ENSINO MÉDIO POLITÉCNICO E OS DESAFIOS DA AVALIAÇÃO EMANCIPATÓRIA

September 12, 2017 | Autor: Mara Brum | Categoria: Teacher Education
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ENSINO MÉDIO POLITÉCNICO E OS DESAFIOS DA AVALIAÇÃO EMANCIPATÓRIA LEIRIA, Rossana Daniela Cordeiro1 - FURG BRUM, Mara2 - UFPEL OLIVEIRA, Neiva Afonso3 - UFPEL Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este estudo emerge das práticas educativas em uma Escola Estadual de Ensino Médio na cidade de São José do Norte e tem por intuito compartilhar as discussões iniciais acerca do Ensino Médio Politécnico e a inserção dos pareceres descritivos na avaliação. A proposta esta em fase de implantação nas escolas estaduais pela Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul. O documento elaborado pela referida secretaria vem sendo discutido por meio das diferentes coordenadorias educacionais do Estado nas escolas proporcionando mudanças na estrutura curricular e no discurso teórico direcionado ao Ensino Médio na perspectiva da politecnia e da valorização de práticas interdisciplinares. Enfatiza-se nesta ousada proposta educacional a necessidade da ruptura com o paradigma vigente, que vem sendo motivada pela transformação no agir dos trabalhadores, pois o mercado de trabalho tecnológico passa a exigir profissionais dinâmicos e atualizados com os fatos sociais. Dessa forma, apresentamos as principais ideias da referida proposta e as tensões emergentes da avaliação emancipatória com a presença dos pareceres descritivos, os quais têm proporcionado momentos intensos nas reuniões pedagógicas e discussões nos espaços escolares. Por reconhecermos que existem associações na elaboração desses pareceres com os pareceres da educação infantil, atentamos nosso olhar para o entendimento de como é abordada a avaliação emancipatória na educação infantil. Nesse sentido, encontrar espaços de discussão e oportunidade de diálogo frente às mudanças que se configuram é salutar ao desenvolvimento profissional docente. Compreendemos que a avaliação emancipatória permite perceber o educando em sua totalidade e a interlocução com os pareceres da educação infantil podem proporcionar um olhar sensível na percepção do educador do Ensino Médio Politécnico para apreender a totalidade na formação do sujeito, assim como repensar sua própria prática docente diante da elaboração dos pareceres descritivos. 1

Acadêmica do Curso de Ciências Econômicas – FURG. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da FaE/UFPel. Licenciada em Matemática( FURG). E-mail: [email protected]. 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da FaE/UFPel. Graduada em Pedagogia – FURG (1999). Pós - Graduada em Educação Infantil pela UCB (2004); Pós – graduada em Psicopedagogia Institucional pela UCB (2005). E-mail: [email protected]. 3 Professora no Programa de Pós-Graduação em Educação da FaE/UFPel. E-mail: [email protected]

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Palavras-chave: Ensino Médio Politécnico. Avaliação Emancipatória. Pareceres Descritivos. Introdução Este relato emerge das ações desenvolvidas em uma Escola Estadual de São José do Norte e nos motiva a compartilhar os desafios diante da necessidade de uma formação que atenda às reformulações na avaliação conforme almeja os idealizadores do Ensino Médio Politécnico. A proposta em fase de implantação por meio da Secretaria de Educação tenciona dar conta das demandas do mercado de trabalho que exige a formação de trabalhadores aptos a pensar de forma dinâmica e com mobilidade para adaptarem-se às mudanças em novas situações. Temos como objetivo problematizar a avaliação emancipadora exposta pelo documento em proposta defendida pela Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul (SEDUC) e os desafios e resistências que surgem na escola. Assim, como encontrar pontos de confluências entre os pareceres descritivos exigidos no Ensino Médio Politécnico e os pareceres utilizados nos anos iniciais, os quais, em muitos casos, têm sido utilizados como base para a escrita dos pareceres estabelecidos pela referida proposta. Inicialmente, será apresentada uma síntese das ideias fundamentais da proposta desenvolvida pela SEDUC - RS. Este anuncia a necessidade de um novo paradigma, com propostas interdisciplinares e ainda demonstra a preocupação em desenvolver valores humanitários em meio às ações pedagógicas. Em seguida, apresentaremos as discussões e desafios na formação do educador do Ensino Médio ao assumir o desafio da elaboração dos pareceres descritivos na perspectiva da avaliação emancipatória. Desenvolvimento Ao analisarmos a proposta que proclama o surgimento de um novo princípio educativo da SEDUC – RS percebemos o olhar direcionado à formação do novo trabalhador do século XXI. Salientamos que a etapa final do ensino básico no RS divide-se em três ramos: Ensino Médio Politécnico, Ensino Médio Curso Normal e Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio. Este estudo terá como foco o viés da politecnia que emerge das vivências no ambiente escolar, pois a escola está recebendo o Ensino Médio e concomitantemente a referida proposta.

