ENSAIOS - Interdisciplinaridades e Pesquisa Científica em Sala de Aula

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Ensaios Interdisciplinaridades e Pesquisas Científicas em Sala de Aula

Ensino para além da Escola A educação que se quer para o século XXI

Claudio de Musacchio

© by Cláudio de Musacchio Direitos autorais reservados Revisão: do autor Editoração eletrônica e capa: Rafael Porto e Priscila Garcia Arquivo digitado e corrigido pelo autor, com revisão final do mesmo, autorizando a impressão da obra Editor: Rossyr Berny Contato com o autor: [email protected] Para conhecer mais autores da Alcance acesse: www.youtube.com e procure por Editora Alcance

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

M985e Musacchio, Claudio de. Ensaios : interdisciplinaridades e pesquisas científicas em sala de aula / Claudio de Musacchio ; [ilutrado por] Rubens Renato Abreu. – Porto Alegre : Alcance, 2012. 254p. ; 16 x 23 cm

I. Título.

1. Educação. 2. Ensino. 3. Interdisciplinaridade. 4. Pesquisa científica. CDU: 37.01 CDD: 370.1 Bibliotecária: Simone da Rocha Bittencourt – 10/1171

ISBN: 978-85-7592-229-3

Editora Alcance - Rua Bororó, 5 - CEP 91.900-540 - Vila Assunção Porto Alegre/RS - Fone/Fax: (51) 3307 0221 / 3307 0233 www.editoraalcance.com.br - [email protected] Contatos MSN: [email protected] - Skype: editora.alcance

Ensaios Interdisciplinaridades e Pesquisas Científicas em Sala de Aula Ensino para além da Escola A educação que se quer para o século XXI

A interdisciplinaridade consiste em trabalho de equipe, colaborativo, e este, parece ser o grande desafio de nossos tempos. Não aprendemos a trabalhar de forma integrada, privilegiando o pensamento coletivo. Temos que evoluir no método. As disciplinas que estão fragmentadas num modelo hiper-especialista de estudar os fenômenos naturais; o docente também é fragmentado em seus “cercadinhos” epistemológicos. Temos que evoluir na capacitação e habilidade das praxiologias docentes para posturas interdisciplinares e transdisciplinares.

Cláudio de Musacchio

Apresentação Os Ensaios consistem de uma coletânea de artigos escritos para sensibilizar gestores de escolas e professores de todas as áreas de conhecimento para as questões da Interdisciplinaridade como metodologia a ser adotada na escola e os construtos epistemológicos que evidenciem uma postura voltada a comprovação científica dos fenômenos estudados e observados. Apesar de surgir na década de 60, incentivada pela nova ordem que se estabelecia, aproximando o conhecimento com as necessidades do trabalho, e da primazia pela especialização, patrocinada pelos avanços tecnológicos e industriais, a interdisciplinaridade, timidamente, foi pouco a pouco, sendo inserida em contextos universitários, ligando os conhecimentos específicos de graduação. No ensino superior, a interdisciplinaridade promoveu, em alguns casos, o nascimento de novas ciências, de tal ordem e força que as análises dos contornos das disciplinadas em discussão não conseguiram retornar aos seus pontos epistemológicos e pedagógicos de origem, originando em novas disciplinas. Isto ocorreu com as disciplinas de biologia e química, surgindo à bioquímica, biologia e mecânica, surgindo à biomecânica, só para citar algumas. Não significa que a interdisciplinaridade promova necessariamente saberes plurais, a ponto de gerar novas subdivisões curriculares. As concepções construídas dos saberes específicos podem gerar discussões nos contornos das ciências, gerando perguntas e respostas que não podem ser respondidas pelas ciências em separado, originando assim, o nascimento de novas epistemologias e pedagogias. Quando isso ocorre, uma nova disciplina surge no cenário dos saberes. Mas isso nem sempre ocorre, na maioria das vezes, a interdisciplinaridade ora aborda uma ciência, ora aborda outra ciência, e as discussões recebem contribuições de ambos os lados científicos, de muito enriquecimento e construção para todos os participantes. Entretanto, na contramão do conhecimento disciplinar, especializado, fragmentado, direcionado a uma restrita direção, a interdisciplinaridade nos propõe a retomada do conhecimento, observando o cenário das disciplinas através dos contornos que as dividem, unindo-as na discussão e na reflexão e reconsiderando o viés epistemológico e pedagógico dos saberes distintos. O epistemológico enquanto atividade de investigação de uma disciplina, e o pedagógico enquanto atividade de ensino de uma área da ciência. Cláudio de Musacchio

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Sendo assim, a ação interdisciplinar que se busca não é simplesmente a contribuição especializada de cada área de conhecimento, mas a compreensão de uma proposta que busca superar o olhar multi e pluridisciplinar, sugerindo o estabelecimento de múltiplas compreensões dos fenômenos observados, através do que é inter e transdisciplinar, conseguindo-se realizar uma análise multidimensional dos objetos estudados, estabelecendo-se os fundamentos de totalidade do conhecimento. A visão além do alcance disciplinar das ciências. Os ensaios desta obra possuem este propósito e este viés, que é o de levar aos professores do ensino básico, fundamental e médio, a possibilidade de se instalar a interdisciplinaridade através da criação de oficinas extraclasses, onde as crianças dos três ensinos possam exercitar momentos interdisciplinares, desenvolver pesquisas científicas em sala de aula, e envolver-se coordenadamente no sentido de trabalharem em equipe com as várias disciplinas. Divididas em núcleos, os ensaios sugerem alguns temas para serem trabalhados, ao mesmo tempo em que oportuniza ações que podem ser desenvolvidas à luz da ciência científica, baseada nos experimentos, utilizandose de objetos do cotidiano para entender os fenômenos observáveis. Ao mesmo tempo em que discute as intenções da interdisciplinaridade, construindo seu entendimento e embasamento teórico-filosófico, também capacita e habilita os professores para a implantação de momentos interdisciplinares, privilegiando metodologias de embate e discussões, ao invés de exposições passivas dos conteúdos. Ao contrário do que muita gente imagina, a interdisciplinaridade é exercida quando dois ou mais professores, presentes em sala de aula, discutem temas comuns, sempre com a intervenção dos alunos para questionamentos ocasionais, ricas e imprescindíveis. Um professor, dominando várias ciências, não promove a interdisciplinaridade, mas contribui, fundamentalmente, para que ele entenda como interagir com outros professores presencialmente. O grande desafio, portanto, daqui para frente, é oportunizar os professores, uma aprendizagem que inclua a interdisciplinaridade, que se pratique a interdisciplinaridade em seus cursos de formação docente. E para os professores experientes, que já exercem a docência, e quiserem incluir esta metodologia em sua praxiologia, devem se inserir nessas discussões, promovendo em sala de aula a discussão de seus temas curriculares, envolvendo dois ou mais professores, e permitindo que os atores: professores e alunos, participem desse processo de construção de conhecimento, transformando o ambiente escolar num grande laboratório de saberes, que se ajudam mutuamente. 8

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Aos gestores de escolas, o desafio da interdisciplinaridade, consiste em oportunizar ações como oficinas, eventos culturais, seminários, palestras, workshops, feiras, congressos e aulas especiais, efetuando pesquisas científicas e discutindo temas e fenômenos com a opinião de diferentes disciplinas. O papel dos gestores vai além das questões burocráticas, abrange também gestão de processos de planejamento e implementação do PPP (projeto político pedagógico) e das propostas curriculares. Também recaí sobre o gestor da escola a melhoria e inovação da qualidade escolar. Sendo o gestor um catalisador, deve prever as possíveis soluções, e incentivador de transformações, inspirando os professores que estimulem, orientem e criem novos paradigmas e metodologias na relação ensino-aprendizagem. Compreender as ações propostas neste livro é nosso principal objetivo e as proposições aqui colocadas de maneira alguma encerram o assunto, pelo contrário, sugerem que estas ideias e sugestões sejam o início de um trabalho e metodologia que deve ser, dia após dia, investigada, aprimorada, consultada e publicada nos veículos específicos, para que mais professores conheçam suas implicações, dificuldades e sucessos das experiências vivenciadas na escola. Se numa perspectiva, a escola, através das suas oficinas, pode oportunizar e praticar a interdisciplinaridade, através de atividades práticas e científicas, numa abordagem mais profunda, já em sala de aula, e tendo os professores compreendidos à intencionalidade da ação interdisciplinar dos encontros, os temas podem aproximar as disciplinas, descobrindo novos vieses sobre as ciências. A multiplicidade de formações e capacitações que cada professor traz consigo, suas habilidades e qualidades, atitudes e aprendizagens técnicocientíficas, didático-pedagógicas, propiciam uma diversidade de perspectivas em suas praxiologias docentes, que permitem momentos de muita ludicidade, aprendizagem e construção de conhecimento. Além dos aspectos positivos da união e do encontro dos saberes em sala de aula, a riqueza das experiências dos professores e suas histórias de vida e o interesse dos alunos por temáticas transversais, propiciam momento de incrível troca, colaboração e interação. O primeiro passo para um professor interdisciplinar é aceitar-se eterno aprendiz, entender que é parte de um projeto maior, parte de uma ciência integradora que luta para compreender-se em sua totalidade. Depois, promover a interdisciplinaridade criando projetos com outros professores para explicar os fenômenos estudados nas duas ou mais disciplinas envolvidas no projeto escolhido. Em seguida, experimentar a interação com os alunos, promovendo Cláudio de Musacchio

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o debate sobre o assunto escolhido, abordando ora uma disciplina, ora outra, e ainda, no contorno das duas disciplinas, onde os temas se misturam e se convergem. E, finalmente, ver com os próprios olhos, os resultados das interações, das colaborações, das perguntas realizadas pelos alunos e das respostas dos professores. As estratégias de ensino e aprendizagem que se experimentam em tais metodologias são transformadoras, revolucionárias, e desconcertam os atuais dogmas institucionalizados da educação, promovendo impactos profundos entre o pensamento e a ação, entre a teoria e a prática, é um novo paradigma, é uma nova capacitação e habilidade ao se produzir ciência, de refletir sobre os objetivos da educação que se deseja para o século XXI que se inicia e sobre a forma como as sociedades contemporâneas se organizarão para compreender essas mudanças. Espero que a leitura desses ensaios permita a reflexão sobre suas praxiologias e sua didática. Independente das amarras legislativas e institucionais das escolas, professores e alunos, devem superar as dificuldades e promover os a interdisciplinaridade e incentivar os projetos de pesquisas que levem a experiências cientificas em sala de aula.

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Agradecimentos Primeiro eu quero agradecer a todas as pessoas que de uma maneira ou de outra contribuíram para permitir a impressão desta obra. É sempre uma caminhada apaixonante até chegar a sua publicação. E outra caminhada, é o da divulgação, dos contatos, da participação dos congressos e feiras para levar esta ideia a todo lugar. Quero agradecer imensamente a todos os profissionais que trabalharam na orientação e na produção deste livro. Aos colaboradores e professores que nos auxiliam, nos incentivam, e nos colocam o tempo todo em contato com o nosso senso crítico para que possamos adornar com beleza plástica, os ensinamentos para uma vida repleta de novas aventuras aonde as letras e as palavras como notas musicais, vão pouco a pouco entoando a música do saber. Quero agradecer imensamente ao Professor e amigo Zaro que além de meu orientador no doutorado, é um grande amigo e parceiro nesta caminhada. Ao professor e amigo Fernando Schnaid, que juntamente com o professor Zaro, oportunizaram o projeto de pesquisa intitulado Paidéia, que busca incentivar o ensino experimental nos ensino básico, fundamental e médio. Quero agradecer especialmente a minha esposa Maria de Los Angeles, a quem muitas vezes, negligenciei uma atenção maior e cuidados, aos meus sogros Carmem e Victório, que torcem pelo meu sucesso, aos amigos que conhecem meu trabalho e vêem minha preocupação diária com a qualidade do nosso ensino e da nossa aprendizagem. E finalmente, agradecer a vida que levei até aqui, todas as conexões, contribuições, colaborações, cooperações, interações, sabores, dissabores, encontros e desencontros, aprendendo com as pessoas que elevam a nossa estima e reconhecendo àquelas que precisamos evitar, e muitos momentos de recomeço da vida atribulada, mas sempre na constante dose diária de aprendizagem que não se cansa de me surpreender e me fazer feliz. Cláudio de Musacchio

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Prefácio A proposta dessa obra se constitui em conhecer algumas questões relacionadas às práticas pedagógicas interdisciplinares, e como essas práticas se estabelecem numa dimensão institucional privilegiada essencialmente pelo regime curricular e disciplinar. Também procura discutir em que contexto didático elas podem acontecer, como elas se configuram na praxiologia docente, como é possível ouvir duas ou mais disciplinas em sala de aula auxiliando o processo de ensino-aprendizagem, e os primeiros passos que podem ser dados, sem se constituir em profundas mudanças institucionais ou econômicofinanceiras, embora estas abordagens devam ser consideradas num segundo momento. A introdução de oficinas como forma de se atingir os objetivos propostos foi à maneira encontrada para mostrar aos alunos e professores como atuar em ambientes interdisciplinares, mesmo levando-se em consideração que as oficinas são, por natureza, interdisciplinares. Os ensaios foram criados para sensibilizar professores e alunos do Projeto Paidéia. Este projeto é uma iniciativa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em parceria com o Colégio Israelita Brasileiro, que servirá de laboratório de neuroeducação, para experimentações nas pesquisas que se pretende desenvolver e a implantação de metodologias e ações interdisciplinares. Aproveitaram-se as oficinas já existentes no Colégio para introduzir os conceitos e metodologias abordadas acima. As oficinas foram agrupadas por núcleos distintos: núcleo de ciência e tecnologia, núcleo educacional de empreendedores, núcleo de cultura e erudição, núcleo de produção musical. Das oficinas existentes escolhemos doze, cujos temas pudessem ser mais bem trabalhados os conceitos interdisciplinares e as questões de experimentação científica em sala de aula. Em cada uma das oficinas, escolhemos dois momentos interdisciplinares, envolvendo dois ou mais professores: uma atividade no início da oficina e outra no final das aulas. Alunos e professores deverão construir um projeto de pesquisa envolvendo a interdisciplinaridade e a experimentação científica em sala de aula. No final todos darão seus depoimentos sobre a metodologia aplicada, resultados dos experimentos apurados e a construção de um artigo científico a ser publicado em periódicos respectivos aos assuntos construídos. Cláudio de Musacchio

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Neste livro foi descrito um ensaio para cada oficina, dissertando sobre o tema proposto em cada uma delas, as epistemologias e pedagogias próprias, os conceitos devidamente esclarecidos, a questão da aplicação da interdisciplinaridade relativa ao tema estudado e a metodologia referente à experiência científica em sala de aula. A análise dos resultados será publicada no segundo semestre de 2012, juntamente com os pareceres dos alunos, professores, gestão e pais. Queremos que toda a escola participe do projeto Paidéia que buscará na essência discutir metodologias e práticas pedagógicas que contemplem um ensino para além da escola e uma educação para toda a vida. Estes resultados serão publicados no segundo volume de ensaios, com os respectivos resultados das pesquisas científicas realizados em sala de aula, os aspectos da interdisciplinaridade e a análise do projeto geral. O importante ressaltar no final do projeto é como os professores se sentiram diante das experiências de interdisciplinaridade?, como foram as trocas docentes diante dos alunos?, como os alunos se sentiram recebendo enfoques e epistemologias diferentes sobre os temas estudados?, e as experiências científicas em sala de aula, trouxeram mais luz aos entendimentos? Estas e outras questões terão respostas no final das oficinas e dos projetos de pesquisa escolhidos. Também serão publicados os dados sobre as oficinas escolhidas para o segundo semestre, bem como os projetos de pesquisas para cada uma delas, gerando artigos no formato ensaios. Todos os artigos científicos gerados das pesquisas científicas em sala de aula e dos momentos interdisciplinares serão publicados no periódico intitulado Revista Paidéia, pela Editora Alcance, de publicação semestral, prevista para agosto e janeiro. Os trabalhos também serão publicados em feiras e congressos nacionais e internacionais mostrando aos demais grupos de estudos destas metodologias à experiência vivenciada.

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Sumário Apresentação..........................................................................................7 Agradecimentos...................................................................................11 Prefácio................................................................................................13 Ensaios.................................................................................................17 Interdisciplinaridade: Discurso ou Praxiologia Docente.................... 23 A Interdisciplinaridade na Contemporaneidade: novos paradigmas para a praxiologia docente.................................... 39 Interdisciplinaridade: avanços e desafios.............................................57 NÚCLEO CIÊNCIA & TECNOLOGIA..............................................73 Educando com a Astronomia...............................................................73 O uso da fotografia nos projetos pedagógicos da escola......................87 Noções de eletrônica Básica na escola.................................................99 NÚCLEO EDUCACIONAL DE EMPREENDEDORES.................111 Educação Empreendedora nas Escolas..............................................112 Noções de educação ambiental e alimentar.......................................127 Projetos de Educação Ambiental.......................................................147 NÚCLEO CULTURA E ERUDIÇÃO...............................................163 Mídias na Educação: histórias em quadrinhos...................................164 Mídias na Educação: contador de histórias........................................179 Mídias na Educação: ênfase em áudios e vídeos...............................191 Produzindo brinquedos pedagógicos.................................................215 NÚCLEO PRODUÇÃO MUSICAL.................................................235 Educação e Produção Musical...........................................................236

Cláudio de Musacchio

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Ensaios A série Ensaios sobre a Interdisciplinaridade e pesquisa científica em sala de aula é o primeiro movimento nesta intrincada multiplicidade de aspectos e abordagens educacionais que se almeja para o século XXI. O atual regime educacional regido pela égide do sistema disciplinar, contempla um espectro de pouca ou quase nenhuma interação entre as diferentes áreas do saber. E para tentar diminuir ou trabalhar com as distâncias existentes é que se busca nestas duas metodologias a busca por uma educação escolar mais hegemonicamente linear, tentando compreender as dicotomias promovidas pela separação e especialização do conhecimento ao longo da História. Nesta primeira abordagem em ambiente escolar, fruto da parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Colégio Israelita Brasileiro, ambos de Porto Alegre - RS, e através do Programa de doutoramento Informática na Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na linha de pesquisa intitulada Paradigmas para a Pesquisa no Ensino Científico e Tecnológico, com a coordenação dos professores Drs. Milton Antonio Zaro e Fernando Schnaid e do doutorando Cláudio de Musacchio, pretende-se transcrever na forma de ensaios, os diferentes aspectos das possibilidades de implantação da interdisciplinaridade e do uso de pesquisas científicas em sala de aula como metodologia, para se atingir um ensino-aprendizagem que faça maior sentido, tanto para a praxiologia docente, quanto para o aluno. A escolha das experimentações científicas ficaram a cargo dos próprios professores e coordenadores das oficinas escolhidas. A experimentação científica compreende o próprio evento da experimentação e professores convidados de outras áreas de conhecimento para fazerem o embate em sala de aula com os alunos na demonstração efetiva da interdsiciplinaridade. Não se trata, portanto, de demonstrar o que cada disciplina pode contribuir com os projetos de pesquisas escolhidos, mas de colocar os professores numa situação de confrontação colaborativa das distintas Cláudio de Musacchio

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ciências e epistemologias, demonstrando que é possível e necessária a troca, osdiferentes enfoques, e, principalmente, as contribuições vindas das áreas de contorno entre as ciências. E o mais importante de toda a implantação de novas metodologias e paradigmas na escola é a participação ativa da gestão institucional da escola, dos seus diretores, das mantenedoras, sem a qual, qualquer vontade de mudança, fica reduzida ao nível da discussão e reflexão. Também é importante salientar que as Novas Diretrizes e Bases da Educação permite tais implementações e cita nos Parâmetros Curriculares Nacionais, em diferentes temas transversais, o uso intensificado da interdisciplinaridade como meta para corrigir as distorções oriundas da educação e do ensino fragmentado. Nesta primeira abordagem, as aplicações da interdisciplinaridade e das pesquisas científicas serão realizadas numa série de oficinas já existentes na escola e posteriormente aplicações nas salas de aula do currículo normal. Para o procedimento inicial foram escolhidas doze oficinas espalhadas por quatro núcleos distintos: núcleo de ciência e & tecnologia, núcleo educacional de empreendedores, núcleo de cultura e erudição e núcleo de produção musical. O Colégio possui hoje mais de 60 oficinas funcionando regularmente. Para o segundo semestre serão escolhidas outras doze oficinas para serem trabalhadas e assim por diante. Dentro das oficinas escolhidas, algumas atividades foram transformadas em pesquisas científicas a serem realizadas durante o transcurso do primeiro semestre de 2012. Cada experiência científica terá um projeto de pesquisa, texto técnico e produção através de um artigo científico que será publicado num periódico e posteriormente em revistas científicas especializadas, conforme as áreas de conhecimento. Para cada oficina foi criado um artigo do tipo ensaio, para promover as primeiras discussões a respeito da metodologia de interdisciplinaridade a ser inserida na oficina e questões sobre a experimentação científica em sala de aula. Os ensaios escolhidos por núcleo de oficinas são: 18

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Núcleo de Ciência e Tecnologia Astronomia I e II

6ª, 7ª e 8ª série

Ensaio de Astronomia

Fotografia

8ª série e 1ª série

Ensaio de Fotografia

Eletrônica Básica

8ª série e 1ª série

Ensaio de Eletrônica Básica

Núcleo Educacional de Empreendedores Empreendedorismo

2ª ano

Produção de Horta

1ª ano

Patrulha Ecológica

-

Ensaio Aprendendo a Empreender Ensaio Educação Ambiental e Alimentar Ensaio Projetos de educação ambiental

Núcleo de Cultura e Erudição Histórias em Quadrinhos Contadores de Histórias Áudios e Vídeos Brinquedos Pedagógicos

8ª e 1ª séries 7ª série 6ª série 1ª e 2ª séries

Ensaio Mídias Alternativas Ensaio Contadores de Estórias Ensaio Mídias na Educação Ensaio Produção de Brinquedos

Núcleo de Produção Musical Educação e Produção Musical

Todas as séries

Ensaio - Educação e Produção Musical Cláudio de Musacchio

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A questão da aplicação da interdisciplinaridade como metodologia na escola ainda, passa nos dias de hoje, por uma nuvem de mistério quanto as suas reais possibilidades e resultados efetivos. Dependendo mais da postura dos professores e da gestão da escola em implantar novas metodologias que contemplem soluções que possam melhorar a formação dos indivíduos para a vida, para o mercado de trabalho e para a cidadania. Alguns centros de estudos já estão utilizando a interdisciplinaridade em seu fazer diário. Os eventos científicos e as produções científicas em sala de aula têm parcialmente enveredado para atividades que contemplem ações interdisciplinares que apesar de não estarem no ementário dos currículos, já experimentam o embate entre diferentes áreas do conhecimento na busca de respostas às suas indagações aos projetos de pesquisas. As oficinas se configuram num ambiente bastante propício para a prática da interdisciplinaridade por serem consideradas atividades livres. E podem introduzir os professores nesta modalidade dando-lhes a experiência necessária para levar este conhecimento e experiência para sala de aula. Os alunos se inscrevem expontaneamente e participam ativamente de todos os desafios e atividades propostase, que agora, podem aprender também as metodologias interdisciplinares com dois ou mais professores e projetos de pesquisas envolvendo experiências científicas. Nesta configuração, o Projeto Paidéia pretende implantar na escola o uso efetivo da interdisciplinaridade como metodologia para integrar as disciplinas, os professores e os currículos, tornando a produção de conhecimentos menos complexa, a aprendizagem mais significativa e o ensino menos fragmentado. Para isso, será implantado nas oficinas o forte conceito da interdisciplinaridade e da metodologia alternativa de experimentação científica, envolvendo mais de uma disciplina para demonstrar os conceitos, os conteúdos, promover discussões, visões diferentes, e discursos que se locupletem. Aos alunos será dado papel importante nesta movimentação, já que eles são os protagonistas do projeto de pesquisa. São eles que irão participar de todas as etapas e atividades para compreender não só os conteúdos abordados do tema da oficina, mas também da metodologia empregada, mostrando que o modelo interdisciplinar de educação busca a inter-relação com todas as áreas do saber, fortalece a interação necessária entre objetos e sujeitos promovendo maior ação e construção do conhecimento. Concomitante ao movimento do Projeto Paidéia se pretende também avaliar o papel do docente nesta transformação educacional onde os conceitos 20

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epistemológicos e pedagógicos estarão sendo direcionados para a conexão necessária que deve existir entre as ciências, possibilitando que todos os atores envolvidos entendam as transformações que se estabelecem nos novos paradigmas para um ensino muito além da escola e uma educação para toda a vida. Ferramenta EAD auxiliando o Projeto Paidéia O Projeto Paidéia contará com o apoio didático-pedagógico de uma ferramenta EAD fornecida pelo PORTAL EAD BRASIL. Os professores receberão uma página na Internet onde poderão administrar e controlar as participações nas oficinas. A ferramenta possui os seguintes recursos: 1.    Conteúdo programático (contendo textos e figuras) 2.    Arquivos adicionais (Word, Excel, PowerPoint, PDF, e outros) 3.    Mídias de Áudios e Vídeos 4.    Fóruns de Debates 5.    Glossário de Termos Técnicos (criados pelos próprios alunos) 6.    Chats (momentos síncronos) 7.    Mensagens entre Alunos 8.    Exemplos auxiliando os Textos 9.    Exercícios (banco de questões) 10.  Testes (banco de questões)   A ferramenta possui gestão para controle e administração do aprendizado e do registro de todas as atividades propostas. A ferramenta será utilizada para que os alunos possam gerar as informações necessárias ao projeto na modalidade à distância, bastando para isso acessar a Internet pelo computador. A interatividade e colaboração existente na ferramenta EAD será amplamente utilizada através de atividades nos chats e mensagens entre alunos, e nas construções coletivas dos recursos de fóruns e do glossário, construídos pelos próprios alunos. A ferramenta poderá ser utilizada em sala de aula como livro-texto, banco de exercícios e testes, link para pesquisa e trabalhos extraclasse, atividades para discussão entre os alunos. As experiências científicas realizadas em sala de aula serão disponibilizadas para as demais escolas que comporão o Projeto Paidéia. As transmissões poderão ser ao vivo, ou on demand, e a listagem das experiências gravadas ficarão a disposição dos alunos e professores no site do PORTAL EAD BRASIL. Cláudio de Musacchio

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Professores e alunos terão acesso à página através de senhas de identificação. Todos os formulários do projeto estarão disponíveis na página e deverão ser preenchidos em determinados momentos. Toda a literatura (livros, artigos, relatórios, textos técnicos e artigos produzidos pelos alunos estarão disponíveis na página conforme as oficinas trabalhadas. O acesso à página poderá ser conseguido através dos endereços:

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias na Educação

Programa de Pós Graduação em Informática na Educação

www.cinted.ufrgs.br

www.pgie.ufrgs.br

www.ufrgs.br

PORTAL EAD BRASIL Educação Corporativa

COLÉGIO ISRAELITA BRASILEIRO PORTO ALEGRE-RS

http://www.colegioisraelita.com.br

http://www.portaleadbrasil.com.br/

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Interdisciplinaridade: Discurso ou Praxiologia Docente Resumo O presente ensaio objetiva discutir os conceitos da interdisciplinaridade e sua complexidade e seus aspectos enquanto discurso e praxiologia docente. Em sua primeira análise percorre a trajetória da noção de disciplinaridade, segundo referencial epistemológico, cartesiano, e suas estruturas paradigmáticas em sua concepção unidisciplinar. Percorrendo em seguida pelas epistemologias hibridas e mestiças das novas ciências, e por último uma consideração a cerca dos projetos metodológicos e pedagógicos da docência segundo seus dois principais atores: docente e aluno. Finalmente, apresenta uma síntese da evolução necessária das ciências incluindo em seus construtos epistemológicos à existência de proposições que se configuram como interdisciplinaridade e transdisciplinaridade e como arcabouço de novos paradigmas que se desenham nos cenários educacionais e histórico-sociais.

Palavras-chave Interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, teoria da complexidade, praxiologias docentes, novas ciências, novas docências.

Interdisciplinarity: Speech Teacher or Praxiology Abstract This paper discusses the concepts of interdisciplinarity and its complexity and its aspects as a discourse and praxiology teacher. In its first analysis examines the trajectory of the concept of disciplinarity, the second epistemological framework, Cartesian, and its paradigmatic structures in their design unidisciplinary. Traveling by then crossbred and hybrid epistemologies of the new sciences, and finally a consideration of some methodological and pedagogical projects of teaching according to its two main actors: teachers and students. Finally, we present a synthesis of the necessary evolution of the sciences in their epistemological constructs including the existence Cláudio de Musacchio

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of propositions that constitute the interdisciplinary and transdisciplinary framework and how new paradigms are emerging in educational settings and history-social.

Key words Interdisciplinarity, transdisciplinarity, complexity theory, praxiologias teachers, new science, new docências.

Resumen Este artículo discute los conceptos de interdisciplinariedad y de su complejidad y sus aspectos como un discurso y el maestro praxiología. En su primer análisis se examina la trayectoria del concepto de interdisciplinariedad, el marco epistemológico en segundo lugar, cartesiano, y sus estructuras paradigmáticas en su diseño unidisciplinario. Viajar en epistemologías continuación mestizos e híbridos de las nuevas ciencias, y, finalmente, la consideración de algunos proyectos metodológicos y pedagógicos de la enseñanza de acuerdo con sus dos actores principales: profesores y estudiantes. Finalmente, presentamos una síntesis de la evolución necesaria de las ciencias en sus constructos epistemológicos, incluyendo la existencia de proposiciones que constituyen el marco interdisciplinar y transdisciplinar, y cómo los nuevos paradigmas están emergiendo en los centros educativos y sociales-la historia.

Palavras clave La interdisciplinariedad, transdisciplinariedad, la teoría de la complejidad, los maestros praxiologias, nueva ciencia, docências nuevos.

Introdução “A capacitação e o desenvolvimento das habilidades para a docência que se espera na educação contemporânea, se constitui necessariamente em praxiologias docentes que contemplem a interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade e a atitude de eternos aprendizes.“ 24

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Circundam nos meios acadêmicos, pesquisas e trabalhos de teóricos e educadores, articulações e discussões sobre as tendências epistemológicas e metodológicas como alternância a uma educação que se faz necessária para o século XXI. Nestas possíveis aplicações, embora ainda não se tenha uma métrica padrão estabelecida, a questão da interdisciplinaridade, bem como da transdisciplinaridade, tem promovido debates e questionamentos se estes paradigmas seriam considerados novos paradigmas ou possíveis retomadas às categorias epistemológicas existentes desde o início dos séculos a.C., quando Platão, Sócrates e seus discípulos detinham os conhecimentos abrangentes sobre as ciências, muito antes de o modelo cartesiano ser implantado nos meios educacionais. Se o uso de tais metodologias ou epistemologias numa perspectiva teórica da complexidade sugere um movimento convergente para que se faça uma revisão sistemática das propostas de produção do conhecimento como alternativas ao paradigma dominante, dicotomizado, cartesiano, hiperespecializado, também sugere que estas discussões saiam do conforto do discurso pragmático e se embale no dorso altivo da praxiologia docente, para então se começar a vislumbrar matizes dessa educação que se vislumbra para o século XXI. Soethe (2003) Muitos pensadores, discutindo a teoria da complexidade, movendo-se em direção a interdisciplinar visão contemporânea da interpretação dos fenômenos observáveis, têm promovido um movimento científico que privilegia, senão o nascimento de novos paradigmas, pelo menos, a retomada de velhos ideais não lineares de se fazer ciência. Entre os teóricos, Edgar Morin (pensamento complexo e os sete saberes necessários à educação do futuro), Edward Norton Lorenz(1917-2008) (efeito borboleta), Ilya Prigogine (1917-2003) (teoria das estruturas dissipativas), Karl Ludwig Von Bertalanffy (1901-1972) (teoria geral dos sistemas), unanimemente acreditavam que o todo seria maior que a soma das partes, isto é, que uma visão interdisciplinar de se fazer ciência levaria o Homem a reconhecer qualidades, que não são vistas na composição da visão disciplinar e unilateral de cada ciência. Estes pensamentos vêm articulando sistematicamente alternativas para superação das possíveis debilidades do pensamento reducionista disciplinar atuante no ementário educacional contemporâneo, numa clara e verdadeira especialização excessiva, tornando o ensino, segundo Japiassu (1976), uma patologia do saber. Leal (1996) Lorenz (1993). Cláudio de Musacchio

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No cenário nacional, desde a década de 70, se discute as interdisciplinaridades e transdisciplinaridades no contexto do surgimento das novas ciências e nas mudanças de paradigmas educacionais. Alguns expoentes como os trabalhos de Ivani Fazenda (2006), PUC-SP, Hilton Japiassu, PUCRJ, e em Portugal, Olga Pombo, University of Lisbon, deixam bem claro que a discussão está apenas começando, embora alguns frutos já estejam sendo colhidos. Longe ainda de um fractal utilização sistematizada nos meios acadêmicos por metodologias que privilegiem a descentração e a característica relativa do ensino transdisciplinar, cresce nos desejos docentes, a consciência de uma praxiologia baseada na construção de modelos, de fórmulas e soluções que sugerem o uso intensivo do arsenal multifacetado e diversificado das ciências e sua comunhão epistemológica. Nicolescu (2001) Mais e mais cientistas, pesquisadores, professores universitários e docentes dos ensinos básico, fundamental e médio, buscam o estudo dos fenômenos, misturando conceitos, epistemologias, hibridização e mestiçagem de métodos e teorias, ultrapassando as fronteiras dicotômicas disciplinares, para considerar contextos mais totalizantes e globalizantes, num movimento de desinsularização das disciplinas. Mesmo que muitas vezes ocorram incoerências científicas, ambigüidades nos pareceres, é uma prática que se avoluma e se aprofunda dentro de perspectivas epistemológicas transdisciplinares e interdisciplinares e de possíveis práticas pedagógicas capazes de responder aos anseios das hipóteses e questões de pesquisa. Jantsch (1995) Mas o que é discurso e o que é praxiologia docente na implantação de cultura inter ou transdisciplinar nos meios educacionais?

Pensamento científico disciplinar O conceito do que é disciplinar é tão antigo quanto cartesiano, e implicava necessariamente em fragmentar a realidade em segmentos onde a ciência pudesse se tornar objeto de observação científica cada vez mais fragmentada e conseqüentemente o objeto de conhecimento erigido por leis e teorias epistemológicas cada vez mais reduzidas. E este conhecimento racional, sob o ponto de vista da análise e da síntese, segundo Locke (1988), numa simplificação reducionista, conceberia o conhecimento como uma especialização, caminhando contra a ideia da visão totalizadora das ciências. 26

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Desta maneira, a estratégia utilizada pela metodologia baseada fundamentalmente na experiência foi o desenvolvimento paulatino e crescente da noção de especialização, privilegiando a “perfuração vertical” e epistemológica em detrimento da abertura das análises e sínteses mais abrangentes e totalizadoras nos estudos dos fenômenos observáveis. Na contramão do movimento de criação cada vez mais delimitado das ciências, os grandes cientistas, tanto na fase renascentista (Da Vinci), quanto no período iluminista do enciclopedismo (movimento filosófico-cultural que buscava catalogar o conhecimento humano), onde se permitiam formações tão adversas quanto contraditórias como filosofia, física, química, matemática, astronomia, biólogos, artistas plásticos, e até literatos, serviam como exemplo de como os saberes podiam ser vistos como parte de uma totalidade mais ampliada da produção do conhecimento. Silva (2001) Historicamente, a super valorização, no campo científico, de produção em subdivisões da ciência em partições disciplinares, tomou força e velocidade no período mecanicista da história que começou a privilegiar a aprendizagem técnica em detrimento da observação de um fragmento do objeto, tornando o sujeito científico cada vez mais especialista. Muito antes disso, no início dos séculos d.C. na Roma Antiga, a relação entre mestre (magister) e seus discípulos (discipuli), se encaminhava para estabelecer os princípios de uma filosofia de aprendizagem em função de determinar escolas como classificação epistemológica. Sendo assim, os seguidores dos grandes mestres optavam por uma escola filosófica, contida numa ação de aprender, instruir e ensinar, segundo os preceitos de uma corrente epistemológica que evoluiu, distanciando-se uma das outras. No século XIV, com o surgimento das primeiras universidades, sob forte contexto escolástico (religioso), instituíram-se o conceito de disciplina, designada como matéria, que mais tarde se chamaria de ciência. O avanço científico, portanto das ciências foi o modelo epistemológico reducionista cartesiano que passou a tratar ciência como uma corrente específica do pensamento e a observação dos fenômenos reduzidos a um objeto simples. Este reducionismo atravessou toda a fase industrial e cada vez mais, diminuindo cientificamente o foco do objeto de estudo. Colaboraram mais ainda as sucessivas descobertas científicas nos campos das tecnologias e metodologias para um novo paradigma que se instalaria por todo o ocidente – disciplinaridade. Quanto mais especialista for o estudo ou o estudioso, mais credibilidade teria seu trabalho científico. Minayo (1992)

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Sua institucionalização transcorreu sem nenhum trauma paradigmático, até que as proposições de tais especializações começaram a não mais dar conta do objeto observado, necessitando reconhecer que para determinados casos seriam necessárias a prognóstica colaboração de duas ou mais ciências a serviço da análise e da síntese, inda mais se considerar que tudo que está no mundo social-histórico é indissolúvel e entrelaçado com o simbólico. (Castoriadis, 2000) Tudo começou a ser esclarecido, quanto certo, que ciências advindas do hibridismo e da mestiçagem começassem a provocar mudanças em seus enunciados epistemológicos fundamentais, recorrendo aos fundamentos da abordagem analítica. Nesta perspectiva, produzir conhecimento não era mais possível tendo em vista que a fragmentação exposta, cartesiana, disciplinar, não permitiria a composição ou montagem de seus construtos epistemológicos. (Morin, 2003)

Epistemologias híbridas e mestiças Ocorre que, as estratégias utilizadas nos experimentos científicos para análise segundo suas epistemologias não respondiam mais as múltiplas determinações exigidas pelas ciências, necessitando, portanto, de uma alternativa que fosse menos monotemática. É necessário, portanto, avançar e “abrir” as ciências em diálogo, entrelaçando suas epistemologias, seus repertórios de técnicas e procedimentos, que sozinhos não mais dão conta das observações. Cada vez mais se ouve falar em trabalhos de pesquisa interdisciplinar entre pesquisadores com contornos bastante diferenciados e que conseguem dialogar e encontrar aderências no plano científico, o que é bom por um lado, entretanto, por outro, os trabalhos começam a destroçar possibilidade de permanência das disciplinas em seu plano físico, por se tornarem esvaziadas, necessitando obrigatoriamente de uma ampla discussão epistemológica, para reposicionamento das disciplinas menos especializadas e mais abrangentes. Não se trata de unificar ciências, é preciso rever construtos, epistemologias, tratados. Como exemplo pode-se citar as novas disciplinas das ciências que surgem da técnica com a metodologia, da tecnologia com as biociências, e das matemáticas aplicadas às outras ciências como construto de formulações e resoluções matemáticas na busca da demonstração clássica dos enunciados científicos formais. Trata-se de reconhecer em si mesmo e nos outros não só os saberes teóricos, mas os práticos, existenciais. (Sommerman, 2006) 28

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Já estamos a mais de duas décadas, desenvolvendo no campo científico mudanças de configuração na construção de modelos, teorias, fórmulas e conceitos que avançam para as outras necessidades de hibridização e mestiçagem. Segundo Capra (1999), tudo tem uma ligação ecológica ou científica, e não se pode visualizar com olhar clínico de uma só ciência. Como se não bastassem às aplicações das novas nascentes de ciências nos problemas antigos, surgem novos objetos científicos, sociais, de comportamento, que exigem das ciências pareceres igualmente científicos. Como as novas ciências ainda não possuem maturidade para estes estudos, uma discussão sem precedentes estão pulverizando nossas universidades e institutos de pesquisa. Um clássico exemplo dessas discussões é a questão do uso das tecnologias na relação ensino-aprendizagem. Não importa mais estudar os efeitos da tecnologia nesta relação e sim como podemos resolver os problemas práticos da nossa civilização tais como: educação para todos, acesso indiscriminado as tecnologias, preços reduzidos dos equipamentos e programas de computador, mercado de trabalho e acesso irrestrito aos saberes.

Novas ciências, novas docências No cenário entre as mutações das várias ciências ocorrendo em nosso tempo, a preocupação que parece unânime em todos os contextos é, sem dúvida alguma, a questão do domínio dos métodos e das práticas educacionais para utilização das novas ciências que emergem na sociedade e nos meios acadêmicos mais precisamente. As universidades para dar conta dessa relação ensino-aprendizagem submetem os docentes aos constantes cursos de educação continuada, pois que sempre haverá uma nova ideia, técnica ou metodologia para ser apreendida pela docência, em qualquer nível e série analisada. Ocorre que, estando à universidade longe do mercado e, portanto, do objeto de observação, o docente não encontra com facilidade o meio experimental de que necessita para desenvolver seus estudos de pesquisa e recorre, portanto ao conhecimento que os alunos trazem desse mercado. Nas ciências advindas do mercado, necessariamente, elas são supostamente atendidas por profissionais professores deste mesmo mercado. Tais mercados como administração, economia, contabilidade, gestão do conhecimento, ciências da informação, informática, e tantas outras, buscam diminuir o distanciamento existente entre a universidade e o mercado de corporações e Cláudio de Musacchio

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empresas. Os insucessos somados a esse distanciamento são uma das causas prováveis de tanto nascimento de universidades corporativas que encontram nesta possibilidade, diminuir este distanciamento e resolver de vez com a questão da capacitação e formação de seus indivíduos pela via formal, sob o ponto de vista acadêmico. Lück (2000) Noutras ciências, ditas puras como: física, biologia, química, engenharias, educação, sociologia, psicologia, e tantas outras, são por excelência campos do saber que pouco ou quase nada interagem com o mercado, podendo desenvolver seus estudos em laboratórios próprios ou em parcerias com institutos de assuntos correlatos. As áreas mais afetadas pelas mudanças de paradigmas são aquelas que, unidas numa só, buscam refazer seus construtos epistemológicos. As ciências ditas novas, como a biomecânica, eletro-eletrônica, neurociências, psicolingüística, e tantas outras, possuem em suas novas formulações conceitos e categorias epistemológicas próprias e que se articulam entre as ciências das quais se originaram dando novos saberes e exigindo dos professores novas posturas para exercício da docência. Novos conhecimentos demandam novas formações na docência e na programação dos ementários, levando os professores a novas preparações exigidas pelo novo pensamento que compartilha dos campos de saberes das disciplinas originárias. E como tudo está interligado, munido de interatividade, a essência da autopoiese preconizada por Maturana, (2001), demonstra por analogia que somos essencialmente seres sociais e que aprendemos naturalmente uns com os outros, e que se pode alterar a todo o momento não só o conhecimento disciplinado, mas as metodologias pelas quais se produz e constrói este conhecimento. Portanto, novas ciências exigem novas ontologias da realidade. Também nas escolas de ensino básico, fundamental e médio, os professores passam pelas mesmas alterações nos programas e ementários das Secretarias de Ensino. Pressionados pelos programas nacionais advindos da perspectiva enunciada nas novas diretrizes e bases para educação, onde a interdisciplinaridade é vista como um avanço necessário para uma nova compreensão do mundo, os gestores de escolas públicas e privadas se sentem pressionados pelo corpo docente e pelos alunos, a realizarem mudanças drásticas na composição dos saberes para se adequarem a uma nova realidade. Também pressionados pelo alunato que chega à escola com uma avançada tecnologia de informação e comunicação, necessitando compreender os avanços tecnológicos e tentando encontrar razões de inserção desta tecnologia, para que o aluno encontre o sentido de querer aprender 30

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(sensemaking), este professor sente dificuldades inerentes a sua docência, posto que não fora preparado para tais realidades, e se vê, de repente, com duas verdades distintas, alterando seu universo docente: interdisciplinaridade e pesquisa científica em sala de aula. Quanto mais experiências no âmbito educacional, privilegiado pelas circunstâncias tecnológicas que são expostas diariamente, melhor será para o aluno, posto que a vivência às ocorrências fenomenológicas científicas ocorridas no espaço educacional permitirá responder inúmeros questionamentos, que de outra maneira, teórica, não seriam possíveis, ou levariam tempo demais. Certo disso, o docente, ao oportunizar tais ambientes de experimentação também se vê em situações novas, onde precisará de integração de distintos campos disciplinares, para responder as necessidades de pesquisa. Desta forma, os docentes, devem se colocar a disposição, na forma interdisciplinar, de oferecer seus conhecimentos e campos epistemológicos a serviço das explicações exigidas pelas ciências envolvidas. Surge neste contexto ambiental escolar o desejo de toda a comunidade de professores, profundas reformulações que os habilitem a recomporem seus redutos epistemológicos, em detrimento de uma nova ordem, que privilegie uma aprendizagem mais autêntica, expoente, significativa (Ausubel, 2003), rico em questionamentos, baseada na pesquisa feita pelo aluno, que já tem o domínio da tecnologia e que precisa encontrar uma utilização mais eficaz para os propósitos educacionais. Os gestores de escolas e universidades possuem o desafio da mobilização de suas equipes para vivenciar as mudanças que precisam ocorrer, frente à prevalência, no âmbito escolar, de superações reducionistas que fragmentam a realidade e engessam as ciências. Mas para lidar com essas contradições, é preciso o apoio do olhar da complexidade sobre a escola, posto que a gestão precise lidar com níveis de imprevisibilidade e incertezas, mas que encontra no seu corpo docente o apoio e a estrutura adequada para a transição ou transposição das práticas pedagógicas vigentes para metodologias dialógicas em que alunos e professores encontrem em si mesmos as produções e construções do conhecimento de ambos, e que em suas novas abordagens vislumbrem a competência como cenário possível para as mudanças paradigmáticas possíveis. (Perrenoud, 2000) Mas como os professores e pais vêem, hoje em dia, esta nova vertente do ensino-aprendizagem que privilegia o estudo dos fenômenos observáveis, baseado mais na experimentação do que na argumentação teórica ou dialética? Cláudio de Musacchio

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Esta é uma questão que ainda não sabemos quais são suas implicações mais a frente. O que se pode afirmar, contudo, é que alguns sintomas de melhoria começam a se vislumbrar, quando se analisam os resultados dos alunos que tiveram estes enunciados na educação. Escolas que já implantaram este modelo educacional se vangloriam dos resultados dos seus alunos nas entradas das universidades, com índices bastante representativos de aprovação. Certo ou errado, quanto à metodologia ou objetivos, é que a quebra dos paradigmas advindos da necessidade de se ver o mundo com olhos mais totalizantes e menos especialistas, impulsionadas pelas próprias necessidades oriundas das ciências, que migrando para situações menos especialistas e cartesianas, juntam-se às alternativas de campos disciplinares que se somam para construírem um novo saber ou visão mais sistêmica da observação e produção de conhecimento. Segundo Morin (2003), os níveis de complexidade das sociedades contemporâneas necessitam de estudos inter-poli-transdisciplinares para resultar em análises satisfatórias de tais complexidades.

