ENTRE O PRAZER E O CASTIGO DE ESCREVER: UMA LEITURA COMPARADA DE UMA CRÔNICA E UM ENSAIO DE MONTSERRAT ROIG

July 13, 2017 | Autor: Katia Oliveira | Categoria: Literature, Literatura catalana, Literatura Y Periodismo, Montserrat Roig
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO Reitor Julio Cezar Durigan Vice-Reitora Marilza Vieira Cunha Rudge FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS DE ASSIS Diretor Ivan Esperança Rocha Vice-Diretora Ana Maria Rodrigues de Carvalho PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS Coordenador Prof. Dr. Álvaro Santos Simões Junior Vice-Coordenadora Prof. Dra. Maira Angélica Pandolfi ANAIS DO XII SEMINÁRIO [INTERNACIONAL] DE ESTUDOS LITERÁRIOS

“Avatares do Folhetim” Coordenação do Evento Prof. Dr. Álvaro Santos Simões Junior Comissão organizadora dos Anais Prof. Dr. Álvaro Santos Simões Junior Dayane Mussulini Gláucia Benedita Vieira Adriana Dusilek Projeto gráfico e diagramação Lucas Mazanatti de Oliveira Lutti

XII SEL – Seminário [Internacional] de Estudos Literários: “Avatares do Folhetim” UNESP – Câmpus de Assis – 9 a 11 de setembro de 2014 Anais eletrônicos, Assis, UNESP, 2015 – ISSN: 2179‐4871 www.assis.unesp.br/sel

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ENTRE O PRAZER E O CASTIGO DE ESCREVER: UMA LEITURA COMPARADA DE UM CRÔNICA E UM ENSAIO DE MONTSERRAT ROIG Katia Aparecida da Silva Oliveira (PG/DR-UNESP/Assis – UNIFAL)

RESUMO: A escritora catalã Montserrat Roig é conhecida não só por sua obra literária, mas também por sua significativa produção jornalística. Tendo contribuído com diversos jornais a partir dos anos 70 do século passado, até 1991, ano de sua morte, e publicado ao longo desses anos uma série de romances, contos e outras obras literárias, a autora deixou uma produção escrita que dialoga com grandes temas de sua época. Neste sentido, o presente trabalho pretende desenvolver uma leitura comparativa entre dois textos de Roig que dialogam, aproximando a sua produção jornalística da literária, seja pela natureza dos gêneros a que pertencem os textos, seja pela sua temática: a crônica “Sobre el placer de escribir”, publicada em 1982 no jornal espanhol El País, e o ensaio “Dime que me quieres aunque sea mentira”, publicado em 1991 (primeiramente em catalão) no livro que leva o mesmo título. Compreende-se que a crônica publicada em 1982 foi a base para o desenvolvimento do ensaio publicado quase dez anos depois, de forma que se buscará, ao longo desse artigo, verificar não só a forma como a crônica foi adaptada para a produção do ensaio, mas também mudanças no que se refere ao conteúdo e sentido dos textos analisados. PALAVRAS-CHAVE: Crônica; Ensaio; Literatura; Montserrat Roig

A escritora catalã Montserrat Roig é conhecida não só por sua obra literária, mas também por sua significativa produção jornalística. Tendo contribuído com diversos jornais a partir dos anos 1970 até 1991, ano de sua morte, e publicado ao longo desses anos uma série de romances, contos e outras obras literárias, a autora deixou uma produção escrita que dialoga com grandes temas de sua época. Um dos temas recorrentes na obra da escritora é a questão da produção literária, a capacidade de representar a realidade e a história a partir da literatura e o lugar da mulher como escritora, principalmente considerando o período do fim do século XX, ou seja, levando em conta as discussões sobre a mulher e o feminismo que já se haviam estabelecido e propagado. Mesmo em seus textos publicados em jornais essa temática se faz presente. Percebe-se que por vezes os temas e textos de Roig que aparecem primeiramente em jornais são posteriormente retomados e desenvolvidos para fazer parte de outras obras como romances, contos ou ensaios. É o caso dos dois textos que se propõe analisar neste trabalho. O texto Sobre el placer de escribir, publicado em 26 de janeiro 1982 no jornal espanhol El País, que trata da formação do escritor e do prazer imbuído no processo de criação literária, parece ter sido a base para o desenvolvimento do ensaio que dá título ao livro Digues que m’estimes encara que sigui mentida, publicado em 1991 em catalão, e publicado posteriormente em 1992, em castelhano, sob o título Dime que me quieres aunque sea mentira.192 O texto publicado no jornal El País, Sobre el placer de escribir, é de difícil definição quanto ao gênero a que pertence. Acontece que há, entre os gêneros jornalísticos dos países hispano-falantes, uma série de gêneros, ou subgêneros, dependendo da teoria 192

Será utilizada, aqui, a versão da obra em castelhano.

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que se siga, que podem contar com textos que se encontram na fronteira entre o jornalismo e a literatura, como é o caso do texto de Roig. Esses gêneros formam o que se tem denominado “periodismo literário”, que Yanes Mesa define da seguinte maneira: Hay textos periodísticos elaborados con multitud de elementos lingüísticos literarios, al igual que también aparecen en prensa escritos literarios que contienen elementos informativos sobre la realidad del momento. Es el periodismo literario. Escritos que son Periodismo porque en ellos prevalece la actualidad, el interés y la comunicabilidad, y porque están escritos con el triple propósito de informar, orientar o distraer, pero también son Literatura porque contienen algo más que comunicación, interés y actualidad, y están escritos con un estilo muy personal (Abril, 1999: 137). (YANES MESA, 2006, s/p – grifo do autor)