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O Ensino Médio Politécnico idealizado pelo governo estadual do RS exige a formação de um educando crítico, dinâmico na sua forma de pensar e agir e capaz de perceber-se como cidadão ativo e sensível aos acontecimentos sociais. Dessa forma, A proposta basicamente se constitui por um ensino médio politécnico que tem por base na sua concepção a dimensão da politecnia constituindo-se na articulação das áreas de conhecimento e suas tecnologias com os eixos: cultura, ciência, tecnologia e trabalho enquanto princípio educativo. (...) A execução desta proposta demanda uma formação interdisciplinar, partindo do conteúdo social, revisitando os conteúdos formais para interferir nas relações sociais e de produção na perspectiva da solidariedade e da valorização da dignidade humana (SEDUC-RS, 2011, p. 4) [grifo nosso].

Nesse sentido, percebemos que a preocupação anuncia-se em consonância com os ideais do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que defende a necessidade de um olhar não fragmentado no desenvolvimento do pensamento. A politecnia surge da demanda social de trabalho que exige dinamicidade do trabalhador e tem como desafio lidar com os conteúdos formais a partir da valorização das vivências sociais dos estudantes, direcionandoos à valorização da dignidade humana. Assim, (...) há a necessidade da construção de uma nova proposta politico-pedagógica em que o ensino das áreas de conhecimento dialogue com o mundo do trabalho, que interaja com as novas tecnologias, que supere a imobilidade de uma gradeação curricular, a seletividade, a exclusão, e que, priorizando o protagonismo do jovem, construa uma efetiva identidade para o Ensino Médio (SEDUC – RS, 2011, p. 6).

Nessa perspectiva, é conciso olhar atento à significação do termo politecnia e à necessidade de uma nova dimensão diante das mudanças no mercado de trabalho, em que os jovens das classes populares, antes de concluírem a formação do Ensino Médio, normalmente, estão no mercado de trabalho. A politecnia é “o domínio dos conhecimentos científicos das diferentes técnicas que caracterizam o processo de trabalho moderno” (SAVIANI, 2003, p. 140). O significado de politecnia, no documento em análise, acompanha as mudanças referentes ao novo perfil do trabalhador e do mercado tecnológico. Dessa forma, O Ensino Médio Politécnico, embora não profissionalize, deve estar enraizado no mundo do trabalho e das relações sociais, de modo a promover formação científicotecnológica e sócio-histórica a partir dos significados derivados da cultura, tendo em vista a compreensão e a transformação da realidade. Do ponto de vista da organização curricular, a politecnia supõe novas formas de seleção e organização dos conteúdos a partir da prática social, contemplando o diálogo entre as áreas de conhecimento; supõe a primazia da qualidade da relação com o conhecimento pelo protagonismo do aluno sobre a quantidade de conteúdos apropriados de forma

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mecânica; supõe a primazia do significado social do conhecimento sobre os critérios formais inerentes à lógica disciplinar. A construção desse currículo integrado supõe a quebra de paradigmas e só poderá ocorrer pelo trabalho coletivo que integre os diferentes atores que atuam nas escolas, nas instituições responsáveis pela formação de professores e nos órgãos públicos responsáveis pela gestão (SEDUC-RS, 2011, p. 14) [grifo nosso].

