ESPECTRALIDADE E RESPONSABILIDADE EM JACQUES DERRIDA

May 26, 2017 | Autor: Marco Scapini | Categoria: Jacques Derrida, Desconstrução, Espectralidade
Share Embed


Descrição do Produto

ESPECTRALIDADE E RESPONSABILIDADE EM JACQUES DERRIDA

Marco Antonio de Abreu Scapini1

“Espero tudo de um acontecimento que sou incapaz de antecipar. Por mais longe que vá meu saber e interminável que seja meu cálculo, não vejo outra saída que não a catastrófica2”. (JACQUES DERRIDA)

RESUMO No livro Espectros de Marx, Jacques Derrida aborda questões éticas e políticas, em certo sentido contemporâneas, desde a obra de Marx. Em certo sentido, pois, está em questão o próprio sentido de contemporaneidade, ou seja, aquilo que nos permite dizer “o nosso tempo”. Há uma perturbação que desarticula e desloca o tempo presente, fazendo uma espécie de disjunção do tempo. Tal perturbação provém de uma coisa que Derrida denomina como fantasma, cuja presença não é possível identificar ou garantir. Isto porque, esta fantasmagoria, por sua anacronia própria, não se deixa presentificar por qualquer formulação teórica. Trata-se de sua irredutibilidade para além de qualquer pretensão de controle, escapando inclusive do jogo dialético. O tempo está, portanto, out of joint. Sem negar a possibilidade do mal, Derrida questiona se não é justamente esta disjunção a possibilidade da justiça. Em outras palavras, se não é justamente esta infinita dissimetria com o outro a possibilidade da justiça. A justiça, aqui, assume um sentido incalculável para além de lógica jurídica de direito. É preciso, portanto, aprender a viver com os fantasmas, a viver de outra maneira com estes outros não presentes. Sem esta espectralidade não há a possibilidade de nenhuma ética e de nenhuma política. Na proposição derridiana, não há justiça possível ou mesmo pensável sem um princípio de responsabilidade que esteja para além de qualquer presente vivo. O presente texto pretende abordar estas dimensões espectrais, desdobrando as vias abertas pela disjunção do tempo como a própria possibilidade do porvir.

1

Doutorando em Filosofia na PUCRS. Mestre em Ciências Criminais pela PUCRS. Especialista em Ciências Penais pela PUCRS. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela PUCRS. Bolsista CNPq. 2 DERRIDA, Jacques. O cartão-postal: de Sócrates a Freud e além. Trad. Simone Perelson e Ana Valéria Lessa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 57.

(***)

A relação entre espectralidade e responsabilidade no pensamento de Jacques Derrida é o assunto do presente texto, sobretudo a partir da referência do texto de “Espectros de Marx”, em que o autor aborda questões fundamentais no que diz respeito à ética e à política. Tal relação é marcada pela dissimetria própria do tempo do acontecimento da relação propriamente dita, de modo que coloca em questão a possibilidade de se dizer o “nosso tempo”, ou seja, perturbando também a nossa compressão sobre que significa contemporaneidade. Tal perturbação provém de uma coisa (chose) que Derrida denomina como fantasma, cuja presença não é possível identificar ou garantir. Isto porque, esta fantasmagoria, por sua anacronia própria, não se deixa presentificar por qualquer formulação teórica. Trata-se, assim, de sua irredutibilidade para além de qualquer pretensão de controle ou domínio, escapando inclusive do jogo dialético. Nesse sentido, não há qualquer possibilidade de previsão, expressando-se como acontecimento para além de toda calculabilidade. O fantasma nos chega como catástrofe. Para Arthur Nestrovski e Márcio Seligmann-Silva:

A palavra “catástrofe” vem do grego e significa, literalmente, “virada para baixo” (kata + strophé). Outra tradução possível é “desabamento” ou “desastre”; ou mesmo o hebraico Shoah, especialmente apto no contexto. A catástrofe é, por definição, um evento que provoca um trauma, outra palavra grega que quer dizer “ferimento”. “Trauma” deriva de uma raiz indo-européia com dois sentidos: “friccionar”, triturar, perfurar”; mas também “suplantar”, “passar através”. Nesta contradição – uma coisa que tritura, perfura, mas que, ao mesmo tempo, é o que nos faz suplantá-la, já se revela, mais uma vez, o paradoxo da experiência catastrófica, que por isso mesmo não se deixa apanhar por formas simples de narrativa.3

