I CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL X ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO 18-21 julho 2004, São Paulo. ISBN 85-89478-08-4.
ESTRATÉGIA COMPETITIVA DAS EMPRESAS FORNECEDORAS DE ARGAMASSAS PARA REVESTIMENTO DECORATIVO MONOCAMADA (A.R.D.M) MANZIONE, Leonardo, Eng. ( 1 ); CRESCENCIO, Rosa Maria, MS. ( 2 ); BELLINATI, Denise, Arq. ( 3 ); CARDOSO, Francisco Ferreira, DR., PROF. ( 4 ) ( 1 ) Universidade de São Paulo, Escola Politécnica, e-mail:
[email protected] ( 2 ) Universidade de São Paulo, Escola Politécnica, e-mail:
[email protected] (3 ) Universidade de São Paulo, Escola Politécnica, e-mail:
[email protected] ( 4 ) Universidade de São Paulo, Escola Politécnica, e-mail:.
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RESUMO A inserção de novos tipos de argamassa no mercado de revestimentos para fachadas, exige a adoção de estratégias competitivas eficazes, capazes de romper os paradigmas existentes e garantir a sustentabilidade a longo prazo das empresas. O presente trabalho analisa e identifica a estratégia competitiva das empresas fornecedoras de A.R.D.M. (argamassa para revestimento decorativo monocamada) segundo a metodologia de Michael Porter, desenvolvida na década de 80. Para os estudos de caso, foram escolhidas duas empresas produtoras de argamassa monocamada e comparadas as suas estratégias competitivas em relação aos métodos construtivos concorrentes e substitutos como, por exemplo, o revestimento cerâmico e as argamassas convencionais com acabamento em pintura. Os estudos de caso mostraram que as empresas adotam como estratégia competitiva, o enfoque no custo e na diferenciação e procuram se situar em nichos específicos de mercado. Palavras-chave: estratégia competitiva, cadeia produtiva, argamassa industrializada, fachadas
1. INTRODUÇÃO 1.1. As alterações tecnológicas na produção de revestimentos de argamassa O revestimento de argamassa à base de aglomerante hidráulico tem sido tradicionalmente aplicado sobre o preparo de base em duas camadas distintas: emboço e reboco. O emboço, tratado como corpo do revestimento, constitui a camada que assegura a estanqueidade e a planicidade da vedação vertical, regularizando sua superfície de modo que possa receber a camada de acabamento final. O reboco, por sua vez, é a camada que recobre o emboço, formando uma superfície apropriada para o recebimento do sistema de pintura. Tradicionalmente, também no Brasil o mais comum era o revestimento tradicional aplicado sobre o preparo de base em duas camadas distintas: emboço e reboco. Por volta de meados dos anos 80, a racionalização da produção de revestimento levou à supressão de camadas. Assim, o que antes era emboço e reboco, passou a dar lugar ao revestimento de camada única usualmente com espessura mínima de 25mm.
O primeiro passo dessa mudança consistiu na substituição do revestimento tradicional pelo revestimento de camada única, o chamado reboco ou emboço paulista, utilizado em quase todas as obras, não dispensando, porém, o sistema de pintura. (BARROS, 2002). No Brasil, essa situação tem prevalecido até os dias atuais. Entretanto, no início do ano 2000, com a intensificação da abertura de mercado, houve a introdução de produtos importados que traziam consigo novas tecnologias. Neste contexto, surge o revestimento de camada única à base de aglomerante hidráulicos e polímeros com pigmentos incorporados. (CRESCENCIO, 2003). Esse revestimento tem sido aplicado sobre elementos estruturais de concreto armado ou protendido, tratado previamente com chapisco e sobre alvenaria de bloco de concreto ou cerâmico usualmente sem chapisco. Com essa nova forma de produção, o revestimento tradicional, usualmente com espessura final em torno de 25mm e com posterior recebimento do sistema de pintura, é substituído por outro que passa a ter espessura média variando de 12 a 15mm o chamado revestimento decorativo monocamada. Segundo o DTU 26.1 (CSTB, 1978), o revestimento de argamassa tradicional distingue-se do revestimento decorativo monocamada, uma vez que este apresenta as seguintes características: •
composição de aglomerante diferentes ou aditivos especiais;
• aplicação rápida. Uma ou duas demãos (tempo de “início de cura” geralmente de 2h a 5h, dependendo das condições ambientais), formando, com poucos passos, uma única camada; •
espessura menor do que a do revestimento tradicional;
•
acabamento decorativo com cores;
•
acabamento decorativo ou texturizado da superfície.