O periodismo literário seria uma espécie de ramo do jornalismo no qual são produzidos gêneros híbridos, que se inserem tanto na tradição jornalística como na literária, que têm o compromisso de informar, mas que contam com um olhar diferenciado e uma preocupação estética na construção dos textos. Dessa forma, é possível afirmar, ao lado de López Pan (2010) e Torregrosa Carmona e Gaona Pisonero (2013, p. 794), que o periodismo literário seria um macrogênero, ou melhor, um gênero que agrupa uma série de subgêneros que ainda que tenham características próprias, encontram-se na fronteira entre o jornalismo e a literatura. Considerando o periodismo literário como um macrogênero, López Pan (2010), identifica os seguintes subgêneros como seus constituintes: 1. Géneros con más tradición y presencia en el periodismo español: la crónica, liberada “de las graves responsabilidades del reportaje en lo que hace a la indagación y al contraste de fuentes” (Chillón, 1999: 377), la entrevista, artículo de opinión, de naturaleza narrativa, anecdótica o ensayística, y la columna. 2. Géneros con menor presencia en España, y dominantes en el periodismo anglosajón. En primer lugar, el reportaje–novelado: textos de intencionalidad periodística que “incorporan algunos recursos compositivos y estilísticos de origen novelesco, pero sin que tal asimilación sea completa” (Chillón, 1999: 193). Cuando tienen que someterse a los límites de brevedad, los textos se asemejan más al relato o la short-story, ya que el periodista se ve forzado a compactar la historia “mediante sumarios narrativos, condensaciones temporales, descripciones precisas y diálogos escrupulosamente escogidos y quintaesenciados” (Chillón, 1999: 266). En segundo lugar, la novela-reportaje o novelas de no ficción: textos que asimilan “sin límites las técnicas de composición y estilo propias de la novela realista clásica” (Chillón, 1999: 194). Los autores de esos textos utilizan fuentes de primera mano, observan en directo situaciones y escenas cotidianas, registran el diálogo, etc. Y, por último, el perfil. Nace en Estados Unidos en la revista New Yorkeren los años 20 del sigo pasado, de la mano de su director Harold Ross, quien creó la sección Profile. Los escritores no querían dar declaraciones públicas y empezaron a elaborar retratos de personas. Eran textos de 40 o 50 folios con investigaciones a fondo sobre personajes: iban muy a la raíz. El primer escritor de perfiles fue Alva Jhonson, luego le siguieron Lillian Ross, Truman Capote (el dique en sus dominios, Retratos), Norman Mailer, etc. Ya en los años 70 recibe un fuerte impulso con el Nuevo Periodismo, muy vinculado a la gente y muy preocupado por vincular personas a acontecimientos. (LÓPEZ PAN, 2010, p. 98)

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O periodismo literário é ainda pouco estudado, de forma que nem toda a crítica está de acordo no que se refere à composição ou denominação dos subgêneros que a compõem. Porém, embora não haja um acordo quanto a essa classificação, percebe-se que a maioria dos trabalhos publicados a esse respeito se aproximam do que diz López Pan, assim, este trabalho se apoiará em sua classificação por parecer ser esta uma das mais completas disponíveis atualmente. Observa-se que López Pan organiza o que considera ser os subgêneros do periodismo literário em dois grupos: um com mais tradição na Espanha e outro com menos tradição, mais presentes no jornalismo anglo-saxão. Como o texto de Roig foi publicado em um jornal tradicional da Espanha, parece ser mais acertado focar a análise que se propõe aqui nos gêneros com tradição nesse país, mesmo porque, como se verá adiante, são os que mais reúnem em si características presentes em Sobre el placer de escribir. Têm-se, assim, como subgêneros do periodismo literário de tradição na Espanha a crônica – que por definição é completamente diferente do gênero crônica brasileiro –, a entrevista, o artigo de opinião e a coluna. A crônica, como subgênero do periodismo literário, apresenta o relato de acontecimentos, como acontece na notícia, mas com mais detalhes e com posicionamentos do autor. Trata-se de uma narrativa que tem compromisso com a representação de um acontecimento real, mas, ao mesmo tempo, contando com a avaliação do autor. Espera-se que para que a fidelidade aos fatos seja mantida, que o autor esteja presente nos acontecimentos que relata. Como diz Yanes Mesa: En cierta forma, la crónica es un género que existe antes que el propio periodismo. El relato interpretativo contado desde el lugar donde sucede un hecho noticioso aparece pronto en la historia de la humanidad. Su nombre tiene el antecedente etimológico “cronos”, que significa “tiempo”, por lo que hace referencia a una narración ligada a la secuencia temporal. Sin embargo, mucho más que la información, lo importante de este género es su función interpretativa, ya que la crónica es un texto que narra los hechos en un medio informativo con una valoración de su autor (Martín, 1998: 123). Se puede definir como una noticia interpretada, valorada, comentada y enjuiciada (Vilamor, 2000:341), es decir, un género híbrido entre los interpretativos y los informativos (Hernando, 2000: 21) o que se encuentra en el límite entre los informativos y los de opinión. (Gutiérrez, 1984: 114) - (2006, s/p)

A crônica publicada em jornais, a crônica jornalística, não pode ser confundida, também, com a crônica como gênero histórico e literário, como, por exemplo, as crônicas da conquista da América ou de viagens em geral. A entrevista é um gênero equivalente ao que temos no Brasil, onde se conta com a objetividade e com a subjetividade na escrita, entre a fidelidade com as palavras do entrevistado e com a interpretação do entrevistador. Por fim, os artigos e as colunas são gêneros que se aproximam. Ambos apresentam a visão do autor sobre algum acontecimento ou tema, dando-lhe liberdade para argumentar, defender ou criticar o assunto que decida abordar em seu texto. Muitas vezes os autores de artigos e colunas não são jornalistas, muitos são escritores de literatura que se propõem a escrever em jornais, apresentando uma visão mais pessoal sobre a realidade, a partir de textos com um compromisso estético claro. O artigo é definido por Yanes Mesa (2004) como: Anais do XII SEL – Seminário [Internacional] de Estudos Literários - “Avatares do Folhetim”, Assis, UNESP, 2015 – ISSN: 2179-4871

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(…) podemos definir el artículo como “aquel texto periodístico de opinión que refleja la interpretación que su autor hace sobre asuntos de la actualidad informativa”. Es un género periodístico en el que quien lo firma tiene absoluta libertad para expresarse de la forma que considere oportuna, aunque se trata de un texto normalmente con bastantes componentes literarios. Cuando se trata de una columna - texto con ubicación y periodicidad fijas en un periódico- o de un artículo firmado -cuando no tienen estas condiciones-, debe expresarse en primera persona para que resulte más cercano al lector. (2004, p.3)

Como se observa, o artigo se mostra como um gênero que proporciona liberdade ao autor, tanto no que se refere ao conteúdo quanto à forma do texto. Porém, percebe-se na citação apresentada uma aproximação do artigo à coluna: Yanes Mesa acaba considerando a coluna como uma forma de artigo. Esse tipo de aproximação acontece no trabalho de outros pesquisadores, como Alex Grijelmo (2001 apud YANES MESA, 2004, p. 6), com o diferencial de que seu autor tem o compromisso de escrever sempre naquele espaço, o da coluna, com “data marcada”, ou seja, o autor se compromete profissionalmente com isso. Essa aproximação fica mais clara ao observar a definição de coluna apresentada por Castellani: la columna es un género totalmente libre en su temática ya que puede abarcar todos los campos: políticos, culturales, económicos, deportivos, religiosos, locales o universales. En la columna el único límite es el espacio determinado de modo sistemático y regular (unos pocos folios). La columna, en España, siempre ha sido una prueba de periodismo informativo de creación y de libertad de pensamiento. (CASTELLANI, 2001, p. 3)

