ESPAÇOS SAGRADOS LIGADOS A GUERRA DO CONTESTADO NO TERRITÓRIO DO PLANALTO NORTE CATARINENSE: TURISMO RELIGIOSO NAS FONTES, CRUZEIROS E CAPELAS DEDICADAS AO MONGE JOÃO MARIA DE JESUS

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ESPAÇOS SAGRADOS LIGADOS A GUERRA DO CONTESTADO NO TERRITÓRIO DO PLANALTO NORTE CATARINENSE: TURISMO RELIGIOSO NAS FONTES, CRUZEIROS E CAPELAS DEDICADAS AO MONGE JOÃO MARIA DE JESUS Sacred spaces linked to war of the territory of disputed north highlands catarinense: religious tourism in sources, and cruise church dedicated to Monge João Maria de Jesus Vanessa Maria Ludka Bolsista REUNI Universidade Federal do Paraná [email protected] José Ricardo Teles Feitosa Bolsista REUNI Universidade Federal do Paraná [email protected] Nilson Cesar Fraga Universidade Federal do Paraná [email protected] Resumo O presente trabalho é resultado das investigações realizadas por meio da literatura e por trabalhos de campo que buscaram desvendar e posteriormente analisar os espaços sagrados deixados pela passagem do Monge João Maria de Jesus pela região do planalto norte catarinense. Para proceder ao inventário dos locais sangrados e visitados por romeiros deixados pelo Monge peregrino, foram percorridas as sedes e zonas rurais das cidades que compõem a região de pesquisa. O objetivo deste artigo é analisar o papel e os territórios dos espaços sagrados deixados nas passagens do Monge João Maria de Jesus, numa região marcada pela Guerra do Contestado, mais precisamente no Planalto Norte Catarinense. A pesquisa leva em consideração que o individuo constrói sua identidade de várias formas, aqui tratamos da religiosidade, marcado pela rusticidade da fé popular, que através dos fatos históricos envolve a figura do monge São João Maria, o mesmo se torna santo e venerado, se não do catolicismo romano, mas em partes pelos adeptos do misticismo popular. Palavras-Chave: Contestado; Santa Catarina, Espaço Religioso

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124 Abstract This work is the result of research conducted through literature and fieldwork that sought to unravel and then analyze the sacred spaces left by the passage of Maria Monk of Jesus by John the plateau region north of Santa Catarina. To make an inventory of sites visited by pilgrims bled and left by a pilgrim monk, were covered seats and rural towns that make up the search region. The objective of this paper is to analyze the role and the territories of sacred spaces left in the passages of the Monk João Maria de Jesus, a region marked by the Contested War, specifically in North Plateau Catarinense. The research takes into account that the individual constructs his identity in various ways, here treat of religiosity, marked by the hardiness of the popular faith, through the historical facts that involve the figure of Saint John Mary monk, it becomes holy and venerable, if not Roman Catholic, but in parts by supporters of popular mysticism. Keywords: Contested; Santa Catarina, Religious Space

Breve conceituação da guerra do contestado De 1912 a 1916, ocorreram, em Santa Catarina, numa área em litígio com o vizinho Paraná, os fatos mais sangrentos das suas histórias, quando a população do Planalto pegou em armas e deu o grito de guerra, no episódio que ficou conhecido como a Guerra do Contestado. Foram várias as causas do conflito armado, pois, na mesma época e no mesmo lugar, ocorreu um movimento messiânico de grandes proporções, uma disputa pela posse de terras, uma competição econômica pela exploração de riquezas naturais, e uma questão de limites interestaduais. (FRAGA, 2010, p. 139) A Guerra do Contestado, em si, foi definidora dos territórios atuais de Santa Catarina e do Paraná, além de constituir aquelas denominadas Região do Contestado Catarinense e Sul Paranaense, onde, conforme Eduardo Galeano (1986), verificou-se uma das maiores guerras civis do continente americano, pois o genocídio de milhares de camponeses pobres foi a sua principal marca. A Guerra do Contestado é um episódio complexo, pois é alimentado por vários fatores que se entrelaçam, sejam de ordem social, política, econômica, cultural, sejam de ordem religiosa (FRAGA, 2009, p. 17). Segundo Thomé, 1997 in Fraga, 2010 a Guerra do Contestado reuniu, no mesmo tempo e no mesmo espaço geográfico, mais de 30 mil pessoas – habitantes da região na época –, desde fazendeiros, em defesa de suas propriedades, até posseiros tentando se manter em terras devolutas, “fanatizados” por promessas messiânicas, e oportunistas que viam no movimento ocasião para exercerem pressões políticas acerca dos limites disputados entre Santa Catarina e o Paraná. Por isso, é dito que nem todos os CAD. Est. Pes. Tur.

