Espaços de Lazer sob o viaduto da BR 101 em Sombrio (SC): quando o turismo criativo se dimensiona em espaços criativos

June 24, 2017 | Autor: Eddy Eltermann | Categoria: Tourism Studies, Sustainable Tourism
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ESPAÇOS DE LAZER SOB O VIADUTO DA BR 101 EM SOMBRIO (SC): QUANDO O TURISMO CRIATIVO SE DIMENSIONA EM ESPAÇOS CRIATIVOS1 Eddy Ervin Eltermann2 Beatriz Ramos Valim3 Resumo: O turismo criativo se fortalece como um processo de experimento social e consequentemente da aproximação do know how local com o contexto universal. Tratase de uma relação onde totalidade e particularidade se atraem e consequentemente formam uma nova corrente de pensar epistemologicamente o turismo. Assim, a formação dos espaços de realização do turismo criativo deve ser tão ou mais criativa que ele próprio, dinamizando possibilidades em áreas urbanas e centrais e promovendo a aproximação no contexto centro x periferia. Com isso, este artigo promove a utilização do espaço localizado sob o viaduto central de Sombrio (SC) na BR 101, criando uma área que aproxima a necessidade de políticas públicas de lazer e o turismo criativo como fomento ao contexto. Palavras Chave: Turismo Criativo; Lazer Público; Espaços Criativos; Territórios de Integração Social; Viaduto em Sombrio (SC) Resumen: El turismo creativo se fortalece como un proceso de experimento social y por lo tanto del enfoque del know-how local con el contexto universal. Es una relación en que la que totalidad y la particularidad se atraen y consecuentemente forman una nueva corriente del pensar epistemológico del turismo. Así, la formación de los espacios de realización del turismo creativo debe ser tan o más creativa que él, estimulando posibilidades en las áreas urbanas y centrales y promoviendo el enfoque en el contexto centro x periferia. Por lo tanto, este artículo promueve el uso del espacio situado abajo del viaducto de Sombrio (SC) en la BR 101, creando un área que se acerca la necesidad de políticas públicas del ocio y el turismo creativo como un contexto de desarrollo. Palabras Clave: Turismo Creativo; Ocio Publico; Espacios Creativos; Territorios de Integración Social; Viaducto en Sombrio (SC). Introdução

O fortalecimento do turismo no Brasil se evidencia com a chegada de grandes eventos mundiais, como a recém Copa do Mundo de Futebol de 2014 e os Jogos olímpicos 1

Este artigo é resultado de estudos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa Turismo, Espaço e Planejamento, no projeto intitulado: A paisagem como fomento à atividade turística: entre a ocupação do território e o desenvolvimento histórico regional 2 Graduado em Turismo e Hotelaria, Pós-graduado em Turismo: Planejamento, Gestão e Marketing pela UNIVALI, Mestre em Educação pela UNISUL e doutorando em Turismo e Hotelaria pela UNIVALI. Professor do Curso de Tecnologia em Gestão de Turismo do Instituto Federal Catarinense – Campus Avançado Sombrio. 3 Graduanda do Curso de Tecnologia em Gestão de Turismo pelo Instituto Federal Catarinense – Campus Avançado Sombrio.

