Escre(vi)ver a diáspora: retratos da emigração em Ferreira de Castro e José Rodrigues Miguéis, in InterDisciplinary Journal of Portuguese Diaspora Studies, 1, 2012, pp. 101-122.

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Escre(vi)ver a diáspora: retratos da emigração em Ferreira de Castro e José Rodrigues Miguéis DORA NUNES GAGO Universidade de Macau

Resumo. Ferreira de Castro (1888‒1974) e José Rodrigues Miguéis (1901– 1980) viveram intensamente a experiência da emigração (no Brasil e nos Estados Unidos, respectivamente) que transpuseram para a sua obra. Neste artigo, tomando como corpus central o romance Emigrantes de Ferreira de Castro e Gente da Terceira Classe de Rodrigues Miguéis, analisaremos, numa perspectiva comparatista os retratos do “emigrante português”, delineados em confronto com a realidade estrangeira, com o “Outro”, através da instauração de um processo de alteridade. Principiaremos por analisar as descrições da viagens rumo ao “Eldorado”, para depois nos determos na dicotomia entre a unidade e as diferenças culturais encontradas no “novo mundo” e, por fim, atentaremos no modo como as conexões existentes entre a pátria de origem e a de acolhimento, aliadas à possibilidade / impossibilidade de um regresso, poderão contribuir para a construção de novas identidades. Assim, tentaremos compreender em que medida estas imagens, construídas a partir de dicotomias como a chegada / partida, ilusão / desilusão, integração / desintegração, diversidade / unidade poderão reflectir estereótipos enraizados num imaginário cultural ou assumir uma dimensão pessoal e original. Palavras-chave. diáspora, emigração, Literatura Portuguesa, estereótipo, Rodrigues Miguéis, Ferreira de Castro Abstract. Ferreira de Castro (1888‒1974) and José Rodrigues Miguéis (1901‒1980) lived intensely the experience of emigration (the first one in Brazil and the second in the United States), which they transposed into their works. In this article, taking as central corpus the novel Emigrantes by Ferreira de Castro and Gente da Terceira Classe by Rodrigues Miguéis, we analyze, from a comparatist perspective, the representations of the “Portuguese emigrant” informing their works Emigrantes and Gente da Terceira Classe. First, we will analyze the descriptions of the voyages to the “Eldorado” and the dichotomy between the unit and the cultural differences found in the “new world” and, finally, we will try to understand how the connections between the homeland and the foreign 101

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country, together with the possibility / impossibility of a return may contribute to the construction of new identities. Thus, we will attempt to understand how these images, constructed from dichotomies, such as the arrival / departure, illusion / delusion, integration / disintegration, diversity / unity, may reflect some cultural stereotypes rooted in an imaginary dimension or whether they are the result of a mythical, personal vision of the world. Keywords. diaspora, emigration, Portuguese Literature, stereotype, Rodrigues Miguéis, Ferreira de Castro

José Maria Ferreira de Castro (1888‒1974) e José Rodrigues Miguéis (1901‒1980) viveram e transpuseram, de forma ficcionalizada, para as suas obras, a experiência da emigração. O primeiro partiu com apenas doze anos, em 1911, tendo permanecido no Brasil até 1919, onde trabalhou arduamente, durante quatro anos, como seringueiro no seringal “Paraíso”, no coração da Amazónia. É de salientar que nesse tempo, não era insólito, jovens de tenra idade, ainda no início da adolescência partirem sozinhos para um país estrangeiro. Além disso, a época em que Ferreira de Castro emigrou, do ponto de vista histórico, coincide com o início de uma forte vaga de emigração para o Brasil. Segundo Bernard Eméry, em 1911, 59 661 portugueses saem do país, e mais de 80% tem como destino o Brasil (25). Após um ligeiro decréscimo, por altura da Primeira Guerra Mundial, volta a ascender e, como refere Joel Serrão (605), de 1920 a 1930, a média emigratória oscila em torno dos 35 000. Aliás, este país mantém-se como forte destino de emigração até ao início dos anos sessenta, sendo depois, maioritariamente, preferidos países da Europa. José Rodrigues Miguéis partiu para os Estados Unidos em 1935, com trinta e quatro anos. Naturalizou-se americano em 1944 e voltou a viver em Portugal, por breves períodos, entre 1946‒1947, 1957 e 1959, e 1963‒1964, tendo permanecido também no Brasil entre 1949 e 1950. Os seus ideais progressistas e republicanos não se coadunavam com os princípios do Estado Novo, por conseguinte, a Censura impediu-o de leccionar, de exercer a advocacia e o jornalismo. O percurso migratório, definido por Maria Beatriz Rocha-Trindade como “o conjunto de passos, acções ou situações, dados ou experimentados por um indivíduo migrante, com relevância para o processo em que se encontra envolvido” (37), pode desembocar em duas vertentes: a fixação no país de acolhimento (que implica a naturalização, e aquisição de uma nova “nacionalidade”) ou o regresso à pátria (que sucede em caso de sucesso pleno ou de insucesso). Nestes dois autores encontramos as

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duas situações, visto que o primeiro regressou (sem êxito económico mas com as vivências que o converteram num escritor universal) e o segundo fixou-se nos Estados Unidos. Além disso, poderemos considerar que Ferreira de Castro foi um “emigrante”—termo que, segundo Tabori, define o conjunto de pessoas que sai do país impulsionado por motivos económicos (29)—ao passo que Rodrigues Miguéis conjugará em si também os “estatutos” de “expatriado” e “exilado”, tal como refere Eduardo Lourenço em “As marcas do exílio no discurso de J.R. Miguéis”: Ausente, o exilado está essencialmente na terra que deixou. Nesse sentido ninguém tem mais pátria que aquele que a perdeu e a vive como perdida. É difícil que um expatriado não se sinta também, a seu modo, um exilado. Mas enquanto apenas expatriado é um homem que largou amarras, que assume a ausência e se assimila aos poucos a uma nova pátria. É a história natural de todos os emigrantes do mundo. Dos nossos, em particular, Rodrigues Miguéis foi ao mesmo tempo exilado e expatriado, mas não foi uma coisa nem outra sem íntima contradição e perpétuo dilaceramento. (37‒38)