Assim, esta proposta anuncia a ruptura com ensino bancário (FREIRE, 1992), de aprendizado estanque, visando novos caminhos ao desenvolvimento profissional do trabalhador do século XXI. A seguir, abordaremos alguns dos princípios orientadores para a inserção do Ensino Médio Politécnico nas escolas estaduais do RS, em seguida as discussões a cerca da avaliação emancipatória e o uso dos pareceres descritivos no Ensino Médio. Reconhecimento dos saberes Ao analisar este tópico as ideias nos permitem associações com a Educação Popular (BRANDÃO, 2006), em que a valorização dos saberes cotidianos promove a interação dos saberes populares dos sujeitos aos saberes escolares. Dessa forma, a proposta do reconhecimento dos saberes no processo de conhecimento da realidade promove espaços de diálogos e entende que a transformação da realidade se dá pela ação dos próprios sujeitos. O diálogo profícuo acontece de forma complementar, entendendo que o saber popular constitui-se no ponto de partida para a produção do conhecimento científico. Assim, o saber popular será também o ponto de chegada do conhecimento científico. De maneira que, se o conhecimento científico não produzir sentido aos sujeitos, grupos sociais e suas realidades, tende a não existir motivação para sua significação e apropriação. O discurso político-transformador no decorrer deste documento em análise enfatiza a valorização dos saberes populares, sendo imperativo o reconhecimento histórico dos socialmente excluídos dos espaços escolares. Dessa forma, anuncia a necessidade de um fazer pedagógico comprometido com o enfrentamento das desigualdades. “Esta atitude significa colocar a práxis pedagógica no espaço mais permanente da sociedade: no espaço das lutas sociais pela emancipação do ser humano” (SEDUC – RS, 2011, p. 18). Teoria – Prática A prática sem o diálogo com a teoria torna-se mecânica e sem a oportunidade de um fazer dialético de nossas atividades cotidianas nos espaços escolares. O ato de apenas

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teorizarmos no campo das ideias, sem o confronto com a prática cotidiana e seus desafios nos remete a saberes vazios e sem significado. Nesse sentido, A relação teoria-prática torna-se um processo contínuo de fazer, teorizar e refazer. (...) O diálogo permanente entre teoria e prática se constitui como fundamento da transformação da realidade, desde que consciente de sua condição sóciohistórica, e consequentemente, de suas determinações sociais (SEDUC – RS, 2011, p. 18).

Portanto, de acordo coma proposta do Ensino Médio Politécnico, encontrar o equilíbrio entre teoria e prática proporciona uma práxis consolidada no campo das ideias e dos desafios práticos. O fazer pedagógico dialético é parte fundamental para fazer acontecer práticas educativas emancipatórias e interdisciplinares defendidas pela referida proposta. Interdisciplinaridade Falar em interdisciplinaridade requer compreender as limitações do ensino em disciplinas que têm associações com a fragmentação presente na Filosofia Positivista de Comte (1978). Destaca-se a ideia de totalidade em que, A fragmentação do conhecimento acompanha o preceito que o todo, dividido em partes, tem como objetivo facilitar a aprendizagem. Esse pressuposto tem-se mostrado inadequado, porque, além de descaracterizar o todo, desconstitui a possibilidade de construção de vínculo do conhecimento com a realidade de vida. O tratamento disciplinar do conhecimento, quando única estratégia de organização do conhecimento, tem se mostrado insuficiente para a solução de problemas reais e concretos (SEDUC-RS, 2011, p.18).