No que se refere ao conteúdo, à forma ou à liberdade do autor, parece não haver diferenças entre a coluna e o artigo, tanto que López Pan (2010, p. 104) afirma que o artigo se transmutou em coluna. A grande diferença que existiria entre eles seria o caráter permanente da coluna no jornal, e, nesse sentido parece possível afirmar que a coluna é uma variação do artigo. O texto Sobre el placer de escribir de Roig é publicado em uma seção de El País denominada Opinión, que já pelo nome explicita seu caráter diferenciado dentro do jornal, menos objetivo e mais subjetivo. Dentro dessa seção, o texto de Roig é publicado em um apartado que recebe o nome Tribuna, também com um nome significativo já que uma tribuna é um lugar de onde alguém fala para ser ouvido. Na Tribuna, eram – e ainda são, já que esse apartado ainda existe no jornal – publicadas colunas de escritores de diferentes áreas do saber, desde escritores literários, até sociólogos ou políticos. Pode-se considerar, então, que o texto de Roig é uma coluna, e que como parte desse gênero, mantém um parentesco claro com o artigo, integrando o periodismo literário. Ao comparar esse gênero coluna/artigo aos gêneros produzidos no Brasil, é possível perceber que se aproxima da crônica ou das colunas publicadas em jornais, como diz Gabriel Junior (2013, p. 96) “os textos denominados colunas possuem a mesma organização textual dos textos denominados crônicas e ambos tratam de temas do cotidiano ou pontual (como uma noticia), ou seja, ambos os textos pertencem ao gênero

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crônica”. Assim, muitas vezes, o que se encontra são textos podem ser reconhecidos como crônicas, mas publicados no espaço das colunas. Tentando estabelecer mais claramente o paralelo entre os gêneros em língua espanhola e portuguesa, vale considerar o que comenta Arrigucci Jr. acerca da crônica no Brasil: Se trata simplesmente de um relato ou comentário de fatos corriqueiros do dia-a-dia, dos fait divers, fatos da atualidade que alimentam o noticiário dos jornais desde que estes se tornaram instrumentos de informação de grande tiragem no século passado. A crônica virou uma seção do jornal ou da revista. Para que se possa compreendê-la adequadamente, em seu modo de ser e significação, deve ser pensada, sem dúvida, em relação com a imprensa, a que esteve sempre vinculada sua produção. Mas seria injusto reduzi-la a um apêndice do jornal, pelo menos no Brasil, onde dependeu na origem da influencia europeia, alcançando logo, porém, um desenvolvimento próprio extremamente significativo. Teve aqui um florescimento de fato surpreendente como forma peculiar, com dimensão estética e relativa autonomia, a ponto de constituir um gênero propriamente literário, muito próximo de certas modalidades da épica e ás vezes também da lírica, mas com uma história especifica e bastante expressiva no conjunto da produção literária brasileira (...). (ARRIGUCCI JR., 1987, p. 52-53)

A crônica como gênero literário no Brasil, configura-se, assim como um tipo de texto híbrido, novamente, entre o jornalismo e a literatura, no qual o escritor tem a liberdade de abordar diferentes temas do cotidiano a partir de seu ponto de vista e com suas opções estéticas para a composição do texto. Ora, essa definição não é muito diferente daquela que se dá para os artigos/colunas dos jornais escritos em língua espanhola. É nesse sentido que optou-se por denominar, neste trabalho, o texto de Roig, Sobre el placer de escribir, como uma crônica, no sentido brasileiro. Considerando que o presente texto está escrito em português, pareceu interessante adotar tal nomenclatura. Observando a crônica de Roig, já em suas primeiras linhas, percebe-se o tom cotidiano e informal que adota. A autora constrói uma relação de intimidade e cumplicidade com o leitor estabelecendo quase um diálogo com ele. Escrita em primeira pessoa a crônica rompe com o distanciamento entre narrador e leitor aproximando-os. Começando o texto com “Una vez, un crítico literário catalán, que es famoso incluso em el extranjero, me dijocon aire paternal: ‘Montserrat, nunca serás una buena escritora, pues no eres nidrogadicta, ni estás alcoholizada, ni eres lesbiana’” (ROIG, 1982, s/p), a autora não só lhe dá um tom confesional como também se transveste nesse narrador-personagem que dará voz à crônica. O leitor passa a acompanhar, assim, a experiência e o ponto de vista que essa voz em primeira pessoa narra. Essa relação dialógica que se desenvolve entre narrador e leitor “equilibra o coloquial e o literário, permitindo que o lado espontâneo e sensível permaneça como o elemento provocador de outras visões do tema e subtemas que estão sendo tratados numa determinada crônica” (SÁ, 1985, p.10). Um dos temas em discussão na crônica já se apresenta nessas primeiras linhas: o que faz um bom escritor? Esse tema, diversas vezes abordado e relacionado a muitos mitos, como os que já se vê no início do texto vai ser revisitado, reavaliado e reapresentado segundo a visão da autora.

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Discutindo com a provocação que recebe do crítico citado, a narradora do texto, como um alter-ego de Montserrat Roig, demonstra como não se encaixaria nos padrões de “bom escritor” defendidos: En aquellos tiempos, yo hacía bastante caso al crítico en cuestión; entre otras cosas, porque era más alto que yo y hablaba tres o cuatro lenguas correctamente. Así que durante unos días perdí el sueño. Me gusta beber alcohol, sobre todo vino y champaña; pero si bebo demasiado me arrepiento al día siguiente, por quedarme el hígado como un estropajo. He fumado porros alguna vez, aunque no siento lo que dicen que hay que sentir, o sea, musiquillas celestiales mientras se flota en una especie de arco iris, dicen que real. Y estoy enamorada sólo platónicamente de alguna mujer que yo me sé. Total: un desastre como escritora. (ROIG, 1982, s/p)

