Ensino e Aprendizagem: Adquirindo uma Segunda Língua

Share Embed


Descrição do Produto

Ensino e Aprendizagem: Adquirindo uma Segunda Língua


RESUMO: A linguagem é o meio de convivência do ser humano em sociedade, sem ela essa convivência não seria viável. Sua aquisição é um questionamento que acompanha a evolução do ser humano e está diretamente ligada à predisposição que o homem tem para essa aquisição. A aquisição de uma língua estrangeira é um processo complexo e precisa de auxílio. Assim como um bebê constrói seu vocabulário em sua língua materna, se inicia aquisição da língua estrangeira. O vocabulário é o início do processo. A aquisição do vocabulário na língua alvo é um processo que pode ser facilitado quando utilizamos os sentidos como audição e visão. Pensando nisso o método Audiovisual é apresentado como um facilitador nesse início, complexo, do processo.

PALAVRAS - CHAVES: Aquisição de Vocabulário; Método Audiovisual; Aquisição da linguagem.

Teaching and Learning : Acquiring a Second Language

ABSTRACT: The language is the way of human to communicate in society, without this communication society would not be viable. The acquisition of the language is a questioning that follows the evolution of the human being, as the predisposition that the man has for this acquisition. The acquisition of a foreign language is a complex process and need a lot of afford to happen. The same way as a baby constructs his/hers vocabulary, the acquisition of a foreign language is initiated. The vocabulary is the beginning of the process. The acquisition of the vocabulary in the target language is a process that can be facilitated when is used the Audiovisual method - facilitator in the beginning of this complex process.

KEY WORDS: Acquisition of the language; Acquisition of Vocabulary; Learning Methods.

INTRODUÇÃO

O objeto de reflexão desse artigo foi o processo de ensino-aprendizagem da
Segunda Língua (língua não-materna). E até onde o quesito tempo e métodos podem influenciar no processo de ensino aprendizagem da Língua Estrangeira, principalmente no desenvolvimento habilidades comunicativas (ouvir/falar/ler/escrever). E de que forma os professores de Línguas Estrangeiras e alunos desse idioma vêem esta questão.

Reflete-se sobre a dificuldade encontrada de ensino-aprendizagem da língua estrangeira (LE) e os diversos métodos desenvolvidos com o intuito de facilitar esse aprendizado já que é evidente que a aprendizagem de LE necessita de alguns esforços. Como afirma Jacobs (1999, p.8) "aprender um idioma estrangeiro é tarefa árdua e exige muito mais do que um simples contato com um montão de regras. É preciso se posicionar diante desse desafio."

A aquisição de uma língua estrangeira é um processo complexo e que apresenta muitas etapas. Essa complexidade se dá, pois o processo de aquisição da linguagem em si ainda é alvo de pesquisas devido sua importância para a vida do ser humano. O homem quando avaliado como animal social demonstra sua necessidade de conviver em sociedade, e a linguagem faz parte de sua natureza como mediadora dessa convivência, "a natureza social do homem se manifesta na linguagem, no dizer ou no logos [...] O homem é o único animal que fala, e o falar é função social" (Marías 2004, 91). Na aquisição de uma língua estrangeira, o homem mais uma vez busca a convivência em sociedade, agora com uma abrangência maior. Essa aquisição também acontece de forma complexa. Os métodos eficazes são testados em busca da plena aquisição da língua estrangeira.

Dentre os métodos existentes na aquisição da língua estrangeira, a pesquisa destaca o método Audiovisual – eficaz ou não na aquisição de vocabulário por alunos iniciantes. Esse questionamento acontece com base no ser humano ainda bebê que utiliza seus sentidos como audição e visão para construir seu vocabulário na língua materna. O objetivo do artigo é esclarecer que a repetição desse processo será o meio eficaz para a aquisição de vocabulário para alunos iniciantes. Ou seja, o artigo busca destacar a necessidade da convivência humana no meio social e que o ser humano apresenta uma predisposição para a aquisição da linguagem. Em seguida analisar como se dá a aquisição do vocabulário na língua estrangeira, onde os níveis de proficiência serão apresentados com destaque aos níveis iniciantes. No final do artigo o foco principal será o método Audiovisual, que consiste em um método eficaz na aquisição de vocabulário para alunos iniciantes no aprendizado da língua estrangeira.

Esse artigo pode servir de base para professores e alunos no processo de aquisição de língua estrangeira. Os tópicos abordados poderão oferecer uma orientação e base para que técnicas de ensino sejam aprimoradas no intuito de criar um interesse maior por parte dos alunos e professores da área. A pesquisa acontece com base em livros lidos de autores conceituados nas áreas de lingüística e psicologia. Autores como Chomsky e Saussure e suas obras direcionaram a pesquisa para que seus objetivos fossem alcançados.

Busca-se saber se a questão do tempo pode ser o único fator que impossibilita o desenvolvimento das habilidades no processo de ensino aprendizagem de língua estrangeira; investigar até que ponto o quesito tempo pode influenciar no processo de ensino-aprendizagem de LE e, também, comparar a influência real da carga-horária no processo de ensino-aprendizagem de LE com a influência de outros fatores como: cultura, classe social, investimentos, extra escolares, relacionamentos etc. Partindo do principio de que o ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras é uma das áreas de maior crescimento no mundo, por isso a existência da necessidade de pesquisas voltadas para essa área, principalmente no que se refere à formação de professores de LE. Já que a formação de professores é um dos assuntos mais debatidos no âmbito das Faculdades de Letras, institutos de formação e outras instituições.

Buscamos, assim, compreender porque que as instituições de ensino não dão valor e atenção necessários, ao ensino de LE e quais as conseqüências para a sociedade. Para isso, esse trabalho teve como ponto inicial a realidade dos cursos de Idiomas, sob uma perspectiva histórico-dialética, para reconhecer o caráter de construção do conhecimento na realidade da sociedade.