Geração Y, X, Z, e a aprendizagem Paralelamente aos paradigmas dos docentes a serem superados quanto a sua formação, por estarem vivenciado transições e mudanças praxiológicas, também os alunos enfrentam seus receios quanto à enorme variedade de possibilidades e inter-relações que são vivenciadas desde cedo. Estes medos diante das tecnologias, não estão ligados ao uso que eles fazem da mesma, visto que são naturalmente digitais, e apelidados de “nativos digitais”, ou geração X, Y, e mais recentemente Z. Senge (1994) Os nascidos na década de 80 e 90 possuem características de uma época de grandes transformações sociais, políticas, econômicas e científicas, principalmente, àquelas ligadas às tecnologias. São extremamente exigentes, cresceram numa sociedade de disputa, de carreira, de certo egoísmo frenético, são pacifistas, por natureza, embora seus passatempos prediletos sejam os jogos de guerra, são consumistas de tecnologias, cuidam de suas carreiras desde cedo, estudam com mais naturalidade e continuam estudando mesmo após a universidade. Possuem forte conceito de educação continuada. Para eles a educação à distância não é um mistério a ser desvendado, mas uma metodologia que precisa ser menos evasiva, mais criativa e menos ortodoxa. Nós que estamos passando pela transição é que costumamos a complicar seus 32

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mecanismos e entendimentos. E se existe algo de novo que possa surgir “é através das crianças que o novo virá, são eles que trarão as respostas que não encontramos”, (D’Ambrósio, 1998). Entendem facilmente a interdisciplinaridade pelas próprias posturas que praticaram diante das correlações de ciências, das vivências em comunidades sociais, das experiências com amizades virtuais. As experiências científicas em sala de aula são vistas como interessantes, educativas, e producentes. Mas os modelos de avaliação que cobram esta construção de conhecimento ainda são retrógrados, antiquados e poucos traduzem os níveis de aprendizagem que os alunos obtiveram. Encontrar razões que levem os alunos a se interessarem pela pesquisa científica e pela aprendizagem significativa é o grande desafio docente de nossa era. Não se trata de metodologias, técnicas ou práticas pedagógicas e sim de posturas docentes diante da praticidade do saber e da praxiologia tão necessária ao aprendizado. Os alunos vêem de uma cultura onde tudo é explicado na forma de regras de um jogo eletrônico bem definido, ou de armadilhas que eles precisam conhecer para vencer tais inimigos virtuais. Como as ciências se protegem diante de seus construtos epistemológicos e buscam fortalecer seus pareceres para continuarem a existir, também os alunos precisam de uma regra distinta, de senso prático, do que, do como, e pra que, aprender, a ciência precisa fazer sentido, ou não será apreendida. Os alunos da atualidade são naturalmente polivalentes, assumem várias tarefas ao mesmo tempo, são dialéticos naturais, espontâneos, ao mesmo tempo em que lêem um livro, ouvem música, falam no celular, conversam nas comunidades virtuais, fazem pesquisa pra escola, a TV ligada, isso dá a eles a sensação de que não estão sozinhos. “Deve ser por isso que os alunos acham a escola um lugar chato porque as tarefas são realizadas uma de cada vez e, assim, ficam contando os segundos para terminar o tempo de aula”. Se há necessidade de rever a ciência do ensinar, a tecnologia está mostrando outro viés possível para a aprendizagem. Há quem diga que a revolução educacional já começou, e ela iniciou-se pelos próprios alunos, que em silêncio, estão alterando o atual modelo educacional, quer sejam pelos resultados nas avaliações, pelas informações que trocam nas redes e comunidades, pela evasão muito alta nos ensinos presenciais e virtuais, pelo acesso indiscriminado às informações sem orientação, e a contestação natural de insatisfação demonstrada através das ações de indisciplinas e carências de ética e comportamento. Cláudio de Musacchio

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O maior desafio à docência é trazer o aluno para querer aprender, depois é buscar um método ou mídia a que ele se adapte, goste, contemple e participe. E por fim, que o aluno aprenda a dizer o que aprendeu e da maneira mais científica possível, o que achou do aprendizado que teve e o que pretende fazer com ele. Se o aluno puder vivenciar estas três dimensões do saber, o docente terá realizado sua função de facilitador da aprendizagem, mas se falhar em uma ou duas ou nas três, então os seus paradigmas precisam ser revistos, modificados, reavaliados. Não se pode esperar que ocorra aprendizagem sem que haja a conivência do próprio aluno em querer aprender, sem que lhe seja perguntado o que ele espera aprender, para quê, por que, e como.

Conclusões não conclusivas De todas as idiossincrasias de nosso tempo, também chamada de a era do conhecimento, que possam ocorrer diante dos conflitos cognitivos, das construções das estruturas intelectuais, da habilidade de lidar com a complexidade e os objetos complexos, a mais controvertida delas é sem dúvida alguma, a resolução acadêmica de julgar que os guetos epistemológicos possam dar conta de uma multiplicidade de análises e sínteses, de hipóteses cujas problemáticas necessitam de expoentes em várias ciências. Se o momento é de unir esforços nas habilidades e capacidades de ações transformadoras e de colocar sujeitos diante de objetos em observação capazes de ver além da visão especializada do tecnicismo e pragmatismo das disciplinas e das dispersões dos saberes, também é o momento de propor soluções novamente iluministas e renascentistas, unindo não só as ciências, mas os olhares amplificados, renovados, humanísticos, que o movimento enciclopedista volte e pinte as ciências com matizes de todas as epistemologias, metodologias e práticas pedagógicas que se locupletem. Se o que se busca é um novo aluno, também se quer um novo docente, se a sociedade precisa de um novo cientista, também deseja pesquisas que nos levem a compreender os ecossistemas, as economias de mercado para matar a fome de todos os habitantes da Terra, que as inteligências possam se unir para erradicar as doenças fabricadas pelo homem a fim de vender curas, e que os povos, de diferentes ideologias, idiomas e religiões se unam para entender as crenças e a ciência, como lados de uma mesma costura planetária. Se o Homem foi capaz de criar um mundo virtual, cibernético, que mudou as velocidades da informação e da comunicação, que permitiu alterar o 34

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ciclo de conhecimento de 50 anos para 5, revolucionou as relações comerciais, permitiu o acesso irrestrito a informação e ao saber, transformando o irreal em possível, então também pode revolucionar o jeito de fazer ciência, de ensinar e de aprender. Se as novas ciências que nascem todos os dias, mudarem a face da pesquisa e levar o Homem para o entendimento maior dos objetos complexos, dos avanços promovidos pelo uso da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade como processo e estratégia de ação e não como dicotomias unidisciplinares, possibilitando uma rede de intrincados campos científicos, alterando o modo de produção e construção do conhecimento, então se estará avançando para uma sociedade menos materialista-histórica. Porque assim como uma só ciência não explica a menor partícula do universo, também uma só ciência não explica os intrincados segredos escondidos do universo. E como as mudanças e alterações nos construtos epistemológicos e pedagógicos são lentas e graduais, é necessário discutir muito a situação atual, na observação da decadência, obsolescência e declínio de um modelo cartesiano que não serve aos propósitos das sociedades contemporâneas. As próprias ciências se levantam contra o atual sistema e se unem para responder ou adaptarem-se as exigências do mercado, da sociedade e do universo científico das novas descobertas. O grande avanço das metodologias e práticas pedagógicas para o uso de experiências científicas em sala de aula está no cerne das discussões da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade enquanto abordagem sistêmica, não mais como discurso, posto que já se conheça suas implicações, mas como praxiologia urgente para continuar avançando, a velocidades cada vez maiores no entendimento das ciências e das sociedades, exigindo dos pesquisadores um tratamento mais sintético, totalizante, holista e globalizante.

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A Interdisciplinaridade na Contemporaneidade:

Novos paradigmas para a praxiologia docente Resumo O presente ensaio discute a introdução de novos paradigmas na relação ensino-aprendizagem, compreendendo aspectos de novas formulações na formação de docentes, tanto no tocante ao seu discurso, quanto em sua praxiologia. A interdisciplinaridade vista pela teoria da complexidade contribui para considerações de projetos epistemológicos e pedagógicos que alterem substancialmente os paradigmas tradicionais referentes à formação, conteúdo, estudos, avaliação e o uso efetivo da interdisciplinaridade nos modus operandis nos ensinos básico, fundamental e médio. Finaliza propondo quatro paradigmas às transições dos atuais paradigmas da educação tradicional para o uso intensivo da interdisciplinaridade na relação ensino-aprendizagem.

Palavras-chave Interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, teoria da complexidade, praxiologia docente, novos paradigmas para o ensino.

Interdisciplinary today: new paradigms for praxiology teaching Abstract This paper discusses the introduction of new paradigms in teaching-learning relationship, including issues of new formulations in teacher training, both in regard to his speech, as in his praxiology. The interdisciplinary view of the complexity theory contributes to considerations of epistemological and pedagogical projects that substantially change the traditional paradigms concerning the formation, content, research, evaluation and effective use of interdisciplinarity in the modus operandis in primary, elementary and high school. It ends by proposing four paradigms for transitions from the current paradigms of traditional education for the intensive use of interdisciplinarity in the teaching-learning. Cláudio de Musacchio

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Key words Interdisciplinarity, transdisciplinarity, complexity theory, praxiology teaching, new paradigms for teaching.

Resumen Este artículo discute la introducción de nuevos paradigmas en la relación enseñanza-aprendizaje, incluidas las cuestiones de las nuevas formulaciones en la formación del profesorado, tanto en lo que respecta a su discurso, como en su praxiología. La visión interdisciplinaria de la teoría de la complejidad contribuye a la consideración de proyectos epistemológicos y pedagógicos que implican cambios sustanciales en los paradigmas tradicionales relativas a la formación, el uso de contenido, investigación, evaluación y eficaz de la interdisciplinariedad en el modus operandis en la escuela primaria, primaria y secundaria. Al final propone cuatro paradigmas para las transiciones de los paradigmas actuales de la educación tradicional para el uso intensivo de la interdisciplinariedad en la enseñanza-aprendizaje.

Palavras clave La interdisciplinariedad, transdisciplinariedad, la teoría de la complejidad, la enseñanza praxiología, nuevos paradigmas para la enseñanza.

Introdução “Mudanças educacionais de caráter estruturais sempre ocorrem nos dois sentidos: ensino e aprendizagem, obrigatoriamente. Enquanto alunos passam por profundas mudanças paradigmáticas, tecnológicas e ensinamentos que façam sentido para eles, contextualizado; os docentes buscam novas praxiologias, capaz de dar conta dessas novas práticas didáticas e pedagógicas. Ambos saem das suas zonas de conforto e se estabelecem em novos construtos epistemológicos.”

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Embora o conceito e a aplicabilidade da interdisciplinaridade tenham surgido no século XX, como resultado de um esforço de tentar unir as ciências na compreensão dos objetos e das observações dos fenômenos, e ter assim outras visões e pareceres, é de longa data a vontade humana de unificar os saberes e remontar o quebra-cabeça da fragmentação do conhecimento deixado pelo modelo tradicional, de ensino fragmentado e cartesiano. Após o apogeu da fragmentação potencializada na era mecanicista e industrial, por necessidade de especializar os trabalhadores para atividades muito pontuais, as indústrias provocaram demandas que culminaram no nascimento de cursos técnicos e de graduação com alto grau de especialização. Locke (1988) Da mesma forma que o nascimento da ciência moderna a partir do século XVII, tenha introduzido significativos avanços no campo dos saberes também oportunizaram o início do silêncio entre os saberes, devido às metodologias científicas, propostas pelas epistemologias racionalistas e empiristas, que privilegiaram a experiência científica, em detrimento da lógica do entendimento global. Entretanto o movimento só tomou corpo e velocidade com a introdução das tecnologias do século XIX. As profundas revoluções desenvolveram novas necessidades que culminaram em hiperespecializações, oriundas do volume e da complexidade dos conhecimentos produzidos pela sofisticação das tecnologias e do aparelhamento nas áreas produtivas da sociedade. Morin (2003) Ao mesmo tempo em que a ciência caminha para fatias cada vez menores, tornando-se especialista nos estudos e pesquisas, as práticas pedagógicas, tem se encaminhado para o oposto, tentando juntar, para construir uma visão melhorada do todo, do completo, do macro. A ciência cada vez mais especializada busca seu aprofundamento, provocando bifurcações nas disciplinas, e como um microscópio diminui sua visão geral, para uma visão mais concentrada, fechando o foco para um único e cada vez menor objeto de análise. Enquanto algumas áreas do saber não conseguem resolver sozinhos os seus resultados de pesquisa, e necessitam das contribuições de outras áreas para encontrar as respostas. Como exemplo, pode-se citar a psicologia e a sociologia que se juntam para estudar os fenômenos que são, ao mesmo tempo, de natureza individual e social, aparecendo, portanto novos aspectos, no contorno das duas áreas, permitindo novas dimensões como as análises psicossociais. Soethe (2003) Cláudio de Musacchio

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Ocorre que na contramão destas especializações, certas pesquisas não podem ser realizadas, posto que precisem da junção de saber para compreender fenômenos naturais e até mesmo sobrenaturais. Surge, portanto, a interdisciplinaridade como proposta de agregar certas disciplinas e assim criar condições ideais de análise e pesquisa. É o caso das engenharias com a química, física, mecânica, criando assim à biomecânica, biofísica, bioquímica. Os estudos da bioengenharia têm propiciado pesquisas que seriam impossíveis, se as ciências não estivessem se unido para este propósito. Mas se isso ocorre na área das ciências e da pesquisa, também ocorre nas metodologias, pedagogias e práticas educacionais que agora se voltam para outros caminhos diferentes da especialização das disciplinas e tentam criar novos construtos capazes de oportunizar aprendizagens que possam dar maior significação às compreensões. A aplicação desta metodologia está revolucionando o ensino, pois está colocando áreas do saber que até então eram incompreensíveis juntas, mas que começam a fazer sentido e dar respostas aos problemas de pesquisa. Por enquanto, apenas como projetos de estudo e pesquisa, algumas aplicações de junção estão aparecendo nas escolas de ensino básico, fundamental e médio.

O Fundamento do paradigma da Interdisciplinaridade O paradigma da professora para o ensino básico ser a única intermediação entre o aluno e o saber está com os dias contados. Pois cada vez mais, professores, gestores e instituições, discutem alternativas de se introduzir no ementário das séries iniciais, professores de diferentes áreas do saber, para explicar às crianças, os fenômenos da natureza. Aparece deste modo, a figura do professor de história, de geografia, de matemática, de ciências, de música, de atividades físicas, auxiliando os professores das séries iniciais com contribuições nas pesquisas e nos trabalhos sugeridos. Com esta demonstração, as crianças são despertadas pela curiosidade de saber como as ciências juntas podem tecer uma visão diferenciada daquela que as ciências teriam em cenários separados. Pode parecer um paradoxo promover vários encontros com professores disciplinares, mas ocorre que os discursos epistemológicos são realizados nos contornos das ciências, buscando-se demonstrar para as crianças, desde o início de sua educação, que é possível integrá-las as demais ciências oportunizando realmente a interdisciplinaridade e posteriormente, a transdisciplinaridade. Sommermann (2006) 42

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Promover a interdisciplinaridade é fazer a interdisciplinaridade e não discutir a interdisciplinaridade. As disciplinas são fundamentais para todos os níveis de educação, desde as séries iniciais até os últimos anos do ensino superior. Mas para compreender as indagações que surgem ao longo desse caminho de aprendizados em que possamos juntar a matemática com a geografia e explicar os fenômenos naturais através da visão matemática do mundo, ou vice-versa, explicar as fórmulas matemáticas mostrando através da geografia o porquê da sua existência e formulação. É isso que falta no ensino, compreensão de diferentes visões que o modelo cartesiano separou. A interdisciplinaridade está ligada a ciência para buscar explicar a totalidade das interpretações e não a objetividade das especializações. Não se pode analisar, por exemplo, o ser humano, sob um único aspecto, e tirar daí conclusões sobre sua natureza e subjetividade. As diferentes dimensões biológicas, psicológicas, religiosas e tantas outras, somam para se fazer um quadro mais completo desta análise. Assim também são os fenômenos estudados. Devem ter a explicação de várias ciências se quisermos um quadro mais completo de várias compreensões e definições. Desta forma, as ciências precisam se unir para explicar o real, a forma, a cor, sabor, cheiro, função, diferentes usos, etc. Não é fácil romper os paradigmas que existem na educação, tanto no aspecto do ensinar quanto no aprender. Sair do isolamento que as disciplinas foram submetidas, e colocá-las uma diante das outras para que se reconheçam parte da verdade que buscam, não é tarefa fácil. Mais difícil ainda é romper o pensamento constitutivo com que os professores foram ensinados e aprenderam como ensinar. Realizar estas costuras tão necessárias para se poderem abraçar as ideias coletivas para o entendimento dos diferentes ângulos das análises será preciso “revolver a terra”, “replantar as sementes” e (re) educar a educação. São muitos os desafios, a história não separou só as ciências, as culturas, mas também a maneira de se ensinar e aprender. A reforma deve ser pensada sob todos os ângulos. A interdisciplinaridade se quiser ser implantada também terá que ser utilizada no modelo construtor de novas práticas pedagógicas. Não basta novos paradigmas para a educação, é necessário reinventar a caneta que irá escrevê-las. Se a interdisciplinaridade é uma metodologia revolucionária, também deve ser as ferramentas que devemos utilizar para aprender este novo modelo e conceito. Não se pode aprender a ser interdisciplinar com os mesmos instrumentos que aprendemos a ser especialistas. A reforma no ensino e na aprendizagem deve começar pelas próprias metodologias que adotamos na formação dos professores. Minayo (1992) Cláudio de Musacchio

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Mas tem-se que ter uma preocupação constante com os movimentos interdisciplinares. A razão é que as disciplinas não estão sendo analisadas no sentido de existirem ou não. A sua existência é fundamental, precisamos da análise de profundidade de cada uma delas. O que se quer é construir uma convivência harmoniosa entre o pensar especialista das observações e o pensar generalista das convergências. Onde uma completaria a outra. Se algumas vezes falta a análise conjectural das observações, muitas vezes falta a visão do especialista. Na visão das teorias científicas, todos os ângulos de observação são contribuições. Precisou separar as ciências para o mundo progredir, agora é preciso juntá-las para o mundo evoluir. Mas o que se busca é a educação em cruz: verticalizar para uma especialização necessária, científica, dos objetos observados, mas também horizontalizar para uma generalização que permita observações nos contornos e interseções das ciências onde as observações possam ser respondidas e as hipóteses reconhecidas. O fundamento da interdisciplinaridade consiste substancialmente na aplicação da investigação e do olhar científico sobre esta linha divisória entre as ciências, em que as próprias ciências, em separado, não podem evoluir, posto que precisem da união, da opinião, da investigação, e da pesquisaação. Muitas ciências nasceram desse olhar híbrido e necessário. A sociedade evoluiu, está mais complexa, o próprio pensamento se tornou mais complexo, e se precisa dar conta dessa complexidade, bastando que a educação com sua plasticidade (no sentido neurocientífico) se locomovam para diferentes pontos de observação e reconstruam epistemologias híbridas ou mestiças que respondam aos questionamentos e hipóteses dos atuais projetos de pesquisa.

Mudança de paradigmas para a Praxiologia Interdisciplinar Se mudanças são necessárias e possíveis, algumas metodologias podem ser alteradas, modificadas ou até mesmo criadas, para que surjam novos construtos no fazer docente que contemplem contextos interdisciplinares. Mas para isso é necessário revolver os atuais paradigmas do ensino e da aprendizagem. Nesta nova praxiologia docente que se pretende para o século XXI, podem-se eleger, inicialmente, quatro paradigmas que devem ser pensados criteriosamente para permitir as transições dos atuais paradigmas da educação tradicional para aquela que contempla o uso intensivo das interdisciplinaridades. Não se pretende, no entanto, esgotar as possibilidades, pelo contrário, de levantar possibilidades de novos conceitos e paradigmas percebidos nas observações e discussões a que se propõem estes artigos e ensaios sobre a interdisciplinaridade. 44

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Paradigma Um: o redimensionamento do saber Vários significados dão dimensão ao saber docente. O saber interdisciplinar depende de nova sociabilização e de nova alfabetização. Já não basta mais ao professor o conhecimento necessário às suas práticas didático-pedagógicas, é necessário a partir da postura interdisciplinar, o saber mais abrangente, exigindo das estruturas educacionais, quais os pensamentos transversais, e as colaborações de outras ciências para melhorar o quadro das compreensões dos fenômenos, das atribuições do processo de ensino e os efeitos que essas novas abordagens podem contribuir para melhoria substancial na aprendizagem. Redimensionar o saber é neste caso expandir os horizontes e os contornos

delineados pela especialização e pela institucionalização dos saberes em disciplinas distintas, como se a verdade dos conhecimentos pudesse ser visto apenas sob uma ótica, não havendo para esta primeira etapa, outros olhares. Redimensionar o saber é também preservar o olhar da especialização, posto que sua importância seja vital para o amadurecimento das análises dos fenômenos observáveis. É, portanto, compreender o saber percorrendo ao mesmo tempo duas direções, a da hiper-especialização, que levou o homem a conhecer seu próprio DNA, mas também a da multiplicidade de respostas que o sistema educacional é capaz de produzir no desejo de melhorar a resposta, a análise, a pesquisa, e conseqüentemente, a construção do conhecimento. Japiassu (1976) Uma nova proposta de conteúdo educacional na formação dos professores que contemplasse a contribuição de outras ciências para a construção das diretrizes de uma nova ordem educacional, mais pluri, mais multi, com contornos e recortes significativos para o entendimento dos fenômenos, das teorias que envolvem o ensino e das teorias que envolvem a aprendizagem.

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Paradigma Dois: o saber fazer e o saber colaborativo Todos os ensinamentos propostos na formação da docência contemplam o saber fazer como construto de uma ciência que nasce com o esforço de saber ensinar e saber aprender. Todas as técnicas, metodologias, práticas e saberes são amplamente discutidos, observados, ensinados e repassados aos docentes em sua formação básica, levando-o ao pleno entendimento dos modus operandi de suas funções. No caminho do saber fazer, encontra-se o saber colaborativo, tão necessário para o entendimento. É a busca pela procura de respostas que uma ciência só não dá conta, e a consulta aos pares e iguais se fazem necessárias. As novas gerações já nascem espontaneamente colaborativas, solidárias, participativas. As redes sociais e as comunidades envolvem as crianças numa tessitura de intrincadas relações que os colocam frente a frente com a pergunta e a resposta, numa realidade espontânea, direta, objetiva, multidimensional. Não se trata mais de disponibilizar a informação, mas de dar ao aluno acesso a árvore do conhecimento. Ao experimentar a maça, o aluno se descobriu aprendiz e reconhecer 46

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seu potencial de aprendizagem. Ao professor, que acompanha este processo, cabe o entendimento e a construção desse saber compartilhado, vivenciado, cuja interatividade é a essência da maneira como a informação é vista e comunicada. Aprender a dividir e somar, contribuir e buscar a parceria, complementar a sua ideia e perspectiva de mundo e do saber com outros pares que possuem outra história e formação e que podem subsidiar, explorando outros vieses da grande verdade misteriosa das coisas e do mundo. Ausubel (2003) Quanto mais se divide e colabora a informação, mais se multiplica a construção do conhecimento. A interatividade é o instrumento mais importante utilizado para permitir a interdisciplinaridade. O saber colaborativo, num mundo de tecnologias de informação e colaboração, é quase uma cacofonia, uma necessidade intrínseca, como se a participação fosse vital para transportar a informação e a possibilidade de conhecimento. O saber colaborativo é permitirse aprender mais pela simples ousadia de aceitar-se aprendiz o tempo todo e buscar a complementação na fala do outro, no ensinamento que o outro pode oportunizar integrando os saberes. Os avanços tecnológicos permitem essas aproximações e cruzamentos disciplinares, basta o professor oportunizar o seu saber fazer em parceria tornando-se também o seu saber mais colaborativo.

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Todos os avanços nos construtos epistemológicos, ontológicos e pedagógicos caminham na direção da interatividade, colaboração e contribuição de uma ciência que dá as mãos para um saber maior. Leal (1996) É nestas colaborações que os sujeitos experimentam um saber fazer que se complete nos contornos das ciências e se desenvolvem em novas epistemologias.

Paradigma Três: Práticas educativas no ser interdisciplinar Ser interdisciplinar representa escutar o outro e perceber que sua verdade é parte de uma verdade maior, mas precisa ser complementada para buscar o sentido que falta a ambos. As disciplinas, na ânsia de buscarem o aprofundamento vertical, especialista, detalhista, buscam dar conta da informação, cercadas em suas epistemologias, sem se importar que contribuições significativas possam estar disponíveis facilmente olhando para as ciências que os cercam. Alcançam seus objetivos, porque estão interessadas na especialização, na verticalização da observação, cada vez mais microscópica, do olhar focado e pontual. Assim como o cientista sabe para que existe cada tipo de equipamento, ferramenta e tecnologia a serviço de seus estudos e diagnósticos, mostrando índices, gráficos, testes, os resultados que espera, também a docência deve ser uma ciência que se permita investigar em outras áreas, teorias, metodologias e práticas, respostas às suas perguntas e indagações. Não significa que a resposta esteja fora dos seus “cercadinhos” filosóficos e epistemológicos, mas a consulta, colaboração, pensamento e construtos precisam ser vistos, entrelaçados, comparados, compartilhados. O ser interdisciplinar é a predisposição que aponta o profissional para a percepção mais ampliada. É na colaboração e interatividade que os docentes buscam, na essência de suas complementações, a interdisciplinaridade. É observar como outras ciências vêem o fenômeno estudado, como lhe atribuem pareceres e buscam respostas. Na verdade, cada ciência faz suas perguntas na certeza de que ela mesma encontre a resposta, segundo suas epistemologias. As práticas docentes tradicionais estabelecem que no paradigma atual e em suas teorias epistemológicas estão às respostas para o entendimento e compreensão do fenômeno observado. Duas ou mais ciências, juntas, podem explicar certos acontecimentos, sintomas, efeitos ou causas, o que não aconteceria pela análise e síntese de cada ciência em separado. Imagine explicar o fenômeno do aprender sozinho, levando-se em consideração apenas 48

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metodologias que privilegiam a educação à distância. Quais as observações que as ciências podem contribuir para elucidar este ensino e esta aprendizagem. Será que a psicologia, sozinha, pode dar conta de responder este ensinar e aprender. Ou a sociologia, julgando ser apenas um comportamento social, tentar responder esta questão com suas lógicas sociais do comportamento. E mesmo que as ciências se unam para tentar, juntas, estudar o fenômeno, surgirão respostas que não são nem psicológicas, nem sociológicas. Nascem do ser interdisciplinar, que une as ciências, as teorias, e cria um novo olhar, uma nova métrica. Não são mais dimensões da psicologia nem da sociologia, são da análise psicossocial do comportamento individual e coletivo. A sociologia vai continuar existindo e sendo importante em suas análises dos fenômenos sociais, assim como a psicologia irá tratar dos fenômenos do indivíduo. Mas o que se questiona é como e quando se poderão utilizar as duas quando se precisa ampliar as possibilidades e o espectro das análises e das sínteses. Esta é a questão. Preparar o docente para poder utilizar este viés, sempre que o desejar e for necessário em suas pesquisas. Perrenoud (2000) O ser interdisciplinar é uma qualidade inerente ao pesquisador docente que busca alternativa, cruzamentos, ideologias, problemáticas, considerações e pareceres, amplia seu leque de possibilidades de responder. Mas o mais interessante neste ser interdisciplinar é que se ampliam também seus questionamentos, elevando o grau de suas perguntas a uma obrigatoriedade de que as ciências se unam para responder. Ao se juntar duas ou mais ciências na busca de algumas respostas, o docente já internaliza esta condição interdisciplinar e faz questionamentos que são dúvidas das ciências envolvidas, é como se cada ciência colaborasse não só com as respostas, mas também na formulação das perguntas. E este é o maior mérito da união das ciências – unirem-se para investigar novos olhares aos fenômenos observáveis e não se limitando apenas em responder aos questionamentos. Para proceder a este ato de comunhão entre os saberes, cada ciência tem que sair de seu “cercadinho” epistemológico e dividirem o espaço compartilhado de tal forma, que já não são mais esta ou aquela ciência, mas todas que se unirem e se desenharem numa nova perspectiva, elaborando um novo construto epistêmico. Muitos dos conceitos e teorias que nascem destas epistemologias híbridas e mestiçadas são fundamentais para compreensão da teoria da complexidade, que busca um ser mais total, globalizante e com uma visão mais abrangente sobre todas as coisas. O ser interdisciplinar não é olhar para outras ciências simplesmente, mas juntas, todas as ciências envolvidas olharem para um mesmo objeto ou fenômeno estudado e buscarem respostas, Cláudio de Musacchio

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somando suas potencialidades e seus poderes, não havendo mais o amarelo de uma ciência, nem o vermelho da outra ciência, mas a cor laranja, produto da junção das ciências envolvidas. Mas não significa o hibridismo das ciências, mas a cooperação e colaboração dos saberes para responderem as questões e hipóteses dos objetos em estudo. Senge (1994)

Paradigma Quatro: integração dos saberes A consciência de que somos parte e totalidades diminutas. Ao se analisar a interdisciplinaridade que se possa ter da junção de saberes para resolução dos problemas e dúvidas, tem-se a impressão que cada ciência irá fazer a sua contribuição. Já vimos no paradigma anterior, que não. Ambas, as ciências descem de seus pedestais epistemológicos e prestam seus serviços no terreno das inter-relações que possam surgir dessas uniões. O paradigma da integração supõe um ângulo novo à análise já existente das contribuições das ciências a serviço do entendimento e compreensão dos fenômenos. Este paradigma diz respeito a todas as disciplinas instituírem em seus construtos epistemológicos a existência de outros vieses advindos de outras áreas de conhecimento, sem perder a sua essência.

Cada ciência é totalizante em suas propriedades e responde as suas necessidades constitutivas. Porém, para necessidades globais e verdades além das suas concepções epistemológicas, as ciências precisam incorporar conceitos inerentes as outras ciências e que estão nos contornos ou limites das ciências. Não significa a unificação das ciências, o que seria desastroso sob o ponto de vista das necessidades especialistas de nossa economia e produção, 50

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mas de perceber a existência de outras ciências como uma das alternativas da análise. Assim, podem-se aferir métricas segundo cada caso, como quem utiliza o metro para medir distância, e a balança para medir peso. A ciência que se utiliza da balança não ignora os benefícios que ocorrem na ciência que se utiliza do metro. Cada um, em separado, sabe dos benefícios um do outro e sempre recorrem à ferramenta para suprir suas necessidades de medição. Este é o objetivo e a quebra deste paradigma, a integração dos saberes é reconhecer a existência de outras métricas e utilizá-las no momento que se achar mais propício para a análise do fenômeno estudado. Na interdisciplinaridade das disciplinas é que se encontra a integração dos saberes para uma melhoria significativa, tanto nas perguntas, quanto nas respostas, tendo em vista que as dimensões de uma são contribuições para entender as dimensões da outra. Assim como as quantidades químicas de cada substância no corpo humano explicam suas funcionalidades, é na biologia que vamos encontrar as respostas às funcionalidades de cada substância existente. Também relações físico-químicas podem ser compreendidas em algumas relações, assim também outras relações podem ser conseguidas no estudo da bioquímica. A ciência da pedagogia, ao ser analisada sob seus próprios construtos, pode explicar como a criança aprende sob o ponto de vista das teorias da aprendizagem, mas é na compreensão das relações físico-químico-biológicas que se procura compreender como a mente armazena as informações, e transforma esta informação em conhecimento. Os saberes integrados podem dar conta de muitas dúvidas que levariam muito tempo para que fosse respondida, ciência por ciência, isso se puder chegar a estas respostas. Reconhecer as importâncias dessas interações, das quebras dos paradigmas propostos e de suas implicações, pode fazer com que as ciências avancem muito rapidamente nas respostas que tanto se precisa para melhorar os aspectos inerentes a educação do ensinar e do aprender. Da mesma maneira que um piloto de avião, ao ler seus instrumentos do painel de navegabilidade, toma decisões, levando em consideração a soma das leituras e não as leituras separadamente, também as questões interdisciplinares promovem situações, que não pertencem a uma ou outra ciência, mas que juntas fornecem condições para novas perguntas e isso irá proporcionar novas respostas.

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Conclusões As aplicações da interdisciplinaridade no processo ensino-aprendizagem há muito já foram discutidas e seus paradigmas devidamente estudados para promoção das mudanças da praxiologia docente. A união das ciências para esclarecer resultados e interpretações dos fenômenos observáveis ocorre durante as relações de experimentações científicas em sala de aula, mas o que se busca na evolução das práticas pedagógicas é que ela se esclareça também nos construtos epistemológicos da maneira como o docente percebe as outras ciências e como esta interação pode contribuir para alterar seu modo docente de ensinar. O que se deseja é que esta interdisciplinaridade seja potencializada para surtir os efeitos esperados que se imagine nestes eventos científicos e nas ações em geral nos ementários nas três esferas de ensino: básico, fundamental e médio. Jantsch (1995) Entretanto, as mudanças paradigmáticas que possibilitam essas construções epistemológicas fazem parte de uma rede intrínseca de mudanças que ocorrem concomitantemente em todas as direções da educação. Ao mesmo tempo em que se promovem alterações no ensino-aprendizagem, também se busca alterar a forma como os docentes são preparados, a forma como as ementas são construídas, as metodologias empregadas, as práticas pedagógicas constituídas e as novas formas de avaliação. Fazenda (2006) Segundo a concepção do paradigma da complexidade de Morin (2003), que remete ao pensamento complexo de se permitir pensar as incertezas oriundas do afastamento do rigor epistemológico em detrimento de novas formas de praticar ciência, a epistemologia que contorna as ciências deve ser uma postura científica híbrida, advindas das contribuições de outras áreas e o desenvolvimento que se possa ter do entendimento dessas interseções nas ciências, ocorrendo assim, novos métodos e campos científicos nascentes da articulação lógica, epistemológica e da praxiologia docente decorrente desses novos olhares. Evidentemente, que a construção de novos construtos epistemológicos originários dos contornos promovidos pelas interdisciplinaridades das áreas de conhecimento pode acarretar necessidades de reformulação nos ementários responsáveis pela formação dos docentes, exigindo novas teorias de ensinoaprendizagem ou de novos olhares aos já existentes, entrelaçando métodos, práticas, conceitos e concepções oriundas da interdisciplinaridade das áreas comumente utilizadas nesta formação. 52

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Os desafios desta nova praxiologia docente surgem quando se analisam os novos paradigmas em detrimento dos tradicionais, e as dificuldades de transitar pelas ciências, buscando permanentemente concordância nos sentidos e propostas dos teóricos e pensadores, sem se importar a que epistemologias elas pertençam, importando apenas a elaboração de soluções curriculares e práticas pedagógicas que possam desenhar este novo perfil que se deseja para o professor interdisciplinar contemporâneo. Mais do que uma nova concepção de ensino e de currículo, a interdisciplinaridade está sendo inserida em diferentes estruturações, como as pedagógicas, curriculares, avaliativas, programáticas, justificando basicamente como estratégia de transformação do velho e tradicional modelo educacional, que não consegue mais dar conta das necessidades, pela visão disciplinar do conhecimento, para um modelo que se permita operar na união dos conhecimentos, das culturas, das teorias, dos campos científicos, das explicações dos fenômenos de forma mais abrangente e totalizante, a fim de acompanhar o avanço das ciências e das tecnologias. Capra (1999)

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Interdisciplinaridade: avanços e desafios Resumo O presente ensaio promove uma reflexão sobre os aspectos do uso da interdisciplinaridade e a metodologia alternativa como pesquisa científica em sala de aula. Abordam também aspectos pertinentes as mudanças de paradigma da praxiologia docente buscando-se refletir sobre a ação do professor diante das áreas de conhecimento, das possibilidades de integrá-las num discurso e numa práxis interdisciplinar. Investiga também os avanços e desafios nas aplicações e contextualizações de modelos interdisciplinares através dos desafios dos gestores de escolas na implantação da interdisciplinaridade. Finaliza mostrando as diferentes interpretações que se podem fazer com o uso das interdisciplinaridades em projetos de pesquisa e no fazer docente em sala de aula.

Palavras-chaves Interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, teoria da complexidade, praxiologia docente, metodologias interdisciplinares, pesquisas científicas em sala de aula.

Interdisciplinary: progress and challenges

Abstract This paper promotes a reflection on aspects of the use of interdisciplinary and alternative methodology as scientific research in the classroom. Also discuss relevant aspects of the paradigm shifts praxiology teacher seeking to reflect on the teacher’s action on the areas of knowledge, the possibilities of integrating them in speech and in an interdisciplinary praxis. It also investigates the advances and challenges in the applications and interdisciplinary models of contextualization through the challenges of the managers of schools in the implementation of interdisciplinarity. Ends showing the different interpretations that can be done with the use of interdisciplinaridades in research projects and to teaching in the classroom. Cláudio de Musacchio

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Key words Interdisciplinarity, transdisciplinarity, complexity theory, praxiology teaching, interdisciplinary methodologies, scientific research in the classroom.

Resumen En este trabajo se promueve una reflexión sobre los aspectos del uso de la metodología interdisciplinaria y alternativas como la investigación científica en el aula. También se exponen los aspectos importantes de los cambios de paradigma docente praxiología trata de reflexionar sobre la acción del profesor en las áreas de conocimiento, las posibilidades de su integración en el discurso y en una praxis interdisciplinaria. También investiga los avances y retos en las aplicaciones y modelos interdisciplinarios de contextualización a través de los retos de los directivos de las escuelas en la aplicación de la interdisciplinariedad. Finaliza mostrando las diferentes interpretaciones que se pueden hacer con el uso de interdisciplinaridades en proyectos de investigación y de la enseñanza en el aula.

Palavras clave La interdisciplinariedad, transdisciplinariedad, la teoría de la complejidad, la enseñanza praxiología, metodologías interdisciplinarias, la investigación científica en el aula.

Introdução “Os projetos inovadores de modelos educacionais escolares não podem estar atrelados a períodos de gestão, pois que assim sendo, sofrem avanços ou atrasos, por posturas mais ou menos interdisciplinares de seus gestores. Está mais do que na hora de incorporar tais metodologias nas ementas e nos conteúdos curriculares.”

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Segundo a Lei de Diretrizes e Bases, LDB nº 9394, de 20 de dezembro de 1996, e da elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais de 1998, esclarece e incentiva maior flexibilização dos conteúdos a serem desenvolvidos, possibilitando mudanças no currículo das escolas a fim de reduzir a fragmentação característica de um currículo totalmente disciplinar. Ao interpretar a LDB, que se anuncia claramente a possibilidade de gestão democrática, no caminho das propostas pedagógicas, o que configura de imediato, a sua possível contextualização, tanto como gestão escolar, quanto práticas pedagógicas a serem institucionalizadas e adotadas pelos professores, é a livre gestão na configuração e estruturação do ementário incluindo fortemente contextos interdisciplinares e transdisciplinares. Se a cultura implantada se constituía de pragmatismo dos programas curriculares anteriores a LDB 9394, hoje já se vislumbram possibilidades reais de que tais paradigmas possam ser discutidos pelas atuais administrações e pelas gestões escolares, e avancem para praxiologias docentes baseadas na construção de modelos, fórmulas e soluções que sugerem ações interdisciplinares e transdisciplinares no jeito e no modo de se fazer ciência. Embora estudos acadêmicos do uso e da prática dessas abordagens metodológicas estejam ainda em seus estágios iniciais, tendo em vista o grande número de escolas que ainda não contemplam sua efetiva implantação, alguns indicadores mostram bastante expressivos, pelo número de projetos publicados, artigos científicos em periódicos e revistas especializadas, mostras e feiras de ciências escolares apresentadas, e inúmeras atividades escolares que permitem um olhar sobre o espectro e dimensão que atividades interdisciplinares e transdisciplinares estejam sendo desenvolvidas em ambientes escolares. Se por um lado, existe ainda uma resistência forte por parte das instituições em disponibilizar mais de um professor-disciplina-ciência, no ementário disciplinar, por outro, os próprios professores, em sua praxiologia docente, desenvolvem cenários de observações, através de experiências científicas em sala de aula, que possibilitem vários olhares disciplinares, contemplando desta forma a quebra dos paradigmas vigentes e proporcionando uma qualidade de ensino e de aprendizagem mais totalizante e holística. Embora, muitos docentes ainda não saibam que o que estão praticando é um exercício interdisciplinar. Mas tanto o aparelho gestor quanto o corpo docente das escolas públicas e privadas, são alvos de estudos e posturas para uma educação que se quer para a entrada deste século. Neste sentido, os trabalhos de referência nesta área Cláudio de Musacchio

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tais como o GEPI - Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisciplinaridade da PUC-SP, onde desenvolve desde 81, reflexões sobre a Interdisciplinaridade e a Transdisciplinaridade e que tem a frente à Professora Dra. Ivani Catarina Arantes Fazenda, demonstra através de inúmeras teses um quadro bastante significativo de reflexões sobre o tema da Interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade. Embora se discuta interdisciplinaridade nesses últimos 30 anos, muito pouco se avançou nas ementas e nas práticas pedagógicas dos currículos escolares, e muito menos ainda, nos construtos epistemológicos das disciplinas. Se a quebra de paradigmas deve ocorrer no “campo de batalha” (sala de aula) e não nos “tribunais” (poder legislativo educacional), muito pouco se está fazendo ou caminhando mais lentamente do que desejariam alguns teóricos e pensadores da educação contemporânea. Segundo Morin (2001), a nova postura paradigmática, emergente ou da complexidade, é alicerçada por uma visão mais crítica, reflexiva, exigindo da docência níveis de interconexões em relação às múltiplas abordagens existentes, abrangências e visões. Não é um crescimento pessoal espontâneo, leva tempo, precisa estar inserida no contexto sócio-histórico de cada professor, é uma história que foi escrita ou está sendo escrito por capacitações, desenvolvimento de habilidades e atitudes que culminam num ser sistêmico e complexo, do ponto de vista paradigmático. Como é possível costurar então as interdisciplinaridades possíveis frente às contextualizações que são oferecidas pelas gestões educacionais, se as práticas pedagógicas buscam superar as questões e limitações da disciplinaridade? Como realizar as articulações para percorrer o viés de um ensino mais totalizante, menos cartesiano e buscando instaurar o paradigma da complexidade, frente aos entraves de uma legislatura que permite os avanços, segundo a LDB, mas que convive com os processos burocráticos de uma administração apegada aos paradigmas tradicionais de ensino-aprendizagem?

A Interdisciplinaridade e sua contextualização Quando se compreende e se busca organizar as práticas pedagógicas da escola, tanto do ponto de vista gestora da educação, quanto da formação e capacitação docente para a compreensão e uso da interdisciplinaridade, temse dois aspectos a considerar: a primeira diz respeito à própria abordagem interdisciplinar que deve emergir da atitude, do currículo, e das expectativas 60

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advindas das colaborações de outras ciências em auxílio daquela que está inserida a necessidade de se inter-relacionar. A segunda abordagem está diretamente ligada à contextualização, isto é, como a escola implantará a interdisciplinaridade, e, em que contextos, as mudanças poderão realmente acontecer. A interdisciplinaridade pressupõe uma nova etapa no contexto das disciplinas e uma funcionalidade que transcende a sua ótica epistemológica, a sua ótica metodológica e a implicações que isso possa ocorrer na dimensão escola enquanto gestão de ensino. Portanto, colocar a interdisciplinaridade na escola não será uma tarefa fácil, muito menos prazerosa. Quebrar paradigmas é sempre desconfortável, é sair de uma zona de conforto pré-estabelecida para uma área em que ainda não se tem certezas absolutas ou atitudes vivenciadas que possam comprovar seu sucesso, inicialmente. E nesta multiplicidade de inovações metodológicas e concepções epistemológicas híbridas e mestiçadas, os professores precisam superar as primeiras dificuldades e expectativas, dentre as quais o próprio reconhecimento de suas dificuldades advindas de uma aprendizagem fragmentada, cartesiana e incompleta da formação necessária à docência. Compreender que é necessário inter-relacionar os conceitos de diferentes áreas de conhecimento é parte integrante do processo e de um movimento de desinsularização das disciplinas. Mas como todo processo de quebra de paradigmas, que precisam ser internalizados e vivenciados pelos professores, a transição do velho para o novo paradigma é realizada de tal maneira, quase imperceptível, mas que avança todos os dias em direção a uma interdisciplinaridade crescente e necessária, cujo desenvolvimento do trabalho pedagógico é atribuído pelas relações de interação e colaboração que se estabelecem entre professores e alunos, com a participação ativa da gestão da escola, se há um novo paradigma a ser instaurado, ele acontecerá no âmbito das ações entre os sujeitos. A experimentação vai permitir que a contextualização possa então ser iniciada através de exercícios diários onde os professores exercem seus papeis nesta participação, envolvendo-se com os alunos e buscando as respostas que a pesquisa vai, pouco a pouco, perguntando. Sendo assim, as disciplinas se articulam, formando não um corpo coeso, posto que ainda suas partes não sejam visíveis pelo docente claramente, mas vivenciadas, integrando-se, caracterizando-se como crescentes interações. Segundo Fazenda (2002), esta prática constituída pelas trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas dentro de um projeto de pesquisa, é que vai demonstrar que as mudanças paradigmáticas que são observadas por todos, estão fazendo Cláudio de Musacchio

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maior e melhor sentido aos alunos e professores. Uma clara demonstração dessa aparência ocorre quando os próprios alunos argumentam que se não fosse à opinião das diferentes áreas de conhecimentos não seriam possíveis as respostas que tanto procuravam. E o mais interessante ainda, as perguntas interdisciplinares também não existiriam, comprometendo parte do entendimento. Esta justificativa habilita os docentes a recomporem seus redutos epistemológicos e considerarem que a contribuição que as áreas podem estabelecer entre si, em detrimento das respostas que cada ciência possa oferecer para cada observação científica, e a mera especulação de que a predominância de uma ou outra ciência na determinação e respostas aos eventos não é mais relevante do que a possibilidade de as várias ciências poderem se unir e responder de forma totalizante, global e holística sobre a interpretação de objetos estudados. Como praxiologia possível dessa transição de um estágio disciplinar para um estágio interdisciplinar, é possível iniciar com atividades e projetos na área da pesquisa, posto que seja um ambiente naturalmente interdisciplinar por necessitar de mais de uma área para analisar e sintetizar os resultados advindos das hipóteses e problemáticas de pesquisa. É na pesquisa científica que se pode introduzir a interdisciplinaridade de forma a causar a menor alteração possível no ambiente ou dimensão disciplinar. A elaboração de pesquisa científica em contraponto a simples argumentação teórica e dialética dos fenômenos estudados no ementário, pode tornar o ambiente de sala de aula mais lúdico, significativo e rico. Porém, há uma resistência natural dos alunos, para o paradigma atual, e que o ambiente da pesquisa, bem como, seus resultados, seja exposto da maneira convencional conhecida, quadro e escrita. Isto se dá pela necessidade do aluno não interdisciplinar, estabelecer a metodologia de aprendizagem, conhecida no paradigma atual, onde deve anotar as informações em caderno para posterior providência de material de estudo, já que a avaliação também não é interdisciplinar e inovadora. Tornar o ensino interdisciplinar requer mudanças em vários momentos na sala de aula, ou seja, durante a exposição das disciplinas, dos trabalhos propostos individuais e em grupo, e da metodologia a ser empregada para averiguar se houve aprendizagem e em que grau ou nível ela ocorreu. Trabalhar a interdisciplinaridade e não alterar todos os paradigmas existentes na relação pode acarretar perda substancial da qualidade do ensino-aprendizagem e tornar a própria interdisciplinaridade como recurso não adequado. Mas como então providenciar mudanças paradigmáticas se em cada movimento e instante do novo proceder acarretam necessidades 62

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específicas de investigação das atividades e como buscar uma correlação inovadora e interdisciplinar em todas estas atividades: tema, contexto, explanação, demonstração, aplicação e avaliação?

Pesquisa científica em sala de aula As construções de projetos pedagógicos dentro das regras e regimentos curriculares exigidos pelos órgãos legisladores de educação e pelas determinações dos planos diretores de gestão escolar exigem participação e compromisso da adoção de práticas pedagógicas que contemplem um conjunto de intenções e ações que levem a considerar possibilidades interdisciplinares, e sem dúvida alguma, a pesquisa e projetos de ciência dentro da escola, é uma das etapas mais significantes. É logicamente um começo e não uma finalidade em si mesma. Nem toda a área de conhecimento é, por excelência, um celeiro de experimentações científicas. Mas todas, sem exceção, podem participar ativamente de projetos de experimentos científicos, dando o seu quinhão nesta montagem global dos saberes em prol de uma nova concepção de construção de conhecimentos. Desta forma, a experiência científica pode nascer nas áreas que lhe são normalmente caracterizadas e introduzirem as outras disciplinas para que possam contribuir com seus aspectos de construto epistemológico, científico, de métodos, práticas, de recursos, e de diferentes visões sobre o objeto estudado. Muitos experimentos científicos que no passado ficavam órfãos das observações das outras áreas, agora podem ter seus pareceres. Exemplos dessa ordem já são demonstrados nas feiras de ciências, de história, de geografia, de física, de química e de matemática. Alguns exemplos clássicos de experimentos podem ter a contribuição e colaboração da realidade histórica, da situação geopolítica de época, da descrição biológica ou química dos materiais estudados, e assim, por diante. Que a união das áreas de conhecimentos é contribuição notável para se chegar à melhores resultados, ninguém discorda disso, mas o que preocupa gestores e docentes é como operacionalizar tal interdisciplinaridade, se toda a estrutura organizacional da escola está planejada para aulas disciplinares, tempos cronometrados, e exigências de horas no cumprimento dos ementários? Este é o tema central das discussões acadêmicas e possíveis implantações de modelos inter e transdisciplinares que se almeja no ensino. Escolas desenvolvem projetos semestrais e até anuais com os alunos, onde cada área de conhecimento, ou disciplina, participa com suas turmas, estudando os problemas da pesquisa e propondo suas respostas conforme Cláudio de Musacchio

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os ditames de cada disciplina. Ocorre que é uma caminhada em direção a interdisciplinaridade, mas ainda não é uma atividade essencialmente interdisciplinar. Para que ocorra a interdisciplinaridade é necessário que haja a discussão, a interatividade entre as diferentes áreas. Não se trata, portanto, de contribuir com os conhecimentos epistemológicos de cada área, em direção a solução do problema, mas sair da zona de conforto das áreas de conhecimentos para que, numa zona neutra, todos discutam e debatam sobre os problemas da pesquisa em questão. Mesmo que estas escolas, agindo desta maneira, com as contribuições de cada disciplina, sem terem seus resultados nascidos da cooperação e suas epistemologias, pode-se afirmar que estão a caminho da interatividade tão necessária para a interdisciplinaridade. Na proposta de ação multidisciplinar, que é o que caracteriza este tipo de evento, todas as disciplinas se unem para responder a pesquisa. Entretanto, sem que esta união seja compartilhada. Nesta perspectiva, vê-se que as experiências científicas em sala de aula, propiciam caminhos adversos àqueles descritos pelas intenções que a interdisciplinaridade de fato representa. Mas coloca alunos e professores numa estrada que, mais cedo ou mais tarde, estarão se integrando, cooperando e colocando suas epistemologias, práticas e metodologias em comunhão para trabalharem juntas, e não uma a uma como alguns modelos atuais.