Ao mostrar que não se encaixa nos padrões que, para alguns, formariam os bons escritores, essa narradora-autora cria um problema, afinal, no momento em que escreveu essa crônica Roig já era reconhecida como escritora, inclusive tendo recebido prêmios pela publicação de dois romances: Moltaroba i pocsabó... i tan neta que lavolen, que recebe em 1971 el Premio Victor Catalá, e El temps de lescireres que em 1977 ganha o Premio Sant Jordi, além de receber o Premio da Crítica Serra d'Or por Els catalans als camps nazis. A questão que se propõe é a de que mesmo não se encaixando nos padrões apontados como aqueles que compõem um bom escritor, Roig era uma escritora bem sucedida e reconhecida por seu trabalho literário. O texto vai, assim, desconstruindo argumentos que fazem parte de um imaginário acerca da natureza dos escritores e da escrita literária. Apoiando-se em escritores que fazem parte do cânone, portanto, a princípio, donos de um discurso de propriedade, a narradora apresenta outras afirmações relacionadas à produção literária. Autores como Juan Benet, Vargas Llosa e Graham Greene são transformados em seus interlocutores, de forma que o texto que já tinha um caráter dialógico pela relação estabelecida entre leitor e narrador-escritor, expande essa característica ao dialogar com outros autores e/ou textos. Percebe-se que a argumentação construída pela narradora-Roig parte de concepções acerca da escrita literária que ela rejeita, como a de Benet que segundo ela, afirmou que “si era necesario, uno debía violar a su propia hermana para poder llegar a escribirbien” (ROIG, 1982, s/p), até chegar a uma que ela vê como mais aceitável, como a de Greene, que “afirma que escribires una forma de terapia” (ROIG, 1982, s/p) . O percurso argumentativo do texto demonstra que há uma série de crenças, às vezes até mesmo exóticas, associadas ao escritor e à produção literária que não se aplicam a todos os escritores, principalmente quando se toma Roig como exemplo. A narradoraautora mostra que o escritor não precisa ser uma pessoa diferente das outras e nem precisa fazer ou se submeter a qualquer coisa para escrever uma boa obra de arte. Enquanto desconstrói essas crenças sobre o escritor e a escrita e apresenta sua visão sobre o tema, a narradora também começa a inserir no texto outra questão a ser discutida: o motivo pelo qual alguém escreve. Fazendo referencia ao trabalho de Roig como entrevistadora, a narradora-autora diz que entrevistou vários escritores e que lhes perguntou o motivo pelo qual escreviam. Ela mesma afirma, em seguida, que essa pergunta é inocente ou tola porque “com los años he ido aprendiendo que nadie puede contestar por qué escribe. Ni por qué se escribe bien o mal” (ROIG, 1982, s/p).

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Embora considere inviável descrever o motivo pelo qual alguém escreve literatura, a narradora-Roig expressa que considera que há um prazer na escrita. Justificando o título da crônica, a narradora diz: “sigo pensando que pocos escritores se atreven a reconocer el placer que comporta escribir. Placer variado, que va de la venganza a la sublimación. Pero no deja de ser un privilegio” (ROIG, 1982, s/p). Para ela, esse prazer, muitas vezes ofuscado ou mesmo negado pelas crenças associadas à escrita, como o sofrimento do autor, a representação das mazelas humanas – como expressam as palavras de Vargas Llosa mencionadas no texto “los escritores son como cuervos que se alimentan de lacarroña de la infelicidad humana” (ROIG, 1982, s/p) – existe e seria um atributo ou regalia do processo criativo. Após toda a trajetória percorrida considerando o que forma um escritor, os motivos pelos quais alguém se dispõe a escrever e o prazer inerente à atividade escrita, a narradora encerra o texto da seguinte maneira: En fin, con el tiempo he aprendido que ni el alcoholismo, ni las drogas, ni la homosexualidad no sentida son acicates imprescindibles para escribir bien. Y quizá no sean más que sucedáneos para los que no logran hacerlo. La única droga que no mata, el único amor que no te traiciona, el único alcohol que no te estropea el hígado, es la literatura. Lo único que te da la posibilidad de expresar los sentimientos más oscuros, más sórdidos y más sublimes al mismo tiempo. Y, cuando lo haces, te das cuenta de que no tienen tanta importancia. (ROIG, 1982, s/p)

Para a narradora-Roig, a literatura é algo viciante, mas não no sentido negativo, não como uma droga que prejudica o escritor. A literatura é, para ela, uma atividade sobre a qual não se consegue explicar o motivo de ser praticada, é responsável por proporcionar algum deleite, sendo, inclusive uma forma de extravasar sentimentos e percepções do autor, dando-lhe a possibilidade de percebê-los e avalia-los dando-lhes o valor que deveriam ter, quase assumindo o valor terapêutico anunciado por Greene. Essa crônica é praticamente toda reproduzida no ensaio Dime que me quieres aunque sea mentira. Nele os argumentos expostos na crônica são recuperados e apresentados ao lado de outras questões relacionadas à temática da escrita literária e sua natureza, da formação do escritor e do prazer e do castigo de escrever. Como um ensaio, Dime que me quieres aunque sea mentira, faz parte de um gênero, que como a crônica é híbrido, e, muitas vezes difícil de ser definido. Massaud Moisés comenta: Todos os esforços no sentido de visualizar as fronteiras dentro das quais se inscreve o ensaio esbarram com dificuldades intransponíveis ou que conduzem a sutilezas não raro plenas de ambiguidades. Considerável parcela dessa instabilidade analítica decorre da circunstância de que o ensaio se situa paredes-meias com outras expressões igualmente híbridas, como a autobiografia, o jornalismo, o diário íntimo, a crítica literária, etc. não poucas vezes, torna-se impossível a classificação unívoca: a mesma obra participa a um só tempo de duas categorias; na verdade, dependendo do ponto de vista assumido pelo crítico, tratar-se ia de texto polifacetado. (MOISÉS, 2007, p. 74)

Nesse sentido, pode-se considerar que o ensaio seria um gênero mais livre, no qual o autor tem liberdade para expressar-se, chegando, inclusive, em algumas situações, a aproximar-se e apropriar-se de elementos constituintes de outros gêneros, a fim de dar a seu texto o tom que lhe pareça ideal. Anais do XII SEL – Seminário [Internacional] de Estudos Literários - “Avatares do Folhetim”, Assis, UNESP, 2015 – ISSN: 2179-4871

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O fato de que Roig tenha recuperado sua crônica de 1982 em um ensaio posterior demonstra uma disposição da autora de manter a liberdade de que desfrutava ao escrever a crônica – embora com certa limitação espacial no jornal – na escrita do ensaio, que se caracteriza por essa mesma liberdade, mas sem a limitação do espaço da coluna jornalística. Para Adorno (2003), o ensaio goza de uma autonomia que permite ao autor abordar os temas que lhe interessem sob a perspectiva que considere ideal. Ele não tem um domínio determinado: O ensaio, porém, não admite que seu âmbito de competência lhe seja prescrito. Em vez de alcançar algo cientificamente ou criar artisticamente alguma coisa, seus esforços ainda espelham a disponibilidade de quem, como uma criança, não tem vergonha de se entusiasmar com o que os outros já fizeram. O ensaio reflete o que é amado e odiado, em vez de conceber o espírito como uma criação a partir do nada, segundo o modelo de uma irrestrita moral do trabalho. Felicidade e jogo lhe são essenciais. Ele não começa com Adão e Eva, mas com aquilo sobre o que deseja falar; diz o que a respeito lhe ocorre e termina onde sente ter chegado ao fim, não onde nada mais resta a dizer: ocupa, desse modo um lugar entre os despropósitos. Seus conceitos não são construídos a partir de um principio primeiro, nem convergem para um fim último. (ADORNO, 2003, p. 16-17)

