ESPAÇOS EDUCADORES SUSTENTÁVEIS: UMA VIVÊNCIA EM LEVERKUSEN, ALEMANHA

May 23, 2017 | Autor: Cristina Faraco | Categoria: Environmental Education, Environmental Sustainability
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ESPAÇOS EDUCADORES SUSTENTÁVEIS: UMA VIVÊNCIA EM LEVERKUSEN, ALEMANHA Cristina Machado Oliveira Faraco  Fátima Elizabeti Marcomin 

RESUMO: Em face do agravamento das questões ambientais é necessário encontrar meios para desenvolver a sociedade de modo sustentável, promovendo qualidade de vida sem degradar o meio ambiente. Nessa direção, a Educação Ambiental vem intensificando esforços para inserir a temática da sustentabilidade socioambiental por meio, também, do estudo e constituição de Espaços Educadores Sustentáveis. Estes constituem-se de modo a, concretamente, vivenciar ações e educar para a sustentabilidade socioambiental. O presente trabalho é um recorte de uma pesquisa que objetiva investigar se determinados espaços são concebidos como Espaços Educadores Sustentáveis, elencando suas potencialidades e buscando entender suas dificuldades e desafios, contribuindo para sua consolidação no Brasil. Um dos ambientes estudados é o Centro de Educação Ambiental NaturGut Ophoven, em Leverkusen, Alemanha. A pesquisa, de cunho fenomenológico, retrata a observação participante da pesquisadora e seus relatos enquanto ser perceptivo do fenômeno. O Centro, com 6 ha de área total e 1.200 m² de área construída, tem sua sede em um pequeno burgo do século XIII rodeado de bosques, prados e riachos em meio ao centro urbano. Suas atividades educativas contemplam escolas, famílias e visitantes de todas as idades para vivenciar diversas experiências sobre energia, mudanças climáticas e alimentação saudável. As atividades observadas ocorreram ao ar livre, com crianças entre 6 e 14 anos em dois cursos de verão e no Museu da Criança e da Juventude (Cidade da Energia). O Centro oferece mais de 250 cursos extracurriculares e uma variedade de experimentos interativos para todas as idades. Projetos futuros abordam a inclusão de pessoas com deficiências (com adaptação de estruturas físicas), inclusão de imigrantes em integração com as crianças locais e criação de um jardim-farmácia. NaturGut Ophoven, o primeiro Centro de Educação Ambiental neutro em carbono da Alemanha, pode ser considerado um Espaço Educador Sustentável. PALAVRAS-CHAVE: Educação e Sustentabilidade. Espaços Educadores Sustentáveis. Educação Ambiental.

1. Introdução O agravamento das questões ambientais aponta para a necessidade de encontrar meios que possibilitem o desenvolvimento da sociedade de modo sustentável, promovendo qualidade de vida sem degradar o meio ambiente. Nesse sentido, pesquisadores da área da 

Artigo apresentado no VII Simpósio sobre Formação de Professores (SIMFOP) da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL.  Mestranda em Educação pela UNISUL com bolsa FAPESC, Especialista em Gestão Ambiental: educação e sociedade pelo ISEPG/ACE e Graduada em Ciências Biológicas pela UNISINOS. Professora titular de Biologia pelo Estado de Santa Catarina na EEB Prof. José Rodrigues Lopes, em Garopaba. [email protected]  Pós-Doutora em Educação - UFMT. Doutora em Ecologia - UFSCar. Mestre em Ecologia – UFRGS. Especialista em Ecologia Aplicada – FURB. Graduada em Ciências Biológicas – UNESC. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação na UNISUL, Linha Educação em Ciências, área Educação Ambiental. [email protected]