Contudo o exílio de Miguéis principiou por ser interior, pois no seu próprio país já ele se sentia (e acabou por sempre se sentir) desintegrado, estrangeiro e exilado. Nesta senda, como refere Agnieska Gutty, “exile […] can also be associated with a purely mental state: a sense of separation, terminal loss and loneliness, caused by political, social or personal circumstances” (1). Ambos os autores gravitam de certo modo em torno do NeoRealismo, apesar de não serem considerados inteiramente enquadrados no cânone neo-realista. Assim, se Ferreira de Castro foi um precursor desta corrente, Rodrigues Miguéis empreendeu uma espécie de síntese entre as duas tendências antagónicas: o presencismo e o neo-realismo, definindo-se a si próprio como um “escritor poliédrico”, tal como afirmou no posfácio para a segunda edição do romance Páscoa Feliz, frisando que o seu neo-realismo “onde existe não é dos que se metem pelos olhos dentro” (177), assumindo a sua posição de fidelidade a si próprio e independência face aos cânones: “Idêntico a mim mesmo, poliédrico se querem, aberto a todos os ventos que por mim rocem, mas apesar de tudo com este ar de família, apto a traduzir o que, à falta de melhor termo, chamamos a sensibilidade portuguesa”? (177‒178). Assim, afirma a liberdade e originalidade que lhe permitem ultrapassar as correntes literárias em voga. Com efeito, o ponto fulcral da nossa análise é o eco das experiências migratórias presente em Emigrantes de Ferreira de Castro e Gente da

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Terceira Classe de Miguéis. Neste contexto, atendemos ao facto de não existir uma transposição “directa” da vida para a literatura. Por conseguinte, os elementos colhidos através das vivências mesclam-se com a ficção, num processo de “modelização”, concebida, como referem Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes, “como construção de um modelo do mundo, representado e estruturado pela mediação de um sistema semiótico” (228). A viagem em condições deploráveis rumo ao país de acolhimento é, pois, o primeiro elemento vivido e posteriormente recriado literariamente pelos dois escritores. As viagens rumo ao Eldorado Tanto em Emigrantes, como em Gente da Terceira Classe são-nos retratadas as precárias condições de viagem dos emigrantes portugueses (e não só) que partiam na “terceira classe” dos navios, rumo à tão ansiada “terra prometida”. Em Emigrantes, o protagonista, Manuel da Bouça, camponês analfabeto, com cerca de quarenta e um anos de idade, embarca para o Brasil no navio “Darro”. O narrador omnisciente revela-nos apriori a condição daquela gente, espelhada na metáfora do “rebanho”, ao relatar o momento do embarque: Por fim, o rebanho lá se foi, atrás dum tripulante que não respondia às perguntas que lhe faziam e marchava com apressados passos. Desceram escadas negras, tacteando corrimãos húmidos, tropeçando ao longo de galerias obscuras, até verem os seus beliches, uns por cima dos outros, como gavetões de jazigos. (88‒89)

Para além da imagem da pobreza é a da morte que emerge quando se comparam os beliches aos gavetões dos jazigos. E o retrato do ambiente vivido nesta parte do navio prossegue: Toda a terceira classe era negra, negra, viscosa e sufocante […]. Cheirava a tintas e da cozinha exalava-se nauseante fartum de comida. Por detrás de cada porta vislumbravam-se corpos enrodilhados em grossos cobertores, em tecidos castanhos e escuros, que enervavam ainda mais o ambiente […]. (89)

Destaque-se, no excerto supracitado a repetição da cor “negra”, que no simbolismo ocidental é conotado com o luto, o medo, a morte, o desespero e aquilo que é nefasto. Para além da referência à cor que confere visualismo à descrição, e uma vez que o ser humano percepciona o mundo real através de todos os seus sentidos, o apelo ao olfacto, através da descrição dos odores, confere ainda maior autenticidade e

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realismo aos factos descritos. Tal como refere Yi Fu Tuan, o odor é um sentido negligenciado pelo homem moderno, uma vez que o ambiente ideal exclui necessariamente a existência de odores. No entanto, como afirma ainda Yi Fu Tuan: “odor has the power to evoke vivid, emotionally-charged memories of past events and scenes” (10). Nesta esteira, também José Rodrigues Miguéis relata as condições de viagem a bordo do Arlanza, no texto intitulado “Gente da Terceira Classe” (subintitulado “Jornal de bordo-1935” e que confere o título ao livro). Aqui, reconhecemos facilmente a voz do autor empírico neste narrador. Com efeito, José Rodrigues Miguéis embarcou no Arlanza a 29 de Junho de 1935, rumo a Inglaterra para tomar o paquete Normandie com destino a Nova Iorque. Este navio transportava emigrantes de Buenos Aires a Southampton, na Inglaterra, com escala na Madeira, em Lisboa, na Corunha e em Cherburgo. Neste texto, é abordado o regresso do navio da América do Sul (o percurso é inverso ao que faz Manuel da Bouça), transportando muitos dos que rumaram ao Eldorado e fracassaram, ou seja os “torna-viagem”, a casta mais triste como salienta o narrador: Os que um dia distante partiram num porão, e, corridos anos, voltam à terra que lhes foi berço, no âmago dum sepulcro flutuante que um veterinário teria condenado como impróprio para o gado de açougue. Ao partir, levavam consigo ao menos uma esperança: agora nem isso lhes resta. Muitos deles, com o sonho, seu único luxo, perderam por lá a saúde e a força de trabalho, que era toda a sua riqueza. (12)

Novamente verificamos que as imagens são conotadas com a morte (sepulcro), espelhando a desumanidade das condições vividas naquela viagem. Ferreira de Castro revela igualmente o drama dos “torna-viagem” ao descrever, pela “voz” de um narrador heterodiegético e omnisciente, as condições de regresso do Brasil de Manuel da Bouça, mais tarde, a bordo do “Andes”, onde encontra passageiros ainda mais miseráveis do que na primeira viagem, visto estarem desprovidos de esperança, devido ao naufrágio do sonho do “Eldorado”, sendo vítimas da exclusão social, pois: Trabalharam tanto que se esqueceram de si próprios; e no dia em que se lembraram de que existiam, viram-se miseráveis como quando haviam chegado; mais miseráveis ainda porque já não tinham a ilusão. Estavam enfermos, sugados, envelhecidos, e só lhes restava implorar da morte um adiamento. Muitos deles iam repatriados pelos cônsules; outros tinham somado todas as economias feitas durante os anos de exílio e com elas adquirido lugar por quinze dias naquela pocilga transatlântica. (254)