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sertanejos catarinenses eram rebeldes, nem todos os rebeldes eram fanáticos, e nem todos os fanáticos eram jagunços. As forças militares, que estiveram no Contestado “para impor a ordem e a lei, e afugentar bandos de fanáticos”, em tarefa que parecia fácil, defrontaram-se com um verdadeiro exército rival, disciplinado, formado por gente hábil, destemida, idealista, conhecedora do terreno e dos segredos da natureza, que transformaram em pesadelos as investidas oficiais, ao aplicar táticas de guerrilha, envolvendo os soldados em mortíferas ciladas. Só depois de quase dez mil sepulturas é que as tropas legais se convenceram de que tinham estado diante de um inimigo não inferior, e que a vitória final aconteceu porque a astúcia dos camponeses não resistiu ao poderio bélico e à inteligência e persistência militar. (MONTEIRO, 1974). No dia 20 de outubro de 1916, foi assinado o Acordo de Limites pelo presidente do Paraná, Afonso Alves Camargo, e pelo governador de Santa Catarina, Felipe Schmidt. O Paraná ficou com 20.310 quilômetros quadrados e Santa Catarina com 27.570 quilômetros quadrados. Os paranaenses “cederam” Itaiópolis, Papanduva e Canoinhas, mas recuperaram Palmas e Clevelândia. E a cidade da margem esquerda do Iguaçu, que havia sido fundada por paulistas, acabou sendo dividida: União da Vitória ficou para o Paraná, e Porto União, para Santa Catarina (THOMÉ, 2003). No que concerne à repercussão da Guerra do Contestado sobre o espaço agrário regional, faz-se importante lembrar que o ano de 1917 é tido historicamente como o ano da “limpeza” das terras que estavam sob domínio da Lumber e dos coronéis (FRAGA, 2010) De acordo com os relatos históricos produzidos nas últimas décadas não abrem mão de considerar a limpeza étnica no ano mencionado. Tais fatos coincidem com a criação de vários municípios, na forma da lei vigente, para garantir a posse do território, seja na parte que coube a Santa Catarina, seja na que coube ao Paraná. Dentre eles se podem destacar Mafra, União da Vitória, Cruzeiro (hoje Joaçaba) e Chapecó, além dos já existentes, como Canoinhas, Curitibanos e Campos Novos. Tais cidades passaram a ser administradas pelos coronéis de então, todos com possibilidades de contratar farta mão-deobra para expulsar e matar os posseiros restantes – no ano da limpeza, 1917 (FRAGA, 2010). CAD. Est. Pes. Tur.

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O território outrora contestado passou a ser rapidamente ocupado por milhares de migrantes europeus e excedentes das colônias do Rio Grande do Sul, ocupando as terras de posse dos caboclos, sob domínio e direito de colonização, da Cia. Lumber (FRAGA, 2010). Os Monges nas Terras Contestadas Nos últimos duzentos anos, centenas de movimentos messiânicos aconteceram. Alguns foram pequenos, outros obtiveram destaque por envolver pessoas marginalizadas, insatisfeitas e ignorantes que, com expressões, concentraram-se em figuras carismáticas, como os monges conhecidos por João Maria e José Maria. Para que um movimento caracterize-se como messiânico, deve contar as propostas básicas da crença popular da volta do Messias. O Contestado foi também um movimento tido como messiânico. Os responsáveis pela caracterização deste movimento foram os monges que deixaram, por onde passaram, registros em todo Sul do País. Eram profetas, curandeiros, santos, conselheiros que irradiavam amor, devoção, simplicidade e caridade. Na Região Sul do país, conta-se que houve um peregrino de cabelos e barba longas, olhar manso típico de alguém que almejava a solidão e o isolamento. Foi simples, bom e justo, mas severo consigo mesmo, repartindo com o próximo o único bem que possuía: sua fé. Há um paradoxo que surpreende todos quantos estudam ou procuram entender a vida de João Maria: esse “santo” não foi um homem, foram dois que confundiram e entrelaçaram suas vidas para se tornarem apenas um santo. Segundo CABRAL, João Maria de Agostini era italiano nascido em 1801. Não há muitos registros do seu passado nem quando chegou ao Brasil. O que se tem é que esteve no Pará, viajou para o Rio de Janeiro por volta de 1844 e depois para São Paulo. Diz-se que era solteiro, eremita, de estatura baixa, cor clara. Sobre sua passagem por São Paulo, o que se tem é de relatos orais, visto que era um homem voltado à solidão. Conta-se que o eremita andou fixando cruzes por onde passava, e numa determinada região chegava ao número de 14 cruzes, como uma via-sacra. Em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, João Maria