As práticas interdisciplinaridades tendem a romper com a barreira das disciplinas. Dessa forma, faz acontecer a interação com educadores de outras áreas ao predispor desejo pela busca de integração dos saberes. A politecnia em consonância com as práticas interdisciplinares exige do educador sensibilidade com os acontecimentos sociais e com os distintos campos do saber na elaboração de suas práticas educativas. Para atingir o objetivo de formar educandos dinâmicos, críticos e atentos aos acontecimentos sociais se fazem necessário promover práticas educativas nessa perspectiva, ou seja, as mudanças envolvem todos os atores presentes no agir pedagógico escolar. Nesse sentido, ao buscar um saber mais integrado e livre, a interdisciplinaridade conduz a uma metamorfose que pode alterar completamente o curso dos fatos em educação; “pode transformar o sombrio em brilhante e alegre, o tímido em audaz e o arrogante e a esperança em possibilidade” (FAZENDA, 2008).

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Após uma breve síntese das principais ideias da proposta da SEDUC - RS que proclama um novo paradigma será apresentada, inicialmente, a abordagem da avaliação emancipatória formativa na educação Infantil e, em seguida, a avaliação emancipatória e suas discussões no contexto da escola e da inserção do Ensino Médio Politécnico. Dessa forma, buscamos compreender se ao elaborar os pareceres descritivos no Ensino Médio Politécnico podemos associar aos pareceres descritivos da Educação Infantil. Avaliação emancipatória formativa na Educação Infantil Propomo-nos fazer a interlocução entre os pareceres da Avaliação na Educação Infantil e os pareceres do Ensino Médio Politécnico, pois o primeiro em muitos casos tem sido utilizado de base para a escrita dos pareceres no Ensino Médio. Nesse sentido, a avaliação na Educação Infantil deve privilegiar os interesses e as necessidades de cada criança, confiar em suas tentativas de aprender de forma que valorize suas descobertas. Desse modo, realiza-se uma avaliação centrada na criança a qual contribui para o desenvolvimento integral. O processo de avaliação tem que ser permanente e imediato, pois diante da nãoaprendizagem se faz necessário repensar caminhos que proporcione o progresso em seu aprendizado. A avaliação emancipatória aposta na capacidade de aprendizagem das crianças de forma global e compreende a observação das formas de expressão, capacidade de concentração, envolvimento nas atividades, satisfação com suas pequenas conquistas como instrumentos de acompanhamento que ajudam na avaliação e no (re) planejamento das ações pedagógicas. Na avaliação formativa, a proposta é não avaliar a criança, mas sim as situações de aprendizagem observadas pelo educador durante as ações pedagógicas. Porque a aprendizagem da criança transcende o ensino escolar anual ao considerar os avanços ao longo de sua trajetória de vida e, por isso, todos os processos devem ser considerados. A avaliação é ‘movimento’, é ação e reflexão. À medida que as crianças realizam suas tarefas, efetivam muitas conquistas: refletem sobre suas hipóteses, discutemnas com pais e colegas, justificam suas alternativas diferenciadas. Esses momentos ultrapassam o momento próprio da tarefa. E, portanto, não se esgotam nelas. As tarefas seguintes incluem e complementam dinamicamente as anteriores (HOFFMANN, 1996, p. 61).

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A avaliação não é para classificar, mas para qualificar e detectar erros no aprendizado da criança e ajudar a superar as dificuldades. Para que a avaliação educacional assuma o papel de instrumento dialético de diagnóstico para o crescimento, deve estar a serviço de uma pedagogia preocupada com a transformação social. Na Educação Infantil, a avaliação é organizada mediante observação e registro que são os principais instrumentos que o professor dispõe para apoiar sua prática e a fim de elaborar um parecer descritivo (avaliação), pois fornece uma visão integral da criança ao mostrar suas particularidades. Na perspectiva de acompanhamento, O processo de avaliação na pré-escola se dá pela observação da criança fundamentada no conhecimento de suas etapas de desenvolvimento, oportunizando novos desafios com base na observação e reflexão teóricas, através de registro das manifestações das crianças e de aspectos significativos de seu desenvolvimento; pautada no diálogo frequente e sistemático entre os adultos que lidam com a criança e os pais ou responsáveis (VASCONCELLOS, 1994, p. 59).