Mudança real na gestão curricular Ação transformadora da gestão escolar compreendida como sendo aquela que se utiliza da autonomia que lhe é possível e da responsabilidade coletiva pela gestão e pelos projetos que elabora para efetivamente caminhar no sentido da mudança paradigmática do status atual para um estágio que se queira para incorporar atividades interdisciplinares. As ações transformadoras se estabelecem na construção dos projetos pedagógicos e do planejamento de gestão da escola, que passa a incorporar em toda a sua estrutura organizacional, didática e pedagógica, as mudanças nas práticas democráticas que precisam ser implantadas urgentemente. Estas mudanças, muitas vezes, passam pelas relações de poder. O primeiro grande desafio das escolas e de seus gestores é, sem dúvida alguma, a mudança curricular. Nesta tessitura, a escola deve prever que em alguns momentos, as turmas serão unidas, e os professores estarão na mesma sala debatendo com os alunos os temas necessários para cumprir o ementário e os conteúdos curriculares. Só que expostos fisicamente a uma nova divisão que lhes outorgue a mudança paradigmática que se espera para impulsionar 64

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o modelo educacional para um nível de estudo mais abrangente e onde o embate de duas ou mais disciplinas, estarão frente a frente, para realizarem suas contribuições. Nestes momentos de colaboração entre as disciplinas, os professores previamente já acordaram suas participações e estabelecem com as turmas unidas outro território de conduta. Não é um professor visitante que chega à turma para contribuir, são duas turmas que se unem para discutir um tema comum. Cada professor profere sua participação segundo o tema que está sendo debatido, e as perguntas dos alunos, confere aos dois ou mais professores, respostas segundo seus construtos epistemológicos. Podem-se tirar dessas interações três lições possíveis: Os temas debatidos em comunhão sugerem que as leituras feitas em cada ciência não representam mais o espectro total exigido para a compreensão das discussões, necessitando de mais leituras no contorno das duas ciências; Os professores num primeiro momento abordam seus pareceres, segundo suas áreas disciplinares, mas pouco a pouco, se integram a uma fala interdisciplinar, se preocupando com a visão que o todo passa a ter sobre eles, tendo em vista que os alunos recebem uma carga de observações diferentes daquelas que receberiam se estivessem em seus redutos disciplinares, porque as falas dos professores estão carregadas de etimologias e termos técnicos de suas áreas de conhecimento, e percebem que precisam ser mais plurais, e adotam então uma postura de esclarecer o pensamento científico, tornando as aulas mais interessantes; Todos percebem depois de algum tempo, professores e alunos que não se trata mais de disciplina a ou b, mas do contorno que estas duas áreas de conhecimento estão proporcionando aos alunos. Isto é interdisciplinaridade. O que se estabelecem nesses encontros interdisciplinares é que tanto professores quanto alunos são estimulados, naturalmente a “navegarem” por contextos estabelecidos no contato entre as disciplinas presentes. Em atividades posteriores, envolvendo mais de duas disciplinas, pode ocorrer necessidade de mais literatura específica que permeie as disciplinas participantes, e neste contexto, a interdisciplinaridade possui papel preponderante em sua principal razão de ser – “costurar” as áreas do saber para que os sujeitos possam ter uma visão muito maior e superior do que a soma das partes de cada ciência envolvida, tornando o pensamento complexo, que visa associar, sem fundir, distinguindo sem separar as diversas disciplinas e formas de ciência. Cláudio de Musacchio

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No âmbito da gestão escolar, as dificuldades em elaborar estes planejamentos decorrem de enunciados que norteiam necessidades físicas de espaços para duas ou mais turmas, de viabilizar os horários para contemplar dois ou mais professores no mesmo horário de aula e de considerar as mudanças no ementário para permitir que as disciplinas sejam colocadas nas interseções no modelo curricular estabelecido. São muitos os desafios e as costuras para se chegar aos níveis desejáveis de projetos pedagógicos que vislumbrem o uso em definitivo da interdisciplinaridade como meta para um pensamento complexo, de nãolinearidade e a caminho da transdisciplinaridade, que busca a mudança de paradigma, abandonando o reducionismo que tem pautado a investigação científica em todas as áreas de conhecimento. Mas como pensar em termos objetivos a interdisciplinaridade na escola contemporânea? Como operacionalizá-la levando em consideração a dificuldade docente em entender sua metodologia e aplicação prática? Como implantar a interdisciplinaridade dada à dificuldade que a gestão encontra em analisar os Parâmetros Curriculares Nacionais e os temas transversais com as viabilidades de horários e metodologias que privilegiem o contato direto com a interdisciplinaridade?

Interpretações possíveis da Interdisciplinaridade Diferentes concepções e abordagens da aplicação da interdisciplinaridade predispõem os professores a uma série de interpretações sobre o que é e como trabalhar de forma a promover a interdisciplinaridade em toda a sua plenitude. Ocorre que, diferentes interpretações geram diferentes trabalhos e pesquisas oriundas dessas interpretações. A seguir, algumas dessas interpretações e de como a interdisciplinaridade podem ser desenvolvidas potencialmente na escola: DESENVOLVIMENTO DE TRABALHOS INTERDISCIPLINARES A PARTIR DE CADA ÁREA DE CONHECIMENTO

Nesta modalidade de interdisciplinaridade os professores trabalham as pesquisas conforme as contribuições de cada área de conhecimento, sem promover as epistemologias em seus contornos. Dada uma pesquisa, cada professor contribui com seus aspectos, não havendo as interações importantes 66

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e relevantes da interseção dos conhecimentos. A interdisciplinaridade nesta configuração não movimenta os conceitos entre as disciplinas envolvidas e não há inter-relacionamentos advindos de cada área. Apesar de ser uma tendência natural e iniciante, é preciso incentivar esta cultura, pois o passo seguinte que o professor irá dar é constatar que suas respostas, estão corretas em relação aos seus construtos epistemológicos, mas que precisam ser inter-relacionadas com as demais e dessa interatividade, as análises começam a ser vistas e analisadas por todos. Não se trata de cada disciplina contribuir com seu conhecimento, mas de como todas as ciências podem refletir nos conceitos que são comuns a todas as disciplinas. É preciso “navegar” nos contornos das diferentes ciências e abordagens. Neste tipo de interdisciplinaridade todas as cores empregadas para se encontrar as respostas, aparecem nitidamente. Ou seja, os conceitos encontrados para responder as indagações às pesquisas, são observáveis e suas origens, isto é, disciplinas, podem ser enumeradas claramente. VISÃO INTEGRADA DAS DISCIPLINAS PARA SOLUCIONAR PROBLEMAS

Nesta abordagem interdisciplinar, as diferentes disciplinas contribuem analisando de um mesmo ponto de referência, e buscando em seus construtos epistemológicos, contribuições que possam ajudar nas respostas às indagações. Diferente da análise anterior em que cada disciplina contribui com seus discursos territoriais de conhecimento, na visão integrada, todas as disciplinadas envolvidas transitam, através da interdisciplinaridade, os mesmos conceitos que são comuns a todas as disciplinas. Nem sempre isto é possível, e será necessário analisar cada caso. Dentro desta perspectiva, não se trata de uma colcha de retalhos de conceitos, preceitos, normas ou paradigmas. É construir conteúdos através das interseções das ciências. Esta interdisciplinaridade, por excelência, trabalha nos contornos das ciências, criando novos paradigmas, métodos, funções, rotinas, ou procedimentos, que pode, eventualmente, originar-se em outras disciplinas. É o caso de ciências como a psicologia quando se une a neurociências para observar a psicomotricidade. Dependendo do que estiver sendo observado, não se pode distinguir o que é movimento psíquico ou movimento motor independente. Mas, é bom que se deixe bem claro que a interdisciplinaridade não tem obrigatoriamente o propósito de unir as ciências ou disciplinas, pelo contrário, a especialização Cláudio de Musacchio

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é necessária, oportuna e premente, exigindo de seus especialistas o avanço sistemático para se evoluir. Pode, ocorrer, que a discussão nos contornos das ciências envolvidas num determinado assunto, serem de tal ordem, que não seja mais possível saber se as perguntas que estão sendo criadas são de disciplina a ou b, e que cujas respostas também não se pode, epistemologicamente, dizer sua procedência. Nestes casos, é possível, que se evolua para uma disciplina que acomode tais indagações e respostas epistemológicas, que se tornem mais confortáveis, a criação de uma disciplina que contemple os dois saberes. INTERDISCIPLINARIDADE COMO PROJETO

Nesta modalidade, erroneamente se constitui numa atividade interdisciplinar. Todos os professores e disciplinas envolvidas na realização de um projeto realizam diferentes tarefas, cada uma delas exercida separadamente, por cada disciplina, não havendo, portanto, ações em conjunto oriundas da interatividade. Nesta concepção, não há ações interdisciplinares. Apesar de todos estarem trabalhando para um mesmo fim, todo o caminho percorrido é um somatório de soluções, advindas das diferentes áreas de conhecimento, e que contribuem para a resposta final. Entretanto, não há o inter-relacionamento entre as áreas e os professores não buscam confrontar os construtos epistemológicos. É como se cada disciplina cuidasse de uma cor para o resultado final. E apresentasse como resposta para a pesquisa conceitos e paradigmas de sua cor. O resultado é um arco-íris onde cada disciplina expõe sua cor e suas respostas ao projeto. PONTOS COMUNS DE VÁRIAS CIÊNCIAS PARA O MESMO PROJETO DE PESQUISA

Nesta perspectiva, a interdisciplinaridade já nasce nos contornos das áreas de conhecimento. Não havendo epistemologias próprias, contribuindo para encontrar a resposta. Só são observados os pontos em comum às disciplinas participantes. É como se quisesse observar experimentos que não existem nas ciências em separado. Só fazendo sentido, quando unidas no mesmo propósito. O tratamento dado as observações da pesquisa são acompanhadas pelas disciplinas, mas não no que cada uma pode contribuir tendo em vista não ser possível a contribuição em separado, mas em conjunto, nos conceitos que são comuns as ciências. É como se pudéssemos analisar somente com uma cor laranja, não podendo haver a contribuição do amarelo, nem do vermelho. 68

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Conclusões As diferentes aplicações que a escola venha a realizar através de projetos de pesquisa, experiência científica em sala de aula ou a interdisciplinaridade, o desenvolvimento para atividades essencialmente interdisciplinares já é um consenso entre professores e gestores de escola. Mais e mais atividades colaborativas e promoção da interatividade estão sendo privilegiados nos trabalhos de pesquisa demonstrados nas feiras e mostras de ciências. Evidentemente, que tal tema polêmico, até na sua interpretação, deve ser amplamente discutido em todas as esferas do sistema educacional, envolvendo professores, alunos e administração, para permitir compatibilizar as ementas curriculares com os procedimentos interdisciplinares que se espera do ensino para o terceiro milênio. As diferentes concepções e abordagens do uso e interpretação pelos professores das ações interdisciplinares requerem mais reflexões e construção de conceitos teóricos e práticos do pleno exercício da interdisciplinaridade como paradigma para a mudança nas metodologias e práticas educacionais que se deseja implantar, diminuindo a visão especialista da educação, dando aos alunos e professores uma visão mais integrada das observações dos fenômenos estudos. Cabe aos gestores das escolas a incumbência de criar espaços para discutir o trabalho interdisciplinar e de que forma ele deve ser realizado, inserindo os alunos no centro das questões como ator ativo do processo de ensino e aprendizagem. A aplicação de metodologias alternativas como experiências científicas em sala de aula proporcionam ambientes ideais para promoção da interdisciplinar por sugerir nas hipóteses e questões norteadoras, mais de uma disciplina ou ciência para se chegar as respostas às experiências. O desafio de aprimorar o ementário, sugerido pelas Novas Diretrizes e Bases da Educação para o ensino escolar, privilegiando atividades que diminuam a fragmentação promovida pelo modelo tradicional e cartesiano do ensino disciplinar e restabelecendo um olhar mais geral, global e totalizante da realidade. Os projetos pedagógicos devem inserir os novos paradigmas constituídos da interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e da experimentação como ponto forte para pesquisa científica dos fenômenos observáveis.

Cláudio de Musacchio

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Núcleo Ciência e Tecnologia Educando com a Astronomia Educating to Astronomy

Resumo O presente ensaio aborda o ensino da Astronomia como forma de se produzir metodologias interdisciplinares no ensino escolar dos Astros e Estrelas. Também sugere como as competências podem ser adquiridas pelos docentes para promover pesquisas científicas e experimentações como forma de potencializar o uso interdisciplinar dos saberes. E por fim, o ensaio sugere que a formação dos docentes contemple atividades interdisciplinares para que possam entender como seus construtos epistemológicos podem contribuir para as interações necessárias ao ensino completo, global, totalizante.

Palavras-chaves Interdisciplinaridade, Astronomia, Astros e Estrelas, formação interdisciplinar do ensino de Astrologia.

Abstract This essay focuses on the teaching of astronomy as a way of producing interdisciplinary methodologies in school education of the Stars and Stars. It also suggests how skills can be acquired by teachers to promote scientific research and experimentation as a way to increase the use of interdisciplinary knowledge. Finally, the essay suggests that the formation of interdisciplinary activities admire teachers so they can understand how their epistemological constructs may contribute to interactions required to complete education, global, totalizing.

Key words Interdisciplinary, Astronomy, Stars and Stars, interdisciplinary teaching astrology.

Resumen Este ensayo se centra en la enseñanza de la astronomía como una forma de producción de metodologías interdisciplinarias en la educación escolar 74

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de las estrellas y las estrellas. También sugiere cómo las habilidades se pueden adquirir por los profesores para promover la investigación científica y la experimentación como una forma de aumentar el uso de conocimientos interdisciplinarios. Por último, el ensayo sugiere que la formación de actividades interdisciplinarias admirar los maestros para que puedan entender cómo sus constructos epistemológicos pueden contribuir a las interacciones necesarias para completar la educación, global, totalizadora.

Palavras clave Interdisciplinarios, Astronomía, Estrellas y estrellas, la astrología enseñanza interdisciplinaria.

Introdução “Toda vez que uma criança olha para os céus e faz uma pergunta sobre o Universo, nós temos o dever de responder, de algum modo, para que ela continue perguntando, ou estaremos matando nela a curiosidade de querer saber mais.”

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O tema da Astronomia, de uma maneira geral, já é um tema apaixonante para qualquer idade. Estudar os astros, as estrelas, as relações cósmicas, entender o sistema solar, a observação da Lua e tantos outros assuntos são instigantes, e quando a criança começa a perguntar não para mais. Os Parâmetros Curriculares Nacionais para as modalidades do ensino médio e fundamental, mencionam a sua integração nos currículos. Se ainda não existe como disciplina pura, por questões de capacitação dos professores de Ciências, ou mesmo pela estrutura gestora da escola não estar aparelhada para a observação dos objetos estelares, elas estão muito incipientes nos ementários e deveriam ser melhor exploradas. Alguns eixos temáticos relacionados a Astronomia como “Terra e Universo”, situados na área de Ciências da Natureza e suas tecnologias, estão claramente expostos para serem incorporados aos programas de ensino. No ensino fundamental é priorizado a questão da compreensão da natureza e seus fenômenos servindo como agente transformador. No ensino médio, numa abordagem mais abstrata, e utilizando a experimentação científica em sala de aula como metodologia para explicar o funcionamento do mundo e a avaliação das relações existentes entre o Homem e a Natureza. A Astronomia se constitui essencialmente de conteúdos interdisciplinares por permitir inter-relacionamentos com diferentes áreas de conhecimento como a física, química, geografia, história, e outras. Muitos vieses para integrar as ciências podem ser iniciados nas escolas através deste tema. As diferentes relações podem ainda se integrar as Novas Tecnologias que propiciou equipamentos de alta tecnologia para observação dos astros a preços muito acessíveis para as escolas. O próprio uso da Internet permite o estudo teórico dos astros e serve como pesquisa para os alunos. Os dois aspectos observados nesta questão se referem basicamente da postura da escola no aparelhamento necessário: antenas, telescópios, mapas cartográficos espaciais, e outros equipamentos, e a postura docente em abordar estes temas incorporando-os ao ementário da disciplina de Ciências.

Competências para o ensino fundamental e médio Para a construção do ementário, proposto pelo PCN, referentes à 5ª, 6ª 7ª e 8ª séries, é requerida várias competências dentro do processo ensinoaprendizagem. 76

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Alguns assuntos sobre Astronomia são sugeridos nos temas transversais e podem ser investigados: Astronomia através da História, estudando os povos chineses, da Babilônia e Egito.  Astronomia na Grécia até Newton.  Estudos dos modelos Heliocêntricos e Geocêntricos.  Movimentos dos Astros, estações do ano.  Relação da Lua com as Marés.  Fases da Lua. No ensino Médio, os estudos das Ciências da Natureza, na área de física, são requeridos os conteúdos sobre a Terra e Universo, e para estes estudos as seguintes temáticas são colocadas no PCN: sistema solar, a origem do universo, compreensão humana dos fenômenos estelares. Alguns exemplos ilustram de que maneira a interdisciplinaridade pode ser contemplada nos projetos de pesquisa:  Buracos negros;  Estrelas de nêutrons;  Super-novas;  Planetas extra-solares. Nesta perspectiva, pensando-se que o professor desenvolva os conteúdos sugeridos pela PCN, e ele próprio possuindo estes conhecimentos possa promover a interdisciplinaridade através da contribuição de diferentes ciências. Ao abordar os assuntos de Astronomia, as questões pertinentes a Física, Química, Biologia, História e Geografia poderiam ser respondidas pelos professores de cada disciplina, colocando os alunos frente a frente com um manancial de possibilidades de interações, questionamentos e aprendizagens surpreendentes. As aproximações com as outras áreas podem ser permitidas quando se promovem discussões a cerca dos diferentes ângulos da análise que se queira realizar sobre o objeto observado.

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As competências dos professores quanto à interdisciplinaridade devem ser exploradas ao máximo para permitir que os assuntos encontrem desdobramentos cada vez mais inter-relacionados uns com os outros. Ao se analisar, por exemplo, a questão do magnetismo e da eletricidade e suas implicações dentro e fora dos planetas já permitiriam uma série de projetos e pesquisas que envolveriam muitas disciplinas. A metodologia alternativa para compreensão dos fenômenos e dos materiais poderiam ser a experimentação científica em sala de aula, com demonstração pelos professores das diferentes áreas, cada um em suas abordagens, começando a responder as questões da pesquisa. E, pouco a pouco, as ciências se integrariam em questionamentos que envolveriam áreas das ciências que pouco é explorado e que não sobrevivem as argumentações solitárias de cada ciência, necessitando de respostas das demais ciências. Como sugestão de assuntos sugeridos para as competências pode ser citada: condutividade da eletricidade pelos diferentes materiais analisados pelos alunos, levando professores e alunos a experiências científicas com materiais que permitiriam passagem de corrente elétrica; exploração do conceito de densidade dos objetos. Na experiência com o tema sobre a eletricidade é possível uma série de eventos no laboratório com materiais como pilhas, lâmpadas, fios, madeira, para estudo de campos magnéticos, imantação de materiais, e outros. Muitos projetos de pesquisas oriundas de determinada área de conhecimento encontram noutras disciplinas questões comuns que podem melhorar o entendimento e comprovar ou refutar mais claramente as hipóteses elaboradas.

Experiências científicas em sala de aula Tendo em vista que os professores de ciências dominem esses assuntos e que possam dispor de laboratórios de ciências para experimentos científicos, é possível a interdisciplinaridade nos projetos de pesquisa. Para isso, recomendase a aprendizagem dos eventos e fenômenos através de projetos de pesquisa. Dentro dos projetos, são contempladas todas as etapas para compreensão do objeto a serem estudadas, as relações com as outras áreas de conhecimento, os professores convidados, a participação dos alunos na elaboração do texto técnico contendo os dados da pesquisa tais como título, objetivos, hipóteses, e outros. Os alunos produzem o texto técnico, anotam os resultados da pesquisa e escrevem finalmente o artigo científico que será publicado na escola, nas revistas especializadas e nos periódicos nacionais e internacionais. 78

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A experimentação em sala de aula irá oportunizar vários aspectos da interdisciplinaridade: irá colocar os professores confrontando as ideias a cerca do objeto que está sendo estudado, permitirá o contato com a observação dos objetos através de equipamentos e instrumentos científicos que potencializam a atenção e o interesse, já que instiga a curiosidade dos alunos pela obtenção de resultados esperados, irá permitir que os alunos discutam diferentes aspectos das ciências que não seriam possíveis só com o professor de ciências. As contribuições da física, da matemática, da biologia, da história, da geografia, e das artes, se esforçam em reconstituir o que a fragmentação das disciplinas separou. Nesta reconstituição dos saberes, um dos pontos culminantes desse processo é a síntese que é permitida pela integração apresentada dos diversos conhecimentos, tornando a aprendizagem mais rica e mais completa, a respeito do objeto estudado. Sendo, portanto a metodologia interdisciplinar um forte processo integrador que permite desde a comunicação dialética dos professores em sala de aula, contribuindo com seus conhecimentos, mas também com os pareceres que vão se tecendo a cada nova argüição dos alunos. A experimentação científica em sala de aula proporciona a construção gradual do desenvolvimento interdisciplinar, pois oportuniza a aprendizagem significativa, tendo em vista a observação do fenômeno estudado, mas também pela metodologia empregada que permite a construção, segundo JAPIASSU (1976), de cinco etapas distintas:  Construção de equipe interdisciplinar constituída pela escola como grupo de estudo e pesquisa, o ideal é que ela seja institucionalizada;  Estabelecimento de conceitos comuns as várias disciplinas;  O estabelecimento de pesquisas e projetos em todas as disciplinas com estudo da problemática da pesquisa;  A divisão de tarefas entre os atores dos projetos de pesquisa;  A confrontação dos resultados esperados. A experiência científica em sala de aula é por natureza científica interdisciplinar, mas alguns cuidados devem ser observados para que não se construa uma colcha de retalhos, inibindo as relações, interações e interrelacionamentos tão necessários para esta interdisciplinaridade que se busca. Cláudio de Musacchio

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Ao se trabalhar em projetos de pesquisas, todos os atores participantes (professores, alunos, técnicos e especialistas) devem ter em mente que o objetivo principal de qualquer pesquisa é encontrar a comprovação das hipóteses propostas ou a sua refutação. E neste sentido, as diferentes áreas de conhecimento precisam estar dispostas a interagir, trocar, participar da pesquisa de forma a se comprometer. Fazenda (1995) contribui neste sentido, sugerindo que os participantes desenvolvam a parceria, o que implica numa mudança de atitude tanto no nível individual da pesquisa, quanto no aspecto coletivo. Para esta atitude se compreende aspectos de reciprocidade para potencializar as trocas, o diálogo, atitude de humildade em reconhecer que seu conhecimento é limitado e que sua área de saber não responde a todas as provocações. Quando os projetos de pesquisas interdisciplinares são iniciados na escola existe forte tendência dos professores de acharem que seus conhecimentos podem, sozinhos, contribuir com as soluções que as hipóteses ou questões norteadoras solicitam. Às vezes, é possível, que uma ou outra ciência contribua com importante resultado. Mas o que se espera da interdisciplinaridade são as respostas advindas dos contornos existentes entre as ciências. Outro ponto a ser considerado é que nem todos os projetos de pesquisa resultam em possibilidades de experiências científicas em sala de aula. Alguns projetos estão tão inseridos em uma só ciência que não necessitam de interdisciplinaridade, podendo desta maneira ter suas hipóteses comprovadas ou refutadas pela própria epistemologia interna da ciência. Mesmo nestes casos, onde pouca ou quase nenhuma colaboração de outras ciências pode ser considerada significativa, ainda assim, os professores devem tentar analisar os diferentes ângulos da questão pela ótica de outras áreas e tentar encontrar pontos comuns ou complementares. A importante postura interdisciplinar do docente é sempre se permitir pesquisar pelos campos epistemológicos comuns as áreas de conhecimentos. Em geral, estes campos são pouco explorados ou quase sempre não são observados, por se tratar de “terra de ninguém”.

Formação docente interdisciplinar Considerando a forte influência dos professores para a sua área de formação, a principal necessidade de superação está em compartilhar ideias, pensamentos, evitando os obstáculos psicossociológicos e culturais, e uma forte resistência de sair de seus redutos epistemológicos e pedagógicos para “navegar” na colaboração e interação das atividades interdisciplinares. 80

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Muitos estudos proporcionados pelos centros de pesquisas como os trabalhos do GEPI da PUC-SP analisam as dificuldades de confrontos epistemológicos de várias ciências participantes de um único projeto de pesquisa, e determinam que a principal razão possível para estes casos é a auto-reflexão, do pensar em sua caminhada e de como encontrar saídas alternativas para reposicionamento numa sociedade do conhecimento que busca a cooperação, colaboração e interatividade como metodologia para se estudar e fazer ciência. Os professores que estão saindo das universidades para o mercado de trabalho docente encontram ainda forte apelo ao ensino disciplinar, tendo em vista que o trabalho de mudança de paradigma ainda não se encontra fortemente constituído nas universidades brasileiras. Mesmo lá fora, em adiantados centros de interdisciplinaridade, ainda estão reformulando as teorias, modelos e métodos que possam comprovar que as mudanças estão ocorrendo no ensino básico, fundamental e médio. O desenvolvimento de projetos na tentativa de integrar os currículos é uma caminhada que depende mais da vontade de professores e gestores do que da própria concepção interdisciplinar. A quebra de paradigma para um modelo curricular que possa privilegiar este ou aquele método parece ser sempre uma integração lenta, requerendo algumas vezes, uma lei ou ordem mais diretiva que impulsione o sistema de ensino para realidades que se deseja alcançar. Se a formação docente ou a praxiologia docente não integra em seus construtos epistemológicos, concepções que lhe permitam ser interdisciplinares efetivamente, pouco ou quase nada são possíveis de mudança nas estruturas escolares e na própria organização institucional das gestões. O objetivo que se deseja alcançar está atrelado à mudança da metodologia de ensino para uma metodologia alternativa que privilegie o contato entre as ciências. E parece que a experimentação científica em sala de aula oportuniza esta aproximação. Não que ela seja a única maneira, mas é naturalmente, por ser pesquisa, e possuir questionamentos híbridos, pode envolver mais áreas de conhecimento para buscar as respostas que estão procurando para suas hipóteses.

Conclusões O grande desafio para a praxiologia docente são as aplicações em sala de aula que permitam resgatar as proposições da interdisciplinaridade que são as ações integradoras que culminam num projeto de educação que potencialize o ensino-aprendizagem, fortaleça as relações entre os saberes, permita que as ciências trabalhem juntas, integradas e inter-relacionadas. Cláudio de Musacchio

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Nesta perspectiva, o estudo de Astronomia deve contemplar metodologias que privilegiem a criação de projetos de pesquisa como cenário de possibilidades para visualizar a interdisciplinaridade em ação. Ao se constituir os projetos de pesquisa, é necessária a criação de atividades de experimentação científica em sala de aula, que podem ser realizadas em laboratório próprio ou em laboratório de multiuso, onde vários experimentos de várias disciplinas são organizados. A experimentação científica em sala de aula propicia as condições necessárias para as atividades interdisciplinares, tendo em vista o seu caráter fortemente baseado na busca de soluções por diversas ciências, não se prendendo a nenhuma delas. Como resultado de algumas atividades de Astronomia, é necessário envolver os professores de física para explicar conceitos pertinentes a esta área e também, de química, de geografia e de história. É evidente que as características inerentes a cada ciência são observadas em cada projeto de investigação, mas é preciso considerar aspectos de objetividade e subjetividade quando não é possível saber que contribuições úteis podem vir de duas ou mais ciências ao mesmo tempo, não sendo possível a dissociação em disciplinas. Desta maneira, a intenção da interdisciplinaridade é superar as dicotomias existentes entre as pedagogias e suas epistemologias, entre as teorias e suas respectivas práticas, propondo desta forma, uma solução onde possam coexistir e se locupletarem. Se num primeiro momento, cada ciência contribui com suas teorias, métodos e práticas, num segundo momento, as contribuições nascerão dos contornos provenientes destas ciências. E por fim, destas interdisciplinaridades possíveis, os trabalhos e projetos de pesquisa devem originar textos técnicos que permitam a elaboração de artigos científicos capazes de mostrar aos pares como a questão da interdisciplinaridade está sendo trabalhada e de como se pode superar o forte pensamento cartesiano, disciplinar, fragmentado, para uma postura que dá ênfase para a totalidade da observação aos fenômenos observáveis. A Astronomia, enquanto objeto de estudo, oportuniza outras abordagens possíveis para os estudos dos fenômenos, estabelecendo-se uma nova dialética totalizante, proporcionando maior completude na produção de informação e maior significação na construção de conhecimento pelos discentes. O que se espera na introdução de novas metodologias na relação ensinoaprendizagem, é que a interdisciplinaridade possa se desenvolver em toda a sua plenitude, promovendo ora avanços e retrocessos, ora com movimentos de ruptura, ora de continuidade, mas sempre buscando pesquisar a realidade 82

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da forma mais intensa e precisa possível, com o olhar clínico, crítico e científico, demonstrando os diferentes aspectos de uma análise multilateral e multifacetada dos fenômenos observáveis. E, principalmente, levar em consideração que a docência acompanha todo este processo, quer seja como autor, interlocutor ou incentivador, buscando integrar os conhecimentos, passando, desta maneira, de uma concepção fragmentada para uma concepção unitária, superando as divergências existentes entre ensino e aprendizagem, teoria e prática, potencializando cada instante na construção do conhecimento e, muitas vezes, sem estar preparado para a transição, aliás, é o que ocorre com a maioria dos docentes escolares, estão aprendendo uma nova metodologia enquanto fazem uso dela, em sala de aula, “consertando o pneu enquanto pedalam a bicicleta”.

Cláudio de Musacchio

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Núcleo Ciência e Tecnologia O uso da fotografia nos projetos pedagógicos da escola The use of photography in educational projects in schools

Resumo O presente ensaio demonstra como a arte da fotografia pode influenciar professores e alunos modificando suas práticas didático-pedagógicas e os contextos de aprendizagem. Mostra também como trabalhar a interdisciplinaridade em sala de aula e com as demais disciplinas curriculares e como promover a experiência científica em sala de aula através do manuseio de equipamentos e ferramentas de manipulação de imagens e fotografias. Discute também a importância da fotografia como meios alternativos de informação e comunicação, alterando os modelos educacionais que privilegiam a escrita e a leitura como metodologia central de ensino-aprendizagem. Finaliza comentando como a fotografia pode alterar a formação dos alunos em relação às competências e habilidades necessárias para utilizar as mídias digitais em contextos educacionais.

Palavras-chaves Interdisciplinaridade, fotografia, informação e comunicação pela imagem, curso de fotografia, artes-visuais.

Abstract This paper demonstrates how the art of photography can influence teachers and students changing their didactic and pedagogical practices and learning contexts. It also shows how interdisciplinary work in the classroom and with other curriculum subjects and how to promote scientific experience in the classroom through the handling of equipment and tools for manipulating images and photographs. It also discusses the importance of photography as an alternative means of information and communication, changing educational models that emphasize writing and reading as a core methodology of teaching and learning. Ends commenting on how photography can change the training of students in relation to skills and abilities necessary to use digital media in educational contexts.

Key words Interdisciplinarity, photography, the image communication, photography course, and visual arts. 88

information

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and

Resumen Este artículo demuestra cómo el arte de la fotografía pueden influir en los profesores y estudiantes que cambian sus prácticas didácticas y pedagógicas y los contextos de aprendizaje. También muestra cómo el trabajo interdisciplinario en el salón de clases y con otras materias del currículo y la forma de promover la experiencia científica en el aula a través de la manipulación de equipos y herramientas para la manipulación de imágenes y fotografías. También se discute la importancia de la fotografía como un medio alternativo de información y la comunicación, el cambio de modelos educativos que hacen hincapié en la escritura y la lectura como una metodología de base de la enseñanza y el aprendizaje. Finaliza comentando sobre cómo la fotografía puede cambiar la formación de los estudiantes en relación a las competencias y habilidades necesarias para utilizar los medios digitales en contextos educativos.

Palavras clave La interdisciplinariedad, la fotografía, la imagen de la información y la comunicación, curso de fotografía y artes visuales.

Introdução “Uma foto não vale mais do que mil palavras, como se dizia antigamente. As palavras não substituem as experiências vivenciadas pelas tecnologias e mídias do visual, do som, do movimento presencial. É preciso ver, assistir, integrar-se, visualizar, contemplar, admirar-se. É por isso que as comunidades e redes de relacionamento fazem tanto sucesso, posto que sejam multimídias a serviço das sensações e emoções. São as experiências vividas dos jovens que são postadas para que todos possam sentir os momentos deles.” Cláudio de Musacchio

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Talvez o mais forte argumento da docência quando se trata de aplicações nos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais seja a questão dos investimentos em equipamentos e ferramentas necessários para a realização de oficinas e grupos de estudos voltados para a imagem e o som. Um dos temas escolhidos para a oficina do núcleo de Ciência & Tecnologia é a atividade que envolve a manipulação de imagens fotográficas e sua produção como um todo. A fotografia no PCN está situada em Artes Visuais, numa subárea de ensino das Artes. Suas aplicações e pesquisas científicas em sala de aula podem ir desde a execução da revelação de filmes através de substâncias químicas até o conhecimento das atuais máquinas digitais e o estudo de suas tecnologias. Mesmo com a limitação dos recursos é possível enveredar por atividades que possam exercitar algumas práticas para se obter os conhecimentos necessários no que diz respeito às atividades de gerar, manipular, melhorar ou divulgar imagens fotográficas em meio impresso ou digital. O uso de imagens na relação ensino-aprendizagem já se constitui num forte apelo pedagógico tendo em vista que uma imagem pode substituir mil palavras, conforme o provérbio popular. O uso da fotografia na prática pedagógica, ao contrário do que muita gente possa pensar, não surgiu por acaso, mas a partir do interesse dos próprios alunos em trabalhar a questão das artes visuais de uma maneira geral. As oficinas de fotografia, geração de imagens, aprendizagem de aplicativos que trabalham com imagens estão sempre lotados de inscrições de alunos e professores. Um dos aplicativos mais procurados é o Photoshop, que permite a criação, produção, manipulação de imagens e fotos para efeitos publicitários, universitários e até mesmo para trabalhos corporativos, como propagandas e marketing em geral. Entretanto, as artes fotográficas abrem um leque muito grande de opções, passando pelos clássicos da pintura, do ensino de artes, do multiculturalismo, da imagem e do som, e das características que os códigos sociais e símbolos possam gerar nas sociedades contemporâneas. As características da aprendizagem da manipulação de imagens ultrapassam as fronteiras disciplinares e perpassa todas as propostas, uma vez que tudo, ou quase tudo, que se produz hoje em dia de conhecimento e cultura envolve, de uma maneira ou de outra, a fotografia ou a imagem digital. O principal enfoque desse ensaio e descrever as possibilidades interdisciplinares que esta atividade é capaz de gerar no seio das disciplinas e das relações educacionais. O diálogo metodológico não compreende 90

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apenas o manuseio da fotografia ou da técnica, embora esse aprendizado seja fundamental, mas relaciona também a questão multicultural dos interlocutores, professores e alunos. O ensino da fotografia está fortemente ligado ao conceito estético-antropológico e etnográfico embutidos numa concepção de arte etnocêntrica. Uma das premissas dos Temas Transversais nos Parâmetros Curriculares Nacionais é que a fotografia tivesse forte apelo cultural à exposição das obras de arte, da visitação aos museus, das esculturas e monumentos nacionais e internacionais, a forte influência local dos artistas populares e clássicos da literatura mundial. A interdisciplinaridade pode ser concebida como instrumento dialético utilizando a linguagem da fotografia como meio para obtenção da aprendizagem. As diferentes abordagens e códigos icônicos proporcionam uma realidade de construção dos objetos, pessoas, animais e cenários bastante promissores, e mais do que isso, a fotografia ensina um código visual, alterando substancialmente a maneira como o aluno vê o mundo e se relaciona com ele. A interdisciplinaridade aqui utilizada está na integração que a fotografia possa construir entre os diferentes conteúdos trabalhados e o resgate de valores éticos e estéticos discutidos pelos vários cenários e áreas de conhecimento. Os exercícios possíveis e mais indicados para a oficina de fotografia, além é claro das opções pertinentes ao aprendizado dos equipamentos e ferramentas de melhoria das imagens, é a oportunidade que os alunos têm de interligar as ciências ou disciplinas. Como aplicação pode-se citar a atividade do aluno responder com imagens aos questionamentos realizados num teste de avaliação conceitual. Exemplos: defina numa imagem o avanço tecnológico das usinas nucleares e seus efeitos nefastos a sociedade e a natureza; descreva numa imagem ou fotografia os resultados da erosão terrestre; mostre as estações do ano através de imagens; demonstre os três estados da molécula H2O; descreva fatos históricos brasileiros através de fotografias de época; que tipo de alimentação era utilizado na década de 40 pelas famílias brasileiras através das fotografias de época. E assim por diante. Mas o grande enfoque que se deseja atribuir à interdisciplinaridade e experiência científica em sala de aula é a possibilidade dos alunos utilizarem a fotografia como meio para se desenvolverem enquanto produtores de textos e pesquisas, evocando desse modo, para uma leitura mais critica da realidade, através da interpretação por imagens e fotografias. Cláudio de Musacchio

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Num mundo de multimeios e novas tecnologias de diferentes mídias, cada vez mais se deve atentar para outros modos e compreensões da realidade e da sociedade. Não basta apenas a leitura e a escrita como forma de obtenção da informação e conseqüente construção do conhecimento. É também necessário se avaliar outras apresentações simbólicas compreendidas na comunicação e na informação.

Formação interdisciplinar audiovisual Entre as diversas propostas de oficinas nas áreas constituídas de audiovisuais, para aprendizagem de tecnologias modernas, de interpretações visuais, de compreensões abstratas da realidade, e outras mais, estão às características que a docência necessita para inter-relacionar com as outras áreas de conhecimento, dando aos alunos uma compreensão mais abrangente do que significa a imagem em diferentes disciplinas. Sendo assim, o professor proporciona o elo necessário para que o aluno tenha a convivência com as necessidades visuais das áreas de história, geografia, química, física, biologia, matemática, além das disciplinas obviamente voltadas para o visual como cinema, fotografia, pintura, escultura, e artes cênicas. Hoje em dia, o aluno não está tão tabula rasa como até duas décadas atrás, tendo em vista o acesso a Internet, ao mundo visual dos programas de computador, dos filmes, das máquinas digitais de fotografia e filmadoras portáteis acessíveis para a maioria da população. Isto significa que o aluno ao chegar à oficina de fotografia, já possui alguma experiência e seu interesse voltado para este assunto está intimamente ligado ao desejo de se aprimorar nas técnicas e manuseio de imagens e fotografias, considerando-se inclusive da possibilidade de aprender técnicas avançadas de foto arte. Mesmo com os inúmeros benefícios que a utilização de oficinas de fotografias possa representar na formação dos alunos e professores, e com a aprendizagem direta das tecnologias que permitem o manuseio das máquinas e equipamentos, o principal propósito destas atividades é tentar libertar os professores e alunos da ditadura do verbalismo a que estão presas as estruturas tradicionais do ensino formal. A vocação pré-estabelecida da transmissão dos conteúdos através dos mesmos critérios e metodologias da oralidade e da leitura podem agora desfrutar de outras formalidades. O nível de informação de um jovem da primeira década do século XXI não é a mesma das décadas de 80 ou 90 do século passado. A introdução dos computadores, das tecnologias visuais, dos programas gráficos, dos jogos interativos de alta resolução, e dos filmes disponíveis para download, faz 92

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do jovem de hoje um aprendiz muito mais contumaz do que os jovens de outrora. Entretanto, toda esta tecnologia de pouco ou nada tem serventia se não soubermos o que fazer com ela em sala de aula para compreensão da realidade e do mundo que os cerca. A fotografia pode ser utilizada amplamente na maioria das disciplinas, de diferentes maneiras, com movimentos ou estáticas, em forma de vinhetas ou filmes, como propagandas ou acessórios para o entendimento dos textos trabalhos em sala de aula. Caberá ao docente o melhor uso que se possa fazer do uso da imagem e do som em sala de aula nos diferentes contextos didáticos e pedagógicos. A estratégia do uso da fotografia em diferentes contextos também está traduzindo uma nova metodologia educacional capaz de acelerar a aprendizagem, por permitir a rápida compreensão dos conteúdos pela simples utilização de práticas consideradas inovadoras na relação ensino-aprendizagem. A aplicação do uso da fotografia através da interdisciplinaridade permite que as disciplinas se integrem e compartilhem utilizando o viés da imagem. Trata-se de utilizar a aprendizagem de fotografia como apoio didático na prática de outras disciplinas. Desta maneira, a interdisciplinaridade pode ser exercida plenamente quando os professores de outras áreas interagem com os alunos buscando argumentos comuns para a aprendizagem de suas áreas através do uso de uma mídia intermediando o ensino e a aprendizagem.

Capacitação e habilidades dos discentes Embora a proposta principal das oficinas não seja a aprendizagem profissional das atividades, esta possibilidade está intrinsecamente ligada ao fato dos alunos adquirirem as habilidades e competências necessárias para esta finalidade. A escola está voltada para o fator primordial que é o papel pedagógico. Entretanto, em alguns cenários, envolvendo tecnologias, o aluno poderá desenvolver-se através dessas habilidades e competências adquiridas. Pensando assim, os docentes orientam a aprendizagem para um viés com maior rigor crítico aos resultados, imaginando que essas atividades possam ser realizadas no mundo real. Desta forma, quando se imagina esse contexto, a interdisciplinaridade toma outro sentido, a própria aprendizagem vista pelo aluno assume outra conotação e é percebida pelo docente pelas interferências feitas pelos alunos em sala de aula a fim de sanarem as dúvidas mais pontuais. Na relação com outras disciplinas, os alunos percebem que a fotografia como suporte didático, assume dimensões significantes e ao realizarem os trabalhos e as atividades propostas, este conhecimento é exigido. Cláudio de Musacchio

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Não se trata apenas de uma prática pedagógica que insere a imagem ou fotografia nos textos trabalhados dos alunos, é muito mais do que isso, é promover uma simbologia além das respostas textuais, servindo como complementação as ideias expostas. O aluno ao interpretar a realidade sob a ótica da expressão visual torna-se mais abrangente na comunicação exigida pelas trocas de informações e conhecimentos. Imagine o nível de aprendizado que possui hoje um aluno que visualiza, através de fotos, detalhes microscópicos do objeto em observação, ou dos movimentos necessários para a compreensão do fenômeno que está sendo observado através de vídeos ou filmes. As aprendizagens oriundas da oficina de Fotografia poderão ir muito além do aspecto técnico de como regular uma câmera, ou enquadrar uma cena, ou regular os recursos de foco, luz, e cores. Este aspecto sugere que devemos propor reflexões sobre como o desenvolvimento desta tecnologia visual poderá desempenhar importante papel na interpretação das mensagens contidas nas imagens. Diferentes disciplinas como história das Artes, Artes Visuais, Desenhos Técnicos ou Artísticos, ensinam os aspectos etnográficos e antropológicos dos estudos das imagens, mas podem ser compreendidos também em cenários que vislumbrem a abertura para interpretação de textos, análise de comportamentos, estudo de sociedades, crenças, costumes, moda, estética, eventos publicitários e noções de marketing. O leque que a fotografia abre como possibilidades é muito grande, cabendo ao docente a sugestão de promover projetos de pesquisas que contemplem diferentes aspectos na produção de imagens e fotografias. O estudo da fotografia pode ser compreendido em todos os três níveis de ensino: básico, fundamental e médio. Enquanto nas séries iniciais, os estudos de fotografias se limitam a recortes, escolha de temas, pesquisas em jornais e revistas especializadas, nas séries do ensino fundamental e médio o estudo pode compreender a manipulação de equipamentos e máquinas de fotografia, revelação, conceitos de produção digital, manipulação e melhoria das fotos. Aos alunos do ensino médio, é possível pesquisas em diferentes abordagens científicas da fotografia, como fotografias microscópicas, macroscópicas, e de alta tecnologia, para observação de detalhes não vistos a olho nu. As habilidades e competências adquiridas com a oficina de fotografia irão despertar nos alunos o senso crítico dos fatos da realidade, da interpretação de mundo, e das leituras que farão levando-se em consideração os fatores subjetivos da análise e da experiência de cada um. A interdisciplinaridade dentro deste contexto pode ser bastante explorada com os professores de 94

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outras disciplinas da escola, tendo em vista o alto grau de afinidade que as disciplinas possuem quando o assunto é reprodução, através da imagem, dos conceitos abordados em sala de aula. Considerando que os alunos podem ultrapassar as suas próprias barreiras e dificuldades naturais em relação a uma ou outra disciplina, pelo simples fato de inserir outra mídia, neste caso a fotografia, para entender a disciplina. Dificuldades existem em todas as disciplinas, e muitos professores se utilizam das mesmas técnicas e práticas pedagógicas em sala de aula, que consistem basicamente na exposição dos assuntos. Se os alunos desenvolvem outras tecnologias possíveis a pedagogia, pode contemplar condições propícias a aprendizagem pelo simples fato de estarem modificando o olhar sobre o tema estudado. Educar também é ajudar a desenvolver todas as formas de comunicação, segundo Moran (1998). Moran alerta para o fato de que a educação e a comunicação estão intrinsecamente interligadas e são praticamente indissolúveis, tendo em vista que o ato de educar engloba toda e qualquer forma de expressão comunicativa. Diz Moran (1998), “a comunicação é um campo de trocas, de interações, que permitem percebernos, expressar-nos, e relacionar-nos com os outros, ensinar e aprender.” As capacitações e habilidades desenvolvidas pelos alunos através do estudo de fotografias irão potencializar seus estudos, suas relações com os temas e atividades disciplinares, promover interdisciplinaridades entre os conteúdos de diferentes áreas do saber e, principalmente, estabelecer outros modos de ensinar e aprender, de se comunicar e ser compreendido.

