Ergatividade cindida e estrutura argumental em Kayabi (Tupi- Guaraní, Tupi

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Ergatividade cindida e estrutura argumental em Kayabi (TupiGuaraní, Tupi) Rafael Saint-Clair Xavier Silveira Braga Doutorando, PPG Linguística UFRJ

Alessandro Boechat de Medeiros Professor-orientador, PPG Linguística UFRJ

Maio de 2014

Apresentação: objetivos  Revisitar as propostas correntes na literatura formal para o tratamento da ergatividade: ERG como Caso Estrutural ou Inerente;  O que e esquema “simplista” A/S vs. O e A vs. S/O revela e qual o seu “problema”;   Quais os outros padrões observáveis em línguas de ergatividade cindida;   Revisita breve a alguns testes de gramaticalidade apresentados na literatura;   O Kayabí e o Kamaiurá (Tupi-Guarani, Tupi) e o misterioso morfema a: o que este morfema tem a revelar;   Propostas de estrutura argumental correntes na literatura;  Quais núcleos funcionais e traços morfossintaticos envolvidos;   Questionamentos finais.

ERG: propostas da literatura A

O pronominal

S

S

nominativo-acusativo

ergativo-absolutivo

Duarte (2009:124)

ERG: propostas da literatura A

O pronominal

S

S

nominativo-acusativo

ergativo-absolutivo

Duarte (2009:124) Kakxop te Menino

kuxxamuk paha

ERG lambari

pegar

‘O menino pegou lambari’ (Campos,2007:39)

ERG: propostas da literatura Maxakali (Je) Transitivos de ação (1) Ũn te peyõg kutet menino

(2) Tik

ERG

feijão

kanemãm ha

cozinhar panela

POSP

“A mulher cozinhou o feijão na panela.” te Yoãm putex

Homem

ERG

João

matar

“O homem matou João” Intransitivos de ação (3) kakxop te pũn criança

ERG pular

‘A criança pulou.’ (4) Yoãm te konãg João

tu

ERG águaFR

‘João nadou no Rio.’

põg põg

POSP nadar

PEREIRA (2012)

ERG: propostas da literatura Government and Binding (GB) Princípio de Realização de Caso Global (Global case-realization principles) Maria Bittner & Ken Hale (1996)

ERG: propostas da literatura Argumentos nucleares na posição original para satisfação do critério θ em DS

Figura 1: Estrutura ergativa em DS do Warlpiri

(5) nyuntulu-rlu ka-npa-ju you-ERG

ngaju

nya-nyi

PRS-2.SG-1.SG me(NOM) see-NPST ‘You see me’ (Bittner & Hale, 1996:31)

ERG: propostas da literatura Government and Binding (GB)  “… o argumento que se origina na posição de objeto deve ser o nominativo… e  …deve alçar para [Spec,IP] para satisfazer o Filtro de Caso.” Bittner&Hale (1996:23)

Dyirbal (Pama-Nyungan: Queensland, Australia) Figura 1: Estrutura ergativa do Dyirbal (Bittner & Hale, 1996:23)

(6) Payi

parrkan

pangkul yara-ngku jurrka-nyu

CL (NOM) Wallaby(NOM) CL(ERG) man-ERG

‘The man is spearing the wallaby.’

spear-NFUT

ERG: propostas da literatura Programa Minimalista (PM) Obrigatoriedade ou não de A-case ou O-case Jonathan BOBALJIK (1993, 2000) Itziar LAKA (1993)

ERG: propostas da literatura Transitivas

Intransitivas

Bobaljik (1993:8) (8) Obligatory Case Parameter: a.  In N/A languages, CASE X is NOMINATIVE (=ERG) b.  In E/A languages, CASE X is ABSOLUTIVE ABSOLUTIVE (=ACC) (=ACC)

ERG: propostas da literatura Problemas: (Anand & Nevins, 2007:3)  Todas as propostas, em GB e PM), consideram ERG como Caso estrutural, diferindo de NOM apenas em questões morfológicas;   Assim, ERG e NOM possuem comportamentos sintáticos bem paralelos; Padrões observados em Ls ERG por meio de testes específicos:  Nenhuma diferença nas propriedades do sujeito: Controle e Vinculação (‘Subjecthood properties’);  Nenhuma diferença no estatus A-Barra de SUBJs ERG e NOM (Nenhum efeito ‘weak crossover’, Bobaljik, 1993); “… their diagnosis is still controversial” (Anand & Nevins, 2007:3)  Eskimo e Dyirbal: Paralelismo entre Agente e Sujeito (A=S) (Dixon 1994, Bobaljik 1993 e Bittner 1994)