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Por isso, como afirma o autor: “O “Andes” transpunha a barra com o seu carregamento de carne humana, exausta, quase morta, que a América devolvia à Europa—homens que dir-se-ia estarem a mais no Mundo e se arrastavam pelos dois hemisférios como se fossem o refugo de outros homens” (255). Neste caso, constatamos que aquele grupo pertence a um contingente populacional (que, infelizmente, nos nossos dias, continua a existir, tendendo a aumentar nos mais diversos contextos) de pessoas que, na sociedade salarial, se assumem como um “peso”, visto que, ao deixarem de ser explorados, deixam de ser integráveis, correspondendo ao perfil de seres humanos excluídos pelo sistema. Pelo contrário, os passageiros do “Darro”, à semelhança de Manuel da Bouça, ainda rumam ao Eldorado, cheios de esperança e ilusões num futuro melhor. Por isso, embora a terceira classe desta embarcação fosse “um curral flutuante onde se comprimia grande rebanho” (91), os emigrantes de várias nacionalidades que nele viajavam, “quase todos caminhavam cegamente, fascinados pela resplendência transoceânica do imã; era o mistério, o prestígio do longínquo, a fuga às garras de uma laboriosa miséria” (92). Para aquela gente, o país de acolhimento delineia-se como uma terra de promissão: “A América, agitando o úbere farto, escorrendo oiro, tornara-se a pátria ideal de todos os que não tinham pão e também dos que queriam mais pão do que tinham” (93). Do mesmo modo, o narrador autodiegético do texto de José Rodrigues Miguéis também descreve criticamente, recorrendo frequentemente a uma focalização interna, as péssimas condições da terceira classe, que num espaço temporal de vinte anos não se modificaram. Sintomática da imagem de miséria que a Península Ibérica deixava transparecer para o exterior é a resposta do criado de bordo, no momento em que o narrador lhe pergunta aonde poderá ir passear, visto na terceira classe não haver espaço para nada. Então o criado, iludido pela sua “fatiota nova”, e julgando-o passageiro da primeira classe, responde-lhe: “—Oh, o senhor pode passear onde quiser. Isto aqui— acrescenta com um jeito desdenhoso—é só para espanhóis e para portugueses” (13). Este facto contribui para intensificar a solidariedade do narrador para com todos os emigrantes pobres que viajam consigo, por isso, afirma: “Nunca me senti tão perto de todos eles, tão solidário com todos, nem tão longe do mundo hostil e estranho lá de cima.” (14). Enfatiza-se o contraste entre a primeira classe e a terceira. Aliás, anteriormente já tinha aludido a esta oposição ao referir: “É preciso ter viajado num destes transatlânticos para se fazer uma ideia das fronteiras que separam os homens e as classes, mesmo dentro duma casca de noz” (11). Além disso, é sublinhado o antagonismo entre aquela imagem dominada pela miséria e a grandiosidade do império português: “tão

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certo é que o prestígio e a grandeza dum império refulgem mesmo na alma do último dos seus lacaios” (14). A mesma discrepância de “mundos” sentida no navio é salientada por Ferreira de Castro: Na primeira classe, ao longo do convés, em cadeiras de lona e de vime, estendiam-se, indolentemente, corpos de gentes afortunadas—um livro entre as mãos ou uma «écharpe» tremulando […]. Na terceira, constituíam-se grupos, homens e mulheres, cabeças pendidas pela saudade, xailes, rostos de crianças, seios ao léu, numa promiscuidade cigana. (96)

A descrição feita pelo narrador de Miguéis quase que poderia dar continuidade ao retrato traçado por Ferreira de Castro, tais são as semelhanças. Refere, recorrendo, igualmente não só à descrição desagradável dos cheiros, mas também dos ruídos, das sensações auditivas, tácteis e citando a frase do criado que acentua o miserável estatuto dos emigrantes portugueses e espanhóis: Quando o balanço se agrava, ouço gritos e gemidos de crianças e mulheres. Vindo das cabinas vizinhas, de que me separa um tabique de metal reticulado, sem rodapé, um líquido suspeito escorre na superfície escalavrada do chão, e, com ele, espalha-se o cheiro dos vómitos e da urina. For Spanish and Portuguese People only… (14‒15)

Assim, apesar da descrição sob a óptica do olhar nos permitir a aquisição de uma perspectiva mais abrangente do mundo que nos rodeia, o recurso à transposição das sensações auditivas (presente através da evocação dos gritos das crianças e das mulheres) possibilita-nos uma relação mais próxima e intensa com o espaço exterior, visto que como afirma Yi-Fu Tuan: “The sound of rain pelting against leaves, the roll of thunder, the whistling of wind in tall grass, and the anguished cry excite us to a degree that visual imagery can seldom match”(8). Não obstante, uma diferença notória entre as duas representações da viagem é que, no romance de Ferreira de Castro, os passageiros são sempre descritos como uma personagem colectiva, uniforme, como se de um autêntico “rebanho” se tratasse. Neste grupo homogéneo, destacamse dois emigrantes clandestinos, um oriundo de Bilbau e outro português (Manuel António) que acabam por ser apanhados e condenados a trabalhar na infernal casa das máquinas. Por outro lado, em “Gente da Terceira Classe”, é concedida atenção mais individualizada a alguns dos emigrantes que partilham o espaço com o narrador, como é o caso da mulher madeirense que vai para os Estados Unidos com os três filhos para se juntar ao marido, de uma turca que enlouqueceu.

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Em suma, as viagens retratadas por Ferreira de Castro e José Rodrigues Miguéis tecem uma representação “mimética” da realidade presenciada, produzindo o “efeito de real”, através de unidades narrativas (localização, caracterização espacial e de personagens) que instauram a verosimilhança e ancoram a ficção no real, evocando o “mundo” empírico experienciado. Tal como refere Roland Barthes: “il se produit en effet de réel, fondement de ce vraisemblable inavoué qui forme l’esthétique de toutes les oeuvres courantes de la modernité” (89). Além de verosímeis, são irmanadas pela mesma precariedade, pela desumanidade das condições em que a gente da “terceira classe” se converte num miserável “rebanho humano”. No fundo, o Arlanza, o Andes ou o Darro podiam ser o mesmo navio, tais são as semelhanças dos relatos feitos pelos dois autores, onde ecoam as suas vivências, quando partiram também rumo a um futuro melhor. Une-os igualmente a simpatia pelos pobres e pelos desprotegidos da sorte, com quem profundamente se identificam, numa atitude profundamente humanista, que veremos inclusive espelhada nas representações da diáspora portuguesa que transparecem nas suas obras. A configuração do imigrante português e a reconstrução de novas identidades na alteridade A obra Emigrantes rompe inteiramente com a imagem estereotipada do “brasileiro” presente na literatura portuguesa, durante o século XIX e início do século XX. Assim, o emigrante que regressa do Brasil endinheirado é uma personagem típica de obras de Camilo Castelo Branco e também de Aquilino Ribeiro. Aliás Eduardo Lourenço, em A Nau de Ícaro, observa que a Literatura Portuguesa concedeu pouca atenção à figura do emigrante talvez porque “A emigração empírica de milhões dos nossos concidadãos nunca foi afectada por uma conotação trágica, nem sequer verdadeiramente dramática, mas antes dolorosa e melancólica, sempre na esperança do regresso” (47). Ou seja, simbolicamente é quase como se o Português nunca tivesse emigrado, pois embora disperso pelas sete partidas do mundo, nunca “deixa” a sua terra, tendo-a sempre como ponto de referência. Então, tal como refere Clara Rocha, não só com Emigrantes, mas também com A Selva, Ferreira de Castro revela o drama do torna-viagem esmagado pelo seu próprio sonho, fracassado, apresentando-se a emigração, sob a óptica inovadora de um fenómeno de dimensão europeia. Nesta medida, as duas obras supramencionadas “representam um momento crucial de viragem na história do emigrante” (170). Estas personagens profundamente humanas e realistas revelam sobretudo os

