HUSTAD, Donald P. Op. Citatum. p. 96. 64 WEGNER, Uwe. Op. Citatum. p. 214. 65 Cf. COMBLIN, José. Epístola aos Filipenses. Petrópolis: Vozes, 1985. p. 7. 62

32 pai de Alexandre o Grande. Diz-se que ele mesmo deu seu próprio nome à cidade para a exaltação de seu nome.66

2.2.1 DESTINATÁRIOS No início da carta, torna-se evidente quem são os destinatários do escrito: pa/sin toi/j a`gi,oij evn Cristw/| VIhsou/ toi/j ou=sin evn Fili,ppoij su.n evpisko,poij kai. diako,noij. Portanto, “a carta é dirigida à Igreja em Filipos e aos seus presbíteros (bispos) e diáconos”.67 Através de buscas arqueológicas que a comunidade foi fundada por volta de 49 ou 50 d. C.68 Paulo chegou a esta comunidade na sua segunda viagem missionária encontrando lá mulheres que participavam da reunião judaica. Uma destas se chamava Lídia. Provavelmente uma mulher de negócios. Filipos era uma colônia Romana e por isso seus habitantes deveriam adorar as cores. Esta mulher, Lídia, converteu-se a Cristo e não foi ela apenas, mas tanto homens quanto mulheres chegaram a fé em Cristo.69 Biblicamente falando, a comunidade dos Filipenses foi a primeira comunidade cristã que Paulo fundou em terras europeias (At 16.11-40), havendo, inclusive, sinais de que Paulo estava preso quando escreveu a carta (Fp 1.7, 13, 14).70

2.2.2 AUTORIA

Não existem dúvidas quanto à autoria de Paulo. Ele mesmo foi o fundador da comunidade em Filipos e inclusive pode ter sido a primeira ação de Paulo no solo europeu.71 De fato, Paulo conhecia muito bem esta comunidade e está intrinsecamente ligado a ela. Consta-se que Paulo redigiu a carta quando estava preso72, muito provavelmente em Roma, contudo, sem haver consenso claro quanto a isso.73 Em síntese, Paulo não é intimidado pela prisão onde está, pois tem esperança de ainda uma vez ver os filipenses como livre da prisão. Quanto ao lugar de sua prisão, são 66

Cf. HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Filipenses. Cambuci: Casa Editora Presbiteriana, 1992. p. 15. 67 HÖRSTER, Gerhard. Op. Citatum. p. 123. 68 Cf. WEINGÄRTNER, Lindolfo. Filipenses. Curitiba: Encontrão+, 1992. p. 10. 69 Cf. HENDRIKSEN, William. Op. Citatum. p. 21-22. 70 Cf. WIESE, Werner. Conhecimentos Bíblicos do Novo Testamento. “Apostila”. Curso Bíblico Básico. São Bento do Sul: Faculdade Luterana de Teologia, 2011. p. 57. 71 Cf. KÜMMEL, Werner. Op. Citatum. p. 418. 72 Cf. HÖRSTER, Gerhard. Op. Citatum. p. 123. 73 Cf. CULLMANN, Oscar. A formação do Novo Testamento. 12. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2012. p. 53.

33 mencionadas as cidades de Cesaréia, Éfeso e Roma, pois são os relatos de prisão encontradas no livro de Atos, porém, não há como afirmar acertadamente nenhuma delas,74 embora se possa ter uma como favorita. Hendriksen, porém, acrescenta ainda a cidade de Jerusalém como outra possibilidade de prisão75, contudo, afirma que Paulo estaria em Roma por que somente ali poderia ter a possibilidade de apelar para César.76

2.2.3 DATAÇÃO

Quanto à visita de Paulo a esta cidade, tanto Comblin quanto Kümmel concordam com as datas entre 48 e 52 d. C. O relato da visita de Paulo a esta comunidade pode ser encontrado em Atos 16.11-40.77 Já quanto a escrita, esta descrição depende em qual cidade Paulo estava preso ao escrever a carta. Se fosse Roma, então seria entre 58 e 60 d. C. Caso fosse Cesaréia, embora seja rejeitada por grande parte dos exegetas, seria entre 55 e 57 d. C. Já se fosse Éfeso, a redação teria sido redigida entre 52 e 54 d. C.78 Na pesquisa de filipenses há, portanto, um problema tanto na data quanto ao local onde foi escrita. Os exegetas se dividem em três hipóteses: a)

Roma: Hörster afirma que em Fp 4.22 Paulo saúda aqueles que são da

casa de César. Isto poderia estar relacionado aos empregados do imperador, porém, tal conceito não é absoluto por não haver empregados em todos os palácios do império. Ele fala também que houveram alguns contados entre o local onde a carta foi escrita e Filipos. Os cristãos de Filipos ajudaram Paulo na prisão através de Epafrodito. Fala-se também do pretório, pois a guarda pretoriana ficava em Roma79. Kümmel discorda de Hörster em alguns aspectos. Afirma ele que a distância entre Filipos e Roma era muito grande para que pudesse haver comunicação entre ambas, inclusive no sentido do envio de cartas. Porém, o próprio Kümmel admite que tais argumentos não possuem peso real, embora também fale do pretório como lugar na guarda romana.80 Hendriksen afirma que guarda pretoriana não significa nada a respeito de 74

Cf. KÜMMEL, Werner. Op. Citatum. p. 423. Cf. HENDRIKSEN, William. Op. Citatum. p. 37. 76 Cf. HENDRIKSEN, William. Op. Citatum. p. 43. 77 Cf. COMBLIN, José. Op. Citatum. p. 7 e KÜMMEL, Werner. Op. Citatum. p. 316-317. 78 Cf. HÖRSTER, Gerhard. Op. Citatum. p. 125. 79 Cf. HÖRSTER, Gerhard. Op. Citatum. p. 124. 80 Cf. KÜMMEL, Werner. Op. Citatum. p. 423. 75

34 Roma, pois após estas palavras, Paulo escreve e a todos os demais.81 Roma poderia ser uma boa possibilidade embora os argumentos contrários, pois parece haver mais pontos a favor do que contra esta tese. Vê-se que a antítese não é suficientemente plausível para negar totalmente a tese, embora que a tese não possui toda a fundamentação necessária. Contudo, ainda assim seria plausível. b) Cesaréia: Hörster afirma que para esta cidade as viagens marítimas não eram longas, porém, visto os modelos de locomoção do império romano, o argumento parece ser sem fundamento. Outra constatação de Hörster é que provavelmente em Cesaréia Paulo não seria tão livre para pedir que o imperador romano o julgasse.82 Quanto à Cesaréia, Kümmel afirma que se há uma Igreja no local, Paulo não é o fundador da mesma. Ele fala ainda que atualmente esta localização está praticamente abolida.83 Nesta, Hendriksen afirma também que Paulo seria limitado em levar o evangelho a outras pessoas.84 Logo, quanto à tese de que seja Cesaréia, a mesma é praticamente abolida por todos os autores. c)

Éfeso: Hörster é defensor de que a carta aos filipenses foi escrita em

Éfeso. Ele afirma: “optar com segurança entre Roma e Éfeso me parece difícil; mesmo assim há bons argumentos a favor de Éfeso”.85 Para ele, a linguagem é muito mais parecida com as cartas de Romanos e aos Coríntios do que com as cartas na prisão. Ele fala também que o tempo de viagem entre Éfeso e Filipos poderia ser menor em vista aos outros locais.86 Kümmel também argumenta a partir da linguagem no mesmo sentido que Hörster. O julgamento conforme afirmado em Fp 1.2 não possui ligação nenhuma com o de At 23ss. Tanto a guarda pretoriana como os empregados Éfeso também poderia possuir87 Quanto a isso, entende-se a linha do meio entre Roma e Éfeso, pois ambas possuem teses boas à argumentação e poucas antíteses, porém, defende-se aqui como favorita a hipótese de Roma pelos argumentos já apresentados.

81

Cf. HENDRIKSEN, William. Op. Citatum. p. 39. Cf. HÖRSTER, Gerhard. Op. Citatum. p. 125. 83 Cf. KÜMMEL, Werner. Op. Citatum. p. 429. 84 Cf. HENDRIKSEN, William. Op. Citatum. p. 40-41. 85 Cf. HÖRSTER, Gerhard. Op. Citatum. p. 125. 86 Cf. HÖRSTER, Gerhard. Op. Citatum. p. 125. 87 Cf. KÜMMEL, Werner. Op. Citatum. p. 429-431. 82

35 2.2.4 CONCLUSÃO

Entrementes, os destinatários e o autor são de fácil descoberta visto que o próprio texto bíblico traz evidências concretas quanto aos mesmos. Os destinatários já são citados no próprio texto e o contexto em que Paulo escreve a carta remonta e aponta para a sua própria autoria. Entretanto, o lugar e a data em que ela foi redigida são análises complexas visto que a data depende do local onde Paulo estava preso, sendo assim, uma data relativa ao local. Porém, acredita-se ser Roma o local tanto pelo fato do apelo de Paulo a César quanto pelas questões acerca da guarda pretoriana, pois a mesma poderia existir em outros locais, contudo, isso não anula que esta poderia estar em Roma. Neste caso, apoia-se a data de 58 e 60 d. C. conforme afirmada por Hörster.88

2.3

ANÁLISE DAS TRADIÇÕES

A história da tradição pergunta pela evolução e pelo aspecto de um texto, tanto em sua fase oral como nas formas escritas prévias em nível préredacional. Ela tem a incumbência de elucidar a história prévia do texto, reconstruindo a história de seu surgimento. O objetivo da história da tradição é elaborar um modelo da gênese do texto sob análise. 89

Em síntese, o texto está fortemente baseado na tradição cristológico-doutrinária. A tradição cristológica é perceptível no uso de termos chaves para a crença na pessoa e obra de Jesus Cristo. Segue-se a linha da encarnação, humilhação, morte e exaltação. Tudo isso tem a ver com o Cristo, por isso cristologia, uma pequena e resumida confissão de fé sobre Cristo Jesus.