Pode-se dizer que a liberdade proporcionada pelo ensaio aos escritores está muito associada à amplitude de temas que pode abordar e à falta de uma estrutura fixa para esse gênero, que parece adaptar-se às necessidades de cada texto. Nesse sentido, Carrijo (2007, s/p) afirma que o ensaio conta com uma não-identidade, que, de forma paradoxal, acaba determinando-o. Embora essa não-identidade possa caracterizar o ensaio, há algumas particularidades acerca desse gênero que podem ser apontadas, como, por exemplo, a brevidade de seus textos. Os ensaios apresentam-se como textos breves que tomam as diversas temáticas apresentadas a partir do ponto de vista subjetivo do escritor. Moisés, mais uma vez comenta: O ensaio pede-se breve, a brevidade própria de uma estrutura na qual e por meio da qual a mente intui fragmentos da realidade e satisfaz-se com a sua captação: a brevidade equivale a uma tomada fotográfica, que se basta na apreensão das minúcias e recusa os panoramas, ou porque transbordem as fronteiras em que se movimenta a câmara (do ensaísta), ou porque a análise importa mais do que a síntese. (MOISÉS, 2007, p. 82)

A brevidade do ensaio, comparada por Moisés com uma fotografia, demonstra a disposição desse gênero em propor visões muito pontuais sobre elementos da realidade. Como a fotografia, o ensaio não pretende esgotar todas as possibilidades de interpretação de alguma temática: ele captura um aspecto dessa temática e o explora, sem, porém, a pretensão de esgotar as suas possibilidades de compreensão. Por outro lado, a brevidade do ensaio não significa que o texto tenda para a superficialidade. Ao optar por abordar uma temática com um recorte que não pretende dar conta de sua totalidade, o ensaio apresenta sobre ela um enfoque original. GómezMartínez afirma:

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La brevedad del ensayo y el no pretender decir todo sobre el tema tratado no significan, por tanto, que el ensayista distancie lo considerado para poder así abarcarlo en una visión generalizadora. Todo lo contrario. La totalidad no importa. Se intenta únicamente dar un corte, uno sólo, lo más profundo posible, y absorber con intensidad la savia que nos proporcione. (GÓMEZ-MARTÍNEZ, 1992, s/p)

A intensidade associada à brevidade do ensaio está intimamente relacionada à originalidade do texto e à perspectiva particular que representa. O ensaísta imprime no texto seu olhar sobre o tema abordado e, muitas vezes, essa liberdade representa, segundo, Gómez-Martínez (1992, s/p) a possibilidade de que o escritor não se comprometa com um processo de sistematização, já que ele “Escribe según piensa, y su producción la considera tan unida a sumismo ser, que no cree necesario, o quizás posible, el volver la vista atrás para modificar, adaptar o reorganizar loya escrito”. Essa característica do ensaio – a falta de sistematização – porém, para o autor, não é negativa, pois “Esta peculiaridad Del ensayo, lejos de ser um defecto, constituye uno de los rasgos más distintivos. El ensayista considera que su función es sólo la de abrir nuevos caminos e incitar a su continuación”. De certa forma, muitas vezes, o ensaio acaba assumindo uma forma digressiva ou mesmo fragmentada sem que isso afete a construção do sentido do texto. Essa forma digressiva, inclusive, adéqua-se ao tom coloquial de conversa importante aos ensaios, já que é preciso “escrever como quem fala, elevadamente, de assuntos vários, como quem tivesse o dom da eloquência natural e singela, como se o escritor não perdesse de vista o homem que se dirige a seus semelhantes por meio do diálogo” (MOISÉS, 2007, p. 96). Esse tom coloquial e dialógico, que é comum aos gêneros ensaio e crônica, é evidente no ensaio de Roig. Desde as primeiras linhas do texto a narradora-autora se dirige ao público leitor estabelecendo com ele a cumplicidade típica de uma conversa sincera. O ensaio, assim, não se impõe como um texto científico ou um tratado sobre a escrita literária, ao contrário, é a exposição de uma opinião, de uma visão do tema fundamentada nas experiências e reflexões daquela que organiza o texto. Isso é o que se observa no ensaio de Roig, que aborda a temática da produção literária desde um ponto de vista muito particular. Percebe-se que o texto recupera a crônica de 1982, mas com características próprias. Primeiramente, observa-se que diferentemente da crônica, que se inicia já com a discussão acerca do que faz um bom escritor, o ensaio se inicia tratando a escrita ficcional. Entre a ideia de ser criadora por inventar histórias ou de ser mentirosa exatamente por suas invenções, a narradora-Roig diz que na verdade não inventa nada, mas que exagera as histórias. Com isso, o primeiro tema abordado no ensaio é a natureza do trabalho literário. A literatura é vista como elemento que recolhe e dá forma artística à sua matéria prima que é a realidade. Nesse sentido, não só o escritor profissional é capaz de fazer literatura, mas também, ainda que não se deem conta, as pessoas comuns que contam “casos”, histórias vivenciaram ou que ouviram e que acabam sendo aumentadas, adaptadas e propagadas. O fato, porém, de que todos sejam capazes de contar histórias, não faz com que elas sejam preservadas. Assim, seguindo esse raciocínio, a narradora comenta que: Hay miles de narraciones que desaparecen todos los días – como esas hojas que mueren en verano sin aguardar el otoño –, miles de historias que se cuentan de una manera un poco exagerada, porque si no se exageran no resultan creíbles. Pero nunca llegarán a las universidades ni a los libros de texto. (ROIG, 2001, p. 18)

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A literatura, que chega aos livros, acaba sendo um meio de preservação da memória, das histórias que povoam o imaginário dos homens. O escritor seria aquele que tem a capacidade de registrar e de propagar esse conhecimento, reconstruindo-o de forma artística – ou exagerada, segundo os termos usados pela narradora. Ao tratar dessa capacidade de invenção, de contação de histórias, e de exagero na recriação do real, que acabam sendo o ofício do escritor, o ensaio aponta para a necessidade do ser humano de ter contato com a arte, como forma de sobreviver à realidade e ao cotidiano: “Si no contempláramos la vida como representación, no la resistiríamos” (ROIG, 2001, p. 18). A associação da mentira como criação literária, como um exagero dos fatos e como um pacto com o leitor que aceita ser enganado acaba chegando ao ápice quando a narradora-autora declara: “Sentimos um gran placer cuando mentimos. Cuando hacemos creíble la mentira, cuando seducimos al otro, que quizá sabe que mentimos y que nos está pidiendo que sigamos mintiendo” (ROIG, 2001, p. 18). O prazer da mentira, ou da produção literária parece ser o que move o escritor a seguir escrevendo – algo para o que apontarão os argumentos que posteriormente serão apresentados no ensaio e que já apareciam na crônica publicada no jornal. A mentira como criação não tem, assim, o tom negativo que se esperaria. É nesse sentido que se justifica o título que recebe o ensaio, que surge de uma citação retirada de um filme da década de 1950: - Dime que me quieres aunque sea mentira – Le pidió Johnny Guitar a Joan Crawford. Y ella le contestó que lo quería aunque fuera mentira. Pero, mientras mentía, le decía la verdad. La mentira, es decir, la literatura, es una droga. Y si nos falta, andamos un poco colgados. (ROIG, 2001, p. 19)