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também ergueu cruzes com o mesmo número e com o intuito de estimular a adoração ao símbolo da fé cristã. De vez em quando participava da Santa Missa e aproveitava, depois da reza, para dirigir umas palavras aos que ali se encontravam. Nenhuma inovação tentou introduzir e não impunha nada do que pregava, simplesmente aconselhava. Sua passagem pelo Sul foi registrada no Paraná (Lapa e Rio Negro), Santa Catarina (Lages) e Rio Grande do Sul (Santa Maria). Sobre o que se tem e o que se diz desse Monge, acredita-se ser mais importante as questões relacionadas às suas atividades e às doutrinas que pregava. Para isso, tem-se um trecho, citado por CABRAL, de um depoimento de Felicíssimo, que assistiu às pregações do Monge no Campestre (RS). Os visitantes e romeiros que por ali passavam armavam suas barracas numa fraternidade. Os doentes que se chegavam eram de todos os tipos: uns procuravam a cura, outros apenas um alívio para suas enfermidades. Eram pessoas que vinham de Santa Catarina, do Paraná, de São Paulo, do Uruguai e da Argentina buscando a cura nas águas milagrosas do Campestre. Assim começou uma nova fase à vida de João Maria, visto que antes era tido apenas como ermitão, solitário que vagueava pelas estradas; agora estabelecia uma capela aonde acorriam diversas pessoas de diferentes lugares em busca do conforto de suas palavras. João Maria se havia retirado para São Paulo, ou fugido, pois soube que havia sido dada uma ordem para prendê-lo, ordem vinda da suposição do presidente do Rio Grande do Sul, Soares de Andréia, de que aquela multidão de sofredores viesse a tornar-se um foco de fanáticos perigosos. Apesar dessa “fuga”, João Maria foi preso em São Paulo e deportado para o Rio de Janeiro, findando assim sua passagem pelo Rio Grande do Sul. Não se sabe quanto tempo ficou no Rio de Janeiro; o que se sabe é que por volta de 1850, aproveitando o caminho dos tropeiros, João Maria se instalou nas proximidades da cidade da Lapa (PR). Nesta cidade encontrou repouso numa grutinha junto de um filete de água cristalina, onde aconselhava, com rezas, e curava as enfermidades e moléstias por meio de chá de vassourinha. E como não poderia ser diferente, também na Lapa, acorreram ao Monge pessoas esperançosas de milagres, vindas de todas as partes. Das CAD. Est. Pes. Tur.

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pessoas que a ele vinham não aceitava nada, e o que lhe davam em excesso, de imediato distribuía aos pobres (CERQUEIRA, 1919). Por volta de 1851, o Monge atingiu Rio Negro (PR) e Mafra (SC) em busca de um novo refúgio mais tranqüilo e menos exposto. Como recusava a hospedagem oferecida pelos moradores, e como ali não havia gruta, abrigouse sob as árvores. E mesmo ali também aconselhou e fez suas práticas. O tempo em que o Monge esteve em Mafra não se sabe ao certo, como também os caminhos que tenha tomado. São relatos incertos como muitos pontos da vida deste piedoso e misterioso personagem. Após algumas aparições em Lages, João Maria teria retornado à São Paulo, onde viveu mais algum tempo meditando, rezando, até que, em 1870, desapareceu para sempre. Onde e quando morrera não se sabe bem ao certo, como suas rotas pelo sertão do Brasil. Sabe-se apenas que passou sem ter feito qualquer coisa de mal; ao contrário, pregou o bem, dividiu tudo o que tinha e ganhava. Do segundo Monge, João Maria de Jesus, que apareceu na área de Serra-Acima entre o Iguaçu e o Uruguai, tem-se informações seguras a partir da revolta rio-grandense de 1893, quando surgiu junto aos soldados maragatos no vale do rio do Peixe, conforme relata Ângelo Dourado,

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em seu livro “

Voluntários do Martírio”, sobre a retirada das tropas revolucionárias de 1893 de volta ao Rio Grande do Sul, após transpor o rio do Peixe. Pelos relatos de Ângelo Dourado pode-se dizer que aquele monge não era João Maria de Agostini. Em todo meio século anterior, nem uma só vez foi encontrado carregando uma bandeira, fazendo profecias nem manifestando preferências políticas. Mas não bastasse isso, pudesse a proclamação da república ter-lhe transtornado as idéias, em qualquer hipótese não poderia ser, aos noventa e três anos, “homem ainda moço”, quando já aos 43 anos trazia grisalhos o cabelo e a barba. Do que não se tem dúvidas é que próximo ao rio do Peixe e do rio Uruguai, fosse em território gaúcho, paranaense ou de Santa Catarina, todas essas redondezas eram zonas de influência do Monge. 1

O Dr. Ângelo Dourado foi um cronista do movimento revolucionário, além de comentador político e dedicado médico.(cf. CABRAL, Oswaldo R. João Maria – Interpretação da Campanha do Contestado. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1960, p. 148)

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O segundo Monge, João Maria teria feito o seu aprendizado no Campestre, ouvindo o que de Agostini se dizia, tomando conhecimento de seus hábitos e, finalmente, adotando a personalidade do antigo monge, tomando sobre si a incumbência de prosseguir nos passos de Agostini. Porém não era contemplativo como o Agostini; ao contrário, sendo mais moço, era homem de ação e entrou a palmilhar os sertões de Santa Catarina e do Paraná, como as campinas gaúchas por onde a fama de seu antecessor já se estendera, fama esta que foi passada de monge a monge. Sua ação no Sul do Brasil despontou durante a Revolução federalista (1893-1895). O Monge foi mais atuante nesse período inicial da República, quando crescia o poder dos latifundiários e dos grupos políticos locais, submetendo duramente a população rural do país. Desamparados, sem terem a quem recorrer, os pobres sertanejos viam no monge o consolo para seus males e acabavam seguindo seus conselhos, que para este povo servia muito mais do que remédios ou bênçãos dos padres da região. Não se tem dúvida de que algumas das atitudes do segundo monge eram semelhantes às do primeiro. Não aceitava dinheiro, não se agasalhava sob o teto, preferindo a copada das árvores. Não se recusava em falar ao povo que o cercava. Entretanto, a sua medicina era a mais pobre possível; quando não aconselhava as imersões nas águas frias das fontes junto às quais pousava, para os males maiores indicava sempre as infusões de vassourinha do campo, até hoje conhecida no planalto por “erva ou vassourinha de São João Maria”. A imagem mais conhecida do monge está contida na Foto 03, e com as “Virgens” na Foto 04, sendo que a primeira pode ser encontrada em muitas casas da Região Sul do Brasil, bem como nas suas grutas, cruzeiros e olhos d’água.