As ilustrações da figura 1 mostram as modificações ocorridas no revestimento de argamassa em fachadas ao longo do tempo, partindo-se do revestimento tradicional até o revestimento decorativo monocamada. (a)
(c)
( b)
Pintura Reboco Emboço Chapisco Base de alvenaria ou concreto
Pintura Camada única Chapisco Base de alvenaria ou concreto
RDM RDM
Chapisco
Base de alvenaria
Base de concreto
Figura 1: Modificações ocorridas no sistema de revestimento de argamassa, (a) revestimento tradicional, (b) revestimento de camada única, (c) revestimento decorativo monocamada (RDM) aplicado sobre alvenaria e revestimento decorativo monocamada aplicado sobre estrutura e concreto (CRESCENCIO, 2003).
1.2.
Conceituação técnica
Segundo CRESCENCIO (2003), por se tratar de um material recentemente introduzido no mercado brasileiro, até o momento não se tem uma conceituação específica, que defina claramente o revestimento decorativo monocamada, ou seja, inexiste na normalização brasileira, relativa a argamassas e revestimentos, uma nomenclatura específica para o revestimento de argamassa com pigmento incorporado, aplicado em camada única de pequena espessura sobre o substrato de alvenaria ou de concreto. Entretanto, as evidências de mercado indicam que a sua utilização deverá ser rapidamente ampliada (mesmo que não atenda a todo tipo de edificação), exigindo a proposição de uma terminologia adequada e, inclusive, o desenvolvimento de normas que contemplem esse tipo de revestimento. Assim, na falta de terminologia normalizada, CRESCENCIO (2003) define “revestimento decorativo monocamada” RDM como sendo: “Um revestimento monolítico, de pequena espessura, produzido a partir da aplicação, em camada única, de uma argamassa de base cimentícia, com pigmento incorporado à sua composição, podendo receber, na superfície, acabamento raspado, travertino, chapiscado, desempenado ou alisado”. Já a expressão “argamassa para revestimento decorativo monocamada” ARDM, é definida por CRESCENCIO (2003) define como sendo: “Argamassa de base cimentícia, com pigmento incorporado à sua composição, que permite a produção de revestimento, em camada única, de pequena espessura”.
1.3.
Histórico da introdução do revestimento decorativo monocamada no mercado brasileiro
O RDM chegou ao Brasil (mais precisamente na cidade de São Paulo) há cerca de quatro anos, com a importação de produtos de origem francesa e espanhola. Tão logo as argamassas chegaram, foram imediatamente empregadas em obras de pequeno porte; porém, não tardaram a apresentar algumas manifestações patológicas que acabaram por desmotivar, temporariamente, a divulgação desse produto em escala de mercado. Diante dessa dificuldade, as empresas brasileiras produtoras de argamassa intensificaram suas pesquisas para desenvolver o RDM. No ano de 2000, essas indústrias iniciaram a produção nacional de argamassa destinada ao RDM. Atualmente, existem dois fabricantes que a produzem e a distribuem, sendo que o mercado é dominado por um deles. Com algumas obras já executadas, as empresas investem na divulgação desse tipo de argamassa com sua formulação destinada exclusivamente ao uso na região sudeste. Para as demais regiões do país ainda não existe uma argamassa adequada às características dos respectivos climas. Desta forma, ocorre uma intensificação da utilização do material na região sudeste, (particularmente no estado de São Paulo), por apresentar vantagens como redução de custos e prazos, considerados aspectos importantes para a racionalização construtiva. Segundo CRESCENCIO (2003), com dados fornecidos pelos fabricantes, até janeiro de 2003 foram executadas obras totalizando aproximadamente 500.000 m2 de fachadas revestidas com RDM, sendo: São Paulo – 400.000 m2;
Minas Gerais – 70.000 m2; Rio de Janeiro – 30.000 m2.