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seus fracassos, as suas derrotas, o desenraizamento que implica a divisão entre a pátria de acolhimento e a de origem. Nesta esteira, Eduardo Lourenço justifica a pouca representatividade da emigração na Literatura Portuguesa com a “ausência de voz” do povo emigrante, que a converteu numa espécie de “ferida” oculta. Terá então sido necessário que grandes escritores como Ferreira de Castro, Miguel Torga, ou Rodrigues Miguéis, entre outros, tivessem emigrado, para que essa realidade passasse para a Literatura. Afirma, por conseguinte, o ensaísta supramencionado que, embora Ferreira de Castro tenha captado o aspecto doloroso do fenómeno migratório: A tragédia invocável da verdadeira emigração, esta amputação de todo o nosso ser de uma identidade mais profunda do que a do lar e a do lugar, estremecimento tanto da alma como do espírito e não somente da vida sempre aleatória, encontrar-se-á unicamente nos grandes poetas do ‘desenraizamento’—José Rodrigues Miguéis, Jorge de Sena ou Casais Monteiro. (A Nau 47)

Em Emigrantes (1928), é relatada a odisseia de Manuel da Bouça, que representa o emigrante português sem instrução, camponês, que parte para o Brasil na demanda de uma vida digna, de uma situação económica que lhe permita conseguir um bom dote para a filha e comprar alguns terrenos. Esta personagem representa muitos emigrantes portugueses para quem o Brasil se assumia como a Terra Prometida, o “Eldorado”: Era um sonho denso, uma ambição profunda que cavava nas almas, desde a infância à velhice. O oiro do Brasil fazia parte da tradição e tinha o prestígio de uma lenda entre os espíritos rudes e simples […]. Viam-no erguer-se refulgente, ofuscante em moedas do tamanho do sol, ao fundir-se na linha do horizonte, precisamente para os lados onde devia ficar o país maravilhoso. (32)

A chegada à terra estrangeira é marcada pela curiosidade e pela ansiedade, perante o novo mundo que desponta. São de deslumbramento as primeiras imagens colhidas: “Era uma surpresa de luz, de cor e de linhas—um «ah!» que surgia, inevitável, nos espíritos deslumbrados” (104). Deste modo, para os emigrantes de terceira classe, a primeira imagem do Brasil surge delineada como uma espécie de terra mágica, de paraíso encontrado enfim depois de uma longa viagem em condições desumanas: “A Guanabara revelava-se, agora, jóia escondida em escrínio multicolor, cenário maravilhoso onde os olhos, depois de fixar o conjunto, se esqueciam em êxtase perante os variegados aspectos” (104).

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A primeira cidade que Manuel da Bouça visita é o Rio de Janeiro. Este será o seu espaço de iniciação no país de acolhimento. Desembarca com o companheiro Janardo para visitar a cidade. Inicialmente mostra-se receoso, teme perder-se, intimidado perante a grandiosidade daquele lugar. No entanto, Janardo, mais ousado e confiante, assume-se como um guia nessa primeira descoberta, tranquilizando-o com o argumento de que todas as cidades são parecidas e que no Porto se sentia como em casa. Nesta medida, constatamos uma aproximação entre o espaço estrangeiro e o de origem, uma vez que o Rio acaba por ser considerado semelhante ao Porto. Ou seja, é a realidade familiar da pátria que emerge como eixo configurador de observação daquela realidade distinta, como forma de atenuar as diferenças através duma atitude uniformizadora. Deste modo, as personagens sentem-se imediatamente fascinadas pela grandiosidade, vitalidade e animação do Rio de Janeiro, cidade representada simbolicamente como gigantesca metrópole do futuro. A realidade urbana contrasta com a rural, aquela que era familiar ao protagonista, causando simultaneamente deslumbramento e estranhamento, perante o pulular da vida, o turbilhão da “densa multidão que cobria os passeios […] num refluir constante” (108), que revelava “em ritmo de vida colectiva extravasando-se por todas as fendas da cidade, surda orquestração de força e de triunfo” (109). Assim, toda essa vitalidade ultrapassa completamente as expectativas de Manuel. A cidade estrangeira assume-se como exótica, sedutora, desconhecida e misteriosa. Ele sente-se simultaneamente deslumbrado, mas excluído, exilado interior e exteriormente, num espaço de emigração materializador do “Eldorado”, onde reinam a beleza, o progresso, a riqueza, as promessas do futuro. No entanto, após o desembarque em Santos, as formalidades, a burocracia e a quarentena, inicia-se a “saga” de Manuel da Boiça para encontrar um emprego remunerado por um salário condigno. Neste contexto, ele recria a desilusão sentida pelo jovem Ferreira de Castro, ao procurar a “Casa Samuel” (indicada pelo seu acompanhante) onde esperava encontrar o emprego desejado. Perante as inúmeras dificuldades e as informações que Cipriano (que também vive em condições precárias) lhe vai fornecendo, relativamente aos baixos salários e à exploração de que são vítimas os trabalhadores, Manuel começa a sentir os seus sonhos a desmoronarem-se. Cipriano, conterrâneo de Manuel, é outro imigrante português caracterizado na obra, embora o seu papel seja pouco relevante, assumindo-se como um “guia” na sua trajectória migratória, o primeiro a advertilo de que “aqui, como em todo o Mundo as coisas vão mal. Quase não se ganha para viver” (123). Cipriano encontra-se desiludido, sente-se explorado pelo patrão, o sr. Fernandes, mas é generoso e oferece guarida

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ao recém-chegado apesar das condições em que vive: “Enquanto não arranja a sua vida, pode ficar por aqui. A cama é estreita, mas cabemos os dois” (127). Mostra o seu arrependimento, desilusão e saudades da terra natal ao recordar: —Também eu senhor Manuel, também eu pensei que arrumaria depressa a vida e afinal… Às vezes ao lembrar-me de quanto me custou sair da terra e das lágrimas que a minha mãe ainda hoje chora, sinto vontade de fazer uma asneira nem eu sei o quê! (128)

Em contrapartida, o sr. Fernandes é merceeiro e é o imigrante que triunfou à custa de sacrifícios e depois passou a explorar os outros, tendo como único interesse o dinheiro, o lucro. Revela indignação por considerar que Manuel da Bouça tem um nível de exigência demasiado elevado: —[…] Quando eu vim para cá—sabe?—comecei a ganhar vinte mil réis por mês. Isto há trinta anos e ninguém se queixava! As coisas aqui não estão boas, é verdade; mas também os que vêm agora de lá são uns figurões! Antigamente trabalhava-se de dia e de noite, aos domingos e dias santos e ninguém discutia os ordenados, como agora. Mesmo assim, muitos faziam carreira. Hoje…é o que se vê! Eu cheguei a apanhar pontapés do meu patrão! (130)