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Fotos 01 e 02 – Monge João Maria e o mesmo com as “Virgens” Fonte: O Monge sozinho, desconhecida autoria, e acompanhado, Claro Jasson.

Este João Maria desapareceu nos primeiros anos do século XX, por volta de 1908. Uns disseram que morreu no hospital de Ponta Grossa, no Paraná; outros, que a sua sepultura fora cavada em Lagoa Vermelha, no Rio Grande do Sul. Mas os verdadeiros crentes, que eram a quase totalidade dos sertanejos da área, acreditam que ele apenas se havia retirado: “O grande santo, o São João do Evangelho, não pode morrer. Ele se retirou apenas, para provar os seus fiéis, vivendo por prazo indeterminado, encantado no morro Taió, até chegar o tempo de aparecer de novo, para por tudo em ordem”. Por volta de 1911, na serra catarinense, em Campos Novos, apareceu um “curandeiro de ervas”, exatamente no mesmo local onde, pouco antes, se dizia ter reaparecido o Monge João Maria. Apresentava-se como José Maria de Santo Agostinho. Era um caboclo de cabelos lisos e compridos e barba espessa. Vestia-se de brim ordinário e, como um caboclo qualquer, costumava andar descalço. Às vezes usava tamancos com meias grossas que lhe prendiam a boca das calças. Tinha dentes manchados de nicotina, devido ao cachimbo que freqüentemente pitava. Usava um boné de pele de jaguatirica adornado de penacho e fitas, muito parecido com o do velho João Maria. Quando lhe perguntavam se era parente do Monge João Maria, ele não dizia sim nem não, deixando no ar a ligação com a figura tão lembrada naquelas paragens. Muitas vezes era identificado como irmão do antigo monge e se calava, pois isso o tornava mais procurado e querido pelos sertanejos. CAD. Est. Pes. Tur.

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Miguel Lucena de Boaventura – como se descobriu mais tarde ser o seu verdadeiro nome – apareceu para continuar a pregação do monge que deixou grande fama no Contestado, reiniciando o apostolado deste. Ex-soldado do Exército de onde foi desertor, ou da força policial do Paraná, conforme contam outros, não possuía ele a mesma constituição mística dos monges que o antecederam. Era menos rigoroso nos seus hábitos, não apreciava o isolamento, não se recolhia para colocar-se em contato com o criador, não se mortificava nem fazia penitências. Duas notícias fizeram com que sua fama se espalhasse. Primeiro, falouse que tinha ressuscitado uma jovem – talvez vítima de catalepsia, doença que faz a pessoa ficar temporariamente paralisada, como se tivesse morta. Mais tarde, disseram que fez sarar a esposa do Coronel Francisco de Almeida, que sofria de mal que se acreditava incurável. O rico proprietário ficou tão agradecido ao monge que lhe ofereceu em recompensa muitas terras e grande quantidade de ouro. Para espanto geral, José Maria recusou tudo isso. Passou então a ser considerado um homem santo, que vivia apenas para curar e ajudar os mais necessitados. O Coronel Francisco de Almeida foi mais longe. Decidiu dar guarida ao monge, recebendo também em sua fazenda em curitibanos todos aqueles que fossem à procura de auxílio e conforto junto a José Maria. A quantidade de pessoas que a partir de então se dirigiu à fazenda era tão grande que o coronel tinha de mandar matar um boi por dia para alimentar toda aquela gente. O número de pessoas que acorriam a José Maria aumentava cada vez mais. Depois de algum tempo, José Maria resolveu sair da sede da fazenda e ir para um local mais afastado, levando consigo todas as pessoas que estavam ali à espera. Nesse lugar, também nas terras do Coronel Francisco de Almeida, ele formou um arraial onde montou uma “clínica” e uma farmácia de ervas, a Farmácia do Povo. Para lá iam todos os que procuravam pedindo conselhos e receitas, que eram passadas como receitas médicas, escritas em papel e entregues sempre acompanhadas de orações. O atendimento era gratuito, mas quando o doente tinha recursos, pagava uma taxa de dois mil réis. O dinheiro era aplicado na expansão da própria farmácia (CAPANEMA, 1919). Segundo CABRAL (1960), tem uma fotografia de José Maria em que apresenta o monge como um homem bem nutrido, de pernas sólidas, sentado, CAD. Est. Pes. Tur.

