Ergonomia e Segurança no Setor Aeronáutico: A Contribuição do Diagnóstico Participativo de Riscos em um Ambiente de Manutenção de Aeronaves

June 24, 2017 | Autor: Pedro Lima | Categoria: Ergonomics, Risk assessment, Aeronautics, Ergonomic Risk
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XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

ERGONOMIA E SEGURANÇA NO SETOR AERONÁUTICO: A CONTRIBUIÇÃO DO DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO DE RISCOS EM UM AMBIENTE DE MANUTENÇÃO DE AERONAVES Pedro Nascimento de Lima (UNISINOS) [email protected] DANNA CAMPOS VIEIRA (UNISINOS) [email protected] MATEUS GIRARDI TEGNER (UNISINOS) [email protected] Igor Heck (UNISINOS) [email protected] Fabiano Rodrigues da Luz (UNISINOS) [email protected]

Evidências apontam que a ergonomia e segurança do ambiente de manutenção de aeronaves influencia na segurança do próprio voo. Deste modo, condições de trabalho desfavoráveis tendem a diminuir a confiabilidade dos sistemas das aeronaves. Diversas abordagens para a identificação de riscos ergonômicos existem, e dentre elas emergem as abordagens participativas, como a estratégia SOBANE. Em um momento em que os acidentes aeronáuticos aumentam, emerge a seguinte questão: Qual a contribuição de métodos participativos em um ambiente de manutenção de aeronaves? Este trabalho ocupa-se de responder a esta pergunta por meio de uma pesquisa-ação. Deste modo, é conduzida um diagnóstico participativo de identificação de riscos em uma empresa de manutenção de aeronaves no rio grande do sul. A partir de evidências observadas em campo, este trabalho conclui afirmando a contribuição dos métodos participativos neste contexto, uma vez que permitiu a identificação rápida de riscos ergonômicos e o direcionamento de ações para contê-los. O trabalho conclui identificando perspectivas para o avanço do conhecimento em relação à aplicabilidade de diagnósticos participativos no contexto aeronáutico. Palavras-chave: Deparis, Manutenção de Aeronaves, Diagnóstico de Riscos Ergonômicos

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1. Introdução Aeronaves são máquinas complexas que dependem das perfeitas condições de funcionamento de seus componentes funcionais, salvo exceções onde hajam componentes ou sistemas com redundâncias. De acordo com dados coletados pelo Ministério da Defesa, o número de ocorrências de incidentes graves e acidentes vêm aumentando desde 2011, como pode ser observado na Figura 1. Figura 1: Total de ocorrências de incidentes graves a acidentes aeronáuticos (2004-2013)

Fonte: MINISTÉRIO DA DEFESA – CENIPA (2014). Nesse contexto onde as falhas de aeronaves apresentam grande impacto no número de acidentes aeronáuticos, a ergonomia do trabalho de mecânicos de manutenção aeronáutica pode se caracterizar como eventuais causas, diretas ou indiretas, dos acidentes aéreos. Campos

(2011) traz evidências que relacionam a segurança de voo à ergonomia da

manutenção das aeronaves, afirmando que o ambiente de trabalho de manutenção de aeronaves está intrinsicamente ligado aos problemas por falhas de mecânicas. Considerando este contexto, faz-se necessária a identificação de riscos ergonômicos relacionados ao trabalho dos mecânicos de aeronaves para que a própria segurança do voo seja maximizada. Para a identificação destes riscos existem diversos métodos, dentre eles o nível Deparis da Estratégia SOBANE que teve seu início em meados dos anos 80, época em que o Professor Jacques Malchaire, participava de uma pesquisa em uma siderúrgica, na qual havia envolvimento dos funcionários através de negociações com os executivos da empresa. Na época a pesquisa foi muito notável, pois não era comum gestores e funcionários discutirem a

