ENTRE SINHÁS E NHONHÔS: UMA LEITURA DA CRIADAGEM DOMÉSTICA A PARTIR DA LITERATURA DE CIVILIDADE LUSO-BRASILEIRA (1840-1889

June 7, 2017 | Autor: Luíra Freire | Categoria: Historia De La Vida Privada
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ENTRE SINHÁS E NHONHÔS: UMA LEITURA DA CRIADAGEM DOMÉSTICA A PARTIR DA LITERATURA DE CIVILIDADE LUSO-BRASILEIRA (1840-1889) Dr. Flávio Carreiro de Santana1 Dra. Luíra Freire Monteiro2

RESUMO “O peior inimigo é o de casa”: com essa máxima o Bispo do Pará, em 1877, alertava os leitores para os riscos que corriam as famílias brasileiras ao manter, em seu cotidiano, práticas julgadas erráticas, e que eram cometidas pela educação viciada dos criados em circulação no lar. Não se constituindo como discurso isolado, a literatura provocada pelo Bispo do Pará apresenta apenas uma amostra do corpo documental que circulava durante o Segundo Reinado no Brasil, mas que igualmente pretendia aconselhar a família brasileira à bem se civilizar, e assim, aos “domésticos” que lhe eram contíguos pela prestação de serviços, sendo muitos deles compostos por escravos. Esse trabalho procura entender, então, como a literatura de civilidade luso-brasileira prescrevia os ritos da vida privada concernente ao trato com os criados, objetivando, sobretudo, compreender a proposta de separação dos domésticos à intimidade familiar.

PALAVRAS-CHAVES: Família. Império. Criados. Civilidade. História.

Fenômeno marcadamente Oitocentista, a privacidade brasileira ganhara fortes contornos em torno da família ou daquilo que dela se dizia. A literatura normativa de época, nesse sentido, cumpria também a sua função educadora: práticas, espaços e relações passaram a ser ensinados para o consócio de uma boa representação pública, bem como inspirando certa valoração à boa educação, então tida por civilizada. No discorrer de muitas páginas que procuravam bem alertar ao leitor para o ensino da boa educação também encontramos uma clara preocupação com a criadagem, um tipo de personagem-antítese do ser civilizado no Brasil oitocentista, mas também presente na literatura estrangeira em mesmo tom precavido, porque dotados de modos combatidos por sua vulgaridade ou “popularidade”. Historiador vinculado ao Departamento de História da Universidade Estadual da Paraíba, Campus III – Guarabira - PB. 2 Historiadora vinculada ao Departamento de História da Universidade Estadual da Paraíba, Campus I – Campina Grande - PB. 1

No Brasil império, e especialmente durante o Segundo Reinado, quando se passa a circular com mais constância tal literatura, e que constitui a temporalidade das fontes aqui retratadas, a criadagem doméstica ganhava contornos muito precisos: se a literatura de civilidade já apresentava grande investimento dos ideais burgueses, no cotidiano, ela chocava-se ou amalgamava-se com uma vivência da privacidade diametralmente oposta ao discurso. É o caso, por exemplo, da presença escrava na convivialidade brasileira, cujas relações extrapolavam em muito as dimensões apenas trabalhistas ou prestamistas. Nos ditos do Bispo do Pará, obviamente em tom religioso, a criadagem devia ser encarada com cuidado e piedade cristã. A convivialidade contigua à família impunha aos pais atenção cotidiana redobrada: desse cuidado se podia evitar, por exemplo, a degeneração moral e física dos filhos. Se a domesticidade abrigava os criados como “gente de casa”, incluindo-os no rol da vida privada, era preciso que estes sofressem sanções de modo a também se civilizarem. Afinal, alertava, quantas crianças se faziam perder desde muito pequeninas por uma convivência danosa com a criadagem? Quantas amas, por exemplo, não eram o oposto de mulheres sadias, cuidadosas, de gênio manso e de bom costume? Quantas amas não ensinavam “horrendos vícios aos pequeninos” por serem mulheres iradas, cruéis, dada à embriaguez, sem probidade, transmitindo com o leite os seus vícios?3 A relação da criadagem com a família, então considerada pelo bispo uma “republicazinha de ordinário muito tumultuosa”4, carecia de grande ordenação dos patrões/senhores. Tão cedo esse cuidado fosse levado a cabo, melhor para todos, pois fora do controle, os criados podiam se verter em “verdadeiras serpentes no lar”, podendo mesmo “envenenar a civilização” caso não fossem “moralizados” pelos patrões/senhores, tal como expunha: Eu estremeço quando penso na mistura funestissimade nossas familias com o elemento servil! Quantas vezes uma jovem tem confidências intimas com pessôas que a moralidade e o decoro social aconselhariam que se conservassem a respeitosa distancia! Quantas vezes o pai e a mãe, para mais licremente frequentar as sociedades do mundo, abandonam seus filhos a escravos, ou a outas pessôas da mesma laia, ordinariamente ignorantes, falando mal a lingua, de modo pouco polidos, e até – o que é mais, - d’estragados costumes!5

