Ensaio sobre a nova visão da cultura trazida pelo romantismo

June 2, 2017 | Autor: Ana Cristina Rebelo | Categoria: Iluminismo, Romantismo
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Mestrado Em Empreendedorismo E Estudos Da Cultura

Escola De Sociologia E Políticas Públicas Discente: Ana Cristina da Silva Rebelo Número de aluna: 70972

Turma: MEEC Trabalho submetido para a avaliação na Unidade Curricular: Teorias da Cultura Docentes: Prof. Dra Ana Maria Pina

ISCTE-IUL – Instituto Universitário de Lisboa 2015/2016

O tema que escolhi abordar para a concretização deste ensaio é a nova ideia e noção de cultura, apresentada pelos românticos que contrapõem o que até então tinha sido teorizado pelos iluministas. Tendo em conta que este ensaio se foca na contra-proposta que os românticos apresentam para a noção de cultura, rejeitando tudo aquilo que até então os iluministas tinham teorizado, é importante começar por dar a conhecer no que se baseava o iluminismo e qual a sua noção de cultura. A cultura francesa tem um grande poder no séc. XVII, os outros estados têm apenas o papel de seguidores, tudo o que se relaciona com cultura, as regras e normas criadas, seguem os princípios franceses. Posto isto, o grande território do Iluminismo é a França, uma visão baseada nas realizações da alta cultura, ou seja, no que a classe alta francesa considera ser cultura. Este grupo de intelectuais e pensadores, vêm a cultura como a salvação da humanidade, nesta altura ainda existe uma grande ignorância aos maus costumes, a dita maldade. Os intelectuais pretendem fomentar a cultura na sociedade, nos menos letrados. Este pensadores, provinham da antiga noção de cultura “cultivada” que existia apenas no seio das classes altas, através da frequentação da escola. Os filhos da classe burguesa eram apresentados a uma séria de conteúdos dentro das mais diversas áreas, este conhecimento funcionava como uma assimilação obrigatória de todos esses conteúdos. A forma mais fácil que este grupo encontra para espalhar o conhecimento, é criação do maior empreendimento cultural do séc. XVII, o surgimento da Enciclopédia. O aparecimento da Enciclopédia parte da necessidade dos iluminista espalharem a “luz”, o conhecimento pelo mundo inteiro, desenvolvendo um livro que explicasse tudo sobre todas as áreas. A chave do sucesso das sociedades estava dentro daquela bíblia do conhecimento, assim que as comunidades atingissem um determinado nível intelectual, definido claro pelos iluministas, que lhes permitisse entender tudo que estava descrito na enciclopédia, a maldade que habitava dentro dos seres humanos deixaria de existir. A descrita, utopia dos iluministas, permite terminar com todos os maus costumes, como é o caso

da escravidão, exploração, entre outros problemas que assombravam aquela

época. Os iluministas desenvolvem a ideia de uma sociedade feliz, em que os humanos só tem as suas necessidades culturais preenchidas quando forem capazes de assimilar todos os conteúdos descritos na enciclopédia. Este conceito advém de uma noção de cultura imaterial, desenvolvida pelos intelectuais do séc. XVII, remete-se a uma cultura

das ideias e uma visão etérea, no sentido em que a cultura está no altar, no lugar de Deus. Em contrário ao que os iluministas apresentam como sendo a noção de cultura, os pensadores românticos questionam esta teoria: será que a cultura salva? O tipo de visão francesa, pouco interessa aos intelectuais alemães, a rivalidade entre as duas culturas acaba numa humilhação da teoria do iluminismo. Os teóricos alemães afirmam que a cultura em nada se relaciona com bens materiais, bens palpáveis e sofisticação, a cultura é espirito. Com base nisto, os atores para a definição da cultura deixam de ser a classe alta, e passa a ser o povo. O romantismo acaba por negar todas as teorias desenvolvidas até então, e focar o interesse nas pessoas e os seus hábitos, as denominadas práticas culturais, desenvolvendo uma noção de cultura totalmente centrada no povo. O trabalho de campo dos teóricos, as visitas aos territórios e o registo do que era observado e tudo aquilo que encontravam, contribuíram para um conhecimento aprofundado das características especificas dos povos. As práticas culturais tornam-se a salvação do povo, no sentido em que preservam as características que identificam uma determinada sociedade, as tradições culturais. O que os românticos alemães acabam por fazer é alterar a dinâmica de uniformidade que existia até então, eles escolhem a língua do povo, rejeitam o francês, diferenciam todos como se a cultura fosse um rosto cheio de variações. Todas as comunidades humanas tem um rosto muito próprio do qual devem cuidar e preservar, pois é a sua identidade a sua sobrevivência, abandonando a noção de cópia criada pelos franceses. Johann Gottfried von Herder foi o primeiro a recusar os princípios criados pelos iluministas, na sua teoria histórica elabora uma critica radical ao discurso racionalista elaborado por os pensadores da sua época. Herder opõe-se à perspetiva, abstrai o desenvolvimento humano das práticas linguísticas e culturais rígidas, isto é, contra uma natureza estática que não liga a características tão próprias e singulares como o caso das práticas culturais e língua. A natureza humana, segundo Herder “não é um recetáculo de uma felicidade absoluta, imutável como definida pelos filósofos; é uma argila maleável que assume uma forma diferente em diferentes circunstâncias”. A natureza humana é uma substância em constante alteração, constante desenvolvimento, que sofre mudanças consoante necessidades distintas. A linguagem, é para Herder, o elemento mais importante na formação histórica da natureza humana, e é na absorção da linguagem durante as atividades sociais do quotidiano, que os indivíduos absorvem a sua herança cultura. O teórico defende que a