Para o desenvolvimento desse artigo foi utilizado: análise documental, levantamento e leitura bibliográfica. E para a coleta de dados foram utilizados, questionários dirigidos a professores e alunos de cursos de idiomas para Estrangeiros dentro e fora do Brasil.

1.Teorias de Aquisição da Linguagem

A definição de linguagem pode ser encontrada em vários livros. A definição a seguir, lançou ao ser publicada o movimento conhecido como Gramática Transformacional, "Doravante considerarei uma língua(gem) como um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elementos." Tal definição foi extraída de Syntactic Structures de Chomsky(1957:13). Chomsky enfatiza em seus trabalhos que as estruturas da linguagem são de tal forma abstratas e que uma criança não aprenderia do nada. Ele acredita que de alguma forma seriam conhecidas pela criança e utilizadas no processo de aquisição da linguagem.

Dentre as definições existentes, podemos citar, também: "A linguagem é ao mesmo tempo física, fisiológica, psíquica e de domínio social e se configura no único modo de ser do pensamento, ou seja, sua matéria no plano do conteúdo, e realidade do pensamento (...), o próprio elemento da comunicação e sua realização no plano da expressão." (Saussure, 1975, p.81). Diferente de Chomsky, Saussure não analisa a linguagem como fruto de um meio coletivo. Assim como existem diferenças nas definições de linguagem, encontramos também teorias de aquisição da linguagem que defendem suas visões para essa habilidade humana.

Ao analisarmos a teoria de aquisição da linguagem que é proposta pelo behaviorismo entendemos que a linguagem é aprendida através da observação. Ao questionar como uma criança aprende a falar em qualquer língua surge essa teoria, que durante os anos 50, atendeu de forma satisfatória os questionamentos. Isso acontece em um tempo em que a psicologia comportamentalista se destacava. Essa teoria via a criança como uma tábua rasa e que através de suas experiências ocorreria à aprendizagem. A criança, de acordo com o empirismo, seria passiva no processo de aquisição da linguagem, e seriam fundamentais os estímulos externos. O behaviorismo foi questionado até que na metade do século XX Chomsky derrubou e lançou o inatismo. Não podemos deixar de observar que o behaviorismo possibilitou o desenvolvimento de outras teorias que revolucionaram o mundo das ciências da comunicação.

Noam Chomsky explica as qualidades criativas da criança no processo de aquisição da linguagem. Para Chomsky o ser humano já nasce com uma gramática inata e no decorrer do seu desenvolvimento vai tomando forma. Para esse lingüista, o indivíduo já apresenta uma capacidade de compreender, produzir e reconhecer as estruturas de uma língua. Dessa forma, não seria pela imitação, mas seria partir do momento que incorpora novos modelos para sua língua é que incorpora como modelo estruturas da língua mãe. Tudo isso acontece, pois a criança nasce com um dispositivo de aprendizagem que é ativado e que tem como resultado a língua a qual a criança está exposta. Toda essa construção acontece, pois essa gramática inata a qual nasce com o indivíduo contém as regras de todas as línguas.

2. Ensino-aprendizagem da Língua

O ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras tem crescido muito no mundo, ultimamente, por causa da necessidade de se aprender outros idiomas. O grande crescimento econômico do ensino de LE, que vem acontecendo tem aumentados o número de pesquisas na área.

2.1 Um olhar Vygotskyano sobre o processo de ensino e aprendizagem

A aprendizagem de LE é um processo formado por diversas variáveis. Algumas
delas são: questões voltadas para a metodologia e para recursos instrucionais, as
diferenças individuais dos aprendizes (aptidão, estilo cognitivo...), o contexto da
aprendizagem, características dos professores, aspectos relativos à língua em questão... O ensino da língua estrangeira implica, na compreensão da linguagem, a partir
de conhecimentos necessários para utilização da LE e do uso dos mesmos
para a construção de significados.

Dessa forma, analisaremos brevemente o estudo das definições de linguagem, mediação e aprendizagem, sob a ótica do autor soviético Lev Semenovich Vygotsky. Segundo Rego (2002), Vygotsky foi um dos teóricos que buscou uma alternativa dentro do materialismo dialético para o conflito entre as concepções idealista e mecanicista na Psicologia. Ao lado de seus colaboradores, Luria e Leontiev construíram propostas teóricas sobre temas como relação pensamento e linguagem, natureza do processo de desenvolvimento da criança e o papel da instrução no desenvolvimento da criança.

Uma questão básica do trabalho de Vygotsky é que as origens comportamento consciente superiores – pensamento, atenção, memória... – que diferenciam o homem de outros animais, são achados nas relações mantidas pelo indivíduo. De acordo com Rego (2002), Para Vygotsky, a cultura molda o funcionamento psicológico do homem. Na relação do homem com o mundo, o homem cria as formas de ação que o diferenciam de outros animais. Dessa maneira, segundo a teoria Vygotskyana, o cérebro é um sistema aberto, onde a estrutura e formas de funcionamento são moldadas ao longo da história da espécie e do desenvolvimento do individuo.

O desenvolvimento acontece de maneira dinâmica através de quebras e desequilíbrios provocadores de contínuas reorganizações, com relação ao indivíduo relaciona-se ao contexto sócio-cultural onde a pessoa está inserida e as interações com o grupo social e com objetos de sua cultura passam a governar o comportamento e o desenvolvimento do pensamento do indivíduo (Rego, 2002 p.58). Em outras palavras, o homem internaliza os modos determinados ao longo da história humana e da cultura de produzir com informações através de sistemas de representação da realidade, tendo destaque especial, a linguagem.