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autonomia individual dos postos de trabalho. Porém, apesar dos bons resultados a pesquisa não foi prosseguida. A partir de então Malchaire, passou a fazer mais pesquisas desta natureza em outras empresas, onde cada vez mais comprovava sua teoria. Levou aproximadamente um ano, para desenvolver a base do método que se dividia em três etapas: Observação, Análise e Avaliação. Era uma síntese de outros instrumentos como perfis Renault, LEST, AVISEM, ANCT, denominado então de guia de diálogo Deparis - Diagnóstico participativo dos riscos. Outros aspectos teóricos também já tinham sido desenvolvidos, e outros quatro níveis da estratégia estavam bem definidos, que incluindo o Deparis (Diagnóstico participativo dos riscos) passou a se chamar SOBANE. Considerando a importância da ergonomia na manutenção de aeronaves e o desenvolvimento dos diagnósticos participativos de risco, surge a seguinte questão de pesquisa: “Qual a contribuição dos Diagnósticos Participativos de Risco no contexto da ergonomia em manutenção de aeronaves? ” Este trabalho busca a resposta para esta pergunta por meio de uma avaliação sobre a percepção dos funcionários de um posto de trabalho do setor operacional de uma empresa do ramo de manutenção de aeronaves. Afim de introduzir o funcionário de forma participativa na identificação dos fatores de risco que levam a um aumento nas falhas da manutenção de aeronaves utilizando a estratégia de riscos SOBANE. Para fins deste trabalho foi aplicado apenas o estudo no nível Deparis desta estratégia. A seção “Revisão Bibliográfica” resgata os principais conceitos necessários ao entendimento do problema em si, destacando a diferença que existe entre estratégias participativas e estratégias não participativas. Em seguida, a seção “Método” apresenta a sequência de passos seguidos para a condução do trabalho, de tal forma que o mesmo possa ser replicado futuramente. A seção “Resultados e Discussões” apresenta os resultados oriundos do presente estudo, e os compara às informações observadas na revisão bibliográfica. Em seguida são apresentadas as considerações finais do trabalho, bem como as referências bibliográficas. As tabelas utilizadas durante a execução do trabalho são apresentadas no Apêndice A. 2. Referencial Teórico Esta seção do trabalho destaca a visão reducionista identificada por White (1995) na maioria dos métodos existentes, evidenciando como alternativa a estratégia SOBANE proposta por

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Malchaire (2004). Em seguida o foco é voltado ao Deparis, etapa da estratégia que tem o objetivo de identificar riscos de forma participativa. 2.1 Métodos de Gerenciamento de Riscos Muitos são os fatores de risco que afetam o trabalhador no desenvolvimento das suas atividades diárias. Identificar tais fatores de risco é primordial para qualquer sistema de gestão de segurança. Identificados os riscos necessitamos prever camadas de proteção para o controlarmos e evitarmos doenças ocupacionais e acidentes de trabalho onde podemos citar: concepção de processo; sistemas de controle e alarmes; alarmes em processos críticos; sistemas de inter-travamento de segurança; dispositivos de proteção; sistemas de contenção; planos de emergência (SALIBA, 2011). O reconhecimento dos riscos ambientais é a primeira etapa da higiene ocupacional. Especial atenção deve ser dada a essa etapa, pois se algum agente não for detectado, certamente não será avaliado nem controlado (BREVIGLIERO; POSSEBON; SPINELLI, 2010).Outro autor adiciona que para a etapa do reconhecimento dos riscos são necessários profundos conhecimentos dos produtos envolvidos no processo, de métodos de trabalho, do fluxo dos produtos e processos, do layout das instalações e da quantidade de funcionários envolvidos em cada processo (SALIBA, 2011). Após o reconhecimento, existem várias técnicas de Análise de Riscos com definição, objeto, foco, formulário próprios: Análise Preliminar de Riscos – APR, conhecida como Análise Preliminar de Perigos – APP; Hazard and Operbility Studies ou Estudos de Identificação de Perigos e Operabilidade – HAZOP; Análise dos Modos de Falhas e Efeitos – AMFE; What If ou E Se; Lista de Verificação ou Checklist; Análise por Árvore de Falhas – AAF; Análise por Árvore de Eventos – AAE; Análise por Árvore de Causas; Inspeção Planejada, entre outros (CARDELLA, 1999) As análises de risco devem ser realizadas por grupos multifuncionais objetivando maior assertividade. Esses grupos funcionais devem ser compostos pelos funcionários, pois são eles quem operam os equipamentos nas estações, supervisão, engenharia de processos e segurança do trabalho. Com a participação de todos os envolvidos, é possível detectar uma maior quantidade de riscos e estabelecer a partir da expertise de cada um as camadas de proteção para cada um dos riscos identificados (FUNDACENTRO, 2001).