2.4

CONCLUSÃO

Na análise dos pés do texto, verificou-se que a carta de Filipenses é um escrito pessoal de Paulo que tem um carinho enorme pelos cristãos de Filipos que muito lhe ajudaram enquanto estava na prisão. Paulo tem um profundo afeto pelos filipenses. A carta possui uma estrutura no que Berger chamou de epistolaria. Já a forma literária de Fp 2.6-11 afirma que o mesmo é um encômio de Cristo, ou seja, um louvor a Cristo Jesus. Isto é fortemente perceptível na estrutura do texto. Deve-se afirmar que é confusa 88 89

Cf. HÖRSTER, Gerhard. Op. Citatum. p. 124. SCHNELLE, Udo. Op. Citatum. p. 11.

36 a questão das estrofes do hino e que, como afirmou Carson, seria totalmente errôneo tentar identificar elementos de um hino do primeiro século a partir do modelo hinológico atual. Quanto ao Sitz im Leben, notou-se certa dificuldade em o delimitar pelo fato de ser uma citação que Paulo utiliza em sua argumentação. Porém, alguns fatores puderam ser, ainda assim, analisados, como, por exemplo, a alegria de Paulo quanto aos filipenses e seu desejo de que não se tornem orgulhosos, mas sigam o exemplo da humilhação de Cristo Jesus. Sobre a intencionalidade, a mesma é claríssima: exortar em amor aos filipenses que completem a alegria de Paulo sendo pessoas humildes de forma a crescerem na vida cristã. No contexto histórico, verificouse a importância política de Filipos para a época, a clareza dos destinatários e da autoria de forma a não deixar nenhuma dúvida e a data relativa ao local onde Paulo estava preso. Em síntese, o texto é riquíssimo quanto ao sua forma como ao seu conteúdo que está em sólido chão.

37 3

O CORAÇÃO DO TEXTO O que diferencia a análise de conteúdo dos passos anteriores é, uma vez, o se caráter sintético e integrativo das partes do texto e, por outro lado, seu interesse no conteúdo literal dos versículo que reproduzem a tradição a ser estudada. (...) A estrutura mostra a quantidade das partes, o conteúdo na substância que as compõe.90

Na delimitação da perícope, verificou-se que a mesma é principiada pelo pronome demonstrativo Tou/to. Vê-se então que Paulo conduz á uma citação a partir daquilo que já havia sido pronunciado anteriormente (Fp 2.1-4). Da mesma forma, como foi verificado na análise das tradições, percebeu-se tanto a tradição hinológica quanto a cristológica. A partir disso, pergunta-se o que levou Paulo a colocar um hino dentro de uma carta. Fato é que não está ali para ser cantado no culto, mas como parte da argumentação. Sua intenção, em sua exortação à humildade, era pedir aos filipenses que fossem humildes como Cristo Jesus, pois nisto completariam a sua alegria. Neste acréscimo de um hino a uma carta, far-se-á especialmente a análise dos termos que competem à tradição cristológica com seus entornos, bem como, compará-los com os credos da Igreja Antiga a fim de notar as relações que possuem em diálogo com as Dogmáticas existentes.

3.1

A HUMILHAÇÃO DE CRISTO JESUS Após o pronome demonstrativo, encontra-se no versículo 5 a palavra fronei/te.

Ela tem sua origem no termo grego fro,nhsij: pensar. O termo ocorre frequentemente na literatura secular grega, desde os filósofos Homero e Esquilo até Sófocles. Para os mesmos, o termo significa supra no sentido de inteligência, discernimento e entendimento. No Antigo Testamento o termo possui íntima relação com astúcia (Jó 5.13). Pode ser considerado também um cognato de sabedoria, porém, difere em alguns aspectos. No Novo Testamento o termo é empregado de modo diferente do conhecido na LXX, pois constitui pensar, pensar a mesma coisa, ter união em uma atitude. Paulo deseja que os filipenses pensem a mesma coisa que Jesus Cristo pensou, pois embora fosse Deus, se tornou servo.91 Que eles pensem no exemplo de humilhação de Cristo

90

WEGNER, Uwe. Op. Citatum. p. 308. Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000. p. 1270-1272. 91

38 Jesus como exemplo a ser seguido no lugar do orgulho humano que se vangloria das próprias obras. Paulo pede que eles completem a sua alegria não se vangloriando com os elogios recebidos na carta, mas que os recebam em humildade para a edificação da comunidade. Surgem, posteriormente, no mesmo versículo, os termos Cristw/| VIhsou. Analisar-se-á lós primeiramente de forma restrita e posteriormente em conjunto. Cristw provém do verbo Cri,w que significa ungir. Na tradição secular grega, o termo simplesmente tem a ver com pintar com tinta, óleo, cal, etc., portanto, não muito a ver com o texto. No Antigo Testamento o termo aparece cerca de sessenta vezes. Tem o sentido de ungir com azeite. Com isso se poderia aprovar muitas coisas, como, por exemplo, o direito à um novo rei, a unção para ser sumo-sacerdote, etc. Em resumo, o termo se refere no AT ao abençoar de Deus a uma pessoa. Agora no Novo Testamento há o emprego distinto do termo presente na LXX. Fala-se da unção de Jesus onde o Espírito Santo é quem o faz, bem como também aos cristãos. Fato é que o termo Cristw como aparece na perícope tem muito mais a ver com a tradição veterotestamentária do que com a literatura grega secular.92 VIhsou é um nome próprio. Não há menção do termo na literatura grega, porém, é muito presente no Antigo Testamento. Consta-se que este é o nome mais antigo que se forma a partir do tetragrama

hw"ïhy>, por isso, o nome significa em hebraico o Senhor é socorro. No NT,

apenas se fala que o nome dado a Jesus o é feito por determinações celestiais.93 Percebese, portanto, que Jesus Cristo é o Ungido Salvador. Em termos, acentua-se que no Novo Testamento a relação entre Jesus e o Cristo é muito presente. Nisto, por ser o messias prometido, a compreensão de Jesus Cristo como messias foi de suma importância para compreender sua pessoa e obra.94 Paulo usa os mesmos termos em Rm 15.5 onde afirma que Deus é quem concede o mesmo fronei/n (pensar, sentir) de uns para com os outros, segundo Cristw/| VIhsou.95 O versículo 6 e 7 possuem o termo morfh,. Este é um termo já existente em Homero. No grego secular ele significa a palavra como “aparência externa”. Como há certas influências filosóficas gregas em textos cristológicos do Novo Testamento, cabe uma breve análise do termo também na filosofia grega. Os filósofos gregos muito 92

Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 2569-2571. Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 1075-1076. 94 Cf. BORTOLLETO, (...). Dicionário Brasileiro de Teologia. São Paulo: ASTE, ?. p. 545-546. 95 Cf. Correlação bíblica da NTG. 93

39 discutiram as questões relacionadas à matéria e à forma. Platão afirmou que a aparência externa não pode, de forma alguma, ser separada da essência, pois é a aparência que indica a essência deste algo. Nisto, o que se vê como forma realmente é também na essência. Em outro momento, a palavra também designa o recebimento de uma forma, recebimento de fora. Na LXX é raro se usar o termo, pois o Antigo Testamento afirmara Deus muito mais em termos antropológicos. No Novo Testamento também é raro, aparecendo especialmente nos escritos de Paulo. Quando à perícope analisada, expressase Cristo Jesus como tendo a forma de Deus e a forma de servo, por conseguinte, ambas ocorrem em Cristo e uma não substitui a outra. A sua natureza é tanto divina quanto humana e tanto humana quanto divina. Ele é Deus pré-existente, mas também existente em sua vida terrena na forma de servo.96 Reprova-se, portanto, todo tipo de docetismo que afirma apenas a aparência de algo sem que o algo o seja realmente, mas, afirma-se a simultaneidade das formas na pessoa de Jesus Cristo como verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, ao mesmo tempo, no mesmo ser, em essência, em forma, na sua totalidade. O vocábulo u`pa,rcwn tem, no grego secular, o significado de se bastar, ser suficiente, existir em si mesmo. No Antigo Testamento, seu uso é raso. Já no Novo Testamento, seu significado pode ser muito abrangente, embora continue tendo em vista a existência.97 Fato é: Cristo já é Deus existente antes de sua encarnação. Como Deus, ele se bastava em si, ele é o que é em si, existe em si sem precisar de mais nada. O que o autor do hino muito provavelmente quis dizer é que aquele que se basta em si e não precisa de nada e não se aproveitou desse seu direito de ser assim pré-existente e por isso se tornou servo, visto como ser humano.98 A expressão a`rpagmo.n designa exatamente o que foi afirmado acima. No grego secular possui o simples significado de agarrar, roubar, arrebatar, raptar. Na LXX ele representa principalmente o sentido óbvio de roubar. Apenas em Sab 4.11 o termo possui o significado de “arrebatar”, isto quando Enoque foi levado ao céu. No Novo Testamento possui o significado de levar embora, conduzir a força ou o próprio ato do Espírito Santo em arrebatar alguém. Nisto, no texto analisado Cristo Jesus faz o contrário de roubar: ele não roubou para si, não usou mal seu direito de ser Deus, mas