Esta multiplicidade da palavra catástrofe, bem como de sua derivação trauma já nos indica a experiência aporética do evento catastrófico. Ao mesmo tempo nos perfura e nos faz suplantar. E aqui é preciso ressaltar a importância do suplemento ou da suplementariedade no

3

NESTROVSKI, Arthur; SELIGMANN-SILVA, Márcio. Catástrofe e representação. Arthur Nestrovoski e Márcio Seligmann-Silva (Orgs.). São Paulo: Escuta, 2000, p. 8.

pensamento de Derrida como exemplifica A farmácia de Platão4. É possível dizer que o próprio espectro seja uma espécie de suplemento ao texto, à escritura e à visibilidade. Nesse sentido, Derrida se questiona e afirma o seguinte: O que é um espectro? O que quer dizer isso, um espectro? Primeiramente, é algo entre a vida e a morte, nem vivo nem morto. O que é vivo hoje, qual é a diferença entre a vida entre vivo e morto no tempo da bioengenharia... A questão dos espectros é, portanto, a questão da vida, do limite entre o vivo e o morto, em toda a parte onde ele se coloca5.

Assim, considerando que a questão dos espectros é também a questão da vida, deste limite entre o vivo e o morto, então tal questão diz respeito à experiência do viver propriamente dito e, ainda, a experiência do próprio pensamento. Isto porque os espectros nos chamam a responder às questões que já não são nossas. Tal chamado é o que acaba por movimentar o que se chama desconstrução, apesar da impossibilidade de demarcar o seu significado. Ao se questionar sobre o que é esse chamado, Derrida responde:

Não sei. Se soubesse, nada jamais aconteceria. O fato é que, para aquilo que convenientemente chamamos desconstrução se pôr em movimento, esse chamado é necessário. Ele diz “vem”, mas vir aonde eu não sei. Isso não quer simplesmente dizer que eu seja ignorante; o chamado é heterogêneo ao conhecimento. Para que esse chamado exista, a ordem do conhecimento precisa ser fendida. Se podemos identificar, objetificar, reconhecer o lugar, a partir desse momento não há chamado. Para que haja chamado, e para que a beleza de que falávamos antes exista, as ordens de determinação e de conhecimento precisam ser excedidas. É em relação ao não conhecimento que o chamado é feito. Portanto, eu não tenho uma resposta. (...) Esse não conhecimento é a condição necessária para alguma coisa acontecer, para que a responsabilidade seja assumida, para que uma decisão seja tomada, para que um acontecimento ocorra6.

A heterogeneidade do chamado em relação ao pensamento é a condição, pois, do acontecimento. Além disso, é preciso que o conhecimento seja fissurado para que o chamado possa existir e, nesse sentido, nos fazer ir aonde não é possível prever, como se estivéssemos em meio à travessia de um deserto, sem margens e sem caminhos traçados. Esta heterogeneidade deve implicar numa dissimetria excessiva em relação às possibilidades do 4

Cf. DERRIDA, Jacques. A farmácia de Platão. Trad. Rogério Costa. São Paulo: Iluminuras, 2005. DERRIDA, Jacques. Pensar em não ver: escritos sobre as artes do visível. Ginette Michaud, Joana Masó, Javier Bassas (orgs.). Trad. João Camilo Penna. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2012, p. 426. 6 DERRIDA, Jacques. Pensar em não ver: escritos sobre as artes do visível. Ginette Michaud, Joana Masó, Javier Bassas (orgs.). Trad. João Camilo Penna. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2012, p. 52. 5