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do Rio de Janeiro em 2016. Há que se considerar, portanto, que o fortalecimento da marca Brasil é caracterizado por uma nova demanda de turistas, especialmente ao se considerar a velocidade de transformação dos aspectos relacionados à informação e à compreensão do mundo. O que hoje nos causa estranheza, amanhã pode ser a novidade mais discutida. O que hoje habita somente o campo das ideias, amanhã pode tornar-se uma realidade palpável e, antes do amanhecer, imediatamente obsoleta. Nesse sentido, o turismo brasileiro, caracterizado fortemente pelas áreas naturais como seu produto mais popular, especialmente a partir de atividades como o ecoturismo, o turismo de aventura, o turismo de sol e praia e outros, parece pedir algo para além destes requisitos. Parece pedir uma experiência que se conceba como atividade inovadora, única, local. O turismo vai se consolidando como uma oferta de experimentação, notadamente a partir da satisfação já alcançada de alguns turistas com o desprendimento de uma necessidade social de viagem, quando se quer provar algo a alguém. O turismo passa a ser uma necessidade de participação individual, desmassificado e de aprendizado. Portanto, para que o turismo aconteça, são necessários espaços interessantes, áreas convidativas, ideias e novas formas criativas de atrair os visitantes. Também são importantes as formações que contemplam cidades criativas e que aprimoram as relações entre as opções oferecidas como formas de lazer, as quais, consequentemente atinjam a cadeia turística. Nesta perspectiva, pensar a cidade num modelo de atração turística sem pensá-la numa perspectiva de aproveitamento da sociedade é propor uma caracterização alienada do ponto de vista de seu contexto, ou seja, não se deve pensar uma cidade sem vida, sem a principal característica de uma determinante do turismo como atributo social aplicado: sua sociedade. Corre-se o risco de transformar o local numa realidade não social, desarticulada ou desconectada do contexto que está inserida. Assim, pensar em possibilidades de atrações para o turismo deve permear também a possibilidade de atrações que favoreçam a utilização do espaço pela população autóctone e que esta população possa contemplar o turista com suas atividades cotidianas, únicas, e por que não dizer, criativas. A partir desta reflexão, há que se compreender que os espaços urbanos de lazer e convívio social são necessários à socialização e ao entretenimento em igual proporção. Converter um espaço desagradável em uma área útil para a prática do lazer e para a consequente utilização à prática do turismo criativo pode contribuir para todo o fluxo turístico, a partir do incremento de possibilidades de convívio social.

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Pensando nisso, buscou-se desenvolver neste artigo o resultado de um estudo realizado como proposta de ocupação dos espaços sob viadutos da BR 101, sendo o determinante deste, o espaço localizado na cidade de Sombrio (SC). Neste sentido, o presente estudo tem o objetivo de influenciar a qualidade de vida da população de Sombrio por meio de melhorias no setor do lazer em áreas públicas da cidade, e, consequentemente, proporcionar o uso deste espaço como meio de desenvolvimento do turismo criativo. Através disso, pretende-se oferecer às pessoas de diferentes origens e classes sociais uma possibilidade de socialização, fazendo com que as mesmas desenvolvam atividades em espaços públicos. Estes espaços podem, portanto, promover a interação pelo esporte, pela saúde, pelo convívio social e pela ocupação dos visitantes, tornando-se alternativas contra a marginalização destes ambientes e as possíveis ações da ilegitimidade e do crime.

Políticas Públicas, Lazer e Turismo: a experiência social como ponto de partida do turismo criativo

As políticas públicas desenvolvidas no setor turístico fazem com que, gestores privados e comunidades, vejam no turismo oportunidades de emprego, divulgação da cultura, renda, etc. Entretanto para que isso aconteça, faz-se necessário formular uma política de desenvolvimento e um plano turístico, com base nos objetivos, no levantamento de possibilidades e na análise das características da localidade turística (SANTOS; GOMES, 2007). Para Paula e Moesch (2013) apud Gastal e Moesch (2007) as políticas públicas desenvolvidas a partir do turismo devem garantir o estímulo ao desenvolvimento sustentável, de modo que automaticamente beneficie a comunidade local, a conservação dos atrativos, a construção de infraestrutura básica urbana e de acesso, assim como, o uso sustentável do patrimônio turístico. Cooper et al (2007) descreve a importância das políticas públicas ao afirmar que: Como o turismo deverá ser um dos principais direcionadores econômicos do século XXI, em conjunto com as crescentes demandas das populações por lazer e recreação, esse setor é uma opção de desenvolvimento que poucos governos podem se dar ao luxo de ignorar. [...] é necessário que se avaliem as opções relacionadas ao desenvolvimento do turismo nos diferentes níveis de governo,

4 municipal, estadual e federal, para que se desenvolvam estruturas públicas de gestão apropriadas.