96

Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 869-871. Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 2338-2339. 98 Cf. também os textos correlacionados de Jo 1.1s; 3.13 e 17.5 97

40 deu tanto ao ponto de ficar vazio.99 Em todo este aparato linguístico, é interessante notar o paradoxo que Cristo Jesus é em si mesmo: na visão grega, Deus não pode ser homem; na visão hebreia, nenhum homem pode ser Deus. Jesus Cristo é o Deus que se humilhou, usou diferente seu poder. Ele surpreende ao ser humano se tornando ser humano ao mesmo tempo em que é Deus, rompendo toda a lógica racional antropológica. Este Jesus Cristo, Deus, gerado na pré-existência não rouba e não segura seu direito de ser Deus, mas faz justamente o contrário: evke,nwsen (v. 7), ou seja, esvaziou-se de si mesmo. No grego secular a palavra simplesmente designa sem conteúdo, vazio. O termo também é geralmente empregado para designar coisas vazias, mas dificilmente pessoas vazias. O hebraico não possui uma palavra que seja exatamente equivalente, porém o termo é aplicado na LXX para traduzir 19 palavras diferentes, normalmente com o sentido de vazio. No hebraico, entretanto, o termo pode se aplicar metaforicamente também para pessoas e isto acontece especialmente no livro de Jó que ouve palavras vãs (27.12) e consolo vazio (21.24) dos seus amigos. No Novo Testamento, o termo ocorre muito exclusivamente em textos paulinos. Quando à Fp 2.7, ele é de suma importância na cristologia. A discussão histórica se baseia em uma pergunta: Jesus Cristo se esvaziou de seus atributos divinos ao assumir a forma de servo? Teve quem dissesse que sim, porém, na verdade, a partir da Fórmula de Concórdia se afirma que ele não deixou sua onipresença, onipotência, onisciência e todos os seus atributos ao se tornar humano, mas, “cada essência retém suas propriedades essenciais e uma natureza nunca toma propriedade da outra natureza”.100 Sobre isso, é interessante a fala do Conde Nicolaus Ludwig von Zinzendorf: “Esvaziouse de tudo, menos do amor, e sangrou em prol da raça indefesa de Adão”.101 A partir disso, esse esvaziar de Cristo não significa outra coisa senão que ele deixou de lado o seu direito de ser somente Deus passando a encarnar e a ser como todos os homens, pois não se apresenta em lugar nenhum nas escrituras que Cristo Jesus teria perdido seus atributos divinos. Portanto, ele não se esvaziou da sua divindade, mas de seu direito de ser igual a Deus metafísico no céu, tornando a forma de servo ao mesmo tempo em que é Deus.102 “Então forma de Deus e forma de servo representariam não dois diferentes períodos, o tempo antes e o tempo depois do nascimento de Jesus, pois 99

Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 159-162. LIVRO DE CONCÓRDIA. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal; Canoas: ULBRA; Porto Alegre: Concórdia, 2006. p. 634-653. 101 Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 2581-2584. 102 Cf. também 2 Co 8.9; 100

41 permaneceu, durante toda a sua vida, em forma de Deus, isto é, na afetiva posse de seu poder e de seus atributos divinos”. 103

dou,lou104 é um termo importante no texto pelo fato de Jesus Cristo ter se tornado em forma de servo. O termo, no grego secular, significa aquilo que é totalmente o antônimo de liberdade e de independência. No Antigo Testamento a palavra aparece especificamente nos contextos do cativeiro no Egito, do relacionamento entre um súdito e seu rei e na tradição dos Essênios no sentido de “servo de Deus”. No Novo Testamento o termo ocorre mais vezes nos escritos paulinos. Nisto, fala-se do escravo na perspectiva sociológica onde o servo recebe seu verdadeiro valor como ser humano embora deva ainda assim ser submisso ao seu senhor. O termo também designa, em Paulo, toda a hamartiologia no quesito “escravos do pecado”. Em Fp 2.7, o termo pode designar o Jesus Cristo servo como também, igual aos outros homens, sujeito à Lei (Gl 4.4). O termo traz ainda a sua servidão no sentido de obediência ao Pai, pois Jesus como servo obedeceu até a morte de cruz.105 Em descrição pormenorizada: Jesus Cristo Deus também é servo, servo dos seres humanos, servo do Pai e servo da lei. Aquele que é totalmente Deus se torna também, ao mesmo tempo, totalmente servo, servo daqueles a quem outrora criou. o`moiw,mati106 é um termo de profunda significância em toda cristologia, pois é o usado nos principais credos da Igreja Antiga. No grego secular, o termo tem a ver com “simultaneidade”, ou seja, “ao mesmo tempo”, bem como, “semelhante” e “do mesmo tipo”. Também na geometria o termo designa o sentido de igual (=). No Antigo Testamento, a LXX apenas usa o termo para descrever espécies criadas por Deus que são semelhantes. No Novo Testamento aparece em grande parte nos escritos de Paulo e em Hebreus. Pode significar muitas coisas, porém, delimitar-se-á aqui em falar daquilo que interessa a perícope estudada. Com o`moiw,mati, quer-se dizer que Jesus Cristo é homem ao mesmo tempo que é Deus e Deus ao mesmo tempo que é homem. Não há temporaneidade de um para outro, mas o Cristo terreno é simultaneamente homem e Deus. Jesus Cristo é aquele que assumiu a forma humana singularmente sendo ele Deus.107 Ele é da mesma substância que Deus, da mesma essência, ao mesmo tempo que tem a mesma substância que nós temos. Este termo é

103

HAARBECK, Theodor. Está Escrito. 13. ed. São Bento do Sul: União Cristã, 1982. p. 82. O termo possui profunda ligação com Is 53.3-11 onde é relatado acerca do servo sofredor. 105 Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 673-678. 106 O termo é encontrado também em Rm 8.3 onde se fala, na ARA, que Jesus Cristo Deus se tornou em semelhança de carne pecaminosa. 107 Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 1365-1367. 104

42 recorrente nos credos da Igreja Antiga. Tanto o Credo Niceno108 (325) quanto os Constantinopolitano109 (381) e Calcedonense110 (451) citam este termo, mas somente o Calcedonense ressalta exatamente o que Fp 2.7 afirma: “kai. o`moou,sion h`mi/n to.n auvto.n kata. th.n avnqrwpo,thta( kata. pa.nta o]moion h`mi/n cwri.j a`marti,aj”.111 Ou seja, ele se torna tão humano ao ponto de ser em tudo igual a nós, apenas no pecado não. Por isso, Calcedônia é importante por considerar ambas as formas: Deus e homem ao mesmo tempo, como relatado em Fp 2.5-11. Em todos eles a palavra possui o mesmo sentido: mesma substância que o Pai. Evidencia-se, portanto, que esta semelhança de Cristo Jesus vai além de aparência exterior, mas os credos reafirmam o que Fp 2.7 já afirma no que diz respeito à relação entre Pai e Filho na trindade. geno,menoj é um termo de difícil explicação, mas isso não significa ser impossível. O termo se traduz como ser gerado, nascer. Com isto, provavelmente o autor quis afirmar que Jesus Cristo é aquele em aparência exterior tendo sido encontrado como homem por que foi assim que nasceu, como homem. Nestas palavras analisadas, percebe-se claramente o tom de decadência de Cristo que culminará em sua morte de Cruz. Aquele supremo Deus se torna servo e ser humano como todos os seres humanos, sem perder nesse caminho sua divindade, mas a tendo em simultaneidade com sua humanidade terrena.

3.2

A MORTE DE CRUZ DE CRISTO JESUS O versículo 8 inicia com o termo evtapei,nwsen112 que, no grego secular,

originalmente era empregado em todo sentido de estar em baixo. Isto se desenvolveu muito no âmbito sociológico nas questões do escravo, etc. Em todo o mundo grego nenhuma modéstia era tolerada, mas era vista como vergonha, pois o ser humano deve se gloriar de sua beleza e de seus valores não sendo, nunca, humilde. No Antigo Testamento, especialmente os profetas usavam o termo cognato em seus julgamentos. Também os rabinos levavam uma vida humilde, pois a humildade é uma das virtudes que o ser humano deve atingir. No Novo Testamento o termo aparece trinta e quatro 108

Cf. DENZINGER, Heinrich. Enchiridion symbolorum definitionum et declarationum de rebus fidei er morum. Kompendium der Glaubensbekenntnisse und kirchlichen Lehrentscheidungen. 37. ed. Freiburg im Breisgau; Basel; Rom; Wien: Herder, 1991. p. 62-64. 109 Cf. DENZINGER, Heinrich. Op. Citatum. p. 83-85. 110 Cf. DENZINGER, Heinrich. Op. Citatum. p. 142-143. 111 DENZINGER, Heinrich. Op. Citatum. p. 142. 112 Cf. Hb 2.9.