ERG: Outros Padrões e Testes Expectativas:  Se os SUBJs transitivos são diferentes em línguas ERG cindida, deve-se questionar a hipótese de que ERG=NOM, diferindo-se apenas na realização morfológica;  MUITAS propostas que apontam não ser ERG Caso estrutural, mas inerente: associado a papel temático (Nash 1995, Woolford 1997, Ura 2000, Duarte 2009);  Reanálise das passivas: “… sujeitos derivados nunca são ERG; i.e., não há língua que promova um OBJ para ERG na passiva.” (Anand & Nevins, 2007:4);   O D/NP deve estar associado ao papel θ [AGENTE] para receber Caso ERG, sendo candidato natural para ser inerente;

Casos: Resumo

Kamaiurá (Tupi-Guarani, Tupi) Transitivas (9) Kunu’um-a h-uwaja-a w-ekyj menino-N

3-rabo-N

3-puxar

N=Caso Nuclear

‘O menino está puxando o rabo dele.’ (10) kunu’um-a menino-N

ka’i-a macaco-N

r-uwaj-a

w-ekyj

REL-rabo-N 3-puxar

‘O menino está puxando o rabo do macaco.’ (11) (ene) ka’i-a

r-uwaj-a ere-ekyj

(você) macaco-N Rel-rabo-N 2.SG-puxar

‘Você está puxando o rabo do macaco.’ SEKI (2000:108, 154)

Kamaiurá (Tupi-Guarani, Tupi) Intransitivas Ativas (Sa) (12) Kunu’um-a o-ket menino-N

3-dormir

Marcando Sa

‘O menino está dormindo.’ Intransitivas descritivas (So) (13) i-’ajur-a i-huku Marcando So 3-pescoço-N 3-comprido ‘O pescoço dele é comprido.’ (14) ene ne=r-oryp você 2.SG=REL-alegre

‘Você é alegre.’ SEKI (2000:108, 156,157)

Kamaiurá (Tupi-Guarani, Tupi) “Uma característica do caso “nuclear” em Kamaiurá é que ele usado para marcar nominais em função de sujeito de transitivos e intransitivos e também em função de objeto. Essas funções se distinguem por outros meios, como a ordem e a presença de distintas séries de elementos pronominais no verbo.” SEKI (2000:109)

Kamaiurá (Tupi-Guarani, Tupi) (15) ene ere-kytsi ne=py-a you 2.SG-cut

2.POSS=foot-K

‘You cut your foot.’ (Seki 2000, eg. (416)) Relativização e Complementação (Nevins&Seki,2013) (16) hok-a

[i-jo-taw-er-a]

house-K 3-leave-RELPRO-PAST-K

o-kaj 3-burn

‘The house [from which he left] burned.’ (Seki 2000, eg.(603)) (17) o-kawe’eng=awa [jawar-a kunu’um-a juka-taw-er-a] 3-tell=PL jaguar-K boy-K kill-RELPRO-PAST-K ‘They tell of the jaguar’s killing of the boy’ (Seki 2012, eg.(9))

Kayabi (Tupi-Guarani, Tupi) Transitivas e bitransitivas (18) Kũjãwer-ak

w̃ak

Mulherada-MN

Kawĩa w-apo

marcando

XP-A

CL.3.F.PL mingau 3.PL-fazer

‘As mulheresi (elasi) fizeram mingau.’ (19) Kũima’e-a

akagtara w-au

kũjãk

‘g̃ãk

nupe

homens-MN ornamento 3.PL-contar mulheresk CL.3.M.PL POSP

‘Os homens contam para as mulheres sobre os enfeites.’ (20) Waiw-a kyna

je

mu’j-aù

t-aity

are

velha-MN 3.SG.F CL.1.SG ensinar-NAR INDF-rede sobre

‘Uma mulher velha ensinou-me como fazer redes.’ Dobson (1988/2005:10)

Kayabi (Tupi-Guarani, Tupi)   Transitivas e bitransitivas (18) Kũjãwer-ak

w̃ak

Mulherada-?