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2.2 Estratégia SOBANE – Alternativa aos Métodos de Gerenciamento de Riscos Ergonômicos Tradicionais A necessidade por métodos que permitam o gerenciamento de riscos de forma holística não é novidade. White (WHITE, 1995) empreendeu uma revisão na literatura, pesquisando e avaliando de forma sistêmica os métodos disponíveis para o gerenciamento dos riscos. White (WHITE, 1995) defende que a visão mecanicista e reducionista está inserida na maior parte dos métodos disponíveis para a avaliação dos riscos. Para o caso particular dos riscos ergonômicos Hignett, Wilson e Morris (2005) descrevem exemplos nos quais abordagens participativas para a definição de soluções ergonômicas trouxeram resultados a um custo coerente, sinalizando o potencial de tais abordagens. Em um cenário no qual a avaliação de riscos carece de um método que permita reduzir custos, ainda assim seja efetivo, surge a estratégia SOBANE. Com o objetivo de tornar a prevenção de risco mais rápida, mais efetiva em relação ao custo, e mais efetiva em coordenar as contribuições dos próprios trabalhadores em relação à prevenção dos riscos, Malchaire (MALCHAIRE, 2004) propõe a estratégia de gerenciamento de riscos SOBANE. Contrapondo os custos e complexidade das análises de risco e o número de situações de risco encontradas, Malchaire (2006) relaciona as quatro etapas de sua estratégia, conforme pode ser observado na Figura . Pode-se observar que, para prevenir um grande número de situações de risco, não são necessárias técnicas tão complexas. Figura 2 – Estratégia SOBANE

Fonte: (MALCHAIRE, 2006)

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Argumentando que são necessárias diversas competências complementares nos vários estágios do gerenciamento de riscos, Malchaire (2006) defende que é necessária uma estratégia para coordenar estes diversos parceiros para o aproveitamento correto de suas competências. Deste modo, é possível que cada análise seja realizada dentro de um custo correto e adequado conforme o estágio no qual a organização se encontre. Para o correto entendimento da estratégia SOBANE, é necessário que sejam definidos alguns conceitos. Uma das definições mais importantes para utilizar a estratégia SOBANE é o entendimento sobre o Posto de Trabalho e sobre a Situação de Trabalho. Normalmente se entende posto de trabalho como o lugar onde um trabalhador executa uma determinada tarefa. Tal conceito acaba se tornando obsoleto à medida que os trabalhadores se engajam em atividades diferentes em diferentes lugares. Desta forma, o conceito de Situação de Trabalho mostra-se mais relevante, pois se refere à todos os aspectos físicos, organizacionais, psicológicos e sociais do trabalho (MALCHAIRE, 2004). Outra questão relevante que é argumentada por Malchaire (2004) é que há grande disponibilidade de métodos para mensurar os riscos ocupacionais. Proporcionalmente, pouca atenção é dispensada para a definição das ações práticas que podem ser feitas para minimizar a exposição (que por consequência terá impacto em tais riscos). Desta maneira, Malchaire (2004) argumenta que existe um número muito grande de situações de trabalho para que se possa analisar todas elas quantitativamente, e apenas após realizada tal análise quantitativa, tomar ações que minimizem os riscos. O que ocorre é que na maioria dos casos medidas de prevenção podem ser tomadas de imediato baseando-se na simples observação realizada por pessoas que estão diretamente preocupadas com tais situações e que conhecem em detalhe a situação de trabalho pois estão envolvidas com o mesmo em seu cotidiano. Em alguns casos, uma análise mais detalhada e técnica pode ser necessária quando a situação de trabalho continua inaceitável, uma vez que as soluções óbvias foram implementadas. Para a etapa do diagnóstico preliminar, Malchaire (2004) argumenta que é necessário o desenvolvimento de uma ferramenta que tenha uma série de características, dentre as quais podemos citar a necessidade de ser utilizável pelos próprios trabalhadores, portanto não