43 vezes. Quanto a Fp 2.8, Jesus é visto como aquele que se esvaziou a si mesmo até a sua própria humilhação sendo exaltado por Deus. A sua auto-humilhação significa a sua obediência até a morte na vergonhosa e esdrúxula cruz.113 Ele é o Deus com todo o poder, porém, se torna humilde a si mesmo para ser igual aos seres humanos. u`ph,kooj,114 por sua vez, significa tanto obedecer quanto escutar. Na tradição veterotestamentária, somente recebem obediência os homens, à sabedoria e Deus. No Novo Testamento, nota-se curiosamente o seu significado em At 12.23 que é mesmo que “atender a porta”. Já em Fp 2.8, Cristo Jesus foi obediente até sua morte na nojenta cruz. Jesus Cristo como segundo Adão é aquele que obedeceu ao seu Pai, diferente do primeiro Adão. Logo, na sua obediência, os seres descendentes do primeiro Adão são por meio de Cristo Jesus justificados.115 qana,tou significa morte. No grego secular se fala do estado da morte, onde todos os sujeitos a ela são denominados mortais. Para os gregos, ela é o fim da atividade da vida mesmo que o espírito encontre algum lugar no reino dos mortos. Mas, a morte era considerada boa também quando acontecida após uma vida longa e pela mesma libertar o homem da vida com suas futilidades. No Antigo Testamento, a morte é o mesmo que o fim da existência na sua totalidade, pois na morte o ser humano volta a ser pó. Na compreensão de mundo dos mortos, uma vez que para lá uma alma foi, a mesma não pode mais retornar. Entretanto, também as doenças são vistas como laços da morte, pois um doente sempre é próximo da morte. No Novo Testamento, quando se fala de morte, isto está relacionado principalmente com a morte vicária de Jesus e, nos escritos paulinos, na morte humana. Mas, a visão neotestamentária da morte é simples continuação daquilo que o AT já afirmara. Afirmase que num homem entrou o pecado no mundo e por meio dele também a morte (Rm 5.12), logo, no NT a morte não é simplesmente um ato natural da vida humana, mas tem a ver com o pecado, pois o pecado dá o seu salário: a morte. Esta morte humana Jesus morreu, porém ele não tinha pecados, mas ele se torna pecado pelos seres humanos. Nisto, a sua morte é para todos os seres humanos vantagem. Sua morte, porém, não deve ser vista como mártir a defender uma causa, mas como evento único em toda a história sendo fundamental para a mesma.116 Quanto a isso, John Stott diria “viveu a nossa vida, morreu a nossa morte”.117 staurou pode ser um termo complicado de se 113

Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 977-980. Cf. Hb 5.8. 115 Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 1486-1487. 116 Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 1315-1325. 117 Fonte não acessível ao autor, baseia-se, portanto, em “memória”. 114

44 explicar. Ao mesmo tempo em que ele significa cruz, ele também tem o significado de estaca. Na tradição grega, o termo se referia a uma estaca reta que às vezes podia ser pontiaguda. No Antigo Testamento, o termo aparece relacionado à cruz em métodos de execução. O corpo de Saul, por exemplo, foi decapitado pelos Filisteus e exposto em uma estaca (1 Sm 31.9-10). A LXX emprega o termo somente mesmo em Et 7.9 onde Hamã é pendurado (enforcado). Já no NT, o termo está intrinsecamente ligado as narrativas da paixão de Cristo conforme relatada nos evangelhos. Este método de execução era aprovado por Roma, pois todo aquele que é agitador deve pagar com a morte. Quanto à Fp 2.8, é interessante notar que Paulo não se preserva a falar que Jesus Cristo morreu, mas menciona morte de Cruz, na horrível e rude cruz onde são pregados os verdadeiramente injustos e onde todo ser humano deveria estar.118 Nisto, a humilhação de Jesus Cristo Deus homem chega ao seu cume no calvário onde o servo, por ser considerado mal, é morto, embora fosse totalmente inocente. Deus é morto pelas suas criaturas, não foi apenas o homem Jesus que morreu, mas também o Cristo Deus. Apenas o credo Constantinopolitano considera a morte de cruz ao afirmar que Jesus Cristo foi cruficicado (staurwqenta).119 Nisto, a credo aponta também à realidade da cruz como parte da história terrena de Jesus, bem como acontecimento único e nãorepetível em toda a história. O credo ressalta o nós onde o ser humano foi quem matou Deus na cruz. Deus se deixou matar a morte da cruz pelos seres humanos, se rebaixou e humilhou tal ponto na excelência de sua obra redentora.

3.3

A EXALTAÇÃO DE CRISTO JESUS No versículo 9 aparece o termo u`peru,ywsen que significa “elevar acima de todas

as coisas”.120 No Antigo Testamento, apenas Deus é o que possui o direito tanto de exaltar alguém quanto o de humilhar. O homem, desde a queda quer ser independente de Deus caminhando para a sua auto-exaltação, nisto, o termo pode designar também orgulho, pois o orgulhoso não quer viver com Deus, mas em si mesmo apenas. No Novo Testamento o termo tem o sentido de tornar grande. Quanto à Fp 2.5-11, há um contraste entre humilhação e exaltação, pois ela é resultado da obediência do Filho até

118

Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 477-484. Cf. DENZINGER, Heinrich. Op. Citatum. p. 84. 120 Cf. At 2.33 e 5.31. 119

45 sua morte de cruz.121 Logo, é por causa da sua humilhação que ocorre a sua exaltação, mas, ainda nisto, é perceptível a tradição judaica, pois somente Deus exaltou Jesus Cristo e por que Deus o exaltou os homens devem o confessar como Senhor. O ser humano nunca pode promover a si mesmo, mas é Deus quem promove a quem ele quer e da maneira como quer. Como se dá o conhecimento disso é um mistério. Fato é que após sua obra, a pessoa de Jesus Cristo foi exaltado pelo Pai. evcari,sato é dar de graça. No grego secular tinha a ver com aquilo que traz bem estar entre os homens, bem como bondade, favor e benefício. No Antigo Testamento possui o sentido de favor da parte de Deus, ou recompensa pelas boas obras. No Novo Testamento o termo ocorre principalmente nas epístolas de Paulo. Porém, Jesus, em seu ensino, usou o termo em seus temas, especificamente no Deus que quer salvar graciosamente os perdidos e desesperançosos deste mundo. Para Paulo, a graça é a essência do ato da salvação de Cristo que acontece na morte de Jesus.122 Jesus Cristo é a graça e a graça é Jesus Cristo. Não há graça fora de Cristo Jesus, pois ele mesmo é a graça. A graça é a obra da pessoa de Jesus Cristo na cruz e somente isso. Por isso, não há nada que o ser humano possa acrescentar a graça de Deus. Nisto, Deus, em seu amor, concede de graça ao próprio Cristo o nome acima de todo nome, concede de graça a exaltação do Filho. Por isso, Deus concedeu a Jesus o o;noma acima de todo o;noma.123 Para os gregos, o nome está intrinsecamente vinculado com a pessoa, seja ele homem, deus ou demônio. Por meio do nome se tem acesso às pessoas. Para Platão, as palavras são símbolos sonoros que recebem o seu significado por meio do costume, da concordância geral e do pensamento geral. No Antigo Testamento todos os nomes possuíam/eram significados. O próprio Deus revelou seu nome a Moisés, nisto, Deus não é sem nome, sem identificação pessoal, mas pelo seu nome pode ser invocado. No Novo Testamento também se tem ênfase no nome de Deus, pois ele continua se dirigindo ao ser humano com nome, porque o nome de Jesus é o verbo do próprio Deus. A partir disso, a identificação de Deus no nome de Jesus faz com que seja este o nome que deve ser proclamado às outras nações (At 8.12; 9.16), bem como o batismo que é realizado tanto em nome do Pai, como do Filho, quanto do Espírito Santo.124 No versículo 10 se tem o vocábulo evpourani,wn que constitui o significado de céu. Na mitologia órfica, o céu era derivado metade superior do ovo cósmico. Segundo 121

Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 83-84, 86. Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 907-915. 123 Cf. Ef 1.21 e Hb 1.4. 124 Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 1394-1395, 1399-1400. 122

46 Homero, o céu descansa sobre pilares os quais o Atlas carrega. Para os gregos, é no céu que habita os deuses, especificamente Zeus. No Antigo Testamento, o mundo de baixo, a terra e o céu formam o edifício cósmico na cosmovisão bíblica. O céu é como uma extensão das águas daqui de baixo, porém, esta água é segurada por aquilo que se chama de firmamento, ou seja, uma “chapa” de metal que vai de leste a oeste, norte a sul. Em cima do firmamento há os armazéns de neve, granizo, do vento, bem como da chuva. Interessante é que já os hebreus conheciam o ciclo da água enquanto evaporação. No NT, crê-se que há anjos no céu que são mensageiros e servos de Deus. Quanto a Fp 2.10, o mesmo quer dizer que todos os seres que estão no céu se curvarão perante Jesus Cristo Senhor.125 Quando se fala, portanto, de céu, quer-se designar a seres que não estão no âmbito da captação humana, mas seres criados por Deus que transcendem os seres humanos, porém que estão debaixo do domínio de Deus. 126 Este versículo quer designar que todos os seres da criação de Deus o exaltarão e confessarão sem exceção.127 No versículo 11 se tem o verbo evxomologh,shtai que significa prometer, confessar. O mesmo é a junção de suas palavras gregas: homos = mesmo e lego = dizer, palavra. Em síntese, significa dizer a mesma coisa. Os credos, neste sentido, são a confissão de Jesus e seu senhorio de forma clara e em resumo do conteúdo cristológico bíblico. No Antigo Testamento, destaca-se seu uso na questão de fazer votos onde se confessa/promete algo como em um contrato. Também tem o sentido estranho na LXX de louvar que dá uma considerável mudança de sentido. No NT também tem a ver com louvor, porém, usa-se também no sentido de “declarar abertamente”. Em Fp 2.11, significa que toda potência e autoridade terá que confessar o senhorio de Jesus Cristo, reconhecendo-o como Deus e lhe prestando homenagem.128 Não haverá, na compreensão do autor do hino, quem não confesse o nome de Jesus Cristo como o ku,rioj129 que grego secular, significa todo aquele que tem poder e força. No grego clássico antigo era empregado especificamente a divindades, bem como no oriente. Mais tarde, os imperadores Romanos reivindicaram tal divindade para si mesmos 125

Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 342, 345, 347. Tem-se uma correlação com Is 45.23. No contexto, o próprio Deus afirma que é ele quem salva apenas e não os ídolos, por isso, perante ele todos os joelhos se dobrarão e toda língua jurará seu nome. No contexto da tolerância para com os fracos na fé, Paulo usa a mesma linguagem também em Rm 14.11. 127 Cf. Ap. 5.13. 128 Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 385-388. 129 Em Rm 10.9, Paulo afirma que todo o que confessar a Jesus como o Senhor com sua boca, este será salvo. Logo, a salvação não decorre do ser humano, mas quando Deus lhe toca o coração, ele não resiste à graça de Deus e passa a confessar o senhorio de Cristo Jesus em sua vida. 126

47 afirmando serem eles os verdadeiros senhores, um mais senhor e deus que o outro. Na LXX o termo aparece nove mil vezes. Isto em decorrência da tradução do termo adon que significa do hebraico Senhor. No Novo Testamento o termo aparece especialmente em Lucas e nas Epístolas. Nele, o Senhor é o completamente o contrário de escravo. Este Senhor é Jesus Cristo, o que se fez escravo. Nisto, Jesus é reconhecido com seu poder como Deus, como líder de modo que quem confessa seu nome deve obedecê-lo e segui-lo.130 Logo, Jesus é contra César, pois é colocado como Deus e Senhor e reconhecido assim, enquanto César é simplesmente visto como homem falível. Não há outro Senhor, nem imperador, nem rei ou autoridade que seja maior que Jesus Cristo, o de nome confessado. Nota-se que os três credos (Niceno, Constantinopolitano e Calcedonence) afirmam o Senhor Jesus Cristo131 da maneira como no versículo 11, pois o credo é uma confissão e o senhorio de Cristo Jesus é o começo do segundo artigo (o Filho) em ambos os credos, com exceção de Calcedônia por este ser em si mesmo um credo cristológico, logo, um artigo único. patro,j é Pai/pai. No grego secular, além de se falar do pai de família, eram chamados pais também anciãos, pois a palavra significava título de honra para ele. No Antigo Testamento, a palavra é aplicada quase que somente no sentido familiar, porém há poucas ocasiões onde se aplica a

Deus,

mas isto somente na literatura pós-diáspora. Entretanto, toda descrição de Deus como Pai se refere apenas no relacionamento com o coletivo (povo) e nunca no individual. No Novo Testamento acontece o contrário do AT, pois nele Deus é muito visto como Pai. Um dos fatores é o Filho de Deus Jesus Cristo. Ele chama Deus de seu Pai por que é Filho do Pai. Esta paternidade de Deus, porém, não é algo natural, mas um milagre escatológico e soteriológico onde no Filho o Pai querem salvar a criação e tornar os seres humanos filhos do Pai por meio de Jesus Cristo, o irmão dos mesmos.132 Portanto, o Pai de Jesus é também o Pai de todos os seres humanos que recebem e confessam o nome de Jesus Cristo como o Senhor, o irmão dos homens. Nos credos Niceno e Constantinopolitano há o primeiro artigo onde se fala a respeito do Pai, embora que eles juntamente com o Calcedonense irão destacar após que Jesus Cristo é o filho do Pai na sua relação omooúsioj.133 Nisto, se confessa que o Pai é o pai de Cristo Jesus e que o Filho é o Cristo Jesus do Pai.

130

Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 2316-2320. Cf. DENZINGER, Heinrich. Op. Citatum. p. 63, 83 e 142. 132 Cf. BROWN, Colin; COEREN, Lothar (Orgs.). Op. Citatum. p. 1501-1507. 133 Cf. DENZINGER, Heinrich. Op. Citatum. p. 63-65, 83-85 e 142-143.. 131

48

4

OS OLHOS DO TEXTO A tarefa da atualização é construir uma ponte entre o significado do texto no passado e sua relevância para os dias atuais. A dificuldade inerente a essa tarefa reside no fato de que o contexto cultural, sociopolítico e religioso dos tempos bíblicos não é o mesmo de hoje. Isso significa que, muitas vezes, não é possível estabelecer analogias diretas entre o passado bíblico e o nosso presente. É, preciso, pois, transpor o sentido do texto para uma realidade nova, diferente e, por vezes, até contrária à realidade de então. 134

4.1

RECEPÇÃO DO TEXTO

Neste passo, procura-se verificar a hermenêutica do texto no decorrer da História da Igreja com os seus mais devidos personagens. Por não haver muito material disponível, far-se-á a análise de duas interpretações do reformador Martim Lutero. É interessante notar que ambas as interpretações são do versículo 6. Em uma interpretação Lutero diz: O que o apóstolo Paulo quer em Fp 2.6 é que cada cristão se torne servo do outro, a exemplo de Cristo. E se alguém possui alguma sabedoria, ou justiça, ou poder, através dos quais poderia superar os outros e gloriar-se como se possuísse a forma de Deus, não deve tomar isto como seu, mas atribuí-lo a Deus. De modo geral, deve tornar-se assim como se não tivesse essas qualidades e comportar-se como um daqueles que não as têm, para que cada um, esquecido de si mesmo e despojado dos dons de Deus, aja com seu próximo como se fosse sua própria a fraqueza, o pecado e a ignorância do próximo; não se glorie, nem se ufane, nem desdenhe, nem triunfe contra aquele, como se fosse seu Deus e igual a Deus. Uma vez que se deve deixar isso somente para Deus, semelhante soberba e temeridade teve à sua usurpação. É assim, portanto, que se assume a forma de servo e se cumpre aquilo que o apóstolo escreve em Gl 5.13: “Sirvam uns aos outros pelo amor”.135

Verifica-se, deste modo, a correta interpretação de Lutero afirmando exatamente o que Paulo, contextualmente, quis dizer. Se o próprio Deus em sua majestade não se aproveitou disso, os seres humanos que possuem muitos bens não devem deificarem a si mesmos, mas viver uma vida humildade da mesma maneira que Cristo Jesus viveu. O ser humano orgulhoso deve se despir de sua vanglória e se vestir como Cristo a se tornar humilde, embora tenha muitos bens. Tal interpretação está no contexto do “Sermo de duplici istitia” onde Lutero trabalha a fé em Cristo e o amor a Deus e ao próximo que é resultado da fé. Em outra interpretação do mesmo versículo, Lutero afirma: 134 135

WEGNER, Uwe. Op. Citatum. p. 381. OSel nº 1, p. 245.

49 Essa miséria e sofrimento, que consiste no desejo do homem de ser o Deus do outro, tem sua origem na maçã no paraíso, quando Adão e Eva quiseram ser deuses, em nome do diabo. Todos nós ainda temos essa maça no estômago; constantemente ela provoca arrotos, não há jeito de digeri-la, e inclusive os verdadeiros santos têm dentro de si um resto dela, no mínimo um pedaço pequeno. Cristo Nosso Senhor, porém, ordenou que ninguém pretendesse ser o deus do outro, mas que cada qual fosse servo do outro, segundo o amor; que ninguém desejasse a infelicidade e a desgraça do outro nem se alegrasse com elas; pelo contrário, que todos fossem compassivos e misericordiosos para com a necessidade e a desgraça do próximo. Ele próprio foi um exemplo indizível disso, como São Paulo escreve aos Filipenses 2.6s: “Gozando da honra divina e sendo Senhor sobre tudo, não o quis considerar usurpado, usurado ou esgravatado, mas a si mesmo se esvaziou, tornando-se nosso escravo e servo.136

Lutero, novamente, se mostra contra todo orgulho e soberba humana que, conforme ele, já inicia em Gênesis no ato pecaminoso de querer ser independente de Deus se tornando o próprio Deus. Esta interpretação se encontra no texto onde Lutero pede que os pastores preguem contra a usura, pois os que se vangloriam de riquezas são os gananciosos. Paulo e Lutero afirmam que o cristão deve servir ao seu próximo e estar com ele nas suas dificuldades e não se auto-gloriar rebaixando o outro, pois o próprio Cristo a si mesmo se rebaixou a escravo de homens. O que, exegeticamente falando, poderia ser errôneo na compreensão de Lutero é a interpretação do fruto proibido como sendo uma maçã. O texto bíblico não dá evidências sobre isso, mas, deve-se entender também Lutero de forma contextual, visto que fora um monge Católico.

