ESCORREGAMENTOS DE TERRA E QUEDA DE BLOCOS - O EXEMPLO DO PASSEIO DAS FONTAÍNHAS (PORTO

September 29, 2017 | Autor: Luisa Borges | Categoria: Riscos Naturais
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Escorregamentos de terra e queda de blocos – o exemplo do Passeio das Fontaínhas (Porto)

ESCORREGAMENTOS DE TERRA E QUEDA DE BLOCOS – O EXEMPLO DO PASSEIO DAS FONTAÍNHAS (PORTO Luisa Borges 1 & Ana Correia 2 1

Câmara Municipal do Porto, [email protected]

2.

GEG – Gabinete de Estruturas e Geotecnia, Lda, [email protected]

Resumo Durante o Outono de 2000 e o Inverno de 2000-2001, devido às intensas e prolongadas chuvas, ocorreram diversos problemas de estabilidade de taludes no país. Na cidade do Porto observaram-se diversas avarias no pavimento e no muro de suporte da rua do Passeio das Fontaínhas. Esta observação partiu da Câmara Municipal do Porto, que acompanhou o fenómeno desde Janeiro de 2001. Descrevem-se as ocorrências observadas bem como os estudos realizados e as medidas adoptadas no sentido de controlar os deslizamentos eminentes. Abstract During the Fall of 2000 and the Winter of 2001, due to the intense and prolonged rainfall, many were the slope stability problems in the country. In the city of Oporto, several anomalies were experienced in Passeio das Fontaínhas street pavement and it’s supporting wall. The Municipality surveyed this phenomenon since January 2001. Here are described the observed occurrences as well as the implemented studies and consequent steps taken, towards the controlling of the eminent landslide. Introdução A rua do Passeio das Fontaínhas situa-se na margem direita do rio Douro, na escarpa entre as pontes Luiz I e Maria Pia. Este arruamento, situado entre as cotas 65-69, coroava um aterro de regularização da escarpa rochosa, suportado por um muro de alvenaria de grandes dimensões assente sobre o maciço rochoso. Por sua vez, a escarpa encontrava-se totalmente recoberta por aterros de regularização, de composição heterogénea, constituindo socalcos A.P.G. – ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE GEÓLOGOS SEMINÁRIO “RISCOS GEOLÓGICOS” – 29 A 30 DE SETEMBRO, 2003

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suportados por muros de pedra arrumada com contrafortes. Estas estruturas já existiam desde 1850.

Figura 1 – Escarpa das Fontaínhas (Fevereiro 2001). Histórico de acidentes A escarpa entre as pontes Luiz I e Maria Pia é frequentemente objecto de acidentes geológicos, com ocorrência de escorregamentos de terras e queda de blocos, tendo como consequência diversos prejuízos materiais, ferimentos e mesmo perda de vidas humanas. Com base na documentação disponível são identificadas, por ordem cronológica, diversas ocorrências relacionadas com a escarpa [2,3,5,6,7]: 1.

1947, queda de blocos e deslizamento de terrenos na zona dos Guindais-

Fontaínhas; 2.

1954, queda de blocos na zona das Fontaínhas;

3.

1959, queda de blocos na escadaria dos Guindais (Muralha Fernandina);

4.

1983, desprendimento de terras na Escarpa dos Guindais;

5.

1992, queda de blocos e deslizamento de terrenos na zona dos Guindais-Corticeira;

6.

1994, queda de blocos e deslizamento de terrenos na zona dos Guindais-Corticeira;

7.

1995, queda de blocos e deslizamento de terrenos na zona dos Guindais-Corticeira;

8.

1997, queda de blocos na zona da Muralha Fernandina, junto à ponte Luíz I;

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9.

