Esboço gramatical do Asuriní do Trocará

October 6, 2017 | Autor: A. Pheula do Cout... | Categoria: South American indigenous languages, Tupi-Guarani, Tupí-Guaranian Languages, Asuriní do Tocantins
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CONTRIBUIÇÕES PARA O INVENTÁRIO DA LÍNGUA ASURINÍ DO TOCANTINS

Reitor José Geraldo de Sousa Jr. Decana de Pesquisa e Pós-Graduação Denise Bomtempo Birche de Carvalho Diretora do Instituto de Letras Maria Luisa Ortiz Alvarez

Coordenador Aryon Dall’Igna Rodrigues Vice-coordenadora Ana Suelly Arruda Câmara Cabral

PROJETO

A língua Asuriní do Tocantins: Projeto piloto para a metodologia geral do Inventário Nacional da Diversidade Linguística Coordenadora Ana Suelly Arruda Câmara Cabral

www.laliunb.com.br

CONTRIBUIÇÕES PARA O INVENTÁRIO DA LÍNGUA ASURINÍ DO TOCANTINS Projeto piloto para a metodologia geral do Inventário Nacional da Diversidade Linguística

Organizado por

Ana Suelly Arruda Câmara Cabral Ariel Pheula do Couto e Silva Daniella Vanêssa Abrantes Martins Jorge Domingues Lopes José Porfírio Fontenelle de Carvalho Suseile Andrade Sousa

BRASIL Laboratório de Línguas Indígenas – Universidade de Brasília Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Ministério da Cultura

2011

ESBOÇO GRAMATICAL DO ASURINI DO TROCARÁ Ana Suelly Arruda Câmara Cabral Jorge Domingues Lopes Ariel Pheula do Couto e Silva Suseile Andrade de Sousa Laboratório de Línguas Indígenas, Universidade de Brasília

INTRODUÇÃO1 Neste artigo apresentamos um esboço gramatical da língua Asuriní do Trocará, também conhecida como Asuriní do Tocantins. Trata-se de uma língua pertencente ao subramo IV da família Tupí-Guaraní, VHJXQGRDFODVVL¿FDomRLQWHUQDGHVVDIDPtOLDSRU5RGULJXHV   A língua Asuriní é falada como primeira língua por um pequeno grupo com LGDGHDFLPDGHDQRVHDSHQDVRV¿OKRVHQHWRVGHDOJXPDVGHVVDVSHVVRDV a aprenderam quando crianças. A população Asuriní é de aproximadamente 500 indivíduos2, sendo que apenas uma centena deles tem conhecimento VX¿FLHQWHGDOtQJXDSDUDHQWHQGrODPDVDSHQDVXPDSHTXHQDSDUWHDXVD FRPÀXrQFLDHPVLWXDo}HVGHIDODTXRWLGLDQD/LQJXLVWLFDPHQWHR$VXULQt é uma das línguas Tupí-Guaraní das mais conservadoras, principalmente em termos gramaticais. Das mudanças fonológicas que sofreu em sua história linguística, algumas são compartilhadas com o Parakanã, língua da qual começou a se diferenciar há não mais que 150 anos, outras são compartilhadas com essa língua e com o Tembé e com o Guajajára – desnasalização vocálica – e, outras, com o Parakanã e o Tapirapé – como a redução de seis vogais orais para cinco. No esboço que segue, apresentamos informações sobre aspectos da fonologia, da morfologia, da morfossintaxe, da sintaxe e do léxico Asuriní. Os dados que serviram de base para este esboço foram coletados ao longo dos últimos 14 anos por pesquisadores do Laboratório de Línguas Indígenas da Universidade de Brasília e encontram-se todos organizados no banco de dados dessa língua que faz parte do acervo linguístico deste laboratório. 1

Este artigo é uma versão ampliada da versão francesa “L’asurini du Tocantins” publicada no Dictionnaire des langues (Busuttil, Peyraube e Bonvini 2011), de autoria de Cabral, fundamentada em pesquisa da língua Asuriní realizada conjuntamente com os coautores da presente versão. 2 Os resultados do censo linguístico realizado pela equipe do Projeto do Inventário da Língua Asuriní, em dezembro de 2010, os Asuriní somavam 492 pessoas.