4.2

DIÁLOGO COM FONTES SECUNDÁRIAS

Neste passo metodológico, fez-se a análise de cinco comentários bíblicos. Propõe-se verificar as peculiaridades dos mesmos, bem como as suas concordâncias na construção desta síntese. Bortolini afirma que “evangelho é a palavra chave que sintetiza a carta aos Filipenses”.137 Afirma ele que Paulo vê o evangelho como uma pessoa concreta: Jesus Cristo encarnado, morto e ressuscitado.138 Desta forma, Paulo incluiria esse hino à sua carta por que crê neste evangelho encarnado que anuncia.139 Weingärtner diz que “Paulo continua sua exortação já encetada em 1.27, colocando a pessoa de Jesus Cristo em

136

OSel nº 5, p. 479. BORTOLINI, José. A Carta aos Filipenses. São Paulo: Paulus, 1991. p. 24. 138 Cf. BORTOLINI, José. Op. Citatum.. p. 24. 139 Cf. BORTOLINI, José. Op. Citatum.. p. 25. 137

50 frente dos irmãos de Filipos como o exemplo supremo de seu pensar e de seu agir”140 e continua dizendo aos filipenses, em resumo da perícope, que imitem o exemplo dado por Cristo e que vivam assim como se vive em Cristo, isto é, como membros do corpo de Cristo. Jesus Cristo, antes de tudo, é exemplo de humilhação. Ele existiu como Filho eterno de Deus, participou de sua glória – mas assumiu o caminho da obediência, não se agarrou a seus direitos de Filho de Deus, abriu mão de sua glória divina, tornou-se um homem verdadeiro, de Senhor se fez servo, humilhou-se mesmo como homem, tornando-se obediente até a morte na cruz. Por causa desta sua obediência e humildade Deus reverteu o seu caminho: ele o exaltou à glória celestial e lhe deu o nome que está acima de qualquer nome. Vivos e mortos, celestiais e terrenos deverão dobrar seus joelhos perante ele, e todo ser criado deverá confessar que ele é o Senhor. Assim a glória de Deus será revelada, de forma sublime.141

Este seguimento de Jesus, para Weingärtner, é uma participação, não sendo uma lei, mas um viver da mesma maneira como Cristo viveu. Se fosse apenas uma lei, seria uma carga insuportável que acabaria por redundar em desespero. Significa, portanto, seguir ao Senhor Jesus como seu discípulo orientando-se na sua palavra e no seu exemplo de humilhação.142 Todavia, o ser humano nas suas tentativas de seguir tal exemplo imitando suas atitudes e atos são destinados a falharem porque o ser humano não consegue em si mesmo imitar corretamente todo o exemplo do Filho de Deus. Weingärtner afirma que faltaria a este o combustível para enfrentar tamanha tarefa.143 Nesta perspectiva, o ser humano é transformado por Cristo em seu viver a partir da justificação, entretanto, continuará, por vezes, a pecar em seu orgulho. Hendriksen concorda com Weingärtner e Bortolini ao afirmar a intenção de Paulo no exortar os filipenses a serem humildes, “que continuem nutrindo a disposição descrita nos vv. 1-4, a mesma disposição que também caracteriza a Cristo Jesus”.144 Comblin, porém, inicia seu comentário de maneira totalmente diferente perguntando pelo número possíveis de estrofes que o hino continha, contudo, destaca, assim como Bortolini, que o tema do hino é o evangelho de Jesus Cristo.145 Da mesma maneira, afirma os dois movimentos do hino: descida e subida de Cristo Jesus.146

140

WEINGÄRTNER, Lindolfo. Op. Citatum. p. 51. WEINGÄRTNER, Lindolfo. Op. Citatum. p. 51. 142 Cf. WEINGÄRTNER, Lindolfo. Op. Citatum. p. 50-51. 143 Cf. WEINGÄRTNER, Lindolfo. Op. Citatum. p. 52. 144 Cf. HENDRIKSEN, William. Op. Citatum. p. 136. 145 Cf. COMBLIN, José. Epístola aos Filipenses. São Leopoldo: Sinodal, 1985. p. 39-40. 146 Cf. BORTOLINI, José. Op. Citatum.. p. 25. e COMBLIN, José. Op. Citatum. p. 40. 141

51 Schwambach afirma que “Paulo toma um ‘hino cristológico’ provavelmente já existente, e, modificando-o um pouco, insere-o no seu discurso”.147 Nestes termos, ele concorda com os outros autores, incluindo, na verdade, a possível adaptação de Paulo no hino à sua argumentação. O texto ainda, conforme ele, é “o caminho trilhado por Jesus Cristo [que] é o exemplo supremo a ser seguido pelos cristãos”.148 Werner Wiese diz que o versículo 5 destaca aos filipenses que tenham a mesma maneira de pensar que Cristo Jesus, bem como seu agir. Não é, portanto, uma imitação na sua função salvífica, pois isto seria um erro. Hb 12.2 é como um resumo de Fp 2.5-11. “Esse versículo é, por assim dizer, a introdução ao clássico hino cristológico do NT. O entorno desse hino é exortativo”149 Wiese, porém, aplica isto em termos éticos, destacando um critério para agir a partir do agir humilde de Cristo. Bortolini assevera que o sujeito de todas as ações do texto é o próprio Cristo, aquele que “desceu no poço mais profundo da miséria e solidão humanas”.150 Ele enxerga o evento cristológico como um fenômeno puramente da livre vontade de Cristo que culmina na nojenta morte de cruz. Weingärtner diz que este Filho de Deus foi existente como Deus a participar da própria glória do Pai, de eternidade a eternidade, igual a ele, permanecendo assim para todo o sempre.151 Desta forma, Jesus, como o segundo Adão152 é aquele que não deu atenção à tentação de ser como Deus, mas esvazia-se da sua divindade, de Deus passa a ser homem, de Senhor a ser servo, no entanto, sem perder a sua divindade. Não se trata, para Weingärtner, de simplesmente “trocar de roupa”, mas de se tornar homem ao mesmo tempo que Deus. 153 Hendriksen, por conhecer o texto de Jo 1, pressupõe a pré-encarnação de Cristo e simultaneamente a encarnação na perícope de Fp 2.5-11. As duas coisas, para ele, não podem ser distanciadas, pois o que estava pré-encarnado, sendo igual a Deus, é o mesmo que se faz encarnado, sendo até a cruz obediente.154 Este Cristo renuncia a tudo, a si mesmo, sua vida e inclusive a sua glória celestial. Schwambach, de maneira lacônica, diz que “antes

147

SCHWAMBACH, Claus. Jesus Cristo: Salvador e exemplo na humildade e na obediência. In: WIESE, Werner (ed.). Caminho e Testemunho. V. VII, nº 2. Filipenses e Filemon. São Bento do Sul: União Cristã, 2010. p. 45. Nota: Este comentário, na verdade, é um material interno de Estudos Bíblicos para leigos da Missão Evangélica União Cristã – MEUC, por isso, o autor já pondera as devidas atualizações e aplicações do texto bíblico. 148 SCHWAMBACH, Claus. Op. Citatum. p. 45. 149 WIESE, Werner. Ética Fundamental. São Bento do Sul: União Cristã, 2008. p. 204 e 206. 150 BORTOLINI, José. Op. Citatum.. p. 26. 151 Cf. WEINGÄRTNER, Lindolfo. Op. Citatum. p. 54. 152 Cf. Rm 5.12-21. 153 Cf. WEINGÄRTNER, Lindolfo. Op. Citatum. p. 54. 154 Cf. HENDRIKSEN, William. Op. Citatum. p. 139.

52 de tornar-se gente, Cristo era Deus e estava com Deus, desde a eternidade ele é a palavra preexistente, da qual nos fala Jo 1”.155 Ou seja, o texto traz Jesus Cristo tanto em uma realidade eterna-transcendente da pré-criação quanto sua encarnação para dentro das coisas criadas. “Cristo, a palavra eterna, a segunda pessoa da trindade, diríamos, era alguém desapegado, estava disposto a abrir mão do que possuía”.156 Este Deus pré-existente antes de todas as coisas adentra-se àquilo que ele mesmo criou, o invisível e intocável se faz visto e palpável. Nestes termos, surge a polêmica em torno da ke,nwsij de Cristo. Enquanto ser terreno, o que era ontologicamente? Ao se esvaziar, Paulo estaria dizendo que ele perdeu todas as suas qualidades e toda a sua divindade ao se tornar simplesmente homem? O termo foi central nos debates cristológicos na Igreja Primitiva e também é tema abordado pelos autores dos comentários analisados. Fato é que, como afirma Henrich Vogel, Jesus se torna “o homem a qual Deus se tornou nosso Salvador, bem como nosso irmão”.157 Falar, portanto, do esvaziamento e do tornar-se humano de Jesus é também falar da soteriologia: aquilo que Cristo fez pelos miseráveis seres humanos. “Deus entra no material, assume a matéria mostrando que não é contra a matéria”.158 Ele se esvazia e assume a matéria humana na sua totalidade. Weingärtner expõe que esvaziamento não equivale a Deus se fantasiar de ser humano, apenas parecendo humano, pelo contrário, continua sendo Deus ao mesmo tempo que homem.159 Hendriksen pergunta do que Cristo se esvaziou e responde que acertadamente não foi da sua existência em forma de Deus, pois Jesus Cristo nunca deixou de ser Deus. Inclusive na sua morte foi Deus.160 Comblin define esvaziou-se como a perda até do poder de se defender das injustas acusações sendo condenado á morte.161 Schwambach também defende que este esvaziar “não significa deixar de ser Deus, mas permanecendo Deus, decide voluntariamente e por amor não prender-se a isso, para tornar-se, ao mesmo tempo ser humano”.162 Ele ainda cita passagens correlacionadas como Gl 4.4; 2 Co 8.9; Jo 1.14. Assim, ambos os autores trazem o que compreendem como esvaziamento e dá de dizer que se complementam em suas 155

SCHWAMBACH, Claus. Op. Citatum. p. 47. SCHWAMBACH, Claus. Op. Citatum. p. 47. 157 VOGEL, Heinrich. Gesammelte Werke. Cristologie. Band 5. Stuttgart: RADIUS-Verlag, 1983. p. 439. 158 WESTPHAL, Euler. “Culto de Ação de Graças”. MEUC – São Bento do Sul, 11/11/2012. 159 Cf. WEINGÄRTNER, Lindolfo. Op. Citatum. p. 54. 160 Cf. HENDRIKSEN, William. Op. Citatum. p. 141-142. 161 Cf. COMBLIN, José. Op. Citatum. p. 41. 162 SCHWAMBACH, Claus. Op. Citatum. p. 47. 156