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COSTA, 1933, p. 142-143. Por respeito aos originais consultados manteremos na transcrição a grafia da época. 4 Ibid, p. 273. 5 Ibid, p. 275.

Assim, nada pior às famílias que ver sua vida privada devassada pelos criados, tornado público o cotidiano do lar. A fofoca, nesse sentido, ganhava bastante atenção nos discursos normativos. Para o Bispo do Pará, tomando parte do que no lar se passava, a fofoca da criadagem podia “manchar a família”, fazendo dela uma “desgraçada de comédias na rua” ou “enleiadas em embaraços e dissenções, que produzem funestas tragédias no interior das casas”, por estarem “inteirados destas miudezas de scenas domesticas!”6. Igual entendimento teve certo “Cavaleiro***” ao aconselhar aos leitores que os criados estavam “sempre dispostos a repetir e comentar o que ouvem”7. Em alguns ambientes da casa, tais como à mesa, o cuidado com a presença do criado deveria ser redobrado: era ali que se expunham as conversas familiares e se aclimatava a fofoca entre a criadagem, posto que já se tinham-nos na conta de “faladores e confiados”, uma vez que, acreditava, “criados há, como já tereis experimentado, que dando-se-lhes o pé, tomam a mão, como vulgarmente se diz”8. Aliás, a presença do criado à mesa, especialmente na presença de convidados, evocava alguns cuidados ainda mais precisos. É o mesmo conselheiro que alerta aos leitores brasileiros e portugueses para que esses trajassem luvas ao servir os hóspedes, pois nada havia de mais desagradável, e incivilizado, do que “ter de receber das mãos, geralmente grosseiras, e algumas vezes não muito asseadas, d’um criado, qualquer objecto de que tenha de servir-se”9. Considerava, então, o uso da luva entre os criados uma moda muito pertinente, porque ajustada ao trato da boa educação. Em outro título largamente consumido no Brasil oitocentista, J. I. Roquette também cercava os leitores de atenção sobre o tratamento da criadagem doméstica. Primeiro alertava para que os patrões não tivessem “práticas com ele”, evitando com isso uma “demasiada familiaridade”, o que facilmente corrompia o “homem limpo e bem criado” com hábitos tidos por inferiores. Assim, era dever do patrão não apenas manter certa distância da criadagem, com vigiá-la perenemente, observando “o que se passa em casa”, não deixando-os “ociosos”, como já apregoava o antigo adágio em que “mente vazia era oficina do diabo”, o que podia ser extensivo ao tempo livre para promover fofocas10.

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BISPO DO PARÁ, 1877, p. 58. CAVALHEIRO ***, 1845, p. 55 8 Ibid, p. 54. 9 Ibid, p. 45. 10 ROQUETTE, 1875, p. 267; p. 269. 7

A demasiada familiaridade também foi motivo de preocupação de outro atento conselheiro. Na verdade, sua atenção se voltou à intimidade comumente havida entre criados e senhores e que punha em risco a própria estrutura da família. Julgando “perigosas” tais relações, chegando mesmo a “dissolver casamentos” e abalar a paz e ordem familiar, tornando virgens escravas em barregãs, seria considerado um mau senhor àquele cujos laços de intimidade permitia espaço para a “imoralidade dos escravos”. A solução para evitar tais perigos parecia bem clara, conforme apontava o conselheiro Pedro Ernesto: Não são poucos os que se queixão da immoralidade dos escravos, e de facto n’estes ultimos tempos ella tem caminhado rapida e espantosa; mas a quem é devido esse mal? E’ devido a muitos senhores, que pelos máus exemplos das desordens domesticas, tem ensinado a immoralidade e a devassidão; e igualmente aquelles que só curão dos interesses, desprezando a direcção moral dos escravos11.