No fundo, Fernandes é o protótipo de imigrante que, após ter sido escravizado, se considera com legitimidade para se “vingar” e reagir do mesmo modo. O seu carácter não difere do de outros que surgirão também retratados nos contos de Rodrigues Miguéis. O seu aspecto físico adequa-se ao seu perfil psicológico, destacando-se “a omnipotência da sua gordura” (130), a contrastar com a magreza de Cipriano, por exemplo. Um outro emigrante português que posteriormente encontraremos na narrativa é Zé do Aido, conterrâneo de Manuel, que se reencontra com ele na terra natal e cujo fracasso também é notório. Zé partiu para os Estados Unidos, como emigrante clandestino, foi enganado, viajou, trabalhou e viveu em condições desumanas: Ah, a América! Havia muito dinheiro, sim senhor, mas era de quem o tinha […]. Sozinho com o Anacleto, porque com os demais não se entendia, passara dias e dias sem trabalho e com fome. Topara muitos portugueses que ganhavam bons dólares, pois aquilo era um grande país, lá isso era, mas a maioria deles tinha de gastar tudo, porque a vida era cara e um homem quanto recebia quanto pagava. Ele, por fim, também arranjara trabalho e lá andara a labutar alguns anos, até que lhe

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viera a doença e o cônsul tivera de o repatriar, porque parecia mesmo perdidinho de todo. (274–275)

Através do testemunho desta personagem, constatamos que o fracasso e a exploração da mão-de-obra imigrante e dos desprotegidos da sorte, não é exclusivo do Brasil, mas ocorre também noutros destinos, como é o caso dos Estados Unidos. Os motivos do insucesso nunca são apontados aos países de acolhimento, mas sim ao sistema que permite a exploração e posterior exclusão social dos mais fracos, assim como à falta de preparação de quem emigra. Aliás, tal facto é frisado por Ferreira de Castro no “Pórtico” de Emigrantes: E seria, portanto, um erro atribuir ao Brasil, país que tanto amamos e é um dos mais nobres e generosos do Mundo, ou à Argentina, ou à América do Norte que têm uma organização social idêntica à de quase todos os outros povos, responsabilidades especiais pela derrota que alguns emigrantes possam sofrer nas suas ambições, tanto mais que é verdade não estar preparada para a luta a maioria deles, constituída, em muitos casos, por nobres seres ignorantes que a Europa exporta diariamente. O drama é outro e é universal […]. (15)

Ao longo da obra, o percurso de Manuel é acompanhado pelo autor, na sua luta diária de inadaptação, através da qual vão sendo denunciadas as desigualdades e injustiças sociais enfrentadas. Nesta sequência, como já referimos, o “herói” adquire o estatuto de uma personagem colectiva, visto simbolizar todos os que ousaram romper com a herança dum passado tecido de privações e miséria para desvendar outros mundos. Por intermédio do Centro de Colocação, Manuel foi enviado para um cafezal na Fazenda de Santa Efigénia, perto de Ribeirão Preto, onde a remuneração era má, as condições de trabalho muito duras. Isto sucedeu, após terem falhado as suas tentativas para arranjar outro tipo de trabalho. Verificamos que pouco depois de chegar à terra estrangeira, o protagonista ainda pensou: “não faltava mais nada do que vir ao Brasil para me agarrar à enxada” (103). Neste caso, segundo Célia Pinho, “o mito da mobilidade social ascendente está patente no desejo manifestado pelo emigrante oriundo de meios rurais em passar directamente para o sector terciário, teoricamente propenso à acumulação de riqueza individual” (70). A descrição da vida em Santa Efigénia acentuava a ideia de injustiça social, pois o proprietário esbanjava dinheiro, enquanto os trabalhadores eram profundamente explorados, entregues quase a um trabalho escravo. Na relação com o “outro”, Manuel da Boiça, devido à sua pouca instrução e ao facto de não saber ler, revela, por vezes, uma certa incomunicabilidade. Inicialmente, tem dificuldade em perceber o

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português do Brasil, depois, vai na fazenda partilhar a casa com um italiano com quem só consegue comunicar por linguagem gestual. A reprodução fiel da linguagem das personagens é constante—“É por mor da carta” (216); “vossoria” (130)—contribuindo assim para a configuração das identidades e para conferir maior veracidade, autenticidade e realismo à narrativa, acentuando-lhe igualmente o teor sociológico e documental. A evocação da família e da terra natal são frequentes, desencadeadas por diversos pormenores: o canto familiar de um grilo, a semelhança que encontra entre a colheita do café e o trabalho da ceifa na sua aldeia nativa. Assim, a terra natal acaba por ser o eixo configurador, o axis mundi a partir do qual é vista e apreendida a realidade estrangeira: “Pouco a pouco, na paisagem tropical sobrepôs-se, para os olhos de Manuel da Bouça, a paisagem da sua terra—da sua aldeia esquecida num recanto de Portugal […]. Os cafeeiros iam-se transformando em giestas e as ‘ruas’ do cafezal em ínvios caminhos […]” (197). Deste modo, constata-se na personagem a tendência constante para aproximar a realidade estrangeira da do país de origem, numa tentativa de integração, de aproximação entre os dois “mundos”. Terminado o trabalho, Manuel parte para S. Paulo para trabalhar num armazém, alimentando novas esperanças. Lá, conhece os compatriotas Fernandes e António de Pitta, também vítimas de exploração e com uma existência miserável. Ao acompanharmos a personagem nesta experiência urbana, constatamos que o futuro que lhe é oferecido continua a ser mesquinho e o salário apenas lhe assegura a subsistência. Por conseguinte, completamente desiludido, torna-se agressivo: “A ausência do extraordinário que ele julgara existir na terra estranha, não sabia bem sob que forma, mas dando-lhe sempre uma expressão de oiro, tornara-o céptico e azedo” (213). Neste contexto, tal como refere Margarida Pandeirada, “Não só o protagonista, mas também as personagens planas que o cercam sofrem do estigma negativo” (85). Paralelamente acentua-se a ânsia do regresso, sendo a imagem da terra natal cada vez mais idealizada: “A aldeia era uma tortura. Tudo nela constituía motivo de fascinação: as pessoas conhecidas e o desejo que ele tinha de voltar a vê-las; os grandes rebanhos subindo, lentamente […]”. Nesta sequência, o regresso simboliza o encontro com o passado, as pessoas, os lugares, pois a saudade mitifica o espaço de origem. Aliás, a relação entre a comunidade diaspórica e a sua terra natal é definida, segundo Kim Buttler, em dois níveis. Num primeiro, a terra natal funciona como “âncora” da identidade da diáspora, tornando-se problemática a obsessiva ideia do regresso: “it is the existence of the intrinsic to the diasporan experience, rather than a specific orientation toward physical return” (205). Deste modo, a construção da identidade é tecida na