Os equipamentos turísticos construídos dentro de uma cidade exercem atrações nas atividades desenvolvidas no lazer, diante disso, deve-se considerar para a construção do mesmo, as características necessárias do público alvo juntamente com o tempo disponível dos mesmos e o espaço disponível para tal atividade. Assim se faz necessário que o poder municipal entenda a importância dos espaços urbanos de lazer e recreação, antes que as empresas privadas os transformem em produtos acessíveis somente a classes sociais mais altas (MARCELLINO et al 2007). Nesse processo, para a compreensão da transformação necessária ao espaço que pode ser concebido como território do turismo criativo, deve-se considerar a compreensão do lazer como ferramenta turística e social, fortalecendo a sua utilização contínua. O uso da palavra lazer pode ser considerado conflitante, pois o termo é marcado por uma formação de conceitos que se confrontam com áreas correlatas e que permeiam um mix de significados. Assim Marcellino (2012) destaca que para algumas pessoas o lazer é futebol, para outras é pescaria, jardinagem, entre outras atividades, mas, precisamente o entendimento do termo não pode ser estabelecido somente a partir do conteúdo da ação, pois ao mesmo tempo em que o lazer é destacado como um jogo de futebol, pescaria ou jardinagem, em outro momento esses exemplos citados são considerados uma forma de serviço como para o jogador profissional, para o pescador que depende da sua produção, etc. Além disso, aquilo que é altamente prazeroso para determinada pessoa, pode ser tedioso ou desconfortável para outro indivíduo. Sendo assim, o lazer considerado como ‘atitude’, será caracterizado pela relação entre o sujeito e a experiência vivida, além da satisfação provocada pela atividade, já o lazer considerado pelo ‘tempo livre’, é caracterizado pelo desligamento do indivíduo não só das obrigações profissionais, mas também como das familiares, sociais e religiosas. Já para Chemin (2011, p.46) apud Dumazedier (1973, p.34), a doutrina do lazer baseia-se no comprometimento do tempo livre onde o indivíduo dispõe realizar diversas atividades. [...] o lazer é o conjunto de ocupação às quais o indivíduo pode entregarse de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda para desenvolver sua formação desinteressada, sua participação social voluntária, ou sua livre capacidade criadora,

5 após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.

Ao descrever sobre a situação do lazer na sociedade contemporânea, Trigo (2010) destaca que, em primeiro lugar a sociedade precisa saber da importância do lazer na estrutura econômica atual, pois o mesmo é um dos muitos componentes que fazem parte do âmbito terciário da economia. Em segundo lugar, os setores de turismo e lazer dependem das novas tecnologias, principalmente da informática e da telecomunicação, onde as mesmas estão criando um mundo de características particulares, no qual são permitidas maiores possibilidades de acesso a informações, conteúdos e ao fortalecimento e necessidade da criatividade como ponto de partida. O aumento da população no meio urbano ocasionou a diminuição do espaço disponível para a realização do lazer e o entretenimento, segundo Muller (2002) apud Santini (1993) o homem está se limitando a viver em um espaço mínimo, sendo assim, podendo afetar a sua qualidade de vida. Com a concentração urbana exagerada e o aumento da população, as áreas verdes e o espaço de lazer são cada vez mais raros. Diante disso, a necessidade de uma legislação que proteja o meio ambiente e reserve áreas nobres no meio urbano para propostas de criações planejadas e estruturadas adequadas para o desenvolvimento do lazer são marcas de direcionamento ao turismo criativo como centralidade do processo de formação de cidades criativas (BAUMAN, 2009).

Turismo Criativo: o território como parte da construção da experiência

A complexidade da discussão acerca do conceito de território, especialmente a partir de uma formação da episteme social brasileira é tão conflitante quanto ás inúmeras nuanças que podem se formar a partir da compreensão do turismo como ferramenta única de um processo, ou seja, não levando em conta as influências que o mesmo estimula e é estimulado quando concebido pela história, pela gastronomia, pela economia, entre outros fatores. Assim, para formação da compreensão em torno da proposta de território neste artigo, determina-se que este,

[...] etimologicamente aparece tão próximo de terra-territorium quanto de terreo-territor (terror, aterrorizar), ou seja, tem a ver com dominação (jurídico-política) da terra e com a inspiração do terror, do medo – especialmente para aqueles que, com esta dominação, ficam alijados da