Conclusões Com o advento das tecnologias e equipamentos de informação e comunicação, a fotografia ganhos outras dimensões do que aquela vista apenas pelo uso da máquina de fotografar. As últimas duas décadas proporcionaram aos alunos contato mais intenso coma expressão do pensamento através da imagem e do som. De uma maneira geral, pode-se pensar que as mídias alternativas de comunicação e de informação produziram nas práticas educativas e pedagógicas, outros olhares além da escrita e da leitura de textos. Os alunos já chegam às idades escolares manipulando celulares com tecnologia de fotos e reconhecem esta atividade como fundamental em suas relações do cotidiano. Os aspectos sócio-históricos e econômicos, cada vez mais acessíveis, a toda a sociedade, beneficiam os métodos empregados pela escola para o uso pedagógico da imagem e do som. Cláudio de Musacchio

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O ensino das artes visuais, das esculturas, das pinturas, em diferentes contextos, materiais empregados e equipamentos eletrônicos como máquinas digitais de fotografia, computadores, programas de manipulação de fotos, tem contribuído para alterar radicalmente o cenário de contextos educacionais. As escolas especializadas já dispõem de todo tipo de artefatos para criação, produção, manipulação e exposição de imagens e fotografias temáticas em suas ementas curriculares. A interdisciplinaridade oriunda das inúmeras interações e colaborações neste ambiente de ensino-aprendizagem é naturalmente exercida, por seu aspecto híbrido e mestiçado, englobando muitas disciplinas. Na oficina de fotografia esta abordagem pode ser trabalhada com os demais professores como exercício de atividades envolvendo outras mídias para entendimento dos assuntos tratados nos currículos de cada disciplina. As experiências científicas em sala de aula também podem usufruir desta tecnologia, tendo em vista que todos os eventos ocorridos serão gravados através de fotos e vídeos para catalogação e posterior utilização pelos professores e alunos. A manipulação e produção de imagens, em todas as oficinas, ocorrerão pelos próprios alunos que deverão se responsabilizar pela criação, organização e exposição em fotos das atividades das oficinas através de mostras na própria escola. Os professores das disciplinas curriculares participarão dos projetos da oficina de fotografia através da sugestão de temas transversais para serem executados pelos alunos da oficina de fotografia proporcionando assim, uma interação entre o conteúdo curricular das disciplinas e as atividades de exercícios da oficina.

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Núcleo de Ciência e Tecnologia Noções de eletrônica Básica na escola Basic concepts of electronics in school

Resumo O presente ensaio aborda assuntos relacionados à introdução de conceitos e aprendizagens de tecnologias móveis, conceitos sobre eletrônica básica, metodologias de interdisciplinaridade no aprendizado de física em oficinas de eletrônica. Sugere também importância na formação de docentes para as questões metodológicas de interdisciplinaridade e experimentações científicas em sala de aula para potencializar a aprendizagem. O ensaio também sugere alguns assuntos como eletricidade, placas e circuitos eletrônicos e outros na aprendizagem de mecatrônica e eletrônica básica. E finalmente, pontua as principais prerrogativas de melhorias nas práticas pedagógicas através de informações sobre as novas tecnologias e equipamentos móveis de informação e comunicação auxiliando professores e alunos no processo ensino-aprendizagem.

Palavras-chaves Interdisciplinaridade, eletrônica básica, aprendizagens técnicas, oficina de eletrônica, experiência científica em sala de aula.

Abstract This paper discusses issues related to the introduction of learning concepts and mobile technologies, concepts of basic electronics, interdisciplinary methodologies in learning physics in electronics workshops. It also suggests the importance of training teachers for the methodological issues of interdisciplinarity and scientific experiments in the classroom to enhance learning. The essay also suggests some issues such as electricity boards and other electronic circuits and in learning basic electronics and mechatronics. And finally, points out the main prerogatives of improvements in teaching practices by providing information on new technologies and mobile information and communication helping teachers and students in teaching-learning process.

Key words Interdisciplinary, basic electronics, learning techniques, electronic workshop, scientific experience in the classroom.

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Resumen Este artículo discute las cuestiones relacionadas con la introducción de conceptos de aprendizaje y las tecnologías móviles, los conceptos de electrónica básica, metodologías interdisciplinarias en el aprendizaje de la física en los talleres de electrónica. También sugiere la importancia de la formación de profesores para las cuestiones metodológicas de los experimentos de la interdisciplinariedad y científica en el aula para mejorar el aprendizaje. El ensayo también se proponen algunos temas, tales como tableros de electricidad y otros circuitos electrónicos y en el aprendizaje de electrónica básica y mecatrónica. Y, por último, señala las prerrogativas fundamentales de las mejoras en las prácticas de enseñanza, proporcionando información sobre las nuevas tecnologías de la información y la comunicación móvil y ayudar a los maestros y estudiantes en el proceso de enseñanza-aprendizaje.

Palavras clave Interdisciplinarios, la electrónica básica, técnicas de aprendizaje, taller de electrónica, la experiencia científica en el aula.

Introdução “A educação que se deseja para o século XXI é aquela em que se permitam explorar todas as ciências, disciplinas, metodologias e tecnologias. Para as crianças construírem seus conhecimentos, a escola precisa se aproximar do mercado, dos especialistas e das economias. O estudo da eletrônica, mesmo que básica é fundamental para que a criança se insira no mercado de trabalho.”

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Algumas oficinas no período escolar são tão significativas e marcantes para a criança como aquelas ligadas às áreas das novas tecnologias. O mundo experimenta nos últimos vinte anos uma verdadeira inundação de tecnologias móveis baseada essencialmente na eletrônica. Muitos destes inventos e equipamentos eletrônicos estão na chamada informação e comunicação. Os avanços destes equipamentos também estão mudando os contextos escolares e disciplinares, pois estas tecnologias entram nas escolas através dos alunos e professores e, se num primeiro momento, perturbam as aulas, devem daqui pra frente se tornar equipamentos primordiais e fundamentais para a educação que se deseja. Um dos maiores ensejos ou desafios da atual gestão escolar é permitir aprendizagens dos alunos que vislumbrem condições de mercado e trabalho, além dos aspectos de formação da cidadania, a própria LBD prevê em seus objetivos uma educação que qualifique para o trabalho, oportunizando ao aluno conhecimentos que lhes garantam aprendizagens a cerca do mundo, dos objetos, da valorização da ética, do trabalho colaborativo, mas também, das aprendizagens técnicas de ferramentas e equipamentos que lhes proporcionem condições de entrar no mercado de trabalho. Nesta perspectiva, esta oficina introduz os alunos no amplo espectro das atividades consideradas ciências exatas, onde a computação, engenharia, eletrônica, mecatrônica e estudos de objetos elétricos e eletrônicos em geral, vão permitir acessos à informações muito úteis e relevantes, de como funcionam as máquinas, equipamentos e dispositivos eletrônicos. A área da eletrônica cresceu muito nos últimos anos em detrimento da aprendizagem do uso do computador e de sua manutenção, onde a aprendizagem da engenharia computacional e das peças do computador tem levado milhares de jovens a buscar cursos técnicos e de graduação para exercerem atividades nesta área. O maior desafio das escolas, no ensino fundamental e médio, tem sido promover competências e habilidades docentes para que estas oficinas nasçam dentro das escolas e floresçam como principais incentivadores aos alunos, dandolhes a oportunidade de conhecerem e aprenderem os conceitos sobre a eletrônica básica. Além das competências necessárias aos professores, é necessária a construção de laboratórios que contenham ferramentas e equipamentos para experiências científicas em sala de aula. Para isso é preciso estudos de espaços nas escolas para a construção desses laboratórios e que possam ser utilizados pelos professores de física, química e biologia, numa ação interdisciplinar, para que juntos, possam oportunizar os conceitos de eletrônica básica aos alunos. 102

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As oficinas escolares, diferente dos cursos de formação técnica, possuem a estratégia pedagógica de estimular interesses que possam levar os alunos a buscarem alternativas de aprendizagens técnicas para construírem seus alicerces profissionais. Muitos dos profissionais atuais receberam, no período escolar, informações importantes de seus professores, influenciandolhes na decisão de buscarem estes conhecimentos.

Conceitos fundamentais sobre eletrônica básica Considerando a aprendizagem no nível fundamental e médio, as escolhas dos temas sobre a eletrônica básica, devem ser incorporadas na aprendizagem de Física, de uma maneira geral. Entretanto, algumas abordagens podem ser mais bem exploradas em oficinas que se constituem, naturalmente em trabalhos de pesquisas e ambientes voltados para a experiência científica como forma didático-pedagógica para um ensino-aprendizagem que trabalhe essencialmente com os materiais e ferramentas necessárias, potencializando assim uma aprendizagem que faça realmente sentido para os alunos. As tecnologias predominantes nos dias atuais são a eletrônica, cujos ramos se subdividem em informática e telecomunicações; e a mecânica, que se subdivide em pneumática e hidráulica. O termo Mecatrônica vem da fusão dessas subdivisões. Sendo assim, a Mecatrônica configura-se, numa área interdisciplinar compreendida pelas tecnologias de mecânica, eletrônica e tecnologia da informação, para fornecer produtos, sistemas e processos otimizados e melhorados. Parte do conteúdo programático do ensino fundamental e médio de física pode ser direcionada para a oficina de eletrônica básica e os experimentos escolhidos sugeridos podem ser:  Conceitos de eletricidade (força e campo eletrostático, energia potencial elétrica)  Isolantes, condutores e corrente elétrica em diferentes materiais e tecidos  Identificação de componentes em circuitos  Utilização de equipamentos como multímetros (analógicos e digitais)  Resistências normais e montagem de pequenos circuitos  Medidas de correntes elétricas em circuitos Cláudio de Musacchio

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 Capacitores  Indução eletromagnética  Uso de osciloscópio  Entre outros. As concepções da metodologia de interdisciplinaridade e experimentações científicas em sala de aula podem demonstrar aos alunos como estes equipamentos funcionam, para que servem e aprender as inúmeras medidas de aferição e métricas relacionadas à eletroeletrônica, tão comum hoje em dia nos laboratórios de eletricidade básica e as aprendizagens no manuseio de componentes eletrônicos para construção de circuitos simples. Muitas destas experimentações podem ser realizadas também com o auxílio de programas de computadores que, servem hoje em dia à maioria das escolas que ainda não possuem laboratórios equipados com estes equipamentos, peças e dispositivos. Os conceitos vistos na oficina de utilização dessas ferramentas tais como multímetros (analógicos ou digitais), baterias, fontes de tensão, osciloscópios, geradores de Van de Graaf, placas de conexões, são algumas das aprendizagens essenciais e que permitem aos alunos contato direto com as leis da física, matemática, química e biologia. Neste sentido, a interdisciplinaridade poderá promover o contato com a turma de professores dessas áreas de conhecimento, permitindo assim que os alunos tenham uma visão clara das aplicações das fórmulas, dos esquemas matemáticos, das combinações de substâncias químicas, dos fenômenos da física e dos equipamentos empregados. Muitos dos materiais utilizados nas experiências científicas com estes materiais e equipamentos são oriundos de sucatas. Para algumas escolas e colégios que ainda não possuem tais infra-estruturas, a aquisição desses componentes é obtida a partir de placas de equipamentos fora de uso, obsoletas ou sucateadas. Exemplos são as fontes de tensão retiradas de computadores fora de uso, extração de componentes eletroeletrônicos em placas de aparelhos obsoletos ou inservíveis. Os alunos aprendem ainda os conceitos de relações entre as escalas multiplicativas e o uso de voltímetros, amperímetros, ohmímetros e outros.

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Experiências científicas em sala de aula utilizando eletrônica básica Da mesma maneira que uma moderna máquina de lavar roupa, controla a quantidade de sabão em pó que deve ser utilizada para uma determinada quantidade de roupa colocada na máquina, assim também uma série de equipamentos no cotidiano dos alunos possui partes mecânicas e partes sistêmicas computacionais. Entre estes equipamentos tem-se: telefone celular, CD - player, forno microondas, terminais bancários para movimentação de dinheiro e pagamentos de contas, alarmes, sensores eletrônicos de ambientes, máquinas fotográficas digitais, etc. As experiências científicas em sala de aula podem ser constituídas de diferentes maneiras levando-se em consideração a utilização direta de equipamentos e ferramentas e peças eletrônicas, como também de programas de computador simulando as experiências científicas. As ações de implantação dos experimentos para o ensino fundamental e médio partem dos conceitos iniciais de eletrônica, mecânica, informática e telecomunicações, e posteriormente, em experiências científicas utilizando-se ferramentas de aferição, medidores, relações com temperatura e eletricidade. Segundo a mídia científica e trabalhos publicados, os alunos em geral não gostam da física, por desconhecerem as relações que esta disciplina possui com a produção de objetos eletrônicos, com o desenvolvimento tecnológico e científico, além de permitir e colaborar com inúmeros processos eletrônicos. Os alunos podem compreender que muitos princípios de funcionamento de diversos componentes eletrônicos e mecânicos são regidos por fenômenos físicos apreendidos em experiências científicas em sala de aula. Os resultados dessas aprendizagens proporcionam aos alunos uma visão dos conteúdos e importância da disciplina Física, o que poderia despertar uma nova consciência científica. Dentro das expectativas das oficinas nas escolas que é levar ao aluno a compreensão de mundo e da aprendizagem que realmente faça sentido, também poderá guiá-los nas escolhas vocacionais, nos estudos especializados ou técnicos. Ao oferecer oficinas sobre assuntos como eletrônica, mecatrônica, telecomunicações e outros assuntos ligados a Física, o aluno estará praticando a interdisciplinaridade, pois estará conhecendo os conteúdos através de professores de diferentes áreas de conhecimento, proporcionando ao ensino e a aprendizagem muito mais que as disciplinas em separado. Cláudio de Musacchio

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Não é só a importância da Física enquanto disciplina curricular, mas, o desenvolvimento tecnológico e sócio-econômico advindo dos saberes sobre as ferramentas e equipamentos que os alunos manipulam fora da escola. O ensino tecnológico é primordial e deve ser inserido na educação como metodologia responsável em dar aos alunos a aproximação com o seu tempo, com as novas tecnologias e invenções, obtendo assim resultados bastante satisfatórios, segundo os últimos artigos científicos publicados em revistas especializadas nas áreas de educação e pedagogia.

Conclusões Como resultado dessa oficina de eletrônica básica espera-se que as experiências científicas em sala de aula possam acrescentar projetos educacionais e pedagógicos que proporcionem uma aprendizagem baseada nos estudos dos fenômenos observáveis, tornando as aulas mais interessantes e buscando-se diminuir a apatia natural dos alunos pelas disciplinas de física, química, biologia, que normalmente, não possuem vinculação com a vida fora da escola. Deve-se levar em conta que estas iniciativas proporcionam aos alunos o entendimento necessário do seu cotidiano, dos equipamentos eletrônicos que os cercam, das tecnologias de informação e comunicação que inundam as escolas através de ipods, ipad, iphone, celulares, tablets, notebooks, câmeras digitas e outros. É premente uma iniciativa da escola que oportunize e consolide as oficinas de aprendizagens sobre equipamentos móveis e que eles encontrem as respostas às suas indagações sobre como funcionam. Todos os anos, os índices mostram aumentos significativos nas mostras e feiras de ciências, principalmente nas áreas de tecnologia e telecomunicações, caracterizando-se numa área de conhecimentos que incentiva os alunos com possibilidades de se profissionalizarem. As áreas científicas e tecnológicas vêm ganhando força no ensino superior por garantir melhores remunerações e uma gama muito grande de opções. Além de promover a alfabetização tecnológica e científica, as oficinas também despertam os alunos para que esta aprendizagem também seja levada para as salas de aulas curriculares, permitindo assim uma revolução nas práticas didáticas e pedagógicas de ensino-aprendizagem, privilegiando a interdisciplinaridade e a experiência científica como metodologias mais bem aceitas pelos alunos e professores do ensino fundamental e médio. Segundo dados do Ministério de Educação, o número de laboratórios de física, química e biologia, dobram a cada ano nas escolas públicas e privadas. E mais recentemente, com os laboratórios de 106

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Informática e Telecomunicações, é que áreas como a eletrônica, manutenção de microcomputadores, telecomunicações e redes, têm proporcionado aos alunos contato maior com os equipamentos eletrônicos de informação e comunicação. Não se trata apenas de melhoria no ensino, o que por si só já garantiria prestígio dessas metodologias, mas o de aproximar o jovem da sociedade, do mercado e das tecnologias que são utilizadas em meio organizacional e que muitas vezes necessitam dessas aprendizagens para assegurar as vagas no mercado de trabalho. Nesta perspectiva, as oficinas exercem importante papel complementar ao currículo dos alunos, pois além de provocar atividades experimentais, os alunos trabalham em grupo, implicando em construção colaborativa, o que segundo as teorias interacionistas, o aprendizado se torna mais significativo reflexivo e desenvolve raciocínio indutivo e dedutivo. A curiosidade científica pode ser incentivada através das oficinas de interdisciplinaridade e experimentações. A proposta pedagógica extracurricular, através do formato oficinas, pode engajar professores e alunos numa proposta educacional mais ousada e diversificada, utilizando além do ensino-aprendizagem dos equipamentos e ferramentas da atualidade, o uso de metodologia interdisciplinar, onde professores de diferentes áreas de conhecimento podem interagir com os alunos e trocar informações importantes e relevantes sobre tecnologias, equipamentos e ferramentas eletrônicas e conceitos básicos de eletrônica.

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Núcleo Educacional de Empreendedores Educação Empreendedora nas Escolas Learning to take

Resumo O presente ensaio mostra como as escolas podem desenvolver pedagogias que contemplem ações educacionais, envolvendo-se em projetos de empreendedorismo, estabelecendo as diretrizes e práticas que os alunos podem exercer nos mercados de produção e consumo, de uma maneira em geral. Este ensaio também descreve como aos alunos desenvolvem inteligências empresariais compreendendo as ações de organizações produtivas, seus desafios, legislações existentes, relações com fornecedores e clientes. Mostra como ações interdisciplinares organizacionais se integram em atividades e relações que se desenvolvem em projetos de sucesso. E por fim, mostra como a escola pode abordar assuntos pertinentes a: desempregos, mão de obra especializada, função do governo nas economias, crescimento global das economias e relações internacionais.

Palavras-chaves Interdisciplinaridade, pesquisas científicas em sala de aula, aprendendo a empreender, empreendedorismo, mercados de produção e consumo.

Abstract This test shows how schools can develop pedagogies that include educational, engaging in entrepreneurial projects, establishing guidelines and practices that students can engage in the markets of production and consumption, in a general way. This paper also describes how students develop business intelligence including the actions of productive organizations, their challenges, existing laws, relationships with suppliers and customers. Shows how disciplinary actions are integrated into organizational activities and relationships that develop into successful projects. And finally, shows how schools can address issues pertaining to: unemployed women, skilled labor, government’s role in the economies, growth of global economies and international relations.

Key words Interdisciplinary, scientific research in the classroom, learning to be undertaken, entrepreneurship, production and consumption markets.

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Resumen Esta prueba muestra cómo las escuelas pueden desarrollar métodos didácticos que incluyan la educación, la participación en proyectos empresariales, el establecimiento de directrices y prácticas que los estudiantes pueden participar en los mercados de producción y consumo, de manera general. Este artículo también describe cómo los estudiantes a desarrollar la inteligencia de negocios incluyendo las acciones de las organizaciones productivas, sus desafíos, las leyes existentes, las relaciones con proveedores y clientes. Muestra cómo las acciones disciplinarias se integran en las actividades de organización y las relaciones que se convierten en proyectos exitosos. Y, por último, muestra cómo las escuelas pueden abordar las cuestiones relacionadas con: mujeres desempleadas, mano de obra calificada, el papel del gobierno en las economías, el crecimiento de las economías mundiales y las relaciones internacionales

Palavras clave La investigación interdisciplinaria, científica en el aula, el aprendizaje a realizar, los mercados de la iniciativa empresarial, de producción y consumo.

Introdução “A escola se aproxima mais da realidade de seus alunos quando introduz pedagogias empreendedoras, e quando incorpora projetos de espírito empreendedor nos jovens e crianças, permitindo que eles possam analisar suas possibilidades de realizações, em detrimento das dificuldades, leis de mercado, conhecimentos de fornecedores e clientes.” Sonhar é preciso, empreender é necessário. .

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Mais e mais escolas públicas e privadas desenvolvem oficinas e cursos extraclasses, programas de educação empreendedora, a fim de oportunizar os conhecimentos necessários para entender as relações sociais, políticas e comerciais que existem no mercado, a fim de gerar estímulos de uma mentalidade empreendedora com vias à geração de negócios. O fundamental dessas iniciativas é mostrar aos alunos, de forma geral, como os mercados são construídos, como a sociedade os vê e se relacionam com eles, como as economias se constroem no entorno das casas das famílias, e como estas organizações absorvem a mão de obra que um dia estes alunos serão. O pressuposto fundamental da pedagogia empreendedora é mostrar aos alunos como tudo começa, e através de uma ideia, inovadora ou não, de um desejo ou sonho, nasce e se desenvolve dentro do indivíduo, exigindo dele ações que o levam a pesquisar, perguntar, analisar, empreender. Os passos que se sucedem a partir do momento que se deseja algo, são transformadores na vida de qualquer indivíduo, e o grande desafio, sendo ele particular, individual, pessoal, é levar até as últimas conseqüências o ato de transformar a ideia em movimento, em proposta empresarial, suscetível de que ela ocorra através das relações que se estabelecem entre o indivíduo e o mercado, exigindo do empreendedor, o conhecimento das leis, das obrigações e do seu poder econômico e financeiro de sustentar tal empreendimento. A escola, enquanto ambiente de trocas de saberes, oportunizando tais oficinas de aprendizagens, estará enriquecendo a construção de conhecimentos necessários para a vida adulta e profissional de cada aluno. Estas pedagogias constituem-se num emaranhado de interdisciplinaridades, por natureza existencial, que levam os professores e alunos, a exigirem da escola, aplicações práticas que os coloquem em condições de simularem tais realidades. A iniciativa de aprendizagens para o empreendedorismo decorre basicamente das proposições existentes nos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais, demonstrando a devida acuidade de apresentar as escolas e professores, sugestões de educação empreendedora. A introdução de pedagogia empreendedora na escola permite a discussão de assuntos relevantes das realidades brasileiras como a miséria, o desemprego, a distância econômico-financeira entre ricos e pobres, ao mesmo 114

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tempo em que mostra para as crianças os papeis da escola, das tecnologias de informação e comunicação, do desenvolvimento sustentável, das crises econômicas internacionais e suas implicações nos mercados nacionais e internacionais. Todas estas informações são abordadas da forma menos técnica possível, tendo em vista que educação empreendedora não é formação técnica, e que as discussões são puramente discursivas. Algumas aplicações e experiências científicas em sala de aula serão incentivadas através do Projeto Paidéia, e poderá dar uma noção prática de algumas características nas relações existentes entre as organizações no mercado. O assunto aprender a empreender em geral está associado ao estudo de micro e pequenas empresas familiares e que encontra na iniciativa do governo, uma ajuda a quem deseja ingressar como empresário no mercado. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas incentiva o empreendedorismo apoiando através de consultorias empresariais para abertura de empresa, gestão empresarial, inovação tecnológica, orientação ao crédito para buscar recursos financeiros junto a órgãos do governo que prestam este serviço.

Objetivos da Pedagogia Empreendedora A pedagogia empreendedora parte do pressuposto que todo o indivíduo nasce, cresce e se desenvolve, desejando algo, fazendo escolhas, e assumindo as conseqüências delas derivadas, criando assim, as oportunidades e buscando transformar seus sonhos em realidade. Um dos objetivos, portanto, é levar até as crianças atividades que eles possam exercitar a colaboração, cooperação e a coletividade. Como resultado, as crianças observam que suas ações fazem a diferença e podem mudar o quadro real das realidades. Após algumas atividades, os alunos passam a perceber que a ação transformadora da sociedade está nas mãos deles e que esta atitude é muito positiva. Em, seguida, eles começam a analisar seus próprios sonhos e desejos, e buscam ações que possam levá-los a concretizar seus desejos. Os próprios alunos ajudam-se mutuamente na busca dos resultados. É uma experiência empreendedora, desafiadora. Ajudarem-se mutuamente os fazem compreender a dimensão pedagógica do empreendedorismo como proposta de ter o próprio destino em suas próprias mãos. Outro objetivo da pedagogia empreendedora é mostrar para os alunos que a construção de ações via colaboração é o único caminho empreendedor para resolver determinado problema. Empreender é um processo que os leva a uma aprendizagem através do fazer, do construir e reconstruir Cláudio de Musacchio

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constantemente, modificando a ação criativa e refazendo o desejo pensado ou sonhado, adequando-o a realidade alcançada. Sendo assim, as atividades propostas pelo professor, através das oficinas que trabalham estas questões empreendedoras, vão culminarem nos objetivos principais que é mostrar como as crianças podem discutir as questões sociais, políticas, econômicas e financeiras da sociedade, através da eliminação das diferenças sociais, das distâncias entre ricos e pobres, das participações nas economias, nas relações comerciais, e nos princípios norteadores que fazem do empreendedorismo a mais forte corrente mundial contemporânea de promoção às mudanças das sociedades organizadas. As iniciativas decorrentes de movimentos educacionais para a prática do empreendedorismo legitimam a escola a considerar responsável pelos primeiros acordes na direção de formar indivíduos naturalmente empreendedores, como forte construto para uma maior integração entre capital e trabalho, patrão e empregado, comprador e vendedor. O objetivo da iniciativa da escola em promover estas discussões, torna a educação empreendedora como principal palco de ensinamento e aprendizagem sobre a formação e princípio do homo econômico, para melhoria da qualidade do capital humano e da repercussão positiva da geração de riqueza para toda a sociedade. Investir na educação do capital humano, em outras palavras, é determinar novas competências, habilidades e atitudes, que determinam as potencialidades da capacidade de gerar trabalho e produção, sendo esta a razão mais promissora das aprendizagens humanas exercidas pelo conjunto da obra educacional. Nesta perspectiva, as atividades ensinadas às crianças, resultam numa pedagogia empreendedora que produz uma educação cujo fator determinante gerará o desenvolvimento econômico, uma melhor equidade econômicofinanceira entre os indivíduos e mobilidade social. A finalidade da educação empreendedora é criar um número cada vez maior de empreendedores na sociedade capaz de mudar as condições sociais. É atribuir à educação a responsabilidade pelo aumento ou diminuição da remuneração dos indivíduos e de sua mobilidade e ascensão social. É desejar que as pessoas melhorem suas vidas e seus ganhos e tenham melhores formações intelectuais, dependendo exclusivamente das orientações que receberem dos pais e dos primeiros anos na escola. Como resultante da educação empreendedora que as crianças recebem, resulta necessariamente em benefícios sociais, tendo em vista que o desenvolvimento de um trabalho empreendedor seja capaz de gerar capital social. 116

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Ações empreendedoras, através dos exercícios realizados nas oficinas, demonstram que quanto mais escolaridade os indivíduos alcancem e pelo grau de investimento em capital humano, eles serão mais produtivos, competitivos, e contribuirão efetivamente para o desenvolvimento econômico do país. Outro grande objetivo da educação empreendedora está em promover nas crianças o desejo de se desenvolverem tanto nos aspectos intelectuais quanto econômicos, posto que a pobreza não seja sinal apenas de ausência de renda gerada, mas também de poder e conhecimento. E para combater a pobreza é necessário investir em capital humano e social, ensinando as crianças a sonharem e realizarem seus sonhos.

A formação de trabalhadores com perfis empreendedores Mais e mais a sociedade, a iniciativa privada, os órgãos públicos e as políticas públicas em pedagogias educacionais, revelam basicamente que necessidades de ações empreendedoras estão se tornando ideais hegemônicos por todos os segmentos da sociedade. E esta característica é percebível quando analisamos que esta preocupação pela ação empreendedora estava apenas no âmbito das relações comerciais e administrativas das organizações comerciais, até bem pouco tempo e, que aos poucos, a estratégia é incorporar os preceitos nos jovens para se constituir numa nova formação de indivíduos, no que diz respeito às relações de trabalho. As organizações modernas e contemporâneas demandam necessidades de indivíduos mais colaborativos, autônomos, flexíveis, que exprimam competências e habilidades em resolver problemas, conflitos, e tenham atitudes construídas em preceitos de ajuda ao próximo, e de construção coletiva de melhorias do capital humano e social. Essas mudanças ocorridas no perfil dos novos trabalhadores que entram no mercado todos os anos estão alterando o tecido epitelial da sociedade, com características empreendedoras promovidas ainda no ambiente escolar. Entretanto é necessário ressaltar que as mudanças ocasionadas por novas demandas específicas no mercado de trabalho são produtos da constituição de um novo discurso educacional voltado para ações empreendedoras, de caráter, eventualmente, ideológicos e ocasionalmente, político-partidários. Para se evitar esse viés, os ensinamentos às crianças são atividades eminentemente de contexto social, cujos comportamentos práticos estimulam o interesse pelo social.  Mas como os professores podem trabalhar em sala de aula para que os discursos em prol de uma formação empreendedora sejam conseguidos pelas crianças? Cláudio de Musacchio

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 Como será construído esse discurso da necessidade de uma educação empreendedora para o trabalhador? A primeira prerrogativa para uma educação empreendedora é que a criança seja levada a constituição da elaboração de criar novas frentes de trabalho através da abertura de negócios empresariais. Não se tem ainda a pretensão de educar as crianças para serem empregados e sim empreendedores de seu próprio destinado, seja ele qual for: empregado ou empregador.

Introdução de novas tecnologias na formação de trabalhadores empreendedores Uma das causas ou conseqüências sociais de maior vulto nas sociedades contemporâneas foi à introdução de inovações tecnológicas e da automação do trabalho produtivo. Isto ocasionou a eliminação em massa de posto de trabalho, e conseqüentemente, o desemprego de milhares de trabalhadores, gerando o chamado desemprego estrutural. Mostrar às crianças que quanto maior o conhecimento embutido nos produtos, maior o desemprego, pois mais máquinas sem a intervenção do homem, foram colocadas no aparato produtivo. Entre os objetos que podem ser trabalhados em sala de aula estão: celulares, notebooks, ipods, ipads, ebooks, e tantos outros equipamentos móveis. A esses milhares de novos desempregados que se produzem nestas economias tecnológicas, surgem ações empreendedoras que incentivam o nascimento de negócios próprios, de pequenos investimentos, para se estabelecerem em economias de concorrência baseadas em micro-empresas. Em função destas tecnologias, os empregados têm que buscar novas formações e capacitações para se incluírem neste novo modelo comercial e industrial que se estabelece na sociedade. Em face de modernização das indústrias, e a agregação de novas tecnologias nas organizações, os indivíduos são levados a se enquadrarem em novos contextos que os submete a uma formação escolar mais ampla, de nível médio para superior, aumento progressivo da carga de treinamento dentro das organizações, conhecimentos cada vez mais avançados de informática, conhecimentos dos funcionamentos de equipamentos móveis como celulares sofisticados, ipods, ipads e outros, e considerável aumento na capacidade exigida de raciocínio abstrato e resolução de problemas mais complexos. As crianças podem compreender estes fenômenos através de atividades que possam ser mostradas a elas de como a sociedade exige novos 118

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conhecimentos. Mostre a elas como funcionam as lojas de operadoras de telefonia, com dezenas de computadores e sistemas. Os funcionários precisam conhecer e saber como funcionam os celulares que as lojas comercializam. Mostre aos alunos que as pessoas que não se ajustam aos novos modelos de perfis de trabalhadores ficam vulneráveis e instáveis em suas funções, sujeitos ao desemprego ou até mesmo a marginalização de futuras contratações. Como o mercado de trabalhadores aguardando uma oportunidade cresce consideravelmente, o mercado não se recente de trocar os empregados, reestruturando o tempo todo o corpo de empregados, por funcionários mais habilidosos e capazes. Assim sendo, os que não conseguem ser mais absorvidos pelos novos mercados de trabalho, porque não conseguirem se adaptar as novas exigências de qualificação ficam excluídos, marginalizados, do emprego formal assalariado, sendo, portanto, fortes candidatos aos programas de empreendedorismo. Mesmo para os indivíduos que se afastam do mercado por não acompanharem as inovações tecnológicas, necessitam rapidamente se integrarem as novas tecnologias, posto que estes conhecimentos sejam necessários às novas atividades que almeja.

Aprendendo a Empreender Com o crescente número de complexidades oriundas de um mercado mais tecnológico, as organizações começam a privilegiar não mais as qualificações originárias da formação, mas sim as competências e habilidades em resolução de problemas e conflitos. Por competência se entende o indivíduo que seja pró-ativo, criativo, autônomo, capacidade de raciocínio lógico aguçado, atualizado e bem informado, capacidade para educação continuada, adaptável às mudanças e domínio em diferentes contextos de comunicação e linguagens. Neste contexto, é dada a primazia por indivíduos que acumulam habilidades que o tornem super produtiva, pronta para obtenção de resultados. Indivíduos que não precisamos dizer a todo o momento o que devem fazer em suas atividades diárias. (Tem pessoas que cruzam os braços aguardando ordens a todo o momento) Segundo Perrenoud (1999), os indivíduos se experimentam em realidades para resolver problemas, para isso se substitui a lógica do ensino formal, baseada em treinamento, pela lógica adotada de construir as competências, através dos exercícios em situações de complexidade relativa. Cláudio de Musacchio

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Para a escola, o professor deve criar atividades que façam os alunos compreenderem a dimensão do saber fazer em detrimento do saber resolver. O construto do ser que é competente está vinculado ao que significa desenvolver habilidades para a resolução de problemas e para a realidade imprevisível das situações variadas do trabalho diário. A busca pela competência profissional transforma os indivíduos em aprendizes continuamente e a elaborarem capacidades de empreender. A oficina do aprendendo a empreender teria esta conotação principal, e as crianças devem desenvolver o gosto pelo empreendedorismo, através de exercícios práticos. Como elaborar um livro, revista, trabalhos manuais com materiais reciclados. Dentro do atual sistema de qualificação profissional do governo brasileiro, os novos atributos na formação compreendem possibilitar os trabalhadores em condições econômicas e sociais vulneráveis, em adquirirem as condições de empregabilidade. Entende-se por empregabilidade o atributo que o trabalhador deve ter para potencializar a manutenção do emprego ou obter novas possibilidades de trabalho. Neste caso, o termo atributo é aqui empregado com a ideia de agregação de valor. Ao Estado, portanto, cabem ações e programas para facilitar a aquisição de habilidades e competências, mas é o indivíduo que deve se responsabilizar pelas escolhas e seu devir profissional.

Projetos escolares de empreendedorismo na escola As metodologias empregadas nas oficinas de empreendedorismo compreendem dinâmicas lúdicas para atiçar a atenção das crianças, até mesmo nas séries iniciais. As ações empreendedoras são mais bem trabalhadas até a entrada no ensino médio, posto que as atividades não estejam compromissadas com possíveis vieses de mercado. Entre as atividades possíveis, sugere-se:  O Pintor e Suas Obras - Atividades de pintura realçando as conotações que a autoria representa no mundo das artes. Mostrar quadros, museus, e galerias de artes. Esta atividade desperta nas crianças e nos jovens o senso crítico da produção intelectual e artística;  Trajetória Profissional – nesta experiência, as crianças criam várias figuras, que irão representar a trajetória que gostariam de trilhar para realizarem seus sonhos profissionais. Estimule os alunos a escolherem profissões que se traduzam em empreendedorismo, e que os exercícios 120

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os levem a empreenderem na abertura da empresa, criação da linha de produtos, relações com o mercado fornecedor, possíveis clientes, e considerações da lucratividade e rentabilidade dos negócios.  Loja de produtos – qualquer que seja a atividade empresarial, os alunos devem elaborar um planejamento da escolha do tipo de negócio, localização, detalhe do ambiente e decoração da loja, rede de fornecedores e distribuidores dos produtos. Nesta atividade podem ser inseridos os conceitos de franquias como empreendimento, caso o empreendedor não conhecer profundamente o produto. As oficinas de empreendedorismo devem visar capacitar alunos do ensino fundamental e médio, a ter noções de ações empreendedoras. O objetivo não é formação profissional, nem a qualificação de fato, mas uma ideia bastante abrangente dos conhecimentos e desafios que os trabalhadores devem enfrentar quando optarem em realizar empreendimentos comerciais próprios.

Conclusões Os objetivos introduzidos em programas de empreendedorismo não é formar futuros empresários, mas de empreender o próprio destino, escolhas de carreira profissional, inserção em mercados especializados e de grande tecnologia, e até mesmo para o envolvimento de aplicações comerciais próprias. O objetivo das oficinas é envolver os alunos em projetos de pesquisa, de conhecimentos, envolvendo também a família e comunidade no entorno da escola. A cultura empreendedora é adquirida através de várias ações continuadas, que começam nas oficinas, mas continuam nas disciplinas e nos conteúdos curriculares. Sendo empreendedorismo uma cultura e não necessariamente uma ciência profissional, sua tendência é trabalhar nos alicerces da formação dos jovens para que se estabeleçam como futuros trabalhadores cientes de suas participações no mercado de trabalho e de relações sociais e comerciais. Seus objetivos compreendem a construção da autonomia estrutural, das escolhas que eles terão que fazer em um dado momento de suas vidas. E para estes momentos, os ensinamentos das oficinas de empreendedorismo irão estabelecer ajuda para compreender suas atitudes. Quando as crianças vêem suas obras construídas nos exercícios e práticas em sala de aula percebem que é possível a criação, a autocrítica, o autoconhecimento. Nesta relação o mais importante é que os professores Cláudio de Musacchio

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consigam estabelecer os ambientes de aprendizagem dos conceitos. Ensinar empreendedorismo não é como uma disciplina tradicional, não deve ser teórica, e em nenhum momento deve passar para o aluno o stress da aula expositiva. Ela deve ser eminentemente prática, objetiva, rica em momentos lúdicos, do fazer pelo fazer, da prática como construto epistemológico. O principal desafio dos professores habilitados para esta atividade é convencer toda a escola que empreendedorismo é cultura e como tal deve ser empregada em todos os momentos na escola, na casa dos alunos, e na sociedade em que vivem. Para isso, seus conceitos e preceitos devem estar inseridos também dentro das disciplinas e conteúdos curriculares. A escola deve criar seus próprios espaços para permitir a criatividade, inovação e empreendedorismo dos alunos. Para as crianças das séries iniciais até o 5º ano, os envolvimentos não devem abranger aspectos comerciais, posto que ainda estejam muito longe dessas realidades. O trabalho deve direcionar as crianças em atividades que envolvam a imaginação, o trabalho em equipe, trabalhos baseado em atividades manuais, como pesquisas na Internet, colagens de imagens e fotos em instantes empreendedores. A partir da 5º série até a entrada no ensino médio, as crianças desenvolvem projetos criativos de produtos, marketing, propaganda, e inovação tecnológica. Para os alunos da 8º série e 1º ano do ensino médio, as visitas a empreendimentos comerciais, entidades como Sebrae, Senac, Senai e outros, podem contribuir significativamente para o entendimento do que é empreender e como a sociedade se organiza para ajudar em tais empreendimentos. Ações da escola conjugadas com o Sebrae mostram como aos alunos elaboram projetos de incubadoras, planos de negócios, abertura de negócios e sistemas de crédito existentes. Na implantação de oficinas de empreendedorismo é necessário estabelecer prioridades, criar relações com o mercado e com o governo e acessos aos programas de informações de como construir ações empreendedoras. Mais do que ensinar as primeiras noções de mercado, de formação profissional, e de competências e habilidades, os programas de empreendedorismo devem ensinar posturas que melhorem suas condutas e desempenhos na escola. Alunos engajados em projetos de pesquisas se tornam mais produtivos, participativos, colaborativos e exercitam as atividades de trabalho em grupo ou equipe, tão necessário hoje em dia no mercado de trabalho. 122

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A escola não contempla em seus conteúdos curriculares, atividades que envolvam os alunos em aprendizagens e desenvolvimento de posturas profissionais. Desta forma, é imprescindível que quando ocorre à criação de oficinas que possam contribuir com essas informações, toda a escola deve ajudar e participar.

Cláudio de Musacchio

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Núcleo Educacional de Empreendedores Noções de educação ambiental e alimentar Notions of environmental education and food

Resumo Este ensaio aborda o assunto da educação ambiental e alimentar através dos projetos de pesquisas envolvendo a criação, produção e manutenção de hortas escolares. Transcorre desde os cuidados no tratamento com a terra, a importância dos solos, sementes, tipos de vegetais, e as pesquisas de plantas para alimentação, árvores frutíferas, plantas ornamentais e medicinais. Salienta a importância dos métodos para produção de fertilizantes naturais como a produção de húmus e tecnologia de compostagens. Aborda também o uso da tecnologia de hidroponia como forma de superar problemas de espaço e solo. E finaliza comentando a importância da interdisciplinaridade envolvendo mais de um professor em sala de aula e a questão da experimentação científica em sala de aula como projeto pedagógico enriquecedor para uma educação do aprender a fazer.

Palavras-chaves Interdisciplinaridade, hortas escolares, compostagens, hidroponias, experiência científica em sala de aula, fertilizantes, tratamentos de solos e terras, educação ambiental.

Abstract This essay addresses the issue of food and environmental education through research projects involving the creation, production and maintenance of school gardens. Goes from precautions in dealing with the land, the importance of soil, seeds, plant types, and research on plants for food, fruit trees, ornamental and medicinal plants. Emphasizes the importance of methods for the production of fertilizers such as natural humus production technology and compost. It also discusses the use of hydroponics technology as a way to overcome problems of space and ground. And he ends by commenting out the importance of interdisciplinarity involving more than one teacher in the classroom and the issue of scientific experimentation in the classroom as a teaching project for enriching the education of learning to do.

Key words Interdisciplinary, school gardens, composting, hidroponias, scientific experience in the classroom, fertilizers, soil treatment and land, environmental education. 128

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Resumen El presente ensayo aborda el tema de la alimentación y la educación ambiental a través de proyectos de investigación que impliquen la creación, producción y mantenimiento de los huertos escolares. Va de precauciones en el trato con la tierra, la importancia del suelo, semillas, tipos de plantas, y la investigación de plantas para la alimentación, árboles frutales, plantas ornamentales y medicinales. Hace hincapié en la importancia de los métodos para la producción de fertilizantes naturales, como la tecnología de producción de humus y compost. También se discute el uso de la hidroponía la tecnología como una forma de superar los problemas del espacio y del suelo. Y termina comentando la importancia de la interdisciplinariedad que participaron más de un profesor en el aula y la cuestión de la experimentación científica en el aula como un proyecto de enseñanza para enriquecer la educación de aprender a hacer.

Palavras clave Interdisciplinario, los huertos escolares, el compostaje, Hidroponías, la experiencia científica en el aula, los fertilizantes, el tratamiento del suelo y la tierra, la educación ambiental.

Introdução “A educação ambiental assim como a educação alimentar, são culturas que nascem na família, se desenvolvem na escola e são praticadas na vida profissional. Se assim não forem, então uma ou mais, desses três pilares falhou em nossas vidas.”

Cláudio de Musacchio

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Quando se busca programar educação para toda a vida, e este projeto visa este fim (Projeto Paidéia), é relevante considerar as diferentes alternativas de aprendizagem promovendo mudanças de valores, hábitos e atitudes nas crianças para que cresçam estabelecendo parâmetros entre a educação ambiental que todos devemos exercer para melhorar a saúde do planeta e a saúde dos seres que nela habitam. Dentro do espectro da educação ambiental e alimentar, diversos grupos ecológicos nasceram com atribuições muito específicas sobre o cuidado com que devemos ter com as plantas e os aspectos da alimentação, nutrição e gastronomia. Trabalhar a educação ambiental reflete muito mais do que cuidar de uma ou outra planta, mas de um conjunto de posturas diante da natureza, desenvolvendo vínculos positivos, que traduzam em sentimentos permanentes e dinâmicos na conservação do verde, da vida e qualidade. E a escola possui importante papel nesta formação, criando desde as séries iniciais, a consciência pelo cuidado com o “verde”, e desenvolvendo as áreas cognitivas das crianças de forma que este aprendizado seja expandido para professores e alunos de todas as idades, contaminando a família e posteriormente toda a sociedade no cuidado e na cultura da natureza, que fornecem todo o oxigênio e nutrientes que precisamos para viver. Para trabalhar esta educação ambiental e alimentar é necessário que a escola seja estimulada a desenvolver inúmeros projetos que criem este ambiente de disciplina, tais como: cultura, metodologia, cuidados, conteúdos técnicos, conceitos de diferentes áreas como agronomia, gastronomia, hortifrutigranjeiro, jardinagem, plantas medicinais, sistemas farmacológicos, metodologias como a hidropônica e outros tipos na produção de verdes sem agrotóxicos, que é outra área de pesquisa importante para a educação ambiental. A preocupação com o meio ambiente nasceu com o Decreto nº 73.030, que criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente, que entre as suas atribuições, estabelecia a promoção do esclarecimento e educação do povo brasileiro para o uso adequado dos recursos naturais, tendo em vista, primordialmente, a conservação do meio ambiente. Somente em 1988, a nova Constituição Federal, elevou o status do direito para educação ambiental, atribuindo ao Estado o dever de promover a educação ambiental em todos os níveis de estudo e conscientização pública 130

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para a preservação do meio ambiente. Para isso, o conceito de educação ambiental, segundo o artigo 1º da lei nº 9.795/99, define como processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências para a conservação do meio ambiente, bem como uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sustentabilidade, colocando o ser humano como responsável individual, ou seja, fala da ação individual na esfera privada e de ação coletiva na esfera pública. Desta maneira, a educação ambiental torna-se uma ferramenta para o enfrentamento dos problemas ambientais na dimensão da educação, permitindo assim as mudanças e transformações sociais, conforme o Programa Nacional de Educação Ambiental. Mas para que as mudanças culturais ocorram é necessário que se mude a forma como as pessoas vêem a realidade que as cerca e o desenvolvimento de padrões de produção e consumo capaz de realizar essas mudanças. Mas essa mudança só será possível através de articulações e iniciativas no âmbito educacional, que privilegiem a proteção, recuperação e melhoria socioambiental, permitindo assim, que toda a sociedade seja co-autora dessa formulação e de práticas e políticas públicas que integrem essa perspectiva. Iniciativas de levar para a escola o estudo das plantas, vegetais, hortaliças, plantio de árvores, cuidados com as árvores frutíferas, os benefícios do consumo de frutas e legumes, são sempre bem vindas e devem ser desenvolvidas com o apoio das gestões institucionais das escolas públicas e privadas. Em oficinas de assuntos agronômicos, para as séries iniciais, podem causar um efeito em cascata, possibilitando que as demais crianças e professores, administradores de escolas, pais e comunidades, saibam como se deve produzir e consumir os alimentos tão essenciais e necessários a boa qualidade de vida. Iniciativas de oficinas que ensinam as crianças a conhecerem a terra, as sementes, o sistema de plantio, irrigação, colheita e depósito, podem proporcionar pesquisas científicas em sala de aula tão ricas que as aprendizagens se tornem para as crianças, multiplicadoras desses conceitos, aos demais familiares, melhorando as condições socioambientais de toda uma comunidade no entorno da escola. Projetos como a produção de hortas escolares pode ser um laboratório vivo possibilitando o desenvolvimento de atividades pedagógicas em educação ambiental, permitindo assim a contextualização da teoria e prática, auxiliando diretamente o ensino-aprendizagem, além de desenvolver nas crianças atividades de colaboração, interação e trabalho em equipe. Cláudio de Musacchio

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Projetos de pesquisas na produção de hortas escolares As diferentes abordagens na criação de uma oficina de produção de horta escolar podem sugerir num primeiro momento que o assunto não é tão simples quanto parece e que o conteúdo de informações é bem vasto e devem ser encaminhadas as crianças de tal maneira que vão despertando nelas o interesse de querer saber mais e mais. Entre os assuntos que são despertados nas crianças estão: os tipos de terras existentes para o plantio de hortas, a compostagem, tipos de vegetais, épocas do plantio, colheita e preparação para produção de sementes. Os tipos de terras podem gerar um trabalho de projeto de pesquisa envolvendo a interdisciplinaridade e pesquisa científica em sala de aula, com possibilidades de se visualizar os microorganismos existentes nos diferentes tipos de terra. Outro assunto que pode gerar pesquisa científica em sala de aula é a compostagem. Compostagem é um conjunto de técnicas aplicadas para controlar a decomposição de materiais orgânicos, com finalidade de se obter, no menor tempo possível, um material estável, rico em húmus e nutrientes minerais. Tipos de projetos de pesquisas possíveis em relação ao assunto horta escolar e que pode ser realizada nas diferentes séries do ensino básico, fundamental e médio:  Como se prepara a terra para diferentes plantios  Tipos de terra para diferentes vegetais  Tipos de adubos e fertilizantes utilizados em produção de hortas  Influência do clima para produção de hortas e a importância das estufas  Influência da água no crescimento dos vegetais e como abastecer de forma automática os canteiros de vegetais nas hortas escolares Os projetos de pesquisas podem envolver toda a escola desde as séries iniciais do ensino básico, que aprendem as primeiras informações, semeiam e acompanham o desenvolvimento das sementes, constroem canteiros domésticos com o plantio. Também no ensino fundamental, as práticas pedagógicas sugeridas para acompanhamento das hortas escolares envolvem pesquisas científicas com os tipos de terra, adubos, fertilizantes, e as diferentes 132

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produções de vegetais tais como: hortas, pomares, jardins, pesquisas com plantas medicinais e flores silvestres. Para as séries do ensino médio, as pesquisas podem prosseguir envolvendo-os com as questões químico-físicas dos vegetais ou as relações nutrientes dos vegetais da horta. Assim sendo, há espaços para todas as séries, idades e compromissos com a educação ambiental, levando-se em consideração que tais informações são consideradas fundamentais para todos os níveis da educação, estabelecendo capacidades relativas aos aspectos cognitivos, afetivos, físicos, éticos, estéticos, de inserção social, de postura cidadã diante dos eventos naturais que abrangem os cuidados com a natureza, com biodiversidade e com a sustentabilidade. Sustentados pela LBD que prevê atividades nos currículos do ensino infantil e fundamental, as atividades de projetos de pesquisas envolvendo cenários com hortas escolares, pomares, jardins, estufas climatizadas, vão ao encontro dos objetivos das bases curriculares que é a difusão dos princípios da reforma curricular que busca uma orientação mais holística e novas abordagens e metodologias que contemplem espaços e práticas educativas para a criação de uma consciência coletiva sobre a conservação do planeta e da melhoria da qualidade de vida.