O diálogo retirado do filme “Johnny Guitar” põe em questão a ambiguidade da mentira em alguns casos, como na literatura. O grande jogo entre mentira e realidade não está só no diálogo, mas nos personagens apontadas pela narradora: Johnny Guitar era uma personagem do filme e Joan Crawford era o nome da atriz que interpretava a personagem Viena a quem se dirigia Johnny. Cria-se um jogo ou uma brincadeira, no ensaio, entre realidade e ficção, entre representação e aquele que representa, entre verdade e mentira. Mesclam-se os aparentes opostos, numa relação paradoxal na qual a mentira também pode ser uma forma de dizer a verdade, de representar a realidade e, essa representação, como diz a narradora-Roig, é viciante, é uma necessidade sem a qual a vida seria menos possível. Esse início do ensaio mostra-se como uma introdução à temática central do texto: a formação do escritor, a produção literária e o prazer proporcionado pela escritura literária. Todos esses elementos são apresentados sutilmente na introdução do texto e serão adentrados nas suas próximas páginas de maneira original. Como na crônica, o ensaio aborda a questão do que faz um bom escritor. Novamente o diálogo com um importante crítico literário é evocado e o início da crônica é recuperado, embora com mudanças na redação do texto e com o maior desenvolvimento de alguns argumentos. De forma diferente da crônica que já apontava para a impossibilidade de que a narradora-Roig fosse uma boa escritora – por não beber, drogar-se ou ser homossexual, no ensaio aparece um parágrafo, logo após a fala do crítico literário, que começa a relativizar suas afirmações: Anais do XII SEL – Seminário [Internacional] de Estudos Literários - “Avatares do Folhetim”, Assis, UNESP, 2015 – ISSN: 2179-4871

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El hombre largaba brillantes razonamientos y me hizo creer que no llegaría ni siquiera a ser una escritora. Perdí el norte rebuscando, bajo la tutela paternal del crítico, un montón de biografías y autobiografías de grandes escritores y escritoras. Y todos eran drogadictos, homosexuales o habían muerto con el hígado como un colador. Pero, clandestinamente, leí otras biografías, y me encontré con gente que escribía muy bien habiendo llevado una existencia de lo más decente: excelentes padres y madres de familia. Incluso pagaban las facturas puntualmente. (ROIG, 2001, p. 19)

A narradora não nega totalmente a afirmação do crítico, que indicaria sua inaptidão para a escrita literária de valor, mas indica a possibilidade do sucesso sem a necessidade de assumir uma vida que se pautasse pela marginalidade. Ao indicar a existência de bons escritores que cultivavam uma vida regrada e que inclusive tinham famílias, a narradoraautora cria a possibilidade de se inserir nesse grupo, apontando, já para a sua inclusão na vasta categoria dos escritores. Este parágrafo resolve a problemática criada no início da crônica de 1982, a qual parecia excluir a escritora Roig, que já era uma escritora reconhecida na época, do rol de escritores de talento. Com a inclusão desse parágrafo no ensaio, já se visualiza o desfecho para o problema colocado pelo crítico citado e já começam a ser apontadas outras possibilidades ou outra visão do fazer literário. Assim como na crônica, o ensaio trata das experiências da narradora com as características necessárias para ser um bom escritor, segundo o crítico literário que a orientou. A diferença, no ensaio, é o maior desenvolvimento das ideias, antes esboçadas na crônica. Ao abordar a relação com a bebida, é possível observar que o texto do ensaio é quase idêntico ao de 1982, com alguma adaptação ao novo texto, porém, com relação às drogas, além da afirmação de que fumar alguns cigarros de maconha não lhe fazia efeito algum, como já havia declarado na crônica, é adicionado um parágrafo no texto em que a narradora confessa haver usado cocaína algumas vezes, inclusive, tendo em uma dessas experiências desenvolvido uma teoria nova sobre o Don Quijote, embora não se lembrasse dela – de forma que apresenta o questionamento “¿qué provechos acaba de tanta lucidez si luego no podia almacenarla?” (ROIG, 2001, p. 20). Nesse sentido, a negativa do uso de drogas para “adquirir lucidez” aponta para as seguintes afirmações da narradora-autora: Con el tiempo descubriría que hace falta una predisposición especial para mirar, tocar, oler y escuchar como si fuese nuevo lo que a primera vista parece viejo, repetido, agotado. Hace falta mucho aerobic mental para volver a la capacidad de maravilla de niño. Ya lo decía Walter Benjamin: ‘Pensar, que es un narcótico eminente…’” (ROIG, 2001, p. 20).

O pensar como um narcótico se opõe ao uso das drogas que supostamente teriam a capacidade de “abrir mentes”, mas não de armazenar ideias. A necessidade de desenvolver um olhar diferenciado para a realidade, um exercício mental para ver o mundo como se tudo fosse novidade, isso é algo que a narradora afirma ser algo que deve compor um escritor. Essa habilidade de entender a realidade de forma singular faz com que o escritor seja capaz de recriar e representar o mundo literariamente, que seja capaz de mentir e seduzir o leitor.