6 terra, ou no “territorium” são impedidos de entrar. Ao mesmo tempo, por extensão, podemos dizer que, para aqueles que têm o privilégio de usufrui-lo, o território inspira a identificação (positiva) e a efetiva “apropriação” (HAESBAERT, 2004, p.01)

O território é, portanto, a caracterização de quem o ocupa, a formação social daquele que se utiliza deste espaço, podendo refletir um número extremo de simbologias a partir disto. Para exemplificar, durante o dia uma praça é utilizada por crianças que brincam naquele espaço e que ao mesmo tempo serve para senhores jogarem xadrez ali sentados. Contudo, esta mesma praça, durante a noite, é utilizada por um grupo de marginais como ponto de tráfico de drogas e prostituição. Tem-se, portanto, o mesmo espaço formado por dois distintos territórios, o das brincadeiras diurnas e o do tráfico e prostituição noturno. Pode-se caracterizar um hotel no final da manhã, com os hóspedes fazendo check-out com suas famílias como um território distinto daquele visto às quatro ou cinco da manhã, com a chegada de jovens das festas locais. Com isso, estar no mesmo local em um distinto tempo é formar diferentes possibilidades e perspectivas, é conhecer a construção social de uma determinada localidade desvelada de uma caracterização teatral para agradar os anseios turísticos, mas partícipe de uma real situação, de uma real experiência local. Ao falarmos de turismo criativo, pode-se discutir alguns modelos, como os desenvolvidos pela Università del Caffè, na Itália, que promovia a formação de conhecedores desta bebida em 11 locais distintos, a partir de 11 experiências únicas. Estas experiências não só se caracterizavam pelo café, mas pela experiência de estar em cada um destes locais, e, consequentemente, em cada um destes ‘territórios’. As possibilidades promovidas por Barcelona a partir do experimento de se hospedar em diferentes quartos de hotel, criado por diferentes designers locais, os quais pediam opinião dos hóspedes sobre seu trabalho podem também representar a construção de diferentes propostas conforme a ocupação, ou porque não dizer, conforme o uso deste. Assim, as possibilidades de open source criadas no mundo e as possibilidades de participação tiram o turista de uma ‘zona de conforto’ à qual este não quer mais pertencer e o propõe dinamismo e inserção. Pode-se considerar o turismo criativo envolto no aprendizado, e, para que se caminhe no direcionamento de um aprendizado real, a sociedade autóctone deve necessariamente estar inserida, fortalecendo o conceito de território naquele aprendizado e contribuindo para a construção da criatividade como marco socialmente construído.

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Nesse sentido, este artigo pretende não só propor a caracterização de um ‘real’ turismo criativo num espaço púbico, mas também propor a discussão da necessidade de um convívio social como parte da experiência construída. Pode-se afirmar que não há ‘turismo criativo’ sem convívio social local, sem o aprendizado a partir do know how autóctone. Nessa perspectiva, o quadro apresentado por Richards (2010) resume algumas compreensões em torno do turismo criativo e suas perspectivas, ainda que represente uma compreensão superficial do contexto..

Quadro 01: características do Turismo Criativo

Experiência

Entregue

Aprendizado

Por meio de workshops

Experimentação

Pela experiência Em ateliers abertos

Visualização

De itinerários

Compra

Numa possibilidade aberta

Fonte: adaptado de Richards, 2010. Há que se considerar que ainda que a experiência seja entregue, a condição de entrega deve partir da qualificação local, da condição de workshops ou outras formas de aprendizado a partir de aproximações com a população. A participação a partir do conhecimento localmente construído é o atrativo central do turismo criativo.