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representação da terra de origem em detrimento do espaço actual. Neste caso notamos a obsessão do regresso em Manuel da Bouça, ao contrário do que sucede com os “heróis” dos contos de Rodrigues Miguéis. No que concerne à suposta integração na comunidade, verificamos que Manuel nunca se adapta inteiramente. Começa a ir a reuniões de Sindicatos e associações proletárias, mas não por princípios ideológicos, apenas porque “desde que não podia ser rico, não havia o direito de que os outros o fossem” (214‒215). É, portanto, uma atitude egocêntrica e pouco esclarecida que se coaduna com o perfil da personagem e a sua baixa instrução. Neste ponto, ele chega a participar nas lutas operárias que começam a desencadear-se em S. Paulo, juntamente com a revolução de Julho de 1924, liderada pelo general Isidoro Dias Lopes. Todavia, verificamos que se envolve nestas batalhas de forma receosa e pouco esclarecida, visto que teme assumir uma atitude activa, nunca ultrapassando uma posição meramente individualista. É neste cenário que roubará o anel a um cadáver, com o qual paga a viagem de regresso. A certa altura, o conhecimento da morte da esposa atenua-lhe a ânsia de regresso, mas não a aniquila. Então, passados mais de sete anos, ao partir, tão miserável como chegou, Manuel sente a nostalgia de abandonar o país de acolhimento: “Agora que ia abandoná-la, a terra de exílio ligava-se-lhe por uma suave melancolia, como por uma saudade que ele viria a sofrer—uma saudade da terra e de quem nela vivia, de Benvida, do Fernandes […] e até das horas ruins” (244). Posteriormente, após mais uma penosa viagem, o regresso ao país natal não lhe traz a alegria imaginada. Pesam-lhe o fracasso, a vergonha, o receio que os seus conterrâneos descubram a sua situação económica, a antevisão das humilhações. Após a chegada, o protagonista manteve na terra a ilusão de que a sorte lhe havia sorrido, embora nem sequer pudesse comprar a sepultura da esposa. Acima de tudo, evidencia o receio de que seja descoberta sua verdadeira situação económica e tal facto envergonha-o e humilha-o mais do que a miséria actual, pois os homens sentiam-se diminuídos se regressavam fracassados e pobres do Brasil. Sente-se desintegrado, inadaptado na sua aldeia, cuja visão lhe acentua a desilusão, não lhe acendendo no espírito a alegria imaginada. Podemos dizer que a aldeia nativa que havia ficcionalizado e idealizado, na memória, durante o exílio, se sobrepunha à real. Por isso, ao reencontrar esse espaço mitificado pela ausência, o desencontro é evidente: […] parecia-lhe difícil, impossível quase, adaptar-se de novo à sua vida de outrora. Sentia algo que não sabia explicar a si próprio, mas que o divorciava da terra; algo que se intrometera no seu espírito enquanto estivera longe, fazendo dele um homem diferente do que era antes de ir para o Brasil. Sentia-se quase um estranho ali e via tudo com olhos de

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quem não vem para ficar, de quem já não é capaz de ficar sem grande sacrifício. (278)

Deste modo, naufragam todas as esperanças que se haviam enraizado na representação ficcionalizada da sua terra, visto que a sua “Ítaca” idealizada não existe. Nesta sequência, o corte com o “cordão umbilical” do espaço de origem é notório: A terra já não o prendia; estavam mortas as saudades que a distância criara e a sua vida de outrora, que evocada ao longe, lhe parecia fascinante, deixara de se vestir com pompas tentadoras. Surpreendia-se mesmo da pertinácia com que desejara possuir os campos do Esteves, agora se, tivesse dinheiro, não seria para comprá-los, mas sim para gastá-lo noutras coisas, para fazer outra vida—uma vida que lhe sorria, indefinidamente, sob a magia das cidades. (284)

Emerge nitidamente a reconstrução de uma nova identidade no protagonista, após o confronto com o país de acolhimento, que lhe transforma completamente a visão do mundo. Deste modo, nem a filha, nem o neto (que tem o seu nome) o convencem a ficar e acaba por partir, rumo a Lisboa e a uma nova vida, já que “haviam-se tornado irreconciliáveis o homem que se adaptara a outra atmosfera e aquelas jeiras verdes que não encontravam amor no seu coração de repatriado” (288). Ele sente-se um “outro” estranho ao meio de onde partiu, fruto da sua evolução através das vivências e da cultura absorvida no país receptor, na dureza da vida experimentada. Nesta sequência, decidiu partir para a capital, refúgio urbano onde, no seio do anonimato, poderá ocultar o seu fracasso, readaptar-se a uma nova vida. Por seu turno, em Gente da Terceira Classe de Rodrigues Miguéis, encontramos representações do “emigrante português” nos seguintes textos: “Gente da Terceira Classe”, “Natal Branco”, “O Cosme de RibaDouro”, e “O Viajante Clandestino”. Primeiramente, na narrativa “Gente da Terceira Classe”, verificamos que alguns emigrantes portugueses inquietam o narrador, provocando-lhe apreensão, desconfiança e um certo sentimento de repúdio, pois “só falam de terras, divisórias, frutos, foros, rendas e pensões, e discutem iluminações eléctricas e melhoramentos” (26). Nestas personagens desagrada-lhe a excessiva ambição, a loquacidade, a arrogância com que falam das riquezas materiais de Portugal ou da América, desprezando os valores espirituais. A descrição que delas faz revela-as como seres humanos repelentes e ridículos: “Há um outro do mesmo género, mas em gordo, baixo e pastoso: enverga um sobretudo imenso de lã de camelo, que parece herdado de algum nababo” (28).