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Percebe-se que pouco a pouco a narradora-Roig vai apresentando sua visão acerca da produção literária e do ofício do escritor. Se na crônica não havia espaço físico para o desenvolvimento de argumentos ou para digressões, o ensaio permite que a autora organize o seu texto de forma a fazer com que o leitor a acompanhe na exposição de sua visão acerca da criação ficcional. Dessa forma, questões somente pontuadas na crônica são agora desenvolvidas e também revistas, apresentando uma mirada mais aprofundada, como uma fotografia mais nítida – segundo a metáfora de Massaud Moisés – da problemática proposta. Com relação à homossexualidade, a narradora trata de discutir as relações femininas de amizade e de cumplicidade. Aponta para as conquistas femininas e afirma que muitas vezes amizade e amor se confundiram nas relações entre mulheres, e afirma que a amizade se sobrepõe, em seu caso, ao amor em relação a outras mulheres. Não sendo alcoólatra, viciada em drogas ou homossexual, se reafirma a negativa, já antes anunciada, de que a narradora-Roig pudesse ser uma boa escritora, segundo as afirmações do crítico seu amigo. Essa negativa é reforçada pela citação das palavras de Juan Benet, que já haviam sido apresentadas na crônica de El País. A diferença que se observa no ensaio é o aumento da citação de Benet. Se na crônica o escritor dizia que se para escrever bem fosse necessário que alguém violasse a própria irmã, que deveria fazê-lo, no ensaio há um aumento nessa citação, inclusive com um aumento de ações: “el novelista español Juan Benet me dijo, imitando a su adorado Faulkner, que si para escribir era necesario matar a la madre, quemar La propia casa, violar a la hermana, él lo haría” (ROIG, 2001, p.21). Há um exagero na citação de Benet que se evidencia na comparação da crônica com o ensaio. A ênfase no fato de que o escritor deve fazer qualquer coisa para escrever bem, presente no ensaio, entra em choque com as considerações da narradora sobre isso e com a visão que tem da dificuldade de colocar em prática o que dizem os escritores e críticos acerca do que é necessário para a escrita literária: Cada vez estaba más liada. No sólo tenía que emborracharme todas las noches teniendo como meta una cirrosis irreversible, drogarme o irme a la cama con la vecina, que no tenía ninguna culpa, sino que, además, tenía que quedarme sin casa, sin madre y forzar a una de mis cinco hermanas (porque Juan Benet, como Faulkner, no tenía en cuenta que también hay escritoras…, y ¿entonces qué, han de violar a su hermano?). Es decir, para llegar a ser una buena escritora, para construir la ‘inalcanzable página bien hecha’, un conjunto de frases de esas que no se olvidan, debía llevar una vida durísima, agotadora. ¿Y de dónde sacaría tiempo para escribir, con tanto trabajo por delante? (ROIG, 2001, p. 21 – grifo da autora)

As crenças acerca do que é necessário para escrever parecem dificultar muito o trabalho do escritor. O imaginário em torno à escrita literária leva a crer que o escritor tem de ser alguém diferente, ou, pelo menos, que faça coisas diferentes das pessoas comuns. O que faz a narradora-Roig é desconstruir esses mitos, demonstrando que é possível escrever boa literatura sem que alguém tenha que vivenciar as experiências radicais associadas ao escritor e ao processo de criação literária, afinal, como ela mesma diz, são tantas atividades as que comumente se creem parte da realidade do escritor que se ele se dispusesse a realizá-las, dificilmente teria como se ocupar da escrita. A citação também traz à tona a questão de que há mulheres escritoras, mesmo que muitos se esqueçam de considerá-las como tal. Essa afirmação aponta para o fato de que o espaço das mulheres que produzem literatura ainda é restrito e que esse lugar tem de ser Anais do XII SEL – Seminário [Internacional] de Estudos Literários - “Avatares do Folhetim”, Assis, UNESP, 2015 – ISSN: 2179-4871

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reconhecido. Embora essa discussão não seja aprofundada no ensaio em questão, é retomada por Roig em dois outros ensaios, em um apartado denominado La mirada tuerta, publicados também em Dime que me quieres aunque sea mentira. Percebe-se que esse livro de ensaios, ainda que conte com apartados com focos de discussão diversos, consegue estabelecer diálogos entre os textos, abordando as grandes temáticas que compuseram a obra da escritora catalã. A escrita literária, a mulher, a memória e a identidade catalã perpassam todos os textos, mostrando que apesar de que todos os ensaios têm um sentido único, juntos formam um retrato, uma reflexão da escritora acerca de sua produção. A dificuldade de vivenciar as experiências que alguns creem que formam os bons escritores leva à indagação do motivo pelo qual alguém escreve literatura. Essa indagação já havia aparecido na crônica e é redigida no ensaio com mais detalhamento, sem que isso, no entanto, modifique os argumentos apresentados no primeiro texto. Após comentar que havia entrevistado diferentes escritores e perguntado porque escreviam, a narradora afirma, como já o havia feito na crônica, que não é possível descrever o porquê da escritura, pois “No podemos elaborar ninguna teoria. Escribir es ir escribiendo” (ROIG, 2001, p. 22). Criando uma analogia – que não aparece na crônica – entre o escritor e o louco, que muitas vezes é entendido, romanticamente como um gênio, a narradora considera que a genialidade normalmente atribuída aos escritores (e muito associada àquele imaginário que comporia um bom escritor) é uma espécie de loucura controlada já que “el genio conoce su locura y sabe controlarla” (ROIG, 2001, p. 22). A loucura se transforma, assim, em uma característica do escritor porque “Aquel/aquella que escribe es quien controla su locura mediante la palabra, que sabe que es un loco y, por tanto, no está tan loco o sólo está loco porque aún cree que puede escribir” (ROIG, 2001, p. 23). Ou seja, essa loucura própria do escritor, intimamente relacionada à palavra, é mais uma metáfora do processo criativo, que pode ser torturante. A loucura e o sofrimento são para a narradora algo comum ao escritor, tanto que para confirmar seus argumentos cita diferentes autores, como Virginia Woolf, Antonin Artaud e Gérard de Nerval. Escrever acaba sendo uma atividade contraditória, pois ao mesmo tempo em que dá prazer, também está relacionada ao sofrimento. Ao focalizar o sofrimento, a citação de Vargas Llosa, que apareceu na crônica, é retomada no ensaio. O escritor, dessa forma, não é só essa pessoa que vive a experiência contraditória da escrita, entre o prazer e o castigo, mas também aquele que se apropria do sofrimento como matéria prima para a criação literária. Assim, ao questionar “¿No sería más bien que los escritores/escritoras no soportamos la felicidad – y todavía menos la de los otros – porque ésta es una materia difícilmente transformable en literatura?” (ROIG, 2001, p. 23-24), o texto cria um conflito entre o tipo de emoções ou sensações que os escritores representariam em suas obras. A felicidade parece ser um tema incompatível com a escrita, uma vez que a fugacidade que lhe é peculiar não teria o peso e a capacidade de atingir e de causar nos leitores a mesma empatia que o sofrimento e a dor teriam. É como se o sofrimento fosse mais universal que a felicidade, que talvez não atingiria a todos os seres humanos. La felicidad, me dijo la señora Patrícia Miralpeix, es como un tránsito. No podemos precisar qué provoca este estado, un vez pasado. Recordamos cómo nos sentimos en la ausencia de dolor, pero no qué sentimos. Pero de ahí que la desdicha, el paso del tiempo, la idea de la muerte, nos dan aliento para escribir. Sí, los escritores/escritoras