Kawĩa w-apo

CL.3.F.PL mingau 3.PL-fazer

‘As mulheresi (elasi) fizeram mingau.’ (19) Kũima’e-a akagtara homens-?

w-au

kũjãk

‘g̃ãk

nupe

ornamento 3.PL-contar mulheresk CL.3.M.PL POSP

‘Os homens contam para as mulheres sobre os enfeites.’ (20) Waiw-a kyna velha-?

je

mu’j-aù

t-aity

are

3.SG.F CL.1.SG ensinar-NAR INDF-rede sobre

‘Uma mulher velha ensinou-me como fazer redes.’

Kayabi (Tupi-Guarani, Tupi)  

O mesmo parece ocorrer para o Kayabi …

Kayabi (Tupi-Guarani, Tupi) Intransitivas (21) A-kopit

je

te-w-au

1.SG-roçar CL.1.SG 1.SG-ir-TN

ai’i PAST=FTP

‘Eu fui limpar minha roça.’ (22) Nipo

a’e

miar-a

‘g̃a

o-se-a

FTNP dizer onça-MN CL.3.SG.M 3-dormir-TN

‘Parece que a onça dormiu’ Bi-intransitiva (23) ’-U’yw-a wi te-poi-a INDF-flecha-MN

‘y-py

pe

de 1.SG-deixar-TN água-fundo POSP

‘Eu deixei minha espingarda no fundo do rio.’ Dobson (1988/2005:11,12)

Kayabi (Tupi-Guarani, Tupi) Transitivas (24) A’eramũ wã CONJ CL.3.PL i-ka’mik-a

a’eramũ i-ka’mik-ar-er-a CONJ

OBJ-matar-NMZDR-PAST-MN

OBJ-matar-TN XP-O ‘Eles mataram o assassino.’ Dobson (1988/2005:66) Intransitivas (25) Poje o-wewi-aù ore katy de=repente 3-voar-TN 1.PL.EXCL em=direção=a ‘De repente, ele pulou em nossa direção. Dobson (1988/2005:12)

Kayabi (Tupi-Guarani, Tupi)

XP-a ? Seria -a um enezinho -n?

Kayabi (Tupi-Guarani, Tupi) √Kũima’e-a

homem-NMLDR

√U’yw-a

flecha-NMLDR

Dicionário Kayabí-Português (WEISS, Helga, 2005)

√Kũima’e

homem

√ U’yp

flecha

Testar se ocorre a mesma marcação em D/NPs como ExpressõesRs enquanto ARGs

O Locus do Caso ERG (Anand & Nevins, 2007 e Duarte, 2009) “A evidência morfológica por si indica que ergativo está abaixo na estrutura; concordência ergativa aparece próximo à raiz (…) A otimalidade do Caso objetivo em sistemas ergativos (Nez Perce, Hindi) sugere que ergativo não pode ser estrutural. Assim sendo, ERG só é licenciado depois de ser descarregado obrigatoriamente por v-zinho” (idem, 2007:4, tradução minha)” “Woolford (2006) propõe que uma das diferenças entre Caso estrutural e inerente reside no fato de que este último é licenciado em conexão com a atribuição de papel theta [Agente] ao argumento externo pelo núcleo v0. Já casos estrururais, como nominativo e acusativo, são licenciados a partir de relações estruturais que ocorrem entre os núcleos T0 e v0 e os D/NPs alvos que estejam no domínio de checagem.” (Duarte, 2009:2)

O Locus do ERG: Estrutura Argumental (Anand & Nevins, 2007 e Duarte, 2009)

O Locus do ERG: Estrutura Argumental Woolford 2006

[θAgent] [θtheme]

O Locus do Caso ERG (Anand & Nevins, 2007 e Duarte, 2009)

Se “A evidência morfológica por si indica que ergativo está abaixo na estrutura; concordância ergativa aparece próximo à raiz (…) A otimalidade do Caso objetivo em sistemas ergativos (Nez Perce, Hindi) sugere que ergativo não pode ser estrutural. Assim sendo, ERG só é licenciado depois de ser descarregado obrigatoriamente por vzinho” (idem, 2007:4, tradução minha)”

Então …

O Locus do ERG: Estrutura Argumental Marantz (1997,2002)