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A nível linguístico, tal como verificámos na obra de Ferreira de Castro, também aqui são recriadas fielmente as palavras e expressões utilizadas pelas personagens para conferir maior autenticidade e verosimilhança ao discurso, resultantes de uma fusão linguística entre o português e o inglês, indiciadora também da fraca instrução: “Também veio à Pátria comprar terras, e é amante do Pugresso[…] .Quando fala de dolas e prupiadades parece um cabo de ordens […]. Foi trabalhador […] mas hoje é bossa, é patrão e contrata (contractor, empreiteiro)” (28). Esta é uma forma de acentuar a boçalidade e ignorância, condenando o protótipo do português ganancioso, movido exclusivamente pelos interesses económicos que como refere Miguéis, “chega da América a arrotar postas de pescada” (27). Novamente, notamos a preocupação em produzir o “efeito de real”, e neste contexto, será pertinente citar Philippe Hamon que declara: “L’effet de réel n’est donc, bien souvent, que la reconnaissance euphorique par le lecteur d’un certain lexique” (148). Por fim, após as descrições ridicularizantes e a reprodução fiel das suas conversas, critica estes emigrantes sob a forma de um discurso filosófico e abstracto: Quando aprenderão eles que, sem o espírito, sem os princípios, tudo o mais é Caos? Na sua idolatria das Coisas […] permanecem retrógrados e de espírito tacanho[…]. Não, o que nestes me ofende e me impregna desagradavelmente, como uma nódoa de gordura, é a mediocridade atroz e sem carácter de que eles são parte e espalham em volta de si. (29‒30)

Esta aversão pela riqueza e mediocridade contrasta com a profunda simpatia revelada pelo povo humilde e pobre, como é o caso da mãe madeirense já referida anteriormente, da velhota que vem de Montalegre para se juntar à filha na América ou do pescador da Figueira, entre outros. Nos outros contos os imigrantes portugueses que vivem nos Estados Unidos são retratados de forma bastante positiva. É o caso de Cosme do Riba-Douro, que parte para a América, ainda menor, para escapar a dureza do trabalho dos barcos-rabelo do Douro e que é delineado em toda a sua humanidade, através de um discurso pessoal e valorativo: Longe de mim querer dizer que o Cosme fosse perfeito, um santo: era apenas homem, um ser comum, genuíno, sincero, um idealista exaltado, às vezes rude. Podia-se dizer dele o que ele dizia da América: tinha do bom e do mau e para aproveitar o lado bom dos homens, não é assim, há que aceitá-los provisoriamente como são, com todos os seus defeitos e virtudes, na esperança de vir a melhorá-los. Pouco a pouco, em encontros e conversas casuais, e por assim dizer, fui completando o

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retrato deste lutador. Era impulsivo e de génio esquentado. O amor da Justiça chegava a cegá-lo. Mas até nos gestos mais arrebatados ele revelava um fundo generoso. (85)

Deste modo, o narrador revela-nos as qualidades e defeitos da personagem, valorizando as primeiras (lutador, justo), que lhe valeram, na óptica dos compatriotas, para quem o dinheiro é a meta suprema, a atribuição do “rótulo” de “radical”. Contrariamente ao ambiente vivido em Portugal, sob o domínio da ditadura do Estado Novo, na América, Cosme encontra a liberdade da democracia, “Duma sociedade organizada para o homem e não contra ele” (81‒82). Então, faz os possíveis e impossíveis, recorrendo mesmo a ilegalidades, para se conseguir naturalizar americano: Tinha de facto um problema, e sério. Sem deixar de estremecer a terra onde nascera, metera-se-lhe em cabeça naturalizar-se americano. Ou porque lho houvessem aconselhado, ou porque lhe desagradasse a condição precária de simples residente sem direitos políticos, não sei. Desejava sentir-se «igual», parte de alguma coisa maior do que ele próprio […]. Mas só quem já trabalhou e viveu entre imigrantes poderá compreendê-lo. (88)

Segundo Maria Saraiva de Jesus, o desejo de ser como os outros poderia aplicar-se à generalidade da obra de José Rodrigues Miguéis, “na tentativa de inserção social das suas personagens e no discurso ideológico dos seus narradores” (235). Os valores norteadores da conduta de vida de Cosme não são os materiais, mas sim os espirituais e humanistas, reflectindo a ideologia de solidariedade, humanismo e menosprezo dos valores materiais preconizadas por José Rodrigues Miguéis. Por conseguinte, ele critica aqueles cujo objectivo é acumular dólares (com o intuito de evoluírem de explorados para exploradores), converte-se em activista político e dinamizador de clubes de imigrantes. Tal como refere Margarida Barahona, Cosme, “definido por traços de actividade, solidariedade e consciência social, representa o ideal de acção no colectivo nunca totalmente atingido pelo narrador de Miguéis (sempre bloqueado pelas contradições do pequenoburguês)” (28). Nesta senda, este narrador homodiegético desempenha a função de testemunha e simultaneamente dum discípulo que desvenda, através de Cosme, os valores, costumes e princípios que regem o proletariado americano—“sem o saber, decerto, o Cosme estava-me a abrir os olhos para muita coisa que até então eu não tinha compreendido. Não basta ter princípios e convicções: é preciso viver na realidade dos homens para saber como eles funcionam …” (81).

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Por fim, após Pearl Harbour e a entrada dos Estados Unidos na Segunda Grande Guerra Mundial, Cosme torna-se voluntário, sendo o seu processo de deportação arquivado temporariamente, o que lhe dá a esperança da naturalização: “A América da liberdade acabaria por aceitar este crente, este amigo fiel, e o Cosme estava feliz para além do que as palavras possam exprimir” (94). No entanto, ironicamente, ele acaba por falecer em combate no Norte de África. Por seu turno, “O Viajante clandestino” é outro conto que tem como protagonista um emigrante, supostamente português, atendendo ao nome (“Seu Tomé”), à forma de tratamento (“vossemecê”) e a outras expressões populares do português europeu que utiliza no seu diálogo com o marinheiro que lhe ordena que desça. Esta personagem viajou clandestinamente a bordo de um navio de carga proveniente da África e dos trópicos e é descoberto na chegada a Baltimore. Isto porque “sonhava com a América havia muitos anos. Vinha em busca dela como, quatrocentos anos antes, e mais, os seus antepassados (isto é um modo de falar) tinham andado na demanda da Terra Firme, do El Dorado e do Xipango” (43). No fundo, as referências históricas surgem para legitimar, em certa medida, a atitude desta personagem. Neste caso, todas as informações acerca do passageiro são imprecisas e vagas, o que contribui para enfatizar a verosimilhança da ideia de clandestinidade. Após a viagem em péssimas condições, o passageiro é forçado a uma descida perigosa pela amarra e depois a fugir para salvar a vida. O pânico revelado por ele contrasta com os festejos natalícios, pois este evento ocorre na véspera de Natal. Os perigos da experiência vivida são sublinhados pelo narrador ao referir que para cumprir o sonho de chegar a “Terra Prometida” “tomara o caminho mais curto, que é quase sempre o mais arriscado: a clandestinidade” (43). Outras imagens dos emigrantes portugueses são bastante positivas, como sucede com a família retratada no conto “Natal Branco”. Nele o narrador homodiegético, conotado com o autor empírico, assume o seu papel de constante observador da vida quotidiana, de “relator” dos factos reais—princípio que norteia grandemente a sua obra e onde desvendamos a sua preocupação com o realismo, a autenticidade e a veracidade, assumindo a literatura um valor testemunhal. Por conseguinte, afirma: “Nunca perco o ensejo de ver como vive a nossa gente cá por estas bandas” (53). Note-se também a pertinência da expressa “nossa gente” que indicia uma integração plena na comunidade portuguesa. O ponto de partida desta narrativa é o convite para, em companhia da esposa, ir jantar a casa de um transmontano casado com uma portoriquenha, onde se encontram outros convidados. Apesar de o anfitrião ter referido que era “casa de pobres”, a descrição da casa e do ambiente lá vivido revela um nível económico desafogado, um espaço, onde reina