poesia é a mais alta forma de Literatura, na sua análise pelas obras de Homero e Shakespeare, Herder concluiu que os aspetos mais profundos da vida do homem são revelados quando se a usa a linguagem de uma forma criativa, esse processo ilumina a mente. Aos poetas, o teórico atribui o papel de criadores da nação que os rodeia, na medida em que proporcionam um mundo para os outros verem. É nesta altura que o filosofo chama a atenção para a importância da estrutura familiar no processo educacional, ao contrario do que acontecia na aristocracia em que não é a mulher que educa os seus filhos, aqui o amor paternal é o primeiro patamar para uma boa educação. "Cada indivíduo é filho ou filha. . . . Ele ou ela recebe desde os primeiros momentos de vida parte dos tesouros culturais da herança ancestral...[que ele ou ela] por sua vez, passa adiante”, isto é, é através dos conhecimentos e valores transmitidos pelos pais que o individuo será capaz de repetir a mesma forma de encarar o mundo, há uma passagem de valores culturais entre gerações. A transmissão histórica entre gerações é um processo natural gerado dentro da dinâmica normal da sociedade, isto significa para Herder que as forças evolutivas que se desenvolvem dentro das comunidades humanas são eficazes e perduram ao longo dos tempos. Esta forma de pensar é muito semelhante á desenvolvida por Rousseau, em que a educação maternal era o primeiro patamar para “criar bondade”, uma estratégia para trazer a dimensão fantástica que era por ele considerada a bondade. Rousseau foi um dos filósofos que na transição do séc XVIII para o XIX, levantaram algumas problemáticas à visão de cultura dos românticos, inventado a criatura “bom selvagem”. O teórico apresenta uma ideia de que o ser humano nasce bom e a sociedade é que o modifica, o que vem contrariar a noção de cultura que salva, para Rousseau a cultura perverter o ser humano. O povo está mais protegido se for menos “culto” e a cultura estraga a natureza pura dos homens. Só na primeira sociedade, formada na pré-história, é que o ser humano estava no seu estado natural, livre e bom e não corrompido. A isto o filósofo designa como estado natureza, um lugar ou tempo prodigioso em que os seres humanos não eram perturbados pela cultura. De forma a tentar reverter o mal criado pela cultura, Rousseau ocupa-se do termo educação, representado o conceito como forma de libertar os homens. A ideia apresentada é, se se tiver uma boa educação pode ser que o ser humano consiga lidar com a maldade que existe nas sociedades Segundo este pensador, a cultura não presta e não nos serve na educação das sociedades, a mulher tem que mudar e dar uma educação às suas crianças. De acordo com Rousseau a boa educação é atingida quando existe a ausência de disciplina, apela-se à liberdade de expressão, à capacidade sensorial das crianças e dá-

se um abandono do abuso do uso da memória, precisamente o contrário que era defendido pelos aristocratas franceses. É seguindo o pensamento critico dos dois país do romantismo, Herder e Rousseau, que o românticos alemães reinventam a noção de cultura à dimensão do homem enquanto individuo, por estarem a assistir a um mundo cada vez mais homogéneo eles vem teorizar o7 oposto. É apresentado na teoria de Herder, uma pluralidade de valores humanos, para o pensador cada nação tem em si própria valores e tradições culturais especificas, o que vem alterar certos conceitos. O certo e o errado abandonam as noções clássicas de uma sociedade ideal, e são considerados conceitos maleáveis que se alteram de acordo com as culturas e as sociedades. A acompanhar a reinvenção geral e definitiva que Herder deu origem, o pensador teoriza o conceito de populismo, uma sociedade, um grupo como um organismo não politico, que em muitos casos pode ser levado ao limite do antipolítico. Herder defende a negação da cultura abstrata, como uma meta da capacidade da humanidade. De acordo com Isaiah Berlin, Herder estimula o particularismo das sociedades incluindo todas as especificidades dos homens que nelas habitam, o nacionalismo, causando posteriormente uma transformação abismal na forma de agir e pensar dos homens que o seguiram. Dá-se uma defesa do pluralismo, o mundo e as sociedades que o compõem são muito diferentes, insistindo na importância das diferenças, dá-se uma monumentalização do povo, o herói da historia e o génio nacional. Afirma-se ainda, que o povo não tem que ter conhecimentos complexos tem apenas que viver enquanto povo. Concluindo, a forma de pensar apresentada por Johann Gottfried von Herder veio alterar de uma forma radical a maneira como a Europa vê as sociedades que dela fazem parte, de forma particular permitiu a abertura do conceito de cultura e que não se desse uma perda de costumes e tradições que atualmente para nós é maneira que identificamos certos locais. Através desta reviravolta de pensamento, passou-se a entender todos os humanos enquanto seres com sensibilidades únicas, criadores livres, capazes de experiências individuais, o que com no Iluminismo era de certa forma censurado. O estimulo às sociedades individualizadas e o rompimento com uma cultura tipica e programada, deu aos seres humanos uma liberdade de expressão que não era permitida em classe nenhuma. Herder estará para sempre associado à valorização dos costumes e práticas culturais que constituem as sociedades.

Bibliografia

Cuche, Denys (1999) A noção de cultura nas ciências sociais, Lisboa, pp. 31-37; Berlin, Isaiah (1999) "Herder e o Iluminismo", in A Apoteose da Vontade Romântica, Lisboa, PP. 176-190; Whitton, Brian J. (1988)Crítica Herderiana sobre o Iluminismo: Comunidade Cultural vs Racionalismo Cosmopolita, História e Teoria, Vol. 27, N° 2 , pp. 146-168;

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