Contribuições para o inventário da língua Asuriní do Tocantins

ASPECTOS FONOLÓGICOS Há em Asuriní do Trocará dezoito fonemas segmentais, dentre os quais treze consoantes /p, t, k, kw‫ݦ‬PQƾƾwVK‫ݐ‬ZHFLQFRYRJDLVL ‫ܺܭ‬DR1RkPELWRGDIRQpWLFDDVFRQVRDQWHVVmRFODVVL¿FDGDVVHJXQGR quatro pontos de articulação – bilabial, coronal, velar e glotal –, e cinco modos de articulação – oclusivo, fricativo, africado, nasal e aproximante. Há duas vogais anteriores, duas centrais e uma posterior. Dois graus de altura distinguem as vogais anteriores, assim como as centrais, em mais altas e menos altas. A vogal posterior oscila entre mais alta e menos alta e se distingue também das demais pelo traço arredondado. A alofonia presente na fala dos Asuriní que falam a variante conservadora é bastante rica. SpSURQXQFLDGR>S‫@އ‬RX>S@GLDQWHGH>ܺ@>HS‫ޖܺއ‬WD@a>HSܺ‫ޖ‬WD@µ¿TXH Dt¶H>S@QRVGHPDLVFDVRV Z>Z@ÀXWXDOLYUHPHQWHFRP>ȕ@>V‫ޖܭ‬U‫ݜ‬Z‫@ ݞ‬a>V‫ޖܭ‬U‫ݜ‬ȕ‫@ ݞ‬µPHXSDL¶ em margem esquerda de sílaba átona. WHHPFRQWDWRFRPLWrPYDULDQWHVSDODWDOL]DGDVRWtD>R‫ޖ‬W‫ݕ‬L‫@ࡅܣ‬ ‘seu próprio nariz’; VpSURQXQFLDGR>M@HPSRVLomR¿QDOGHVtODEDQ‫ܭ‬UyM@>Q‫¶ܭ‬U‫ݜ‬M@ µYRFrWHPGHQWHV¶H>W‫@ݕ‬a>‫@ݕ‬a>WV@a>V@QRVGHPDLVDPELHQWHVLVp >L‫ޖ‬W‫ @ܭݕ‬a >L‫ @ܭݕޖ‬a >L‫ޖ‬WV‫ @ܭ‬a >L‫ޖ‬V‫ @ܭ‬µHX¶ PiVD >‫ޖ‬PDW‫ @ࡅܣݕ‬a >‫ޖ‬PD‫ @ࡅܣݕ‬a >‫ޖ‬PDWV‫@ࡅܣ‬a>‫ޖ‬PDV‫@ࡅܣ‬µFREUD¶ RWHPWUrVUHDOL]Do}HV>‫@ݜ‬a>R@a>‫@ܧ‬PDVDRFRUUrQFLDGH>‫@ܧ‬p H[FOXVLYDGRVFRQWH[WRVRQGHDYRJDOVHJXLQWHpDRX‫ݜ>ܭ‬U‫ޖݜ‬ȕ‫@ݜ‬ a>RUR‫ޖ‬ȕR@µXUXEX¶>‫ޖݜ‬U‫@ܭ‬a>R¶U‫@ܭ‬a>‫ޖܧ‬U‫@ܭ‬µQyV¶ H[FO  LD‫ܭ‬HRWrPYDULDQWHVEUHYHVHPVtODEDViWRQDV¿QDLV >L‫ޖ‬Sܺ‫@ܣ‬ a >L‫ޖ‬Sܺ‫ @ࡅܣ‬µVHX Sp¶ >D‫ݦܭݦޖݦ‬SƟ@ µDOL¶ >QDVH‫ޖ‬Uyȕܼࡅ @ µHX QmR WHQKR PHX SDL¶>LVR‫ޖ‬NDR࡬@µPDWDQGRR¶  ‫ܭ‬VHUHDOL]D>‫@ܭ‬RX>H@ >NR‫ޖ‬ȕ‫ܭ‬M@a>NR‫ޖ‬ȕHM@µUiSLGR¶  Todas as vogais podem ser realizadas ligeiramente nasalizadas em VtODEDDFHQWXDGDGLDQWHGHXPDFRQVRDQWHQDVDO>LD‫ޖ‬Nܺ࡭ ƾ‫@ࡅܣ‬a>LD‫ޖ‬Nܺƾ‫@ࡅܣ‬µVXD cabeça’, e são laringalizadas precedendo ou seguindo uma oclusiva glotal [o‫ݦޖݦ‬R‫@ݦ‬µHOHFRPH¶ $IRUPDFDQ{QLFDGDVVtODEDVp & 9 & HPTXHD&¿QDOGHYHVHU DSUR[LPDQWHFRURQDO M RXQDVDO PQƾ 2VJUXSRVGHFRQVRDQWHVVyVmR possíveis em fronteira de sílaba: a+esák$ta /1+ver proj. / ‘eu vou vê-lo’. 26