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requerendo conhecimento técnico aprofundado, e não requerendo o uso de medições quantitativas.

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2.3 DEPARIS – Diagnóstico Participativo de Riscos A estratégia SOBANE utilizada nesse trabalho, segundo J. Malchaire (2006), baseia-se na prevenção de riscos através de uma metodologia estruturada, aplicável em qualquer tipo de empresa. A abordagem é feita de forma progressiva observando as situações de trabalho e coordenando a colaboração entre trabalhadores de vários níveis da organização, a fim de realizar uma prevenção mais rápida, eficaz e menos custosa. Esta estratégia descreve quatro níveis: a) Diagnóstico preliminar: Detecção dos fatores de risco onde as soluções mais evidentes são colocadas em prática. b) Observação: Problemas que não puderam ser resolvidos são aprofundados, através da análise de cada fator de risco, discutindo-se causas e soluções de maneira detalhada. c) Análise: Realização de medições indispensáveis para resoluções específicas realizadas por um prevencionista (se necessário). d) Perícia: Especialista estuda a resolução de um problema específico e) Neste trabalho, apresentaremos o método “Diagnóstico participativo dos riscos – Deparis”, utilizado no nível 1 dessa estratégia. Nesse método, a situação de trabalho é analisada e todos os aspectos que condicionam a facilidade, a eficácia e a satisfação no trabalho são discutidos, pesquisando medidas concretas de prevenção. A abordagem é efetuada através de uma reunião com trabalhadores chave, esta deve ser simples, econômica em tempo e meios, tendo um papel significativo no desenvolvimento de um plano dinâmico de gestão de riscos. A estrutura do Método Deparis se apresenta sob a forma de 18 rubricas, questionando as condições de trabalho quanto aos seguintes itens: locais de trabalho; organização técnica entre os postos; postos de trabalho; riscos de acidente; comandos e sinais ; ferramentas e materiais de trabalho; trabalho repetitivo; manuseios de carga; carga mental; iluminação; ruído; ambientes térmicos; riscos químicos e biológicos; vibrações; relações de trabalho entre operadores; ambiente social local e geral; conteúdo do trabalho e o ambiente psicossocial. Para cada rubrica haverá uma breve descrição da situação desejada, lista de aspectos a serem controlados e melhorias concretas na opinião do grupo. No quadro também existe um espaço onde o coordenador anotará aspectos que necessitam de um estudo mais aprofundado. Após é

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feito um julgamento global, através de um sistema figurativo de cores e sorrisos, indicando desde a situação satisfatória, mediana ou insatisfatória. A Figura 3 mostra um exemplo utilizado nesta pesquisa. Figura 3 – Rubrica Ambientes Térmicos

Fonte: Elaborado pelos Autores a partir de Malchaire (2006) As ações decididas durante as discussões e que podem ser adotadas, são colocadas em um quadro resumo de tarefas e atribuições. Essa ferramenta é utilizada dentro de um clima de franca colaboração, direcionado a uma unidade funcional, em grupo de 3 a 7 pessoas, com reunião organizada em local calmo e próximo aos postos de trabalho, contando com a orientação de um coordenador. 3. Método de Pesquisa Foi utilizado como método de pesquisa a Pesquisa-Ação, uma vez que o objetivo do trabalho é tratar uma situação em um determinado contexto, além disto, produzindo conhecimento de cunho prático e teórico. Por meio deste método de pesquisa, o pesquisador pode fazer parte da implementação de mudanças no contexto e ao mesmo tempo avaliar a intervenção aplicada, sendo este fator o que o diferencia de um estudo de caso (DRESCH; LACERDA; ANTUNES, 2015). Por meio deste método o pesquisador participa na implementação de mudanças e envolve-se no saber formal, que está na literatura e o saber informal vivido na prática (THIOLLENT, 2011). Por este motivo o método utilizado para este trabalho foi a pesquisa ação.