Na educação infantil, a comunicação com os pais dá-se via parecer descritivo (relatório) por ser mais significativo e pelo fato de contemplar desenvolvimento integral da criança, mostrando seus avanços e entraves no aprendizado. De tal forma que, O que acontece hoje, em termos de avaliação, desconsidera a criança em dois sentidos. Por um lado, observa-se e acompanha-se, na maioria das vezes, a criança em suas descobertas, entretanto, quando se registram aspectos do seu desenvolvimento em geral, é para apresentar resultados aos pais ou por necessidade de registros escolares. Os enunciados não têm por objetivo subsidiar a ação educativa no seu cotidiano, permanentemente voltada à criança, mas asseguram aos pais e à escola que algumas atividades estão se desenvolvendo, que a criança está realizando uma série de “trabalhinhos interessantes”. Os ‘pareceres descritivos’, representam, em sua maioria, registros de observação esporádicas e superficiais do professor, com base em listagens de comportamentos elaborados em gabinetes de supervisão, incluindo aspectos sobre a criança de difícil compreensão ou de apreciação subjetivo (HOFFMANN, 1996, p.89).

Essa

postura

do

educador

faz

com

que

a

criança

seja

vista

em

departamentos/fragmentos, não é olhado o todo, mesmo sabendo que é o todo – aspecto físico-emocional e psíquico – que deveria ser levado em consideração. Os profissionais de Educação Infantil precisam ter claro que a avaliação é um conjunto de ações que auxiliam na prática e ajudam a refletir sobre as condições de aprendizagem oferecida e ajustam a prática às necessidades colocadas pela criança. A avaliação, portanto, é um elemento indissociável do processo educativo que tem como função acompanhar, orientar, regular e redirecionar a

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aprendizagem. A avaliação formativa implica uma nova maneira de pensar a avaliação, o ensino e a aprendizagem, e, ainda, os papéis dos intervenientes nesse processo. Quando os pais vão a escola receber a avaliação (parecer descritivo), desejam que o professor dê um retorno sobre o desenvolvimento da criança, sobre o que ela já aprendeu e suas novas conquistas. Este parecer tem que estar bem fundamentado e bem contextualizado para que os pais possam observar e ter conhecimento de como vem se dando o processo de ensino e aprendizagem do seu filho, bem como sua evolução de modo geral. Este parecer é constituído pela avaliação formativa que prioriza a avaliação multidisciplinar e o desenvolvimento integral da criança. Avaliação emancipatória no Ensino Médio e as orientações da SEDUC-RS A avaliação emancipatória prioriza o desenvolvimento do educando, ao valorizar suas ações cotidianas, o convívio com as diferenças, conflitos e o contraditório nas relações de sala de aula. Tais preceitos corroboram para um olhar sensível no desenvolvimento integral do educando. Nessa perspectiva, a avaliação emancipatória insere-se no processo educacional como o eixo fundamental do processo de aprendizagem, não somente porque parte da realidade, ou porque sinaliza os avanços do aluno em suas aprendizagens, como também aponta no seu processo os meios para superação das dificuldades, mas, especialmente, porque se traduz na melhor oportunidade de refletir e rever as práticas na escola (SEDUC, 2011, p. 20).

Para incorporar essas transformações, é exigido o desenvolvimento de práticas educativas que contemplem a mudança de paradigma. É necessário desvincular-se da avaliação como “instrumento autoritário do exercício do poder, como função de controle, na explicitação da classificação e da seleção, conceitos estes vinculados a qualidade na produção industrial” (SEDUC, 2011, p. 20). Encontramos, nas escolas, a substituição da nota, ou seja, da avaliação quantitativa, por uma avaliação por pareceres descritivos com as seguintes nomenclaturas: CSA (Construção Satisfatória da Aprendizagem), CPA (Construção Parcial da Aprendizagem) e CRA (Construção Restrita da Aprendizagem). A fragilidade consiste na elaboração de um único parecer por área ao envolver várias disciplinas, o que gera desconforto ao educador que sente sua disciplina desvalorizada em caso de reprovação e o grupo gerar um CSA, de tal forma permite questionamentos quanto a legitimidades das áreas diante do consenso coletivo.