1.4.
Caracterização das empresas fornecedoras
Para este trabalho foram feitos estudos de caso nas duas únicas empresas que atuam no setor de RDM. Este estudo foi feito a partir de visitas e entrevistas com os setores de marketing e vendas destas empresas. Empresa A Empresa multinacional, pertencente ao grupo Francês Saint-Gobain desde 1997, entrou no mercado pela aquisição de empresa nacional líder de mercado fundada em 1937. Possui quatro unidades industriais (SP, MG, RS, PE) com centro de distribuição em Brasília. A área de atuação em revestimento monocamada tem 620 funcionários. A empresa atua com três linhas básicas de produtos: • soluções para fachadas; • soluções para assentamento e rejuntamento de cerâmica; • argamassas técnicas Empresa B Empresa nacional, fundada em 1989, com sede em Itaquaquecetuba, SP. Possui 40 funcionários. A empresa trabalha com uma linha de produtos bastante ampla, composta por sessenta produtos envolvendo mais de 1.300 itens. No segmento de engenharia, vende produtos que atendem todas as fases da obra, como por exemplo: • argamassas de fixação • rejuntamento • assentamento de pastilhas • argamassas coloridas • kit para juntas de dilatação • tintas e complementos • revestimentos decorativos monocamada (RDM)
2.
ANÁLISE DA ESTRUTURA COMPETITIVA DO SETOR DE FACHADAS
2.1. Estudo do setor de fachadas: materiais de acabamento, métodos construtivos e estrutura concorrencial Adotamos a definição de setor formulada por KOTLER (2000): “setor é um grupo de empresas que oferecem um produto ou categoria de produtos que são substitutos próximos uns dos outros.” Para estudarmos o setor de fachadas, dividimos os empreendimentos em Habitacionais (tabela 1) e Comerciais (tabela 2). As diferentes opções para os revestimentos, foram classificadas por seus materiais de acabamento e métodos construtivos das fachadas. Os empreendimentos industriais, embora possuam características geométricas favoráveis para o RDM, como grandes panos de fachada, poucos vãos e detalhes, ainda não possuem volumes expressivos para este estudo.
Tabela 1: Opções de revestimento de fachada para edifícios habitacionais
Sistemas construtivos
Edifícios habitacionais
Base
Emboço
Pré-fabricado
Alvenaria estrutural
Estrutura reticulada e vedações em alvenaria
Estrutura reticulada e vedações em painéis préfabricados
Paredes de concreto moldado in loco
Acabamento Argamassas pigmentadas (fulget, travertino, massa raspada) Pinturas, texturas, vernizes Revestimentos cerâmicos Revestimentos pétreos Agregados expostos (Argamassa pigmentada) Monocamada
Tabela 2: Opções de revestimento de fachada para edifícios comerciais Edifícios comerciais Estruturas Estruturas reticuladas, e reticuladas, e vedações em vedações em painéis alvenaria pré-fabricados Base
Emboço
Fixação por dispositivos Pré-fabricado
Acabamento Argamassas pigmentadas (fulget, travertino, massa raspada) Pinturas e texturas Revestimentos cerâmicos Alumínio, aço inox Vidro Revestimentos pétreos Agregados expostos (Argamassa pigmentada) Monocamada
Esta tabulação de informações, vem das observações e da experiência pessoal dos autores em obras na cidade de São Paulo, pois o setor de fachadas carece de pesquisas e estudos que possam fornecer indicadores quantitativos que possibilitem uma segmentação mais precisa. Pela análise destes quadros, concluímos que o mercado para o RDM é composto por edifícios residenciais construídos ou em alvenaria estrutural ou em estruturas reticuladas com fechamento em alvenaria de vedação.1
1
Descartamos os revestimentos pétreos em edifícios residenciais, pois quando utilizados nas fachadas deste edifícios, apenas revestem detalhes ou térreo. Existem exceções em edifícios de luxo que não interessam ao escopo deste trabalho.