Interdisciplinaridade na produção de hortas escolares O principal objetivo do Projeto Paidéia é a promoção da interdisciplinaridade como metodologia para uma aprendizagem significativa e duradoura para além do tempo da escola. E no que diz respeito à oficina de produção de hortas escolares, a interdisciplinaridade pode ser desenvolvida através das diferentes áreas de conhecimento sendo oportunizadas para os alunos compreenderem os diferentes aspectos e abordagens da educação ambiental. Os Parâmetros Curriculares Nacionais surgem com o objetivo de propiciar ao ensino à elaboração de um currículo preocupado com a construção do projeto pedagógico focado principalmente na formação da cidadania. Nos PCNs, além das áreas clássicas como Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais, Geografia, História, Línguas Estrangeiras, Arte, Educação Física, e mais recentemente a Música, também incorporam conceitos de temas transversais como a Ética, Meio Ambiente, Orientação Sexual, Pluralidade Cultural, as questões de Saúde e Trabalho, Alimentação, Drogas e tantos outros. Cláudio de Musacchio

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Todas essas interdisciplinaridades promovidas na Educação, muito úteis e necessárias, mas que não dão mais conta, dada as necessidades de compreensão de temas do cotidiano como violência, preconceito, doenças e desinformação, acabam colocando no centro das discussões a própria educação que se quer para a criança do século XXI. A Interdisciplinaridade promovida pelos temas propostos como hortas escolares podem traduzir encontros de professores de diferentes áreas como a biologia, química e física, mas também envolver profissionais que estudam as plantas medicinais, ou professores nutricionistas que podem fazer suas contribuições com os aspectos de nutrição, alimentação balanceada e gastronomias regionais. Todas essas relações promovidas pelas oficinas contribuem para estimular o intercâmbio de informações entre as várias ciências, permitindo maior interatividade e colaborações necessárias para o desenvolvimento da interdisciplinaridade de fato e de direito. A motivação para aprendizagens sobre as plantas e vegetais de um modo geral, contribuem muito para o exercício da interdisciplinaridade que se deseja implantar na escola. Até porque ninguém domina todos os assuntos, e precisará, certamente, da transversalidade de diferentes áreas do conhecimento e os professores das disciplinas do currículo para realizar as interações e colaborações necessárias para a construção do conhecimento. A forte argumentação que se pode ressaltar na aplicação da educação ambiental é a sua relevância para conscientizar as crianças para o importante papel dos processos sócio-ambientais. Neste processo de conscientização, a escola deve ser mobilizada para compreender sua dimensão. Instituída pela Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, estabelece e defini seus princípios básicos, incorporando oficialmente a Educação Ambiental nos sistemas de ensino. Sendo assim, o estudo das plantas irá proporcionar diferentes projetos de pesquisas, contextualizações e temas transversais, possibilitando ao ensino dos conteúdos disciplinares, um formato mais amplo, dinâmico e flexível. Nesta construção é importante não fornecer respostas prontas as interdisciplinaridades que ocorrem, mas deixar que os atores: alunos e professores encontrem, eles mesmos, as verdades dos fatos e das observações. Para que as crianças entendam como uma planta se desenvolve é preciso introduzir conceitos de químicas muito superficiais por se tratar das séries iniciais, tendo em vista que elas verão este assunto muito mais a frente no projeto pedagógico e curricular. Mas, algumas introduções são possíveis que o professor de química possa demonstrar, no quadro branco, ou através de software de computador, que ficará muito mais emocionante a demonstração. 134

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Para as séries do ensino fundamental, os conceitos podem ser trabalhados levando-se em consideração os elementos essenciais. Segundo os especialistas da área de agronomia e estudos dos vegetais, as plantas precisam de treze elementos essenciais: Nitrogênio (N), Fósforo (P), Potássio (K), Cálcio (Ca), Magnésio (Mg), Enxofre (S), Zinco (Zn), Boro (B), Cobre (Cu), Ferro (Fe), Manganês (Mn), Molibdênio (Mo), Cloro (Cl). Alguns deles são requisitados em menor e outros, em maior quantidade. Nesta experimentação científica sugerida como projeto de pesquisa, os professores em sala de aula, podem se unir para mostrar aos alunos como as diferentes perspectivas ocorrem tanto no plano do pensamento do agrônomo, quanto no pensamento do químico e assim, as crianças podem conhecer os dois lados da história e mais precisamente, dos aspectos científicos do plantio de vegetais. E também outros aspectos como nutrição e gastronomia, podem ser considerados, para saber como preparar e ingerir tais alimentos.

Estudos de solos e tipos de terra Os alunos podem estudar os diferentes solos existentes na escola e em diferentes profundidades, com a demonstração apenas de escavar alguns centímetros uma área da escola destinada às hortas e constatar que o solo não é próprio para o plantio de hortaliças e demais verduras, necessitando desta forma, de uma solução de solo trabalhada, engendrada através da mistura de produtos e terra, em quantidades ideais, produzindo assim, um terreno considerado fértil para o plantio. O estudo de solos pode ser também considerado um excelente tema de pesquisa científica em sala de aula. Desta vez o tema sugere a presença de um agrônomo que irá orientar os alunos para os diferentes tipos de solos e suas condições para diferentes tipos de plantas, levando-se em consideração que a fertilidade do solo é o resultado de combinações físico-químicas e biológicas, capazes de propiciar condições ideais para que as plantas nasçam naturalmente, sem a interferência do homem. Nesta interdisciplinaridade é possível convidar os professores das três áreas e promover um debate sobre a fertilidade da terra e a influência das três áreas: biologia, química e física, para que se obtenham altos rendimentos na produtividade dessa terra fértil. Observe que a presença dos professores é de vital importância para que haja a interdisciplinaridade. Caso contrário, se o professor da oficina fizer o papel dos três professores, não haverá o tratamento interdisciplinar desejado, tendo em vista que os alunos não serão despertados pelas diferentes áreas presentes no embate. A interdisciplinaridade opera Cláudio de Musacchio

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nos alunos através das colocações, ideias, propostas, conteúdos e conceitos que cada professor traz no bojo de sua argumentação. E ela é conseguida e potencializada exatamente porque mais de um professor está presente na sala de aula. Cada professor domina a sua área específica de conhecimentos e esta impressão é sentida pelos alunos. Após alguns instantes de aula, com os professores fazendo suas interferências no assunto que está sendo transcorridos, os alunos não percebem mais que perguntas e respostas estão sendo realizadas para qualquer um dos professores e que as respostas ocorrem no chamado terreno interdisciplinar entre as matérias. A interdisciplinaridade proporciona que tanto alunos quanto professores transitem na tênue linha determinada pelos contornos das áreas de conhecimento, proporcionando uma aprendizagem muito rica para todos.

A compostagem e os minhocários Também a interdisciplinaridade neste quesito é primordial tendo em vista a necessidade de opiniões técnicas embasadas nas três áreas de saber: biologia, química e física. Os diferentes estágios da compostagem podem dar aos alunos uma riqueza de detalhes de como a terra é preparada para o plantio e os ganhos significativos com o tipo de adubo natural, orgânico e sem agrotóxicos que podem ser trabalhados. Os estágios da compostagem podem permitir também outros trabalhos de pesquisa:  A importância do lodo de esgoto para se tornar um solo rico para o plantio;  Os diferentes tipos de húmus (orgânico e o produzido por minhocas);  Estudo de microorganismos durante a conversão da matéria orgânica bruta ao estado de matéria humificada;  A importância da água para o desenvolvimento das plantas. O estudo do uso de minhocas na produção de hortas é amplamente utilizado pelos agrônomos. As minhocas produzem o húmus que é utilizado como ingrediente no preparo da terra para o plantio. Os projetos de pesquisa envolvendo a produção de minhocários na escola requerem o conhecimento de profissionais ou professores agrônomos ou biólogos que tenham esta experiência curricular. 136

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As escolas podem formalizar parcerias com as empresas especializadas em minhocários para que forneçam todos os materiais a serem trabalhados na pesquisa e em troca recebem a minhoca adulta. Será necessária a construção de tanques específicos para a produção de minhocas. Como resultado da produção de minhocas, a horta escolar poderá se beneficiar do húmus produzido pelas minhocas sem precisar das tecnologias de compostagem que requerem muito espaço e materiais de insumos relativamente onerosos.

A hidroponia como pesquisa científica em sala de aula As oficinas são atividades pedagógicas que discutem um tema no intuito de auxiliar a construção do conhecimento do aluno, mostrando-se, na maioria das vezes, como fazer, o que fazer, quando fazer, através de exemplos, exercícios e atividades práticas. Portanto, uma das atividades que podem ser contempladas no estudo das plantas é a tecnologia hidropônica. Esta atividade pode ser realizada na escola e na casa dos alunos como mostra de exercícios. As oficinas permitem a compreensão da tecnologia hidropônica em ambiente escolar por ocupar muito pouco o espaço destinado ao plantio. Ao se compreender a educação ambiental deve-se conhecer o sistema deste tipo de plantio. A hidroponia consiste na produção de vegetais sem o uso direto do solo, tendo a planta, apenas água e nutrientes para se desenvolver. Estudos revelam que a hidroponia vem apresentando excelentes resultados nas escolas que a implantaram como modelo para mostrar aos alunos a importância das plantas, como a planta nasce e se desenvolve, inserindo assim, as crianças na discussão primordial que é a educação ambiental. É discutida também a ação humana no processo de reprodução do meio ambiente, de sua manipulação, bem como de suas intervenções socioambientais. Entre as perguntas nos projetos de pesquisas estão à questão de buscar entender como os alunos que participam de práticas pedagógicas voltadas para a educação ambiental vêem o uso da tecnologia hidropônica como possibilidades de melhoria e convivência sustentável com o meio ambiente. Os projetos de pesquisa hidropônica devem ser incentivados e apoiados pelos professores de biologia, química e física bem como, pelos assuntos transversais tais como agronomia, gastronomia, plantas medicinais, geólogos e os estudos de solos, produção de fertilizantes e outros. A interdisciplinaridade é possível por se tratar de tema tão vasto e de seu importante suporte básico, prático e teórico, pode-se chegar às análises, Cláudio de Musacchio

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através da experiência científica em sala de aula, influenciando os alunos para a construção de uma sólida formação voltada para a sustentabilidade do planeta, para a melhoria da alimentação com qualidade, estudo de técnicas e metodologias de plantio e estudos gerais sobre ambientes naturais de vegetais, plantas e árvores.

Estudo dos nutrientes nos alimentos produzidos nas hortas escolares Além dos aspectos de como preparar a terra, plantar, colher, estão os projetos voltados à alimentação. Neste quesito, podem-se envolver as crianças com a gastronomia, a importância dos vegetais na alimentação, e com experiências de fato, levando as crianças para o refeitório da escola e promover uma degustação das plantas produzidas na horta. Essas experiências, em geral, modificam o pensamento vivenciado das crianças e rejeição natural às hortaliças e vegetais em geral, e passam a apreciar em seus cardápios alguns vegetais, que anteriormente não são consumidos em suas casas. Também este assunto pode ser cenário de pesquisas científicas em sala de aula, desmistificando comportamentos alimentares. As escolas que possuem merendas escolares podem promover receitas que incorporem produtos criados e produzidos na horta escolar. Vegetais como alface, agrião, rúcula, couve, cenoura, rabanete, espinafre e tantos outros podem ser introduzidos na alimentação dos alunos, através da própria produção dos vegetais nos laboratórios de horta produzidos na escola. Assuntos interdisciplinares podem ser inseridos nas oficinas, permitindo que professores da área de nutrição possam expor aos alunos noções de gastronomia, poderes calóricos e nutrientes dos alimentos vegetais, a importância das vitaminas e em que vegetais são encontrados, quais os sintomas da falta desses nutrientes no organismo humano e quais os sintomas pelo excesso de ingestão. Professores da medicina podem ser envolvidos nesta discussão, trazendo para os alunos as doenças mais comuns pela falta de algumas vitaminas, produzindo cegueira, fraqueza nos ossos, debilitação de órgãos internos, dificuldades de funcionamento, e muito outros aspectos.

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A produção de remédios a base de plantas medicinais Outro importante papel das oficinas é mostrar aos alunos as plantas medicinais, onde são encontradas, como é cultivada, que benefícios trazem para a saúde, como a indústria utiliza estes medicamentos. A importância das ervas ingeridas como chás. Os tipos de chás existentes e onde podem ser encontrados. Como projeto de pesquisa científica em sala de aula, as atividades podem ser demonstradas mostrando como os chás são preparados e como devem ser ingeridos cientificamente para que seus efeitos sejam eficientes. A interdisciplinaridade pode ser conseguida convidando professores da área de biologia que demonstrariam o quadro de benefícios das plantas medicinais, perigos da ingestão, quantidades benéficas diárias, e chás proibidos, combinações de alimentos prejudiciais a saúde ou que anulem o poder nutricional, a introdução de vegetais na medicina homeopática, os benefícios de cada chá e como ingeri-los para poder potencializar seus efeitos. Os professores da área médica e de saúde podem contribuir com informações relevantes sobre a importância dos vegetais na saúde humana, os efeitos da falta de vegetais no organismo humano, o modo de preparar para que os vegetais não percam seu poder ativo, tipos de vegetais que entram na indústria farmacêutica e na composição de inúmeros remédios. A utilização de ervas medicinais para a cura de certas doenças.

Plantas ornamentais e a produção de jardins Outro grande item nos estudos da educação ambiental está à família de plantas ornamentais e que podem ser estudadas em ambiente escolar. A produção de jardins por toda a escola é um exemplo de possibilidades para que os alunos estudem as plantas e entendam o seu papel estético e socioambiental. Os projetos de pesquisas científicas em sala de aula com o tema de plantas ornamentais estão ligados àquelas que mais se popularizaram e que são de fácil manuseio, suportando temperaturas tropicais típicas de nosso ambiente brasileiro. Os canteiros de jardins devem ser acompanhados de profissionais ou professores habilitados com conhecimento no tratamento da terra, da semeadura e da conservação e manutenção dos jardins. Como projetos de pesquisa podem-se listar:  Plantas aquáticas;

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 Plantas raras;  Plantas típicas de vasos domésticos;  Plantas para empresas e escritórios A interdisciplinaridade neste tema é muito vasta e pode ter a contribuição de professores de diferentes áreas de conhecimento. Professores agrônomos, biólogos, jardineiros profissionais contratados pela escola para acompanhar os alunos nas oficinas, pesquisadores de botânicos e estudiosos de plantas ornamentais, além de professores de botânica ou agronomia das universidades.

Projetos de pesquisas com árvores frutíferas Este outro ramo de vegetais é muito procurado nos projetos de pesquisas nas oficinas escolares. Entretanto sua produção irá depender basicamente do espaço que a escola destinar para o plantio, levando-se em consideração que algumas frutas levam um tempo bastante grande para dar os primeiros frutos. Por ser um projeto mais longo, tendo em vista que as árvores frutíferas demoram em dar seus primeiros frutos, as experiências científicas em sala de aula podem ser realizadas com frutas compradas no mercado. Da mesma maneira, algumas plantas medicinais e ornamentais, podem ter os projetos de pesquisas prejudicados pelo tempo de crescimento, porém, não invalida as iniciativas para promover a interdisciplinaridade nas discussões sobre os efeitos das plantas medicinais para cura e plantas utilizadas nos tratamentos homeopáticos. A interdisciplinaridade nos projetos de pesquisas envolvendo o segmento de árvores frutíferas pode ser bem sucedida se os professores de diferentes áreas forem convidados a participar. Entre as áreas, temos: biologia, química, nutrição. As atividades que envolvem a produção de mudas de árvores frutíferas, ornamentais, medicinais, e de hortas para consumo humano, podem ser também implementadas nos projetos de pesquisas das oficinas escolares. Quando as mudas atingirem o tamanho ideal para serem plantadas em definitivo em terra pode-se escolher um parceiro agronômico e realizar uma parceria com a escola. A parceria ofereceria as sementes, a terra e os procedimentos para o plantio das sementes e a escola devolveria as mudas, depois das pesquisas realizadas com os alunos.

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Projetos de pesquisas na área da alimentação escolar A escola é considerada por muitos estudiosos o ambiente natural para a educação alimentar, uma vez que é nas séries iniciais e na própria adolescência que se desperta o aluno para as práticas alimentares de forma correta. Neste caso a horta escolar teria a função pedagógica primordial em oferecer todas as condições de discutir a importância dos alimentos. Em muitas instituições de ensino, a merenda é servida para as crianças sem que este ato possa estar inserido num projeto pedagógico de bom comportamento alimentar. Desta maneira, a horta escolar pode ser inserida como estratégia interdisciplinar de educação ambiental e alimentar nos temas transversais dos PCNs. O desafio está em desenvolver espaços na escola que possam privilegiar estes saberes, uma vez que a educação ambiental e alimentar por ser considerado tema transversal e interdisciplinar têm dificuldade de se impor como disciplina formal e acaba se tornando um empecilho no desenvolvimento dos projetos pedagógicos dos currículos. As oficinas nasceram com a firme proposta de estabelecer estes espaços de discussão dos temas transversais e possibilitar uma aproximação entre a teoria e prática, permitindo assim que os projetos possam ser construídos de forma simples, objetivos e ajustados à vivência do trinômio escola-casacomunidade, permitindo que se rompa com os paradigmas da educação tradicional que não consegue unir os assuntos, e colocando professores e alunos para discutirem temas de interesse da sociedade. As hortas escolares permitem estas discussões, colocam a alimentação como um dos fatores mais importantes do rendimento intelectual das crianças na escola. O assunto das hortas permite ainda se discutir não só a importância dos vegetais na vida dos seres humanos, mas como produzir, cuidar e manter a qualidade da vida através do consumo inteligente. Mas o tema vegetal para as crianças, de uma maneira geral, não é uma tarefa fácil de implantar nas escolas, e os pais, por outro lado, não conseguem alterar o quadro do baixo consumo de vegetais e hortaliças nos lares domésticos. O desafio é mostrar para as crianças que são importantes consumir, os benefícios trazidos pela ingestão de alimentos vegetais ao mesmo tempo em que se pratica a interdisciplinaridade entre as disciplinas envolvidas com este assunto. Professores de biologia, química, física, botânica, gastronomia, nutrição e tantos outros profissionais devem se engajar em projetos de produção de hortas escolares. Cláudio de Musacchio

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A questão da interdisciplinaridade colocada nos projetos de pesquisas de educação ambiental e alimentar permite as trocas entre os saberes e pratica a experimentação científica em sala de aula que se deseja para potencializar o aprendizado, fortalecer um tipo de educação que vá para além dos tempos de escola, e que as crianças possam levar estes ensinamentos para toda a sua vida de adulto.

Conclusões As oficinas escolares que estudam produções de hortas tem se proliferado de tal maneira em todo o país que o governo recentemente criou uma normatização para a produção de hortas escolares. Nesta normatização estão contempladas as regras para a produção de hortas nas escolas públicas. Entre as novas regras estão à obrigatoriedade de profissionais como agrônomos, técnicos de diferentes áreas como segurança para controle de substâncias tóxicas no plantio, controle na manipulação de solos e terras, controle na utilização de húmus, ingestão de vegetais, controle no uso de ferramentas específicas e outros. As oficinas tornam-se assim ambientes naturais de desenvolvimento de atividades didático-pedagógicas que instigam os alunos a elaborarem questionamentos a cerca das tecnologias e metodologias referentes à educação ambiental. Os diferentes assuntos abordados neste ensaio e de como os alunos podem ter o contato direto com as plantas, suas sementes, plantio, colheita, cuidados, etc., contribuem sobremaneira para a implantação de metodologias de interdisciplinaridade e pesquisa científica em sala de aula. Os desenvolvimentos da pesquisa e dos projetos de experimentação científica de sala de aula proporcionam espaços de aprendizagem de alta significância para ambos: alunos e professores. Entretanto, os projetos de pesquisas devem ser gravados, em áudio e vídeo, ou ambos, precisam ter os textos técnicos elaborado com os objetivos bem claros e definidos, as expectativas colocadas em forma de hipóteses ou questões de pesquisa, as anotações sobre o andamento da pesquisa, os pareceres dos professores interdisciplinares que participam de todas as etapas e, finalmente, a publicação de um artigo científico na comunidade específica do tema da pesquisa. É importante que os próprios alunos elaborem os documentos, os questionários, os textos técnicos e que o professor apenas auxilie na elaboração do artigo final. Assim, os alunos aprendem também a realizar pesquisa científica, segundo as normas de documentação e procedimentos técnicos. Todos os conteúdos programáticos de cada projeto de pesquisa e seus respectivos objetivos específicos, atividades, procedimentos e recursos naturais, 142

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devem ser discutidos com os alunos sob forma de atividades experimentais, levando-se em consideração que todos os alunos possuem tarefas distintas no projeto e que elaborem as discussões e colaborações, e, que tudo fique devidamente registrado para análise final. Todas as séries podem se envolver neste tipo de oficina. As séries iniciais do ensino básico aprendem de forma clara, simples, sucinta, e objetiva todos os conceitos. E aos poucos, a cada série acima, vão se introduzindo conceitos mais complexos e questionamentos que demandem de maior grau de conhecimento e raciocínio sobre as experiências. Projetos de significação ambiental devem envolver toda a escola, desde a primeira série até o último ano do ensino médio, pois é uma aprendizagem que os alunos levarão para toda a vida. Todos os experimentos científicos devem ser documentados, gravados, questionados, e aplicados questionários para leitura dos entendimentos e conclusões dos alunos diante das pesquisas realizadas. Também devem ser colocados na pesquisa os depoimentos de todos os professores que participaram das experiências e dos encontros de trocas de conhecimentos. Estas informações são relevantes para o trabalho final de construção do artigo que irá descrever as impressões que todos tiveram dos encontros e dos temas abordados. O Projeto Paidéia irá evidenciar dentro de seu escopo principal que a interdisciplinaridade promovida pelas trocas e as experiências científicas em sala de aula são metodologias que devem ser vivenciadas e questionadas, para que tenhamos uma argumentação científica de que a educação através da demonstração do como fazer pode (re) significar o modo de educar e de aprender. O que se espera no modelo oficina é oportunizar a discussão de metodologias como interdisciplinaridade promovendo em sala de aula a presença de dois ou mais educadores para a troca de saberes, e a experimentação científica como argumento para o fortalecimento de uma aprendizagem rica em observação aos fenômenos estudados. Neste ensaio, percebe-se que o assunto trabalhado é a educação ambiental e a forma de demonstrar e aproximar as crianças da sustentabilidade que se deseja sem ferir a natureza, discutindo as questões da produção de alimentos, da diminuição de produtos tóxicos nocivos a saúde, de metodologias alternativas ao plantio de vegetais comestíveis e de plantas ornamentais, medicinais e frutíferas. A relevância da educação ambiental é tema transversal dos Parâmetros Curriculares Nacionais e se apresenta como projetos acadêmicos de alta relevância para melhoria da alimentação, do tratamento da terra e dos seres vivos que se locupletam no ecossistema de nossa natureza Terra.

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Núcleo Educacional de Empreendedores Projetos de Educação Ambiental Environmental Education Projects

Resumo Este ensaio descreve a necessidade de se tratar a questão do meio ambiente em terreno educacional, discutindo essencialmente como a pesquisa científica, o desenvolvimento tecnológico e os recursos disponíveis na escola podem levar adiante um projeto de educação ambiental que incorpore nos sujeitos atores na escola uma aprendizagem sobre a sustentabilidade e conservação da biodiversidade. Coloca no centro das discussões a interdisciplinaridade buscando envolver áreas de conhecimento a pensar soluções que viabilizem um modelo de educação que entenda os fenômenos científicos que nos rodeia através de experiências científicas em sala de aula, privilegiando o enfoque interdisciplinar. E por fim, analisa o perfil das escolas em implantar modelos pedagógicos que exercitem a cidadania através da participação ativa dos alunos, em formatos sustentáveis como patrulhamento, grupos organizados e co-responsabilidades distribuídas.

Palavras-chaves Patrulha ecológica, interdisciplinaridade, experiência científica em sala de aula, conservação da biodiversidade, educação ambiental.

Abstract This paper describes the need to address the issue of environment in the education landscape, arguing essentially as scientific research, technological development and the resources available at the school can carry out an environmental education project that incorporates actors in the subjects in school learning on sustainability and biodiversity conservation. Place in the center of the discussions seeking to involve the interdisciplinary areas of knowledge to think about solutions that enable an education model that understands the scientific phenomena that surrounds us with scientific experiments in the classroom, emphasizing the interdisciplinary approach. And finally, analyzes the profile of schools in implementing pedagogical models that exercise citizenship through active participation of students in sustainable formats as patrolling, coorganized groups and assigned responsibilities.

Key words Patrol ecological, interdisciplinary, scientific experience in the classroom, biodiversity conservation, environmental education. 148

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Resumen Este artículo describe la necesidad de abordar la cuestión del medio ambiente en el panorama de la educación, argumentando esencialmente como la investigación científica, desarrollo tecnológico y los recursos disponibles en la escuela puede llevar a cabo un proyecto de educación ambiental que incorpore los actores de los sujetos en el aprendizaje escolar en la sostenibilidad y conservación de la biodiversidad. Coloque en el centro de las discusiones que tratan de involucrar a las áreas interdisciplinarias de conocimiento para pensar en soluciones que permiten a un modelo de educación que comprenda los fenómenos científicos que nos rodea, con experimentos científicos en el aula, haciendo hincapié en el enfoque interdisciplinario. Y, por último, se analiza el perfil de las escuelas en la implementación de modelos pedagógicos que ejercen la ciudadanía mediante la participación activa de los estudiantes en los formatos sostenibles como las patrullas, los grupos de co-organizados y responsabilidades asignadas.

Palavras clave Patrulla Ecológica, la experiencia interdisciplinaria, científica en el aula, la conservación de la biodiversidad, la educación ambiental.

Introdução “O tipo de planeta que queremos no futuro vai depender essencialmente com o que fizermos com a educação das crianças de hoje. O meio ambiente, fauna, flora situação dos mares, não devem ser os únicos assuntos tratados nos projetos de educação ambientais. Devemos envolver as crianças em culturas sustentáveis e conservação da biodiversidade, além dos aspectos da consciência da preservação dos nossos próprios princípios éticos e sociais.”

Cláudio de Musacchio

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Entre os inúmeros projetos ambientais existentes nas escolas, para conscientizar as crianças, a patrulha ecológica é uma das mais importantes iniciativas das gestões institucionais de educação escolar. O enfoque principal é chamar a atenção para a degradação de meio ambiente e a necessidade de se estabelecer regras e leis que possam contribuir para a problemática ambiental. Muitos professores, independente de participarem de projetos de pesquisas ou oficinas de educação ambiental, promovem nas aulas, atividades voltadas para a formação de uma consciência transformadora e criação de movimentos para salvar o planeta, as plantas, a camada do ozônio, as emissões dos veículos motores e tantos outros. Durante décadas as escolas introduzem em suas programações, eventos relacionados à natureza, como a semana da árvore, reciclagem do lixo, importância e destino do lixo orgânico, e estas tentativas surgem efeitos quando ocorrências naturais como a seca e as enchentes provocam discussões das razões porque estes eventos acontecem e quais as suas causas. Diversas escolas instituíram oficinas para tratar destes assuntos e a promoção de temas transversais para a educação ambiental. A contribuição de atividades pontuais de conscientização ambiental, tanto para o aspecto individual quanto para o aspecto social, dentro e fora das escolas, resultando em trabalhos científicos publicados em periódicos e revistas de educação. As escolas introduzem eventos que os alunos levam para a comunidade onde vivem e trabalham com os moradores locais, entregando cartilhas, desenhos, histórias em quadrinhos, mostrando como a limpeza pode ser realizada nas casas e nos locais públicos. Em alguns casos, os eventos de patrulha ecológica surtem tantos efeitos que acabam chegando aos órgãos da prefeitura local e virando leis ou procedimentos das secretarias do meio ambiente. Um dos casos mais famosos de sucesso de movimentos escolares que culminaram em controle ambiental é o controle de mosquitos da Dengue no Rio de Janeiro e das doenças transmissíveis pelo ar como conjuntivites, meningites e outras. Essas lições de atividades estudantis traduzem para as comunidades como um aprendizado muito importante, e que em muitos casos, reduzem drasticamente os problemas ocasionados pelo lixo. A educação ambiental é obrigação de todos e direito assegurado pela Constituição Federal, através dos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais, onde constam que 150

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as escolas devem organizar e incentivar e promover movimentos estudantis que contemplem o melhoramento dos serviços públicos como a pureza da água, a limpeza das ruas, o uso adequado dos reservatórios de lixos, a arborização ordenada pelas ruas da cidade, iluminação adequada, e tantos outros movimentos. A conscientização começa pela escola, pelo trabalho dos professores, pela postura da gestão institucional das escolas, e pelas atividades dos alunos dentro e fora da escola, embora muitos professores das áreas de educação física, artes, ciências, não introduzem atividades neste sentido, por não serem incentivados ou porque a escola não possui recursos próprios para atividades que envolvam a saída dos alunos.

Meio ambiente e educação ambiental A questão ambiental tem chamado atenção dos governos locais, municipais, estaduais e federal. A crise que aponta para um modelo de sociedade que produz mais problemas do que soluções diante de seu comportamento ao meio ambiente, da escassez de recursos naturais, e dos cuidados essenciais para preservação da vida saudável e da convivência em comunidade. Mas para tratar a questão ambiental é preciso de um enfoque interdisciplinar, envolvendo vários setores da sociedade, tendo em vista a complexidade alcançada pelo surgimento das cidades, da vida dos grandes centros populacionais que crescem, muitas vezes, desordenadamente, e sem um planejamento ambiental adequado. Os problemas da poluição em dimensões planetárias, a pesca predatória, o desmatamento global em busca de recursos naturais, o deslocamento de pessoas para grandes centros populacionais em busca de oportunidades de trabalho, as grandes transformações tecnológicas, tem sido a preocupação de governos, entidades de classe, escolas, universidades, e centros de pesquisa do meio ambiente. Os sintomas de todos esses problemas são sentidos por todos os seres vivos do planeta, entre eles os aquecimentos globais que desgelam mais rapidamente os pólos, as grandes enchentes, as ondas de calor nos países tropicais, e tantos outros. Projeto de iniciação das escolas como Patrulha Ecológica pode desencadear micro revoluções nos comportamentos dos indivíduos capaz de alterar significativamente o modo de vida de cada local e, por conseguinte, melhorar a situação do planeta. Se as mudanças não ocorrem em caráter global, elas devem acontecer na unidade da sociedade que são as famílias, as escolas e os grupos escolares. Dentro do projeto educacional a educação ambiental Cláudio de Musacchio

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pode ser trabalhada sob diversos aspectos. A criação de iniciativas escolares visa criar a consciência pela conservação da biodiversidade, permitindo ações multiplicadoras que vão incorporar todas as séries dos ensinos básicos, fundamental e médio. O propósito de tais programas é fomentar nos jovens e professores a proteção ao meio ambiente, preservação dos recursos naturais e a conservação da biodiversidade.

Principais desafios das oficinas de educação ambiental  Entre os principais desafios concernentes as criações de projetos para o meio ambiente estão: formação de professores com consciência e conhecimentos sobre as atividades que envolvem a educação ambiental;  O aparelhamento da escola para reproduzir os mecanismos ou processos de separação do lixo;  Visitas a centros de reciclagem do lixo e manufatura de produtos feitos com materiais reciclados;  Criação de oficinas que elaborem projetos e estudos para conservação, manutenção e cuidados com os recursos naturais do meio ambiente, produção de poluentes em diferentes situações; e  Materiais e equipamentos necessários para experiências científicas em sala de aula para projetos de pesquisa. Algumas iniciativas que não incorrem em custos necessariamente e que podem ser o início de projetos ecológicos e ambientais na escola é a criação de patrulha ecológica. Com a função de percorrer a escola para verificar se alguns preceitos de conservação estão sendo obedecidos pelos alunos e controlar para que alguns critérios como a reciclagem do lixo e a preservação do meio ambiente estejam sendo vistos por todos. Entre as atividades exercidas pela equipe de patrulhamento estão:  Montagem das equipes e capacitação de alunos e professores para o patrulhamento;  Registrar as atividades realizadas e divulgar para toda a escola;  Supervisionar a limpeza das salas de aulas e banheiros;

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 Supervisionar a cozinha da escola e demais locais reservados para a alimentação;  Incentivar o uso de latas de lixos com separação por tipo de lixo;  Sugerir a contribuição na horta da escola para melhoria e preparação da merenda escolar;  Comunicar a direção para mobiliários em estado perigoso de conservação, para que sejam removidos ou trocados.

Interdisciplinaridade e os projetos para a educação ambiental As iniciativas de educação ambiental estão predominantemente presente nas escolas através dos projetos de pesquisas na disciplina de Biologia, como se o projeto pedagógico de discutir os problemas da natureza só dissessem respeito a uma disciplina ou área do conhecimento. Os temas disciplinares que tem surgido no ambiente escolar estão fortemente em três áreas distintas: ecologia, meio ambiente e educação ambiental. Mesmo com a introdução oficial através do documento do MEC, parecer nº 226 / 87 e do Conselho Federal de Educação (CFE), que recomenda a inclusão da educação ambiental nos conteúdos curriculares das escolas de 1º e 2º graus. Neste parecer são apresentadas as diretrizes sobre os diferentes aspectos ligados ao desenvolvimento dessa área, informando a necessidade de capacitação e habilitação de professores, estratégias metodológicas e conteúdos a serem desenvolvidos. Como a matéria sobre educação ambiental é muito recente, mesmo para os padrões internacionais de educação, no Brasil, as discussões ainda são bastante recentes e a prática efetiva da educação ambiental ocorre de maneira isolada e descontinuada. A cada nova gestão nas escolas, mudam-se as políticas e prioridades e os projetos de educação ambiental, ficam sempre colocados em segundo plano. Mais por um impulso social, segundo os movimentos em prol da conservação do verde, das florestas, da extinção dos animais, e da preservação do meio ambiente, as escolas criam movimentos ambientalistas e projetos de pesquisas nesta área. Nesta perspectiva, as escolas têm buscado introduzir o conceito, sem que uma disciplina específica tenha a responsabilidade pelo seu conteúdo, tornando-se assim uma atividade essencialmente multidisciplinar. Cláudio de Musacchio

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Ocorre que as atividades propostas tais como movimentos ambientalistas, grupos organizados pesquisando os efeitos dos fenômenos naturais, demonstram a necessidade e preocupação dos professores para que estas atividades sejam sistemáticas, continuadas e programadas no currículo oficial e assim possam ser inseridas nos contextos escolares de forma permanente. Os projetos de pesquisas para a educação ambiental devem prever a participação de todas as disciplinas, cada qual contribuindo com suas epistemologias referentes à conservação da natureza, permitindo que a proposta interdisciplinar possa ser exercida de todas as maneiras, e com um projeto mais abrangente, além do estudo da ecologia, do verde, da fauna e da flora, de uma maneira geral. A interdisciplinaridade deve sugerir discussões e pesquisas em diferentes abordagens, metodologias, comportamentos sociais, mudança de paradigmas e tratamento diferenciado. Entre os aspectos que a interdisciplinaridade possa sugerir discussões e abordagens, podemos citar:  Abordagem global e reducionista  Abordagem vivencial mais ampla  Abordagem interdisciplinar  Abordagem da realidade local versus realidade global  Utilização de diferentes ambientes educativos

Abordagem global e reducionista A forte tendência reducionista de abordar a questão da educação ambiental realizada pelas escolas traduz a temática da educação ambiental para um universo muito particular de atuação considerando as concepções ambientais relativas a animais, plantas, lixo, mares, e outros. Nesta perspectiva, a visão parcial e antropocêntrica tem sido indicada pela literatura que trata desse assunto e pela própria postura da escola, que não possui entendimento claro sobre as diversas aplicações possíveis para tratar a educação ambiental em toda a sua plenitude. Segundo o Relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, é necessário considerar a questão ambiental como um problema a ser pensando e resolvido globalmente, e para que os danos ao meio ambiente possam ser estudados e evitados é preciso também considerar 154

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outros aspectos tais como: econômicos, comerciais, energéticos, agrícolas, e não só ecológicos, como tem sido a maioria das políticas que tratam deste assunto nas esferas da educação municipal, estadual e federal. Em estudos mais profundos, a educação ambiental engloba aspectos políticos, sociais, econômicos, científicos, tecnológicos, éticos, culturais e ecológicos. Talvez, assim, estaremos considerando a interdisciplinaridade como ponto central da metodologia que deva tratar os aspectos necessários para poder dar conta da dimensão que esta educação pretende discutir. As escolas, portanto, devem rever seus programas de educação ambiental para saber se estão sendo mais ou menos globais, ou simplesmente locais, e se os aspectos referentes ao meio ambiente estão sendo tratados de forma muito reducionista, deixando de analisar os outros aspectos importantes.

Abordagem vivencial mais ampla Nesta abordagem a escola deverá verificar se os programas de educação ambiental estão apenas sugerindo e ou enfatizando fundamentalmente aspectos cognitivos, deixando bem claro se tratar de uma educação voltada apenas para o treinamento e conhecimento de fatos. A Educação Ambiental é muito mais do que isso. Aspectos como afetividade devem ser incorporados para melhorar a eficácia da educação ambiental que se deseja implantar nas escolas. A educação ambientar deve ser vista como um processo ativo para resolver problemas de realidades específicas, fomentando a criatividade e iniciativa, promovendo a responsabilidade e o desejo firmemente posicionado de edificar uma sociedade muito melhor do que esta que temos. Portanto, as características vivenciais dos seres humanos devem ser incorporadas aos programas, buscando a mudança de dentro para fora, (re) construindo uma nova visão de mundo, de convivência mútua. E neste sentido, outras questões como a ética e responsabilidades individuais e coletivas, são aspectos que devem ser discutidos por todos na escola. A interdisciplinaridade deve promover os encontros e contornos das disciplinas para encontrar o conhecimento que cada indivíduo adquire mediante a vivência. Mas não somente a vivência científica, a racionalidade, a explicação analítica deve prevalecer como trocas e colaborações, mas a introdução de conhecimentos e linguagens relacionados à intuição, a arte e os recursos sensoriais e corporais, como instrumentos necessários à prática da educação ambiental. Cláudio de Musacchio

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Quando se inserem abordagens humanistas nos contextos e projetos educacionais de educação ambiental, professores e alunos experimentam qualidade nas trocas, interações, e colaboração que refazem as aprendizagens, dando vigor às novas concepções de vida. A Educação Ambiental trata especificamente da mudança que deve ocorrer dentro de cada ser humano, antes de tentar melhorar o mundo.

Abordagem interdisciplinar Quando o uso da interdisciplinaridade é concebido, cada disciplina participa dos projetos da escola de maneira a contemplar os aspectos e abordagens sugeridos neste tópico. Mas são necessários que todos, professores alunos e gestão escolar, tenham muito claro os conceitos sobre a interdisciplinaridade e como ela provoca e promove a união dos saberes, numa visão holística e menos fragmentária. Uma das maneiras de fazer com que o professor exerça a interdisciplinaridade é nos projetos de pesquisas criados pela escola para discutir temas transversais. È um momento de possibilidades do exercício da interdisciplinaridade. E o assunto educação ambiental deve ser retratado com a ajuda de todas as disciplinas da escola, envolvendo todos os aspectos da questão, e promovendo não a participação de cada área de conhecimento, mas, mais do que isso, um novo olhar que deve ser lançado sobre os assuntos de discussão, modificando também os hábitos e as práticas pedagógicas. Os professores precisam ser capacitados e habilitados para se sentirem interdisciplinares, co-participativos, buscando não o pensamento uníssono, mas o pensamento transformador. A abordagem interdisciplinar só será possível se as barreiras que separam as áreas de conhecimento forem derrubadas, e os contornos entre os saberes possam encontrar respostas que sozinhos não conseguem encontrar e dar conta. E a melhor maneira de mudar a praxiologia docente unidisciplinar é experimentando esses momentos de convivência que os projetos de pesquisas possuem. Se num primeiro momento pouco ou quase nada interdisciplinar ocorre, será com a prática continuada do exercício e da comunhão dos saberes que a interdisciplinaridade encontrará seu espaço e nascerá e florescerá. Os professores não foram forjados na metodologia interdisciplinar, portanto, devem ser pouco a pouco, alfabetizados nesta nova concepção epistemológica educacional e interacional.

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Abordagem da realidade local versus realidade global As questões voltadas para este aspecto e abordagem deixam bem claro que todo o projeto de pesquisa, em áreas temáticas transversais, deve ser considerado por duas dimensões: a dimensão local, contextualizada e a dimensão global, geral, planetária. Não se estaria falando de educação ambiental nas escolas se não tivéssemos instituído uma lei para isso. Ou seja, as ordens sociais nacionais e internacionais são regidas por processos políticos, legislativos e ordinários. Compreende-se a extensão dos problemas que o meio ambiente sofre, mas só se pode atuar se as duas possibilidades dimensionais estiverem ativas: aquela que compreende a ação dos indivíduos e grupos organizados que elaboram as mudanças através de ações isoladas, locais; e aquela que compreende a ação pela coletividade mundial, representada pelas nações unidas que congregam a maioria dos países do planeta. Nesta última, leis internacionais são erigidas para serem cumpridas e que permitem a mudança de comportamento sobre os ambientes naturais. Quando se trata das duas dimensões ao mesmo tempo, os resultados apurados são significativos. Um exemplo disso foi o movimento mundial contra a matança das baleias. Somente depois que leis internacionais coibiram a pesca predatória e houve a vigília local de grupos organizados é que conseguimos diminuir substancialmente este tipo de comércio. A educação ambiental deve, portanto, sugerir as escolas que os projetos de pesquisas sejam discutidos, refletidos e executados por todos seus integrantes, discentes, docentes, e profissionais da área educacional, como princípios básicos norteadores, partindo-se das realidades locais e contextualizadas, sem perder a visão mais ampla, geral e global dos problemas ambientais. Existem, portanto, um número muito grande de aplicações e modelos de comportamentos a serem implantados nas escolas, para contribuir com uma educação ambiental, sugerida pelos movimentos organizados (ONGS), sem que se percam os aspectos e abordagens do problema focado, em números representativos nacionais e internacionais.

Utilização de diferentes ambientes educativos Neste último aspecto e abordagem para uma educação ambiental mais abrangente, os diferentes ambientes educativos como metodologias para se chegar a resultados práticos da ação educacional é conseguida através de projetos que envolvam os alunos e professores em diferentes contextos. Cláudio de Musacchio

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A utilização de diversos ambientes educativos parece ser a decisão mais acertada tendo em vista a multiplicidade de métodos para se comunicar e adquirir conhecimentos sobre as questões ambientais. A construção na escola de oficinas extraclasses oferece aos alunos condições de praticar a interdisciplinaridade, desenvolver projetos de pesquisas científicas em sala de aula para entender e compreender mais amplamente os fenômenos estudados. Em particular, a criação de patrulha ecológica escolar é um dos temas preferidos por muitas escolas e abordam especificamente as questões sobre o uso inteligente do lixo, aspectos de higiene e alimentação, cuidados com as plantas e animais, o estudo dos fenômenos físicos da natureza que afetam profundamente o planeta, extinção de animais por conta das caças predatórias, e tantos outros temas ligados aos mares, aos animais, as plantas. Experiências vivenciadas e que podem servir de inspiração para as escolas quanto à aplicação de práticas para uma educação ambiental:  A coleta seletiva do lixo – este enfoque pode gerar vários objetos de pesquisa, pois sua ideia não explicita adequadamente a natureza e o objetivo da experiência. Para isso, as sugestões sobre a coleta podem ser: a separação do lixo em quatro famílias distintas, reciclagem do lixo, a discussão dos objetos plásticos no lixo quanto ao seu tempo de decomposição e dos demais materiais; transformar o lixo em produto de comercialização; lixos orgânicos, do que é feito a comida que sobra nos restaurantes e estabelecimentos comerciais de alimentação?  Jardinagem – plantio, colheita, tipos de folhas e plantas; plantas medicinais, ornamentais, comestíveis;  Patrulha ecológica escolar – dentro e fora da escola. A ideia do projeto é levar até a comunidade do entorno da escola os conceitos e a cultura da preservação de todos os projetos ambientais estudados na escola.  Projetos cães ferozes. Informações valiosas de como criar cães de guarda sem que haja perigo para a população.  Projeto escola padrão. Preceitos a serem observados pela gestão escolar quanto à apresentação física da escola, conservação de máquinas e equipamentos, conservação de móveis e utensílios, banheiros, cozinha, projetos para biblioteca.

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 Projeto saúde em primeiro lugar. Criação de posto avançado para os alunos detectarem problemas na saúde de um modo geral (doenças epidêmicas, cáries, sintomas clássicos de doenças comuns na infância).  Projeto poluição. Estabelece os tipos de poluição: ar, água, esgoto, audição, e como evitá-los.  Laboratórios químico-físico-biológicos para assessorar as disciplinas na pesquisa científica de diversos objetos. Análise da água, esgoto, materiais orgânicos, putrefação, decomposição de alimentos, validade dos alimentos perecíveis, e pesquisas microscópicas.  Laboratório de experiências científicas. Estudo de fenômenos ambientais.  Laboratório de estudos geográficos e geológicos. Estudos de tipos de terra, solos, pedras. Logicamente que estas sugestões não pretendem se constituir de um manual ou guia, mas sim, como referência e instrumento de apoio à prática da educação ambiental. Muitas outras ideias vão surgindo ao longo do tempo e suas publicações são fundamentais para orientar gestores e professores nos aspectos da educação ambiental. Embora se reconheça que a escola, seja um lugar ideal para ensinar às crianças a educação ambiental, é preciso ressaltar que ela deverá perdurar para toda a vida, após a escola, durante o ensino superior, e posteriormente, na vida profissional. Num futuro muito próximo, qualquer ser humano, dotado de alguns conhecimentos apreendidos no período escolar, será capaz de socorrer a natureza em seu sofrimento e martírio pela ação nociva do homem ou pelos seus efeitos naturais.

Conclusões Há exatos quarenta anos, o Plano de Ação Mundial, elaborado na Conferência de Estocolmo em 1972, estabeleceu os objetivos orientadores para a humanidade preservar o ambiente natural, reconhecendo a necessidade de uma educação ambiental que ensine as populações a preservarem o meio ambiente como forma de manter a sustentabilidade para a vida com a qualidade que se deseja. Cada indivíduo se torna a partir dessa conscientização um agente de mudança, pronto a estabelecer controle e administração necessários para por Cláudio de Musacchio

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em prática as normas e leis dirigidas para toda e qualquer preservação do natural, dos seres vivos e da pesca e caça com respeito aos períodos permitidos. Não só as escolas devem servir de fomento para a educação ambiental, mas também as organizações comerciais, industriais, financeiras, devem incentivar e aculturar os avanços nas diretrizes que possam estabelecer programas internacionais nas áreas de saúde, educação em todos os sentidos, controles epidêmicos e preservação dos ecossistemas naturais. A escola tem a função maior de educação, seja ela profissional, para a cidadania, para a vida em coletividade, mas também para a preservação e conservação da qualidade de vida. Todo o processo educação passa necessariamente pelo ensino-aprendizagem, logo depende da capacitação e preparo de professores para lidar com os novos conteúdos, novos paradigmas, novas tecnologias, tanto para o ensino presencial quanto virtual, integrando os saberes, introduzindo metodologias que configurem estabelecimentos de valores, crenças e virtudes, contemplando uma educação baseada na moral, na ética e nos bons costumes. O estabelecimento de novos paradigmas na educação com a introdução sistemática de inovações tecnológicas, e as novas diretrizes à educação para o século XXI, baseada na desfragmentação dos saberes, no uso inteligente dos recursos naturais, na criação dos princípios norteadores de uma educação total, global, que inclua as questões do coletivo, do individual, do ambiental, da globalização comercial, e de preceitos universais, todas as atenções se voltam para a instituição escola, como sendo o principal foco das mudanças que se deseja. Tudo passa pela educação e pela formação do homem do amanhã. Nesta perspectiva a educação ambiental, se constitui como um dos fortes pilares formadores do caráter, da responsabilidade social, do profissional do amanhã, comprometido com o social, com a preservação dos bens materiais, dos seres vivos, da convivência pacífica dos povos, em detrimento de suas idiossincrasias, credos, etnias, e formas de governo.