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Além da resistência a elaboração dos pareceres, a desvalorização de uma área diante das demais é uma discussão pulsante no âmbito da formação dos pareceres conjuntos e pode desmotivar os educadores mais fechados a mudanças. O desprendimento de métodos quantitativos em prol de uma avaliação qualitativa é um fator a ser superado e ainda as limitações em tempo para que os educadores possam reunir-se para elaboração desses pareceres conjuntos. A avaliação de forma integral como apontada pela avaliação emancipatória na educação infantil se contrapõe com a avaliação emancipatória em alguns aspectos, dentre eles a presença de mais de um educador para escrever um parecer por área de conhecimento, pois o comportamento e compreensão do educando podem diferir de educador para educador, posto as afinidades com a disciplina e a relação que constitui educador-educando. Outro aspecto a destacar é a relação de dependência com os métodos quantitativos, pois em muitos casos, o professor vê-se refém das provas e testes, pois acredita que sem a presença desses métodos avaliativos, o estudante não encontrará interesse por estudar. De tal forma que é possível perceber associações dos conceitos com valores numéricos, tais como: CRA (abaixo de 5), CPA (de 5 a 6.9) e CSA (de 7 a 10), rompendo com a lógica de uma avaliação integral do sujeito, pois possibilitará aos estudantes a conexão imediata com os métodos quantitativos. As formas de quantificar os pareceres é uma maneira de os professores resistirem ao novo modelo de avaliação defendida pelo Ensino Médio Politécnico. Considerações Finais Ao pensarmos sobre as mudanças que chegam à educação pública estadual do Rio Grande do Sul, percebemos que envolvem todos os setores da escola como equipe diretiva, funcionários, educadores e educandos que integrados podem promover a possibilidade de olhares coletivos para as transformações sociais. A existência de práticas educativas interdisciplinares, de valorização dos saberes cotidianos e a avaliação emancipatória envolvem mudanças significativas e exigem olhar atento dos educadores. Entendemos que a visão direcionada à Educação Infantil pode contribuir na elaboração dos pareceres descritivos do Ensino Médio Politécnico, considerando aspectos da totalidade de acordo com os anseios do educando e suas perspectivas, sua compreensão de mundo, o envolvimento com as propostas apresentadas pelo educador, a participação das atividades integradas da escola e aspectos de seu desenvolvimento humano. Essa descrição demanda

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olhar sensível do educador e ainda proporciona o repensar sobre a própria ação pedagógica como acontece com os pareces utilizados nos anos iniciais. Compreendemos que as mudanças proporcionam momentos salutares ao processo educativo, pois proporcionam (re) pensar a própria condição a ser mudada. Nesse sentido, as resistências às mudanças são naturais as nossas condições humanas, que busca segurança frente a métodos que, com seguridade, apenas repetimos. Mudar exige arriscar-se de tal forma que “se nada temos a propor ou se simplesmente nos recusamos a fazê-lo, não temos o que fazer verdadeiramente na prática educativa” (FREIRE, 1985, p. 45). REFERÊNCIAS BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação Popular? São Paulo: Brasiliense, 2006. (Coleção Primeiros Passos). COMTE, A. discurso sobre o espírito positivo. São Paulo: Abril Cultural, 2ª edição, 1978. (Os pensadores). FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. FAUNDEZ, Antonio e FREIRE, Paulo. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. FAZENDA, Ivani C. A. O que é Interdisciplinaridade? São Paulo: Cortez, 2008. HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação na pré-escola: um olhar sensível e reflexivo sobre a criança. 7ª ed. Porto Alegre-RS: Mediação. 1996. SAVIANI, Demerval. O choque teórico da politécnica. Trabalho, educação e saúde. Revista da EPSJV – Fiocruz. Rio de Janeiro, Fiocruz, nº 1. p. 131 – 152, 2003. SEDUC–RS. Proposta Pedagógica para o Ensino Médio Politécnico e Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio - 2011-2014. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Metodologia Dialética em Sala de Aula, revista, AEC, v. 21, no. 83, abr/jun.1994

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