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O acento é de intensidade, lexical e previsível, associado à vogal GD~OWLPDVtODEDGDVUDt]HVGHQXPHURVDVSDUWtFXODVHGHDOJXQVVX¿[RV derivacionais. A morfofonologia apresenta uma certa variedade de fenômenos:   Z U H N PXGDP UHVSHFWLYDPHQWH HP P Q ƾ GLDQWH GR silêncio (-ów ‘pai’ o -óm, -SRҌ࠴̗r ‘colar’ o -SRҌ࠴̗n, -kotók ‘picar’ o -NRWyƾ).   N PXGD WDPEpP HP ƾ HP IURQWHLUD GH PRUIHPD GLDQWH GH VX¿[RV ÀH[LRQDLV e- ‘2sg.’+ -DS࠴̗k ‘sentar-se’+ -eme ‘proibitivo’ o HDS࠴̗ƾHPH ‘não te senta!’) e derivacionais (-DS࠴̗k + -eté µLQWHQVL¿FDGRU¶ o -DS࠴̗ƾHWpµVHQWDUVHEHP¶ H[FHWRGLDQWHGRVX¿[RGHJHU~QGLR DS࠴̗k + -a ‘gerúndio’ o -DS࠴̗ka µVHQWDQGRVH¶  H RV VX¿[RV QRPLQDOL]DGRUHV de agente e de circunstância (-DS࠴̗k- + -áw ‘nom’ + -a ‘arg’ oDSܺNiZD ‘lugar de se sentar’). 3) /w/ e /r/ mudam respectivamente em /p/ e /t/ em fronteira de PRUIHPDGLDQWHGRVX¿[RGRJHU~QGLRHGRVQRPLQDOL]DGRUHVGHDJHQWHH de circunstância (-ҌiU ‘cair’ + -a ‘gerúndio’ o ҌiWD ‘caindo’). 4) em uma sequência C1C2 em fronteira de morfema C1 cai (-esák ‘ver’ + -páw ‘complemento’ > wesapám ‘ele viu tudo’) exceto se C1 é /s/ o a consoante seguinte é /t/ (-porahájtáwa ‘lugar de dançar’). 5) i e o são absorvidos em contato com um outro vocoide da mesma qualidade: – n ‘neg.’ + a- ‘1sg.’ + -poraháj ‘dançar’ + -ihi ‘neg.’ o n aporahájhi ‘eu não danço’; – o- ‘3sg.’ + -ór ‘vir’ o ón ‘ele vem’;   D YRJDO R GRV SUH¿[RV SHVVRDLV H UHODFLRQDLV WRUQDPVH QmR silábicos em fronteira de morfema quando a vogal seguinte é diferente em qualidade: o- ‘3sg.’ + er- ‘CC’ + ór ‘vir’ o werón ‘ele o traz consigo’. A língua Asuriní perdeu a oposição de acento nasal/oral reconstruível para o proto-Tupí-Guaraní e, por consequência, as variantes nasais das vogais. Essa mudança também criou (a) pares de morfemas (-kwerƾZpU ‘passado dos nomes’; -katóƾDWy µERPEHP¶  H E  DORPRU¿VPR QmR FRQGLFLRQDGR IRQRORJLFDPHQWH YHU RV DORPRUIHV GRV VX¿[RV ORFDWLYRV pontual e difuso abaixo), o que, em um estado anterior, não era senão o resultado da nasalização de obstruentes orais propagada pelo acento do tema precedente. 27