aqui e agora do conhecimento. É por isso que a dimensão do não conhecimento é fundamental para que algo possa acontecer e, sobretudo, para que uma responsabilidade possa ser assumida e uma decisão possa ser tomada. Ressaltando a dimensão aporética de toda responsabilidade digna deste nome, bem como de toda a decisão, na medida em que para Derrida “o indecidível permanece preso, alojado, ao menos como um fantasma, mas um fantasma essencial em qualquer decisão, em qualquer acontecimento de decisão”7. Isto porque, esta fantasmagoria do indecidível é o que irá romper com os limites do saber, ou seja do conhecimento, abrindo a fenda necessária para que, além de possibilitar a própria decisão, algo aconteça. Algo absolutamente novo, uma espécie de unheimlich que expressa o rastro do por vir. As aporias próprias da decisão e da responsabilidade, em que pese a aparência, não são obstáculos à desconstrução, mas sim a sua condição, razão pela qual, segundo Derrida, “a desconstrução é a anacronia na sincronia”8. A breve travessia realizada até o momento já permite perceber a relação indissociável entre a responsabilidade e a espectralidade. Sendo a questão do espectro uma questão do viver propriamente dito, não seria possível aprender a viver sem saber se relacionar com os espectros que nos assombram a cada instante, a cada vez em que é preciso decidir. No começo de “Espectros de Marx” Derrida sugere o desejo de querer aprender a viver por fim. Em que condições seria possível aprender a viver? Quem aprenderia? É possível aprender e ensinar a viver? Viver não seria a experiência mesma? Estas são questões suscitadas de algum modo no início da obra9. Para Derrida:

El aprender a vivir, se es que queda por hacer, es algo que no pueda suceder sino entre vida y muerte. Ni en la vida ni en la muerte solas. Lo que sucede entre dos, entre todos los dos que se quiera, como entre vida y muerte, siempre precisa, para mantenerse, de la intervención de algun fantasma10.

Deste modo, se for possível aprender a viver, algo que, por definição não se aprende, isso deve se dar entre a vida e a morte. Não somente na vida, nem apenas na morte. É entre

7

DERRIDA, Jacques. Força de Lei: o fundamento místico da autoridade. Trad. Leyla Perrone-Moysés. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p.. 48. 8 DERRIDA, Jacques. Tenho o gosto do segredo. In: O gosto do segredo. Trad. Miguel Serras Pereira. Lisboa: Fim de Século Edições, 2006. p. 138. 9 Cf. DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx: el estado de la deuda, el trabajo del duelo y la nueva internacional. Trad. José Miguel Alarcón y Cristina de Peretti. Madrid: Editora Nacional. 2002. 10 DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx: el estado de la deuda, el trabajo del duelo y la nueva internacional. Trad. José Miguel Alarcón y Cristina de Peretti. Madrid: Editora Nacional. 2002, p. 10.

estas duas dimensões que será, talvez, possível aprender a viver. Isto porque o fantasma torna indecidível a diferença entre o real e o ficcional. O que é designado pela palavra grega phantasma11. A intervenção do fantasma, portanto, se dá desde a nossa mais remota memória cultural por assim dizer. Nesse sentido, mesmo na impossibilidade de se aprender a viver, Derrida reconhece que nada é mais necessário do que esta sabedoria, sendo nas palavras do filósofo “a ética mesma”12. Trata-se de uma exigência impossível a de aprender a viver, sobretudo porque não é possível esperar precisamente a intervenção fantasmática, o seu chamado jamais é anunciado ou localizado como tal. Vem de algum lugar, um outro lugar. Esta intervenção fantasmática, portanto, nos chega silenciosamente guardando o segredo do excesso que desajusta e perturba aquilo que de algum modo tentamos definir como “o nosso tempo”. Mas é desde esta intervenção, pela disjunção que irrompe no presente, no aqui agora, é que se abre a possibilidade do por vir que, em outras palavras, significa a possibilidade da justiça. É nesse sentido que Derrida defende a necessidade de se falar dos e com os fantasmas. Nas palavras do autor:

Hay que hablar del fantasma, incluso al fantasma y con el, desde el momento en que ninguna ética, ninguna política, revolucionaria o no, parece posible, ni pensable, ni justa, si no reconoce como su principio el respecto por esos otros que no son ya o por esos otros que no están todavía, ahí, presentemente vivos, tanto si han muerto , tanto si han muerto ya, como si todavía no han nacido. Ninguna justicia –no digamos ya ninguna lei, y esta vez tampoco aquí del derecho – parece posible o pensable sin un principio de responsabilidad, mas allá de todo presente vivo, en aquello que desquicia el presente vivo, ante los fantasmas de los que aún no han nacido o de los que han muerto ya.13

A fantasmaticidade determina a necessidade de um princípio de responsabilidade que leve em conta o respeito por todos que não estão aí presentes. Trata-se, pois, de uma questão geracional. O que faz de toda herança algo fantasmático. Este princípio de responsabilidade para além de toda a presença é a condição da possibilidade da justiça. Algo para além de toda a calculabilidade. O excesso dessa dissimetria que implica o chamado ou a chegada dos 11

