ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS NA EDUCAÇÃO BASICA: UM CAMINHO QUE PODE DAR CERTO

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ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS NA EDUCAÇÃO BASICA: UM CAMINHO QUE PODE DAR CERTO Ensino e Aprendizagem em Educação Musical Resumo: Este texto pretende refletir e dialogar sobre o ensino coletivo de instrumentos musicais nas escolas de educação básica do Brasil, toma como ponto de partida a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas e trata esse evento como uma oportunidade de oferecer o ensino de um instrumento musical às pessoas que não tem condição financeira de frequentar uma escola particular de música. O texto ainda pretende convidar os educadores musicais que visam atuar nas escolas de educação básica a colocar essa pratica no seu leque de possibilidades pedagógicas. Palavras chaves: ensino coletivo de instrumentos musicais, música na escola, música na educação básica.

A escola e o ensino de música O ensino de instrumentos musicais tem sido ao longo dos tempos um privilégio para pessoas que têm condições financeiras de pagar aulas particulares, escolas de musica e/ou conservatórios. A população que não tem condições de pagar esses espaços começa a ser amparada com o surgimento de projetos sociais, com professores voluntários e até mesmo com bolsas em instituições privadas, fica claro que esse acesso é insuficiente e antidemocrático. O Ensino Coletivo de Instrumento Musical pode ser uma importante ferramenta para o processo de socialização do ensino musical, democratizando o acesso do cidadão à formação musical. (CRUVINEL, p.5)

Com a aprovação da Lei 11.769, que inclui o ensino de música na educação básica, essa área do conhecimento tem a oportunidade de ser tratada de forma mais democrática, dando acesso ao ensino de música às pessoas menos favorecidas financeiramente. Existem muitas formas de ensinar música, muitos caminhos são possíveis para a prática musical na educação básica. Neste trabalho irei focar em um desses caminhos: o ensino coletivo de instrumentos musicais. Essa prática na escola é mais uma forma de oportunizar pessoas que não tem condições financeiras de pagar aulas de música a aprender um instrumento musical. A princípio parece ser algo difícil de acontecer quando analisamos a quantidade de alunos por turma, a falta de estrutura das escolas públicas brasileiras, de forma geral, a necessidade da aquisição de instrumentos musicais e principalmente a metodologia de ensino. 1 I Congresso Nacional de Educação Musical da UEFS 3 a 5 de outubro de 2012, Feira de Santana, Campus Universitário

Reconheço as dificuldades e utopia desta proposta no contexto educacional brasileiro da atualidade, mas as iniciativas de sucesso me animam a pensar na possibilidade de se concretizar um ensino musical de instrumentos, de forma coletiva, na escola regular. (TOURINHO, 2004, p.5)

Essas variáveis já foram solucionadas em outros espaços, como filarmônicas, fanfarras e projetos sociais, agora é a vez da escola. Quanto à quantidade de alunos por turma, existem vários métodos de ensino coletivo de instrumentos musicais e autores que evidenciam a possibilidade do ensino de instrumentos em grupo, dentre eles: Cristina Tourinho, Joel Barbosa, E. L. Lancaster, Flavia Cruvinel entre outros. O ensino coletivo de instrumentos musicais é uma realidade nos dias atuais e cabe aos educadores interessados buscar e desenvolver metodologias de ensino que englobe um maior número de alunos nas turmas de ensino instrumentos. A falta de estrutura das escolas brasileiras não é só para música, é para matemática, física, química, geografia, história, português, inglês, educação física e todas as disciplinas da matriz curricular. Nós educadores precisamos batalhar pela melhoria das condições de ensino, mas enquanto isso não acontece precisamos trabalhar com a nossa escola real na busca de construir uma escola ideal. Segundo Flavia Cruvinel os conceitos, as concepções e as metodologias necessitam de pesquisas e discussões para maior aprofundamento sobre a temática, bem como, produção de conhecimento. A aula de música precisa ser dinâmica, viva, não pode haver espaços “em branco”, o professor precisa ser assíduo, pontual, exigente, flexível... um super-professor! Precisa ser competente para conferir autonomia e possibilidade de participação ao estudante, e ainda assim manter o controle da classe. (TOURINHO, 2004, p.4) O super-professor precisa de metodologia, planejamento e técnica, dessa forma é possível lecionar usando o mínimo de recursos, assim como os professores de outras disciplinas fazem, claro que não é o ideal, mas precisamos começar. A aquisição de instrumentos musicais não seria tarefa difícil para o governo, visto que, existem fábricas brasileiras construindo bons instrumentos, são possíveis inúmeros acordos entre o governo e a iniciativa privada, ainda mais sabendo da quantidade de impostos que essas fábricas pagam para o nosso país. Os instrumentos na maioria dos casos são mais