2001, avarias observadas no pavimento da rua do Passeio das Fontaínhas e

movimentos do muro de suporte do referido arruamento. Situação detectada e intervenções de emergência Em Janeiro de 2001 a rua do Passeio das Fontaínhas apresentava avarias diversas, tendo a Câmara Municipal do Porto dado início ao acompanhamento da sua evolução. Fendas e assentamentos significativos no pavimento levaram a suspeitar que existiriam movimentos no muro de suporte da referida rua. O controlo topográfico efectuado evidenciou esse fenómeno, registando movimentos verticais e horizontais no muro de suporte do Passeio das Fontaínhas a um ritmo persistente de 1.0 a 2.0 cm por dia, com valores acumulados de cerca de 50 cm. Após um primeiro corte superficial da vegetação no socalco da base do muro, constatou-se a presença de fendas rectilíneas e paralelas à escarpa na superfície dos aterros e que aumentavam de largura continuamente. Este fenómeno sugeria que sob a camada de aterro existiriam grandes blocos de granito que se encontravam em movimento, facto que se veio a verificar após a escavação cuidadosa destes materiais e que expôs o maciço rochoso. Estes indícios preocupantes levaram a intervenções imediatas com o objectivo de diminuir o risco de ocorrência de um acidente de consequências imprevisíveis. Perante a evidência dos movimentos que se verificavam no muro de suporte e que podiam levar à sua ruína e queda para a Av. Gustavo Eiffel, procedeu-se ao corte do trânsito nessa via. Foram de imediato iniciados trabalhos de escavação do arruamento e, simultaneamente, de desmonte cuidadoso do muro de suporte, com o objectivo de aliviar as cargas sobre o maciço rochoso. Procedeu-se ao desvio da conduta de águas pluviais, que tinha rompido devido aos assentamentos, e à cobertura das zonas escavadas com plásticos de forma a evitar infiltrações de água no maciço, tanto mais que continuava a existir intensa precipitação. Este procedimento levou a que os deslocamentos do muro parassem, tendo-se procedido de seguida à desmatação de toda a escarpa sob o Passeio das Fontaínhas e à remoção de materiais de cobertura de forma a expor o maciço rochoso. Foi então possível proceder ao estudo do maciço e dos fenómenos em curso. A.P.G. – ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE GEÓLOGOS SEMINÁRIO “RISCOS GEOLÓGICOS” – 29 A 30 DE SETEMBRO, 2003

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Estudo geológico-geotécnico Devido às características das avarias e sintomas que se detectaram na escarpa do Passeio das Fontaínhas e nas estruturas cujas fundações assentam directamente no maciço, o estudo teve particular incidência e atenção sobre a caracterização o mais detalhada possível do sistema de diaclasamento do maciço. Deste modo, para além dos habituais trabalhos de reconhecimento de superfície dos afloramentos ao longo da escarpa, foram também realizadas uma campanha de prospecção geotécnica e uma campanha de instrumentação e monitorização [12]. Com a primeira pretendeu-se obter informações sobre as características geológicas e geotécnicas do maciço e com a segunda, obter informações sobre o seu comportamento. Caracterização da escarpa do Passeio das Fontaínhas A zona estudada, como já referido, insere-se numa área mais vasta que se estende desde a ponte Luíz I até à ponte Maria Pia e apresenta em toda a sua extensão características geomorfológicas, geológicas e geotécnicas muito semelhantes. A escarpa desenvolve-se paralelamente ao rio Douro, numa extensão de cerca de 110m, apresenta uma altura média de 50m e uma inclinação que varia entre 40-45º na direcção do rio [10]. Localmente, existem desníveis quase verticais, com mais de 20m. Litologia e Hidrogeologia O maciço rochoso aflorante, que constitui toda a escarpa ao longo da marginal do Rio Douro, é caracterizado por um granito de duas micas de grão médio, também conhecido por Granito do Porto. Esta fácies granítica é a mais representativa na cidade do Porto e pode por vezes apresentar uma textura mais grosseira e tendência porfiróide, traduzindo manifestações pegmatíticas [1]. Considerando a caracterização hidrogeológica dos terrenos da Carta Geotécnica do Porto, a zona em estudo enquadra-se na Zona 2, caracterizada por uma formação com permeabilidade fissural à superfície (maciço pouco alterado e fracturado) subjacente a uma formação impermeável (maciço pouco alterado e pouco fracturado).

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Com base no estudo efectuado nesta escarpa, supõe-se que a formação com permeabilidade fissural aparenta estender-se até grandes profundidades As extensas fracturas quase verticais que ligam a superfície do maciço até à base da escarpa ou até ao próprio rio Douro poderão constituir canais de percolação preferencial com capacidade de escoar grandes caudais, justificando a existência de minas junto à base, com caudais permanentes, bem como o aparecimento de resíduos de caldas de injecção na base da escarpa após percursos superiores a 60m. Alteração Com base na classificação proposta pela ISRM [4], verifica-se que, de um modo geral, o maciço que aflora ao longo da escarpa se encontra medianamente alterado. Fracturação Através do levantamento das atitudes das diaclases definiu-se a estrutura da fracturação do maciço, verificando-se que este é caracterizado por 3 famílias de diaclases cujos planos médios definidos com base no estudo estatístico apresentam as seguintes atitudes: D1 – N120º; 85ºSW D2 – N50º;85ºSE D3 – N90º;45ºS

Figura 2 – Projecção estereográfica dos pólos e planos das principais famílias de descontinuidades.

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Os parâmetros das principais famílias de descontinuidades identificadas no maciço apresentam-se no quadro seguinte.

Quadro 1- Parâmetros das principais famílias de descontinuidades. D1

D2

D3

Orientação média

N120º, 85ºSW

N42º, 85ºSE

N85º,45ºSE

Espaçamento

afastadas (0,6 - 2m) a próximas (
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