Estimativas de desembarque da pesca de linha na costa central do Brasil (estados do Espírito Santo e Bahia) para um ano padrão (1997–2000)

July 12, 2017 | Autor: George Olavo | Categoria: Fisheries
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ESTIMATIVAS

DE DESEMBARQUE DA PESCA DE LINHA

BRASIL (ESTADOS DO ESPÍRITO SANTO UM ANO PADRÃO (1997-2000)

NA COSTA CENTRAL DO PARA

E

BAHIA)

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SANDRO KLIPPEL, AGNALDO S. MARTINS, GEORGE OLAVO, PAULO A. S. COSTA & MÔNICA B. PERES RESUMO: Entre setembro de 1997 e julho de 2000, foi amostrado um total de 3.178 desembarques da pesca de linha nos municípios de Salvador, Ilhéus, Valença, Porto Seguro, Vitória e Itaipava, em que foram registradas as características da embarcação, composição de espécies, áreas e esforço de pesca. A captura por unidade de esforço (CPUE) calculada em kg por pescador por dia de pesca efetiva foi utilizada na estimativa de desembarque total por espécie para um ano padrão (ED). A ED para os municípios amostrados (MA) foi obtida pelo esforço e CPUE do município e pela proporção das espécies nas capturas e, para os municípios não amostrados, (MNA) através da CPUE e proporção das espécies em áreas de pesca obtidas nos MA. A soma do desembarque total estimado para as 10 principais espécies em um ano padrão foi de 10.875 t, contra os 7.061 das estatísticas oficiais para o ano de 1998 (IBAMA). As principais espécies da pesca de linha, segundo as estimativas, foram a guaiúba Ocyurus chrysurus, com 4.376 t, o dourado Coryphaena hippurus, com 2.256 t, e o catuá Cephalopholis fulva, com 1.116 t. PALAVRAS-CHAVE: estimativas de desembarque, CPUE, grandes áreas de pesca, REVIZEE Central, Brasil. ABSTRACT: Landing estimates for handline fishery at the eastern coast of Brazil (Espírito Santo and Bahia states) for a standard year (1997-2000). Between September 1997 and July 2000 a total of 3,178 landings of the handline fishery of eastern Brazilian coast were sampled at the ports of Salvador, Ilhéus, Valença, Porto Seguro, Vitória and Itaipava. Fishing boats characteristics, species composition, fishing areas and effort were registered, CPUEs were calculated as capture (kg) per fisher per day of fishing, and annual landings per species were estimated. For the 10 main species, the estimated annual catch was 10,875 metric tons, compared to 7,061 MT of the official statistics for 1998. The main targeted species were the yellowtail snapper Ocyurus chrysurus (4,376 t), the dolphinfish Coryphaena hippurus (2,256 t), and the coney Cephalopholis fulva (1,115 t). KEYWORDS: landing estimates, CPUE, fishing areas, REVIZEE Central, Brazil.

INTRODUÇÃO Os desembarques registrados para o ano de 1998 no estado da Bahia foram de 40.945 t. Desse total, 79,5% são de peixes, 19,4% de crustáceos, e 1,1% de moluscos. A frota é predominantemente artesanal, com um total de 6.979 embarcações. As canoas representam 57% desse total e concentram-se principalmente nas regiões de Salvador e do baixo sul da Bahia. Nestas, são empregadas uma grande variedade de petrechos que incluem redes de cerco, redes de espera e linha de mão. As 2.099 embarcações motorizadas incluem saveiros, botes e lanchas e são dirigidas principalmente à pesca da lagosta, ao arrasto de camarão e à pesca de linha. A pesca de linha foi a principal, representando 19,1% do total desembarcado. Entre as espécies desembarcadas, destacam-se peixes recifais como os lutjanídeos Ocyurus chrysurus, Lutjanus jocu, L. synagris, L. vivanus, L. analis,

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Rhomboplites aurorubens e os serranídeos Mycteroperca bonaci, M. interstitialis, e Cephalopholis fulva (IBAMA, 1999). Os desembarques registrados para o ano de 1997 no estado do Espírito Santo foram de 8.858 t, sendo que 72% originados da pesca artesanal (IBAMA, 1998). A frota de linheiros baseada em Vitória (ES) atua na região de Abrolhos e nos bancos do sul da Bahia e norte do Espírito Santo, capturando principalmente Ocyurus chrysurus, Cephalopholis fulva, Rhomboplites aurorubens, Coryphaena hippurus, Lutjanus jocu, e L. analis. A frota de linheiros de Itaipava (ES) tem como principal alvo os grandes pelágicos, atuns e afins, na região da Bacia de Campos, entre o sul do Espírito Santo e norte do Rio de Janeiro (Costa et al., 2005). O desembarque total registrado para os estados da Bahia e Espírito Santo no ano de 1998 foi de 48.971 t (IBAMA, 1998, 1999). Entretanto, não existem