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tendo um facão entre os joelhos. A barba cerrada, o olhar vivo, o nariz largo, de ventas grandes, um pouco achatado, tem mais o aspecto de um homem do Nordeste do que das regiões sulinas. José Maria esteve durante quase um mês em Taquarussu. Nesse arraial, ao qual deu o nome de Quadro Santo, organizou um grupo dirigente, de caráter político-religioso, denominado por ele de Os Doze Pares de França. Era uma alusão aos doze cavaleiros que acompanhavam o imperador Carlos Magno, na Idade Média, segundo o livro História de Carlos Magno e os doze pares de França, que carregava consigo e que lia sempre para seus seguidores. Contava histórias de feitos heróicos e transmitia mensagens religiosas em que o bem sempre vencia o mal. Nessa ocasião, José Maria proclamou a Monarquia Celeste e coroou imperador Manoel Alves da Assunção Rocha, um fazendeiro analfabeto e muito rico. Essa monarquia seria administrada pelo monge de acordo com as tradições da cavalaria medieval. No Quadro Santo, todos seriam irmãos, a propriedade seria comum e o comércio totalmente proibido, sob pena de morte. Todos fariam parte de uma grande Irmandade. Esses fatos são pouco conhecidos e cercados de dúvidas. É difícil comprovar a maior parte do que se falou sobre a ação de José Maria e sua Monarquia Celeste em Taquarussu. O certo é que o Coronel Chiquinho de Albuquerque – preocupado com o ajuntamento de Taquarussu e temendo o crescimento político do Coronel Henriquinho, seu opositor – telegrafou ao governador

de

Santa

Catarina,

comunicando

que

“fanáticos”

haviam

proclamado a monarquia nos sertões de Taquarussu (CAVALCANTI, 1983). Territorialidade do sagrado no contestado Quem visita a região do contestado e se intera dos acontecimentos no que se refere às batalhas ali travadas, logo percebe que os fatos eram permeados de misticismo e religiosidade. Esta temática chama atenção, principalmente pela forma como os sertanejos vivenciavam a mística e os ensinamentos dados pelos monges2 que compunham a história messiânica do 2

A região do Contestado foi largamente percorrida por dois monges, de 1845 a 1908. O primeiro se chamava João Maria D’Agostini, era italiano de origem Benzia, curava e não fazia

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lugar. Segundo Gil Filho (2007, p. 207), “a religião foi apreendida como produto da prática humana e como expressão da cultura religiosa em um campo de motivações materializadas na paisagem”. Por isso, a idéia de sentimento religioso constitui um dos mais complexos anseios que fundamentam a essência do ser humano, visto que “o homem no seu processo de adaptação com o meio marca a terra a partir de seu pensamento, atribuindo sentido às realidades naturais e sobrenaturais” (GIL FILHO, 2007, p. 207-208). Este sentimento independe da inteligência, da razão, da cultura e de outros elementos que compõem a formação humana, pois:

A prática religiosa se apresenta como um fenômeno da cultura humana inspirada na busca da transcendência ou imanência [...] no plano social as religiões se expressam na práxis de um sistema ético suscitado pelos valores religiosos. Assim, no campo religioso, respondem direta ou indiretamente a motivações éticas (GIL FILHO, 2007, p. 210-211). Nas visitas a cidades onde a territorialidade religiosa dos caboclos ainda é muito presente, observa-se um discurso cultural mediado por uma vertente simbólica e que ainda é muito presente na vida dos moradores da região. Estes espaços de convivência passam a ser vivenciados com a carga simbólica que ajuntamento de pessoas nem dormia na casa de ninguém. Veneradíssimo, batizou milhares de moradores do sul do Brasil. Desapareceu por volta de 1890. Estação de Calmon (SC), construída segundo a planta padrão utilizada em toda a região do Contestado. Em seguida surge outro monge, João Maria de Jesus, nome adotado por Anastás Marcaf, turco de origem. Também percorria o sertão benzendo, curando e batizando. Não juntava gente em volta de si, não dormia nas casas, mas atacava a República. Desapareceu por volta de 1908 e, segundo a população de então, “está encantado do Morro do Taió”. É o terceiro monge, entretanto, que vai aglutinar o povo do sertão do Contestado e, de alguma forma, levá-lo à guerra. Chamavase José Maria – seu verdadeiro nome era Miguel Lucena e sugeria ser irmão de João Maria. Benzia, curava, batizava e reunia gente ao seu redor lendo, regularmente, o livro do Rei Carlos Magno e seus Doze Pares de França – com seus ensinamentos de guerra. Atacava duramente as autoridades e a República. Ameaçado pelos coronéis da região do contestado, o Monge e um grupo de sertanejos deslocaram-se para o Irani, em terras que o Paraná considerava suas, palco do primeiro combate da guerra. A 22 de outubro de 1912, na região denominada Banhado Grande, José Maria e seu grupo são atacados por soldados do Paraná comandados pelo coronel João Gualberto. Morrem o monge e o coronel. Fonte: http://contestadoaguerradesconhecida.blogspot.com/2008/04/os-monges.html (acesso em 25 de março de 2011).