O Locus do ERG: Estrutura Argumental

[θAgent] [θtheme]

Estrutura Argumental For many generative theoreticians, namely those who work within classical DM tenets, at least the θ-role would be assigned by roots. Therefore, a certain root can both s- and c-select a complement. For accusative Case assignment, this is only assigned to the complement when the verb is transitive. According to the theory, what licenses an external argument is a functional head. The assignment of accusative Case is directly associated with the presence of litle v. So, the root has nothing to do with Case assignment. The acategorial status of roots does not necessarily mean that it cannot assign θ-role and thereupon it is not responsible for assigning Case. There are theoreticians in the liteture, therefore, who claim that the root has no category and no meaning, being incapable of even assigning θ-role. For such an approach, see the trilogy Structuring Sense of Borer (2005 a,b and 2013). BRAGA (2012)

Núcleos Funcionais e Traços Morfossintáticos (Halle 1997; Harbour 2008b; Nevins 2007) (21) ϕ-Features a. [+author] distingue 1a de 2a e 3a pessoa b. [+participante] distingue 1a e 2a da 3a pessoa c. [+formal] distingue 2a pessoa formal de 2a pessoa coloquial d. [+singular] distingue número plural de singular (22) Tempo [+ passado] distingue tempo passado e não-passado (23) Caso (Calabrese 2008) a. [+Motion, - pepipheral] = ergative b. [+Motion, +peripheral]= dative c. [-Motion, - peripheral]= absolutive

Núcleos Funcionais e Traços Morfossintáticos “Alguns (nós) terminais entram na sintaxe com seus traços valorados. Por exemplo, pronomes e sintagmas noimoinais (doravante DPs) entram na sintaxe com seus traços [+author], [+participant], [+plural], e [+feminino] já especificados, e um nó de T(empo) entra com o seu valor [+passado] já especificado. Outros nós terminais entram entram na sintaxe com seus traços não valorados, etiquetado como [uF] (e.g. [uauthor]), e deve obter valores para traços como resultado da operação AGREE. Assumimos que na situação default é aquela em que todos os traços não valorados de um nó terminal são rastreados, e.g, … uma Sonda, que procura por [+author] e [+participant], irá copiar esses traços do mesmo alvo …” (Arregui & Nevins 2012:7)

Núcleos Funcionais e Traços Morfossintáticos

+passado uNom/Abs

+motion -peripheral uERG/ACC Traços não-especificados

-motion -peripheral

Questionamentos finais: i) 

O morfema -a não aparece em muitos nomes no dicionário Kayabi-Português. Parece, a principio, não estar categorizando raízes. O morfema -a parece se materializar quando os nomes aparecem como argumentos em uma sentença;

ii) 

Sendo o Kayabi uma língua de ergatividade cindida, será importante observar se os sujeitos ergativos na língua são agentivos. Em caso afirmativo, tudo parece indicar que a ergatividade na língua é licenciada pelo núcleo v-zinho;

iii)  O porquê da mesma marcação (do morfema -a) também em argumentos internos em cláusulas transitivas.

Grato [email protected]

Referências  bibliográficas:   ANAND, Pranav & NEVINS, Andrew (2007). The Locus of Ergative Assignment: Evidence from Scope. In: Alana Johns, Diane Massan and Juvenal Ndayiragije (Eds.) Ergativity: emerging issues. Studies in Natural Languages and Linguistic Theory, 3-25. Springer BRAGA, Rafael (2012). Investigating Clitic Doubling Gerneration and its status in Kayabi (Tupi-Guarani, Tupi). In: GOMES, Ana Paula Quadros & MEDEIROS, Alessandro (eds.), 2012, IX Workshop on Formal Linguistics. Rio de Janeiro, UFRJ. _________ (to appear). Clitic Doubling and Argument Structure in Kayabi. NEVINS, Andrew & SEKI, Lucy (2013). Strategies of embedding in Kamaiurá. Handout presented in the Workshop ‘Recursion in Brazilian Languages and Beyond’, August 2013, UFRJ. SEKI, Lucy (2000). Gramática do Kamaiurá: língua Tupi-Guarani do Alto Xingu. Campinas, SP: Editora Unicamp; São Paulo, SP: Imprensa Oficial. ________ (2012). Construções complexas da língua Kamaiurá. Paper presented at the 54th International Congress of Americanists, Vienna.

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