Espondilartropatia em Tomar medieval/moderno

November 22, 2017 | Autor: Ana Curto | Categoria: Paleopathology, Spondyloarthropathies
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Espondilartropatia em Tomar medieval/moderno André Farinho1, Ana Curto1*, Teresa Fernandes1,2 1Laboratório

de Antropologia Biológica, Universidade de Évora

2CIAS

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Resumo O indivíduo em estudo (SMOL-388) provem da necrópole medieval/moderna de Santa Maria do Olival (Tomar) e foi diagnosticado como sendo um adulto do sexo masculino. As lesões neste indivíduo encontram-se na coluna vertebral, que apresenta fusão intra-articular das apófises articulares vertebrais e fusão costo-vertebral. Observa-se também calcificação e ossificação nos locais tendinosos das vértebras e erosão na articulação sacroilíaca. A extensão da anquilose vertebral terá conduzido a uma movimentação reduzida.

Palavras chave

(C)

Espondilartropatias, anquilose, ossificação, Tomar.

Introdução As espondilartropatias são um grupo de patologias que têm em comum várias características. A etiologia deste grupo de patologias é complexa e envolve tanto fatores genéticos como imunológicos e ambientais, havendo um forte envolvimento do complexo principal de histocompatibilidade humano (MHC), nomeadamente na expressão do gene HLA-B27 (Male et al., 2006). Estas patologias resultam num distúrbio inflamatório progressivo que pode conduzir à calcificação do tecido conectivo que envolve a coluna vertebral e outras articulações, principalmente a sacro-ilíaca e articulações periféricas (Aufderheide e Rodríguez-Martín, 1998).

Material e métodos O indivíduo em estudo (SMOL-388) provém da necrópole medieval/moderna de Santa Maria do Olival (Tomar), da qual se exumou um número mínimo de 6792 indivíduos, numa área de aproximadamente 6500m2. O esqueleto encontravase bem preservado possibilitando não só a diagnose sexual como estimar um intervalo etário de idade à morte.

Resultados e discussão O indivíduo em estudo foi diagnosticado como sendo um adulto entre 30 a 46 anos de idade (Brooks e Suchey, 1990) e do sexo masculino (Bruzek, 2002). As lesões neste indivíduo encontram-se principalmente na coluna vertebral, que apresenta: • fusão intra-articular das apófises articulares vertebrais da T2 à L5, não havendo vértebras intercalares sem lesão; • fusão costo-vertebral da T4 à T12 no lado esquerdo e da T4 à T9 do lado direito. Neste lado, a T10, T11 e T12 apesar de não se apresentarem fundidas, manifestam erosão nas facetas costo-vertebrais; • calcificação e ossificação nos locais tendinosos das vértebras, que incluem a presença de sindesmófitos na zona posterior dos corpos (L5-T12; T11-T10); • curvatura postero-anterior e, na zona proximal abdução para o lado direito, podendo estas alterações na coluna estar relacionadas com as anquiloses acima referidas; • erosão simétrica na articulação sacro-ilíaca e na margem inferior do corpo vertebral da L5. Embora a formação de osso novo nas vértebras estar muito relacionada com o avançar da idade, calcificações generalizadas resultando em anquilose não são características de simples alterações degenerativas, o que sugere a presença de outras patologias. Este indivíduo não apresenta artrose nos restantes ossos (os únicos não observáveis são a patela direita e o sacro) o que reforça a hipótese de não se tratar de processos degenerativos relacionados apenas com a idade e/ou atividade física. Também não se observou patologia degenerativa não articular facilmente distinguível, com exceção do tendão de Aquiles em ambos os calcâneos e na inserção da porção reto femoral do tendão do quadríceps da patela esquerda, para os quais se registou alteração de entese de grau 3 (Crubézy, 1988).

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(B) Figura 1. Coluna vertebral. (A) Vista dorsal. (B) Vista do lado direito. (C) Pormenor das vértebras com anquilose costo-vertebral. (D) Pormenor das vértebras com erosão na articulação costo-vertebral.

Apesar de não se observar o típico aspeto de “cana de bambu”, que se poderia vir a manifestar numa fase mais tardia da doença (Rogers et al.1987; Rogers e Waldron, 1995), as lesões descritas são semelhantes às características de espondilite anquilosante nos seguintes aspectos: • envolvimento apenas do esqueleto axial; • ausência de vértebras intercalares sem lesão; • fusão costo-vertebral; • presença de sindesmófitos; • não envolvimento das enteses periféricas à afetação óssea. Contudo não podemos excluir a possibilidade de se tratar de outra patologia, como por exemplo a doença de Crohn ou a colite ulcerosa.

Conclusão A extensão da anquilose vertebral terá conduzido a uma movimentação reduzida, principalmente quando associada a uma fusão costo-vertebral que limita os movimentos da caixa torácica. Este trabalho pode ajudar a desvendar se as espondilartropatias são mais comuns atualmente ou se o seriam no passado, o que reforça a importância do estudo de necrópoles com um grande número de indivíduos, como por exemplo a de Santa Maria do Olival.

Referências Aufderheide, A. C.; Rodríguez-Martín, C. 1998. The Cambridge encyclopedia of human paleopathology. Cambridge, Cambridge University Press. Brooks, S.; Suchey, J. M. 1990. Skeletal age determination based on the os pubis: a comparison of the Acsádi-Nemeskéri and Suchey-Brooks methods. Human Evolution, 5:227-238. Bruzek, J. 2002. A method for visual determination of sex, using the human hip bone. American Journal of Physical Anthropology, 117: 157-168. Crubézy, E. 1988. Interactions entre facteurs bio-culturels, pathologie et caractéres discrets: example d’une population medieval. Thèse de Doctorat. Montpellier, Université de Montpellier. [Monografia não publicada]. Male, D., Brostoff, J., Roth, D., Roitt, I. 2006. Immunology 7th edition, London: Mosby Elsevier Rogers, J.; Waldron, T.; Dieppe, P.; Watt, I. 1987. Arthropathies in paleopathology: the basis of classification according to most probable cause. Journal of Archaeological Science, 14(2):179-193 Rogers, J.; Waldron, T. 1995. A field guide to joint disease in Archaeology. Chichester, John Wiley & Sons.

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