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emerge das crenças que cada indivíduo tem, pois, para Cassirer (2005, p. 4849), o homem:

Envolveu-se de tal modo em formas lingüísticas, imagens artísticas, símbolos míticos ou ritos religiosos que não consegue ver ou conhecer coisa alguma a não ser pela interposição desse meio artificial. Sua situação é a mesma tanto na esfera teórica como na prática. Mesmo nesta, o homem não vive em um mundo de fatos nus e crus, ou segundo suas necessidades e desejos imediatos. Vive antes em meio a emoções imaginárias, em esperanças e temores, ilusões e desilusões em suas fantasias e sonhos.

Gil Filho (2008, p. 47) corrobora com este pensamento ao expor que: O fato de que os sistemas simbólicos derivam, entre outras coisas, de sua estrutura da aplicação sistemática de um mesmo princípio de classificação repercute em uma organização do mundo social e natural de modo dual, com opostos em que impera a lógica da inclusão e da exclusão, a associação e a dissociação, a integração e a distinção. Nesta referência estrutural-funcionalista, as funções sociais passam a ter um caráter político, pois promovem uma ruptura no ordenamento amplo e socialmente indiferenciado do mundo, promovido pelo mito. Sendo assim, as funções socialmente diferenciadas de distinção social e legitimação são ocultadas quando a religião se encontra ideológica e politicamente manipulada.

A abordagem feita pelos autores citados acima fica clara na realidade do Contestado. Numa peça teatral3 apresentada na Cidade de Salto Veloso, ficou

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A peça apresentada pelos atores da cidade de Salto Veloso (SC) mostra de forma lúdica o que foi a Guerra do Contestado. O espetáculo trata dos personagens e do contexto político em que a guerra se passa. A formação inicial dos atores evoca a profecia do monge José Maria antes do confronto de Irani. O teatro ainda retrata os seguintes personagens: O Trem-boi, que evoca a construção da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande que atravessou os estados do Paraná e Santa Catarina. O Americano, representando o empresário americano Percival Farquhar, dono da empresa construtora da estrada de

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evidenciado como a religiosidade fazia parte do cotidiano dos caboclos e era um fator de motivação para a guerra contra os fazendeiros e o Exército brasileiro. Os monges tinham a confiança dos sertanejos. A população recebia um alento destes profetas, pois, segundo relatos, estes eram instrumentos divinos de cura, aconselhamento, orientação e outros. A forma usada pelos monges eram as pregações e as visitas, esperadas com grande fervor espiritual pelos caboclos. Acompanhados pelas virgens – geralmente meninas que tinham a capacidade de “ouvir” as ordens dadas pelos monges e que se tornaram conselheiras espirituais dos redutos, realizavam batismos, benziam e mantinham proximidade com o povo do sertão. Além disso tinham um grande conhecimento das ervas e plantas, com as quais curavam as pessoas. Também utilizavam vinte e quatro cavaleiros que formavam uma espécie de “elite” dos guerreiros do reduto, com funções inclusive nas cerimônias religiosas (O EXÉRCITO ENCANTADO DE SÃO SEBASTIÃO, 2009). Dessa forma, acontecia também um conflito com o catolicismo oficial romano4, que na época era visto com certa desconfiança pelos sertanejos, devido à forma capitalista5 que utilizavam para atender as necessidades do povo, o que matinha ligação direta com os motivos pelos quais os caboclos estavam sendo atacados pelos interesses imperiais. Apesar disso, o ferro e também dono do gigantesco complexo de serrarias que destruiu a vegetação nativa da região, situada em terras controladas por sua empresa. O Coronel, representação da organização social da região. O sistema do coronelismo, situação em que o grande latifundiário, detentor das terras e de poder político e econômico, controla a economia da região apenas em beneficio. O Caboclo, que representa a população original da região, pequeno produtor, extrator de erva mate e que vivia na região há mais de um século, resultado da mistura de índios, espanhóis, portugueses e negros. O Monge ou Zé Maria, personagem que existia no imaginário popular dos sertanejos, uma espécie líder espiritual. O Soldado, que representava os tenentes, coronéis e soldados e todas as forças oficiais que combateram na Guerra do Contestado. A Virgem ao Maria Rosa, figura que aparece com Zé Maria que se cercava de “virgens” para realizar seu trabalho. Adeodato representa o guerreiro caboclo, o comandante das táticas de combate dos redutos. O Cavaleiro, representando os Doze Pares da França, guerreiros nomeados por Zé Maria para proteger os redutos dos fanáticos (O EXÉRCITO ENCANTADO DE SÃO SEBASTIÃO, 2009). . 4 A Igreja Católica se faz presente na região tardiamente. A ordem dos franciscanos vida da Alemanha chega no final Século XIX. O termo catolicismo oficial romano e designado a todos aqueles que estão em comunhão com o Papa e a Igreja de São Pedro no Vaticano. Suas principais características são a aceitação aos dogmas e a obediência a Hierarquia existente no catolicismo (Papa, bispos e padres). 5

Os padres cobravam pela realização de batizados, casamentos e missas.