Análise de Espaços: a constatação da realidade atual

A proposta de implementação de espaços criativos é uma dinâmica social importante para a construção de uma sociedade. Trata-se de discutir a implantação de um espaço de lazer público dentro de uma área urbana, sendo que este possa ser concebido como espaço destinado às práticas sociais autóctones e consequentemente ao turismo criativo. Nesse sentido, fez-se a escolha do viaduto central de Sombrio, o qual se caracteriza como faixa de domínio do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT). Tal viaduto, localiza-se no meio da Avenida Getúlio Vargas; em sentido norte no lado direito, encontra-se a principal entrada do centro da cidade de Sombrio, sendo

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que nesse lado o viaduto faz lateral com a marginal da BR 101, denominada Prefeito Santelmo Borba. Ainda neste espaço, encontra-se o Supermercado Giassi, considerado o maior mercado da cidade, o Posto de Gasolina Ipiranga ampm, que possui atendimento 24 horas, entre outros estabelecimentos comerciais. A figura 01 representa a Rua Prefeito Santelmo Borba, assim como, a entrada principal da cidade de Sombrio, indicado pelas setas vermelhas.

Figura 01 - Lateral direita do viaduto de Sombrio

Fonte: Os autores, 2015

No lado esquerdo do viaduto, no sentido norte, encontra-se a marginal da BR 101 Francisco Possamai, neste, destaca-se a outra parte da Avenida Getúlio Vargas, a qual dá acesso aos bairros São José e Nova Brasília. Além disso, na lateral, encontra-se outro Posto de Gasolina da bandeira Ipiranga, juntamente com o Restaurante Marcolina e outros estabelecimentos comerciais. A figura 02 representa o sentido oeste da Avenida Getúlio Vargas, indicada pelas setas vermelhas.

Figura 02 - Lateral esquerda do viaduto de Sombrio

Fonte: Os autores, 2015

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O espaço subutilizado e do qual se propõe alteração para utilização como espaço de atividades de lazer e promoção do turismo criativo encontra-se sob o viaduto de Sombrio. Este, possui grande extensão, com aproximadamente 4,4 m. de altura 116 m. de comprimento e 34 m. de largura. É subdividido em quatro espaços com tamanhos distintos uns dos outros. A figura 03 destaca a área total do viaduto.

Figura 03 - Viaduto localizado na principal entrada da cidade de Sombrio

Fonte: Os autores, 2015

O primeiro espaço do viaduto (Espaço 01) encontra-se na extremidade norte do mesmo, possui 8,6 m de comprimento por 34 m de largura, sendo considerado o menor do local. Além disso, o mesmo possui calçadas para pedestres em todo o seu entorno, assim como mostra a figura 05.

Figura 05 – Espaço 01 do viaduto de Sombrio

Fonte: Os autores, 2015

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O segundo espaço do viaduto (Espaço 02) possui 29 m. de comprimento por 34 m. de largura e se localiza entre duas vias circulatórias, a via do lado sul permite o acesso de carros tanto para o lado leste quanto para o lado oeste, já a via do lado norte permite o acesso de carros apenas para o lado leste. As calçadas para os pedestres também fazem parte de todo contorno do segundo espaço, além disso, o mesmo possui oito pilares que estão distribuídos por todo seu espaço, sendo 4 representados pela figura 06.

Figura 06 – Espaço 02 do viaduto de Sombrio

Fonte: Os autores, 2015

O terceiro espaço do viaduto, Espaço 03, é considerado o maior de todos os espaços locais, possuindo 46 m. de comprimento por 34 m. de largura. Encontra-se centralizado entre duas vias circulatórias, a via do lado sul, que dá o acesso de carros para o leste e a via do lado norte, que dá o acesso de carros para o oeste. O Espaço 03 também possui calçadas em seu entorno assim como, pilares de concreto. A figura 07 representa o Espaço 03 do viaduto de Sombrio.

Figura 07: Espaço 03 do viaduto de Sombrio

Fonte: Os autores, 2015

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O quarto e último espaço do viaduto (Espaço 04) localiza-se na extremidade sul e possui uma área de aproximadamente 27 m. de comprimento por 34 m. de largura, além disso, o Espaço 04 conta com uma via de circulação do lado esquerdo em sentido oeste e do lado direito uma parede de concreto. O Espaço 04 também possui pilares de concreto e calçadas para pedestres em seu entorno, assim como representa a Figura 08.