De acordo com Rego (2002), a teoria Vygotskyana expõe que a cultura forma
parte da natureza humana, por isso propõe estudar as mudanças que acontecem no
desenvolvimento mental, partindo da inserção do sujeito em um determinado contexto
cultural, a partir da interação com os membros do seu grupo e de suas práticas sociais.
As atenções se voltam para as mediações, que são os conjuntos de influencias que dispõem o processo de aprendizagem e seus resultados, que surgem tanto da mente do sujeito como de seu contexto sócio-econômico, cultura e étnico.

Vygotsky citado por Rego (2002) considera que "a linguagem é um signo mediador por excelência, visto que ela carrega em si os conceitos generalizados e elaborados pela
cultura humana". (Vygotsky apud Rego, 2002 p.42)

A teoria de Vygotsky reforça ainda que a linguagem é um "sistema simbólico
fundamenta em todos os grupos humanos" (Rego, 2002 p. 55). É a linguagem que
propicia ao homem, formas de lidar com objetos do mundo exterior. Dessa maneira, permite a comunicação entre indivíduos e, conseqüentemente, através dessa interação, possibilita o desenvolvimento do indivíduo. Então o uso da linguagem é, determinado pela natureza sócio-interacional, uma vez que quem a usa considera as pessoas envolvidas no processo de interação, atuando socialmente em um determinado momento e espaço. Como previamente mencionado, Vygotsky citado por Rego (2002) afirma que "o desenvolvimento está relacionado ao contexto sócio-cultural em que o indivíduo está inserido", e ainda, "o desenvolvimento se realiza de forma dinâmica através de rupturas e desequilíbrios que, por sua vez, provocam contínuas reorganizações por parte do homem". (Vygotsky apud Rego, 2002 p.58).

Entende-se que "o desenvolvimento do psiquismo humano é mediado pelo outro" (Rego, 2002 p. 60). A teoria Vygotskyana considera o aprendizado com um aspecto necessário e fundamental no processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores. "O aprendizado possibilita e mobiliza o processo de desenvolvimento". E ainda, "o aprendizado constitui-se como necessário e universal para o desenvolvimento humano" (Rego, 2002 p.71). Retomando o assunto sobre a linguagem, observa-se que "a linguagem está ligada à função de comunicação entre os homens, garantindo a preservação, transmissão e assimilação de informações e experiências acumuladas pela humanidade ao longo da história" (Rego, 2002 p.53). Contata-se dessa forma a importância do estudo sobre a aquisição da linguagem, já que há a necessidade cada vez maior de se aprender outros idiomas para, dessa maneira, atender às exigências de uma sociedade globalizada, onde a habilidade lingüística é de extrema importância, tendo em vista a comunicação humana, e a preservação, transmissão e assimilação de informações, como mencionado anteriormente.

2.2 A Aprendizagem de LE com foco nas Quatro Habilidades Comunicativas

Levando em conta que o ensino de LE, vem crescendo no mundo globalizado, o aprendiz deve estar apto para se comunicar no meio globalizado dominando as, quatro habilidades comunicativas (ouvir/falar/ler/escrever), visando atender o ideário do modelo econômico capitalista. Como afirma Vygotsky (apud, Rego, 2002 p.53), "a linguagem é um sistema de signos que possibilita o intercâmbio social entre os indivíduos". Segundo Perrenoud (1997, p.7): "o conhecimento é gerado a partir da ação". Ou seja, os conhecimentos são "representações da realidade, que construímos e armazenamos ao sabor da nossa experiência e formação". Assim, no espaço da sala de aula, a LE deve ser vivenciada por crianças, jovens e adultos num contexto real de relação entre eles e as pessoas, as coisas e os acontecimentos de seu mundo verdadeiro e não fictício.

Existem outros elementos, além dos valores sociais, que influenciam o processo de
ensinar/aprender. O aprendizado é caracterizado pelas maneiras de estudar, de se preparar para o uso, e pelo uso real da língua, que o aluno tem como normais. Conforme Almeida Filho (1998, p.13), "os alunos recorrem às maneiras de aprender típicas da sua região, etnia, classe social e ate do grupo familiar". "Aprender uma língua, sob esse ponto de vista, é aprender a significar nessa nova língua e isso envolve entrar em relações com outros numa busca de experiências profundas, validas, pessoalmente relevantes, capacitadoras de novas compreensões e mobilizadoras para ações subjetivas. Aprender L.E., é crescer numa matriz de relações interativas na língua-alvo que gradualmente se desestrangeiriza para quem a aprende" (Almeida Filho 1993, p.15).

Conclui-se que , ensinar e aprender uma LE implica uma visão condensada e contraditória de homem, da linguagem, da formação do ser humano crescentemente humanizado. Visão essa enquadrada por afinidades específicas do professor, no sentido de ensinar e do aluno no sentido de aprender. Dessas configurações de efetividades podem surgir motivação ou resistência variadas.

2.3 O papel do professor: A motivação

Na teoria de Vygotsky, um dos princípios básicos é o conceito de zona de desenvolvimento proximal. Segundo Schütz (2004) a teoria Vygotskyana define Zona de desenvolvimento proximal como a representação da diferença entre a capacidade da criança de resolver problemas por si só e a capacidade de resolvê-los com assistência de alguém. Ou seja, haveria uma zona de desenvolvimento auto-suficiente e uma Zona de desenvolvimento proximal. A idéia de zona de desenvolvimento proximal é de grande relevância em todas as áreas educacionais. Schütz (2004) afirma que: A teoria de Vygotsky (sócio-interacionista), ao explicar o desenvolvimento da fala e o cognitivo do ser humano, serve como base das recentes tendências na lingüística aplicada em direção a metodologias de ensino de línguas estrangeiras menos planificadas e mais naturais e humanas, mais comunicativas e baseadas na experiência prática em ambientes multiculturais de convívio. (Schütz, 2004 p. 4)