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Uma mudança vocálica em cadeia conduziu a passagem de *ó a a, de *ã e ãm a o, e de *án e *iƾ respectivamente a Ѡ̗Qe Ѡ̗ƾ. ASPECTOS MORFOLÓGICOS Características tipológicas $ OtQJXD $VXULQt p XPD OtQJXD ÀH[LRQDO FDUDFWHUL]DGD SRU XP grau médio de síntese, rica em derivações, em composições, inclusive a incorporação, assim como em reduplicações. Há quarenta e um morfemas JUDPDWLFDLV SUH¿[RVHVX¿[RVÀH[LRQDLVHGHULYDFLRQDLV 1RPLQDOL]Do}HV abundam no discurso Asuriní. Posição, forma e direção são informações relevantes nas descrições sobre eventos e nas indicações de referente. As fontes de informação são requeridas quando de informações sobre eventos passados. Categorias representadas nas classes de palavras São quatro as categorias de palavras distintas por critérios morfológicos: verbos, nomes, posposições e partículas. Somente as três SULPHLUDV VmR ÀH[LRQDLV +i WUrV VXEFODVVHV GH QRPHV a classe cujos referentes são entidades concretas (-iƾ ‘casa’, -Ҍiƾ ‘sombra, espírito’), a classe cujos referentes são entidades sentidas ou percebidas (-aró ‘bonito’, -RUѠViƾ ‘friorento’) e a classe dos elementos que recebem refentes no discurso, ou a classe dos pronomes. Estes últimos são independentes, com função enfática (iséasé ‘1’, ené ‘2’, senéµ>@¶oré ‘23’, pehé ‘23’), dependentes – absolutivos (sé ‘1’, né ‘2’, senéµ>@¶oré ‘23’, pé/pén ‘23’, e ergativo (ipé µ>@¶  ± H demonstrativos (pé ‘este’, kwé ‘isso, ali’, mi ‘isso determinado’, DҌp ‘esse’, ƾy ‘aqueles’). Os verbos são transitivos ou intransitivos. Os primeiros recebem RVSUH¿[RVGHYR]RFDXVDWLYRSUHSRVLWLYRHRSUH¿[RSHVVRDODFXVDWLYR Os intransitivos recebem os causativos simples e o comitativo. As partículas são: – adverbiais (ѠPiZH ‘há muito tempo’, mo ‘onde’, pa ‘interrogativo GHFRQ¿UPDomR¶ –de modalidade (rakókwehé ‘mítico’, sehé ‘boato’, rimó ‘provavelmente’, t(a) ‘propósito’, né ‘intenção’), – aspectuais (potá ~ tá ‘projetivo’, pané ‘lusivo’), – outras partículas (we ‘também/ainda’, no ‘repetição’, etc.). 28