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catolicismo romano e os seus dogmas tinham aceitação. No entanto, o povo tinha uma presença mais forte dos monges, o que fundamenta a confiança de que eles eram homens que detinham poderes sobrenaturais, e dessa forma, eram mais influentes que os sacerdotes católicos. Turismo Religioso O turismo religioso consiste na prática de questões inerentes à fé a visitação a lugares ditos sagrados. Em vários lugares no mundo essa prática turística é bastante comum e já se encontra no contexto social e econômico. Diversos são os lugares com esta vocação turística, citamos Jerusalém em Israel, a cidade recebe milhares de peregrinos de toda doutrina cristã para obtenção de ensinamentos deixados por Jesus, além de ensinamentos religiosos como o judaísmo e o islamismo. Fagundes (2010) nos coloca que a busca pelo sagrado, pelo alento e por milagres, manifestada nas peregrinações e romarias, por meio de celebrações, atos penitenciais e pela devoção, continua bem enraizada em milhares de pessoas. Destaca que a visitação em locais onde a natureza torna-se um verdadeiro santuário inspira reflexão, meditações levado o individuo a estabelecer contato com o sobrenatural e com a prática de sessões esotéricas, como o movimento new age, em que também a experiência é essencialmente religiosa. Andrade (1998, p. 77) afirma que turismo religioso é um conjunto de atividades com utilização parcial ou total de equipamentos e a realização de visitas a receptivos que expressam sentimentos místicos ou suscitam a fé, a esperança e a caridade aos crentes ou pessoas vinculadas às religiões. Já Oliveira (2000) e Beltrão (2001) corroboram ao destacar que o turismo religioso é praticado por pessoas interessadas em visitar locais sagrados. É importante destacar que o de turismo que mais cresce é o religioso, segundo Andrade (1998) porque além do aspectos místicos e dogmáticos, as religiões assumem o papel de agentes culturais pelas manifestações de proteção a valores antigos, de intervenção na sociedade atual e de preservação no que diz respeito dos indivíduos e das sociedades. Para Silveira (2007) o turismo religioso ocorre quando o lazer, a

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festividade e o consumismo transcendem o sagrado, a espiritualidade. É a junção de elementos como a cultura popular, a urbana e a religiosidade. Espaços Sagrados no Contestado Capela do Monge João Maria na comunidade de Tira Fogo – Bela Vista do Toldo. A Capela se encontra localizada na comunidade de Tira-Fogo e vem sendo mantida pela comunidade, permanecendo sempre aberta à visitação, como relata Edite Schimborski; a capelinha começou com apenas duas imagens de Santos, e cada vez que Edite visita a mesma, a comunidade tem depositado, lá, uma nova imagem de Santo, ampliando o acervo da referida capela. Todos os anos, no dia 03 de maio, Dia de Santa Cruz, a comunidade reúne-se na capela para fazer as suas preces ao Monge João Maria. Sabe-se que o Monge João Maria6 recusava a hospedagem oferecida pelos moradores e buscava sempre abrigar-se em grutas próximas às fontes de água, onde pernoitava e colocava uma Cruz em cedro, local que mais tarde viria a se tornar um lugar sagrado, como muitos que se encontram pelo sul do Brasil, conforme se verifica nas figuras 10 e 11. No caso da Capelinha da comunidade de Tira Fogo, a cruz em cedro encontra-se dentro da capela e a fonte de água a 100 metros da mesma, um fato diferente, se comparado com outros locais santos deixados pelo Monge.

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Os responsáveis pela caracterização messiânica do movimento rebelde no Contestado foram os ‘monges’ tendo sido eles dois ou mais, conhecidos genericamente por João Maria, que desde 1840 até por volta de 1908 deixaram sagrados registros em todo o Sul do Brasil. Eremitas, profetas, curandeiros, charlatões, santos pregadores, apóstolos, conselheiros – assim eram tidos esses homens que peregrinavam pelos sertões catarinenses, curando doenças, exercendo apostolado, fazendo profecias, levantando cruzes. (SANTA CATARINA, 2002, p. 126)

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FIGURA 03: INTERIOR DA CAPELA DO MONGE JOÃO MARIA. FIGURA 04: VISTA DA CAPELINHA DO MONGE JOÃO MARIA. FONTE: ACERVO DOS AUTORES, 2010.

Grutinha Santa Emídia – grutinha do monge – Bela Vista Toldo, SC Gruta Santa Emídia ou Grutinha do Monge, localizada na comunidade de Vila Cecília e de propriedade de Maria Tereza Wagner Pereira. Sabe-se que muitas pessoas acreditam que a gruta foi parada do Profeta João Maria, e como prova de fé ao Monge realizam batizados e levam oferendas para agradecer as graças recebidas (FIGURA 05).

FIGURA 05: GRUTA SANTA EMÍDIA OU GRUTINHA DO MONGE FONTE: ACERVO DOS AUTORES, 2012.

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Cruz do Monge João Maria na comunidade de Ouro Verde - Bela Vista do Toldo, SC Localizada na beira da estrada que corta Ouro Verde, a Cruz, segundo os moradores, foi colocada pelo Monge em um de seus pernoites em Bela Vista do Toldo. A original é a que está pregada na árvore, conforme verifica-se na figura 14. Ao lado da árvore, com a Cruz original, a comunidade construiu uma nova cruz e uma local para os devotos acenderem suas velas e “pagar” suas promessas pelas graças alcançadas por intermédio de São João Maria.