É nesse sentido que a conduta exemplar do patrão/senhor se impunha à criadagem doméstica como comportamento modelar. Para Luiz Verdardi, era preciso que a privacidade fosse abstida de “palavras e ações de cólera” a respeito dos súditos ou domésticos12. J. I. Roquette também era categórico: os amos deviam servir de exemplos para os criados, o que era corroborado pelo conselheiro Pedro Ernesto, para quem os escravos seguiam a “conduta reta dos chefes de família”. O Bispo do Pará, por sua vez, considerava importante observar que o amo ou senhor não devia se portar como um “tirano ou déspota”, tratando a “gente de casa (dosmetici)” como “animais, ou como machinas brutas”13. Antes, o amo devia dar “bom exemplo, direção e proteção” aos criados, quando não fortes sinais de zelo, ao, por exemplo, dar-lhes “um prato mais generoso” de comida nas refeições. A máxima parecia ter seu sentido próprio e se justificava: “eles vão ter afeição” aos amos. Está implícita a compreensão de que conduta modelar dos “amos” concorria para a própria boa educação familiar. Recorrer ao discurso do “bom exemplo” implicava igual disciplina e retidão de comportamento entre os patrões/senhores. Afinal, quanto mais impróprio

o comportamento na privacidade mais

facilmente

era facultado

comportamentos “imorais” entre os criados, bem como uma publicidade desabonadora

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OLIVEIRA, 1864, p. 109. VERARDI, 1880. 13 BISPO DO PARÁ, 1877, p. 55. 12

das famílias rogadas como honradas e civilizadas. Por isso mesmo, lembrava o Bispo do Pará, “o peior inimigo é o de casa”, ou seja, o criado doméstico. Aliás, o Bispo do Pará se constitui como o mais conservador dos conselheiros em matéria de educação e convivência com os criados domésticos, cujas máximas faziam jus ao propósito de manter uma rigorosa disciplina na rotina familiar. Como exemplo, considerava justo que uma dona de casa exigisse que os seus domésticos tratassem aos filhos com “toda a deferência e respeito, não permittindo certas liberdades”. E nesse sentido, concluía em tom enfático: (...) por sua parte os tratará [aos criados] com benevolência e polidez, sem todavia dar lhes demasiada confiança, nem conhecimento dos negocios íntimos da familia, nem permittir que tenham familiaridades com qualquer de seus filhos ou filhas. Este ponto é de summa importancia, maiormente no estado em que se acham os nossos costumes14.

Logo, assim como pretendido pelo Bispo do Pará, uma série de práticas deviam se estabelecer no cotidiano privado para o bom regramento da criadagem, e muitas delas diziam respeito ao comportamento dos próprios “amos”. J. I. Roquette procurava alertar para certa independência dos patrões para com os criados, cuja autonomia nos afazeres diminuía uma maior ocorrência de proximidade ou familiaridade. Por isso, aconselhava que não era de bom-tom que uma jovem devesse esperar que um criado lhe fizesse tudo, tal como trazer-lhe um copo d’água, cena tão comum na América espanhola, “para não falar da portugueza”, acrescenta. Vestir-se e se despir só no quarto era um rito cotidiano que imprimia menor intimidade com a criadagem. Na seção “Conselhos Uteis” o Dr. Fellipe Neri Collaço parecia corroborar com a mesma máxima do cônego Roquette, e que dizia respeito à independência dos patrões/senhores com relação à criadagem doméstica. Por isso mesmo, sua assertiva aconselhava aos leitores: “se quereis ter um servo fiel e com o qual possaes contar, servivo-vos a vós mesmos”15. Para tanto, era comum durante o Brasil do Segundo Reinado que os laços de familiaridade entre patrões/senhores e a criadagem doméstica fossem estreitos, tal como apontou diversos viajantes estrangeiros. Entre a amostra, merece destaque o olhar atento da alemã Ina Von Binzer, cuja próxima relação entre senhores e criados lhe causava

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COSTA, 1933, p. 275. COLLAÇO, 1880, p. 263.

espanto, bem como graça e preconceito, ao discorrer em correspondência datada de 5 de maior de 1882: Em todas as famílias, trata-se a dona da casa de Sinhá, o senhor de Sinhô, a filha mais velha de Sinhazinha, o filho mais velho de Nhonhô; as duas últimas denominações também são usadas pelos irmãos, entre si. As outras crianças dizem também Nhonhozinho, Nhanhá, Sinhara, Nenê, Bebê, muitas vezes, e outros apelidos do mesmo teor cada qual mais feio que outro. Imagine os seguintes irmãos enfileirados: Sinházinha, Nhonhô, Nhanhá, Sinhara, Nenê, Nhonhozinho, Bebê; para nossos ouvidos, representariam o cúmulo do mau gosto, mas eles existem de fato, em todas as familias do Brasil 16.