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4. Desenvolvimento Esta pesquisa foi conduzida em uma empresa de manutenção de aeronaves, no estado do Rio grande do sul. Conforme o método Deparis descrito anteriormente, foram conduzidas reuniões em grupos focais, analisando cada uma das 18 rubricas. Após a condução do grupo focal que respondeu às perguntas realizadas, os resultados foram compilados. O resultado da avaliação realizada nas 18 rubricas foi compilado conforme pode ser visto na Figura 3. Figura 3 – Síntese do Estudo Deparis na Empresa

Fonte: Os Autores Analisando os resultados apresentados, podemos observar que os riscos mais presentes são relacionados aos acidentes, como o de queda em altura, incêndio e explosões. Isso se deve por que a empresa na qual o estudo de caso foi empreendido que fez parte deste estudo trabalha grande parte do tempo com seus trabalhadores em altura, principalmente pintores e mecânicos de fuselagem. O risco se intensifica, pois nem sempre existem as ferramentas de trabalho adequadas (tais como andaimes e escadas apropriadas a cada tipo de aeronave) e são necessárias adaptações para a continuidade do trabalho.

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Também existe o risco de explosão e incêndio, pois são utilizados diversos combustíveis inflamáveis dentro do ambiente de trabalho e se ocorrerem vazamentos acidentais, podem ocorrer graves acidentes. Para este tipo de situação, a equipe do SESMT necessita autorizar cada atividade que envolver algum tipo de risco. Na teoria isso praticamente elimina o risco, mas na prática se observa a ocorrência do não cumprimento de tais regras e o risco se intensifica. Tirando o fato do altíssimo risco de acidentes, podemos constatar também que no geral a empresa tem um ambiente agradável para todos os trabalhadores. A partir de todas essas informações, foi montado o balanço final, com as mudanças a serem implementadas, com as tarefas e quem é responsável por elas, conforme imagem a seguir. Figura 4 – Síntese das Melhorias Propostas

Fonte: Os Autores Após a aplicação do método na empresa, os dados foram reunidos para a análise final. A seção seguinte destaca as principais contribuições do método Deparis para a Ergonomia em Manutenção de Aeronaves.

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5. Análise e Considerações Finais O método atingiu seu propósito principal e demonstrou boa aderência em um ambiente de manutenção de aeronaves. O produto gerado pela aplicação do DEPARIS foi um relatório com sugestões de melhorias, evidenciando os pontos a serem corrigidos no posto de trabalho em questão. Como resultado dos pontos evidenciados pelo DEPARIS, espera-se uma redução de incidentes críticos e acidentes no ramo aeronáutico. A execução das oportunidades de melhoria no posto de manutenção inevitavelmente trará melhores condições de trabalho, reduzindo possibilidades de erros por parte dos mecânicos e os riscos inerentes à saúde do trabalhador, bem como o aumento da produtividade e qualidade de vida do mesmo. Em grande maioria, as empresas atuam em melhorias baseando-se exclusivamente na análise de técnicos. Apesar disto, mesmo que esta análise seja importante, é fundamental avaliar a eficácia de outras perspectivas participativas.