Figura 08 – Espaço 04 do viaduto de Sombrio

Fonte: A autora, 2015

Contudo, percebe-se que a área localizada sob o viaduto de Sombrio possui um grande espaço, assim como, um grande potencial para o desenvolvimento de atividades destinadas ao lazer público e ao turismo criativo. Além disso, é notável que, se o lugar não for ocupado com atividades e características positivas para a cidade, o mesmo pode ser usufruído por indevidos, assim como, para o acumulo de lixo, sendo que esses aspectos podem gerar uma visão negativa para o município, acarretando problemas na qualidade de vida dos moradores de Sombrio e nos estabelecimentos que compõem as áreas envoltórias ao viaduto.

Projetos e propostas de uso: do lazer ao turismo criativo

A transformação dos espaços sob viadutos é um caminho de mudança com o intuito de promover a ocupação para o lazer, bem como para oficinas, workshops e outras possibilidades de aprendizado e interação. A proposta busca estabelecer uma área específica, mas que pode promover a mudança do cenário urbano em quaisquer locais que possuam tais características. Propõem-se aqui uma integração entre o lazer local e o turismo criativo, entre o ‘saber’ da comunidade e o ‘aprender’ do turista que visita com

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tal intuito. Pretende-se assim evitar as propostas turísticas ‘quase teatrais’ onde o pescador usa camisa social ou onde o assador gaúcho também dança e canta, tornando a experiência uma encenação no pior modelo que Disney World possa representar. Assim, esta proposta considera espaços reais e propostas de integração, onde criatividade e sociabilidade caminham de uma forma mútua e complementar uma à outra. Nessa perspectiva, foram criados e adequados espaços que promovam o uso, a caracterização do território da sociedade sombriense, ao mesmo tempo que promovem a utilização do turista e de seus aprendizados em um mesmo espaço. Com isso, pretende-se instalar em uma das áreas localizadas sob o viaduto de Sombrio, a qual foi denominada neste artigo como Espaço 01 e apresentado na Figura 05, uma academia pública. Sendo assim, a mesma disponibilizará de 08 aparelhos esportivos, sendo eles: abdominal duplo, adução e abdução de pernas, bicicleta tripla, elíptico triplo, multi exercitador 7x1, o qual combina 07 equipamentos em apenas um aparelho, puxador de costas duplo e simulador de escada, conforme Figura 09. As academias públicas trazem diversos benefícios para os habitantes das cidades, dentre eles destacam-se: a prática de exercícios físicos que ajudam a fortalecer os músculos e as articulações, a acessibilidade e gratuidade que as mesmas oferecem a todas as pessoas, e a socialização entre os habitantes e/ ou turistas e o contato com o ar livre, sendo que, o uso dos equipamentos também são benéficos no auxílio à redução do estresse, da depressão e de outros tipos de doenças. Figura 09: Imagem arquitetônica da academia pública (Espaço 01)

Fonte: Projetado pela estudante de Engenharia Civil, Manuela Caetano, 2015

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Ainda, a parede localizada ao fim do Espaço 01 pode ainda ser utilizada em workshops de artes, especialmente ligadas ao grafite, à pintura ou à pequenas atividades de escalada, desde que sejam introduzidos os equipamentos de segurança necessários. Na segunda área do viaduto de Sombrio, denominada como Espaço 02 e apresentado na Figura 06 deste artigo, pretende-se instalar um anfiteatro. Esta estrutura será de concreto, e contará com um 01 palco central e 02 arquibancadas, uma em cada lado do palco. Assim, para melhor visualização e compreensão, apresenta-se na Figura 10, a imagem arquitetônica do anfiteatro. Este espaço terá uma programação de workshops, especialmente ligados a práticas de danças locais, como as desenvolvidas pelo Grupo de Dança Açor Sul, à oficinas de artesanato, aulas introdutórias de cultivo de plantas para posterior plantio em áreas rurais do município, bem como a pequenos eventos que possam despertar a criatividade da comunidade quanto à promoção de sua identidade. Figura 10: Imagem arquitetônica do anfiteatro (Bloco 02)