A figura 2, mostra a estrutura de produtos concorrentes do RDM.
ARGAMASSAS PIGMENTADAS BI-CAPA
PINTURAS
CERÂMICAS
MONOCAMADA
TEXTURAS Figura 2: Estrutura concorrencial dos revestimentos de fachada, nos segmentos de edifícios residenciais construídos em alvenaria estrutural ou estrutura reticulada e alvenaria de vedação.
2.2.
O modelo de Porter
PORTER (1986) indica que a rentabilidade de um setor industrial é resultado de sua estrutura competitiva constituída pela soma de cinco forças competitivas: • a ameaça de novos entrantes; • a ameaça de produtos substitutos; • o poder de negociação dos compradores; • o poder de negociação dos fornecedores; • a rivalidade entre os concorrentes existentes. Estas forças estão representadas na figura 3. Entrantes potenciais
Fornecedor
Rivalidades entre empresas existentes
Comprador
Substitutos
Figura 3: As cinco forças competitivas de Porter
2.3. A aplicação do modelo de PORTER no setor de fachadas 2.3.1. A intensidade da rivalidade entre os concorrentes e os produtos substitutos Observamos durante o estudo de caso, que entre as empresas A e B praticamente inexiste competição, pois a empresa B tem tamanho e recursos bem inferiores do que a empresa A, tendo participação pouco expressiva no mercado. A competição real, é entre o RDM e os diversos métodos construtivos disponíveis. A ameaça de substitutos determina até que ponto outro produto pode satisfazer as mesmas necessidades do comprador, colocando, assim, um teto no montante que um comprador está disposto a pagar pelo produto de uma indústria (PORTER, 1986). Os métodos construtivos de fachada, contemplam diversas soluções (figura 2) com inúmeras combinações de materiais. A massa de camada única, base para os diversos acabamentos, pode por sua vez, ser produzida de diversas maneiras: virada em obra, em misturas semi-prontas ou totalmente industrializada, o que aumenta o número de combinações possíveis. Entre os materiais de acabamento: pinturas, texturas ou cerâmica, existe uma grande variedade de padrões e de categorias de qualidade. Os métodos de aplicação de argamassa podem também ser manuais ou projetados. Cruzando-se as possibilidades de materiais de base, com materiais de acabamento e processos de aplicação, chegamos rapidamente em dezenas de métodos disponíveis e substitutos, para a solução do mesmo problema! Este é o contexto onde se insere o RDM: mercado bastante pulverizado, com intensa rivalidade e com diversos métodos substitutos entre si.
2.3.2. Poder de negociação dos compradores e a ameaça de novos entrantes Conforme PORTER (1986), o poder dos compradores determina até que ponto eles retêm grande parte do valor criado para eles mesmos, deixando as empresas de uma indústria com modestos retornos. A construção civil vem perdendo rentabilidade ao longo dos anos. O comprador, pela pequena margem do negócio, fica muito sensível ao preço e pouco à diferenciação. Além deste fato, os custos de mudança para o comprador praticamente inexistem, uma vez que ele pode promover integrações em estágios anteriores, a montante da cadeia produtiva dispondo de inúmeras opções. A ameaça de entrada determina a probabilidade de novas empresas entrarem em uma indústria e conquistarem mercado, passando tais benefícios para os compradores na forma de preços mais baixos ou elevando os custos da concorrência (PORTER, 1986). No setor de fachadas, a grande sensibilidade do comprador ao preço, a grande quantidade de combinações de métodos possíveis e o nível mínimo de exigências técnicas do comprador com relação ao desempenho dos produtos acaba facilitando o ingresso de novos entrantes, não existindo grandes barreiras de ingresso. Principalmente no setor de argamassas e texturas onde existem diversos produtos genéricos..
2.3.3. O poder dos fornecedores O poder dos fornecedores determina até que ponto os fornecedores, e não empresas em uma indústria, irão apropriar-se do valor criado para compradores (PORTER, 1986). Os fornecedores são as outras forças importantes no setor: o cimento, insumo básico das argamassas é parte de um oligopólio, as resinas, pigmentos e componentes das tintas são fornecidas por poderosas indústrias químicas. Estes fornecedores retêm grande parte do valor criado e possuem muito pouca flexibilidade em suas negociações.