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Educação Ambiental vêm intensificando esforços no intuito de gerar conhecimentos que favoreçam a inserção da temática da sustentabilidade socioambiental em todos os níveis e modalidades de ensino de modo a gerar processos formativos que respeitem os ciclos e a vida no planeta, e contribuam com a formação de posturas/práticas éticas, críticas e sustentáveis em nível planetário. Nessa direção, há possibilidade e grande potencialidade de se desenvolver ações em espaços educadores intencionalmente criados para este fim. Para Trajber e Sato (2010), quando tais espaços são constituídos de modo a se automanterem e funcionarem por meio de ações sustentáveis, reduzindo impactos negativos à sociedade e ao meio ambiente, estes são denominados Espaços Educadores Sustentáveis. Sejam relacionados à educação formal ou não formal, estes espaços, de acordo com Trajber e Sato (2010), podem constituir-se como lugares não apenas projetados para serem sustentáveis, mas, também, para que sejam promotores de educação para a sustentabilidade socioambiental. Políticas educacionais específicas no Brasil, tais como: o Programa Mais Educação (BRASIL, 2010), as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental (BRASIL, 2012), as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (BRASIL, 2013a), o Programa Nacional Escolas Sustentáveis (BRASIL, 2013b), e o Manual Escolas Sustentáveis (BRASIL, 2013c), possibilitam a implantação de Espaços Educadores Sustentáveis. Em consonância com esta proposta educativa, o presente trabalho é um recorte de uma pesquisa que tem por objetivo investigar se lugares/centros como o NaturGut Ophoven, em Leverkusen, na Alemanha, podem ser considerados Espaços Educadores Sustentáveis e compreender como estes podem se constituir na realidade brasileira, a partir do estudo das potencialidades e desafios encontrados. Na Alemanha, o Centro mencionado é considerado uma referência em Educação Ambiental pela Organização das Nações Unidas (ONU). 2. O percurso da pesquisa A metodologia vivenciada neste estudo foi a investigação qualitativa, com base em Moreira (2002), Bogdan e Biklen (1994), à luz da fenomenologia da percepção em MerleauPonty (1999, 2006). Valorizando a subjetividade e considerando a integração na relação sujeitoobjeto, Merleau-Ponty (1999) considera que é pelo corpo que se percebe e se compreende o mundo e que o espaço não é apenas físico e geométrico, mas um espaço vivido, que liga o sujeitocorpo às coisas no mundo que existem para ele. De acordo com esta perspectiva, os procedimentos desenvolvidos nesta pesquisa são uma adaptação dos métodos fenomenológicos de Colaizzi (1978) e de Sanders (1982), conforme apresentados por Moreira (2002). As fontes de informação foram a entrevista semiestruturada com a coordenadora do espaço, documentos e anotações no caderno de campo sobre a visita técnica ao lugar, que incluiu um roteiro pela área verde do Centro, a observação participante de dois cursos de verão e uma visita ao museu “Cidade da Energia”. O estudo e interpretação fenomenológicos envolvem descrições das experiências vividas; a “extração de assertivas significativas”, a “formulação de sentidos”, e a organização destes sentidos em “conjuntos de temas”, destacados por Colaizzi (1978 apud MOREIRA, 2002), serviram de base para a descrição do fenômeno investigado.

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3. Breve histórico do Centro e descrição das estruturas e processos O NaturGut Ophoven é um Centro de Educação Ambiental localizado na Alemanha, no município de Leverkusen, há cerca de 25 minutos de Dusseldorf. Oferece mais de 250 cursos extracurriculares em mais de 80 programas nos temas “Natureza” e “Meio Ambiente”, dando maior ênfase às mudanças climáticas, energias renováveis, eficiência energética, nutrição saudável, mobilidade, consumo consciente e sustentabilidade, em um ambiente de aprendizagem não formal. Foi o primeiro Centro de Educação Ambiental com carbono neutro na Alemanha, o que significa que produz a própria energia que consome, a partir de placas de energia solar e cata-ventos eólicos em esculturas ao ar livre (Figura 1). Também, de uma compensação para a Organização Não Governamental (ONG) My Climate, que investe recursos financeiros exclusivamente em projetos de energias renováveis e de eficiência energética em países em desenvolvimento. De acordo com os dados da busca documental (NATURGUT OPHOVEN, 2015b), o Centro foi fundado em 1984 por voluntários em cooperação com o governo municipal de Leverkusen. Surgiu, primeiramente, como um projeto para iniciativa da cidadania, atuando como um Centro de Biologia Natural e, posteriormente, tornou-se um centro de Educação Ambiental conforme os projetos da instituição foram se constituindo neste sentido. O edifício principal é um burgo (pequeno castelo) do século XIII (Figura 2), cercado de árvores. A sede é rodeada por 60.000m² de biótopos com espécies típicas da floresta temperada, como também prados, bosques selvagens e riachos. Apresenta 1.200m² de área construída, que inclui o museu das crianças e da juventude EnergieStadt - que pode ser traduzido como “Cidade da Energia” (Figura 3), com atividades interativas para alunos e visitantes, além de oferecer exposições sobre energias renováveis. Figura 1 – Cata-ventos e placas solares Figura 2 – Burgo Ophoven Figura 3 – Museu EnergieStadt

