Esboço de um feminismo latino-americano.

July 22, 2017 | Autor: Flora Dutra | Categoria: Feminist Theory
Share Embed


Descrição do Produto

02 TEXTO: Esboço de um feminismo latino-americano. (María Luisa Femenías, Universidade de La Plata, 2007 – Revista Estudos Feministas)
a) UM TERRITÓRIO POVOADO => Por um lado, a América Latina nasce das próprias contradições do Iluminismo e de sua busca para se tornar autônoma. Os países que atualmente compõem originam e são estruturados como os Estados modernos sobre os fundamentos filosóficos da ideologia cujas noções fundamentais são a igualdade, o universalismo e liberdade. Além disso, a sociedade latino-americana se baseia em três raízes básicas da população: o nativo indígena, o europeu "branco" e o "negro" (ao qual se juntou mais recentemente imigrante da Ásia); onde as questões próprias do feminismo pós-colonial, multicultural, eco feminismo, pensamento de subalternidade, adotam a concepção de políticas de identidade. Nossa constituição que tem sido historicamente insuficiente – nós adicionamos um conglomerado de questões materiais. Sobretudo, na medida em que o proclamado universal poucas vezes se aplicou distributivamente por igual a todos os membros da sociedade, discriminado por sexo-gênero, por etnia e classe. Muitos mecanismos de inclusão/exclusão das mulheres têm seguido um curso fundamentalmente próprio atravessado pela diversidade étnica e cultural (incluindo a religião), muitas vezes, também, mascarando questões de classe envolvida. Isto significa que a superação, reforma ou compreensão do segregacionismo naturalizado que apela para as diferenças dos sexos não é suficientemente explicativa. Na maioria dos casos, a discriminação se potencializa em termos de sexo-etnia.

b) TRÁFICO DE TEORIAS => Se as teorias se transladam de modo diretamente proporcional ao seu grau de generalidade, apropriar-se implica em um processo de produção de novos significados contra a indiferença, o monopólio ou hostilidade. Por isso, graças a tais transferências e ao vínculo que se estabelece entre as teorias e os subalternos, se produz um lugar de apropriação que resulta a fratura radical do discurso hegemônico originário, aos efeitos de sua revalorização e de sua ressignificação contextualizada. Todos constituem pontos de saturação que favorecem a tradução de significados em termos de alteração e reacomodação. O des(re)encontro das teorias feministas mais heterogêneas se produz em resposta a diferenças étnicas, de classe, de orientação sexual, de nacionalidade, de língua e tradições. O minucioso trabalho de tradução, de citação de ressignificações, de ruptura de contextos e de reincorporação de conceitos marca o lugar de direito da produção de saberes, como diferente da repetição. Onde o tráfico de teorias contribui também a conformação de um espaço único (não homogêneo) ao analisar criticamente conceitos e posições. Nossa condição geo sociopolítica, a nossa consciência de real contribuição ao discurso feminista e ao modo que nos permite organizar explicações alternativas nos termos de contribuição teórica promovam uma melhor elaboração, clarificação e compreensão de teses fora de nossa experiência crítica.
Portanto, o primeiro passo é rever nossas próprias contribuições teóricas ressignificadas. A seguir, relatando o problema das intransitáveis propostas dentro do próprio território latino-americano, na medida em que a sua posição "igualitária" não é nem equivalente, nem equipotente ou simétrica ou recíproca. Portanto, os discursos alternativos apostam a revelar a assimetria real de nossas posições sobre a retórica da igualdade e da universalidade, não para rejeitá-las, mas para exigi-las efetivamente. Apostam a desarticular os modos - localizados e situados - da exclusão. Nossos discursos alternativos favorecem a ruptura político-epistemológica dos contextos naturalizados e abrem espaço de compreensão e ressignificação.

c) POLÍTICAS DE LOCALIZAÇÃO – SITUAÇÃO => Deste ponto de vista, nossa imprevisibilidade típica pode ler-se, por um lado, como uma forma de resistência da inscrição completa e acabada segundo um ideal submisso e doméstico; mas, por outro, também como exemplo de uma experiência crítica, marginal e periférica, que rejeita o lugar de Outra exótica e emocional que foi prescrito. Ou seja, que dá conta de nossa experiência crítica deslocada no tanto que nos constituímos em outras inadequadas que emergem precisamente onde os discursos hegemônicos não nos esperam.