Fonte: Projetado pela estudante de Engenharia Civil, Manuela Caetano, 2015

Na terceira área do viaduto de Sombrio, denominada como Espaço 03 e apresentada na Figura 07, busca-se implantar 02 quadras esportivas, a primeira, de tênis, e a segunda, uma quadra poliesportiva (Figura 11). Estes espaços foram pensados conforme intensões da Prefeitura Municipal de Sombrio de promover a prática de um novo esporte (tênis) e incentivar atletas da mesma forma que o projeto desenvolvido no município de Mampituba (RS). Tais projetos visam a interação, aprendizado e formação de uma cultura do tênis no município, podendo futuramente servir para o desenvolvimento do turismo criativo por meio de oficinas para tal esporte. A quadra poliesportiva pode conceber experiências esportivas aos turistas por meio da interação e

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prática com a população local, bem como, por atividades previamente criadas para gerar tal interação e consequente integração social e aprendizado. Figura 11: Imagem arquitetônica das quadras esportivas (Espaço 03)

Fonte: Projetado pela estudante de Engenharia Civil, Manuela Caetano, 2015

Por fim, no último espaço encontrado sob o viaduto de Sombrio, denominado nesse artigo como Espaço 04 e apresentado na Figura 08, pretende-se implantar um Centro de Atendimento ao Turista (CAT) e uma lanchonete ou restaurante. O CAT tem a funcionalidade de informar e promover a aproximação dos turistas com as atividades propostas pelo município e comunidades locais. Assim, para melhor visualização, destaca-se na figura 12, a imagem arquitetônica do Centro de Atendimento ao Turista (CAT) e do espaço em frente ao mesmo. Figura 12: Imagem arquitetônica, Centro de Atendimento ao Turista (Bloco 04)

Fonte: Projetado pela estudante de Engenharia Civil, Manuela Caetano, 2015

Já a lanchonete/ restaurante tem duas finalidades, a primeira, trazer diariamente pessoas da comunidade que possuam aptidões culinárias e promover, em parceria com o Curso de Gestão de Turismo do Instituto Federal Catarinense – Campus Avançado

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Sombrio, uma série de workshops de reconhecimento da culinária regional, resgatando o ‘saber fazer’ passado de pais para filhos e possibilitando aos turistas, aulas de culinárias e participação como aprendizes da gastronomia local. Propõem-se ainda uma escola permanente de produção de embutidos, chás e geleias, haja vista a forte caracterização destes na cultura gastronômica do município. Assim, apresenta-se na Figura 13, a imagem arquitetônica da Lanchonete/ restaurante que se localizará no Espaço 04 do viaduto de Sombrio. Figura 13: Imagem arquitetônica da Lanchonete (Bloco 04)

Fonte: Projetado pela estudante de Engenharia Civil, Manuela Caetano, 2015

Ainda no Espaço 04, especificamente em uma das partes internas do Centro de Atendimento ao Turista, pretende-se disponibilizar um espaço para a venda dos produtos coloniais desenvolvidos nas propriedades rurais do município de Sombrio. Além disso, busca-se implantar neste bloco, um estacionamento exclusivo para os. Para melhor visualização do Centro de Atendimento ao Turista (CAT), da Lanchonete e do estacionamento que se pretende instalar no (Espaço 04), apresentam-se na figura 14, as imagens dos mesmos.

Figura 14: Imagem arquitetônica do (Bloco 04).