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Núcleo Cultura e Erudição Mídias na Educação: histórias em quadrinhos Media in Education: comics

Resumo Este ensaio discute a importância de mídias alternativas como histórias em quadrinhos na caracterização de recursos sígnicos e sua natureza interdisciplinar. Discute as possibilidades em aplicações e experimentos científicos em sala de aula potencializando o ensino-aprendizagem e aproximando os conteúdos curriculares para o universo léxico das crianças. Mostra também, segundo estudos da USP, o número de trabalhos científicos crescentes discutindo a importância de se alternar linguagens de informação e comunicação. E conclui pontuando as razões para o uso da interdisciplinaridade envolvendo várias áreas de conhecimentos e a implantação de experiências científicas em sala de aula como metodologia alternativa para se alcançar aprendizagens significativas e holísticas.

Palavras-chaves Interdisciplinaridade, histórias em quadrinhos, pesquisas científicas em sala de aula, estudos lexicológicos, metalinguagens alternativas.

Abstract This essay discusses the importance of alternative media like comic books in the characterization of signic resources and its interdisciplinary nature. Discusses the potential applications and scientific experiments in the classroom enhancing teaching and learning and bringing the curriculum to the children’s lexical universe. It also shows, according to studies by USP, the growing number of scientific papers discussing the importance of switching languages ​​and communication. He concludes pointing out the reasons for the use of interdisciplinary involving several areas of knowledge and deployment of scientific experiments in the classroom as an alternative methodology to achieve significant learning and holistic.

Key words Interdisciplinarity, comic books, scientific research in the classroom, lexicological studies, meta alternatives.

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Resumen En este ensayo se discute la importancia de los medios de comunicación alternativos como libros de historietas en la caracterización de los recursos sígnicas y su interdisciplinaridad. Analiza las posibles aplicaciones y los experimentos científicos en la enseñanza en el aula y el aprendizaje y la mejora de lo que el plan de estudios para el universo de los niños léxico. También muestra, según estudios de la USP, el creciente número de trabajos científicos que discuten la importancia de las lenguas de conmutación y de comunicación. Se concluye señalando las razones para el uso de interdisciplinaria que implican diversas áreas del conocimiento y el despliegue de experimentos científicos en el aula como una metodología alternativa para lograr un aprendizaje significativo e integral.

Palavras clave La interdisciplinariedad, el cómic, la investigación científica en el aula, los estudios léxicos, las alternativas de meta.

Introdução “As histórias em quadrinhos talvez seja uma das mais lúdicas formas de expressão literária, pois ao mesmo tempo em que busca ser compreendido através de figuras, também se locupleta com textos, ações, sons e onomatopéias. Nenhuma outra forma de literatura abrange tantos sentidos e sensações.”

Cláudio de Musacchio

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Com os grandes inventos na área da informação e da comunicação nas últimas três décadas, a interdisciplinaridade oportunizou a discussão de se relacionar diferentes saberes, tecnologias, ferramentas e sistemas de computador que possibilitem a comunicação por diferentes mídias. O surgimento de alternativas para a comunicação escrita desde a invenção da imprensa trouxe às figuras, os desenhos, às fotografias e as narrativas através de histórias em quadrinhos com uma terminologia própria de construção de ideias, de lexicografia e de espaços distintos de comunicação. Os livros que povoam a dezenas de décadas os cenários acadêmicos, escolares e empresarias, também tomam formas diversas e buscam espaços alternativos através de revistas, panfletos publicitários, propagandas, jornais e tantos outros tipos de mídias para públicos e objetivos diversos. Uma dessas tecnologias da comunicação mescla textos com figuras e possui uma representação, linguagem, lexicografia, signos e simbologias próprias – as histórias em quadrinhos. A história em quadrinhos fez parte da maioria das infâncias das décadas de 50 até os dias de hoje. Caracterizada pelo seu hibridismo rico em recursos sígnicos e pela potencial liberdade do exercício pleno da interdisciplinaridade, pois transita em todas as áreas de conhecimento. Por algum tempo as histórias em quadrinhos eram considerados subliteratura, não tendo estudos acadêmicos que comprovassem sua eficácia e eficiência no desenvolvimento das primeiras leituras no processo de alfabetização. Estudos recentes dessa metalinguagem propõem que metodologias pedagógicas e práticas docentes incorporem em suas praxiologias a utilização da imagem gráfica impressa, ou em modelo digital, através de histórias em quadrinhos. Para a interdisciplinaridade, o uso de metodologias léxicas menos ortodoxas e que busquem o interesse do aluno pelos conteúdos, não se importando muito pela mídia empregada, mas pelos objetivos que a pedagogia se propõe – uma educação duradoura, significativa, e com sólidas propostas para elevar os alunos, posteriormente, a se engajarem em leituras de livros. Levantamentos recentes comprovam que a leitura de livros não é apreciada pela maioria das crianças nas séries iniciais, preferindo, logicamente, o adorno das figuras, imagens, fotos e histórias em quadrinhos 166

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como possibilidade mais lúdica de leitura. Os conteúdos curriculares precisam entender o funcionamento das histórias em quadrinhos, sua dinâmica, a criação de personagens, roteiros ambientais bem definidos, e postura da linguagem falada pelos personagens, de maneira a atingir diferentes públicos e objetivos. Diversas áreas de conhecimentos lançaram-se em busca de soluções de ensino e aprendizagem utilizando-se das histórias em quadrinhos. Podem-se perceber trabalhos nas áreas de Arquitetura, Educação, Artes Visuais, Cinema, Lingüística, Semiótica, Comunicação Social, Literatura e tantas outras. Muitos estudos publicados em artigos científicos garantem que as discussões estão só começando e que muito se deve evoluir no uso de mídias alternativas. Para cada área de conhecimento, encontra-se uma busca por linguagem própria, terminologia, ambientação, criação de personagens, heróis. Com os trabalhos, surgem os vocabulários típicos de cada área e bibliotecas de termos técnicos, científicos e léxicos, por onde circulam as informações e o saber científico. Como oficinas, as possibilidades são muitas e diversificadas, permitindo uma gama muito grande de aplicações e projetos de pesquisa. A seguir vamos sugerir alguns exemplos e as diferentes possibilidades de interdisciplinaridade e experiências científicas em sala de aula.

Universo de aplicações de histórias em quadrinhos A capacitação técnica para a construção de histórias em quadrinhos está associada inicialmente ao grupo de alunos com alguma facilidade para o desenho do tipo Cartoon. Cartoon é o desenho simples, sem cor, considerado como desenho humorístico, que pode acompanhar legenda, e que retrata basicamente uma situação, fato, crítica de comportamentos, situações engraçadas, do cotidiano das sociedades. A caracterização das histórias em quadrinhos é denominada de Arte Seqüencial ou Narrativa Figurada, que é uma forma de arte que conjuga texto com desenho, com o objetivo de narrar histórias. Nesta representação a linguagem é colocada em forma de diálogos, e se escreve exatamente como as pessoas falam. A liberdade poética é garantida pela situação criada e os chamados erros de ortografia e gramaticais são, em algumas vezes, provocadas para chamar a atenção do leitor para este fato em específico. Em outras situações, em que o contexto não é a crítica da escrita, o português é escrito da forma correta, mas no formato verbal, que é bem diferente da escrita culta. Os textos aparecem em formato de bolhas. Bolhas com setas que indicam a ideia falada por um dos personagens. A bolha com bolinhas indica que o personagem está pensando. Cláudio de Musacchio

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Outra maneira de narrativa no formato de histórias em quadrinhos é a proposta realizada com fotos, neste caso o nome é Foto Novela, e se caracteriza por fotos que dispõem os personagens em diferentes situações e poses, com diálogos que vão contando uma história ou uma narrativa. Os nomes de histórias em quadrinhos são diferentes em várias localidades. Nos Estados Unidos é conhecido como comics, fumetti na Itália, bandes na França, tebeos na Espanha, historietas na Argentina, muñequitos e cósmicos em Cuba, mangás no Japão, manhwas na Coréia do Sul, manhuas na China e assim por diante em todos os cantos do planeta. No Brasil o nome das histórias em quadrinhos se popularizou com o nome de gibi ou almanaque. Inicialmente a indústria americana inundou o mundo com as histórias de super-heróis. Depois pequenas indústrias nacionais tentaram competir com a gigante indústria americana. Só recentemente, no Brasil, iniciativas de histórias em quadrinhos para uso pedagógico foi assunto de trabalhos científicos e tentam se firmar num mercado editorial bastante competitivo. Mais recentemente, as possibilidades se amplificaram com o uso de sistemas de computador que favorecem a criação de histórias em quadrinhos. Na modalidade eletrônica ou digital, é possível se introduzir rapidamente contextos de aprendizagem que são inseridos nos conteúdos programáticos de cursos à distância. A pesquisa sobre histórias em quadrinhos, na universidade Federal de São Paulo, durante o período de 1972 a 2005, demonstra a importância que esta forma de comunicação está se proliferando, deixando de ser apenas um formato para um tipo de leitura e tornando-se um forte elemento pedagógico para ser inserido em ambiente educacional. O estudo da USP revela um aumento progressivo nas últimas décadas segundo o quadro a seguir: Produção de Dissertações e Teses na USP-SP, por décadas

ANO 1970-1979 1980-1989 1990-1999 2000-2005 TOTAL

TRABALHOS 03 04 10 13 30

PORCENTAGEM 10,0% 13,4% 33,3% 43,3% 100%

É importante ressaltar que os trabalhos científicos sobre o uso das 168

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histórias em quadrinhos se devem aos movimentos sociais havidos nas décadas de 80 e 90, para que esta modalidade saísse da marginalidade em que vivia, para o uso acadêmico, como forma de expressão livre. A mesma análise realizada por área denota que o fenômeno ainda é um tabu para muitos centros de conhecimento, e que o maior desafio da área de Comunicações é mostrar que este gênero pode ser amplamente utilizado nas ementas e nos currículos sem perda alguma de conteúdo ou aprendizagem. Marginalizado por décadas, as histórias em quadrinhos foram consideradas por muitos críticos da literatura como uma subinguagem, sem aprofundamento da língua culta, e sem perspectivas de uso pedagógico. Muitos acreditavam que as histórias em quadrinhos não poderiam ser levadas a sério nos meios acadêmicos e educacionais. As primeiras aplicações comerciais no formato de histórias em quadrinhos vieram das tiras de jornais e seu propósito principal era a sátira, a crítica e a caricatura. O quadro a seguir mostra os trinta trabalhos apresentados por área de conhecimento: Produção de Dissertações e Teses na USP-SP, por áreas

ANO Comunicações Educação Filosofia e Letras Medicina Psicologia TOTAL

TRABALHOS 14 02 09 02 03 30

PORCENTAGEM 46,6% 6,7% 30,0% 6,7% 10,0% 100%

O grande número de trabalhos científicos publicados na área das Comunicações se deve ao foto dos seus autores retratarem este tipo de linguagem como uma alternativa ao uso pedagógico podendo ser utilizado tanto na universidade quanto nas escolas. Apesar de a Educação apresentar tão baixa produção no estudo de linguagens alternativas, foi a área que mais investiu em movimentos e campanhas a favor de metodologias e metalinguagens para aproximar os alunos da escola e tornar o ensino mais agradável e lúdico.

Cláudio de Musacchio

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Formatos e possibilidades das histórias em quadrinhos Normalmente se conhece as histórias em quadrinhos como sendo a divisão de uma página em quatro, seis ou mais quadrados. Em cada quadrado uma seqüência da história com dizeres escritos em objetos como nuvens ou bolas com setas para apontar o autor da fala. A dificuldade consiste em se desenhar o mesmo personagem criado em diferentes formas e situações. É preciso alguma habilidade de desenho para que isso seja realizado. E este é o maior entrave para o sucesso de atividades que envolvam a criação de histórias em quadrinhos. Segundo os próprios alunos, esta habilidade é muito rara de se encontrar na escola. Outra forma de desenhar a história consiste em colocar numa página, um único quadrado e uma cena são desenhados com seus respectivos textos. Esta modalidade foi muito desenvolvida para as histórias em quadrinhos feitas e publicadas no formato de livros infantis. Esta modalidade está em franca expansão no mundo todo e as livrarias reservam cada vez mais espaços para colocar a produção de novas histórias todos os anos. Antes da popularização no Brasil da novela na TV, as impressões de foto-novela tomavam conta das livrarias e bancas de jornal. Até hoje se encontra ainda revistas desta natureza, embora o número esteja diminuindo, ano após ano. Com o advento dos computadores e posteriormente da Internet, a imagem, o som, os vídeos, e páginas como o YouTube, determinaram novos cenários de prospecção de informações, valores, notícias, pedagogias, cultura e entretenimento. Apesar desta modalidade não ser a única existente em meio magnético, é vista por muitos estudiosos como o futuro modelo de difusão de informações, pois os vídeos são curtos, objetivos, traduzem a linguagem do público que se deseja e pode ser acessado por qualquer equipamento móvel de comunicação. Em sala de aula, a proposta de livros acadêmicos no formato de histórias em quadrinhos teve a sua implantação na década de 90. O próprio governo em parceria com alguns projetos educacionais publicaram livros neste formato, nas áreas de geografia e história. Os primeiros movimentos ocorreram ainda nas décadas de 70 e 80. Mas a sua popularização se deu apenas na virada do milênio. Estudos mais recentes indicam que as histórias em quadrinhos serão largamente utilizadas para pequenas aplicações muito pontuais e setoriais.

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Deverão fazer parte de pesquisas localizadas, divulgarem procedimentos para as comunidades como comportamentos, processos com o lixo orgânico, situações de trânsito, cartilhas para comportamentos em geral da sociedade. Este veículo e forma de comunicação permitem a utilização de diálogo direto, próprio, e pontual. As linguagens das histórias em quadrinhos podem estar configuradas em diferentes formatos como: histórias em quadrinhos, gibis, charges, tablóides, caricaturas, fanzines, tiras, fotonovelas e folhetins. Os tipos e gêneros encontrados são: super-heróis, aventura, ficção científica, romance, terror, humor, drama doméstico, comic book e policial. E os recursos utilizados são: balão (onde são inseridos os textos), desenhos, quadros, requadros, páginas, fotografias, ilustrações, linhas, pinturas, traços e onomatopéias.

As disciplinas e os projetos de pesquisas As diversas disciplinas podem utilizar largamente este recurso em seu currículo, pois esta modalidade permite a visualização importante do fenômeno estudado, seja ele geográfico, histórico, químico, biológico, físico ou matemático. Nos projetos de pesquisas científicas, a aplicação de histórias em quadrinhos pode ser realizada pelos alunos para descrever todos os passos da experiência, seus resultados, análises, hipóteses, e conclusões. Na metodologia da interdisciplinaridade, vários professores podem construir juntos, uma história em quadrinhos, onde cada professor realiza as suas contribuições a respeito de um determinado assunto estudado. As participações dos professores pode também percorrer o estreito caminho das interseções das disciplinas, onde são discutidas as ideias e ponderações. Os alunos também participam com suas perguntas e indagações, e por sua natureza interdisciplinar, podem se dirigir a mais de um professor na busca de respostas. Nas áreas naturalmente científicas como biologia, química e física, o uso de histórias em quadrinhos poderá ser de extrema serventia, pois que a mídia em quadrinhos permite mostrar no formato desenho, os eventos físicos, as substâncias químicas e os seres microscópicos sendo observados. As oficinas são fortemente inclinadas a apoiarem as disciplinas curriculares com trabalhos que possam auxiliar os professores. Neste sentido, objetos e personagens em quadrinhos são criados pelos alunos para explicar os fenômenos, as formulações, as substâncias, o funcionamento dos sistemas nos seres vivos, possibilitando maior compreensão dos conteúdos e tornando a aprendizagem realmente significativa. Cláudio de Musacchio

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Dentre as inúmeras possibilidades de aplicação das histórias em quadrinhos podemos nominar algumas para projetos de pesquisas por área de atuação: Psicologia – histórias em quadrinhos sobre interação humana, valores sociais, culturais, costumes, histórias das ciências e da literatura. Física – nos estudos das áreas de física as histórias em quadrinhos tomam dimensões de revistas em quadrinhos de ficção científica, onde são retratadas as grandes invenções e seus inventores, história da luz, do fogo, e das gerações de energias alternativas, estudos da gravidade, movimento, força. Mecânica – histórias em quadrinhos para retratar a origem das máquinas, ferramentas, dispositivos, como funcionam as coisas. Design – histórias em quadrinhos sobre o emprego dos formatos e das formas das coisas, áreas da arquitetura, desenhos arquitetônicos de ambientes externos, internos, a força da luz nos ambientes interiores. Linguagem – histórias em quadrinhos sobre as linguagens e idiomas, dramaturgia, mitos e fantasias, diferentes tipos de comunicação humana. Biologia – histórias em quadrinhos sobre o corpo humano, estudos das células, órgãos, sistemas do corpo humano, estudo das plantas, dos animais, dos minerais, ecossistemas, biodiversidade, sustentabilidade. O próprio estudo da natureza metalinguagem poderia ser tema de histórias em quadrinhos explicando como nascem os personagens, seus perfis psicológicos, ontológicos, epistemológicos, bem como os cenários onde estão inseridos. Ao se utilizar as histórias em quadrinhos percebe-se que a linguagem gráfico-narrativa dos quadrinhos é rica em possibilidades, no uso de palavras, neologismos, gírias, efeitos sígnicos, linguagens simbólicas, etc. A riqueza da linguagem no formato de quadrinhos permite a introdução de imagens, movimento, sons, enriquecendo sobremaneira o que se pretende dizer, como se diz e os recursos que a linguagem falada empresta para este estilo de narrativa.

A interdisciplinaridade nos projetos de pesquisas em quadrinhos Nos projetos de pesquisas, as histórias em quadrinhos podem reunir diversos professores para discutir os temas da pesquisa. Estas discussões e pareceres podem aparecer no formato de histórias em quadrinhos, deixando assim, o conteúdo exposto numa forma mais lúdica, capaz de prender a atenção dos alunos. Numa época em que os professores discutem metodologias 172

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alternativas, práticas pedagógicas que consigam chamar a atenção dos alunos, e o uso intenso de aparelhos eletrônicos de informação e comunicação, qualquer novo adereço na relação ensino-aprendizagem é bem vindo e suas contribuições são rapidamente inseridas nos contextos educacionais. A maioria das cartilhas do governo para chamar a atenção da população para problemas de higiene, saúde, cuidados em geral, são criados a partir desse formato, introduzindo histórias em quadrinhos, tornando a leitura mais agradável e cumprindo o objetivo e o papel que é a divulgação de uma informação importante. E é com esse propósito que a interdisciplinaridade se insere nos contextos acadêmicos e escolares, privilegiando e potencializando os contatos com os diferentes saberes sobre as questões estudadas. O uso dessa linguagem de comunicação requer estudos de como ela é constituída e elaborada, qual a linguagem a ser utilizado em cada momento da história em quadrinhos, aspectos do conteúdo, o roteiro da história e dos desenhos, estudos para o público alvo que irá ler as questões de estética, clareza, objetividade, e como a interdisciplinaridade será realizada com os diferentes atores na construção pedagógica que se deseja. Os projetos de pesquisas que se utilizam dessa técnica devem assumir que parte do projeto se refere ao conteúdo propriamente dito da pesquisa e outra parte do projeto é a feitura da história na modalidade quadrinhos. Os próprios alunos devem participar dos dois momentos, sendo autores e atores da construção da pesquisa, desde o seu início, até os últimos retoques referentes às histórias em quadrinhos.

Elementos relevantes na produção de histórias em quadrinhos Quando os projetos de pesquisas elaboram a criação e produção de informações no formato de histórias em quadrinhos, surgem alguns controles e cuidados. Entre os elementos que devem ser observados são: linguagem, conteúdo, história, sociedade & cultura, técnica & estética, aplicações práticas, recepção e economia. Linguagem – A escolha da linguagem é muito importante devido ao público que se deseja atingir. A narrativa deve perseguir um tom de clareza absoluta, sucinta, objetiva, tendo em vista que as imagens deverão, por si só, expressar uma ideia. Como os projetos de pesquisas envolvem experimentação científica em sala de aula, a linguagem adequada nestes casos é a culta. Mas podem ser inseridas observações humoradas, coloquiais ou até mesmo onomatopéias a respeito dos resultados encontrados. Cláudio de Musacchio

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Conteúdo – O conteúdo está relacionado à criação e produção dos personagens, autores, gêneros ou formatos específicos. Essas decisões acompanham um roteiro contendo as características necessárias do que se deseja colocar nos quadrinhos, desenhos primários ou sofisticados, coloridos ou não, através de personagens imaginários ou figuras humanas. História – Neste quesito a preocupação é que a história que deve ser contada propriamente dita. Deve-se prestar muito a atenção aos ícones criados, bem como os signos criados. Eles devem ser compreendidos pelo público alvo, caso contrário a história perderá em essência ou conteúdo. A história deve ser elaborada desde o início do projeto de pesquisa e seu planejamento deve estar contemplado no escopo geral da pesquisa a ser realizada, lembrando que um grupo de alunos responsáveis pela produção do conteúdo deverá possuir tais habilidades. Sociedade & Cultura – Neste quesito são consideradas as análises sociais em que elas estão inseridas. Os diálogos, a forma de expressão, o modo de perguntar e responder, a narrativa e a estética deve estar condizente com a linguagem utilizada pelos jovens. Devem ser observados intenções na criação de estereótipos ou qualquer tipo de discriminação ou preconceito. Técnica & Estética – Ao se elaborar histórias em quadrinhos é necessário que se tenha habilidades para o desenho. Dependendo de como se queira retratar os cenários, os personagens, as cores, serão importantes analisar as técnicas e a estética utilizada para que o trabalho final possa expressar a ideia desejada. Aplicações Práticas – São muitas as possibilidades de aplicações para o uso dessa mídia alternativa de comunicação impressa ou digital. O uso acadêmico ou educacional é possível em todas as áreas de conhecimento, prevalecendo os fatores de se encontrar uma linguagem que fale a língua dos alunos, que eles entendam e compreendam os conteúdos que estão sendo tratados e cujos resultados contribuam para a construção do conhecimento. Recepção – O uso de histórias em quadrinhos pode sugerir a utilização de uma linguagem capaz de sedimentar a cultura, a socialização, os preceitos e valores sociais, respeito ao próximo, conceitos religiosos, patrióticos, ideológicos e históricos. Segundo trabalhos realizados de dissertação e doutorado, o uso de histórias em quadrinhos como pedagogia para a aprendizagem da leitura e portadores de algum tipo de deficiência que provocasse retardo na aprendizagem dos temas e conteúdos abordados, demonstrou que a melhoria foi acentuada devido à exposição de uma forma de linguagem que não precisa 174

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de muita leitura, e sim, de compreensão gráfica dos fatos observados. A aprendizagem baseada em imagens, fotos, gravuras, e textos com gravuras surpreendem mais os alunos do que material textual do tipo livros, sem nenhum atrativo visual. Economia – Os projetos de pesquisas devem prever os custos na manufatura de histórias em quadrinhos, mesmo que toda a elaboração seja feita pelos próprios alunos e professores. A produção de histórias em quadrinhos nos projetos de pesquisas potencializa a relação ensino-aprendizagem, pois sugere outro olhar diferente daquele que se utiliza do modelo tradicional de linguagem escrita textual. A maneira de ver a ciência, de fazer ciência, de se relacionar com os eventos científicos, de permitir que as crianças tenham uma participação mais efetiva na elaboração das questões de pesquisa, deve ser incentivada com a introdução de mídias alternativas como fotografias, vídeos e áudios, expressões teatrais, elaboração de novos signos e símbolos para explicar os fenômenos científicos. Apesar de a grande maioria das áreas de conhecimento não utilizarem as histórias em quadrinhos como projeto pedagógico, é grande o índice de crianças que se iniciam nesta modalidade para aprenderem a ler. Outras formas de leitura também são encontradas, mas o fascínio pelas histórias em quarinhos, ao contrário do que se possa pensar, não afasta as crianças pelos estudos, segundo dados científicos.

Conclusões Desde as primeiras séries do ensino básico as crianças são estimuladas a interagirem com o meio social através das manifestações artísticas em que elas estão inseridas. E nesta diversificação de meios e linguagens entre as mídias impressas e virtuais estão às ferramentas de informação e comunicação. Buscando novos instrumentos e práticas pedagógicas, os professores descobrem nos áudios, vídeos, comunidades virtuais, fóruns de debates, email, e histórias em quadrinhos, novas formas de aproximar as crianças do conhecimento. A viabilidade da metodologia de ensino utilizando as histórias em quadrinhos transforma-se num instrumento pedagógico viável e prático levando o aluno a compreender melhor o conteúdo das disciplinas e ainda permite que os alunos sejam sensibilizados para questões e problemas referentes aos temas transversais. Os alunos podem criar materiais didáticos para toda e qualquer disciplina, utilizando para isso histórias em quadrinhos, que além de ser Cláudio de Musacchio

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um projeto divertido de produzir ainda tem o aspecto lúdico. As aplicações podem ser realizadas por alunos de uma série superior fornecendo materiais de conteúdo para séries inferiores como trabalhos de pesquisa. As disciplinas de português, geografia, história, literatura, artes visuais, são naturalmente incorporadas nesta modalidade de comunicação por serem intuitivas, e trabalharem as questões da lingüística, da gramática, da ortografia com grande naturalidade, e noutras áreas como: matemática, física, química, biologia, podem elaborar projetos de pesquisas incorporando histórias que ajudem a compreensão das fórmulas, das resoluções, das substâncias químicas e físicas, além de proporcionar um agradável ambiente lúdico de disseminação das artes em todas as suas formas de apresentação e representação. As oficinas nas escolas têm importante papel extraclasse que é o de integrar conceitos, correlacionar conhecimentos, permitir interatividade entre os alunos e promover projetos de trabalhos em grupo. No entanto, alunos e professores são atores importantes nestes processos de construção do conhecimento e as histórias em quadrinhos funcionam como um instrumento didático-pedagógico, independente das áreas em que atue, como um meio de comunicação entre a literatura de cada disciplina e o aluno. Por se tratar de um método de ensinar e aprender, as histórias em quadrinhos não são um fim em si mesmo, mas um meio de proporcionar aos alunos um conteúdo educacional crítico e reflexivo. A interdisciplinaridade é conseguida de diferentes maneiras e participações, desde trabalhos em grupo na construção das histórias em quadrinhos, como os professores que irão participar dos embates sobre os temas abordados. Os resultados podem ser apresentados no formato de histórias em quadrinhos, tornando as aulas mais criativas, lúdicas, diversificadas e dinâmicas. A proposta das oficinas que trabalham com histórias em quadrinhos é fornecer mídias alternativas que atinjam seus propósitos que é o de sensibilizar alunos e professores de que todas as formas de linguagem são possíveis, e de que outros recursos sígnicos, verbais ou visuais narrativos podem participar da relação ensino-aprendizagem. Se por algum tempo, os quadrinhos não gozaram de um lugar nos estudos, sendo apelidados de subcultura ou subliteratura, hoje podem ser vistos como alternativas de comunicação, criando sua própria metalinguagem e revelando seus próprios universos discursivos.

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Núcleo Cultura e Erudição Mídias na Educação: contador de histórias Media in Education: storyteller

Resumo Este ensaio descreve a importância de se contar histórias para as crianças das primeiras séries do ensino básico, a fim de lhes garantir diversos desenvolvimentos, tais como a socialização, a criatividade, a recreação, formação intelectual, desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo. Também questiona a importância das histórias nos contextos disciplinares da educação escolar como metodologia tradicional de ensino-aprendizagem. E por fim, sugere aplicações interdisciplinares e experiências científicas em sala de aula com a ajuda de professores de diferentes áreas de conhecimento para discutirem e interpretarem a história contada.

Palavras-chaves Contador de histórias, interdisciplinaridade, desenvolvimento cognitivo, desenvolvimento do pensamento crítico.

Abstract This essay describes the importance of storytelling for children in early grades of primary education in order to ensure their various developments, such as socialization, creativity, recreation, intellectual development, critical thinking and reflective. It also questions the importance of disciplinary histories in the contexts of education as the traditional method of teaching and learning. And finally, suggests interdisciplinary applications and scientific experiments in the classroom with the help of teachers from different areas of expertise to discuss and interpret the story.

Key words Storyteller, interdisciplinary, cognitive development, development of critical thinking.

Resumen En este ensayo se describe la importancia de la narración de cuentos para niños en los primeros grados de educación primaria con el fin de 180

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asegurarse de que sus diversos desarrollos, como la socialización, la creatividad, la recreación, el desarrollo intelectual, el pensamiento crítico y reflexivo. Se cuestiona también la importancia de las historias disciplinarias en los contextos de la educación como el método tradicional de enseñanza y aprendizaje. Y, por último, sugiere que las aplicaciones interdisciplinarias y los experimentos científicos en el aula con la ayuda de profesores de diferentes áreas de especialización para discutir e interpretar la historia.

Palavras clave Narrador, interdisciplinario, el desarrollo cognitivo de desarrollo, del pensamiento crítico.

Introdução “A arte de contar histórias nunca perdeu o seu encanto nem sua beleza plástica. Por mais livros que demos aos nossos filhos, eles sempre irão preferir ouvir uma boa história, posto que a carga subjetiva que entoamos na narrativa ficará para sempre gravada em suas mentes. Lembro-me mais da forma como minha me contava histórias do que as histórias propriamente ditas. É isso que levamos para toda a vida.”

Cláudio de Musacchio

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A arte de contar história remonta desde o início dos tempos e tem passado de geração em geração. Mesmo com todas as interferências e interrupções, os homens sobreviveram porque aprenderam uns com os outros e trocaram importantes informações. Antes mesmo das crianças serem alfabetizadas, eles recebem uma carga de histórias (estórias) sobre mundos mágicos, que despertam a sua curiosidade e fascinam-nas desde os três, quatro e cinco anos. As primeiras histórias são contadas por nossos pais e avós. Mesmo sem saber dos resultados que essas histórias provocam na construção dos esquemas cognitivos nas crianças, nossos pais representam o importante papel de mostrar às crianças a cultura de um povo, ou o pensamento existente nas histórias clássicas da literatura, que trabalham essencialmente de enredos e comportamentos que não existem em nosso dia a dia. Princesas em perigo, príncipes em busca de suas princesas, duendes, animais exóticos, bichos que falam e naturezas mágicas, são alguns dos cenários que povoam as histórias contadas por nossas avós. Muito mais antiga que a escrita, as histórias contadas são responsáveis pela formação cultural da criança. Através das histórias é possível trabalhar a socialização, o enriquecimento da linguagem, o comportamento, a imaginação, trabalhar as emoções, o desenvolvimento do pensamento crítico, artístico, literário, provocar na criança a vontade de aprender a ler. O recurso de contar histórias para as crianças é a chave mais importante das primeiras portas que a criança deve ultrapassar. Ela permite abrir a porta da inteligência, da sensibilidade, do senso crítico. Através das histórias, podemos passar para a criança noções de ética, justiça, lealdade, honestidade, amizade, carinho, amor, e tantos outros predicados importantes ao ser humano. Através das histórias atingimos o coração da criança com o que ela mais almeja em seus primeiros anos de vida: aprender. E aprender significa para ela ouvir e ponderar, questionar, perguntar. Segundo Piaget (1978), a construção de conhecimentos se dá através de assimilações, acomodações e equilibrações. Existem muitas razões por trás das histórias e a maioria delas trás também uma moral, um ensinamento para a vida. Algumas histórias marcam muito as crianças pela influência que elas exercem sobre as sociedades e seus preconceitos e paradigmas instituídos. Algumas histórias irão nos perseguir para o resto da vida, e lembraremos todos os detalhes por sua magia, pelos seus ensinamentos ou pelo ambiente mágico que estão inseridas. 182

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A necessidade de contextualizar histórias Muito antes das crianças irem para a escola elas ouvem as histórias de mundos mágicos, de criaturas exóticas, de comportamentos estranhos, de jardins mágicos, de plantas diferentes, e de castelos antigos. Estas histórias foram criadas numa época em que não havia a escrita e todo o conhecimento humano era passado de pessoa para pessoa. As histórias foram perpetuadas porque foram contadas para os filhos que contaram para seus netos, bisnetos e assim por diante até os dias de hoje. Quando as crianças entram na escola aprendem outras histórias, menos mágicas, não mais de mundos impossíveis, mas de natureza real, de pessoas normais como elas, de preceitos e comportamentos semelhantes. Suas primeiras impressões é que estes mundos retratados nas histórias não são tão maravilhosos e encantadores como aqueles que ouviram quando eram menores. Entretanto, para que as histórias surtam o efeito pedagógico que se quer atribuir a esta forma de comunicação é necessário trazer para as crianças a realidade de seus mundos, com os perfis de pessoas e estilos que ela conhece, para que possamos introduzir os conceitos novos. Estas histórias recebem umas roupagens adequadas à realidade da criança, onde ela poderá analisar a história como factível, ou seja, o grau de que essa história venha a acontecer em sua vida real é muito grande e isso torna a história emocionante sob o ponto de vista da magia possível. Contextualizar, portanto, é inserir lugares, nomes, pessoas, qualidades humanas, que a criança conhece e vivencia em seu mundo fora da escola. Assim ao escutar as histórias ela se reconhece parte integrante da história e escolhe um dos personagens para se imaginar nele e buscar entender o mundo sob a ótica da personalidade assumida e no papel que experimenta. Aos poucos a criança percebe que o mundo mágico dos contos de fadas é fantástico, mas não ocorrem na vida real, não estão no seu dia a dia, e que as histórias que ela ouve na escola são de crianças que vivenciam experiências reais, quer sejam bonitas ou tristes, ricas ou pobres. As mensagens subliminares que passamos nas histórias traduzem os objetivos pedagógicos que desejamos em sua aprendizagem. Não se quer aqui fazer distinção entre tipos de histórias e que um tipo é melhor ou pior que outro. Existem histórias para todas as necessidades e objetivos. Nas aulas de História e Geografia ouvimos dezenas de histórias e fatos que ocorreram na vida de nossos antepassados e que servem para Cláudio de Musacchio

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nos orientar quanto aos nossos comportamentos e pelo que devemos lutar para preservar valores, crenças e costumes. O bom contador de histórias se preocupa com o público que está ouvindo e molda de tal maneira que busca no público a identificação com o lugar da história, com as pessoas, com as roupas, com a forma de falar, com os conteúdos, e com as mensagens que as histórias desejam transmitir. O bom contador de histórias conhece a história e já a contou dezenas de vezes, assim sendo, saberá adequá-la ao público. A mesma história poderá ser contada para as séries do ensino fundamental, sendo alterada para manter o interesse. Ao contar para o ensino médio, outro contexto terá que ser criado a fim de prender a atenção dos maiores. Para cada tipo de ouvinte, uma abordagem específica. Mesmo depois que as crianças entram na escola, continuam escutando histórias de príncipes e princesas, de castelos e conquistas, de possessões, de mapas à tesouros, de piratas e heróis, de super poderes. Entretanto, as crianças, pouco a pouco percebem a diferença entre as histórias e constroem seus próprios valores através da associação que fazem entre a realidade e a fantasia, entre o mundo imaginário e o mundo real.

Mas qual o lugar que as histórias ocupam na escola? Contar histórias foi o artifício encontrado pela escola para tornar possível o encadeamento de conteúdos. As aulas durante dezenas de décadas foram basicamente entoadas pela exposição de conteúdos. Aos alunos bastava ouvir, compreender e responder as argüições através dos processos de avaliação. Embora as crianças não vejam desse modo, todas as disciplinas são, na verdade, histórias que estamos contando em todas as aulas. Os personagens e a trama são trabalhados aula após aula para que faça sentido para eles. Se certos conteúdos são menos interessantes e perdem o interesse geral da turma, cabe ao professor melhorar este conteúdo, colocando uma roupagem que seja capaz de chamar atenção, de provocar a vontade de querer aprender. Esta contextualização é importante e dependemos muitas vezes disso para que a aprendizagem ocorra. A escola moderna e o ensino, dividido em disciplinas, e muitas vezes descontextualizadas, formadas por um currículo que não contempla necessariamente um encadeamento de conteúdos, é trabalhada essencialmente pela linguagem da fala e da escrita. E neste sentido, as aulas são planejadas através do ementário, da bibliografia indicada, das metodologias e práticas didático-pedagógicas empregadas para que estes conteúdos sejam trabalhados 184

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em sala de aula e apreendidos pelos alunos. Sistemas de avaliação são criados para se verificar a eficácia e ou eficiência com que estas práticas foram bem sucedidas. Nesta perspectiva, o ensino educacional escolar que compreende o ensino básico, fundamental e médio, está dividido em várias histórias, que deverão ser contadas, uma a uma, mantendo o interesse dos alunos, e fazendoos compreender os fatos, os esquemas, as resoluções. Todas as disciplinas trabalham nesta sistemática de exposição dos conteúdos, embora a maioria ainda utilize o quadro e o giz ou pincel para dispor os tópicos a serem expostos. Qualquer que seja a tecnologia ou mídia utilizada tanto na informação quanto na comunicação, as histórias estão, mesmo que em alguns casos, escondidas ou invisíveis, mas é a parte mais importante nesta relação que se constitui de ensino-aprendizagem. Sem ela seria impossível a transmissão de informações. Desta forma, contar histórias tem papel preponderante no atual sistema educacional. Algumas novidades tecnológicas, introduzidas nos últimos trinta anos, não modificam o quadro atual da metodologia e prática docente empregada e tampouco inova paradigmas na educação. O que realmente faz diferença na educação contemporânea é a aplicação da interdisciplinaridade e de metodologias que contemplem experimentos científicos em sala de aula. A mera associação de duas ou mais disciplinas discutindo temas comuns já é um avanço paradigmático substancial levando-se em consideração que até bem pouco tempo isso seria impraticável. Reconhecidamente, o ato de contar histórias para os alunos, em todas as séries e em todas as disciplinas é uma metodologia milenar e que ainda não encontrou substituta a altura. O que precisamos discutir nas práticas pedagógicas e educacionais é que só este método de ensino não satisfaz mais as exigências atuais, com tantos modelos de teóricos e pensadores, que justificam mudanças na maneira de se praticar o ensino.

A interdisciplinaridade na ação de contar histórias A interdisciplinaridade opera de maneira muitas vezes original. Após o professor contar histórias, as crianças, ainda sob o efeito da história, indagam o professor sobre o destino dos personagens. Nestes questionamentos, muitas vezes, o professor precisa continuar a história mesmo que ela já tenha sido dada como acabada. Nestes momentos, poderá surgir a necessidade de trabalhar a história em diferentes formatos. Existem diferentes modos de trabalhar os valores, costumes, ideias, propostas da história e os sentimentos causados nos alunos. Cláudio de Musacchio

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A interdisciplinaridade nas ações das histórias é conseguida quando o professor sugere a visita de uma pessoa que possa elucidar algum tipo de problema levantado pelos alunos. Ou que o professor sugere uma atividade de pesquisa onde serão trabalhados os conceitos existentes na história. Uma das atividades que o professor realiza para as primeiras séries é a representação teatral ou cênica vivenciada pelos personagens da história. Esta atividade geralmente encanta as crianças e nela podem ser inseridos contextos interdisciplinares envolvendo mais professores de diferentes áreas de conhecimento para explicar partes da história. As crianças das primeiras séries têm forte tendência em acreditar em tudo o que ouvem e não conseguem discernir a realidade da fantasia, sendo necessária a demonstração do que é real e do que é irreal. Nestas brincadeiras os alunos se vestem com roupas dos personagens e assumem diferentes papeis. Pode-se inclusive sugerir que os alunos contem a história para os demais numa demonstração de que entenderam a história. Mas para que a interdisciplinaridade seja observada neste contexto é necessária a presença de outro professor, de preferência de outra área do saber para que os alunos possam realizar perguntas e obter respostas que as façam compreender os fenômenos que estão sendo estudados. Ao se representar a história o professor irá trabalhar a criatividade, a espontaneidade, a expressão oral, entre outros aspectos. Lembrando que contar a história é recriá-la, é colocar um pouco de si, redesenhando novos contextos e acontecimentos, enriquecendo a história. Um clássico exemplo de interdisciplinaridade é o relato de experiência de um professor frente a uma realidade qualquer abordada na história que o professor acabou de contar. O professor convidado expõe sua interpretação a respeito de um tema relatado. As crianças vão ouvir a história e debater em sala os diferentes aspectos e momentos divertidos. Cabe aos professores presentes, contextualizar para os momentos das crianças e de suas respectivas realidades, buscando discutir ações que seriam desencadeadas pelos alunos frente a inúmeras situações. As trocas promovidas pelos professores diante dos alunos, e as explicações do professor convidado frente ao esclarecimento de um ponto importante é de suma importância, pois contribui para os alunos compreenderem a interpretação dos adultos.

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Conclusões O que se pode observar nas oficinas de contadores de histórias é que muitos campos psicossociais são trabalhados em sala de aula. A atividade contribui para sociabilizar as crianças, ensinando-lhes a ouvirem histórias, trabalhando o encantamento e a curiosidade. A busca por métodos e técnicas criativas que facilitem o entendimento e a compreensão do mundo, desenvolvendo as habilidades para aprender, são os desafios dos contadores de histórias. Se as histórias alimentam o imaginário infantil dando-lhes condições de indagarem sobre o que ouviram, também lhes fornece condições de praticar a interpretação. A questão da contextualização deve ser praticada, sempre que possível, pois traz a criança para a sua realidade e ela deve analisar os fatores sociais, humanos, familiares e afetivos. Não significa dizer que todas as histórias daqui para frente devem ser contextualizadas. A criança precisa dos mundos mágicos de contos de fadas, porque isso também a fará pensar, em um dado momento, que é fantasia, que não existe e que é de mentirinha e ponderar sobre o que é real e o que não é. Se as histórias são importantes para o desenvolvimento da criatividade, da socialização, do desenvolvimento da linguagem, das diferentes expressões corporais, da oralidade, da capacidade de opinar, de perguntar, de buscar entender, de relacionar com o seu mundo, de desenvolvimento da coordenação motora, e da expressão artística através do canto e das artes cênicas, então a proposta pedagógica de contar histórias surte seu efeito desejado. Acrescente-se a essa prática, a interdisciplinaridade, promovendo em sala de aula o encontro de professores para discutir temas associados às histórias como os fenômenos físicos, químicos ou biológicos, ou situações geográficas ou mesmo fatos históricos que possam contribuir para que as crianças entendam os cenários das histórias. As atividades que ocorrem após as narrações são de extrema importância para que as crianças aproveitem o momento de encantamento pela história e se desenvolvam através de representações cênicas, canto, música, tocar instrumentos, dançar, ou até mesmo de recontar a mesma história. Por fim, a interdisciplinaridade e a metodologia de experiências científicas em sala de aula sugerem mudanças nas práticas pedagógicas para tornar as áreas de conhecimentos mais integradas umas as outras, mais conectadas e estudadas sob a ótica da comprovação ou da refutação, dependendo do projeto de pesquisa que esteja sendo desenvolvido. Ao mesmo tempo em que devemos incentivar a especialização para descobrir mais e mais o que precisamos saber para dar os saltos quânticos que precisamos, também devemos evoluir em metodologias que possam contemplar visões do todo, mais holísticas, globalizantes e encontrando respostas onde as próprias disciplinas não conseguem mais dar conta de suas epistemologias. Cláudio de Musacchio

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Cláudio de Musacchio

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Núcleo Cultura e Erudição Mídias na Educação: ênfase em áudios e vídeos Media in Education: an emphasis on audio and video

Resumo Este ensaio descreve a importância das mídias de áudio e vídeo na educação de um modo geral. A importância das novas tecnologias e como elas foram se inserindo nos contextos educacionais. As diferentes metodologias e o importante papel das mídias em sistemas virtuais de educação (EAD). Também descreve a função da educação musical na criação, produção de sistemas digitais, da criação de músicas, da elaboração de roteiros, das diferentes mídias intermediando a relação ensino-aprendizagem. E por fim, aborda as questões de compatibilização das pedagogias com as tecnologias para o desenvolvimento e construção de um modelo de educação e escola que aproximem as crianças à realidade do mercado de trabalho.

Palavras-chaves Mídias na educação, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, produção de áudios e vídeos, multimídias educativas.

Abstract This essay describes the importance of audio and video media in education in general. The importance of new technologies and how they were intruding in educational contexts. The methodologies and the important role of media in virtual education systems (EAD). It also describes the function of music education in creating, producing digital systems, the creation of music, the roadmap of the various media mediating the teaching-learning relationship. And finally, addresses the issues of compatibility pedagogies with technologies for the development and construction of a model of education and school children closer to the reality of the labor market.

Key words Media in education, interdisciplinarity, transdisciplinarity, audio and video production, multimedia educational.

Resumen En este ensayo se describe la importancia de los medios de comunicación de audio y video en la educación en general. La importancia de las nuevas tecnologías y cómo fueron incursionando en los contextos 192

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educativos. Las metodologías y el importante papel de los medios de comunicación en los sistemas educativos virtuales (EAD). También se describe la función de la educación musical en la creación, la producción de los sistemas digitales, la creación de la música, la hoja de ruta de los diversos medios de comunicación de mediación de la relación enseñanza-aprendizaje. Y, por último, aborda las cuestiones de las pedagogías de compatibilidad con las tecnologías para el desarrollo y la construcción de un modelo de educación y los niños de la escuela cercana a la realidad del mercado de trabajo.

Palavras clave Medios de comunicación en la producción de la educación, la interdisciplinariedad, transdisciplinariedad, audio y video, multimedia educativa.

Introdução “A grande revolução na educação com a ajuda das tecnologias de informação e comunicação, foi sem dúvida alguma, a contribuição dos recursos de áudio e vídeo. Poder gravar instantes de interação, colaboração e trocas e disponibilizá-las, posteriormente através da Internet, tornou a educação menos volátil e poeril.”

Cláudio de Musacchio

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Com o advento dos computadores, Internet, sistemas de informação e comunicação, melhorias nos sinais de banda larga e telefonia, ampla alfabetização tecnológica por parte de professores e alunos e da sociedade em geral, e de centenas de trabalhos científicos a respeito das mídias na educação, pode-se enfim, fazer um panorama e analisar o potencial real do uso pedagógico na produção e na distribuição de materiais alternativos. Além das características que cada mídia apresenta, por sua natureza léxica e a complementaridade das diferentes linguagens e abordagens educacionais que se possa obter, o desempenho da educação nas últimas duas décadas tem mostrado significativo avanço na qualidade do ensino, da aprendizagem, das ferramentas empregadas, das práticas pedagógicas, das velocidades com que as informações são trocadas entre as pessoas e do uso intensivo de aparelhos eletrônicos, fixos e móveis, promovendo uma revolução nunca antes vivida pelas sociedades contemporâneas. Alguns momentos retratam significativos avanços na história da humanidade: a prensa de Gutemberg oportunizou a popularização e acessibilidade aos livros e matérias impressos, a invenção do rádio, levando informação a todos os lugares do planeta graças ao uso das ondas curtas e médias de radiodifusão, da introdução de importantes avanços na eletrônica, a TV, introduzindo importante papel na comunicação que foi a imagem e o som, e mais recentemente, o computador e todas as suas implicações no uso e desenvolvimento de uma nova sociedade – a sociedade da informação e do conhecimento. O computador despertou nos educadores, pensadores e teóricos contemporâneos da educação, o interesse de investigar possibilidade de mídias alternativas que possam auxiliar o professor em sala de aula, além da saliva e do giz, propriamente dita. Muitos ensaios e trabalhos científicos apontaram alternativas para o uso de revistas, jornais, boletins informativos, o uso do rádio e da TV, e pela Internet uma centena de recursos tais como: chats, mensagens, fóruns de debates, listas de discussão, sistemas virtuais de educação (EAD), e tantos outros que inundam nossos aparelhos eletrônicos e notebooks. Professores, alunos de mestrado e doutorado tem se debruçado em inúmeros trabalhos, analisando cada uma dessas mídias e reconhecendo seus papeis na contribuição, interação e colaboração que elas podem ter na relação 194

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ensino-aprendizagem. Todas de uma maneira ou de outra, contribuem, com mais ou menos intensidade, como ferramentas de auxílio ao professor e a aprendizagem. As mídias na Educação tem sido tema de inúmeros simpósios, feiras e congressos, onde são discutidos os resultados que essas mídias estão proporcionando ao ensino. Os trabalhos basicamente discutem o potencial didático-pedagógico inerente a cada metodologia construída sob essas mídias proporcionando verdadeiros avanços na praxiologia docente, no uso das novas tecnologias e da velocidade com que o conhecimento é construído nos meios acadêmicos e escolares. No entanto, quando se tenta relacionar as mídias num complexo de participações, e se busca desenvolvê-las de maneira integrada, tanto na agregação tecnológica quanto na produção de materiais, e se estuda que tipo de capacitação docente e de tutores é necessário para dar conta de tamanha diversificação de ferramentas e usos, é que se percebe um mundo de possibilidades e alternativas, provocando uma revolução na sala de aula, tornando o ensino e a aprendizagem mais dinâmica, criativa, reflexiva, colaborativa e interativa. O desafio atual parece ser em estabelecer uma convivência produtiva, eficaz e eficiente do uso integrado das mídias. O aspecto da integração das mídias requer alguns posicionamentos e direcionamentos por parte da direção, gestão, e coordenações de ensino das escolas. Compreender como as mídias podem trabalhar em comunhão sem que elas tropecem umas nas outras e compatibilizar as velocidades e a relação espaço-tempo que cada uma possui, para que as contribuições das mídias possam ser eficientes, é o desafio principal do docente. A ação primordial é compreender e estudar os procedimentos necessários para que as mídias possam ser integradas ao trabalho e prática pedagógica, perseguindo uma visão sistêmica do currículo, entendendo a multidisciplinaridade na produção dos conhecimentos e da gestão integrada de todos esses componentes.

