ENTROPIA E MORTE DO SISTEMA CAPITALISTA MUNDIAL

June 2, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: Economics, Capitalism, Entropy
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ENTROPIA E MORTE DO SISTEMA CAPITALISTA MUNDIAL Fernando Alcoforado* A entropia é uma grandeza termodinâmica que mede o grau de irreversibilidade de um sistema encontrando-se geralmente associada ao que se denomina por "desordem" de um sistema termodinâmico. Entropia mede o grau de desordem de um sistema. Quanto maior a desordem de um sistema, maior a sua entropia. De acordo com a segunda lei da termodinâmica, uma caldeira produz trabalho ao converter a energia do combustível utilizado em calor, e por conseguinte em energia térmica. Mas, a energia térmica não pode ser completamente revertida em trabalho. Um exemplo de entropia é a iluminação fornecida por lâmpadas incandescentes, em que nem toda a eletricidade (energia) usada é convertida na forma de luz (energia útil), mas uma parte se perde na forma de calor (energia inútil para a iluminação). Os conceitos de processos reversíveis e irreversíveis podem ser descritos matematicamente usando-se o conceito de entropia. Chama-se processo reversível aquele em que o sistema pode, espontaneamente, retornar à situação (ou estado) original. Isso ocorre geralmente em transformações mecânicas sem atrito. No caso de haver atrito, o corpo sofre perda de energia e, portanto, não poderia voltar à situação inicial. Nesse caso, este é um processo irreversível que é aquele cujo sistema não pode, espontaneamente, retornar ao estado original. Gelo derretendo é um exemplo clássico de aumento de entropia que se trata de um processo irreversível. A teoria da entropia tem por objetivo, portanto, medir a degradação de energia que ocorre em um sistema de acordo com a segunda lei da termodinâmica e o fato de que em qualquer mudança física nem toda a energia que está no sistema inicial e que constitui o corpo é encontrado no sistema e na constituição do corpo final. Enquanto a entropia é a medida da desordem ou da imprevisibilidade do desempenho de um sistema, a sintropia é o seu oposto, isto é, representa o grau de ordem e de previsibilidade existente em um sistema. O princípio da sintropia é um processo que se opõe à perda de energia e desorganização através de uma injeção de novas energias geradas a partir deste mesmo processo ou de outros, de fora do sistema. Um exemplo de sintropia é o metabolismo de organismos vivos em que, para enfrentar o catabolismo que leva ao consumo e destruição do tecido do organismo para viver e exerce o anabolismo, reconstitui os tecidos através da ingestão de alimentos ou seja, substâncias retiradas do mundo exterior ao organismo/sistema. A sintropia é um princípio cibernético de organização, de unificação, ao contrário do da entropia, que é o da desorganização, da desintegração. Existe a entropia (perda, desorganização) e a sintropia (ganho, organização) no âmbito da termodinâmica (energia) e da cibernética (informação). Um sistema é cibernético quando processa informações e é capaz de ajustar seu próprio funcionamento automaticamente ao processar as informações (feedbacks) vindas de dentro e de fora do próprio sistema. Alguns exemplos de sistemas cibernéticos são organismos vivos, máquinas automáticas, instituições, etc. Entropia é a tendência dos sistemas cibernéticos de se desorganizarem, perdendo energia e informação e rumar para a autodestruição. Sintropia é a programação dos sistemas cibernéticos para se organizarem e reorganizarem de modo a manter ou repor energia e informação visando a preservar sua configuração e existência, um programa de auto-preservação.