Fonte: Autoria própria, 2015.

O cronograma das atividades (NATURGUT OPHOVEN, 2014, 2015a) indica que a instituição recebe alunos de Ensino Fundamental e professores da rede formal de ensino que podem agendar atividades oferecidas conforme seu calendário anual. Visitantes como famílias com crianças e idosos, estudantes e professores podem visitar o Centro independentemente de estarem inscritos em algum curso. O espaço é aberto para diferentes segmentos sociais atuantes nas questões ambientais, como outras instituições de Educação Ambiental, tomadores de decisões políticas e empresários multiplicadores, assim como também para o agendamento de festas de aniversário. 3

Entre os projetos divulgados no site (NATURGUT OPHOVEN, 2015b), destacam-se: “Naturwissenschaftliche Experimente zum Klimaschutz in der Grundschule” (Experimentos Científicos sobre Alterações Climáticas na Escola Primária); “Sterneköche fürs Klima” (“Star Chefs” para o Clima) - com o objetivo de ensinar às crianças a alimentação saudável e as diferentes maneiras de se alimentar “que cuidam da natureza” (klimaschonend); BioBrotBox onde o Centro oferece todos os anos aos pais dos estudantes do município de Leverkusen, desde 2006, uma caixa com alimentos para um almoço com teor saudável para encorajá-los a enviar lanches saudáveis para os seus filhos na escola; “Kreuzfahrt Familie” (Cruzeiro Família) - projeto em que famílias de baixa renda podem desfrutar uma semana de férias de modo a capacitá-las para a educação cotidiana, esclarecendo valores e conceitos educacionais; “Triangel” (Triângulo) - que incentiva crianças a se prepararem para o futuro e se envolverem ativamente em ações cidadãs para o uso consciente da energia; visitas guiadas e oficinas no espaço silvestre e no Museu Cidade da Energia; observação de abelhas sem ferrão nas colmeias e de pássaros em seus ninhos. Há, ainda, projetos em parcerias com universidades de outros países, como Polônia e Letônia. Além disso, recebem a colaboração de algumas fundações parceiras como Stiftung Umwelt und Entwicklung Nordrhein-Westfalen (Fundação para o Meio Ambiente e Desenvolvimento da Renânia do Norte-Vestfália) e Science & Education Foundation Bayer (Fundação Bayer para a Ciência e Educação). De acordo com o site (NATURGUT OPHOVEN, 2015b), o Centro foi vencedor de diversos prêmios, com destaque para o 1º lugar na categoria “conservação de recursos” no ClimaExpo da Renânia do Norte-Vestfália, em 2015; o título de “Excelente Projeto de Biodiversidade da década das Nações Unidas” em 2014/2015; o prêmio de “projeto da década” conforme o Comitê Nacional da Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, nos anos 2006/2007, 2008/2009, 2010/2011; foi o primeiro centro de Educação Ambiental da Alemanha a receber o prêmio de “Ação Oficial da Década” das Nações Unidas no ano de 2013. Além disso, é membro da mesa redonda da ONU - “Educação para o Desenvolvimento Sustentável” - que discute formas e políticas de ensino para a sustentabilidade. Anualmente, de acordo com o site supracitado, mais de 60.000 crianças de diferentes escolas da região visitam a instituição e participam de suas atividades, denotando uma grande abrangência de atuação na rede de educação formal. O Centro também coopera nas redes de publicação dos métodos desenvolvidos na instituição com programas educativos, materiais didáticos, livros e apostilas, indo muito além das fronteiras locais. 4. Impressões a partir da entrevista, da observação participante e dos relatos do diário de campo A visita técnica ao Centro de Educação Ambiental NaturGut Ophoven foi realizada em 31/07/2015 e se constituiu de um roteiro guiado, ao longo das dependências e espaços do Centro, acompanhada da coordenadora da instituição; uma entrevista semiestruturada com a mesma e a observação participante de dois cursos de verão para crianças em período de férias: “Naturforscher unterwegs” (na tradução literal, significa “Naturalistas a caminho”, mas pode ser interpretado como “Detetives da natureza”, segundo o professor do curso) e “Von Hexen und wilden Kräutern” (De bruxas e ervas selvagens). A coordenadora do Centro afirmou que, no ambiente urbano, as pessoas têm pouco contato com a natureza e que o Centro NaturGut Ophoven oferece este espaço silvestre de convívio e aprendizagem para todos, estudantes e não estudantes, pesquisadores e pessoas 4