No caso de aprendizado de línguas, a autenticidade do ambiente e o grau de afinidade entre seus integrantes são elementos importantíssimos para que o aprendiz sinta-se parte desse ambiente, características que raramente predominam em salas de aula convencionais. Por tanto, articulando os pressupostos vygotskyanos com a formação educacional escolar, formal, a ação do professor se torna ainda mais insubstituível e de extrema importância. O papel de mediador do professor, entre o senso comum do aluno e o saber cientifico é fundamental para que o aluno possa construir um conhecimento elaborado e significativo da realidade. Quando o professor estabelece um ambiente na sala de aula onde a integridade, opinião, o sentido e as atitudes emotivas dos alunos são respeitados, os meios de aprendizagem se tornam mais acessíveis. O professor deve ter confiança no fato de que no ambiente que ele criou aconteceu um tipo de aprendizagem, e que essa aprendizagem é significativa tanto para o professor quanto para os alunos. Visto que, o ensino/aprendizagem de línguas se situa dentro de um processo de socialização, onde o desenvolvimento de atividades, tarefas, papéis e identidades, são resultantes da iniciação cultural dos aprendizes na sociedade em que vivem.

De acordo com Barcelos (1995) a falta de entendimento da aprendizagem pode causar muitos problemas. "Pois, os professores falham em perceber que as ações dos alunos são geradas interacionalmente e o que poderia ser visto como um fenômeno de interação entre professores e alunos é denominado institucionalmente como falha dos alunos" (Barcelos, 1995 p.40). Quer dizer, o aluno traz consigo uma abordagem de aprender, que pode contrastar com a abordagem de ensinar do professor. Este contraste de cultura de ensinar e aprender pode gerar conflitos que, impedem o processo de interação aluno/professor, impedindo o processo de ensino-aprendizagem. Sobre isso, Erickson (1986) também, diz que: ...tanto professores como alunos se esquecem de que o ambiente de aprendizagem e a interação em sala de aula envolve o uso de significados aprendidos e compartilhados numa determinada sociedade. Essas premissas estão baseadas nas visões comuns de determinada sociedade sobre ensino aprendizagem de um modo geral (1986, p.123).

O ensino de LE não é um território neutro do saber, mas pode representar um campo fértil de atuação crítica e democratizante. Visto que, é a área que permite ao aluno o contato com outras culturas, o que é uma abertura importante para o acesso ao conhecimento universal acumulado pela humanidade.

A aprendizagem de LE pode ser considerada como um caminho para a tomada de
consciência do aprendiz como ser humano e cidadão. Desta forma, esta deve concentrar-se na capacidade de inter-relacionar os alunos no discurso de forma sócio-interacional; mas para que isto ocorra, é importante que o seu ensino esteja baseado na função social desse conhecimento na sociedade e que haja a extensão deste ensino.

2.4 O ensino de LE e a democratização de conhecimento bilíngüe

A avaliação da aquisição de linguagem bilíngüe deve ter como ponto de referência um padrão bilíngüe. Deve-se reconhecer no entanto que, devido ao incentivo e a valorização do bilingüismo serem, de certa forma, recentes, um problema ainda encontrado é a falta de estudos sobre padrões de aquisição bilíngüe. No caso do Português, em particular, a literatura sobre aquisição bilíngüe que envolve o Português como um de seus pares é bastante escassa.

Mesmo assim, é simples compreendermos que bilíngües vão cometer erros diferentes de monolíngües por estarem imersos em um processo diferente. Para Jackson-Maldonado (2004), o fato de os erros serem diferentes não significa que constituam um problema de linguagem. O autor afirma que muitos erros têm sido considerados como um sinal de distúrbio de linguagem quando deveriam ser vistos como uma manifestação do processo normal de aquisição bilíngüe. A idéia geral é de que seria "ingênuo" esperar que o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem bilíngüe seguisse o mesmo percurso que de crianças monolíngües. Assim, podemos perceber como que a comparação "monolíngües vs bilíngües" deve ser sempre feita com muito cuidado, buscando o entendimento de características de cada um desses processos, sempre deslocando e desestabilizando o monolinguismo do posto de norma ou referência para a aquisição da linguagem. O acesso ao conhecimento torna-se uma das maiores exigências na área da cidadania. O acesso às línguas estrangeiras ocupa lugar importante nesse processo. É proposto então, que o ensino de LE tenha um papel democratizante e equalizador das oportunidades sociais e não discriminador. Nesse sentido, o ensino de LE seria um instrumento de educação, voltado para um "saber global" que contribua na construção do aluno como agente de seu processo de aprendizagem.

A democratização do acesso à LE está ligada ao tema de diversidade cultural que tem se tornado cada vez mais importante na atualidade. Os conflitos étnicos e a criação de práticas racistas vindas de preconceitos, estereótipos, incapacidade de compreender a dinâmica diferenciada das diversas culturas dos povos e a intolerância cultural, são claramente notórios. No entanto, a oferta de opções não resolve o problema da democratização de acesso à LE. É preciso atentar para processos de construção do conhecimento nessa área. De acordo com, Bohn (1978, p. 294) este "deve emergir da própria natureza da ação educativa". Desse modo, a metodologia em LE deve ser o resultado de um processo de negociação entre todos os envolvidos no processo educativo.

O domínio de LE - o domínio das quatro habilidades comunicativas: (ouvir/falar/ler/escrever) - auxilia o aprendiz em seu processo de auto afirmação ou afirmação de auto-estima e à superação do sentimento de "impotência" que geralmente assalta os indivíduos das classes populares nos processos educativos. Daí a importância de projetos que implantem a ampliação do ensino de LE a uma maior parcela da população.