O apontamento da alemã revela a íntima aproximação cotidiana entre amos e serviçais. A adoção por formas de tratamento hierarquizadas, cuja corruptela semântica mantém a subordinação dos criados aos sujeitos a quem servem, deixa entrever também a relação de carinho embutida nos muitos diminutivos empregados. Certamente, a distância que separava, socialmente, os servos e dos servidos, era encurtada pelos apelidos afetuosos, e que se deixa entrever no jogo léxico das formas de tratamento. Outras situações igualmente próprias à privacidade brasileira oitocentista também podem ser depreendidas da leitura de certo manual escolar escrito pela professora Guilhermina de Azambuja Neves. Em livro dedicado à instrução de jovens estudantes, lembrava que os escravos deveriam ser tratados como servos pelos senhores, mesmo que o espírito, a educação e a posição social não fossem iguais entre eles. Recorrer ao conselho da servidão, em tempos já de discursos emancipacionistas, talvez minimizasse a ideia perversa da submissão e coisificação humana da condição escrava. Mas não apenas. Conforme apontava a própria professora, e que se deduz da consulta do pequeno manual, o leitor podia, ele mesmo, ser filho de um escravo! Sendo então publicado contemporaneamente à própria Lei do Ventre Livre, D. Guilhermina procurava educar esse novo estudante brasileiro, saído da condição escrava embora com ela mantendo íntima proximidade pela relação filial. Por isso alertava a este público leitor que seus pais eram criaturas humanas iguais aos seus senhores, embora que, por essa condição, fossem “menos felizes”. A lógica parecia clara à época: em se tratando de uma clivagem social já

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VON BINZER, 1956, p.84. Para uma amostragem ainda maior das relações entre senhores/patrões e criados a partir da literatura de viagem feita por estrangeiros, ver os textos compilados por Miriam Moreira Leite (1993). Os fragmentos textuais dão conta de uma maior diversidade de funções contíguas ao cotidiano e privacidade brasileira durante o Oitocentos, revelando ainda uma pluralidade de atores e trabalhadores ligados ao trabalho doméstico.

estabelecida, ou seja, a de que havia uma posição social elevada e outra inferior, por isso mesmo havia uma diferenciação entre “quem serve e quem é servido”17. Os filhos nascidos livres, mas de pais ainda escravos, constituíam-se em personagens próprios apenas ao caso da privacidade brasileira, cujo espaço por vezes lhe cabia e que, de certa forma, também era seu por servir de residência ou lugar de convivência. Para estes pequenos leitores, D. Guilhermina alertava para certos comportamentos indispensáveis à convivialidade com os senhores de seus pais: falar com eles sem soberba, aspereza ou grosseria; demonstrar resignação, bondade e, principalmente, “amor ao trabalho”, mostrando-se diligente na ajuda dos afazeres domésticos; e agradar aos senhores dos seus pais sem “adular” ou mostrar “baixeza” diante deles, afinal, a liberdade lhe era uma condição certa, e tais comportamentos eram esperados apenas dos escravos. Assim, arrematava a professora: os meninos assim educados “tem melhorado a vida dos pais” escravos, certamente por evitar muitos inconvenientes na casa de seus senhores18. De resto, sob a atmosfera da igual oportunidade pela educação, a polidez oitocentista procurava normatizar o comportamento dos filhos de pais escravos, de modo indiscriminado, tal como pretendido século atrás por Erasmo de Roterdã a partir do seu A Civilidade Pueril. Como se deduz da leitura, D. Guilhermina também ensinava aos jovens leitores que “As acções respeitosas e polidas são de todas as idades, sexos e posições, e quem se affaz desde menino a proceder com decencia, será assim toda sua vida”19. Igualmente tratou o D. Lino Coutinho sobre o correto tratamento com a criadagem, sobretudo com os escravos, em conselhos que foram dirigidos à filha, Cora Coutinho. Para o pai, Cora devia agir com correções morais, e não físicas, aos excessos ou desvios de comportamento praticados por seus escravos domésticos. As penas podiam variar muito, conforme a gravidade de desvio do próprio criado, conforme adiantou algumas alternativas: “a privação do vosso agasalho, a diminuição da comida e vestuário, o augmento do trabalho, e por fim a prisão em quartos fechados, ou no tronco,