KLIPPEL, S.; MARTINS, A.S.; OLAVO, G.; COSTA, P.A.S.; PERES, M.B., 2005. Estimativas de desembarque da pesca de linha na costa central do Brasil (estados do Espírito Santo e Bahia) para um ano padrão (1997-2000) . In: COSTA, P.A.S.; MARTINS, A.S.; OLAVO, G. (Eds.) Pesca e potenciais de exploração de recursos vivos na região central da Zona Econômica Exclusiva brasileira. Rio de Janeiro: Museu Nacional. p.71-82 (Série Livros n.13).

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estatísticas detalhadas para todas as espécies da pesca de linha, em virtude de algumas serem agrupadas em categorias comerciais, impossibilitando seu uso nos modelos de avaliação pesqueira. Neste trabalho, são apresentadas estimativas de desembarques totais por mês, por município e para dez das principais espécies de importância comercial da pesca de linha, obtidas a partir de amostragens em desembarques comerciais nos seis principais portos da região entre os anos de 1997 e 2000, com o objetivo de subsidiar o uso de modelos de avaliação pesqueira. MATERIAL E MÉTODOS ESFORÇO, RENDIMENTO E COMPOSIÇÃO DAS CAPTURAS Entre setembro de 1997 e julho de 2000, foi amostrado um total de 3.178 desembarques nos municípios de Salvador, Ilhéus, Valença, Porto Seguro (BA), Vitória e Itaipava (ES). Sempre que possível, foram registradas as características da embarcação, informações da captura (composição de espécies em peso e tamanho), áreas e esforço de pesca (duração da viagem, dias de pesca efetiva, número de pescadores). As embarcações foram classificadas em uma das seguintes categorias: bote de alumínio (BAL), bote à vela (BOC), bote motorizado (BOM), bote a remo (BRE), saveiro pequeno (SAP), saveiro médio (SAM), saveiro grande (SAG) e caiqueiro (CAIQ), segundo os critérios presentes em Costa et al. (2005). Em 11 municípios ou localidades litorâneas não amostradas, mas com uma pescaria de linha importante, foram obtidos, por observação direta e entrevistas, o número de viagens, número de pescadores, número de dias de pesca efetiva e número de barcos, por classe da frota e por mês, e informações sobre a sazonalidade da pesca, recursos-alvo e áreas de pesca utilizadas. Os números totais de embarcações em atividade por mês e por classe da frota foram obtidos do censo estrutural dos programas de estatística pesqueira do IBAMA. A captura por unidade de esforço (CPUE), calculada como a captura (kg) por pescador por dia de pesca efetiva, foi estimada para cada desembarque amostrado. A transformação logarítmica foi aplicada aos valores de CPUE uma vez que a variância do conjunto foi maior que a média, caracterizando uma distribuição binomial negativa (Elliott, 1977). A CPUE média por município amostrado, classe da frota e mês de um ano padrão (1997-2000) foi obtida segundo a fórmula:

S.KLIPPEL, A.S.MARTINS, G.OLAVO, P.A.S.COSTA & M.B.PERES

CPUE ma,e,t =antilog e

log e CPUE i 1 N ma,e,t

1

Onde: ma = município amostrado e = classe da frota (BAL, BOC, BOM, BRE, SAP, SAM, SAG, CAIQ) t = mês de um ano padrão CPUEi = CPUE por desembarque amostrado Nma,e,t = número de desembarques amostrados por município, classe da frota e mês Os intervalos de confiança da média derivada foram calculados pela divisão e multiplicação de um fator comum, obtido da distribuição Student-t e do erro padrão da média dos dados transformados (Elliott, 1977). GRANDES ÁREAS DE PESCA (GAP) Os desembarques amostrados foram classificados segundo a operação em cinco grandes áreas de pesca (GAP), definidas a priori através das informações obtidas em entrevistas sobre os diferentes pesqueiros utilizados pelos pescadores dos municípios amostrados. A área 1 inclui os arredores da região metropolitana de Salvador e do Farol da Barra, ao sul, até Itacaré. A área 2 tem seus limites entre Itacaré e Belmonte, incluindo a região de Ilhéus, Canavieiras, e os pesqueiros associados ao cânion do Jequitinhonha e ao Banco Royal Charlotte. A região de plataforma estreita, percorrida por inúmeros canais pretéritos de drenagem, entre Porto Seguro e Alcobaça, é a área 3, enquanto a área 4 é a região da plataforma dos Abrolhos, desde o Arquipélago de Abrolhos até o rio Doce. A área 5 inclui a região da Bacia de Campos, entre o sul do Espírito Santo e norte do Rio de Janeiro (Figura 1). A CPUE média por GAP e mês de um ano padrão, foi determinada como:

CPUE gap,t =antilog e

loge CPUE i 1 N gap,t

1

E as proporções de espécies por GAP (PSsp,g,t):

PS sp,gap,t

D sp,gap,t D gap,t

Onde: Dsp,gap,t = total dos desembarques amostrados por GAP, espécie e mês D gap,t = total dos desembarques amostrados por GAP e mês

D ESEMBARQUES

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TOTAIS DA PESCA RECIFAL

ESTIMATIVAS DE DESEMBARQUE

POR ESPÉCIE

(ED)

As EDs mensais, para cada município amostrado (MA), foram calculadas multiplicando-se a CPUE média de cada classe da frota pelo esforço total da classe no município. A ED por espécie foi, então, obtida multiplicando-se a ED total pela proporção mensal da espécie nos desembarques amostrados no MA e classe da frota:

ED ma,t,sp

f ma,e,t CPUE ma,e,t PS ma,e,t,sp e

Onde: EDma,sp,t = estimativa de desembarques do MA, por espécie e mês fma,e,t = esforço de pesca no MA, classe da frota e mês CPUEma,e,t = CPUE média por MA, classe da frota e mês PSma,e,t,sp = proporção da espécie sp na CPUE total da classe da frota no MA por mês O esforço de pesca (f), em número de pescadores por dia de pesca, foi calculado através do número de barcos por classe da frota em atividade por mês, e o número médio de pescadores e dias de pesca por classe da frota nos municípios amostrados. A ED mensal por espécie, por município não amostrado (MNA) para um ano padrão, foi obtida utilizando-se a CPUE média mensal por GAP, as proporções das espécies na GAP (obtidas nos MA), o esforço mensal do MNA por classe da frota e as proporções do esforço mensal por classe da frota na GAP: ED mna,sp,t

CPUE gap,t e

Figura 1. Localização das Grandes Áreas de Pesca (1, 2, 3, 4, 5) e municípios de Salvador (SA), Valença (VA), Ilhéus (IL), Porto Seguro (PS), Vitória (VI) e Itaipava (IT) nos estados da Bahia (BA) e Espírito Santo (ES). Estão destacadas as profundidades de 200, 1.000 e 1.500 metros.

PADRÕES

f mna,e,t PE mna,e,gap,t PS sp,gap,t

gap

Onde: EDmna,sp,t = estimativa de desembarques por MNA, por espécie e mês CPUEgap,t = CPUE média dos MA por GAP e mês fmna,e,t = esforço de pesca no MNA, por classe da frota e mês PSsp,gap,t = proporção da espécie sp na CPUE total da GAP, por mês PEmna,e,gap,t = proporção do esforço total do MNA por classe da frota e mês na GAP

NA DISTRIBUIÇÃO DE RENDIMENTOS E ALOCAÇÃO DO

ESFORÇO DE PESCA

As diferenças nos rendimentos médios entre áreas, municípios, classes da frota e mês foram avaliadas através do teste Kruskal-Wallis sobre os valores não transformados da CPUE e comparações par a par foram feitas com o teste Mann-Whitney. A relação entre o número de desembarques nos municípios, classes da frota e áreas de pesca foi avaliada por tabelas de contingência e pelo teste do qui-quadrado (Elliott, 1977).

RESULTADOS DISTRIBUIÇÃO

DOS RENDIMENTOS E ESFORÇO

O desembarque em kg teve relação direta com o número de pescadores por dias de pesca empregados na captura, independente da classe da frota (Figura 2), indicando que é um índice adequado de captura por unidade de esforço (CPUE). A transformação logarítmica dos valores de CPUE foi eficiente na estabilização da variância, permitindo o cálculo de médias e desvios (Figura 3).

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S.KLIPPEL, A.S.MARTINS, G.OLAVO, P.A.S.COSTA & M.B.PERES

Figura 2. Relação entre a captura e o esforço em número de pescadores por dia de pesca.

Figura 3. Histograma dos valores de captura por unidade de esforço de pesca (CPUE) após a transformação logarítmica e respectivo gráfico de escores normais (quantil-quantil).

D ESEMBARQUES

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TOTAIS DA PESCA RECIFAL

A CPUE total (kg/pescador/dia) foi diferente ao longo do meses (Kruskal-Wallis; df=11; p0,05). As classes da frota também apresentaram CPUEs diferentes (Kruskal-Wallis; df=7; p
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