ESTÁGIO SUPERVISIONADO: PESQUISA E IDENTIDADE DOCENTE

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ESTÁGIO SUPERVISIONADO: PESQUISA E IDENTIDADE DOCENTE Lucas Men Benatti (UEM) Odonias Santos de Souza Junior (UEM) João Paulo Baliscei (UEM) [email protected]

Resumo O presente estudo alinha-se teórica e metodologicamente aos Estudos da Cultura Visual objetivando investigar a criação de uma identidade docente, bem como a possibilidade de desenvolvimento de pesquisas a partir da inserção prática e dos estudos teóricos que envolvem o Estágio Supervisionado. Para tanto, pretende-se estudar o Estágio Supervisionado como uma possibilidade de criação de identidade docente e apresentar o Estágio Supervisionado como campo de estudos que oportuniza o desenvolvimento de pesquisas e de expressão da identidade docente. Como resultado, busca-se a introdução para uma compreensão do Estágio Supervisionado como um campo fecundo de experiências e construções que implicam a prática e teoria de ensino que cercam o professor-pesquisador. Palavras-chave: Estágio. Docência. Identidade. Pesquisa Introdução Este resumo se debruça sobre dois eixos que permeiam o desenvolvimento do Estágio Supervisionado no Ensino de Arte. O primeiro diz respeito à criação de uma identidade docente, possibilitada pela prática do Estágio, e diz respeito às mudanças do local de fala do aluno, acadêmico de um curso de Artes, para a de um professor, que leciona a disciplina de Arte. Já o segundo eixo se refere ao desenvolvimento de pesquisas por meio do Estágio Supervisionado, como uma possibilidade de relacionar os conhecimentos apreendidos com a prática de ensino, bem como de teorizar a respeito da prática dada. Ambos os eixos se articulam, uma vez que, partindo do pressuposto de identidade docente como uma identidade reflexiva, problematizadora, a pesquisa se apresenta como um dos caminhos metodológicos mais eficazes para formação docente adequada. Desta forma, buscamos neste estudo tecer teorizações que problematizem de que forma se desenvolve o imbricamento entre prática de ensino, identidade docente e pesquisa por meio do Estágio Supervisionado. Amparados pelos Estudos da

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Cultura Visual, estruturamos o desdobramento de nossa pesquisa em dois momentos. No primeiro, partindo do pressuposto que em todo curso de licenciatura chegará a um momento onde os acadêmicos serão provocados e levados a ter sua posição e sua identidade de/como alunos imbricadas com a posição e a identidade de/como professor, procuramos estudar o Estágio Supervisionado como uma possibilidade de criação de identidade docente. Em um segundo momento, concebendo o Estágio Supervisionado como um campo de conhecimento constitutivamente marcado pela pesquisa e por meio do qual, prática e teoria se inserem na construção tanto de um projeto, quanto de uma identidade docente, investigativo, buscamos apresentar o Estágio Supervisionado como campo de estudos que oportuniza o desenvolvimento de pesquisas e de expressão da identidade docente.

A construção de uma identidade docente O

momento

de

mestiçagem

entre

a

posição-aluno/posição-professor

geralmente é propiciada a partir da inserção do acadêmico na disciplina de Estágio Supervisionado do seu curso, por meio da qual ele poderá vivenciar suas primeiras experiências enquanto docente. Nesse sentido, Oliveira (2005), elucida que o processo pelo qual o aluno passa durante o estágio influi diretamente na construção e consequentemente na sua filiação com a identidade de professor. Identidade essa que, segundo a autora, se caracterizaria como uma identidade de projetos. É a partir do estágio, como afirma Oliveira (2005), que o estudante terá a possibilidade de articular, em posse de instrumentos teóricos-metodológicos, os saberes disciplinares conquistados na universidade, com os conhecimentos provenientes da vivência docente, do contato com as políticas educacionais, os sistemas técnicos e burocráticos das instituições de ensino e as relações heterogêneas, que caracterizam as salas de aula e cada sujeito em suas especificidades. Todos esses elementos compõem o cotidiano do professor e fazem com que o aluno se aproxime da realidade que porventura atuará.

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Provém deste contato, estudo, observação, reflexão e prática, a experiência que construirá, a partir do estágio, sua identidade profissional. Na identidade docente, de acordo com Oliveira (2005, p.63), “[...] estão presentes os conceitos, as relações que o professor estabelece com sua área de conhecimento, sua leitura de mundo, sua ética profissional e o valor que dá a sua profissão de professor [...]”. No caso das licenciaturas em Artes Visuais, podemos afirmar a partir das reflexões levantadas por Lampert (2005), que ocorrem hibridizações do acadêmico que não apenas ensina arte, mas também produz arte. Desta forma, como sublinha a autora, se faz importante a existência de uma co-relação equilibrada entre as duas identidades, para que não se privilegie, nem demasiadamente apenas a produção, nem apenas o conhecimento histórico, crítico e estético. Lambert (2005) defende que quando a educação se efetiva de modo integral, seu objetivo é o de desenvolvimento de todas as capacidades do aluno, não apenas as cognitivas, alterando-se assim, consequentemente, muitos dos pressupostos de avaliação. A autora sublinha a necessidade de se pensar a docência também como um ato criador e artístico, assemelhando-se à visão de Loponte (2007), que propõe a docência em arte, como uma “obra de arte”. O sujeito para Loponte (2007), deve se colocar como criador de um trabalho sobre si mesmo, mas que não se faz sozinho. Assim como há a necessidade do sujeito-outro na construção estética de si mesmo, a formação docente exige a presença desses sujeitos-outros, pois é uma ação compartilhada de experiências, diálogos e diferenças. Nesse aspecto, tanto Oliveira (2005), Lampert (2005) e Loponte (2007), ao tratarem sobre a prática de ensino e a identidade do professor, convergem para uma estruturação da ação docente como uma possiblidade de pesquisa. Pesquisa esta vista como estrutura (projeto) que nunca se encerra em si mesma, mas que está sempre a (re)modelar-se, em um processo contínuo de troca, de pensamento crítico e socialização. A pesquisa no Estágio Supervisionado Pensar a identidade docente como uma identidade reflexiva, nos implica conjeturar a pesquisa como o caminho metodológico para uma formação de