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NEVES, 1875, p. 52-53. Como lembra Michelle Perrot (1995, p. 178), o fato de ter um criado marcava a “ascensão de uma casta superior: a das pessoas servidas”, ou seja, aquelas que podiam se consagrar ao tempo livre e á ostentação do luxo. 18 Ibid, p. 56-57. 19 Ibid, p. 60-61.

principalmente quando se embebedarem, porque quase todos elles são inclinados á semelhante vicio”20. Em sua condição feminina, Cora deveria se abster de agir com cólera contra algum escravo, pois violência não ficava bem praticado por uma mulher. Assim, os casos “criminosos e incorrigíveis” eram passados ao domínio do marido, procedendo com sua venda. Das escravas de servir, como também eram tratadas as criadas domésticas, deviase evitar a também a “immoralidade”, sendo “o melhor expediente o de as casar logo com alguns dos vossos próprios escravos a fim de as cohibir” das horrendas práticas tidas na rua, ou mesmo na própria casa. Hábitos esses que, para o pai conselheiro, mortificava “a uma senhora bem educada e virtuosa”21. Ademais, os bons cuidados com a criadagem tinham outra faceta: eles revelavam, para além da simples bondade humana, a própria boa educação doméstica dos “amos”. No caso exemplar de Cora, foi aconselhado que ela fosse não apenas “humana e charidosa”, mas que cuidasse da “boa sustentação e vestuários, quando sãos, e mandando-os bem curra, quando doentes”22, relação que seria vertida, acraditava-se, em obediência e gratidão por parte dos criados. Contudo, ao entrever as relações entre “amos” e “servos” a partir da literatura normativa, apenas se chegou parcialmente aos resultados, compondo em fragmentos narrativos as parcas observações encontradas. Embora sejam reveladores de códigos sociais e comportamentais pretendidos, cuja privacidade era posta em tela, tal literatura, no mais das vezes, não correspondia às práticas cotidianas vividas. Ainda assim, é possível compreender como, mesmo em amostras tão curtas como são as menções à lide com a criadagem doméstica, a boa educação tentava organizar o mundo sob o fundamento da civilização da nação, então representada pelo núcleo familiar.

Referências bibliográficas

BISPO DO PARÁ. Deveres da família. Rio de Janeiro: Typografia do Apostolo, 1877.

CAVALHEIRO ***. Manual de civilidade e etiqueta para uso da mocidade portugueza, e brazileira. Lisboa: Typ. da Soc. Propagadora dos Conhecimentos Uteis, 1845. 20

COUTINHO, 1849, p. 165. Ibid, p. 166. 22 Ibid, p. 166. 21

COLLAÇO, Dr. Fellipe Neri. O thesouro da família brasileira: encyclopedia dos conhecimentos indispensavel a vida pratica. Recife: M. J. G. Braga & C, 1880. COSTA, Dom Antonio de Macedo (Bispo do Pará). O Livro da família ou explicação dos deveres domesticos segundo as normas da razão e do Christianismo. 2ª edição. Petropolis: Typografhia das Vozes de Petropolis, 1933. COUTINHO, José Lino (1849) Cartas sobre a educação de Cora, seguidas de um cathecismo moral, político, e religioso, Bahia, Typografia de Carlos Poggetti. LEITE, Míriam Moreira. A condição Feminina no Rio de Janeiro – século XIX: antologia de textos de viajantes estrangeiros. São Paulo: Editora HUCITEC, 1993. (coleção Estudos Históricos). NEVES, Guilhermina Azambuja. Entretenimento sobre os deveres de civilidade Collecionados para uso da puericia brazileira. 2ª Edição. Rio de Janeiro: s.n.t., 1875. OLIVEIRA, Pedro Ernesto Albuquerque. Deveres do homem: reflexões moraes e philosophicas para uso da infância. São Paulo: Typografia Litteraria, 1864. PERROT, Michelle. “Figuras e papéis” In: História da vida privada: da Revolução Francesa à Primeira Guerra. 5ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. ROQUETTE, J. I. Codigo do bom tom ou regras da civilidade e do bem viver no XIX século. Pariz: Caza de Vª J.-P. Aillaud, Guillard e Cª, 1875. VERARDI, Luiz. Novo manual do bom tom. 3ª edição. Rio de Janeiro: s.n.t., 1880. VON BINZER, Ina. Alegrias e tristezas de uma educadora alemã no Brasil. São Paulo: Editora Anhembi Limitada, 1956.

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