53 opiniões, entretanto, apenas Schwambach ressalta o pressuposto soteriológico de tal esvaziamento. Cristo se torna humano com o intento de salvar os seres humanos, ao mesmo tempo em que é Deus. Todo este encarnar-se de Cristo para se tornar ser humano, porém, teve um preço: a cruz. Bortolini defende que “o evangelho de Paulo é exatamente o evangelho de um crucificado”.163 Jesus é aquele que faz de si mesmo um servo e morre na cruz como um bandido.164 Neste sentido, Bortolini enxerga uma intrínseca relação com o texto de Is 52.13-53.8, porém o autor não explica esta relação. Weingärtner fala que “a cruz é a última estação no evento da encarnação do Filho de Deus”165 Cristo, dessa forma, morre como criminoso na cruz. Esta palavra da cruz é loucura aos que se perdem, mas é poder de Deus aos que se salvam, cita Weingärtner. Diz ele ainda que “é na cruz, o ponto extremo da sua humilhação, que inicia a exaltação do Filho de Deus”.166 A mesma cruz que mata, exalta o Filho de Deus, a mesma cruz que sangra é o seu trono. Ali é consumada a sua obra: a salvação dos seres humanos. Weingärtner também faz relações com Is 53.2-7, porém explica ele que o texto do Servo Sofredor não trata de alguém que se esvazia de seu senhorio a ser tornar servo, mas que este já é servo desde o início.167 Diz ele que na sublime lógica das Sagradas Escrituras as duas passagens se complementam e se interpretam mutuamente, e assim em Filipenses 2.-8, mesmo que não intencionemos, chegamos a ver sobreposta à imagem do Filho tornando servo do cordeiro que foi levado ao matadouro sem abrir a sua boca, do servo sofredor desprezado e rejeitado que tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre o qual Deus fez cair as nossas iniquidades. Este duplo enfoque nos parece não só permitido, mas necessário, não por último, em vista da ênfase que o próprio apóstolo Paulo dá ao “por nós” da morte de Cristo em todos os seus escritos (confira Rm 4.25; Rm 8.32; 1 Co 15.3 etc).168

Este autor, portanto, sabe dos contextos de ambos os textos, mas afirma que ainda assim se faz necessária a correlação entre ambos porque, em síntese, tratam do mesmo assunto, embora, pelo menos não primariamente, da mesma pessoa. “Isaias 53 e Filipenses 2 representam, por assim dizer, dois mancais nos quais gira o eixo da cristologia, o eixo da mensagem central de toda a escritura”.169 Hendriksen retrata a questão sacerdotal da morte de Jesus. Diz ele que na cruz Jesus é tanto o sacerdote 163

BORTOLINI, José. Op. Citatum.. p. 26. Cf. BORTOLINI, José. Op. Citatum.. p. 26. 165 WEINGÄRTNER, Lindolfo. Op. Citatum. p. 54. 166 WEINGÄRTNER, Lindolfo. Op. Citatum. p. 54. 167 Cf. WEINGÄRTNER, Lindolfo. Op. Citatum. p. 55. 168 WEINGÄRTNER, Lindolfo. Op. Citatum. p. 55. 169 WEINGÄRTNER, Lindolfo. Op. Citatum. p. 56. 164

54 quanto o sacrifício pelo pecado humano, ou seja, Jesus Cristo se deu como sacrifício expiatório pelo pecado e aí está a ligação com Is 53.10. Logo, não se trata de uma morte comum, mas Paulo enfatiza: morte de cruz.170 Hendriksen destaca ainda a relação com o texto de Dt 21.23 onde está escrito “porquanto o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus”171, ou seja, Deus se faz maldito na cruz, Deus se torna abscôndito consigo mesmo a fim de se revelar aos homens carregando todos os seus pecados. Comblin irá ressaltar a relação com Is 53.12 a partir da exaltação de Cristo, pois o servo foi também exaltado. Diz ele que “depois da humilhação vem a exaltação. Não é uma simples sucessão, mas há um laço de causalidade entre os dois movimentos, por isso Deus exaltou a Cristo”.172 Schwambach não faz relação com Is 53, mas afirma que “as palavras obediência e humildade estão no centro da declaração de Paulo. Elas resumem o modo de pensar e agir de Jesus Cristo”.173 Schwambach não está interessado em ver possíveis correlações, mas foca no texto que estuda. Nisto, considera-se plausíveis tanto as opiniões alheias, pois as mesmas se complementam ao invés de serem opostas e compreende-se o ponto de vista de Schwambach que prefere não dar o passo tão largo permanecendo na interpretação neotestamentária, entretanto, o mesmo deveria ter feito ao menos uma indicação ao texto do Servo Sofredor, visto que, como disse Weingärtner, a lógica bíblica de auto-interpretação aponta, no mínimo, a um paralelo. Bortolini aponta, acerca dos versículos seguintes, o movimento do texto como de baixo para cima. Neste movimento o sujeito é Deus que exalta a Jesus em sua ressurreição.174 Weingärtner irá dizer que o texto, porém, não se resume apenas à ressurreição de Cristo, mas também a ascensão e ao próprio fato de assumir novamente o seu lugar de Filho, com o novo nome que o Pai lhe deu. 175 Conforme Weingärtner, o nome dele já foi revelado e é Senhor e Salvador. Jesus Cristo é o Senhor de todo o mundo, tanto de vivos quanto de mortos, de toda realidade existente.176 Da mesma maneira, como evento escatológico, Weingärtner afirma que também os que não creem reconhecerão que Jesus Cristo é o Senhor.177 Hendriksen afirma que a partir do versículo 9, Deus exaltou a Jesus ao máximo. Aquele que se humilhou foi exaltado. Este Senhor sustenta o universo dominando todas as coisas, como Senhor da Igreja (Ef 1.22170

Cf. HENDRIKSEN, William. Op. Citatum. p. 149-150. ARA. 172 COMBLIN, José. Op. Citatum. p. 42. 173 SCHWAMBACH, Claus. Op. Citatum. p. 48. 174 Cf. BORTOLINI, José. Op. Citatum.. p. 27. 175 Cf. WEINGÄRTNER, Lindolfo. Op. Citatum. p. 57. 176 Cf. WEINGÄRTNER, Lindolfo. Op. Citatum. p. 57-58 177 Cf. WEINGÄRTNER, Lindolfo. Op. Citatum. p. 58. 171

55 23).178 Esta exaltação redunda também no seu nome a qual os anjos e os seres humanos redimidos irão louvar. Percebe-se em Hendriksen certa discrepância em relação a Weingärtner, visto que não fala da sustentação da criação apenas na pré-existência, mas também na pós-humanidade de Cristo. Ele destaca também não um reconhecimento universal ao Senhor Jesus como o Senhor na forma como o texto ressalta com a palavra todo, mas afirma que tal confissão de Cristo acontecerá apenas na boca dos redimidos. Estes cristãos proclamarão abertamente a soberania de Cristo. Comblin aborda o Adonai do Antigo Testamento, pois este Senhor é Jesus. A exaltação de Jesus acontece na contrariedade, no paradoxo, pois para ser o Senhor, seu caminho foi ser escravo. Comblin ressalta ainda que a declaração de que Cristo é o Senhor é uma confissão de fé dos primeiros cristãos.179 Schwambach irá ressaltar, da mesma maneira como Bortolini, que Cristo não se autoexaltou, mas que Deus é quem o exalta. Esta é uma iniciativa da livre vontade do Pai. Ele destaca também (em novidade aqui) que na mentalidade do mundo antigo o nome assinala algo da ontologia do ser e da função da pessoa. Ressalta ainda a confissão deste nome e o dobrar dos joelhos perante Cristo Jesus como evento escatológico, assim como Weingärtner. No plano de fundo soteriológico, fala-se que a salvação dada por Cristo Jesus tem proporções cósmicas que redunda em uma confissão universal de seu nome.180 Em síntese, ambas as fontes secundárias elaboram boa pesquisa e complementam-se muito mais do que discordam. Todos acabam por ver as questões centrais do texto bíblico, porém apenas Schwambach e Weingärtner destacam a soteriologia anexada à cristologia. Entende-que elas devem caminhar juntas, pois o duplo movimento de Jesus é feito à salvação dos homens. Ele se humilha, se deixa rebaixar e crucificar pelo amor que tem aos pecadores, aos perdidos. Por isso foi exaltado pelo Pai e por isso os crentes podem o louvar, pois ele, como Deus, fez tudo o que os seres humanos não poderiam, de forma alguma, fazer. Neste sentido, citando novamente Werner Wiese, vê-se que este autor interpreta com louvor o versículo 5 ao afirmar o mesmo como princípio ético.181 Ter o mesmo sentimento que Jesus Cristo é procurar viver exatamente o que Jesus viveu. Logicamente, isto não é possível na sua totalidade, mas o foco do ethos cristão, seu paradigma deveria ser o Senhor Jesus Cristo, o humilde Deus que morreu na cruz. 178

Cf. HENDRIKSEN, William. Op. Citatum. p. 151. Cf. COMBLIN, José. Op. Citatum. p. 42-43. 180 Cf. SCHWAMBACH, Claus. Op. Citatum. p. 50-54. 181 Cf. já citado, WIESE, Werner. Op. Citatum. p. 204 e 206. 179