2.5 O Processo de ensino-aprendizagem

O processo de ensino e aprendizagem de LE deve estar pautado no desenvolvimento de habilidades comunicativas, as quais se referem á utilização da capacidade do indivíduo de se expressar de forma escrita e oral com a intenção de estabelecer algum tipo de comunicação, representando um papel importante na vida do aprendiz, visto que esse se encontra inserido em um mundo onde a comunicação global é indispensável. Nesse sentido, procuramos investigar como se dá esse processo de ensino-aprendizagem de LE e como professores e alunos vêem esse processo. A seguir faremos a descrição da metodologia e do método utilizado para tal investigação.

2.6 O Desenvolvimento das Habilidades Comunicativas

Percebe-se que no ensino dentro de sala de aula, a aplicação do método de abordagem comunicativa, para o desenvolvimento das habilidades comunicativas, é pouco viável. A aprendizagem de uma nova língua precisaria se dar numa matriz comunicativa de interação social. Codificar e decodificar informações como num jogo de espelho seria por demais redutivo e insuficiente. Os participantes da interação social são sujeitos históricos cujas trajetórias se aliam a capacidades intrínsecas distintas para modular a construção de discurso, geralmente num processo de negociação cujo objetivo é alcançar a compreensão mútua. Por isso numa fase inicial de aprendizagem de uma nova língua predomina a busca de redução de incertezas especialmente quando os interlocutores são relativamente desconhecidos um do outro. (Almeida Filho1998, p. 8). E ainda baseando na afirmação de Almeida Filho, compreende-se a não aplicação da abordagem comunicativa, ou seja, o ensino da gramática ou de estruturas gramaticais não proporcionam aos aprendizes a interação comunicativa.

2.7 A Importância das Línguas Estrangeiras na Educação

As Línguas Estrangeiras modernas recuperam a importância que durante muito tempo lhes foi negada. Sendo consideradas muitas vezes, como disciplinas pouco relevantes, agora elas adquirem a configuração de disciplina tão importante como qualquer outra do currículo, do ponto de vista do indivíduo. As Línguas Estrangeiras, integradas á Linguagem e as Tecnologias Modernas, assumem a condição de serem parte inseparável do conjunto de conhecimentos essenciais que permitem ao aprendiz aproximar-se de várias culturas e, conseqüentemente, propiciam sua integração em um mundo globalizado, podendo este estabelecer comunicação tanto oral como escrita, de acordo com o que rege o desenvolvimento das habilidades comunicativas. As discussões referentes á importância de se aprender LE volvem há vários séculos. Em alguns momentos da história do ensino de idiomas, o conhecimento do latim e do grego foi muito valorizado, enquanto que, em outras épocas privilegiou-se o estudo das línguas modernas.

Hoje, a Língua Portuguesa é quinto idioma mais usado na internet, segundo UIT (União Internacional de Telecomunicações) ficando atrás do inglês, do chinês, do espanhol e do japonês. A pesquisa traz informações referentes ao ano de 2011. De acordo a UIT, mais de 82,5 milhões de pessoas utilizam a língua portuguesa para se comunicar e navegar pela web. Segundo a UIT, o crescimento do português se deve à expansão da internet no Brasil nos últimos dez anos.

Segundo os dados da UIT, o crescimento do português na internet no período entre 2000 e 2011 foi 990,1%, o quarto maior crescimento entre as dez línguas mais utilizadas na web. O árabe teve o maior crescimento (2.501%) seguido pelo russo (1.825%) e pelo chinês (1.478%). O menor crescimento foi registrado pelo inglês, que teve um aumento de 1,4% entre os usuários que falam o idioma. Em geral, a internet cresceu 481,7% no período e é acessada por 2,099 bilhões de pessoas.

Apesar do baixo crescimento, o inglês permanece em primeiro lugar como a língua mais usada na internet há mais de dez anos, com 565 milhões de usuários (26,8% do total), mas o seu domínio está ameaçado pela língua chinesa, utilizada por 510 milhões (24,2%). Em terceiro lugar está o espanhol, com 165 milhões (7,8%). Línguas com muitos usuários fornecem mercado maior para bens culturais. O crescimento sustentado da última década fez do gigante da língua portuguesa saltar aos olhos globais.

2.8 A Língua Portuguesa
Um estudo da Apex (Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos) de 2009 mostra que os negócios realizados em língua portuguesa cresceram 534% nos cinco anos anteriores.
- Uma língua não pode ser mais forte que os países que a sustêm. Na medida em que os países crescerem em importância no palco mundial, também o português crescerá - reforça João Caetano, professor da Universidade Aberta e doutor em Ciência Política.

Quanto maior o número de falantes, nativos ou não, maior a recompensa por dominar a língua, assim como o poder de compra dos usuários. Segundo Mário Silva, do Camões, investigadores reconhecem que, no futuro, o peso de uma língua deverá ser avaliado principalmente pela força da economia, do progresso científico, da qualidade institucional e não apenas pelo número de falantes. 

Até esse momento, o Brasil é o maior embaixador do idioma. Dos mais de 249 milhões de falantes do português que moram em países lusófonos, 77% são do Brasil, segundo o Banco Mundial. Os dados colocam nossa língua em 5a posição de mais falada no mundo, mas o que tem feito crescer o português aos olhos dos estrangeiros é o destaque político, econômico e cultural que a comunidade de países de língua portuguesa, em especial o Brasil, vem recebendo nos últimos anos. 

Com o aumento das exportações brasileiras e das parcerias comerciais estabelecidas com o país, cresce o interesse pela língua falada no Brasil. Todos os falantes do português ganham com isso, defende Mônica Villela, doutoranda de Ciências Políticas que estuda as novas relações de poder entre os países de língua portuguesa com base no processo de internacionalização do idioma. 
- Empresários da União Européia que queiram aprender português para fazer negócios com o Brasil tenderão a fazer um curso de imersão na língua portuguesa em Portugal por estar mais perto geograficamente - avalia Mônica. 