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baratos do que os recursos tecnológicos que são adquiridos para as escolas, recursos esses, que muitas vezes não são utilizados por falta de treinamento dos profissionais. Quanto à metodologia de ensino, cabe dos educadores se interessarem por essa área e desenvolver pesquisas que apoiem essa prática nas escolas. O ensino do instrumento musical não é o foco da música na escola, e não deve ser. Não proponho formar instrumentistas, o que defendo é uma experiência musical rica através de um instrumento. Ensino coletivo na escola regular deve ter em mente não a formação do músico com as funções específicas do instrumentista, mas da possibilidade de oferecer um fazer musical concreto, que vá ao encontro da expectativa da maioria dos estudantes, que quer manipular um instrumento. (TOURINHO, 2004, p.6) Os alunos da educação básica devem ter um programa de educação musical abrangente. Um currículo que aborde a vivencia musical de inúmeras formas, desde a musicalização através do corpo, da voz, de atividades lúdicas, passando pela alfabetização musical, pelo aprendizado de instrumentos musicais até a prática de tocar em grupo, seja esse: bandas populares, filarmônicas, orquestras de violões, orquestras sinfônicas, orquestras de cordas, grupos de sopros e etc. Existem experiências bem sucedidas no ensino de instrumentos musicais na educação básica, entre elas destaca-se: o Colégio Adventista de Salvador, com ensino de inúmeros instrumentos musicais para seus alunos do ensino fundamental dois; a Escola Girassol, também em Salvador, com ensino de violão, violino e flauta doce para seus alunos do 4º e 5º ano do ensino fundamental; o colégio de ensino médio Deputado Manuel Novaes, com propostas de oficinas de música, além do curso técnico em música. O processo de musicalização é importante para formação do ser musical do individuo, é fato que as pessoas que passam por um processo de musicalização têm grande facilidade na hora de aprender um instrumento. Musicalizar é desenvolver os instrumentos de percepção necessários para que o indivíduo possa ser sensível a musica, apreendê-la, recebendo o material sonoro/musical como significativo. Pois nada é significativo no vazio, mas apenas quando relacionado e articulado ao quadro das experiências acumuladas, quando compatível com os esquemas de percepção desenvolvidos. (PENNA, 2008, p.33) 3 I Congresso Nacional de Educação Musical da UEFS 3 a 5 de outubro de 2012, Feira de Santana, Campus Universitário

A musicalização é essencial para desenvolver os instrumentos necessários para a sensibilidade musical do indivíduo, porém, os alunos não devem passar toda educação básica sendo musicalizados. É importante que o currículo de música faça sentido, que tenha um caminho gradativo. Se o indivíduo começa por um processo de musicalização, uma vivência musical de varias formas e depois caminha para um período de experimentações sonoras, passando por uma alfabetização musical, e depois são direcionados ao aprendizado de um instrumento, nesse caso podemos ver um caminho que faz sentido, sem uma eterna repetição de ações que parecem não fazer sentido para os alunos. É nesse espaço que vejo o ensino de instrumentos musicais inseridos na educação básica, uma forma de aplicar os conceitos e vivencias prévias. É de extrema importância que os educadores atentem para essa questão, o ensino de instrumentos musicais pode ser uma realidade nas escolas brasileiras e o ensino coletivo é a ferramenta ideal para essa adequação. os educadores musicais deveriam buscar viabilizar e propor políticas educacionais para a inserção do ensino coletivo de instrumento musical nas instituições de ensino formal, escolas de ensino básico e especializado e entidades de ensino não formal como as ONGs, Casas de Cultura e Projetos Sociais no sentido de defender uma escola crítica e transformadora, ligada ao esforço coletivo de democratização da sociedade (CRUVINEL, 2004, p.35, apud TEIXEIRA BARRETO, 2008, p.11). Dessa forma podemos democratizar o ensino de música e oportunizar as pessoas desfavorecidas. É mais uma forma de tonar a aula de música musical e significativa e tirar o caráter de recreação ou de brincadeiras com música do nosso espaço na escola. O ensino coletivo de instrumento musical é uma ferramenta importante para o processo de democratização do ensino da música. Nos seus diversos pólos de atuação vem obtendo resultados significativos. (TEIXEIRA BARRETO, 2008, p.11) Desta forma, existe grande possibilidade de também obter êxito na educação básica.