DERRIDA, Jacques. Pensar em não ver: escritos sobre as artes do visível. Ginette Michaud, Joana Masó, Javier Bassas (orgs.). Trad. João Camilo Penna. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2012, p. 427. 12 DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx: el estado de la deuda, el trabajo del duelo y la nueva internacional. Trad. José Miguel Alarcón y Cristina de Peretti. Madrid: Editora Nacional. 2002, p. 10. 13 DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx: el estado de la deuda, el trabajo del duelo y la nueva internacional. Trad. José Miguel Alarcón y Cristina de Peretti. Madrid: Editora Nacional. 2002, p. 11.

espectros impõe que a responsabilidade por estes outros seja sem limites, algo semelhante ao que significa uma hospitalidade incondicional. Os espectros nos perturbam permanentemente, a cada vez, impedindo o repouso de uma boa consciência. É por isso que se trata aqui de uma responsabilidade sem limites, de modo que Derrida afirma “sans limite, bien sûr, car la conscience d'une responsabilité limitée est une « bonne conscience»14. Nesse sentido, a perturbação espectral é notadamente anterior a toda e qualquer tomada de consciência, sobretudo de uma consciência que pretenda regular esta dimensão fantasmática destes outros. A boa consciência, na esteira do que referiu Derrida, significaria a tentativa de neutralização desta perturbação fantasmática, o que acabaria por obliterar a possibilidade da ética, da política e de qualquer sentido de justiça. Os fantasmas apelam por um princípio de responsabilidade que vá para além de todo o presente vivo, ou seja, para algo que desestabiliza o tempo presente e que responda pelo que não está aí - hoje. Somente este princípio de responsabilidade poderá nos trazer alguma justiça, ou ao menos, qualquer ideia pensável de justiça. E por este motivo, este que nos apela, que nos perturba, que nos chama, vem de um outro lugar, o que significa que advém de um outro tempo. Ou seja, como adverte Derrida “proviene del porvenir”15.

O por vir não

significa e não pode ser confundido com o futuro. O espectro, mesmo em sua condição fundamental de anterioridade ao ser e à consciência, não provém de um amanhã calculável. A disjunção própria do espectro o torna ilocalizável, o que faz do fantasma um excesso em relação a todo ser e a toda presença. Além disso, por sua condição excessiva, poderá advir como experiência de um passado, ou seja, como um passado por vir. Assim, ante a responsabilidade sem limites como princípio, a intervenção fantasmática poderá significar a possibilidade da justiça, cujo sentido não é limitável, pois seu conteúdo mais próprio é exceder a todo e qualquer presente (out of joint). Trata-se de uma justiça que conduz para além da vida, o que não significa para a morte, mas para uma sobre-vida. Aqui, a justiça assume a sua configuração mais fundamental, ou seja, não ser outra coisa senão a relação com o outro. O que faz dela algo para além do direito, bem como de toda juridicidade, de toda moral ou de todo e qualquer moralismo. A partir dessa relação, por sua excessividade irredutível, é que se instaura uma anacronia no tempo mesmo. Ou seja,

14

DERRIDA, Jacques. Du droit à la philosophie. Paris: Galilée, 1990, p. 108. DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx: el estado de la deuda, el trabajo del duelo y la nueva internacional. Trad. José Miguel Alarcón y Cristina de Peretti. Madrid: Editora Nacional. 2002, p. 12. 15

instaura-se uma disjunção (out of joint) no ser e no tempo, abrindo-se à possibilidade do acontecimento propriamente dito. Além disso, a anacronia e a disjunção do tempo possibilitam a relação da própria desconstrução com a justiça. A desconstrução deve (sem dívida nem dever), nas palavras de Derrida: Entregar-se a la singularidad del otro, a su precedencia o a su solícita proveniencia absolutas, a la heterogeneidad de un pre- que significa, sin duda, lo que viene antes que yo, antes que todo presente, por tanto, antes que todo presente pasado, pero también aquello, por eso mismo, viene del porvenir o como porvernir: como la vinda mismo del acontecimiento16.

Assim, percebemos que a relação com o outro se dá desde a precedência e da proveniência absolutas deste outro absolutamente singular. Entregar-se, nesse sentido, significa abrir-se à possibilidade do por vir, ou seja, de um outro tempo. Há sempre um pré anterior a todo o presente que nos vem do por vir ou como por vir. O que nos faz sempre mais de um. A vinda mesma do acontecimento pode se dar na abertura do tempo, no intervalo entre tempos a partir da necessária disjunção, que para Derrida é “a condición destotalizante de la justicia”17.