O fato é que a retomada do fôlego econômico do país estimulou o relacionamento de empresas em seu próprio idioma. No universo das corporações, não vale mais a atenção exclusiva dada ao domínio do inglês. Uma das virtudes da internet para a língua portuguesa foi o feito de unir, pela rede, os milhões de falantes dos países lusófonos espalhados pelo globo. Com essa união, o idioma ganhou força - e valor no mundo virtual. De 7a língua mais falada na web em 2007, o português é hoje a 5a, ficando atrás apenas do inglês, chinês, espanhol e japonês, que, com exceção do Japão, possuem muito mais falantes do que os países da CPLP.
 
O Instituto Camões aponta também que o português se tornou a 9ª língua em produção de conteúdos na internet em 2011. Mário Silva observa que, tendo em vista que o crescimento da língua portuguesa na internet na última década "foi monstruoso", não podemos considerar essas estatísticas pequenas. 

Outro fato que deu destaque para o português na web é o uso maciço das redes sociais no Brasil, país onde sites de relacionamento fazem grande sucesso (86% dos internautas brasileiros acessam esses sites, segundo pesquisa de 2010 da Nielsen). O Brasil alavancou o português como a 3a língua mais falada nessa rede mundial de microblogs, com 9%, atrás do inglês e do japonês.

- Outro ponto a avaliar está nos interesses econômico-financeiros das empresas de todas as partes do mundo no português e que se fazem presentes, de algum modo, na internet - pontua Regina Pires de Brito, professora da pós-graduação em letras do Núcleo de Estudos Lusófonos da Universidade Mackenzie.

A circulação da palavra impressa no idioma também se valorizou no Brasil. Enquanto o mundo vive enxugamento das versões impressas de jornais e revistas, no Brasil aumentou. Em 2010, segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC), houve aumento de 2% de exemplares diários vendidos em relação a 2009. E aumento de 5,1% da venda de exemplares de revistas no primeiro semestre de 2011. No mercado editorial, os números também subiram. O Censo do Livro do IBGE revelou que o tamanho do mercado no Brasil, contando publicações do governo, cresceu de R$ 3,3 bilhões (2009), para R$ 4,2 bi (2010).

Os investimentos em exportação da palavra brasileira seguem a tendência de alta. Só em 2010 foram concedidas pela Fundação Biblioteca Nacional 68 bolsas de tradução de livros brasileiros para o exterior, sendo que a média anual costuma ser de 20. Os autores brasileiros são traduzidos hoje para mais de 17 países. Foi assim que, por exemplo, norte-americanos como Woody Allen e Benjamin Moser tomaram contato com autores brasileiros que lhes foram decisivos na carreira, como Machado de Assis e Clarice Lispector, respectivamente. Em julho, a Fundação Biblioteca Nacional, vinculada ao Ministério da Cultura, anunciou o investimento de R$ 2,7 milhões até 2013 em bolsas de tradução, pelo Programa de Apoio à Tradução e Publicação de Autores Brasileiros no Exterior. Além disso, o Brasil foi, no fim de 2013, tema da Feira de Frankfurt, o maior evento internacional de livros do mundo, e por isso editoras européias buscam aumentar seus negócios com a contratação de obras brasileiras.

O ensino de português para estrangeiros acompanhou o maior interesse pelo Brasil e, na última década, fez com que escolas de idiomas abrissem novas classes. 
- Temos acompanhado uma crescente valorização de nosso país, da economia, e tudo isso se reflete, também, no prestígio da língua. No entanto, muitas vezes os próprios falantes nativos não percebem, ou não valorizam essa riqueza. A língua portuguesa precisa, cada vez mais, de falantes e professores especializados para o ensino - diz Susanna Florissi, diretora internacional da HUB Editorial, do grupo SBS, responsável pelo best-seller Bem-Vindo! , de português para estrangeiros, e pela comunidade "Fale Português" na internet (faleportugues.ning.com ), que tem mais de 4 mil seguidores fora do país.

Embora o Inep-MEC não informe o aumento das inscrições para a prova Cel Lep-Bras, que certifica a proficiência de estrangeiros em português no Brasil, escolas de renome como o Cel Lep e Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) garantem que a procura cresceu significativamente no Brasil. Com a agenda de eventos esportivos (Copa das Confederações de 2013, Copa de 2014, Olimpíada e Paraolimpíada de 2016), a previsão é de aumento da demanda.
- O Brasil está sendo mais procurado, as pessoas querem conhecer mais sobre esse país e o aprendizado da língua é importante, porque é a partir da língua que se aprende a cultura. Também tem muita gente que pretende fazer negócios com o Brasil, e por isso vêm fazer português - diz Lourdes Zilberberg, coordenadora do Departamento de Intercâmbio e Internacionalização da Faap. Lourdes conta que, com a vinda de muitas empresas multinacionais para o país, não só os executivos estrangeiros transferidos precisam aprender o idioma, mas seus filhos.

- Aumenta o número de universidades em quase todos os países de língua portuguesa, crescem os programas de pós-graduação, financiamentos e publicações. As bibliotecas virtuais das universidades do Brasil têm colocado as dissertações e teses gratuita e massivamente à disposição dos interessados, produzindo-se assim um círculo virtuoso entre produção e acesso que nunca tivemos e nem podíamos imaginar há quinze anos - observa Gilvan Müller de Oliveira, diretor executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) da CPLP.

A percepção hoje é a de que a língua não está ameaçada, não precisa de proteção, mas de promoção. Se a economia e a cultura do Brasil continuarem a ampliar a importância do uso do idioma, a língua portuguesa só tende a aumentar seu valor de troca na balança comercial dos idiomas. 

O ensino obrigatório do português nos currículos escolares é observado no Uruguai e na Argentina. Outros países onde o português é ensinado em escolas, ou onde seu ensino está sendo introduzido, incluem Venezuela, Zâmbia, República do Congo Senegal, Namíbia, Suazilândia, Costa do Marfim e África do Sul. No estado de Goa na Índia, atualmente o português é aprendido, no ensino oficial e particular. A Universidade de Goa tem um mestrado em Estudos Portugueses desde 1988.