Tipos de mídias e suas aplicações isoladas As mídias tem se posicionado como importante ferramenta ou instrumento que permite colocar a relação espaço-tempo numa outra dimensão e velocidade. Até a pouco tempo, os estudos e reflexões, avaliações e trabalhos em grupos eram realizados dentro dos portões das escolas e universidades. Mas quando se introduziu instrumentos, equipamentos, programas de computador que permitem a comunicação à distância, todo o cenário da educação foi Cláudio de Musacchio

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fortemente sacudido, abalado em suas estruturas de controle e administração da informação e do conhecimento. Quando tudo o que se precisa saber sobre qualquer coisa está cada dia mais disponibilizado na Internet, só resta ao docente ser um facilitador dessa informação, fortalecendo ainda mais as teorias do ensino e da aprendizagem contemporâneas do construtivismo, onde o ator principal dessa relação se desloca para o aluno e não mais para o professor e a sua metodologia. Isso significa dizer que a escola enquanto instituição de saberes está passando por revoluções estruturais muito fortes e seus abalos sísmicos podem derrubar velhos paradigmas e tabus, dogmas e ortodoxias milenares. Se o aluno não precisa mais do professores para ter a acesso a informação, qual o papel então do professor nesta nova modalidade? Que necessidades têm os alunos diante do conhecimento à mão? E o papel da escola, qual será daqui para frente, diante de tanta tecnologia? Em diferentes disciplinas e contextos, as mídias estão sendo descobertas como co-facilitadoras do ensino e da aprendizagem. Mas cabe ao professor guiar este aluno neste mundo de informações. Os campos restritivos da educação não existem mais. Os livros não são mais a única fonte de informação, cara, inacessível, para a maioria dos estudantes. A Internet popularizou o acesso as informações, mas não a aprendizagem. Neste contexto, as mídias trabalhadas pelos docentes devem nortear esse novo aluno cibernético, equipado com dezenas de produtos eletrônicos de informação e comunicação. A importância de abordar em sala de aula o alcance pedagógico dessas máquinas e equipamentos é primordial para que o professor possa continuar exercendo seu papel fundamental nesta nova relação. As mídias podem ser divididas em: mídias impressas, eletrônicas, digitais. Para as mídias impressas temos: jornais, revistas, boletins informativos, apostilas, livros, cadernos de exercícios, folders e outros. Para as mídias eletrônicas temos: equipamentos móveis de comunicação (celulares), equipamentos móveis de informação e sistemas (palmtops), radiotransmissores, comunicadores e outros dispositivos para comunicação à distância. Para as mídias digitais temos: computadores, sistemas de informação e comunicação digitais, webrádios e webtvs, cursos virtuais (EAD), ambientes virtuais de aprendizagens (UVA´s).

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Principais Aplicações e suas Mídias Características Livros, revistas, informativos, cadernos de exercícios – Estas mídias em geral são utilizadas para informar através de conteúdos programáticos, segundo os ementários dos currículos. Principal recurso durante muitas décadas vem perdendo terreno para outras formas de apropriação de informação e conhecimento. Por maior paradoxo que possa parecer, a indústria editorial, apesar de estar vendendo cada vez mais, precisou se adaptar a essas mudanças e tem hoje o desafio de competir ou, como prefere, conviver com outras mídias, para sobreviver. As aplicações se baseiam fundamentalmente na leitura. É uma atividade individual, com pouca ou nenhuma interatividade e colaboração. Mas é considerada a principal atividade dentro do meio acadêmico. Esta mídia tem se mostrado bastante eficiente em meio digital, e seus acessos aumentam drasticamente, ano após ano, segundo a controladora www.registros.br de Internet. Entretanto, a modalidade de artigos, dissertações e teses tem se mostrado bastante atrativas para alunos e professores, que buscam as pesquisas e estudos de casos para se informarem sobre autores, metodologias, pensadores e estudiosos. Mídias eletrônicas – O uso de equipamentos eletrônicos em sala de aula ainda é um mito e na maioria das escolas o seu uso é restringido dentro da sala de aula, reservando-se para à hora do recreio. Muitos professores solicitam que seus alunos desliguem os aparelhos eletrônicos. A grande quebra de paradigma é incluir estes equipamentos dentro de um modelo pedagógico que os incorpore completamente. Assim, os alunos teriam uma justificativa para seu uso em sala de aula e os professores poderiam evoluir em suas práticas pedagógicas. Muitas aplicações podem ser desenvolvidas para equipamentos móveis, como exemplos, exercícios, ouvir entrevistas, escutar aulas gravadas, executar aplicativos pedagógicos e tantas outras tarefas. O grande desafio é introduzir as aplicações dentro das máquinas já que é necessária a figura de um técnico de informática ou programador dessas máquinas eletrônicas. Mídias digitais – esta modalidade é a que está revolucionando de fato a educação sob todas as formas e matizes. Para ser um alfabetizado digital é necessário primeiro aprender a utilizar o computador, depois os recursos básicos, e posteriormente os recursos de ambientes virtuais de educação e aprendizagem. As mídias digitais apresentam um número bastante expressivo de programas de computador criados para uso pedagógico. Entre as aplicações temos: fóruns de debates, listas de discussão, chats (comunicações síncronas), emails e mensagens entre alunos e professores, entre alunos, alunos e instituição de ensino. Outro grande recurso das mídias digitais é a Cláudio de Musacchio

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sua proposta para servir de ambiente para avaliação de aprendizagens, através de suas provas virtuais, onde os alunos respondem as questões, em geral, de múltiplas escolhas, e ficam sabendo no exato momento em que terminam e as suas notas correspondem ao número de acertos. Alguns sistemas de avaliação apresentam uma estatística de questões certas e erradas, permitindo ao aluno analisar que questões a turma toda acertou, errou e assim por diante. Também nas mídias digitais é possível estabelecer novos paradigmas na relação ensino-aprendizagem. A proposta de educação à distância, muito discutida ainda pelos teóricos e pensadores da Educação, é uma modalidade que possibilita ao aluno estudar segundo seu tempo e lugar preferidos. A postura das instituições de ensino não vê ainda com bons olhos esta modalidade porque o sistema sugere uma integridade total por parte do aluno, para que este aprenda de fato, a estudar sozinho, a se desenvolver honestamente, sem enganar ao sistema e principalmente, a si mesmo. A proposta de ensino e de aprendizagem à distância possui vantagens e desvantagens. Entre as principais vantagens estão:  As escolas podem ter mais alunos na modalidade virtual do que o número existente no universo presencial, já que não precisará ter o aluno na escola;  Para o ensino privado, ter mais alunos significa maior arrecadação e possibilidade de investimento maior na modalidade;  Poucos professores podem assistir uma quantidade de alunos muito maior que na modalidade presencial, ocorrendo deste quesito, uma significante redução de custos;  Acompanhamento dos registros realizados por cada aluno, permitindo assim observar o avanço individual, personalizado e crescente de cada aluno;  Todos os alunos possuem suas dúvidas respondidas, sem demora, o que no ensino presencial quase sempre não é possível, pois que o tempo reduzido é utilizado basicamente para expor os conteúdos;  Possibilidade de aumentar o número de avaliações através de exercícios e testes, tendo em vista que são de múltipla escolha e o próprio sistema corrige e fornece a resposta para o aluno. No ensino presencial as avaliações tomam muito tempo e a sua correção deve ser planejada para a carga de cada professor;

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 Na modalidade virtual é possível uma infinidade de atividades para exercícios de colaboração, interatividade e trabalho em grupo, utilizando-se os sistemas de computador para realizar as tarefas dos alunos. Qualquer tentativa de trabalho em grupo na modalidade presencial deve ser realizada na sala, pois os alunos não possuem condições para se reunirem, sendo um entrave para o desenvolvimento de atividades sociais;  Na modalidade virtual as trocas de emails, comunicações via chats, troca de informações, dúvidas, colocam os alunos vinte e quatro horas em contato. Na modalidade presencial, a comunicação básica se dá durante o período de aula e nos intervalos. Entre as desvantagens podemos listar: Estudar sozinho - O paradigma de estudar sozinho ainda é um desafio a ser superado por cada aluno. O ensino tradicional deve introduzir desde as séries iniciais, o modelo de estudo solitário, para que o aluno aprenda a buscar a informação e construir o conhecimento a partir de seu entendimento e interpretação pessoal. Aqui também o paradoxo existente convive com as duas situações, porque embora o aluno esteja, na modalidade virtual, longe do convívio e do contato físico com seus colegas de aula, estão mais tempo conectados através do computador. Função socializadora da escola – Na modalidade à distância, as crianças não teriam acesso a todas as informações necessárias para sua formação de caráter, cidadania, religiosidade, relacionamento afetivo, e outros. Os diálogos em sala de aula possuem cargas emocionais e afetivas que não podem ser percebidas na modalidade à distância. As construções de símbolos, signos, léxicos, são bastante prejudicadas nesta modalidade. Estudos americanos de crianças que estudaram sozinhas no ensino básico e fundamental denotam carências e necessidades sócio-afetivas, amadurecem muito cedo, tem dificuldades em trabalhar em equipe, embora sejam capazes de desempenhar otimamente papeis de comando. Atividades artísticas e esportivas – neste quesito a modalidade à distância fica bastante prejudicada, tendo em vista que a criança não se relaciona com as demais. As atividades relacionadas aos temas transversais que colaboram para a formação do social na criança, não são aqui representadas. Para compensar isso, as crianças que estudam na modalidade à distância devem procurar centros de recreação esportiva e artística. Eventos cívicos e culturais – também nestes quesitos não existem interação e participação colaborativa das crianças que estudam em casa. As Cláudio de Musacchio

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fortes noções de cidadania, ética, noções de política, economia, administração, empreendedorismo, signos cívicos em datas especiais como os dia da república, da bandeira, da independência, e outros. As diferentes tecnologias podem ser integradas permitindo-se que as mídias utilizadas para cursos à distância possam ser utilizadas por alunos em aulas presenciais. Desta maneira, as escolas exploram os recursos, sem necessariamente terem aulas à distância. Os recursos e mídias integradas em um projeto pedagógico global, colocando os alunos no centro das atividades, podem ser de extrema contribuição para a qualidade da educação que se deseja.

Ação integradora das mídias e sua importância na aprendizagem Ao se estudar as mídias e suas vantagens e desvantagens nas práticas pedagógicas tem-se muito claramente que, cada mídia, em separado possui suas próprias atribuições, das mais simples, às mais complexas, separadas ou integradas. Cada mídia, separadamente, demanda de uma aprendizagem para sua manipulação, entendimento e objetivo. Os professores ao serem capacitados para o uso de uma mídia são treinados para aplicá-la em suas práticas pedagógicas em sala de aula. Em qualquer das três modalidades apresentadas: impressa, eletrônica ou digital, as mídias exercem importante papel na formação educacional dos alunos. Também os alunos aprendem a utilizar a mídia e são quesitos importantes para sua vida profissional, tendo em vista que no mercado precisarão desses conhecimentos. Mas quando o professor busca integrar mais de uma mídia num projeto pedagógico o resultado é muito maior que a soma das duas mídias, embora também existam vantagens e desvantagens no uso de mídias no formato integrador. De qualquer maneira, parece que a integração das mídias provoca, nos alunos e professores, certo fascínio exercido pelas facilidades e atribuições de cada mídia, em detrimento dos resultados obtidos pelo uso combinado delas. Um exemplo clássico das mídias sendo combinadas e seu resultado ampliado é a aplicação do vídeo em ambiente Internet. O uso do vídeo em ambiente digital, popularizado pelo YouTube, permite que as crianças apreciem atividades que contemplem as duas mídias. Outro exemplo é a criação de webrádios pelos alunos para serem utilizados como veículo de informação, entretenimento ou utilidade pública para a escola. Os próprios alunos 200

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desenvolvem seus conteúdos, aprendem sobre roteiro, programação, spots, vinhetas, e discutem o conteúdo com profissionais da área. Os espaços criados são logo preenchidos pelos professores de todas as áreas de conhecimentos, com materiais digitais como entrevistas, palestras, seminários, discussão de grupos, aulas gravadas e informações variadas. Os ambientes virtuais de educação integram importantes ferramentas de informação e comunicação a serviço dos cursos virtuais. As comunidades de aprendizagem em rede e as potencialidades do sistema EAD, são metodologias que integradas desempenham papel revolucionário ao modelo tradicional. E uma das argumentações de maior crédito a esses sistemas é a crescente participação dos alunos, tornando-os mais participativos, colaborativos. Os ambientes existentes nestes modelos de ensino e aprendizagem possibilitam a interatividade, a criatividade. Os novos paradigmas que nascem das possibilidades tecnológicas existentes com as mídias eletrônicas e digitais permitem o registro de todas as trocas, das colaborações e dos trabalhos em grupo. Assim, o professor pode estudar o grau de entendimento e compreensão dos conteúdos deixados pelos alunos nas ferramentas, e avaliar a aprendizagem pelas participações de cada aluno. Além do fato que os alunos vêem as suas participações como co-autores dos conteúdos estudados.

Interdisciplinaridade e pesquisas científicas em sala de aula A interdisciplinaridade pode ser amplamente utilizada através das mídias que permitem que professores de outras áreas de conhecimento possam interagir com a turma através de um vídeo, áudio, transmissão à distância, ou até mesmo pelas participações em chats, fóruns, listas de discussão, ou páginas de Internet com depoimentos. E experiências científicas podem ser gravadas em vídeo ou transmitidas à distância. A interdisciplinaridade começa nos conhecimentos técnicos que as mídias exigem de todos os atores participantes: professores, alunos, grupos de apoio da Informática, uso de equipamentos, professores tutores de ambientes virtuais. Essas relações se estabelecem através de projetos de pesquisas que disponibilizam os recursos para os docentes. Com a possibilidade de criação de áudios, vídeos, ambientes virtuais, páginas para depositórios de informações, arquivos, sistemas pela Internet para construção de trabalhos colaborativos, participações em fóruns de debates, e uma infinidade de ferramentas e dispositivos eletrônicos que podem ser utilizados para experiências científicas em sala de aula. Cada uma dessas mídias tem que Cláudio de Musacchio

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ser trabalhada pelo professor. Desta maneira, a capacitação e habilidade do professor em lidar com essas tecnologias são fundamentais para o sucesso para estas ações multidisciplinares. Através das oficinas na escola, os docentes ficam conhecendo os potenciais dessas mídias e o que elas podem realizar para auxiliar a praxiologia docente. Aprendem a integrar as mídias, utilizando-as colaborativamente. Ao mesmo tempo em que dividem a aula com outros professores para debater temas de pesquisas, estão gravando as palestras, as discussões, e disponibilizando na Internet para que os alunos possam rever estes momentos. Na preparação de experiências científicas em sala de aula, os docentes podem gravar os eventos e transmitir aos alunos de outras entidades escolares, ou criar uma biblioteca para consultas futuras de experiências realizadas. Podem incorporar estas transmissões a trabalhos de análise e reflexão, via Internet, como trabalhos em grupo, para debater os conceitos abordados na experiência. A interdisciplinaridade pode ser trabalhada com sucesso se incorporarmos as mídias para torná-las mais eficientes. O uso de hipertextos, através da Internet é importante ferramenta que permite a construção a várias mãos. Os alunos podem colocar, um a um, as suas observações sobre as aulas, as pesquisas e trabalhos em grupo.

Capacitação de docentes O uso de múltiplas linguagens e plataformas tecnológicas requer do docente uma preparação muito grande e um aprendizado bastante adequado, não só da manipulação das mídias, mas de como elas poderão ser incorporadas na sua prática pedagógica. Cada mídia apreendida é um fator a mais para a integração. Mas para cada mídia que o professor buscar conhecer se transformará rapidamente em uma reflexão de como ela poderá ser incorporada as demais mídias que já domina, para compor um novo quadro pedagógico. A postura dessas novas capacitações e o uso das mídias formará um ambiente de mudança pedagógica, transformando a sua praxiologia docente e deslocando par ao aluno o centro do ensino e aprendizagem, levando para a sala de aula uma pedagogia que privilegia a autoria, a voz ativa dos alunos, o debate aberto e a discussão dos conteúdos de forma democrática. Mas como capacitar os professores nessas novas mídias? A escola, como gestora institucional dos recursos deverá prever estas aprendizagens, a aquisição dessas tecnologias e equipamentos e o preparo dos docentes para seu uso adequado, estão previstos nos custos e investimentos da escola?. Uma 202

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das soluções possíveis, tendo em vista que os professores já possuem uma carga bastante elevada de compromissos é propiciar a eles o conhecimento de cursos virtuais, onde eles poderão estudar nos seus horários livres e por tempos indeterminados. Para isso, é necessário dispor aos professores um ambiente virtual de educação, colocando as mídias como cursos à distância, com níveis de aprofundamento, segundo os interesses dos professores. Assim, os professores são educados nas mídias, recebendo uma educação continuada. A formação continuada de professores se constitui por si mesma, um grande desafio, considerando diferentes aspectos e implicações legais que isso possa traduzir (aumento na remuneração por conta de mais horas ao dia dedicado a escola). A capacitação e habilitação em novas tecnologias e metodologias introduzem os docentes em diferentes concepções epistemológicas e pedagógicas, ampliando seus conhecimentos e permitindo a diversificação de aplicações heterogêneas. O principal argumento dessas capacitações é entender os processos de transformação que as tecnologias imprimem a sociedade moderna e estudar meios de adequar os equipamentos e ferramentas de informação e comunicação a práxis docente. Nesta perspectiva, se espera da escola a criação de espaços de formação, de capacitação e de desenvolvimento profissional dos docentes, oportunizando cursos sobre as novas mídias. Entretanto é importante ressaltar que as novas tecnologias e mídias na educação devem ser constantemente discutidas no meio docente para que não se tornem modismos transitórios, nem se tornem prejudiciais ao modelo pedagógico implantado pela escola. Mas uma vez implantadas, as mídias, por seu caráter integrador, tenderá influenciar os processos de ensino e de aprendizagem, colocando em discussão os atuais modelos, e promovendo o enriquecimento e modernização dos projetos pedagógicos. A evolução ocorrerá de uma maneira ou de outra, e é melhor que o professor tenha domínio e controle sobre essa evolução. O aprendizado das mídias pode ser realizado na própria escola, através de cursos, divididos em momentos presenciais e virtuais. Aos momentos presenciais é destinada a demonstração de como operar a mídia e seus aspectos técnicos de funcionamento. Aos momentos virtuais ficam reservados para a discussão de como estas mídias podem ser incorporadas as demais, no projeto pedagógico de cada professor. Como cada professor, se utiliza de seu próprio construto tecnológico e pedagógico, o modelo de curso semipresencial é justificado pela possibilidade de se dirigir individualmente, nas aulas virtuais, as necessidades específicas de cada professor. Cláudio de Musacchio

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Os cursos podem ser divididos em básico, intermediário e avançados. Permitindo assim que os professores possam se integrar, mais ou menos, dependendo das aplicações que se façam com determinadas mídias. Para capacitar professores e alunos no uso de novas tecnologias e mídias auxiliando o ensino e aprendizagem é necessário se introduzir mídias que auxiliem o uso de outras mídias no processo pedagógico. Assim, a criação de ambientes virtuais de educação (EAD) é fundamental para o sucesso do programa de mídias na educação. Um Ambiente virtual de Aprendizagem (UVA) é constituído de ferramentas de informação e comunicação auxiliando os cursos virtuais. Entre as ferramentas que encontramos nestes ambientes estão: chats, fóruns, listas de discussão, áudios e vídeos, exercícios, testes, demonstrações de aplicações do uso das mídias em diferentes contextos. O aprendizado das mídias deve contemplar também a aprendizagem metodológica da interdisciplinaridade, ensinando-os a integrarem diferentes áreas de conhecimento na explicação dos currículos e nos projetos de pesquisas. Outro fator importante nesta aprendizagem é o uso de experiências científicas em sala de aula como modelo mais adequado a uma educação que explica, ensina, mas também demonstra como os fenômenos se comportam em situações observadas cientificamente. As aprendizagens dessas novas mídias exigem um ensino baseado não na transmissão de saberes prontos, mas fundamentalmente na comunicação, na troca e na criação oportunizada pelos novos ambientes. Como características desse novo ambiente e sistema de ensino, haveria maior intercâmbio, veiculação, troca criativa de saberes, concepções contextualizadas da vida e do mundo dos alunos. As revoluções que se deseja na aprendizagem com as novas mídias também se espera que ocorram no jeito de ensinar, mudando o enfoque de transmissão de conhecimentos para criação ativa de conhecimentos.

Diferentes aspectos pedagógicos do uso das mídias na educação Existem dois aspectos distintos para utilização de mídias na educação. O acervo de mídias para o docente trabalhar o seu modelo pedagógico com os alunos, e as mídias que o professor ensina para os alunos trabalharem durante seus aprendizados. Nestas duas vertentes de aplicações, a capacitação é necessária, a infra-estrutura é obrigatória e a gestão institucional da escola é mentora das 204

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possibilidades dos recursos, dos tempos disponíveis dos professores para a aprendizagem e salas adequadas para o uso das tecnologias que se deseja implantar. Assim como a tecnologia dos computadores trouxe uma revolução dentro das escolas, introduzindo salas de laboratórios adequados, formação de mão de obra, capacitação e habilidade dos professores em lidar com esta tecnologia, também outras mídias devem demandar necessidades que a escola e estrutura funcional devem participar e atuar fortemente, a fim de que seus resultados possam aparecer nas transformações do processo ensinoaprendizagem. A relevância de novos conhecimentos por parte dos professores se deve a uma forte corrente vinda da sociedade e dos alunos para o uso mais intensivo das novas tecnologias. Não dá mais para desligar o celular na sala de aula e sim ligar os celulares para introduzi-lo como ferramenta pedagógica. O desafio da melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem, passa necessariamente pelo aprendizado das novas mídias, que incorporadas à educação, contribuem para os docentes compreenderem os novos papeis e linguagens midiáticas, capacitando-os a serem autores, juntamente com os alunos. Professores e alunos passam a exercer novos papeis na escola, de ações mútuas, de co-autorias, de apresentação diversificada das materializações da compreensão pedagógica, transformando-se em apresentações imagéticas, programas radiofônicos, vídeos, apresentações multimídia e demais tecnologias. Para as ações interdisciplinares, as novas formas de se fazer a educação e de se exercitar a aprendizagem, baseia-se essencialmente de trabalhos colaborativos, participativos através do uso de mídias, ultrapassando as propostas e limites dos currículos das disciplinas. Além da implantação de novos paradigmas na relação espaço-tempo proporcionados pelas mídias, presenciais e virtuais, eletrônicas e digitais, também as relações entre professor e aluno se alteram nestes ambientes, posto que os atendimentos e trocas de informações ultrapassam os muros da escola e perduram por vinte e quatro horas de nossos dias, pois a qualquer momento, professores e alunos trocam emails, conversam através de páginas de relacionamento e comunidades virtuais, e alunos são avaliados através de questões de múltiplas escolhas nos aparelhos móveis. As novas tecnologias da informação e da comunicação e as mídias criam alternativas e disponibilizam novas relações espaço-tempo, pois permitem práticas educativas em diferentes combinações:

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 Mesmo tempo e mesmo espaço (sala de aula tradicional, presencial);  Mesmo tempo e espaços diferentes (aulas através de videoconferência ou transmissão ao vivo);  Tempos diferentes e mesmo espaço (aulas individuais em laboratórios);  Tempos diferentes e espaços diferentes (aulas individuais utilizando tecnologias de informação e comunicação virtuais). Ao mesmo tempo em que sobrecarrega o professor num primeiro momento com aprendizagens e novos conhecimentos, num segundo momento facilita o trabalho pedagógico e dirigido, pois a atenção se torna foco individual e não mais só coletivo, pois o atendimento, aluno a aluno, se faz nas mídias de comunicação, prevalecendo um trabalho diferenciado, melhorado, potencializado e, sobretudo, de qualidade da educação. A educação que se quer para o século XXI não é mais aquela educação que tínhamos total controle, mas uma educação que buscamos ter controle o tempo todo, com a ajuda dos alunos que são autores de perguntas, e mentores intelectuais de suas próprias respostas. O professor só entende este novo modelo porque os alunos ajudam, cooperam e se organizam. Parte desse controle é do professor, outra parte é dos alunos. Dentro das expectativas futuras da educação o que se espera no uso pedagógico dos recursos midiáticos é uma educação mais globalizante, menos cartesiana, mais holística e menos fragmentada. Ao mesmo tempo em que as mídias permitem uma melhoria significativa no ensino e aprendizagem, também desperta alunos e professores para realidades da qual nenhum dos dois ainda possui maturidade para entender e compreender. E só com o uso diário e o exercício pleno das mídias é que se podem desenhar os verdadeiros potenciais das estratégias didático-pedagógicas que se elaboram nas novas relações e espaços de produção de novos conteúdos e saberes para ambos, professores e alunos. É por isso que teóricos e educadores insistem em dizer, que somos todos, hoje em dia, professores e alunos.

Pedagogias Humanistas x Educadores Tecnológicos Sempre que se pensa em educação e tecnologias tem-se a impressão que são duas forças ou dimensões que estão em constantes mutações, ora privilegiando a educação, ora a tecnologia. Muitos educadores humanistas 206

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têm focado suas atenções para os aspectos da necessidade de se abrir para a comunicação direta, frente a frente com o aluno, a importância da interação e colaboração presencial para a construção de conhecimento. Já os educadores tecnológicos ressaltam a importância dos softwares (programas de computador), o avanço nas velocidades de transmissão e as soluções telemáticas promovidas pela modalidade EAD. Enquanto os humanistas prometem mudanças e alternativas para melhorar a relação ensino-aprendizagem, tentando adequá-las as novas realidades, de buscar uma comunicação mais afetiva, privilegiando valores, crenças e atitudes humanas, e ao mesmo tempo, resistem a velhos dogmas, preceitos e costumes, insistindo que tudo pode se resumir em sala de aula, sem se atrever a experimentar novas metodologias, técnicas e práticas pedagógicas capazes de dar conta da relação educação e tecnologias. Por outro lado, os educadores tecnológicos, pressionados por gestões institucionais que precisam dar bons resultados, desenvolvem soluções que aumentam exponencialmente o número de alunos em projetos virtuais, privilegiando o conteúdo, incentivando a auto-aprendizagem, limitando a interação e colaboração nos espaços e ambientes virtuais, aumentando consideravelmente os lucros. Nenhuma das duas dimensões deve atuar sozinha, posto que por melhor que seja a educação, ela não terá sobrevivência num mundo ordenado por chips, bytes e eletrônica, mas também não teremos uma educação moderna, atuante, dinâmica, preocupada com os princípios e valores contemporâneos, se dermos importância demasiada aos aparatos eletrônicos e soluções cibernéticas. Ambos devem se unir e trabalhar juntos num mesmo propósito e objetivo. Unir as forças e as dimensões, as soluções presenciais e virtuais se completando mutuamente. Considerar que é possível se chegar às grandezas de quantidade e qualidade, com qualidade em projetos educacionais. Utilizar as novas metodologias do ensino-aprendizagem para aumentar a interação, a colaboração, e promoção das trocas, mas ao mesmo tempo, melhorar o acesso livre e gratuito de todas as tecnologias, a todos os alunos e professores. Promover a pesquisa científica em sala como modo de compreender o mundo e seus fenômenos, mas também ter o apoio científico e tecnológico especializado para entender os resultados. Criar infra-estrutura nas escolas capaz de suportar inúmeras iniciativas didático-pedagógicas e espaços para utilização de mídias integradas na educação. Cláudio de Musacchio

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Os equipamentos, mecanismos, circuitos eletrônicos não são um fim em si mesmos, são peças e soluções que fazem parte de um todo maior, organizado, institucional. Precisamos descobrir como aumentar o potencial de crescimento e desenvolvimento das crianças utilizando melhores métodos, técnicas, com equipamentos que contribuam para potencializar tais desenvolvimentos. Educadores humanistas e tecnológicos devem se unir para encontrar soluções para um volume de alunos cada vez maior que chegam todos os anos nas escolas, encontrar soluções para que se construam materiais pedagógicos como livros, revistas, boletins informativos, páginas na internet, e-books, ambientes virtuais de colaboração e interação, avaliações modernas. E desenvolvam mecanismos e maneiras de administrar esse novo espaço-tempo proporcionado pelas mídias presenciais, eletrônicas e digitais. Precisamos tornar a educação mais eletrônica e a tecnologia mais humana. Encontrar o equilíbrio entre a emoção, afetividade, amizade, compreensão, ajuda mútua, e a velocidade de transmissão, tamanho de arquivos, espaços virtuais, trabalhos coletivos, bancos de dados, banco de informações e banco de conhecimentos. O que se espera nestas duas dimensões é que elas se fortaleçam e se entrelacem e se justifiquem pela necessidade que uma tem da outra de existirem e evoluírem mutuamente. É preciso melhorar a educação, é preciso melhorar a tecnologia, mas o mais importante é preciso pensar nas duas dimensões como um corpo coeso que deve buscar soluções para uma vida melhor, um ensino melhor e uma aprendizagem duradoura.

Conclusões As apropriações das tecnologias pelas escolas e centros acadêmicos de nível superior, passam por quatro etapas distintas: acesso as mídias, através de treinamento, aquisição de licenças de uso, bibliotecas e laboratórios e salas de aulas equipadas. Os desafios dos gestores de educação nas instituições de ensino são basicamente a incorporação de novas pedagogias aos currículos e as condições financeiras ideias para a aquisição, capacitação e manutenção de mídias eletrônicas. Além da introdução das tecnologias, outros fatores envolvem mudanças de comportamento da escola, dos seus integrantes do quadro de apoio, no controle e segurança dos equipamentos, e na implantação de sistemáticas para educação continuada. As mudanças nas escolas ocorrem em todas as dimensões: estrutural, curricular, capacitação de docentes e alunos, aquisição de equipamentos e ferramentas, centrais computacionais, melhorias nos aspectos de segurança 208

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e controle. Ao mesmo tempo em que mudanças ocorrem na dimensão pedagógica de ensino-aprendizagem, também sugerem melhorias em todos os departamentos da escola. As mudanças ocorrem no desempenho na área de gestão administrativa com a introdução de sistemas computacionais de controle e administração. Implantação de servidores para criação de ambientes virtuais, oportunizando EAD para todos os alunos. A qualidade das aulas presenciais já se faz sentir pelo uso de mídias como programas de computador na apresentação dos conteúdos, utilizando software de apresentação e projetores. Num segundo momento da implantação de novas mídias, as escolas percebem o avanço das tecnologias e o domínio técnico-pedagógico na criação de espaços e atividades em sala de aula, utilizando computadores, Internet, pesquisas às bibliotecas virtuais de informação, e dezenas de trabalhos disponíveis em sites educacionais. Num terceiro momento, as mídias propiciam ações criativas, onde os alunos e professores criam seus próprios sites, e disponibilizando informações. Também constroem projetos de pesquisas envolvendo experiências científicas em sala de aula e divulgando pela Internet seus resultados. Em seguida, os alunos passam a se relacionar com alunos de outras escolas trocando informações, pesquisas, apresentando as aulas com câmeras e transmissões ao vivo, pela Internet. Os alunos participam de fóruns de debates e listas de discussão, potencializando as trocas, sendo mais colaborativos, interativos, e construindo coletivamente seus conhecimentos. Toda esta tecnologia a serviço da educação e da aprendizagem não deve privilegiar o professor, e suas metodologias de exposição de aula tradicional. A tecnologia deve ser implantada para alterar também os construtos estruturais da educação tradicional, entre os quais se incluem os formatos de avaliação do tipo provas, só aulas expositivas como metodologia pedagógica, e atribuições de notas. A educação deve incorporar as novas linguagens que surgem no seio da sociedade, nos objetos tecnológicos de informação e comunicação que modificam a forma como as pessoas se informam e se comunicam, desvendando novos códigos, simbologias e signos. As tecnologias ao mesmo tempo em que produz saltos evolutivos no modo de vida das pessoas, também cria as diferenças sociais, porque nem todos tem acesso a mesma tecnologia e os seus avanços. A educação precisa exercer a função de diminuir as diferenças sociais, financeiras e de educação, integrando-os através de programas educacionais que mobilizem a opinião pública, os governos, as leis. Cláudio de Musacchio

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A sociedade exige a criação de soluções educacionais que prepare os futuros profissionais dentro dessas novas perspectivas tecnológicas e mercadológicas, criação de espaços de produção e difusão de conhecimentos atualizados, através de novas linguagens. As escolas precisam integrar-se as invenções tecnológicas, envolvendo as mídias no modelo educacional e colocando a educação, seja ela presencial ou virtual, no centro das grandes revoluções sociais e paradigmáticas. O uso de das mídias integradas possibilita as condições técnicas e tecnológicas que a mudança exige, mas é preciso que a escola também repense seu modelo pedagógico, permitindo que a sociedade se desenvolva. Os alunos precisam sair da escola conhecendo o mercado de trabalho que irão se inserir, com todas as suas tecnologias, modos de relacionamentos e conteúdos. A inclusão de metodologias interdisciplinares e pesquisas científicas em sala de aula, através de mídias integradas, constroem pontes para a formação de cidadãos conscientes de seus direitos, deveres, limites e potencialidades. Uma proposta pedagógica que permita aos professores o uso da interdisciplinaridade como forma de favorecer o entendimento e a compreensão dos saberes através de diferentes contextos. As trocas ricas oriundas dos embates na sala de aula produzem discussões e reflexões muito mais ricas que a exposição passiva dos conteúdos através de aulas tradicionais. A introdução de mídias na educação auxiliando professores, alunos e conteúdos, pode elevar a educação e a aprendizagem para níveis de excelência que se deseja, mas precisa de um projeto pedagógico que contemple as mudanças, que suporte a aquisição e introdução de novas capacitações e habilidades docentes, e que se permita inovar nos seus critérios de transmissão de conhecimentos e sistemas de avaliação.

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Núcleo Cultura e Erudição Produzindo brinquedos pedagógicos Producing educational toys

Resumo Este ensaio ressalta a importância do lúdico e o significado dos jogos e brincadeiras através da produção de brinquedos pedagógicos construídos pela própria criança. Analisa o brinquedo enquanto objeto de interação com o meio físico, as relações e colaborações, e a interação como modo de construção do conhecimento. Aborda também os diferentes aspectos do uso de brinquedos pedagógicos nos períodos que antecedem a alfabetização. E por fim analisa o desenvolvimento das habilidades motoras da criança na relação ensino-aprendizagem. E por fim, sugere algumas ações, enquanto instrumentos didáticos, através de oficinas, como recurso imprescindível no campo da alfabetização.

Palavras-chaves Brinquedos pedagógicos, pedagogia lúdica, interdisciplinaridade, experiências científicas em sala de aula, jogos e brincadeiras.

Abstract This paper highlights the importance of play and the significance of games and activities through the production of educational toys built by the child. Analyzes the toy as an object to interact with the physical environment, relations and collaboration, and interaction as a way of constructing knowledge. It also discusses the different aspects of the use of educational toys for the periods prior to literacy. And finally analyzes the development of motor skills of children in the teaching-learning relationship. And finally, suggests some actions as teaching tools through workshops, as indispensable resource in the literacy field.

Key words Educational toys, playful pedagogy, interdisciplinary, scientific experiments in the classroom, games and jokes.

Resumen Este documento pone de relieve la importancia del juego y la importancia de los juegos y actividades a través de la producción de juguetes educativos construidos por el niño. Analiza el juguete como un objeto para interactuar con 216

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el entorno físico, las relaciones y la colaboración y la interacción como una forma de construcción del conocimiento. También se analizan los diferentes aspectos de la utilización de juguetes educativos para los períodos anteriores a la alfabetización. Y, por último analiza el desarrollo de las habilidades motoras de los niños en la relación enseñanza-aprendizaje. Y, por último, se sugieren algunas acciones como herramientas de enseñanza a través de talleres, como recurso indispensable en el campo de la alfabetización.

Palavras clave Los juguetes educativos, la pedagogía lúdica, experimentos científicos interdisciplinarios, en el aula, juegos y bromas.

Introdução “Os mais significativos momentos da minha infância foram aqueles em que pude criar meus próprios brinquedos. Não havia o compromisso do estético, nem do belo, apenas vigorava o sentido funcional. Assim foram com o caminhão, a pipa, os jogos de mesa. O fascínio do ato criador era tão ou mais prazeroso do que o próprio objeto criado.”

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O primeiro grande desafio na educação, no campo da alfabetização, nas séries iniciais, tem sido o palco de muitos estudos e trabalhos científicos, por professores das áreas de educação, sociologia, pedagogia – a produção dos brinquedos pelos próprios alunos. As diferentes posturas tomadas diante desse desafio e os enfoques epistemológicos dados a questão, originam discussões teóricas a cerca das metodologias e práticas pedagógicas empregadas no mundo sobre os objetos que cercam a criança no universo inicial, antes mesmo da alfabetização. A questão do jogo pedagógico e das brincadeiras de um modo geral se tornou um assunto tão sério, que o número de trabalhos científicos aumentou drasticamente nos últimos dez anos. Muito se tem falado e discutido sobre o lúdico e a produção de ambientes escolares que favoreçam as relações necessárias para introduzir as crianças no fascinante mundo da escrita e da leitura. Por isso, construir espaços, meios e didáticas que oportunizem e propiciem a aprendizagem da leitura e da escrita é um compromisso tácito da maioria das instituições de ensino. Cada vez mais se conclui que posturas interdisciplinares na relação ensino-aprendizagem das séries iniciais, despertam nas crianças o desejo de comprovar ou refutar suas próprias hipóteses e desejos de superar as curiosidades, em detrimento das dificuldades que possam existir por questões de desequilíbrios psicomotores ou dificuldades de aprendizagem. Mas como as contribuições do lúdico podem auxiliar as crianças, no caminho da alfabetização, sob a luz das teorias da educação, da sociologia e da pedagogia? Para responder a esta questão, é necessário percorrer a fundamentação teórica, dos conceitos de jogos e brincadeiras, de brinquedos, de produção de jogos pedagógicos, e da participação das crianças na construção do próprio meio físico e dos objetos que a cercam. Pensadores e teóricos como Piaget (1978), Vygotsky (1984), abordando sobre a função essencial do jogo, descrevem o progresso do desenvolvimento das crianças quando assimilam e transformam a realidade. Para Vygotsky (1998), o desenvolvimento da criança ocorre para toda a vida e suas funções psicológicas superiores são construídas por toda a vida. Vygotsky afirma que as interações sociais são formas privilegiadas de acessar as informações. As crianças são naturalmente interativas e aprendem as regras dos jogos umas com as outras. 218

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O ato de brincar desenvolve as habilidades da forma mais natural, pois brincando a criança busca a interação como linguagem para se comunicar, se socializar-se com outras crianças, desenvolvendo aspectos como a motricidade, criatividade, estimula sua imaginação, sua capacidade de raciocino e sua auto-estima. Entretanto, não devemos interromper a relação que a criança constrói com o brinquedo e as outras crianças. A criança busca seu próprio estabelecimento em relação ao que deseja com o brinquedo ou com o mundo que cria para brincar. Não devemos interromper este momento nem atrapalhar a simbolização criada. Nesta construção que a criança estabelece com o jogo ou com a brincadeira, ela aprende a conviver com as demais crianças, e não se importa com as vitórias ou perdas, apenas ela quer participar e aprende rapidamente as regras porque desse aprendizado depende sua participação. As regras que se estabelecem entre as crianças devem ser respeitadas pelos adultos e professores, elas mesmas aprendem a aguardar a sua vez, aceitar prováveis resultados, lidam com a frustração de forma natural. Não se deve chamar a atenção para o erro, e nem vangloriar os acertos, posto que a criança passará a se preocupar com os resultados a serem obtidos e não com a experiência a ser vivenciada. Porém, toda a atividade lúdica possui necessariamente objetivo pedagógico. A criança entende que enquanto é desafiada naturalmente a aprender, ela sempre o fará pelo compromisso com ela mesma de querer participar, não se importando se este instante é pedagógico ou não. Para a criança, toda a brincadeira pedagógica possui uma aprendizagem, em diferentes representações, dimensões ou qualidade. Um das tarefas primordiais do desenvolvimento nas primeiras séries das crianças é a construção dos sistemas de representação que ela mesma cria. O jogo para a criança é a maneira com que ela encontra para se confrontar com ela mesma e se testar diante de suas novas estruturas mentais. A cada experiência do novo, novas estruturas são criadas, reequilibrando-a para um novo patamar. Por isso, quando a criança aprende e domina uma brincadeira ou jogo, logo ela larga e quer brincar de outra maneira, com outro jogo. Ela se descobre aprendiz e começa a ter prazer na predisposição que ela mesma cria para querer o desconhecido, o novo. Cada atividade lúdica possui intrinsecamente, seus próprios objetivos pedagógicos, desenvolvendo mais ou menos o raciocínio. E, além disso, vivenciam diferentes emoções e sentimentos como alegria, ciúme, inveja. Cada criança interpreta o trabalho em equipe de diferentes maneiras. Para uns Cláudio de Musacchio

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é prazeroso, e ela busca mais momentos de colaboração e interatividade. Já para outras crianças, ações coletivas são incômodas, por gerarem competições e elas não se sujeitam a buscar tais emoções, principalmente após terem experimentado sensações ruins de perdas num ou noutro aspecto qualquer. Jogos e brincadeiras geram situações naturais de avanços na aprendizagem de conceitos, dos mais variados, e promove a interdisciplinaridade entre os conteúdos abordados, os temas propostos, as discussões com diferentes professores sobre as conversas realizadas. Qualquer informação discutida na frente de crianças irá despertá-la para a curiosidade de querer saber, entender e compreender o mundo que a cerca. Se o professor não sabe como lidar com certos assuntos gerados pelas brincadeiras que propõe então deve chamar os professores de outras áreas de conhecimento para contribuir com informações que irão tornar aquelas dúvidas em sólidas construções de conhecimento. Uma informação errônea ou inexata poderá atrasar substancialmente o desenvolvimento estrutural mental de uma criança. Nunca diga - não sei. Sempre diga - vou estudar isso e trazer para a próxima aula. A ideia do professor que estuda, aproxima, pois o coloca na mesma posição de aprendiz. E se o aluno descobre que ensina algo para o professor, a sua razão o leva a querer aprender mais, pois assim procedendo, terá mais oportunidades de ensinar. E ensinar é muito prazeroso para o aluno.

Ações interdisciplinares nos espaços lúdicos Além de todas as brincadeiras conhecidas e dos jogos pedagógicos normalmente colocados para as crianças, também elas podem aprender através da produção de brinquedos. Normalmente esta atividade é exercida em oficinas destinadas às aulas de arte. Mas o potencial criador das crianças pode aqui encontrar espaço quando se pensa na possibilidade de integrar essas atividades como recurso em outras oficinas. Isto é, se noutras oficinas estão precisando de jogos, estes podem ser realizados pela oficina que trabalha com a produção de jogos e brincadeiras. A criação de jogos pode envolver outras ciências como forma de interação e troca de informações. Neste sentido, a interdisciplinaridade encontra espaço para ser exercida. A ação deve compreender professores de diferentes áreas de conhecimento e sua participação deve ser a de informar as crianças sobre o projeto que será desenvolvido. Quando os alunos recebem o apoio de outros professores para desenvolverem atividades, se sentem logo desafiados e suas interações e colaborações são compreendidas e despertam aprendizagens em diferentes 220

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níveis. Num exemplo de interdisciplinaridade, a professora de geografia participa de um encontro com os alunos e descreve o sistema solar. Após a sua explanação as crianças foram orientadas para desenhar, colorir, recortar e montar o sistema solar. Após a atividade a professora de geografia explica os fenômenos ocorridos na Terra de rotação e de translação ao redor do Sol. O resultado será surpreendente, porque que as crianças tentarão rodar seus objetos, simulando a explicação da professora. Todas as ações interdisciplinares nas primeiras séries devem ser em tom de brincadeira e de promoção do jogo lúdico, pedagógico, e que a criança possa brincar com o que produziu. A verdadeira educação nas séries iniciais é um misto de risadas, de brincadeiras, e de muita alegria. O desejo da criança de voltar no dia seguinte deve ser crescente, e o professor deve fazer que nem as novelas da TV, um final de aula sempre surpreendente, cujo desfecho ocorrerá na aula seguinte. Na oficina de produção de brinquedos pedagógicos, a interação com outros professores é fundamental para que as crianças percebam que o universo existente dentro da oficina pode ser transportado para qualquer disciplina e motivar as crianças na construção de objetos. A construção do lúdico em sala de aula, e do desenvolvimento das habilidades que a atividade proporciona, é vista pelos alunos, como uma atividade que não é imposta, mas sugerida pela professor (a) visitante, os alunos assumem papeis de desafiados, envolvendose através de comportamentos espontâneos e momentos de intenso prazer.