Nesse sentido, é que se anuncia a descontrução como pensamento da

indesconstruível justiça, que faz dela mesma algo em permanente desconstrução. Do contrário, segundo Derrida: Perdería la oportunidad del porvenir, de la promesa o de la llamada, del deseo también (es decir, su propia ), de ese mesianismo desértico (sin contenido ni mesías identificables) de ese desierto abisal también, , del que hablaremos más adelante, , un desierto que hace señas hacia el otro, desierto abisal y caótico, si es que el caos describe antes que nada la imensidad, la desmesura, la desproporción de una boca abierta de par en par – en la espera o en la llamada de lo que denominamos aquí, sin saber , lo mesiánico: la vinda del otro, la sigularidad absoluta e inanticipable del y de lo arribante como justicia18.

16

DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx: el estado de la deuda, el trabajo del duelo y la nueva internacional. Trad. José Miguel Alarcón y Cristina de Peretti. Madrid: Editora Nacional. 2002, p. 49. 17 DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx: el estado de la deuda, el trabajo del duelo y la nueva internacional. Trad. José Miguel Alarcón y Cristina de Peretti. Madrid: Editora Nacional. 2002, p. 49. 18 DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx: el estado de la deuda, el trabajo del duelo y la nueva internacional. Trad. José Miguel Alarcón y Cristina de Peretti. Madrid: Editora Nacional. 2002, p. 49.

Deste modo, não fosse esta condição destotalizante da justiça, ou seja, a disjunção (out of joint), não haveria a oportunidade do por vir e da promessa. A desmesura como deserto abissal e caótico, supondo que tais palavras descrevam o sentido desta imensidade, significa a oportunidade de chegada do outro. Trata-se, pois, de um messianismo desértico, absolutamente indecifrável, que chega como justiça. Aqui, assume-se todo o risco possível desta abertura, inclusive do mal. Para Derrida “estar out of joint –sea ello ahí el ser o el tiempo presentes, es algo que puede hacer daño o hacer el mal – es sin duda la posibilidad misma de mal”19. Tal possibilidade é a condição de toda a decisão e, nesse sentido, da própria responsabilidade. É preciso, pois, assumir todo o risco. Pensar a responsabilidade sem limites significa pensar a vida em seu sentido mais radical, pois quer dizer, pensar para além de todo o presente. Significa ainda decidir sobre estes que nos antecederam, ou seja, decidir sobre a herança recebida. Para Derrida “no hay herança sin llamada a responsabilidad”20. É a herança que nos constitui como mais de um, e sem a qual não seria possível dar um passo adiante para além do presente. O espectro, nesse sentido, é sempre o por vir.

19

DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx: el estado de la deuda, el trabajo del duelo y la nueva internacional. Trad. José Miguel Alarcón y Cristina de Peretti. Madrid: Editora Nacional. 2002, p. 50. 20 DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx: el estado de la deuda, el trabajo del duelo y la nueva internacional. Trad. José Miguel Alarcón y Cristina de Peretti. Madrid: Editora Nacional. 2002, p. 134.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DERRIDA, Jacques. . A farmácia de Platão. Trad. Rogério Costa. São Paulo: Iluminuras, 2005; _______; Du droit à la philosophie. Paris: Galilée, 1990; _______; Espectros de Marx: el estado de la deuda, el trabajo del duelo y la nueva internacional. Trad. José Miguel Alarcón y Cristina de Peretti. Madrid: Editora Nacional. 2002; _______; Força de Lei: o fundamento místico da autoridade. Trad. Leyla Perrone-Moysés. São Paulo: Martins Fontes, 2007; _______; Pensar em não ver: escritos sobre as artes do visível. Ginette Michaud, Joana Masó, Javier Bassas (orgs.). Trad. João Camilo Penna. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2012; _______; Tenho o gosto do segredo. In: O gosto do segredo. Trad. Miguel Serras Pereira. Lisboa: Fim de Século Edições, 2006 ; _______; NESTROVSKI, Arthur; SELIGMANN-SILVA, Márcio. Catástrofe e representação. Arthur Nestrovoski e Márcio Seligmann-Silva (Orgs.). São Paulo: Escuta, 2000.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.