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Flexão Flexão relacional Os nomes possuíveis, os verbos e as posposições são elementos dependentes e as relações de dependência entre eles e seus determinantes VmRPDUFDGDVSRUXPGRVTXDWURSUH¿[RVUHODFLRQDLV3: R1 (r-/n’Ø-), R2 (h’t’i’Ø-), R3 (m’t’‫’ݦ‬Ø’ 9LQLFLDOo Ø-) e R4 (wea wet- ‘1corr.’, e- ‘2corr.’, sereµ>@FRUU¶oroaorow’ara-‘13corr.’, pe- ‘23corr.’ e oaw-’a- ‘3corr.’). &DGDXPGHVVHVSUH¿[RVGiLQGLFDo}HVHVSHFt¿FDV51 – determinante e determinado formam uma unidade sintática ([NRViSRҌtDr-ehá@µRROKRGH kosápo’ía’), R2 – determinante e determinado não formam uma unidade sintática ([h-ehá@ µVHX ROKR¶  53 – determinante é genérico e humano ([t-ehá@ µROKR¶  H 54 – determinante é correferencial com o sujeito ([[aiNRWyƾ@>weti-ehá@@µIXUHLPHXROKR¶ $GLVWULEXLomRGRVWHPDVGHSHQGHQWHV com os alomorfes de R1VHUYHSDUDLGHQWL¿FDUGXDVFODVVHVGLVWLQWDV¬FODVVH I pertencem os temas que recebem o alomorfe Ø- e à classe II aqueles que recebem o alomorfe r-. Essas duas classes se subdividem em subclasses VHJXQGRVXDGLVWULEXLomRFRPRVDORPRUIHVGRVSUH¿[RV52 e R3. Flexão casual +iFLQFRFDVRVPRUIROyJLFRVH[SUHVVRVSRUVX¿[RV WUrVlocativos – pontual, difuso e situacional –, um translativo e um argumentativo, este último permitindo que uma raiz nominal ou verbal funcione como argumento). – pontual -ipe’-ime (C_), -pe’-me (V_) (kér-ipe ‘no dormir’). – difuso -o (V, C_) ~ imo (Cn_) (ѠZѠ̗-o ‘pela terra’). – situacional –i &B a-j (V_) (VpUHZ࠴̗r-i ‘pelo meu traseiro’), – translativo –amo &B  a -ramo (V_) (ҌiQJamo ‘como uma casa (de pessoas)’. – argumentativo -Ø HDԥB a-a (V, C_) (sé r-ená-Ø ‘meu lugar’, kosó-a ‘a mulher’, né Ø-hém-a ‘teu sair’). Flexões de pessoa, de voz e de modo A categoria de pessoa sem valor correferencial é uma categoria HVSHFt¿FD GRV YHUERV D YR] VH PDQLIHVWD QD IRUPD GRV YHUERV H GDV 3