Angeloni (2003) suporta esta afirmação

indicando que as decisões tomadas por um grupo pessoas, de preferência interação de uma equipe heterogênea, geram resultados mais sólidos do que as tomadas individualmente. Dentre as contribuições deste trabalho, destaca-se o embasamento fornecido para que a empresa possa priorizar seus investimentos, no que concerne ergonomia e segurança, de forma mais determinística. Ao longo do trabalho em campo, observou-se que este nível da estratégia SOBANE realmente aproxima os altos e médios gerentes dos trabalhadores de nível técnico e operacional. Os níveis hierárquicos mais inferiores percebem a valorização de seu trabalho diante da oportunidade de compartilhar suas opiniões. Essa cooperação mútua dos funcionários permite uma evolução no clima participativo por parte dos trabalhadores, gerando um bom ambiente de trabalho no âmbito organizacional, reforçando a conjectura de que a interação de opiniões de diferentes níveis da empresa gera um maior engajamento dos funcionários em suas respectivas atividades. Em se tratando de segurança e ergonomia, este fator mostra-se como fundamental. Os mecânicos mais motivados e empenhados, ou popularmente com “moral elevada”, desempenham melhor suas atividades. Considerando os bons efeitos observados neste caso, este trabalho responde sua questão de pesquisa indicando que a aplicação de um diagnóstico participativo de risco traz as seguintes contribuições:

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a) Identificação rápida e objetiva de riscos: Observou-se que com baixo custo e tempo foi possível identificar os riscos ergonômicos mais aparentes para a manutenção de aeronaves; b) Elevação da Adoção de boas práticas ergonômicas: Ao incluir os mecânicos no diagnóstico de riscos, percebe-se o aumento de seu engajamento às práticas de segurança. A partir destes benefícios observados, conclui-se que é relevante a contribuição de um método participativo para a identificação de riscos ergonômicos à segurança dos mecânicos de aeronaves. Consequentemente, este tipo de diagnóstico contribuirá para a segurança do setor aeronáutico em geral. A partir destas conclusões, recomenda-se para futuros trabalhos a realização de um novo estudo em postos de trabalho de manutenção de aeronaves para verificação da eficácia de um eventual plano de ação para as recomendações geradas através do DEPARIS ao longo do tempo, identificando novas oportunidades de melhoria a serem implementadas através da estratégia Sobane em todos os seus níveis.

REFERÊNCIAS

ANGELONI, M. T. Elementos intervenientes na tomada de decisão. Ci. Inf.Inf., v. 32, n. 1998, p. 17–22, 2003. BREVIGLIERO, E.; POSSEBON, J.; SPINELLI, R. Higiene ocupacional: agentes biológicos, químicos e físicos. 5. ed. São Paulo: Editora SENAC, 2010. CAMPOS, R. M. Ergonomia na Aviação: Um Estudo Critico da Responsabilidade dos Mecânicos de Aeronaves na Casualidade dos Acidentes. [s.l.] UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, 2011. CARDELLA, B. Segurança no Trabalho e Prevenção de Acidentes. 1. ed. São Paulo: Editora Atlas, 1999. DRESCH, A.; LACERDA, D. P.; ANTUNES, J. A. V. Design Science Research: Método de Pesquisa para o Avanço da Ciência e Tecnologia. 1. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015. FUNDACENTRO. PONTOS DE VERIFICAÇÃO ERGONÔMICA. 1. ed. [s.l: s.n.]. HIGNETT, S.; WILSON, J. R.; MORRIS, W. Finding ergonomic solutions--participatory approaches. Occupational medicine (Oxford, England), v. 55, n. 3, p. 200–7, maio 2005.

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MALCHAIRE, J. B. The SOBANE risk management strategy and the Déparis method for the participatory screening of the risks. International archives of occupational and environmental health, v. 77, n. 6, p. 443–50, ago. 2004. MALCHAIRE, J. B. Participative management strategy for occupational health, safety and well-being risks. Giornale italiano di medicina del lavoro ed ergonomia, v. 28, n. 4, p. 478–86, 2006. SALIBA, E. T. Manual Prático de Higiene Ocupacional e PPRA. 3. ed. São Paulo: Editora LTR, 2011. THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. [s.l.] Cortez, 2011. WHITE, D. Application of systems thinking to risk management:: a review of the literature. Management Decision, v. 33, n. 10, p. 35–45, 1995.

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