Segundo estimativas da UNESCO, o português é um dos idiomas que mais crescem entre as línguas européias após o inglês e o espanhol. O português é o idioma que tem o maior potencial de crescimento como língua internacional na África Austral e na América do Sul. Espera-se que os países africanos falantes da língua portuguesa tenham uma população combinada de 83 milhões de pessoas até 2050. No total, os países de língua portuguesa terão por volta de 400 milhões de pessoas no mesmo ano.

Desde 1991, quando o Brasil assinou no mercado econômico do Mercosul com outros países sul-americanos, como Argentina, Uruguai e Paraguai, tem havido um aumento no interesse pelo estudo do português nas nações da América do Sul. O peso demográfico do Brasil no continente continuará a reforçar a presença do idioma na região.

Embora no início do século XXI, depois de Macau ter sido cedida à China, o uso de português estivesse em declínio na Ásia, está novamente se tornando uma língua relativamente popular por lá, principalmente por causa do aumento dos laços diplomáticos e financeiros chineses com os países de língua portuguesa.

2.9 A linguagem: sistema de signos

Ao se apresentar inserida na área das Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, a LE assume a função intrínseca que, por muito tempo, permaneceram camufladas: a de ser veículo fundamental na comunicação entre os homens. Pelo seu caráter simbólico, como qualquer linguagem a LE funciona como meio para se ter acesso ao conhecimento e, portanto, ás diferentes formas de pensar, criar, sentir agir e de conceber a realidade, o que propicia ao aprendiz uma formação mais abrangente e mais sólida. Nesse sentido Vygotsky citado por Rego (2002) afirma que "a linguagem é um sistema de signos que possibilita o intercâmbio social entre indivíduos que compartilhem desse sistema de representação na realidade". (Vygotsky apud Rego 2002, p. 53) Portanto é essencial compreender a presença de LE não mais como uma disciplina isolada no currículo, mas sim inserida numa área, como citado anteriormente. As relações estabelecidas entre as diversas formas de expressão e de acesso ao conhecimento justificam essa junção.

Segundo Rego (2002) a teoria Vygotskyana aponta que: As funções psicológicas superiores humanas se originam nas relações do indivíduo e seu contexto cultural e social. A cultura é parte constitutiva da natureza humana, visto que, sua cara característica psicológica se realiza através da internalização dos modos histórico e culturalmente determinados e organizados de operar informações. (Rego 2002, p.41)

De acordo com a afirmação acima, constatamos que fatores como: tempo, cultura, relação afetiva, entre outros, aspectos, podem influenciar no processo de ensino-aprendizagem de uma LE que os fatores citados acima fazem parte do processo de formação do ser humano, principalmente no que se refere ao desenvolvimento do pensamento e da linguagem.

Assim, percebe-se que as tradições e a cultura de um povo esclarecem muitos aspectos da sua forma de ver o mundo e de aproximar-se dele. Assim como, as semelhanças e diferenças entre as várias culturas, a constatação de que os fatos sempre ocorrem dentro de uma realidade pessoal e cotidiana dos aprendizes, entre outros fatores, permitem estabelecer, de forma clara, vários tipos de relações entre LE e demais disciplinas que integram a área, dando ao aprendiz a possibilidade de interagir no contexto em que ele se insere. Em uma perspectiva interdisciplinar relacionada a contextos reais, o processo de ensino-aprendizagem de LE adquire nova configuração ou requer a efetiva realização prática de alguns princípios fundamentais que ficaram apenas no papel por serem consideradas de difícil viabilização e até mesmo utópicos. Ainda que seja certo que as habilidades (ouvir, falar, ler, escrever) são importantes, parece-nos que o caráter formativo inerente á aprendizagem de LE, não pode ser ignorada.

É fundamental conferir ao ensino regular de LE um caráter que, além de direcionar o aprendiz á compreensão e produção de enunciados corretos no novo idioma, propicie a este a possibilidade de alcançar um nível de competência lingüística, que permita-lhe o acesso a informações variadas, ao mesmo tempo em que contribua para a sua formação enquanto cidadão. O foco do ensino-aprendizagem da LE deveria ser no ensino comunicativo, porém, ao observar o número de alunos e a diversidade de grau de conhecimento da turma torna-se difícil a abordagem comunicativa, por isso, escolas e cursos encontram-se mais no ensino e no estudo de estruturas gramaticais. É válido ressaltar que, como mencionado anteriormente, há a influência de outros fatores, é necessário estratégias dinâmicas e, também, alunos dinâmicos que se interessem pelas aulas e pelo uso das quatro habilidades comunicativas; o contato com o idioma deve ser desde os primeiros anos de vida do aprendiz, por fim percebe-se que para aprender uma LE é necessário ter tempo para estudar, praticar, pesquisar, buscar um curso fora da faculdade e depende, também, da qualificação do professor. Assim, percebemos que para se aprender uma LE é necessária a interação com a mesma, através da dedicação ao estudo.

3. PCN: Habilidades no ensino e aprendizagem de L. E.

O ensino de LE sempre esteve relacionado á busca de um método ideal, o qual era visto como um modelo pronto e definitivo, mas cada um era descartado para dar lugar ao outro mais atraente. Somente no fim da década de 80 métodos como: audiolingual, audiovisual, gramática e tradução, etc., passaram a ser questionados, já que se apresentavam como prescrição de expressões e estruturas gramaticais e idiomáticas, em total descontextualização e, portanto, não deixando claro aos aprendizes a sua real funcionalidade para o seu desenvolvimento sócio-cultural. Um aspecto muito relevante a considerar, diz respeito às habilidades a serem atingidas no ensino de LE. Basicamente espera-se que o aprendiz consiga escolher o registro adequado à situação na qual se processo a comunicação e o vocábulo que melhor reflita a idéia que pretende comunicar; Utilizar os mecanismos de coerência e coesão na produção oral e escrita; Utilizar as estratégias verbais e não-verbais para compensar as falhas, favorecer a efetiva comunicação e alcançar o efeito pretendido em situações de produção e leitura e ainda conhecer e usar as línguas estrangeiras e grupos sociais. Dessa maneira pretende-se levar ao aluno a entender, falar, ler e escrever esperando que, a partir disso, ele será capaz de usar o novo idioma em situações reais de comunicação.