d) IDENTIDADES NEGOCIADAS – IDENTIDADES MESTIÇAS => O desafio mais importante que se impõe é detectar as interseções onde cor, classe, etnia, gênero potencializam a exclusão e geram distorções a populações com mais alto grau de homogeneidade. Por isso, obriga a gerar teoria para compreender e desmontar os modos em que o racismo e o sexismo são reforçados em nosso território, para buscar soluções alternativas que favoreçam o reconhecimento, distribuição e convivência. A transversalização das estruturas patriarcais com a variável étnica está dando lugar a um número crescente de trabalhos que contribuem a nossa melhor compreensão do problema.
Embora algumas pesquisadoras latino-americanas tenham suas diferenças teóricas e temáticas, aportam com um eixo compreensivo: reconhecimento, universal, particular. Desvelam a opressão simbólica do "imaginário" branco como universal, onde a "etnización" se entende em termos de inferioridade, marginalização e criminalização tanto de homens ou mulheres. Não é simplesmente uma marginalidade econômica; implica a falta de visibilidade e de representação. Assim, apenas a redistribuição econômica - essencial - não é suficiente. Assim também, o sucesso dos modelos políticos que dão grandes ações de reconhecimento para os setores "impuros" da sociedade. Nesse sentido, o trabalho a partir da noção de identidades negociadas pode ser tão útil e esclarecedor e enriquecedor. Tudo isso favorece a constituição de sujeitos multiculturais, de identidades múltiplas, capazes de desarticular as estruturas identitária naturalizadas, e de promover fortes mudanças em seus grupos de pertencimento. Em princípio, porque promove a experiência fundamental para revisitar os mandatos de sexo-gênero / etnia / religião / função / escolha classe sexual / social, etc.

e) VISIBILIZAR-NOS NO UNIVERSAL => Às vezes é sugerido que não é adequado introduzir aspectos materiais quando se aborda o problema da igualdade e do universal. No entanto, o feminismo, desde a sua criação, tem mostrado que essa crítica não é apenas relevante, mas necessária. O poder patriarcal, o racismo e econômico são reforçadas com facilidade de fazer áreas marcadas invisíveis e inaudíveis de inclusão potencial no universal. Na verdade, defendendo denunciar as interseções de classe-gênero etnia como modos de negação dos mesmos. E ao fazer isso, evitar desenvolver mecanismos que promovam o cumprimento eficaz. Muitas vezes, para alcançar visibilidade - que é precisamente a afirmação de exclusão - se recorra a estratégias de afirmação de identidade, como se fosse identidades essenciais. A crítica ao status quo geram uma ação eficaz que favorece novas identificações em termos de apropriação seletiva de registros discursivos, funcionais para lutar por novos e diversos espaços de poder, de reconhecimento, de visibilidade e de pertencimento. Desafiar os mandatos implícitos e explícitos da não visibilidade é constituir-se em agente de mudança. embora a exclusão das mulheres está sendo sanada relativamente, devemos estar alerta ante a crise atual das sociedades ocidentais.
f) A VOZ PRÓPRIA => Resumidamente, sobre a questão da "origem" e se é uma questão pertinente - o que muitos filósofos suspeitam - que pode chamar a atenção tanto da versão protofeminista (com argumentos tipo neoplatônica) Sor Juana Inés, e na versão ilustrada, as mulheres que se difundiram ideais revolucionários comprometidos com suas práticas, se desenvolveu - em paralelo a grandes correntes europeias e estadunidenses - um feminismo original e indígena.
Por isso, tão bem adverte Angelica Soldan - para o caso do feminismo mexicano - que as atuais categorias hegemônicas euros-estadunidenses marcam as "ondas" do feminismo não permitem visualizar adequadamente as etapas do feminismo latino-americano. Tais cronologias respondem a processos histórico-social e ideológico, que na atualidade, se impõe devido entre outros, a sua hegemonia econômica. Aqui prevalece novamente o cruzamento sexo-etnia-classe como chave teórica. Porque a transversalização de classe gera uma distorção que excede as explicações lineares. Na verdade, o subtexto da identidade de gênero obriga muitas mulheres a salvaguardar a identidade cultural por causa da honra dos homens no grupo e as suas tradições. Assim, as mulheres são diretamente proporcional ao déficit de subjetividade que são reconhecidos identidade adscritiva, enquanto um coletivo inferiorizado. A imagem que temos delineado pode segurar - acreditamos que, com base suficiente - que o feminismo na América Latina tem características e contribuições que o tornam digno de especial interesse. Nascido de múltiplas narrativas e tradições que incluem ab initio transversalizações etnia, classe, gênero e religião, em outros contextos fora. A recepção inicial, tradução, discussão e reapropriação de teorias - que vão desde o Iluminismo para o pós-modernismo - também levou a uma espécie de catalisador local, o qual promove a conceituações e práticas novas e alternativas. Esta é uma contribuição real para o feminismo.



Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.