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Pode-se afirmar que o sistema capitalista é um sistema que opera de acordo com o princípio da entropia porque apresenta a tendência universal de evoluir para uma crescente desordem e autodestruição. Esta situação é demonstrada pela tendência de queda da taxa de lucros dos Estados Unidos, maior economia mundial que foi de 24% em 1950 e 13% em 2000 e alcançará uma taxa de lucro igual a zero em 2059, bem como pela queda da taxa de lucro ao custo histórico do capital fixo das corporações dos Estados Unidos que foi de 32% em 1947 e 13% em 2007 e alcançará zero em 2048. Conclui-se, portanto, que o sistema capitalista mundial ficaria inviabilizado entre 2048 e 2059 porque as taxas de lucro serão negativas a partir de meados do século XXI. O neoliberalismo ao negar a regulação do sistema capitalista mundial colabora no sentido de levar o sistema à autodestruição. Todos os dados disponíveis apontam no sentido de que o sistema capitalista mundial evolui para uma crescente desordem e autodestruição porque o planeta Terra já está atingindo seus limites no uso de seus recursos naturais. Hoje, por conta do atual ritmo de consumo, a demanda por recursos naturais excede em 41% a capacidade de reposição da Terra. Se a escalada dessa demanda continuar no ritmo atual, em 2030, com uma população planetária estimada em 10 bilhões de pessoas, serão necessárias duas Terras para satisfazê-la. Atualmente, mais de 80% da população mundial vive em países que usam mais recursos do que seus próprios ecossistemas conseguem renovar. Os países capitalistas centrais (União Europeia, Estados Unidos e Japão), devedores ecológicos, já esgotaram seus próprios recursos e têm de importá-los. Um fato indiscutível é o de que a humanidade já consome mais recursos naturais do que o planeta é capaz de repor. O sistema capitalista é o principal responsável por esta situação ao esgotar os recursos naturais do planeta Terra e ao poluir ao extremo o solo, os recursos hídricos e os oceanos, além de ameaçar a sobrevivência da humanidade e dos seres vivos em geral com a mudança climática catastrófica resultante da emissão de gases do efeito estufa. Além disso, o sistema capitalista mundial apresenta tendência decrescente da taxa de lucro que terá o valor zero em meados do século XXI. O sistema capitalista mundial é um excelente exemplo de entropia haja vista que tende a uma crescente desordem que o levará inevitavelmente ao colapso como sistema econômico. Georgescu-Roegen (1906-1994), economista romeno, autor do livro The Entropy Law and the Economic Process, de 1971 (GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas. The Entropy Law and the Economic Process. Cambridge: Harvard University Press, 1971), procurou integrar a economia com a termodinâmica, com a biologia evolutiva e com a ecologia, razão pela qual é conhecido como o pai da economia ecológica. Em termos de metáfora, leis como a da queda tendencial da taxa de lucro (de Marx) e dos rendimentos decrescentes no sistema capitalista podem ser consideradas como entropias do sistema econômico. E parece também evidente que a entropia que ocorre no mundo material se reflete, também, na atividade econômica. Mas este economista foi mais longe ao tentar instituir a entropia como lei econômica (ALDEIA, João. Entropia e (de)crescimento. Disponível no website ). O previsível esgotamento dos recursos minerais, particularmente os energéticos, e as ameaças de alterações climáticas catastróficas, temas maiores da agenda ecológica, encaixam bem no processo entrópico. A atividade econômica dá origem a novos produtos e a soluções para novos e velhos problemas (para as doenças, antigas e novas, a farmacologia e a biotecnologia, por exemplo), mas à custa da desestruturação de 2

outros sistemas, o que, em última análise, conduzirá à morte do conjunto. Até a década de 1960, o crescimento econômico parecia ser a única saída para promover o bem-estar dos povos. Georgescu-Roegen, versado em matemática e estatística, ousou desafiar o discurso tradicional e discorreu palavras fortes em sentido contrário a uma lógica que parecia, até então, irretocável. Esse especialista, em seu tempo, disse, entre outras coisas, que “os níveis de crescimento da economia não mais poderiam prosseguir sem que as gerações futuras pagassem o ônus da irresponsabilidade” (OLIVEIRA, Marcus Eduardo. Economia e Entropia: A Economia do Futuro e o Futuro da Economia. Disponível no website , 2010). É por tudo isto que se torna um imperativo a implantação de uma sociedade sustentável em escala mundial que é aquela que satisfaz as necessidades da geração atual sem diminuir as possibilidades das gerações futuras de satisfazer as delas e, desta forma, contribuir para a construção da paz mundial. A nova Sociedade Sustentável Global deve ser capaz de regular a economia mundial e as relações internacionais baseadas em um Contrato Social Planetário visando promover a prosperidade econômica global com base no modelo de desenvolvimento sustentável em benefício de todos os seres humanos. Este Contrato Social Planetário deveria resultar da vontade da Assembleia geral da ONU que se constituiria no novo Parlamento Mundial que elegeria um Governo Mundial representativo da vontade de todos os povos do mundo. *Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: [email protected].

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