&DWHJRULDLGHQWL¿FDGDSRU5RGULJXHV  QDVOtQJXDV7XSt*XDUDQt

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posposições e o modo compreende certas manifestações exclusivas dos verbos e de outras próprias aos núcleos de predicados verbais ou nominais. +iWUrVVpULHVGHSUH¿[RVSHVVRDLV ±$VpULH,pFRPSRVWDGHSUH¿[RVVXMHLWR a- ‘1’, ere- ‘2’, sa- µ>@¶ oro- ’orow-‘13’, pe- ‘23’, o- ~ w-, a- ‘3’) exclusivo do modo indicativo I (v. seção seguinte) e marcando os sujeitos dos verbos intransitivos e transitivos, – A série II (e- ‘2’ e pe- ‘23’) marca o sujeito de verbos no modo imperativo, – A série III (oro µ¶  FRGL¿FD R REMHWR GH VHJXQGD SHVVRD QRV modos indicativo I, subjuntivo e gerúndio. Modo A língua Asuriní distingue morfologicamente quatro modos: indicativo, imperativo, subjuntivo e gerúndio. Há duas variedades de LQGLFDWLYR D¿UPDWLYR 2 LQGLFDWLYR , VH PDQLIHVWD SRU PHLR GH SUH¿[RV pessoais da série I (a-há ‘eu vou’, a-ܺZyµHXRÀHFKR¶ 4XDQGRRREMHWR é 1 ou 2 e o sujeito 3RYHUERQmRUHFHEHRSUH¿[RGHVXMHLWRPDVVLPR relacional R1 (sé r-esá ‘ele me vê’; né r-esá ‘ele te vê’). A mesma estratégia morfossintática é observada quando o sujeito é 2 e o objeto 1 (oré r-esá ipé ‘você/vocês nos vê/veem’). Quando o objeto é 2 e o sujeito 1, o verbo UHFHEHRSUH¿[RGDVpULH,, RURHViƾ ‘eu/nós (excl.) lhe vejo/vemos’). 2V SUHGLFDGRV FRP Q~FOHR QRPLQDO UHFHEHP SUH¿[RV UHODFLRQDLV (Rosa sé rér-a ‘Rosa é meu nome’, i-pokó ‘ela é grande’). O indicativo II é exclusivo das situações em que o sujeito é de terceira pessoa e o predicado verbal é precedido por uma expressão circunstancial. O verbo UHFHEHHQWmRSUH¿[RVUHODFLRQDLVHRVX¿[R-i &B a -j (V_) (w-iƾ-ime i-kér-i ‘ele dorme um sua própria casa’). O subjuntivo é marcado por -amo &B  a -ramo (V_). O verbo intransitivo recebe o relacional R1 ou R2 (né Ø-kér-amo ‘quando você dormia’, h-orý-ramo ‘quando ele era feliz’), exceto nas situações em que o objeto é 2, ou quando ele é correferente do sujeito do predicado SULQFLSDO1HVVHSULPHLURFDVRRYHUERUHFHEHRSUH¿[RSHVVRDOGDVpULH III (RURHViƾDPR ‘quando eu te vi’) e, no segundo, o relacional R4 (wenopó-ramo a-sa’á ‘se você me bate, eu choro’). 2 JHU~QGLR p PDUFDGR SHOR VX¿[R -a &B  a -ta MB  a w (V_). Os verbos intransitivos recebem alomorfes do relacional R4 (DVH¶pƾZHW 30

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óp-a ‘eu canto deitado’), os transitivos recebem seja relacionais, seja o SUH¿[RDFXVDWLYR i-suka-w ‘matando-o’, a-sãn ka’i-a r-esak-a ‘eu vim vendo macacos’, oro-esák-a ‘vendo você’). Voz 2VYHUERVHDVSRVSRVLo}HVVmRÀH[LRQDGRVSHORVSUH¿[RVGHYR] se-µUHÀH[LYR¶ a-se-nopó ‘eu me bato’, o-se-opé ‘para si mesmo’) e so‘recíproco’ (o-so-nopó ‘eles se batem’). Negação 2 VX¿[R ihi ÀH[LRQD YHUERV H QRPHV QR PRGR LQGLFDWLYR n DHViƾihi ‘eu não o vejo’). 2 VX¿[R HPH &B  a reme 9B  ÀH[LRQD YHUERV QR PRGR imperativo (SHSѠK࠴̗ƾHPH ‘não o fure!’), mas também verbos no modo LQGLFDWLYR,TXDQGRHVWHVVmRPRGL¿FDGRVSHODPDUFDPRGDOGHSURSyVLWR RX¿QDOLGDGH t o-hó-reme ‘para que ele não tenha’). Derivação Os morfemas derivacionais: Causativos 1) aumentam a valência original dos nomes e dos verbos: – o causativo simples mo-, ma-, m-, w- (a-mo-aróµHXRIDoR¿FDU bonito’; a-mo-kén ‘eu o faço dormir’), – o comitativo ero-, era-, ro-, ra-, er-, r- (a-ro-kén ‘eu o faço dormir comigo’), – o prepositivo (-okán, a-soká-okán ‘eu o faço matar em meu lugar’); 5HÀH[LYRVHUHFtSURFRV 2) reduzem a valência verbal original: VHUHÀH[LYRHVRµUHFtSURFR¶ (o-se-nopó ‘eu me bato’, o-so-nopó ‘eles se batem’). 3) mudando aspectos semânticos dos nomes: – o atenuativo -Ҍt (V+_) ~ -í (C+_) (NDҌiҌt, ‘macaquinho’, iƾ+í ‘casinha’), 31