comuns, incluindo pessoas com deficiências e pessoas de baixa renda, cidadãos alemães ou imigrantes. Mesmo com alguns desafios para conseguir recursos financeiros – quatro pessoas buscam recursos públicos do município de Leverkusen, além de projetos em parceria com diferentes fundações - o Centro intensifica seus esforços, pois pretende angariar recursos para adaptar suas estruturas, melhorando a acessibilidade para as pessoas com deficiência. Quanto à questão de eficiência energética, toda a demanda de energia do Centro é suprida por cata-ventos eólicos e placas fotovoltaicas espalhadas em esculturas pelo jardim, captando luz de modo eficiente e esteticamente agradável. Um painel digital mostra a produção diária de energia solar, o excedente que retorna à rede municipal e o que já foi produzido desde quando os painéis foram instalados. Seguindo o roteiro, trilhas de terra, cascas de árvores e cascalhos levam a bosques, hortas, rios e lagos preservados. O professor do curso de verão esclareceu que a mata atual não é primária, mas apresenta espécies reflorestadas típicas da floresta temperada, como a faia da espécie Fagus sylvatica. Próximo ao prédio-sede, há uma grande área com pequenos jardins demarcados com placas informativas de plantas medicinais, aromáticas ou sua função ecológica. Uma grande horta coletiva com tomates e outras verduras foi cultivada por crianças de diferentes turmas e estas podem acompanhar seu crescimento, cuidar dela e depois colher para comer. Ao longo das trilhas, existem alguns totens interativos com informações e jogos sobre diversos assuntos como aquecimento global, reciclagem de papel e animais que podem ser avistados na área (pássaros e pequenos mamíferos). O curso “Von Hexen und wilden Kräutern” (De bruxas e ervas selvagens) consistiu de um jogo ao ar livre onde crianças de 10 a 14 anos tinham que usar os sentidos para encontrar determinadas plantas pela textura, forma, cor ou aroma – mas sem arrancá-las do lugar. A atividade começou numa grande mesa de madeira maciça de frente a um campado, com uma conversa com as crianças, se elas sabiam da importância das plantas para as pessoas e para a natureza. Logo após, elas jogaram um jogo de tabuleiro (Figura 4), cujas peças feitas de rolhas e bandeirinhas tinham que ser colocadas ao lado das plantas específicas da área verde que o jogo indicava. Terminaram a conversa com um diálogo sobre os diferentes papéis das plantas na natureza e da necessidade de se cuidar delas. O curso “Naturforscher unterwegs” (Detetives da natureza) também ofereceu atividades voltadas ao uso dos sentidos num grupo de crianças de 6 a 10 anos. Primeiramente, o professor convidou-as a explorar os jardins, sentindo suas texturas, cores, aromas, formas e materiais. Depois, capturaram insetos vivos para observar em um frasco plástico com lupa na tampa e depois devolverem os animais à natureza, com o professor sempre enfatizando aos alunos o respeito à vida, o valor e importância de cada elemento da natureza. Na terceira atividade proposta, chamada de “Natur-Memory” (Memória da Natureza), o professor mostrou cinco coisas que ele chamou de elementos da natureza (pedra, folha seca, graveto, pedaço de madeira e flor seca) e os cobriu com um pano. Cada criança deveria lembrar-se e encontrar estes cinco elementos pelo jardim e depois construir coletivamente uma imagem no chão usando os materiais coletados. Também foi pedido que identificassem a procedência destes materiais que ajudam a compor a paisagem. Logo após, todos foram até a horta para sentir o sabor de diferentes plantas, como as flores da capuchinha e a menta. Foi proposta uma caminhada pelas trilhas no bosque, onde o professor dialogou com os alunos sobre a ecologia das árvores e onde puderam fazer dois minutos de silêncio para ouvir e identificar os pássaros pelo seu canto. Sempre questionando as crianças, ele também explicou sobre o papel dos pássaros no ambiente.

