Entrevista a Sandra Vieira Jürgens

July 28, 2017 | Autor: Miguel Sousa Ribeiro | Categoria: Museum Studies, Curatorial Studies and Practice, Interview Questions
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ENTREVISTA A SANDRA VIEIRA JÜRGENS – CRÍTICA, HISTORIADORA DE ARTE E EDITORA. 5 DE MARÇO DE 2014

Entrevista a Sandra Vieira Jürgens para um artigo de investigação – relacionado com o curador e as suas múltiplas funções; a forma pertinente como este deve pensar e actuar e a sua relação/mediação entre artista, público e museu.

5 de Março de 2014 Por Miguel Sousa Ribeiro >>>>>>>>> Miguel Sousa Ribeiro – O Curador tem, ou pode ter, uma postura co-autoral, além de mediador? (Seja porque escolhe o que expor ou pelo facto de o seu pensamento, por vezes, ser trabalhado pelo próprio artista no seu processo criativo ou até quando selecciona; escolhe espaço, pensa a exposição e mensagem a passar). Sandra Vieira Jürgens – O curador é um mediador, mas a sua mediação pode implicar um trabalho autoral, criativo. Isso depende da forma como pensa, conceptualiza e selecciona os trabalhos para uma determinada exposição. Varia de caso para caso. Há curadores que a a exploram mais, outros menos. Depois, na sua relação com os artistas, pode gerar-se um maior ou menor diálogo, e haver ou não uma intensa co-autoria. O artista pode contribuir para o processo autoral da curadoria e o curador beneficiar o trabalho autoral do artista. Aqui também depende, varia, há artistas que podem contribuir mais para o trabalho dos curadores e vice-versa. Nem sempre é uma relação de negociação equilibrada. O ideal seria que fosse. MSR: Quais as perspectivas (ou potencialidades; possibilidades; caminhos) da prática curatorial inovar (expandir; reinventar) num momento ou contexto de “saturação” de exposições? (Seja nos espaços expositivos, por exemplo sair do Museu e galeria e reinventar novos espaços, um pouco ao jeito do ready-made, mas agora o objecto é o espaço, recolocar um espaço, dar-lhe agora a função de ‘galeria’ quando por exemplo pode estar abandonado e ter sido outra coisa qualquer). SVJ :A prática curatorial e sobretudo as práticas artísticas tem contribuído para que haja um desenvolvimento e novas formas de expor e trabalhar o espaço. Posso enviar alguns textos onde trato essa questão, de exposições em espaços independentes, habitacionais, fabris, e de instalações que reformulam a relação com o espaço arquitectónico. MSR – Em que medida o Curador implica, ou pode implicar, na dimensão Política e Social?

SVJ – Eu penso que o curador, para ter um trabalho pertinente terá de implicar-se no seu contexto, físico, político, social. Desse modo, reflectindo sobre ele, posicionandose, pode contribuir para um pensamento crítico sobre a história, o presente. MSR – Partindo do pressuposto que um dos papéis do Curador, e do Museu, é tratar das injustiças sociais, daí a sua forte conexão ou impacto Social ou Político, podemos ver o Curador também numa postura educacional e pedagógica? Seja dos públicos, abrangentes para uma maior preocupação da fruição, seja dos próprios Museus, principalmente os periféricos para sensibilizá-los, cada vez mais, para a função (e “utilidade ou necessidade”) do Curador? SVJ – A presença do curador, o reconhecimento da sua função implica estar consciente de que deverá existir um especialista que pensa sobre a obra de um artista, que selecciona e aborda determinados conceitos numa exposição. Eu penso que a curadoria é uma forma de produção de conhecimento e desse modo é importante enquanto potenciadora da proliferação de sentidos sobre uma obra, pode ajudar a gerar o diálogo sobre as peças e o trabalho de um artista, apresenta uma visão sobre elas e pode motivar uma troca de ideias, indicar o que está aí e não foi pensado sobre determinada coisa. Conduz à reflexão. E assim sendo, tem uma vertente pedagógica. MSR – Para se fugir e combater a ideia dos centros versus periferia, ou seja, para que haja uma, pelo menos, maior descentralização no que à Arte diz respeito, pois com ela viria tudo o resto, um ponto de partida não pode ser dado em função da resposta anterior? Assumindo o Curador o seu devido lugar no Museu “periférico” o mesmo não poderia passar, em breve trecho, a ser considerado tão central ou mais central? SVJ – Completamente, a entrada dos curadores nos museus e a sua presença nas exposições promove uma maior profissionalização nesta área.

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