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– o intensivo -ohó iƾohó ‘casa grande’), – -róma-óm ‘prospectivo’ (-HPLҌy+róm ‘o que vai ser alimento’), – -kwér a-ƾZpUa-wéra-ér ‘retrospectivo’ (ka‫ݦ‬ikwérµH[ÀRUHVWD¶  – o privativo -e‫ܺݦ‬ғP &B a‫ܺݦ‬ғP (V+_) (-mén-e‫ܺݦ‬ғP ‘sem marido’; – susbtitutivoDƾiZ -KѠғDƾiZD ‘marâtre’) – similitivo –ran (o’i-ran ‘farináceo’) 4) derivam nomes de objeto a partir de verbos transitivos (sé r-emisoká ‘o que eu matei’) e de paciente (i-sokáS࠴̗r ‘aquele que foi morto’); 5) derivam nomes de agente a partir de verbos ativos: ár, -tár, -hár ‘nominalizador de agente’ (-soká+hár ‘matador’, -atá-hár ‘mercador’); 6) derivam nomes de circunstância a partir de verbos e de nomes descritivos : -háw ~ -táw ~ -áw (-orý+háw ‘felicidade’, -óp-áw ‘lugar para estar deitado’);   HVSHFL¿FDP QRo}HV DVSHFWXDLV -eté ‘intensivo, puro’, -páw ‘completivo’; 8) indicam a proximidade com relação ao interlocutor em certos demonstrativos: ewo-kwé ‘aquele de quem você fala’. Composição Podem-se distinguir cinco tipos: – determinativo = nom + nom (PDҌpDҌi ‘carne de caça’), – atributivo = nom + nom (pirá-motáw ‘peixe barbudo’), – objetivo = nom + verbo (-PDҌpҌy ‘comer caça’), – aspectual = verbo + não descritivo (-ҌyNDWy ‘comer bem’), – potencial = verbo + verbo volitivo/potencial (-ҌySRWiW ‘querer comer’, -ҌyNZDP ‘poder/saber comer’) Reduplicação A reduplicação da última ou das duas últimas sílabas de um nome, de um verbo ou de uma partícula exprime modos de ação: sucessividade (osepé:sepé ‘um após outro’, frequentativo (DURVHZѠғVHZ࠴̗n µHX R ¿] voltar várias vezes comigo’) e intensidade -kanó:kanó ‘muito forte’. 32