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Na pausa para o almoço, todos comeram alimentos saudáveis, do tipo vegetariano orgânico, com vegetais procedentes de produtores da região. Depois de se alimentarem, as crianças foram para uma trilha com serrapilheira, onde tiraram os sapatos e vendaram os olhos, para atravessar um grande tronco de árvore no chão, na horizontal, com a ajuda de um amigo (Figura 5). Também, havia tocos de madeira de diferentes tamanhos enterrados no chão na vertical para as crianças atravessarem descalças, ajudando-se mutuamente, de olhos vendados ou não. Por fim, chegaram a um riacho onde jazia outro tronco de uma árvore caída e que atravessava o corpo d’água de uma margem à outra. As crianças de maior habilidade atravessaram o tronco descalças, enquanto as crianças mais inseguras atravessaram sentadas, todas juntas em fila, umas ajudando as outras (Figura 6). Na volta para a sede, o professor ainda escondeu cinco objetos pelo caminho para que as crianças encontrassem em silêncio, sem fazer barulho para não espantar os pássaros. Depois de encontrados os objetos, foi explicado que alguns animais podem não ser vistos por causa de sua cor e forma que se confundem com o ambiente, fenômeno conhecido como mimetismo. De volta à sede, as crianças fizeram um exercício oral sobre as coisas que aprenderam no curso e todas ganharam uma medalha feita de uma fatia de madeira rústica e barbante orgânico, sendo condecoradas como detetives da natureza. Figura 4 – Jogo de tabuleiro Figura 5 – Travessia com vendas Figura 6 – Travessia no riacho

Fonte: Autoria própria, 2015.

Ao final da tarde, quando terminaram os cursos, as crianças puderam interagir com atividades experimentais sobre energia e mudança climática no museu das crianças e da juventude EnergieStadt (Cidade da Energia), onde tiveram oportunidade de ver filmes, movimentar carrinhos, bonecos e aviões com energia luminosa, jogar uma série de jogos e atividades sobre questões socioambientais pertinentes aos cinco continentes da Terra (América, África, Europa, Ásia e Oceania). Uma das experiências que chamaram a atenção foi uma máquina aeróbica de step que convertia energia mecânica em energia elétrica e armazenava em um plug, que poderia ser utilizado para acionar diferentes utensílios domésticos. Também havia telas interativas que abordavam diferentes temas, como o trânsito nas cidades, evolução tecnológica e a energia. Futuros projetos, de acordo com a coordenadora do Centro, incluem além da adaptação das estruturas para a inclusão de pessoas com deficiência, também o projeto de um jardim-farmácia de plantas medicinais cultivadas atrás do castelo, onde as crianças poderão aprender sobre o cultivo e produção de fitoterápicos.