Fonte: Projetado pela estudante de Engenharia Civil, Manuela Caetano, 2015

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Pode-se destacar que a escolha de instalação de um CAT neste local favoreceria também outros municípios, os quais tem seus acesso determinado por uma das rodovias que cruzam o local ou pelo acesso das vias marginais, como: Balneário Gaivota, Balneário Arroio do Silva, Jacinto Machado e Torres, bem como, outros atrativos como o Morro dos Conventos e os Aparados da Serra, os quais podem construir parcerias de divulgação mútua Ainda, a Lanchonete projetada para ser instalada no (Bloco 04), traz aspectos positivos para a área de lazer, como: a socialização entre a comunidade autóctone e os turistas, e a nova alternativa de lazer para as pessoas aproveitarem seu tempo livre, seja com familiares, amigos ou individualmente. Já a loja de produtos coloniais que se localizará dentro do CAT, visa oferecer aos habitantes do município e em especial aos turistas que vem até o mesmo, o conhecimento e a venda dos produtos produzidos nas propriedades rurais da cidade, dentre eles destacase os vinhos, as cachaças, as geleias, os chás medicinais, o artesanato, entre outros. Além das vendas, a loja servirá como divulgação das propriedades rurais que recebem visitantes em suas localidades e que promovam quaisquer possibilidades de desenvolvimento do turismo criativo ou de experiência, visando assim criar um contexto distinto do turismo de massa. Assim, os produtos oferecidos podem despertar o interesse dos turistas ou até mesmo dos moradores da cidade, conhecendo o processo utilizado na fabricação dos mesmos, e, com isso, podendo gerar a criação de roteiros rurais e automaticamente desenvolver o turismo criativo em outros pontos da cidade e consequentemente em toda a região de Sombrio. Por fim, busca-se implantar em todas as laterais dos 04 espaços, cercas de telas galvanizadas4, as mesmas serão instaladas para proteger as pessoas que estão na área de lazer e impedir acidentes. Além disso, as telas ajudarão a impedir que os pedestres atravessem por lugares que não são permitidos, induzindo o cruzamento pelas faixas elevadas. Assim, para melhor entendimento do contexto descrito, apresenta-se na Figura 15, a imagem arquitetônica das faixas elevadas de pedestres, entre as vias laterais e as vias circulatórias, e também se destaca a cerca de telas galvanizadas em todas as laterais dos 04 espaços.

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Recobrir um objeto de ferro e de aço com uma camada de zinco, isto faz com que o objeto não enferruje.

17 Figura 15: Faixas elevadas de pedestres e cerca de telas galvanizadas

Fonte: Projetado pela estudante de Engenharia Civil, Manuela Caetano, 2015

Ainda, pretende-se implantar nos 04 espaços, pisos de concreto antiderrapantes e pisos direcionais para deficientes visuais. Além destes, busca-se instalar luminárias em todo o espaço, a mesma tem como objetivo clarear toda a parte interna do viaduto, possibilitando o uso da área de lazer durante a noite. Assim, destaca-se na Figura 16, a imagem arquitetônica de toda a parte interna do viaduto de Sombrio, assim como, os equipamentos que foram apresentados neste artigo, para serem implantados em cada bloco do viaduto, e as ruas laterais do mesmo. Figura 16: Imagem arquitetônica de todo a área de lazer

Fonte: Projetado pela estudante de Engenharia Civil, Manuela Caetano, 2015

Para evitar a degradação e a ocupação de indevidos no espaço de lazer público, será solicitada a contratação de 02 profissionais (vigias) noturnos para cuidar do local, sendo ambos contratados pela Prefeitura Municipal de Sombrio. Além disso, será solicitado que a Policia Civil do Município, realize rondas no entorno do viaduto.

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Considerações Finais

Dinamizar um contexto do chamado Turismo Criativo requer o pensar em Espaços Criativos, nos quais, inúmeras atividades possam ser realizadas, promovendo a centralidade de objetivos em um espaço e dimensionando a sua continuidade em outros. Aproxima-se o turista em sua chegada, promovem-se atividades de curta duração neste mesmo local, e, ao se estabelecer o interesse, propõem-se atividades de longa duração nos espaços rurais, na indústria ou nos arredores para uma experiência verdadeiramente criativa. Este contexto, não só otimiza áreas inutilizadas da cidade, afastando a ocupação de indivíduos indesejados ou da marginalização como também promove a harmonização do urbano como ferramenta para utilização local. Pretende-se aqui integrar turistas e comunidade a partir de experiências de integração, de oficinas, de troca de conhecimentos e, em geral, da maior qualidade do turismo, sua possibilidade de integração social. Assim, este artigo não é de fato o fim do desenvolvimento de um projeto, mas a possibilidade da abertura de discussão do aproveitamento de espaços, da integração social e da utilização de espaços públicos para o bem comum. Propõem-se aqui uma integração social, onde o Turismo Criativo seja também um fomentador da atividade local e partícipe da divulgação do conhecimento localmente construído.

Referências Bibliográficas

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