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qualidade aos professores. Dentro deste aspecto “o estágio curricular, como campo de conhecimento e espaço de formação cujo eixo é a pesquisa [...]” (OLIVEIRA, 2005, p.62), se coloca como um agente, por meio da qual, teoria e prática se inserem na construção de um projeto - tanto de identidade docente, quanto de pesquisa - investigativo, interventivo e crítico. No

campo

do

desenvolvimento

de

pesquisas

durante

o

Estágio

Supervisionado, uma das abordagens metodológicas possíveis é a dos registros, dos escritos em diários de aula. Trata-se de uma perspectiva que olha a narrativa enquanto pesquisa, e que, segundo Oliveira (2011, p. 178) é capaz de “[...] organizar a experiência como pautas de discussão ou focos de investigação, como forma de construir sentido por meio da descrição e análise dos dados biográficos”. Devemos ressaltar que esse tipo de pesquisa trabalha diretamente com a memória, o retorno mental da experiência, sendo assim, a própria vivência do sujeito pesquisador é utilizada para elucidar o contexto social ao qual está inserido. É justamente ela, como nos aponta Oliveira (2011, p. 181), que “[...] convoca o debate para o campo da complexidade, dos atravessamentos, daquilo que nos escapa, [...], do que não estava programado, das ideias que não chegam inteiras”. Nesse ponto, ações como fazer registros e se utilizar da narrativa resultam não apenas em um tipo específico de pesquisa, mas também, em possibilidades de criar novas ideias, pois, ao perpassar o nível do autoconhecimento, da crítica, da reflexão, também se tornam instrumentos facilitadores para outros tipos de pesquisa. Além disso, destacamos que para o professor em formação inicial, os registros em diários de classe, possibilitam que ele reorganize seu pensamento após ministrar sua aula, e volta a reorganizá-lo quando exterioriza suas experiências, resultados e respostas em grupo, pois, nesse momento é questionado e recebe opiniões. “É esse trânsito, este percurso, ou caminho, como queiramos nominá-lo, que potencializa o discurso. Passa de um simples relato para algo a ser problematizado pelos colegas e pelo professor” (OLIVEIRA, 2011, p. 183).

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Considerações finais No decorrer deste estudo buscamos trilhar um desenvolvimento que desse subsídio às questões que envolvem o imbricamento entre prática de ensino, identidade docente e pesquisa, campos que são introduzidos aos acadêmicos, futuros professores, por meio da disciplina de Estágio Supervisionado. Como já demonstrado, pensar a docência implica falarmos de uma identidade de projetos, uma identidade que está constantemente a (re)modelar-se, uma identidade criativa, problematizadora e reflexiva, que por constituinte dá a visualidade sua relação com pesquisa, área de construção do conhecimento mais elaborado. Sem esmiuçar a problemática, podemos conceber o Estágio Supervisionado como esse centro indissociável entre a necessária identidade docente e a pesquisa, um centro que retoma saberes, interliga novos conhecimentos, desenvolve a construção de novas redes de socialização e propicia ao estudante a experiência docente imprescindível, que o envolve enquanto professor-pesquisador, na construção de um projeto investigativo e crítico de identidade e pesquisa. Referências LAMPERT, Jociele. Estágio supervisionado: andarilhando no caminho das Artes Visuais. In: OLIVEIRA, Marilda Oliveira de; HERNÁNDEZ, Fernando (orgs.). A formação do professor e o ensino de Artes Visuais. Santa Maria, Ed. UFSM, 2005. 149- 157p. LOPONTE, Luciana Gruppelli. Arte da docência em Arte: desafios contemporâneos. In. OLIVEIRA, Marilda Oliveira de (org.). Arte, educação e cultura. Santa Maria, Ed. UFSM, 2007. 231-249p. OLIVEIRA, Marilda Oliveira de. Por uma abordagem narrativa e autobiográfica: os diários de aula como foco de investigação. In: MARTINS, Raimundo; TOURINHO, Irene (orgs.). Educação da Cultura Visual: conceitos e contextos. Santa Maria, Ed. UFSM, 2011. 175-190p. ______. O estágio curricular como campo de conhecimento e suas especificidades. In: OLIVEIRA, Marilda Oliveira de; HERNÁNDEZ, Fernando (orgs.). A formação do professor e o ensino de Artes Visuais. Santa Maria, Ed. UFSM, 2005. 59-72p.

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