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Algumas dessas atividades, lembram, em parte, aspectos e experiências práticas propostas por Legan (2007), Schiel et al. (2003), Mergulhão e Vasaki (2002), Telles et al. (2002), Dias (2000), Zeppone (1999), Tanner (1978), dentre outros, para o desenvolvimento da Educação Ambiental em diversos espaços e contextos. Algumas reflexões O Centro de Educação Ambiental NaturGut Ophoven, mesmo com alguns desafios estruturais e financeiros, pode ser considerado um Espaço Educador Sustentável, pois articula processos educativos com estruturas que reduzem os impactos negativos ao meio ambiente. As considerações tecidas a seguir visam a elencar alguns potenciais e desafios observados no intuito de contribuir ao entendimento do fenômeno perceptivo acerca dos Espaços Educadores Sustentáveis e sua constituição no Brasil. Gestão organizada: é pautada em projetos organizados em programas com cronogramas anuais de atividades por idade e assunto (NATURGUT OPHOVEN, 2014, 2015a). Este aspecto ressalta a importância de um projeto bem elaborado norteando as ações, para que estas se organizem e se articulem de maneira mais eficiente e não se tornem solitárias ou difusas. Aproveitamento eficiente de energia solar e eólica: o sistema utilizado, que usa fontes renováveis de energia como a luz solar e o vento, traz benefícios socioambientais que transcendem as ações educativas locais. Este sistema de produção e uso mostrou-se bastante eficiente por gerar economia financeira, energética e ecológica (evitando o consumo através de outros meios não renováveis tradicionais, como energia nuclear ou queima de biomassa que degradam o meio ambiente) e por contribuir para a sociedade enviando o excedente para a rede municipal, beneficiando outras pessoas e espaços da comunidade. Ensino por meio do diálogo: as atividades educativas observadas instigaram as crianças a pensarem, refletirem, recordarem e expressarem suas ideias na construção coletiva de respostas. Ficou evidente existir um diálogo entre os professores da rede municipal de ensino formal e o Centro, que se considera como um meio de educação complementar à escola. Para Freire (1994), o diálogo é um fenômeno de encontro, que envolve as dimensões de ação e reflexão, de pensar crítico. É nele onde os sujeitos se encontram para transformar o mundo em colaboração e é com o diálogo que se faz a verdadeira educação. Cuidado consigo, com o outro e com a natureza: ficou evidente a importância do respeito, valorização e cuidado com os diferentes elementos da natureza no conjunto, consigo mesmos e na relação com os outros, por meio das atividades que envolviam confiança, contato e cuidado com os colegas e o meio ambiente. Conforme Trajber e Sato (2010), tanto o cuidado

quanto o diálogo são princípios de referência para a constituição de Espaços Educadores Sustentáveis no sentido da educação integral. Inclusão de pessoas com baixa renda, imigrantes e pessoas com deficiência: essa preocupação ficou evidente nos processos educativos e em projetos futuros de infraestrutura para acessibilidade. Foram constatados processos que favorecem a inclusão, uma vez que o Centro pode ser visitado por diversas pessoas, não se restringindo apenas às crianças e professores da rede formal de ensino, abrangendo, também estudantes universitários, famílias compostas por pessoas de todas as idades, pessoas de baixa renda e estrangeiros, em especial, os imigrantes. Algo que a coordenadora do Centro chamou de “Global Learning” (Aprendizagem