Ensino coletivo É importante que os educadores musicais tenham uma visão clara do que é o ensino coletivo de um instrumento musical para não alimentar um discurso errôneo dessa prática. No 4 I Congresso Nacional de Educação Musical da UEFS 3 a 5 de outubro de 2012, Feira de Santana, Campus Universitário

ensino coletivo as pessoas aprendem principalmente com as outras, através da observação e da repetição. O professor de aulas tutoriais se baseia no modelo de Conservatório e defende a atenção exclusiva ao estudante como a única forma de poder conseguir um resultado efetivo. Pode-se argumentar em favor do ensino coletivo que o aprendizado se dá pela observação e interação com outras pessoas, a exemplo de como se aprende a falar, a andar, a comer. Desenvolvem-se hábitos e comportamentos que são influenciados pelo entorno social, modelos, ídolos. (TOURINHO, 2007, p. 2) O ser humano, no processo da sua formação ao longo dos anos, aprende por observação, estímulo e repetição, é dessa forma desde a infância, estas três condições citadas junto com a interação que é desenvolvida nas turmas coletivas são facilitadores importantes no processo de aprendizagem. A concepção de ensino coletivo está aqui conceituada como transposição inata de comportamento humano de observação e imitação para o aprendizado musical. Professores de ensino coletivo levam em consideração o aprendizado dos autodidatas, que se concentram inicialmente em observar o que desejam imitar. A imitação está focada no resultado sonoro obtido e não na decodificação de símbolos musicais (TOURINHO, 2007, p.2) Considerando que muitos autores acreditam que a pratica musical deve anteceder a escrita, o ensino coletivo trás condições ideais para um fazer musical pautado na prática instrumental, através da imitação e da aprendizagem colaborativa. A troca de aprendizados, dificuldades, descobertas e dúvidas é um fator que enriquece essa modalidade de ensino, aproximando essa educação musical com a vida das pessoas, visto que essas trocas também são importantes na sociedade como um todo desde a escola até o mercado de trabalho. Conclusão Diante das reflexões acima apresentadas concluo convidando os educadores musicais que atuam ou pensam em atuar na escola a refletir sobre essa possibilidade real de ensino. É fácil perceber que o objetivo primeiro de quem vai a uma aula de música é cantar ou tocar um instrumento, basta fazer essa pergunta aos alunos no primeiro dia de aula, diante disso, vejo 5 I Congresso Nacional de Educação Musical da UEFS 3 a 5 de outubro de 2012, Feira de Santana, Campus Universitário

essa possibilidade de ensino como um caminho que pode dar certo. É preciso que nós educadores caminhemos metodologicamente para esse fim, buscando sempre um caminho onde os processos sejam valorizados, pois é nesse lugar que o aprendizado é moldado verdadeiramente.

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Referencias TEIXEIRA BARRETO, M. S. Ensino Coletivo de Violão: Diferentes Escritas no Aprendizado de Iniciantes. 2008. Monografia de fim de curso de Licenciatura em Música – Instituto Villa-Lobos, Centro de Letras e Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. TOURINHO, C. Reflexões sobre o ensino coletivo de instrumentos na escola. I ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTO MUSICAL. Escola de Música e Artes Cênicas/UFG/Campus II. GOIÂNIA – GOIÁS. 01 a 04 de dezembro de 2004. TOURINHO, Cristina. Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais: crenças, mitos, princípios e um pouco de história. 2007 Disponível em: http://www.abemeducacaomusical.org.br/Masters/anais2007/Data/html/pdf/art_e/Ensino%20 Coletivo%20de%20Instrumentos%20Musicais%20Ana%20Tourinho.pdf acesso em: 11/ 08/ 2012 CRUVINEL, Flavia Maria. O Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais na Educação Básica: compromisso com a escola a partir de propostas significativas de Ensino Musical. Disponível em: http://paginas.ufrgs.br/musicalidade/ovas/praticasmusicais/praticasinstrumentais/Ensino%20Coletivo%20de%20Instr%20Musical%20na%20Es cola.pdf acesso em: 11/ 08/ 2012. PENNA, M. Música(s) e seu ensino. Porto Alegre. Editora Sulina. 2ª edição revista e ampliada. 2010

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