56

4.3

CONTEXTUALIZAÇÃO E APLICAÇÃO

Este se desdobra em três dimensões básicas: intérprete, comunidade e sociedade. Ao interprete, o autor desta exegese, o texto destaca a humildade frente aos desafios que um curso de bacharelado oferece. Todo curso necessita de avaliações que redundam em notas, cabe, aqui, portanto, permanecer na humildade de reconhecer o trabalho dos colegas e honrá-los naquilo que fazem. Para cada um são distribuídos dons e, por isso, as qualidades peculiares de cada individualidade. Seguir o exemplo da humilhação de Cristo, nestes termos, é não se prender na vanglória de um dom ou ministério, mas se deixar rebaixar para servir e honrar aos outros, pois foi isto exatamente que Cristo fez. Quanto a exaltação, a mesma cabe a Deus e não aos homens. Todo orgulho deve ser substituído pela humildade que perfilha a habilidade do próximo dentro do corpo de Cristo. Ser obediente também entra neste contexto: obedecer à Palavra de Deus, a sua exortação. Ser humilde, portanto, não significa se autoflagelar psicologicamente com baixa estima, mas, antes de tudo, como Cristo fez, dar dignidade ao outro. Quanto á comunidade cristã, Schwambach faz uma contextualização do texto afirmando que se nos dermos conta de que orgulho e divisões, desavenças pessoais, personalismo e egocentrismo têm sido algumas das principais fontes de autodestruição e divisão autofágica do cristianismo – em especial evangélico! – brasileiro, então veremos que o imperativo paulino é tremendamente atual.182

Tal problema ocorre, na verdade, na descentralidade de Cristo. Quando Jesus Cristo deixa de ser o centro de uma comunidade e é substituído por pessoas e cargos, a mesma tende a se dividir em torno de pessoas com suas opiniões, pois, nesta visão, isso é que vale. Isto implica, por exemplo, nas muitas “igrejas” que na atualidade se abrem que, na verdade, e muitos casos, de Cristo não sabem nada. Outro problema é a volta ao sistema tomista de um Deus Jesus Cristo metafísico que julga em sua soberana potência os seres humanos pecadores. Isto se percebe principalmente no atual estilo de música denominado “Gospel”. Todas estas divisões e disputas esquecem-se da humildade em Cristo Jesus, do seu exemplo de humilhação como ser humano obediente até a cruz. Se Paulo fosse vivo hoje, diria a estes que pensem da mesma forma que Cristo Jesus, citando todo o hino cristológico. Jesus Cristo foi exaltado por causa da sua humilhação, 182

SCHWAMBACH, Claus. Op. Citatum. p. 47.

57 isso é claro, entretanto esquecido. A lei desta palavra é que tais cristãos, ao invés de causarem discórdias e invejas, separando o corpo de Cristo, passassem a honrar dando dignidade, ouvindo a opinião do outro. O evangelho é que a força humana nada pode executar a esse respeito, mas Deus age de forma efetiva no ser humano por meio da sua graça no dom da fé dado a eles. Esta humildade não deve ser fruto da própria humanidade, mas o próprio Deus a concede ao cristão justificado. O ser humano não tem de se orgulhar em nada, pois nada é feito pela sua força, mas tudo é dado pela graça de Deus, nisto, a união é dever dos cristãos, em humildade concedida pelo próprio Deus. À sociedade ocidental, a mensagem da humilhação de Cristo e o seguimento de seu exemplo caem como uma luva. A sociedade pós-moderna diminui os sujeitos ao que possuem: à sua produção. No imediatismo das tecnologias, na compra de um aparelho celular, por exemplo, em uma semana já pode ocorrer a desatualização que culmina em novas compras. As pessoas tem dignidade a partir da sua atualização com o século. Essas posses também tendem a criar, cada vez mais, um ser humano orgulhoso daquilo que possui, orgulhoso de seu status decorrente de sua atualização. O problema maior, porém, nem é este citado, mas a própria descrença em Deus. Tornar-se-ia complicado comunicar a mensagem de Fp 2.5-11 a uma geração que vive um ateísmo prático. Não sabem quem é Jesus, que ele é Deus, o Deus que se fez homem. Entretanto, nem por isso tal proclamação deveria parar, mas o Espírito ainda hoje continua tocando corações que poderiam compreender que, em última análise, o consumismo leva apenas ao hedonismo e ao prazer passageiro. Em toda esta competição pós-moderna onde o “forte supera o fraco”, vale muito bem a palavra da humildade no sentido de dar dignidade ao pedreiro, padeiro, engenheiro, professor, agricultor, etc. As pessoas não valem algo por terem algo, mas são valiosas porque Cristo fez tudo por elas, foi obediente até a cruz: evangelho para a sociedade atual que não concebe mais o que é graça. Em resumo, a mensagem da humilhação de Cristo Jesus permanece atual em todos os âmbitos da existência humana, pois ela permite se fazer tanto uma análise pessoal-sociológica no contexto presente. A realidade humana muda, mas seus pecados, na verdade, não. Os pecados apenas se auto-contextualizam. Por isso, ter humildade em um contexto imediatista e hedonista pós-moderno é, com certeza, caminhar na contra mão da realidade, mas essa é exatamente a proposta do evangelho: “não vos conformeis

58 com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimentais qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.183

4.4

ESBOÇO HOMILÉTICO

TEMA: Humildade em Cristo Jesus:184

1

Ele se fez servo;

2

Ele morreu na cruz;

3

Ele foi exaltado;

4

Ele é exemplo a ser seguido.

TEMA: Deus se faz gente:185

4.5

1

Viveu nossa vida;

2

Morreu nossa morte;

3

Pelo Pai foi exaltado;

4

Já confessaste Jesus Cristo como Senhor?

EQUIVALÊNCIA DINÂMICA

5

Raciocinem186 vocês o mesmo187 que Cristo Jesus

6

que existindo188 em forma Deus189 não se aproveitou disso190 por ser igual a Deus,

7

mas ele mesmo esvaziou-se à191 forma de servo, tornando-se da mesma natureza192 dos homens e na sua193 aparência exterior sendo194 encontrado assim como homem,

183

Rm 12.2. ARA. Este esboço se fez mais de cunho literal respeitando a intencionalidade do texto. 185 Conscientemente, se propôs este tema evangelístico que, embora não tenha muito haver com a verdadeira intenção de Paulo, o hino em si, por ser uma confissão de fé, poderia ser usado para mostrar o que Jesus fez em favor dos seres humanos. 186 Em uma época pós-iluminismo-racionalismo, vê-se como bom termo a palavra raciocinar, visto que possui o mesmo significado que ter em mente do original. 187 Equivalente a aquilo como do literal. 188 Este termo passou do literal presente para o gerúndio. 189 Apenas se trocou as palavras de lugar. 190 O mesmo sentido do original, porém com outras palavras. 184

59 8

rebaixou a si mesmo,195 obediente até a morte, e196 morte de cruz.

9

por isso197, 198 Deus lhe199 exaltou dando-lhe200 de graça o nome superior a todo nome

10

para que ao201 nome de Jesus todo joelho se dobre no céu,202 sobre a terra e debaixo da terra.

11

e toda língua admita abertamente que Jesus Cristo é o Senhor é para glória de Deus Pai.203

_____________________________ 191

Usou-se este termo para fazer uma ligação mais intrínseca entre a frase anterior e a posterior: esvaziarse e tornar-se servo. 192 Apenas um termo mais conhecido que também traduz o termo o`moiw,mati. 193 Incluem-se estas palavras para esclarecer que a aparência é do próprio Jesus Cristo. 194 Simplesmente o termo resume as palavras tendo sido. 195 Julga-se desnecessário o termo sendo. 196 Ligação com a frase anterior. 197 Um simples resumo de por esta razão. 198 Julga-se desnecessário o também. 199 Simples resumo de a ele. 200 Simples resumo de para ele. 201 Formulação da conjunção ao no lugar de em o. 202 Preferiu-se colocar uma vírgula ao invés de e. 203 Fez-se apenas uma mudança na ordem dos termos para uma melhor compreensão.

60

CONCLUSÃO Falar da encarnação, humilhação, morte e exaltação de Jesus Cristo, na verdade, não é falar outra coisa senão de salvação. Tudo isto foi executado por Cristo Jesus com um único objetivo: a salvação daqueles que nele creem. Este evento único e irrepitível da história requer seus desafios: termos a compreender, contextos a esclarecer, etc., mas em cada passo se construiu um pedacinho daquilo que Paulo quis realmente expressar. O melhor disso tudo é que o texto não permanece esquecido e indiferente no passado como qualquer estudo de história secular, mas seu significado chega ao século XXI, perscruta a existência humana e continua fazendo valer sua intencionalidade original. Uma vez o seu exemplo para um agir ético e outro o próprio fato cristológico em si: Deus morreu na cruz pelos seres humanos. A simultaneidade do paradoxo da cruz deixa qualquer um perplexo: a mesma cruz que humilha, exalta; a mesma cruz que mata, traz aos seres humanos nova vida; a mesma cruz que é pesada traz alívio; a mesma cruz que condena, também liberta; a mesma cruz desesperadora traz esperança; a mesma cruz odiada mostra o verdadeiro amor; a mesma cruz que encerra, inicia uma nova aliança. Este é o esplêndido mistério do paradoxo da cruz, do Cristo que nela padece para a salvação dos seres humanos. Encerra-se este ensaio exegético com um hino natalino de Nikolaus Hermann sobre exatamente a perícope estudada:

1. Cantai, cristãos, a Deus louvai, pois hoje abriu o céu; do trono excelso enviou o Pai o eterno Filho seu, o eterno Filho seu. 2. Trocou a glória por desdém, tornou-se nosso irmão! Na manjedoura de Belém – eis nossa salvação, eis nossa salvação. 3. O Cristo oculta seu poder, sublime aceita a dor, humilde servo vem a ser, do mundo o Criador, do mundo o Criador. 4. Jesus é servo, eu sou Senhor, que troca singular! Não há no mundo amor maior que seu amor sem par, que seu amor sem par. 5. O paraíso já se abriu ao povo do Senhor, pois os perdidos redimiu, o seu excelso amor, o seu excelso amor.204

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IECLB. Hinos do Povo de Deus – HPD. 24. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2008. nº 14.

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