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global), onde crianças imigrantes e alemãs podem interagir e aprender umas com as outras, trocando experiências entre as diferentes culturas. Desafios: além da questão estrutural que pretende adaptar o Centro para a inclusão de pessoas com deficiência, a pesquisa mostrou a importância do financiamento público para a concretização dos projetos. A maior parte dos recursos vem do município de Leverkusen e um pequeno valor cobrado das escolas ajuda a pagar algumas despesas, mas não cobre tudo. Uma maneira de conseguir financiar algumas ações é fazendo projetos para fundações. A coordenadora explicou com ênfase que “você não pode fazer dinheiro com educação [...]. Você precisa de dinheiro público para manter centros ambientais como este” (UTE, c. p.). O estudo mostrou, ainda, três tendências de práticas sustentáveis na Alemanha: a separação doméstica do lixo de forma bem específica, “upcycling” (criar você mesmo coisas novas utilizando materiais descartados, ou agregando novas coisas para melhorar o que já se tem, tornando-as de maior valor) e “handmade” (fazer coisas artesanais, com as próprias mãos). A coordenadora afirmou, também, existir um movimento crescente de interesse das pessoas na Alemanha sobre a origem e a preparação dos alimentos, de onde vem a comida, preparar e também cultivar os próprios alimentos, com uma crescente produção e procura de produtos alimentícios orgânicos no país. Longe de uma experiência passiva, a vivência no Centro de Educação Ambiental NaturGut Ophoven possibilitou a concretização de propostas educativas ativas, de participação cognitiva das crianças, onde elas puderam ser protagonistas no seu processo de aprendizagem. Em que educadores e visitantes são agentes que experimentam, raciocinam, dialogam sobre o tema da sustentabilidade, disseminando ideias e condutas que reduzam impactos ao meio ambiente e que ajudem a desenvolver a qualidade de vida da sociedade. No que se refere à constituição de Espaços Educadores Sustentáveis no Brasil, esta pesquisa vem sinalizando que a participação do poder público no financiamento das estruturas, atividades e recursos humanos; a produção e uso eficiente de energias renováveis; agricultura e consumo de alimentos orgânicos; cultivo e produção de jardim-farmácia de fitoterápicos; conservação de ambientes naturais; inclusão de pessoas com deficiência, de baixa renda e imigrantes e o protagonismo dos educandos podem ser tendências promissoras para a concretização de processos formativos comprometidos com a sustentabilidade socioambiental. O desafio está em, com apoio da legislação, buscar recursos públicos e alternativos para a construção e reforma de estruturas, formação inicial e continuada para os educadores e gestores, manutenção, continuidade e consolidação da sustentabilidade nos processos educativos. Referências BOGDAN, R.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994. (Coleção Ciências da Educação) BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Brasília: MEC, 2012. ______. Decreto nº 7.083, de 27 de janeiro de 2010. Dispõe sobre o Programa Mais Educação. Disponível em: . Acesso em: 25 set. 2015. ______. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013a. ______. Programa Nacional Escolas Sustentáveis. Dispõe sobre as ações de apoio às escolas e Instituições de Ensino Superior em sua transição para a sustentabilidade socioambiental. Out. 2013b. Disponível em:

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. Acesso em: 12 jul. 2016. ______. Manual Escolas Sustentáveis. Resolução CD/FNDE nº 18, de 21 de maio de 2013c. Dispõe sobre a destinação de recursos financeiros às escolas públicas da Educação Básica para promoção da sustentabilidade socioambiental nas unidades escolares. Disponível em: . Acesso em: 11 jul. 2016. DIAS, G. Educação ambiental: princípios e práticas. 6. ed. São Paulo: Gaia, 2000. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994. LEGAN, L. A escola sustentável: eco-alfabetizando pelo ambiente. 2. ed. São Paulo: IOESP/Ecocentro IPEC, 2007. MERGULHÃO, M. C.; VASAKI, B. N. G. Educando para a conservação da natureza: sugestões de atividades em educação ambiental. São Paulo: EDUC, 2002. MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999. ______. A Natureza. São Paulo: Martins Fontes, 2006. MOREIRA, D. A. O Método Fenomenológico na Pesquisa. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. NATURGUT OPHOVEN. NaturGut Ophoven – das pädagogische Programm. Leverkusen: NaturGut Ophoven. Abr. 2014. ______. Jahresprogramm: März 2015 bis April 2016. Leverkusen: NaturGut Ophoven. 2015a. ______. Disponível em: . Acesso em: 12 jun. 2015b. SCHIEL, D. et al. (Orgs.). O estudo de bacias hidrográficas: uma estratégia para educação ambiental. 2. ed. São Carlos: RiMa, 2003. TANNER, R. T. Educação ambiental. São Paulo: Summus/USP, 1978. TELLES, M. et al. Vivências integradas com o meio ambiente. São Paulo: Sá, 2002. TRAJBER, R.; SATO, M. Escolas Sustentáveis: incubadoras de transformação nas comunidades. REMEA Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. especial. set. 2010. Disponível em: . Acesso em: 29 ago. 2015. ZEPPONE, R. M. O. Educação ambiental: teoria e práticas escolares. 1. ed. Araraquara: JM, 1999.

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