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somos un poco cuervos. Contemplamos la infelicidad humana…, y escribimos un cuento sobre ello. (ROIG, 2001, p. 24)

A citação da fala de Patrícia Miralpeix amplia a ideia da dificuldade de representação da felicidade. A brevidade e a impossibilidade de compreendê-la mais profundamente contrasta com a presença contínua do sofrimento, da desgraça e da morte no cotidiano humano – que, exatamente por isso se transforma em matéria da arte literária. Patrícia Miralpeix é uma personagem dos romances de Roig. Ela aparece na trilogia Ramona, adiós; Tiempo de cerezas e La hora violeta, além de compor também o enredo de outras obras literárias da autora. O diálogo entre a personagem literária e a narradoraRoig parece romper, novamente, as barreiras entre ficção e realidade, como que indicando a fragilidade dos limites entre a literatura e o real. Nesse momento do texto, a narradora começa a discutir as relações do escritor com a escrita literária: “Conciencia de finitud, atrapar el tiempo. He aquí el placer y el castigo del oficio de escribir” (ROIG, 2001, p.24). A escrita se apresenta ao escritor como uma moeda de duas faces, uma proporcionando o prazer e outra o castigo, o sofrimento. Recuperando a temática apresentada na crônica acerca das relações do escritor com seu oficio, a narradora-autora apresenta a visão de que a escrita é uma terapia que ajuda o escritor a fugir da loucura, da melancolia ou de outros dissabores da humanidade. Porém, considera que o motivo pelo qual se continua escrevendo, já que, para ela, nem todo processo de escrita é uma terapia, é o fato de que escrever é um privilégio. Assim, embora tenha uma relação íntima com a dor, com a tortura, na medida em que o escritor se vê obrigado a lutar “contra lãs palabras, para que no parez can piedras, ni mendrugos de pan duro” (ROIG, 2001, p. 26), a escrita também produz alento, já que o sofrimento, a escuridão “persigue la luz y la luz busca la oscuridad” (ROIG, 2001, p. 25). Iniciando a conclusão do ensaio e encerrando a questão acerca do que é necessário para ser um bom escritor, a narradora diz: No es necesario adoptar un código tan riguroso como el del señor Stephen Vizinczey. Le pidieron que esbozara algunos “consejos sensatos y prácticos para los noveles en la ocupación de escribir”. El escritor húngaro escribió con aplicación diez mandamientos, el primero de los cuales dice: “No beberás, ni fumarás, ni te drogarás”. Estoy de acuerdo, pero no por razones éticas, sino de eficacia. Si quieres escribir bien no hay tiempo para otras cosas. Un escritor/escritora borracho puede ser un gran escritor/escritora, pero no podemos olvidar que hay muchísimos homosexuales que nunca han sentido la necesidad de escribir. (ROIG, 2001, p. 2627 – grifo da autora)

Os argumentos do crítico que é citado no início do texto, e que já haviam sido, de certa forma, contestados pela narradora, são agora definitivamente desconstruídos. O apoio nos argumentos de outro autor demonstra que não há unanimidade entre as concepções acerca do que é necessário para que alguém seja um bom escritor, ademais, os argumentos desse autor vão de encontro às ponderações apresentadas pela narradoraautora, confirmando e dando confiabilidade às suas reflexões. A retomada dessa questão demonstra o aspecto circular do texto. As temáticas discutidas em seu início são encerradas no fim do ensaio, encerrando um ciclo e dandolhe o fechamento que representa a perspectiva da narradora-autora.

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É nesse sentido que são construídos os dois últimos parágrafos do ensaio. O penúltimo recupera o último parágrafo da crônica, desenvolvendo-o um pouco mais. Esse parágrafo defende que a literatura é a única droga que não mata e que causa prazer, mas o que há de diferente nele é a associação desse prazer à preservação da memória. (...)Placeres solitarios, vicios compartidos. El lector/lectora posee las palabras y desafía la finitud, acepta la sordidez y la belleza porque todo es uno, y, sobre todo, recuerda porque antes alguien recordó. Si existe un acto de amor, éste es la memoria, dice Josep Brodski a propósito de Nadiejda Mandelstam, la viuda del poeta ruso desaparecido en un campo estalinista. (ROIG, 2001, p. 27)

A memória se transforma em um ato de beleza e amor quando representada literariamente. A literatura, como já ressaltava a narradora no começo do ensaio, tem o papel de resgatar e preservar o passado e as recordações do ser humano. É nesse sentido que se apresenta o último parágrafo do ensaio: demonstrando a necessidade de recuperar a memória, a narradora sinaliza para habilidade humanizadora da literatura: Hay que recordar, hay que evocar, no hay arte más temporal que la literatura. Podemos enfermar con el recuerdo, pero, al final del largo y lento proceso de la escritura, descubriremos que hay algo, que hay alguien, al otro lado, que todavía late, que todavía existe. (ROIG, 2001, p. 27)

A literatura é entendida, assim, como uma manifestação que aproxima os homens, que preserva aquilo que constitui identidades, culturas e histórias ao transformar a matéria memorialística em uma manifestação artística capaz de sobreviver ao passar do tempo. Esse foco na representação literária da memória que está presente no ensaio não havia aparecido na crônica e demonstra um processo de amadurecimento da visão da escritora sobre o processo de criação literária. Com a questão da preservação da memória, pode-se dizer que o sentido do ensaio se expande em relação ao que se constrói na crônica de 1982. Sobre a relação entre os dois textos, observa-se que a crônica publicada em El País é uma espécie de esboço das concepções da autora sobre o tema da constituição do escritor, dos motivos para escrever e da própria natureza da obra literária. As ideias apresentadas nela são recuperadas e mais desenvolvidas no ensaio, que, pela própria natureza do gênero, deu mais liberdade à autora para apresentar novos argumentos e apresentar de forma mais detalhada sua visão da questão. A produção literária e sua relação com o escritor, que oscila entre o prazer e o castigo, é abordada nos dois textos como algo complexo, que está relacionado ao labor, ao trabalho com as palavras. Já o escritor é representado como alguém privilegiado por poder escrever, por ter contato com uma arte que vicia, que dá a ele a possibilidade de expressar aquilo que tem de mais sórdido e sublime ao mesmo tempo. Por outro lado, o castigo que vivencia o escritor se relaciona ao trabalho de garimpar palavras e de lapidar o texto. Entre o prazer e o castigo de escrever, a literatura se mostra como uma mentira, como uma tentativa de representar a realidade de forma trabalhada artisticamente. Mas não é só isso, a literatura acaba assumindo também o compromisso de não deixar que histórias desapareçam e que a memória seja apagada. A literatura se transforma em um artifício para a preservação do passado.

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