FIGURA 06: CRUZ DO MONGE NA COMUNIDADE OURO VERDE. FONTE: ACERVO DOS AUTORES, 2010.

Gruta do Monge João Maria na comunidade Serra dos Borges – Bela Vista do Toldo, SC

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A gruta do Monge localiza-se na comunidade de Serra dos Borges; é um local de peregrinação e oração, e sabe-se que a população utiliza a água que brota na gruta para realizar batizados e curas. Acredita-se que a água que brota na gruta possui poderes de cura, fato que atrai a população, segundo a Srª Livina Borges. Antigamente, a população retirava o barro amarelo que escorria na parte superior da gruta para passar em feridas, pois o mesmo possuía poder de cura. A paisagem onde está à gruta é bastante atraente e, no local, há muitos ex-votos deixados pelos fiéis, conforme se observa nas figuras 07 e 08.

FIGURA 07: GRUTA DO MONGE NA COMUNIDADE DE SERRA DOS BORGES. FIGURA 08: EX-VOTOS DEIXADOS NO INTERIOR DA GRUTA. FONTE: ACERVO DOS AUTORES, 2010 Igreja do Monge João Maria – Major Vieira, SC Capela localizada na Campina dos Santos na área rural no município de Major Vieira, SC, segundo relatos a igreja possui mais de 100 anos. O local também serviu de abrigo para o profeta João Maria. CAD. Est. Pes. Tur.

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FIGURA 09: CAPELA DO MONGE JOÃO MARIA EM MAJOR VIEIRA, SC. FIGURA 10: PARTE INTERNA DA IGREJA . FONTE: ACERVO DOS AUTORES, 2012

Grutinha Santa Emídia – Grutinha do Monge – Três Barras, SC A Gruta leva este nome em homenagem a Inha Jacinta (curandeira, parteira e benzedeira), que morava neste local. Abrigou o Profeta São João Maria de Agostinho, quando este passou pela região, deixando as suas profecias. O local é considerado sagrado pelos fiéis e profeta.

FIGURA 11 E 12: GRUTA SANTA EMÍDIA. FONTE: ACERVO DOS AUTORES, 2012 Parque no Monge João Maria em Porto União (SC)

A denominação está ligada à figura do Monge João Maria que, em uma de suas peregrinações pela região, aconselhou a construir uma cruz no ponto mais alto da cidade. Diversas lendas e misticismo das duas cidades estão CAD. Est. Pes. Tur.

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ligadas a este lugar e ao monge. Localiza-se, em pleno centro da área urbana da Cidade de Porto União, uma reserva florestal natural, onde encontra-se o Parque Monge João Maria e 3 grutas as quais, muitos acreditam tenham sido escavadas por indígenas pré-cambrianos e que devido à visão que se tem do Rio Iguaçu, as grutas teriam servido de ponto de observação estratégica de tudo que chegasse pelo rio. Por este motivo teriam servido também aos interesses dos caboclos do Contestado.(SETUR – PORTO UNIÃO)

FIGURA 13: PARQUE NO MONGE JOÃO MARIA EM PORTO UNIÃO , SC FONTE: ACERVO DOS AUTORES, 2010

Considerações O presente trabalho é resultado das investigações iniciais realizadas por meio trabalhos de campo em alguns municípios do Planalto Norte Catarinense. Buscando desvendar e analisar os espaços sagrados deixados pela passagem do Monge João Maria de Jesus pela região do planalto norte catarinense. É importante destacar que estA pesquisa faz parte de uma análise inicial dos

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Espaços Sagrados deixados pelo Monge João Maria. Os locais citados possuem vocação para o turismo religioso, porém é necessário maiores investimentos do poder público e privado, não só com o objetivo de obter lucros, mais sim de preservar a identidade e o patrimônio local. Referenciais AFONSO, Eduardo José. O Contestado. São Paulo: Ática, 1994. ANDRADE, J. V. Turismo Fundamentos e dimensões. São Paulo: Editora Ática, 2000. BELTRÃO, O. di. Turismo: a indústria do século XXI. Osasco: Editora Novo Século, 2001. CABRAL,Oswaldo R. João Maria – Interpretação da Campanha do Contestado. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1960. FRAGA, N. C. Contestado, o território silenciado. Florianópolis: Insular, 2009. GIL FILHO, Fausto Sylvio Fausto. Espaço sagrado: estudos em geografia da religião. Curitiba: Ed. IBPEX, 2008. OLIVEIRA, A. P. Turismo e desenvolvimento: Planejamento e organização. 2º ed. São Paulo: Atlas, 2000. PAUWELS apud QUEIROZ, Maurício Vinhas de. Messianismo e Conflito Social – A Guerra Sertaneja do Contestado: 1912/1916. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 49. SILVEIRA, E. J. S. Turismo Religioso no Brasil: uma perspectiva local e global. Turismo em Análise, São Paulo, v. 18 nº 1 p. 31-51, maio de 2007. THOMÉ, Nilson. Sangue, Suor e Lágrimas no Chão Contestado. Caçador: UnC, 1992.

Recebido: 04/07/2012 Received: 07/04/2012 Aprovado: 18/07/2012 Approved: 07/18/2012

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