Imediações e interações através dos campos culturais e científicos Nas imediações e interações promovidas pelas atividades interdisciplinares, várias campos analíticos culturais e ou científicos podem ser interpretados e trabalhados, e entre eles podem-se destacar: campos sociológicos, campos educacionais, campos psicológicos, campos antropológicos e campos folclóricos. Campo Sociológico - as interações podem ser observadas pelos seus contextos sociais. As brincadeiras e jogos são naturalmente percebidos, mas quando as crianças produzem jogos pedagógicos, e trabalham em grupo, é que se desenvolvem os conceitos de convívios sociais. As atividades de construção dos brinquedos podem ser sentidas e observadas e analisadas como as crianças se organizam para dividir as tarefas e construir os objetos. O professor deve interferir o menos possível nessas interações e discussões dos grupos, para poder analisar melhor os eventos sociológicos Cláudio de Musacchio

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que se estabelecem. Neste momento nascem as crianças líderes e as crianças comandadas. A menor sugestão da troca desses papéis irá gerar desconforto para as duas dimensões. Nos contextos sociais não são só as crianças que estão ali brincando, mas as suas histórias de vida, experiências, e construções da psique e seu desenvolvimento psicossocial dependem dessas relações que se estabelecem sem a interferência do adulto. Campo Educacional – toda a aplicação realizada na oficina de produção de objetos pedagógicos contribui, em sua essência, para a construção de conhecimento, logo, são evidentemente educacionais. Embora muitas vezes, a produção de brinquedos não tenha seu caráter prático, a produção terá a conotação, obrigatoriamente, educacional. Mesmo que a simples experiência de construir um brinquedo incompreensível para o professor, deve ser encarado como uma construção educacional, pois nem tudo tem que fazer sentido no plano físico, algumas contribuições só farão sentido no universo mental da criança. É assim que ela estabelece suas diferenças entre o real e o imaginário. Se cortarmos este elo o tempo todo, a criança acaba destruindo o seu imaginário, buscando somente no real as explicações de suas dúvidas interiores. A criança não constrói objetos pensando no senso de utilidade ou racionalidade aparente. Campo Psicológico – este é o principal campo de análise e observação que o professor tem para conhecer a psique dos alunos e perceber suas emoções. Estas observações ajudam os professores a entender o desenvolvimento da personalidade dos alunos e como eles se expressam durante as atividades em sala de aula. Estas observações se intensificam a cada aula a ponto do professor saber exatamente como as crianças estão se divertindo quando estão produzindo brinquedos pedagógicos. No campo psicológico é possível acompanhar a construção do objeto através do comportamento da criança. Campo Antropológicos – as observações antropológicas são notadas pelo professor frente aos comportamentos que as crianças assumem em interação umas com as outras e as experiências que trazem de suas vidas. O professor interpreta como cada criança se comporta diante das brincadeiras, das participações nos jogos e nas construções de brinquedos pedagógicos. Os professores também analisam as turmas, escolas, rede pública e privada, e a qualidade das experiências individuais das crianças, e os resultados se refletem nas brincadeiras em grupo e nos trabalhos que desenvolvem. O estudo antropológico esclarece muito das reações diante dos desafios. Campo Folclórico – o enfoque deste campo analisa os jogos e brincadeiras como expressão cultural infantil. Cada escola procura contextualizar as 222

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brincadeiras e as construções de jogos e brinquedos pedagógicos segundo os históricos das crianças, buscando aproximá-las ao máximo das experiências que elas já possuem e vivenciaram em suas famílias. Normalmente se procura contextualizar as brincadeiras de construção de objetos tentando aproximar ao máximo dos seus padrões de vida, classe social, renda, características culturais. Nesta perspectiva, os jogos e brincadeiras além de proporcionarem momentos lúdicos e contribuírem para o desenvolvimento físico, mental, emocional e social das crianças, também contribui para a construção do conhecimento, permitindo a elas experimentarem atividades interdisciplinares. Em relação à experiência científica em sala de aula, a oficina de produção de brinquedos apresenta espontaneamente este quesito, tendo em vista que todas as atividades são construídas pelos próprios alunos.

A brincadeira é um assunto sério As primeiras séries do ensino básico são consideradas pelo sistema educacional como importantes momentos de aprendizado para inserção das crianças na alfabetização e no ensino de um modo geral. Todas as formas de linguagens são experimentadas e vivenciadas pelas crianças e tudo parece ser uma grande brincadeira. Entretanto, enquanto para a criança, todos os momentos são lúdicos, e que a brincadeira é uma necessidade vital no desenvolvimento do ser humano, para os professores, tudo não passa de atividade educacional e que a aprendizagem é o principal resultado a ser esperado. Neste sentido, todos os profissionais que se relacionam com turmas iniciais, sejam professores, psicológicos, pedagogos, auxiliares, estão diretamente envolvidos neste processo e devem ampliar seus conhecimentos de como lidar com as diferentes realidades que possam surgir e adequar a sua praxiologia docente. Para a criança, todos os movimentos, brincadeiras, jogos, são apropriadas no instante em que elas acontecem, e automaticamente, lhe fazem sentido e significação. É através da brincadeira e do jogo que se busca envolver a criança em projetos de significação pré-simbólica, posto que a criança ainda não esteja pronta, no sentido da linguagem escrita, para entender o mundo que a cerca. É através da brincadeira que o diálogo se estabelece, entre o adulto professor e a criança que não consegue falar de suas emoções e impressões. Ao brincar a criança passa para o professor informações sobre suas Cláudio de Musacchio

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emoções e preocupações, principalmente as indagações sobre o que está sendo descoberto e vivenciado. E o professor observa as características que estão ocorrendo no desenvolvimento da criança e como cada brincadeira ou jogo está sendo interpretado em seus aspectos psicológicos, sociológicos, antropológicos. Deve-se ter sempre em mente que o meio ambiente onde a criança inicia seu desenvolvimento, seja ele cognitivo, afetivo, social, etc., está em constante processo de modificação, expansão e transformação, e cada descoberta é um objeto a mais que ela conhece e percebe. Como a criança ainda não reconhece a atividade abstrata ou consciência dos objetos, suas observações se restringem par alguns ângulos da análise: forma, cor, cheiro, e som que produz. Os professores observam que através dos jogos e brincadeiras, as crianças desenvolvem também sua psicomotricidade, seus esquemas mentais trabalham no sentido de traduzir informações quando a criança pega e analisa, e solta um objeto qualquer. A criança percebe que através dos jogos e brincadeiras, ela desenvolve espontaneamente seus aspectos cognitivos, seu simbolismo e aspectos da socialização, satisfazendo assim suas próprias necessidades. “A brincadeira é coisa séria”, diriam os pedagogos, pediatras, psicólogos. Pois a atividade lúdica da brincadeira ou do jogo expõe a criança a uma constante análise de suas potencialidades, afeta suas emoções e suas aptidões se tornam visíveis. Graças a essa exposição, ela aprende a se relacionar com os outros, desenvolvendo o senso de coletividade, afetividade, habilidades perceptuais psicomotoras e operativas. A metodologia do brincar, portanto, é a ludicidade do aprender. Neste primeiro estágio da vida escolar, a criança vivencia ideias em nível simbólico, compreendendo assim o significado do real. O seu pensamento evolui segundo as suas próprias ações, razão pela qual as atividades concretas são importantes para a construção do pensamento infantil.

Pensadores e teóricos sobre os jogos na educação Desde a Grécia antiga que a introdução de jogos e brincadeiras na formação das crianças era observada atentamente, embora como fator pedagógico só fosse observado séculos depois. As brincadeiras e jogos eram praticados em todos os segmentos da sociedade e das fases escolares. Na preparação física de jovens, os jogos aparecem entre os romanos por intermédio dos gregos, que também ensinavam os conceitos de cidadania, 224

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obediência e devoção. A utilização de jogos, além dos aspectos de desenvolvimento corporal da população, tinha um viés de formação moral para o processo de formação da criança e do jovem. Somente no século XVIII, é retomada a questão do lúdico na educação. O educador Jan Amos Comenius (1592-1670) descreve que: “a exploração do mundo no brincar era vista como uma forma de educação pelos sentidos. Daí sua defesa de uma programação bem elaborada, com bons recursos materiais, racionalização do tempo e do espaço escolar.” Outro pensador, Jean Jacques Rousseau (1712-1778), também incentivava atividades lúdicas na escola, porque estas proporcionavam as crianças liberdade de expressão, exposição da experiência e utilização da emoção como incentivo à aprendizagem. Friedrich Froebel (1782-1852), logo em seguida, também era incentivador pela utilização de jogos e brincadeiras, tanto que introduziu ele mesmo alguns recursos pedagógicos. Com ele o jogo pode ser entendido como objeto e ação de brincar, posto que seja através dos objetos, que a criança estabelece relações matemáticas, de física e metafísicas. Nesta utilização, Froebel garante que o recurso pedagógico permitiria as crianças de desenvolverem conhecimentos intelectuais importantes. Mais tarde, Maria Montessori (1879-1952), que também construiu recursos pedagógicos, enfatizava fortemente o uso do brinquedo como instrumento de aprendizagem. Entre os brinquedos produzidos por Montessori estão: letras móveis, letras recortados em cartões, contadores, e diversos outros jogos lúdicos. Sua importante proposta pedagógica levava em consideração a liberdade e a individualidade. O método Montessori, relaciona-se à normatização que consistia em harmonizar a interação de forças corporais, espirituais, corpo, inteligência e vontade. O método opunha-se aos métodos tradicionais à época, pois deixava as próprias crianças determinarem, através da espontaneidade, suas velocidades de aprendizagem. Desta maneira, em sala de aula, a criança é livre para decidir sobre o que fazer com os objetos. O relevante do trabalho de Montessori é a sua contribuição na produção de materiais didáticos. Montessori dividiu em cinco grupos distintos:  Exercícios para a vida cotidiana  Material sensorial  Material de linguagem Cláudio de Musacchio

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 Material de matemática  Material de ciências Esses materiais se constituem de peças sólidas de diversos tamanhos, formas e espessuras diferentes. Outra sugestão é a coleção de superfícies de diferentes texturas e campanhas com diferentes sons. Hoje em dia, devem-se escolher materiais permitidos para a manipulação pelas crianças. Outro pedagogo referência foi Célestin Freinet (1896-1966), que introduziu o conceito da aproximação da realidade em que vive o aluno como sendo fundamental para seu aprendizado. Desta maneira, a interação professor-aluno era essencial para que houvesse a aprendizagem. As oficinas de produção de brinquedos encontram neste autor forte aliado, pois ele não aceitava muito bem a forma tradicional de ensinoaprendizagem, buscando o tempo todo formas alternativas de inovar a didática e a pedagogia. Freinet criou as invariantes pedagógicas que podem contribuir substancialmente para a atividade de produção de brinquedos, uma vez que suas invariantes podem muito bem ser aplicadas hoje em dia nas oficinas.

Invariantes Pedagógicas de Célestin Freinet 1. A criança é da mesma natureza que o adulto. 2. Ser maior não significa necessariamente estar acima dos outros. 3. O comportamento escolar de uma criança depende do seu estado fisiológico, orgânico e constitucional. 4. A criança e o adulto não gostam de imposições autoritárias. 5. A criança e o adulto não gostam de uma disciplina rígida, quando isto significa obedecer passivamente uma ordem externa. 6. Ninguém gosta de fazer determinado trabalho por coerção, mesmo que, em particular, ele não o desagrade. Toda atitude imposta é paralisante. 7. Todos gostam de escolher o seu trabalho mesmo que essa escolha não seja a mais vantajosa. 8. Ninguém gosta de trabalhar sem objetivo, atuar como máquina, sujei226

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tando-se a rotinas nas quais não participa. 9. É fundamental a motivação para o trabalho. 10. É preciso abolir a escolástica. 1. Todos querem ser bem-sucedidos. O fracasso inibe, destrói o ânimo e o entusiasmo. 2. Não é o jogo que é natural na criança, mas sim o trabalho. 11. Não são a observação, a explicação e a demonstração - processos essenciais da escola - as únicas vias normais de aquisição de conhecimento, mas a experiência tateante,que é uma conduta natural e universal. 12. A memória, tão preconizada pela escola, não é válida, nem preciosa, a não ser quando está integrada no tateamento experimental,onde se encontra verdadeiramente a serviço da vida. 13. As aquisições não são obtidas pelo estudo de regras e leis, como às vezes se crê, mas sim pela experiência. Estudar primeiro regras e leis é colocar o carro na frente dos bois. 14. A inteligência não é uma faculdade específica, que funciona como um circuito fechado, independente dos demais elementos vitais do indivíduo, como ensina a escolástica. 15. A escola cultiva apenas uma forma abstrata de inteligência, que atua fora da realidade fica fixada na memória por meio de palavras e idéias. 16. A criança não gosta de receber lições autoritárias. 17. A criança não se cansa de um trabalho funcional, ou seja, que atende aos rumos de sua vida. 18. A criança e o adulto não gostam de ser controlados e receber sanções. Isso caracteriza uma ofensa à dignidade humana, sobretudo se exercida publicamente. 19. As notas e classificações constituem sempre um erro.

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20. Fale o menos possível. 21. A criança não gosta de sujeitar-se a um trabalho em rebanho. Ela prefere o trabalho individual ou de equipe numa comunidade cooperativa. 22. A ordem e a disciplina são necessárias na aula. 23. Os castigos são sempre um erro. São humilhantes, não conduzem ao fim desejado e não passam de paliativo. 24. A nova vida da escola supõe a cooperação escolar, isto é, a gestão da vida pelo trabalho escolar pelos que a praticam, incluindo o educador. 25. A sobrecarga das classes constitui sempre um erro pedagógico. 26. A concepção atual das grandes escolas conduz professores e alunos ao anonimato, o que é sempre um erro e cria barreiras. 27. A democracia de amanhã prepara-se pela democracia na escola. Um regime autoritário na escola não seria capaz de formar cidadãos democratas. 28. Uma das primeiras condições da renovação da escola é o respeito à criança e, por sua vez, a criança ter respeito aos seus professores; só assim é possível educar dentro da dignidade. 29. A reação social e política, que manifesta uma reação pedagógica, é uma oposição com o qual temos que contar, sem que se possa evitá-la ou modificá-la. 30. É preciso ter esperança otimista na vida. Com relação ao jogo e brincadeiras, Freinet considerava que para se adquirir conhecimento, era fundamental que fosse da maneira significativa, respeitando-se o livre árbitrio da criança. Toda a base da pedagogia elaborada por Freinet foi construída na experimentação e documentação, que dava a criança instrumentos para aprofundamento do seu crescimento e desenvolvimento de suas ações. Hoje em dia, os jogos e brincadeiras na escola são considerados lúdicos e necessários à formação e desenvolvimento físico e intelectual das crianças. Entre todos os pensadores, téoricos e educadores, a palavra que exprime a atividade pedagógica nas duas primeiras série do ensino básico é, sem dúvida alguma, ludicidade. Entretanto é preciso analisar os instrumentos, 228

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materiais e recursos didático-pedagógicos construidos nas escolas para saber até que ponto suas intenções potencializam o desempenho físico-motor, o desenvolvimento, nível linguistico, formação moral e ética. Coma criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, algumas normas foram estabelecidas para controlar a eficácia e eficiênia dos jogos e brincadeiras na escola, nas séries iniciais. Todo o universo linguistico, simbolismo, signos e expressões de comunicação são considerados válidos, respeitados e precedidos de toda a atenção, tendo em vista que as crianças se ocupam de atividades utilizando este, pois que ainda não foram alfabetizados. A linguagem dos jogos e brincadeiras une potencialmente as crianças porque elas identificam os códigos de comunicação e informação, não necessitando de tantas interferências por parte dos professores para unificar a linguagem de comunicação em sala de aula.

Conclusões Considerando que as oficinas nas escolas conseguiram de diferentes maneiras e formas monopolizar as atenções necessárias para entender o modo como a revolução do ensino-aprendizagem está sendo evoluído. Sem as amarras do conteúdo curricular severo das atuais legislações de ensino, as oficinas exercem livremmente seus contrutos, oportunizando, por vezes, atividades extremamente inovadoras, no campo das experiências didáticopedagógicas e que, pouco a pouco, estão alterando o modo de se fazer educação no pais. Evidentemente que é uma longa caminhada de erros e acertos, de tentativas de aplicações de sistemáticas educacionais que buscam descobrir novos vieses através da promoção do fazer, em detrimento do conhecer e do saber. A prática andando lado a lado com a teoria. Se o ensino evoluiu, parte desse avanço se deve a exigência dos próprios sujeitos, que pressionam o sistema através da exigência de aprendizagem. Segundo o pensamento de Jan Piaget (1896-1980), abud BECKER (2010 p. 19), diz “... Ouso dizer que o ensino na pré-escola e nas primeiras séries do Ensino Fundamental foi o que mais evoluiu justamente por atender ao requisito de uma aprendizagem entendida como atividade constitutiva do sujeito; enquanto os demais níveis resistem a mudanças mais profundas na medida em que continuam a considerar o ensino como definidor da aprendizagem.”

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Para Becker o ensino tradicional, sala de aula, e conteúdos curriculares, continua sendo de caráter repetitivo, em todos os níveis de ensino. Mas essa imagem está mudando e a colaboração da interdisciplinaridade permite a mudança tanto do ensino, buscando qualificar o professor para sua atividade quanto para o aluno que busca maior sentido na escola. As oficinas nascem nas escolas com o firme propósito de se tornarem livres dessas amarras e desempenharem papeis significantes em sua relação educacional. Livres das amarras, e ascendendo uma pedagogia libertadora, é possível, por exemplo, na oficina de produção de brinquedos pedagógicos, a prática de uma educação voltada inteiramente para o fazer, através de experiências científicas em sala de aula, e da interdisciplinaridade de fato, compreendendo os papeis que cada professor exerce na relação com os alunos. A produção de brinquedos pelos próprios alunos lhes atribui a alcunha de autoria, protagonista, como queiram alguns autores, de suas próprias construções. Cada objeto criado pelos alunos, exerce um incrível fascínio por eles, como se ao construir eles tivessem plena consciência no mundo que eles mesmos criam para eles. Entre as vantagens que se pode listar ao produzir brinquedos, tem-se: Incentiva a criatividade – parte do que ascrianças criam nem mesmo elas sabem no início da atividade no que vai acontecer. O professor conta uma história e enquanto conta as crianças estão manipulando objetos, dando formas, colorindo e recortando. No final, o que sai é surpreendente. Estimula o trabalho em equipe – este é talvez o mais forte argumento da criação das oficinas nas escolas tradicionais de hoje em dia., a exposição da criança ao trabalho em equipe, colaborativo, participativo, é o mais utilizado nas pedagogias contemporâneas. Se queremos no futuro, crianças participativas, temos que incentivá-las desde já ao trabalho em grupo, mas isso, não é uma tarefa fácil. Os adultos de hoje, não possuem históricos de seus primeiros anos na escola com o trabalho em equipe, pelo contrato, quase sempre era uma proposta de desafios individuais, onde a exceleência das atividades era a premiação individual. Hoje, no mercado de trabalho competitivo e acirrado, quem não souber trabalhar em equipe, terá dificuldades de se manter em atividade profissional. As crianças aprendem a fazer parte do brinquedo. Esse conceito de coparticipação ou co-autoria, também altera sua compreensão sobre o objeto construído. No final da atividade, a criança não vê mais a sua parte, mas a parte de todos, o trabalho feito a vários mãos.

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A criança aprende a construir – vivemos numa época de tecnologias de informação e comunicação que deixam assinaturas de autoria em quase tudo o que as crianças tocam: seja nos sites de comunidades virtuais, postando mensagens, fotos, áudios, vídeos,etc., seja nos envios de mensagens por celular. Desde cedo a criança vê seu nome estampado em tudo o que produz, desenha, cola ou escreve. E isso a transforma completamente, pois lhe dá responsabilidades pela assinatura que assume por ser autora. Em alguns, casos, isso é um problema. Mas na maioria das vezes, se analisarmos os trabalhos em grupo, isso é fundamental. A coordenação motora e a psicomotora – Além de todas as prerrogativas didático-pedagógicas da manipulação e construção de objetos, brincando e se divertindo, as crianças desenvolvem também os movimentos, o equilíbrio, a concentração, a criação de trabalhos manuais, e toda e qualquer estimulação dos braços, pernas, concentração psíquica. As atividades motoras para brincadeiras e jogos, para a dança, música, atividade esportiva, e qualquer tipo de expressão corporal, irá ajudar e contribuir o desenvolvimento físico e intelectual. Embora Jean Piaget não tivesse desenvolvido pesquisas específicas para educação escolar, os reflexos de sua teoria auxiliam educadores, psicólogos, sociólogos e auxiliares de creches e primeiras séries do ensino básico. Seus ensinamentos esclarecem que as experiências lúdicas realizadas pelas crianças alcançam o seu crescimento intelectual através do comportamento que ele intitulou de assimilação. Quando as crianças estão diante de um novo objeto, tentarão com suas estruturas cognitivas e mentais elaboradas, descobrir mais a respeito do objeto. Parte da interpretação do objeto a criança possui domínio e pensa a respeito, mas tem outra parte que é o novo, para essa a mente cria novas estruturas mentais para fazer sentido em seu entendimento o novo objeto analisado. Quando isso ocorre, Piaget (1998) afirma que está havendo acomodação da nova informação, tentando ajustarem-se as demais. Sendo assim, é necessário um novo (re) equilíbrio das estruturas existentes com a nova que acabou de ser criada para dar conta do novo objeto. Após a equilibração, o objeto passa a ser interpretado livremente. Desta maneira, quando a criança chega na sala de aula e encontra inúmeros brinquedos, ela normalmente avança primeiro sobre os brinquedos que já foram equilibrados em seu entendimento. Aos poucos ela começa a segurar os novos objetos e buscando entender para que servem, qual é a brincadeira deles. Em alguns momentos, esta descoberta não poderá ser realizada sozinha, necessitando da ajuda de outra pessoa. Ao assimilar e Cláudio de Musacchio

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acomodar o novo brinquedo, então este provoca nova equilibração, e assim por diante, essa (re) estruturação das operações mentais são realizadas na criança constantemente, pois quase tudo que ela vê, sente e busca conhecer é novo. Imaginem como fica a cabeça da criança quando tenta criar o novo, através de brinquedos que ela já domina e conhece.

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Núcleo Produção Musical Educação e Produção Musical Education and Music Production

Resumo Este ensaio desenvolve reflexões sobre o uso de articulações pedagógicas realizadas em contextos escolares. Descreve a abordagem de eventos musicais, aprendizagens de instrumentos, criação e manipulação de programas para trabalhar com músicas em meio digitais. Descreve ainda as metodologias da interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento para conhecer melhor os conceitos da música e experiências científicas em sala de aula utilizando instrumentos musicais. Por fim descreve as múltiplas aplicações da produção musical e sua importância para o desenvolvimento do raciocínio abstrato nos alunos. Conhecendo os efeitos da sonoridade musical, dos signos existentes nas estruturas sonoras, e dos conceitos na construção de modelos pedagógicos incentivados pelo sistema educacional escolar.

Palavras-chaves Produção musical, interdisciplinaridade, pedagogia musical, formação midiática pela música, fenômenos sonoros, estruturas sonoras.

Abstract This paper develops reflections on the pedagogical use of joints carried out in school contexts. Describes the approach of musical events, learning tools, creating and manipulating programs for working with digital music in the middle. It also describes the methodology of interdisciplinarity with other fields of knowledge to better understand the concepts of music and science experiments in class using musical instruments. Finally describes the multiple applications of musical production and its importance for the development of Abstract reasoning in students. Knowing the effects of musical sound, the signs on existing sound structures, and concepts in the construction of pedagogical models encouraged by the school education system.

Key words Music production, interdisciplinary, music pedagogy, training media for music, sound phenomena, sound structures.

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Resumen En este trabajo se desarrolla reflexiones sobre el uso pedagógico de las juntas llevadas a cabo en el contexto escolar. Describe el enfoque de los eventos musicales, herramientas de aprendizaje, creación y manipulación de los programas para trabajar con la música digital en el medio. También se describe la metodología de la interdisciplinariedad con otras áreas del conocimiento para comprender mejor los conceptos de los experimentos de la música y la ciencia en el aula el uso de instrumentos musicales. Finalmente se describen las múltiples aplicaciones de producción musical y su importancia para el desarrollo de razonamiento Abstracto en los estudiantes. Conocer los efectos de sonido musical, las señales de sonido en las estructuras existentes, y los conceptos en la construcción de modelos pedagógicos alentados por el sistema de educación escolar.

Palavras clave Producción musical, interdisciplinario, pedagogía musical, los medios de formación para la música, los fenómenos de sonido, estructuras de sonido.

Introdução “Além dos aspectos positivos que a educação musical proporciona para a formação dos indivíduos e contextualizações naturais, também seus efeitos produzem resultados na socialização e condução para uma vida em sociedade, coletiva e plural, além de contribuir para uma fonte inesgotável de conhecimentos sócio-cognitivos possibilitando sucessivas reequilibrações no âmbito social.”

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A educação musical na escola é incentivada pela lei 9394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional e nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que contempla nos temas transversais as atividades disciplinares de Artes Visuais, Música, Teatro e Dança. As expressões teatrais e de dança em geral, se estabelecem em oficinas extracurriculares que orientam os alunos para a aprendizagem da música rítmica, dos diferentes tipos de música, levando-se em consideração a grande variação de ritmos musicais existentes em nosso país. Também o teatro é trabalhado nas escolas como oficinas ou escolinhas de aprendizagem das artes cênicas e dos diferentes tipos conhecidos. Sancionada em agosto de 2008, a lei nº 11.769 prevê que a partir de 2011, todas as escolas estarão obrigadas a ensinar Música na Educação Básica. A sugestão da Música nos temas transversais provoca opiniões a favor e contra a introdução na educação. Evidentemente que é preciso aguardar o mercado capacitar e habilitar um número bastante expressivo de profissionais para atender as escolas de todo o país. Além dos aspectos legais e das posturas institucionais das escolas em implantar a música como tema transversal, também o significado da educação musical está sendo discutida em todas as dimensões da escola, envolvendo gestores, professores, coordenadores, pais e comunidade. Neste momento as escolas discutem a questão do discurso e da prática, tendo em vista que nestas duas dimensões, se encontram em processo de reestruturação e construção. Se por um lado, a instituição escola aguarda que o mercado forneça a mão de obra especializada neste segmento educacional, também os professores de música buscam se inserir nos programas pedagógicos das escolas. De qualquer maneira, as escolas buscam um sentido norteador capaz de formular os objetivos que possam traduzir numa educação musical, conforme os anseios da comunidade, dos alunos, do aparelho institucional da escola. Os objetivos norteadores para a implantação de um modelo de educação musical devem contemplar os seguintes aspectos:  Como buscar o sentido da educação musical que a escola, professores e alunos desejam empreender?;  Como estes aspectos determinados pela conformidade, podem gerar uma disciplina com ementa própria, sistema pedagógico e avaliação distinta das outras disciplinas?; 238

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 Qual a formação e prática pedagógica que os professores de música devem possuir, bem como capacitação e habilidades para exercerem a função docente?;  Como a disciplina de música pode se inserir às demais disciplinas para buscar a interdisciplinaridade como metodologia integradora de conhecimentos. Neste sentido, o ensino de música como disciplina, incorporada ao corpo de currículos e conteúdos, apresenta-se em franca expansão e ajuste, exigindo de seus gestores, soluções da diversidade de funções e variedades de abordagens que solicitam uma análise e diagnóstico mais elaborado para uma construção educativa eficiente, democrática, abrangente e formativa. O ensino de educação musical nas escolas pode ser inserido de diferentes maneiras e objetivos, que vão desde a aprendizagem de instrumentos musicais, formação de bandas, corais, conjuntos e óperas, cantos de todos os estilos, artes cênicas, construção de música instrumental, aprendizagem de sistemas computacionais para criação de músicas. Para cada uma das possibilidades, existe uma série de necessidades de recursos que precisam ser estudados, analisados e viabilizados. Por não apresentar uma continuidade, tendo em vista que no passado, este tema transversal existia e foi interrompido pelos movimentos autoritários do regime militar, é difícil apresentar características próprias desse saber escolar. O que se pretende neste ensaio, é mostrar como a escola pode viabilizar soluções para uma educação musical efetiva, construtiva e formadora da cidadania, e que participem das práticas, valores e crenças sociais incorporadas a uma concepção de arte, tão necessária para a formação das crianças.

Origem da história da música e da educação musical Através dos tempos e ao longo da história de todos os povos, a música sempre representou um forte argumento e aspecto religioso, moral, social, cívico, contribuindo significativamente para a construção de valores e hábitos aos exercícios da cidadania e do convívio dos povos em sociedade. A história da Música em ambiente escolar se iniciou como disciplina das Artes. E logo se tornou história das Artes, englobando as demais ciências: artes cênicas e dança e canto, e teoria musical. Com o tempo, os estudos geraram subdivisões entre vários segmentos: música erudita, popular, religiosa, pagãs, músicas típicas de eventos nacionais, danças e músicas folclóricas, regionais, e uma infinidade de estilos. Cláudio de Musacchio

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Ao considerarmos o termo música em seu aspecto mais abrangente, a história da música pode ser vista como:  As origens culturais da música são uma constante em todos os grupos de humanos. Também se estabelecem segundo seus sistemas musicais característicos, conforme estruturas rítmicas, melódicas e harmônicas;  As influências culturais e sociais que a música exerce e sofre ao longo de seu desenvolvimento;  Ao longo do tempo, a música se desenvolve em diferentes formas musicais, gêneros e estilos;  A história dos instrumentos musicais e como eles surgiram e se inseririam na vida das comunidades;  A evolução dos sistemas teóricos segundo suas notações e análises musicais;  Os principais clássicos da música, suas histórias, e compositores que marcaram história, através de diferentes períodos históricos. A origem da palavra música é grega e significa (μουσική τέχνη musiké téchne), que é uma forma de arte que se constitui basicamente em combinar sons e silêncio. Seus elementos se constituem basicamente de melodia, harmonia, ritmo, dinâmica e timbre. Hoje, historiadores do mundo inteiro, afirmam unanimemente que todos os povos do planeta, em qualquer tempo, possuíam algum tipo de manifestação musical própria. Tribos muito antigas tinham na música forte expressão religiosa. A paixão pela música vem do grego e designava juntamente com a dança e a poesia, a arte das Musas, tendo o ritmo como o elo entre as três expressões. Assim, os gregos a transformaram em arte e a disseminaram nas escolas como uma maneira de pensar e ser. A figura do músico era cultuada como um guardião de uma ciência e técnicas, e seu saber e talento precisavam ser desenvolvidos pelo estudo e exercício contínuo. A preocupação era tão grande que os gregos a transformaram em pedagogia da música, tornando a música como uma disciplina escolar. Da mesma maneira que o físico era uma atividade disciplinar, também a música ocupou seu lugar de destaque, e receber uma educação musical significava muito, tanto quanto estudar a escrita, a matemática, o desenho, a declamação, a física e a geometria. 240

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Embora seja difícil definir, até mesmo para os estudiosos dessa arte, a música pode ser descrita como uma variação de sons, e silêncios, e inclui variações nas características do som (altura, duração, intensidade e timbre), e podem ocorrer seqüencialmente (ritmo e melodia), ou simultaneamente (harmonia). Ao mesmo tempo em que todos concordam a respeito da participação da música na vida dos povos, agrupamentos, civilizações, também discordam quanto à natureza de algumas definições. Os diferentes interlocutores e suas respostas distintas são: compositores, músicos, historiadores, filósofos, antropólogos, lingüistas e ouvintes. E as perguntas que suscitam divergências são:  Todas as combinações de sons e silêncios podem ser consideradas músicas?  Dentro do contexto mais amplo, a música pode ser comparada a uma expressão de arte? Ou de outra forma, a música é sempre arte? O conceito de educação musical possui diferentes definições, mas em qualquer dos conceitos atribuídos a ela, a definição que aparece em todas é a associação de práticas destinadas a transmitir através da vivência musical, a teoria e prática da música. A música pode abordar os seguintes estudos:  Musicalização (método destinado a iniciação na prática vocal ou instrumental)  Prática Instrumental (ensino e treinamento de técnicas específicas de cada instrumento de forma individual ou grupal, voltados à audição, prática, treinamento auditivo e percepção)  Prática vocal (ensino e treinamento de técnicas vocais, incluindo o canto coral e o canto orfeônico)  Teoria musical |(ensino da teoria musical, escalas, rítmica, harmonia e notação musical)  Percepção auditiva (treinamento da percepção melódica – alturas e intervalos, harmônica e rítmica)  Composição e Regência (formação para compositores ou regentes) Cláudio de Musacchio

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A Interdisciplinaridade na educação musical Os gregos desenvolveram um dos elementos mais importantes do pensamento musical: o raciocínio matemático. E esta relação entre a música e a matemática, segundo Pitágoras, sua maior expressão, ampliou suas descobertas para a dimensão da acústica sonora. A música e a matemática são naturalmente relações interdisciplinares. Segundo Pitágoras, as duas ciências eram parte uma da outra, e na explicação dos contornos das duas ciências estavam os conceitos da interdisciplinaridade sendo aplicadas, dizendo que a explicação do funcionamento do universo era o motivo da relação. Tão importantes se tornaram as ideias de Pitágoras sobre a música e a matemática, que Platão, outro filósofo, baseou-se em suas doutrinas. Para Platão, a música é capaz de reproduzir no espírito humano, o sentido de ritmo e harmonia, e uma pessoa educada na música, sente desabrochar dentro de si uma satisfação pelo belo e repugnância pelo feio. A educação musical é capaz de reproduzir no homem efeitos benéficos ou maléficos, pois imita a harmonia das esferas celestes, da alma e das ações. Seu poder de encantamento pode conduzir o homem a um complexo de emoções não recomendável ou inverso, contribuindo de modo eficaz, para a educação da juventude. Para Platão a importância da música na formação dos jovens era tão fundamental e perigosa que deveria ficar na mão do Estado. Mas completa, que além do Estado, os docentes, considerados mestres especiais, são responsáveis pelo desenvolvimento da disciplina nas escolas e sua responsabilidade na formação da cidadania. Para isso, a música não deveria ser praticada de modo desinteressado, mas com o intuito de tornar o ensino mais atraente, menos árido, e que disciplinas como a matemática, a história e outras possam ser mais bem compreendidas pelas notas musicais. Segundo Platão, as séries iniciais deveriam aprender em primeiro lugar, as canções, depois a prática de dois gêneros de música: música para a guerra e para a prece. Daí em diante, os adultos praticariam os cantos corais e os jogos comunais. A música deveria ser dosada, uma vez que música em demasia tornaria seu efeito prejudicial. Em “A República”, Platão diz: “ser simplesmente atleta é quase ser um selvagem – e ser meramente músico é dissolver-nos e abrandarnos além do conveniente.” A educação musical deveria seguir algumas idades: dos sete aos quatorze anos, seriam considerados fases iniciais, a educação ficaria a cargo dos mestres especiais, tendo como conteúdo básico, ginástica e música, compreendendo ainda: poesia, história, drama, oratória e ciência. 242

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A aprendizagem constituía basicamente de fundamentos da teoria musical, princípios do som e de sua grafia, e as leis que regem a construção melódica e rítmica. O segundo nível de aprendizagem para a educação musical iniciaria antes dos 20, indo até os 30 anos, aproximadamente. Nesta época conceitos de astronomia, gramática, aritmética e música comporiam o “Quadrivium”, ou como eram chamados os estudos científicos. Nesta fase, o estudo de música era denominado de Ethos musical, ou seja, mais teórico. E finalmente, para concluir a educação musical, um terceiro nível, com aproximadamente cinco anos de duração, compreenderia o estudo da dialética. O estudo da filosofia seria apenas para aqueles alunos com inclinação para o pensamento filosófico, o restante dos alunos eram direcionados para as aprendizagens militares. Se num primeiro momento, os romanos, ao dominarem os gregos, impeliram fortes noções de rigidez, dureza, disciplina e severidade aos gregos. Logo depois, sob forte influência da cultura grega, as artes e as letras florescem no mundo romano, dando origem à educação musical, sendo estudada como ciência, como um saber científico, tendo primazia com seus próprios aportes teóricos. De lá para cá, a música passaria por diversas fases, gregoriana, idade média, humanistas, renascentistas e as músicas religiosas, que ocuparam importantes momentos da história, posto que foram utilizadas para catequizar os povos conquistados pela Igreja católica. Dois grandes pensadores na Educação, Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) e Friedrich Wilhelm August Froebel (1782-1852), conceberam a música livre da influência da Igreja e utilizada para despertar a sensibilidade no desenvolvimento da razão, sendo esta condição pré-requisito para a aprendizagem. Ambos defenderam um método intuitivo, que coloca o aluno em contato com a sua realidade, permitindo assim o desenvolvimento do sendo de observação, análise e a capacidade de expressar-se. Graças à ênfase para a sensibilidade no processo de construção do ser humano, a música abre caminho para uma educação musical voltada para a prática e teoria. Mais recentemente, autores e pensadores, seguidores de Pestalozzi e Froebel, propõem uma nova metodologia para o ensino da música, onde o fazer musical, a exploração sonora, expressão corporal, escutar e perceber consciente, o ato de improvisar e criar, a troca de sentimentos, vivência pessoal e a experiência social, oportunizariam a experiência concreta, antes até da formação dos conceitos abstratos. Cláudio de Musacchio

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Essa nova experiência do ensino da música dá maior importância à prática livre experimental, em detrimento da transmissão dos conhecimentos do professor para o aluno, valorizando o desenvolvimento artístico-musical. Este pensamento influencia fortemente as propostas metodológicas existentes nos tradicionais conservatórios de música, permitindo à modernização na maneira de ensinar à música as crianças, respeitando as diferenças individuais dos alunos. No Brasil, as fortes influências dos jesuítas trouxeram a música religiosa, desde o descobrimento até o século XVIII, quando outras influências passam a dividir o palco das preferências do povo, como os negros, a música portuguesa, a música dos índios, e influências européias. A interdisciplinaridade no contexto da educação musical está inserida em todos os momentos, quer sejam na aprendizagem de instrumentos, canto, atividades em grupo, ou atividades inseridas em outras disciplinas, mostrando a música em contextos históricos, geográficos, lingüísticos, literatura, estudo das ciências, matemática, entre outras. A música, enquanto área de estudo, se estrutura em subáreas e especialidades, que de uma maneira ou outra, permitem se relacionar e formalizar aspectos interdisciplinares, podendo se conectar a diferentes áreas de conhecimento. As áreas e subáreas são:  Processos formais e não-formais da educação musical  Processos cognitivos na educação musical  Educação musical instrumental  Educação musical coral  Composição acústica  Ethosmusicologia  Música instrumental  Música vocal  Regência As áreas de conhecimento da educação musical estão naturalmente entrelaçadas num projeto de interdisciplinaridade como constância em seus estudos. Entretanto, quando inserida em contextos escolares de diferentes 244

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disciplinas, é que o uso da educação musical se faz notar em algumas disciplinas como: história da música na literatura, música nos estudos de idiomas, música e licença poética, e tantos outros. O que se pretende com a interdisciplinaridade é recompor os cenários epistemológicos de cada disciplina com possibilidade de discutir como a física pode contribuir para entender a origem do som, como os seres humanos escutam e estudam as freqüências, volumes audíveis e não audíveis, a biologia explicando as funções orgânicas do tímpano, do formato da orelha, do equilíbrio, da gravidade, e a química fazendo suas contribuições explicando como a música interfere nas substâncias orgânicas, citando como a música produz certas substâncias consideradas essenciais para o desenvolvimento humano. Outras interdisciplinaridades possíveis são: a relação entre a música e o ensino da matemática, as escalas musicais, as funções matemáticas sonoras, a importância da língua portuguesa para os compositores de letras musicais, até onde é possível a licença poética, a relação entre estilos de música e a geografia, as músicas quentes e sensuais dos países tropicais como Cuba, Brasil, Caribe, e as músicas clássicas dos países frios como Hungria, França, Bélgica, músicas escandinavas. A interdisciplinaridade pode ser utilizada para que várias áreas do conhecimento se juntem para responder questões que não poderiam fazer separadas em seus redutos epistemológicos. As explicações encontradas nos contornos das disciplinas exemplificam muito bem a questão e importância do uso da interdisciplinaridade na educação musical. Embora ainda em fase muito inicial em relação às outras áreas de conhecimento, a educação musical, vem gradualmente aumentando seus espaços conceituais e institucionais nas escolas, por vezes, gerando discussões precisas e necessárias, na tentativa de fortalecer sua área de conhecimento, construindo uma identidade própria, com o rigor científico necessário para produzir conhecimento musical. E na produção e construção de uma identidade própria, a educação musical trabalha seus embasamentos teóricos com os materiais musicais possibilitando integrar questões de pesquisa e busca de soluções nos contornos promovidos pela interdisciplinaridade.

Pesquisas científicas em sala de aula O desenvolvimento de pesquisas na área de Artes e educação musical no nível escolar em toda a década de 80 foi bastante incipiente se levarmos em consideração apenas os trabalhos acadêmicos sobre o assunto. Pouca Cláudio de Musacchio

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produção científica direcionada ao ensino básico, fundamental ou médio. As pesquisas envolvendo mais de uma área de conhecimento, compondo a interdisciplinaridade, são quase inexistentes. Ao mesmo tempo em que a música não era considerada disciplina, até pouco tempo, professores do ensino superior, mestres e doutores, se ocupavam basicamente de pesquisas em universo de graduação, tendo em vista que a representatividade de atuações nas escolas fora desaparecendo com os cursos profissionalizantes e com a ênfase na especialização, com vistas ao mercado que se justificava na época industrial brasileira. E a maioria dos trabalhos de pesquisa versava sobre aspectos teóricos e estudos decorrentes das dificuldades de continuidade de uma política de educação musical no país para o ensino escolar. Hoje, a proposta de uma educação musical, além do aspecto de lei, vigente desde 2011, para todos os níveis do ensino escolar, tem demonstrado que é possível desenvolver uma educação musical na escola a partir dos contextos disciplinares existentes no ementário atual. Porém, metodologias, métodos e propostas pedagógicas para a educação musical deve ser um projeto conjunto, composto de todos os professores da escola, do pessoal de apoio, da gestão institucional, da estratégia das mantenedoras, e da possibilidade de envolver os alunos em projetos de pesquisas científicas em sala de aula. A música precisa ser tocada, ouvida, criada, discutida, e principalmente, inserida, nos diferentes contextos disciplinares. A escola precisa criar uma pedagogia musical, entrelaçada com todas as outras para que se alimentem mutuamente de suas epistemologias. Para isso os docentes da educação musical precisam se integrar e construírem projetos de pesquisa inserindo as ciências (física, química e biologia), matemática, história e geografia, português e literatura. Os projetos de pesquisa podem contemplar o aprendizado de instrumentos, criação de música digital através de programas de computador, formação de bandas na escola, projetos de diferentes cantos como: samba, pagode, bolero, tango, regional, música gospel, rap, rock, pop, e tantas outras. A educação musical deve se iniciar com as primeiras séries do ensino básico e perdurar até o último ano do ensino médio. Em diferentes idades, as músicas os projetos de pesquisas musicais devem contemplar aspectos e abordagens específicas, ora privilegiando a pesquisa científica, ora o aprendizado prático. Eventos escolares na área de música podem elevar o interesse das crianças nas oficinas de música e produzir resultados positivos na implantação 246

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de uma pedagogia musical interdisciplinar. Feiras de música, festival de corais, música instrumental nos recreios produzidos pelos alunos, criação de webrádios em páginas da escola na Internet, projetos musicais nas demais disciplinas do currículo, são algumas das atividades sugeridas pelos temas transversais das PCN. O ensino básico, constituindo-se do jardim de infância, poderá inserir histórias infantis cantadas, canções fáceis, e brincadeiras cantadas. A partir da segunda série até a quinta pode-se introduzir o canto, e aprendendo a ler partituras, além de declamações rítmicas e exercícios de voz. Para o ensino fundamental, o ensino da teoria musical, sua aplicação e terminologia, com conceitos sobre harmonia, instrumentos de orquestra antiga, clássica, moderna, história e evolução da música, sempre contextualizada a realidade de cada escola e comunidade. Para o ensino médio, a criação de conjuntos ou bandas que privilegiem a música pela qual eles escolhem e estudam. Nesta faixa de idade, as escolhas devem ser negociadas com o professor de música para que recebam informações técnicas e científicas sobre o estilo que escolherem. Nos projetos de pesquisas científicas em sala de aula, o que se leva em consideração é a aprendizagem de música, em diferentes contextos, com diferentes instrumentos, estilos, fases, e épocas. O relevante é que o aluno tenha a prática associada à teoria, a aprendizagem do instrumento e a apresentação em público desse aprendizado. A escola deve encontrar espaços em suas programações e eventos para apresentação da música. A inclusão de tecnologias computacionais nos processos musicais poderá ser de extrema serventia, posto que muitos instrumentos sejam caros e de difícil manutenção. Entretanto, os docentes devem dominar as tecnologias, o manuseio dos programas e inserir no currículo o treinamento aos alunos destes programas. Os programas de computador oportunizam a criação de músicas, a gravação de sons, mixagens, arranjos, de tal maneira, que um grupo de alunos é capaz de criar uma orquestra de instrumentos digitais e projetos de música instrumental.

Posturas da gestão institucional frente à educação musical Mesmo considerando os aspectos legais que evidenciam a obrigatoriedade de educação musical nas escolas, o engajamento dos professores e alunos é fundamental para o sucesso deste segmento na escola. Para que isso se concretize é necessário atentar para os seguintes pontos de análise:

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 Os gestores e administradores de escolas devem estar comprometidos com a cultura junto as suas comunidades no entorno da escola;  Os professores de música devem reservar parte de seu tempo para reunir os demais professores e estudar formas de criar projetos comuns que contemplem a interdisciplinaridade e a pesquisa científica em sala de aula;  Colocar os professores e alunos de música em todos os eventos culturais na escola, assim todos ficam conhecendo as atividades que estão sendo desenvolvidas na educação musical;  Dar ênfase a toda e qualquer manifestação cultural musical de alunos e professores, buscando não proteger, nem discriminar nenhum tipo de estilo ou preferência;  Motivar os alunos a desenvolver atividades musicais (regionais) a partir de sua própria contextualização musical existente nos contornos da escola;  Gerar espaços de criação, manutenção e divulgação em equipamentos eletrônicos na escola a fim de levar a música a todos os cantos da escola em horários determinados e estilos convenientes;  Elaborar programas como feiras, congressos, seminários, concursos de música, apresentação de corais, conjuntos musicais. Essas e outras sugestões podem partir não só do professor de música, mas de todos os professores da escola, e também da gestão administrativa. A postura interdisciplinar deve ser perseguida sob todos os ângulos, pois é através de momentos interdisciplinares, envolvendo mais de um professor que as aprendizagens se tornam criativas, promissoras, holísticas, globalizantes, cuja educação musical, possa através dos projetos de pesquisas serem aplicada, elaborada, organizada e as atividades pedagógicas musicais implantadas, para uma aprendizagem realmente significativa.

Conclusões A implantação de projetos musicais na escola é acima de tudo uma questão de respeito aos alunos, aos professores e a comunidade no entorno das escolas. Sejam quais forem os métodos ou a metodologia a ser implantada, a 248

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educação musical deve estar sujeita às identidades ideológicas das tradições da sociedade que vive e freqüenta a escola. Muitos dos projetos na área das Artes como teatro, danças, estilos de músicas, cantos, são expressões populares que transcendem a cultura valorizada e compreendida pelos indivíduos e se estabelecem em ligações sociais e educacionais. Educar para a vida é transcender o currículo e ir muito além das expectativas das disciplinas, é formar conceitos, caráter, personalidades, experiências, construir culturas, sedimentar compreensões e entendimentos forjadas das relações e interações sociais, que começam nas primeiras séries do ensino básico e se estendem por toda a vida. A passagem pela escola compreende várias culturas e educações. A educação pelo esporte, pela ginástica, pelas habilidades e competências, e pela música, pelas disciplinas, pela interdisciplinaridade que se pratica para uni-las e entendê-las como parte integrante de um todo maior. A educação pela arte, pela respeito às diferenças, pelas desigualdades, pelas diferentes raças, credos, opiniões. A educação enquanto um caleidoscópio de possibilidades e praxiologias exercidas no seio dos conteúdos, divagados nas colaborações e ajudas mútuas, levando-se em consideração aspectos individuais e coletivos, interesses diversos, respeitos universais. Educar para a música é promover o equilíbrio e o ato criativo, que nos diferencia do restante das criaturas, é compartilhar desejos, sonhos, carências, e procuras, pelo sentido da vida, pelo conhecimento e pela sabedoria do que fazer com este conhecimento. Educar para a música é integrar o conteúdo com a forma dando cor ao movimento, saboreando cada conquista e dúvida dissipada, é buscar aprendizagem sem se permitir errar, mas errando aprender com ele da mesma maneira, é elevar-se sem perder a doçura e a pureza, é compreender-se eterno aprendiz. Educar para a música é sintonizar as estações dos seres de modo que todos se escutem e se entendam, sem serem submissos, mas caminhando em sentido aos resultados possíveis, é valorizar o coletivo, sem perder a essência do individual, é buscar a certeza, sem se perder nas dúvidas e dilemas. Porque todas as disciplinas são partes de um quebra-cabeça que insistimos em desvendar, de buscar o todo, da visão sistêmica, mas ao mesmo tempo procurando a especialização para aprofundar conceitos, teoremas, funções, é promover a pesquisa científica em sala de aula como metodologia possível para estudar os fenômenos observáveis e poder comprovar suas hipóteses ou refutá-las. Cláudio de Musacchio

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A interdisciplinaridade como um possível viés para encontrar este caminho holístico das verdades absolutas, dos contornos das ciências que vemos quando olhamos com a lupa das ciências unidas. A verdadeira educação se completa quando entendemos o papel das artes e das expressões culturais como mágica que tira da cartola o coelho, assim a música que brota no coração dos homens, tira o seu melhor e abre suas estruturas cognitivas para a construção do verdadeiro conhecimento. Nesta perspectiva, se busca através de projetos de pesquisas elaborarem programas que situem a música na escola como construto possível ao avanço do diálogo entre as ciências, das interseções promovidas pela interdisciplinaridade contribuindo para o debate transformador que ajudará a restabelecer novas concepções do saber, do desenvolvimento humano, da sociedade como um todo e do futuro do processo de ensino-aprendizagem que se deseja e busca.

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