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uma paz e harmonia familiar verdadeiramente exemplares. Tony é caracterizado do seguinte modo: Ele é um lavador de janelas, window-washer, mas sabe onde tem o nariz: conhece as leis e as organizações, direitos e deveres. Lê os jornais, é membro de sociedades, e está sempre ao corrente do que vai por esse mundo. É um português «integrado». Trabalha das oito às quatro, todos os dias menos ao domingo, e não falta apesar disso, a uma reunião, a uma festa de solidariedade. Fala um inglês superior ao comum […]. Emigrou aos vinte e um, e tem hoje trinta e seis. É um coração generoso que os excessos e escrúpulos de consciência fatigaram talvez cedo demais. (57‒58)

Em contraste com a arrogância e ignorância dos imigrantes endinheirados descritos anteriormente, e por outro lado também divergindo de Manuel da Bouça, Tony é retratado como um cidadão exemplar, perfeitamente integrado na sua comunidade e país de acolhimento. Posteriormente, quando são referidos os perigos da sua profissão, este tranquiliza o narrador, aludindo às dificuldades económicas vividas em Portugal e ao facto de ter aprendido a lidar com o perigo. Tal como afirma Nancy Baden: By referring to the dangers of his occupation, the reader becomes aware of the sacrifice necessary for the immigrant to climb the ladder of success. Kerr points to the greater social problem alluded to in the story as Miguéis mentions the depression, pollution, traffic accidents, and states, ‘Natal Branco’ depicts a world which was not all that merry on the snowy Christmas. (122)

Em suma, à semelhança de Ferreira de Castro, também Rodrigues Miguéis não escamoteia as dificuldades vividas pelos emigrantes, valorizando também, nas suas representações a gente humilde, simples e trabalhadora. Estas personagens, que na sua maioria, recorrendo à terminologia utilizada por Carlos Reis e A. M. Lopes no Dicionário de Narratologia podemos considerar “planas” (314), estáticas e sem evolução psicológica assinalável, são representativas do ponto de vista social, assumindo-se como diferentes “rostos” da diáspora portuguesa. Neste contexto, importa salientar que elas são sempre configuradas através de um discurso de teor realista, que as torna verosímeis, assegurando-lhe coerência e “legibilidade”. Tal como referiu Philippe Hamon em “Un discours contraint”: “Au niveau des personnages, le discours realiste, toujours à la recherche de la transparence et de la circulation des savoirs, s’efforcera de faire tendre vers zero la distorsion entre l’être et le paraître des objets ou des personnages […]” (156).

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Notamos, no entanto, que na obra de Rodrigues Miguéis se evidencia uma configuração mais positiva dos imigrantes relativamente à integração na comunidade de acolhimento, que é sempre fruto de muito trabalho e abnegação. A título de conclusão, importa frisar novamente que ambos os escritores se forjaram no seio das inúmeras vicissitudes e obstáculos inerentes à vivência diaspórica. Nesta esteira, como mencionou Laplatine: “C’est seulement en effet de l’expérience de la découverte sensorielle de l’alterité à travers d’une relation humaine qui nous permet de ne plus identifier notre province de l’humanité à l’humanité et corrélativement de ne plus rejeter le présumé sauvage hors de nous-même” (13). Assim, porque se enraíza nas vivências reais e numa abertura intercultural perante o “outro”, a representação literária (com maior ou menor grau de ficcionalização e recorrendo a diferentes tipos de focalização) das vivências destes escritores no Brasil e nos Estados Unidos contribuíram para uma distinta imagem do “emigrante português”, distante do estereótipo enraizado no imaginário literário e social em voga, na Literatura Portuguesa, sobretudo desde o século XIX. O que encontramos nestas obras não é o “brasileiro” nem o “americano” tornaviagem bem sucedido, enriquecido, mas sim o ser humano tantas vezes fracassado, humilhado e cilindrado pelos mecanismos da sociedade, ou nela integrado com o custo de muitos sacrifícios. Por isso, estas imagens veiculadas, estes “retratos” da emigração são originais, enraizados numa espécie de mitologia pessoal, porque traçados, escritos com a tinta da realidade e das vivências, possibilitadoras da construção dum sujeito intercultural. Além da completa dimensão dos vários perfis da emigração, estes dois autores revelam-nos e ensinam-nos o modo como as identidades se redesenham, evoluem no seio da alteridade, no âmago de uma realidade estrangeira distinta, por vezes, impossibilitadora do retorno ao local de origem, que segundo Maria Beatriz Rocha-Trindade fecha o “ciclo migratório”. É que, como verificámos, o regresso, tantas vezes impossível, quando ocorre, encontra-se impregnado de riscos, já que o país que se encontra nunca é o mesmo que se deixou. Esta ideia, aliás, definiu-a magistralmente no poema “Noutros lugares”, Jorge de Sena, escritor exilado, cujo regresso também lhe foi impossível: “[…] É que os lugares acabam/ou ainda antes de serem destruídos, as pessoas somem, /e não mais voltam onde parecia/que elas ou outras voltariam sempre/por toda a eternidade. Mas não voltam/ desviadas por razões ou por razão nenhuma” (111). Com efeito, Ferreira de Castro e Rodrigues Miguéis, irmanados pelo mesmo humanismo profundamente universal, enraizado nas vivências diaspóricas noutros mundos e culturas, romperam com a imagem estereotipada do “emigrante português”, conferindo-lhe uma inovadora, humana

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e realista dimensão literária—é que o conhecimento da nossa identidade (pessoal e nacional) só é possível no âmago da alteridade, quando nos inteiramos de que, na verdade, somos apenas mais um “outro” entre tantos “outros”.

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Dora Nunes Gago é Professora Auxiliar de Literatura na Universidade de Macau (China), colaboradora do Instituto de Estudos Modernistas, do Centre for English Translation and Anglo-Portuguese Studies (Universidade Nova de Lisboa) e do Centro de Línguas e Culturas (Universidade de Aveiro). Doutorada em Línguas e Literaturas Românicas Comparadas, leccionou na Universidade da República Oriental do Uruguai (Montevideu), foi bolseira de investigação pósdoutoramento da FCT, na Universidade de Aveiro e “visiting scholar” na Universidade de Massachussetts Amherst (Estados Unidos). Publicou, entre outros livros, Imagens do estrangeiro no Diário de Miguel Torga, Fundação Calouste Gulbenkian/FCT, 2008 e tem diversos ensaios publicados em livros e revistas internacionais de arbitragem científica.

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