Porém o trabalho com as habilidades lingüísticas adotadas, acaba focando nos preceitos da gramática normativa, tendo maior destaque a norma culta e a habilidade de escrita. É importante lembrar que são raras as oportunidades que o aluno tem para ouvir ou falar a LE, desse modo surge o sentimento de desmotivação, tanto por parte dos alunos, quanto por parte dos professores, visto que, o estudo abstrato do sistema sintático ou morfológico de uma LE é incapaz de despertar interesse, pois torna-se difícil relacionar tal tipo de aprendizagem com outras disciplinas do currículo, ou mesmo estabelecer a sua função em um mundo globalizado.




























1. CONCLUSÃO

Ultimamente, muitas pesquisas têm surgido no Brasil, acompanhando uma tendência mundial, de buscar maneiras de contribuir para a formação crítica e reflexiva do professor de LE. Sabe-se da necessidade de criar um ambiente onde o aprendiz entenda a importância da aprendizagem de uma segunda língua, ou seja, cabe aos professores e alunos criarem tal ambiente, já que os alunos percebem a influência da questão cultural, entre outros fatores, no cotidiano, onde vivemos em pleno processo de globalização.

A falta de tempo é um dos grandes fatores dificultam a aprendizagem a LE e para o desenvolvimento das quatro habilidades comunicativas (ler, escrever, falar, ouvir). Deste modo, os alunos admitem não dominar as habilidades comunicativas, pois só têm contato com o idioma nas aulas do curso. Percebe-se assim que existe a falta de interação entre o estudante e a "necessidade" de se aprender outro idioma. Em relação a isso, a teoria Vygotskyana afirma que: As características humanas resultam de interação dialética do homem e seu meio sócio-cultural. Da mesma forma na qual o homem transforma o seu meio a fim de atender as suas necessidades transformando-se a si mesmo. (Rego, 2002 p.41)

Dessa maneira, acredita-se que se não há interação entre o aprendiz e o meio da qual se origina a LE a ser aprendida, ou seja, se o meio não estimula o aprendiz a se interessar pela LE é difícil ocorrer o processo de transformação da teoria Vygotskyana. Com isso, entende-se que o processo de formação das características humanas e a transformação do homem e o seu meio cultural, só é possível pois a partir da interação surge a necessidade de mudanças.









REFERÊNCIAS

ATKINSON, David. The mother tongue in the classroom: a neglected resource?. English Language Teaching Journal, ELT Journal, v. 41, n.4, p.241-247, October, 1987.

ATKINSON, David. Teaching monolingual classes: Longman keys to language teaching. Essex: Longman Group UK Limited, August, 1993.

BARCELOS, Ana Maria Ferreira, ABRAHÃO, Maria Helena Vieira (Orgs). Crenças e Ensino de Línguas: Foco no professor, no aluno e na formação de professores. 1°ed. Campinas, SP: Ed. Pontes, 2006. P.236

BOCK, Ana Maria Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lurdes Trassi; Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13aed. São Paulo: Saraiva, 2002.

BUTZKAMM, Wolfgang. We only learn language once. The role of the mother tongue in FL classrooms: death of a dogma". Language Learning Journal, Winter, n.28, p.29-30, 2003.

CARRARA, Kester. Behaviorismo radical: crítica e metacrítica. 2aed. São Paulo: UNESP, 2005.

COOK, Vivian. Going Beyond the Native Speaker in Language Teaching. TESOL Quaterly, v.33, n.2, 1999.

COOK, Vivian. Using the First Language in the Classroom. Canadian Modern Language Review, n.57, v.3, p.184-206, 2001.

CUNHA, Rachel Nunes da; VERNEQUE, Luciana Patrícia Silva. Notícia: Centenário de B. F. Skinner (1904-1990): uma ciência do comportamento humano para o futuro do mundo e da humanidade. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v.20, n.1, Abril, 2004.

GABRIELATOS, Costas. L1 use in ELT: not a skeleton, but a bone of contention. A response to Prodromou. Bridges, v.6, p.33-35, 2001.

GABRIELATOS, Costas. Using The First Language in Second language Instruction: If, When, why and how much?. TESL-EJ, v.5, n.4, 2002.

HARBORD, John. The use of the mother tongue in the classroom. ELT Journal, v.46, n.4, p.350-355, 1992.

MILES, Richard. Evaluating the use of L1 in the English Language Classroom. Centre for English Language Studies. University of Birmingham. Reino Unido, Março, 2004.

OLIVEIRA, Martha Khol de. Vygotsky. 4aed. São Paulo: Scipione, 1993.

RANGÉ, Bernard. Psicoterapia comportamental e cognitiva. Campinas: Psy II, 1995.

SKINNER, Burrrhus Frederic. Tecnologia do ensino. (Rodolpho Azzi,Trad.). São Paulo: Herder USP, 1972.

TURNBULL, Miles. There is a Role for the L1 in Second and Foreign Teaching, but… Canadian Modern Language Review, Toronto, v.57, n.4, 2001

VYGOTSKY, Lev Semyonovitch. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

VYGOTSKY, Lev Semyonovitch; LURIA, Alexander Romanovitch; LEONTIEV, Aleksei Nikolaievitch. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2001.


Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.