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SINTAXE Constituintes Há sintagmas nominais, verbais e posposicionais. Nos modos indicativo, subjuntivo e gerúndio, SOV é a ordem mais frequente na oração transitiva e SV, na intransitiva. Outras ordens são também atestadas: SV(O), V(O)S, OVS. O sintagma posposicional, como todas as outras expressões circunstanciais, tende a se colocar preferencialmente antes da sequência S(O)V. Funções dos nomes, dos verbos e das posposições 2V QRPHV H RV YHUERV ÀH[LRQDGRV SHOR FDVR DUJXPHQWDWLYR funcionam como argumentos (cf. Rodrigues 1996): (-KѠғDµPmH¶iƾD ‘casa’, sé Ø-kér-a ‘meu dormir’, né sé kwaháw-a ‘teu conhecimento de mim’). Sem morfologia casual, nomes e verbos predicam, mas os predicados com núcleo nominal são todos possessivos (VpUiƾ ‘eu tenho minha casa’, sé r-esá h-ehé ‘eu tenho lembrança dele’) e aqueles com núcleo verbal são de dois tipos: (a) processuais (a-soká ‘eu o mato’, a-hém ‘eu saio’) e (b) potenciais (sé Ø-kér ‘eu posso dormir’). Os predicados transitivos e intransitivos se distinguem segundo o número de argumentos obrigatórios: transitivos bivalentes (-soká ‘matar’, -potat ‘querer’) e trivalentes (-món ‘dar’), intransitivos monovalentes (-hó ‘ir’, ҌiU ‘cair’, RU࠴̗w ‘ser feliz’) e bivalentes com o sujeito e um objeto marcado pela posposição -ehé ‘em relação a’ (-PDҌp ‘olhar’, -esá ‘ter lembrança’). Todos os predicados desta última subclasse exprimem atividades mentais. Os verbos transitivos em todos os modos seguem princípios pragmáticos que impedem o surgimento da marca de agente quando 1/13 agem sobre 2/23, e quando 2/23 agem sobre 1/13. A correferência com o sujeito é obrigatoriamente expressa. Nomes e verbos recebem o relacional R4 quando seus determinantes são correferenciais com o sujeito da frase principal. Com relação aos verbos, essa correferência segue um padrão absolutivo, manifestando o objeto no subjuntivo (we-pihóm-amo a-há tá ‘se você me belisca, eu vou embora’ e o sujeito no gerúndio (DViQ ZHVH¶HƾiWD ‘eu vim cantando’). 33

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A frase complexa Há dois tipos de frases dependentes: – aquelas no gerúndio, cujo sujeito é obrigatoriamente correferencial com o sujeito da frase principal, – aquelas no subjuntivo, cujo sujeito é obrigatoriamente diferente do sujeito da frase principal. As frases no gerúndio correspondem a SURFHVVRV VLPXOWkQHRV VHTXHQFLDLV H GH ¿QDOLGDGH ai-há weiVHҌHƾDWD ‘eu vou cantando’, ‘eu vou e eu canto’ ou ‘eu vou para cantar’). As frases no subjuntivo exprimem uma circunstância condicional ou temporal (a-sán ZHWyUѠZHWpUDPRQpØSѠUt‘eu venho se/quando eu estiver feliz contigo’). Tipos de frases O Asuriní distingue três tipos de frases independentes: declarativas, interrogativas e imperativas. As declarativas e as interrogativas são no modo indicativo, mas as últimas são marcadas pela partícula pa µFRQ¿UPDomR¶FRORFDGDjGLUHLWDGRFRQVWLWXLQWHLQWHUURJDGR ere-há pa? ‘você vai?’, mo pa ere-há ‘aonde você vai?’). O imperativo se manifesta no verbo intransitivo ou transitivo no objeto de terceira pessoa, por PHLRGHSUH¿[RVGDVpULH,, e-ܺZyµÀHFKHRe-kén ‘dorme!’). As frases LPSHUDWLYDVVmRD¿UPDWLYDV e-karó ‘come!’) ou proibitivas (pe-há-eme ‘não vá!’). Há uma grande quantidade de verbos que não recebem a marca do proibitivo. Léxico O léxico Asuriní é bastante conservador. Quase não há empréstimos no português (papé do português para papel é um exemplo). Elementos culturais emprestados dos brancos são chamados por expressões descritivas em Asuriní. O nome sawára, que originalmente exprimia ‘onça’, é usado atualmente para designar ‘cachorro’; a onça foi rebatizada sawárohó ‘grande onça’. Referências &DEUDO$6$&3UH¿[RVUHODFLRQDLVHP$VXULQtGR Tocantins. Moara: Revista dos Cursos de Pós-graduação em Letras da UFPA, 8:7-24. Belém. 34

Projeto piloto para a metodologia geral do Inventário Nacional da Diversidade Linguística

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