Já pelo lado dos fornecedores de mão de obra o poder é bastante pequeno uma vez que existe oferta em abundância de mão de obra motivada pela crise econômica do país.
3.
ESTRATÉGIAS
PORTER (1986) define dois tipos básicos de vantagens competitivas: baixo custo e diferenciação. Estas vantagens, combinadas com as atividades da empresa, levam à três estratégias genéricas: liderança em custo, diferenciação e enfoque. As estratégias de enfoque, podem por sua vez, serem divididas em: enfoque no custo e enfoque na diferenciação, conforme a tabela 3. Tabela 3: As três estratégias genéricas. (PORTER, 1986) Vantagem competitiva Custo mais baixo Escopo competitivo
Diferenciação
Alvo amplo
Liderança de custo
Diferenciação
Alvo estreito
Enfoque no custo
Enfoque na diferenciação
A liderança de baixo custo, pressupõe a prática de preços baixos como atrativo. Para isso, os esforços são dirigidos para a melhoria da eficiência produtiva, o que pode ser obtido com a racionalização da produção e redução de custos de elementos não agregadores de valor aos processos, porém sem prejuízo de qualidade. A estratégia de diferenciação, segundo KOTLER (2000), é o ato de desenvolver um conjunto de diferenças significativas para distinguir a oferta da empresa da oferta da concorrência. Esta estratégia pressupõe a introdução de um ou mais elementos de diferenciação nos produtos e serviços, que justifiquem preços mais elevados Com a estratégia de enfoque, a empresa necessita escolher um mercado regional ou um grupo de compradores e direcionar sua atenção para eles, podendo então, escolher entre a diferenciação ou o baixo custo.
3.1. As estratégias da empresas de ARDM A estrutura competitiva do setor, impôs ao RDM forças que motivaram estes fabricantes a adotarem mais de uma estratégia genérica.
3.1.1. Enfoque regional e num sistema construtivo Os resultados das tabelas 1 e 2, mostram que os fabricantes do RDM adotaram a estratégia de enfoque no segmento de edifícios residenciais. Neste segmento, o RDM produz melhores resultados na obras construídas em alvenaria estrutural pois neste sistema construtivo, os desvios de prumo das fachadas são considerávelmente menores que nos edifícios em estrutura reticulada e alvenarias de vedação. A espessura ideal do RDM, de 12 a 15mm é atingida com maior facilidade na alvenaria estrutural. Esta espessura ocasionará maior economia de material e maior rentabilidade, o que torna a alvenaria estrutural o segmento preferencial do RDM. Como o material é sensível às variações climáticas exigindo formulações diferentes, foi também adotada a estratégia de enfoque regional na região sudeste.
3.1.2. Enfoque no custo Levantando-se informações no mercado, constata-se que os preços praticados pelo RDM são iguais aos dos métodos convencionais, dentro de limites de espessuras econômicas.
Como o RDM é executado numa única etapa, ele tem metade do consumo de mão-de-obra que os métodos convencionais. Esta característica de sua estrutura de custos, confere margem para competir tanto em preço quanto em diferenciação. A redução dos custos nem sempre envolve um sacrifício na diferenciação pois muitas empresas descobriram formas de reduzir os custos empregando uma tecnologia diferente.(PORTER, 1986)
3.1.3. Enfoque na diferenciação Para o estudo da estratégia de diferenciação, adotaremos o modelo proposto por KOTLER (2000) que estuda como uma empresa pode diferenciar sua oferta a partir de cinco dimensões: produto, serviços, pessoal, canal e imagem. Cada uma destas dimensões será transformada numa matriz onde serão comparados o requisitos de diferenciação entre o RDM e os métodos convencionais. Procuramos destacar os diferenciais favoráveis ao RDM. Tabela 4: Diferenciação no produto. KOTLER (2000) Diferenciação no produto
RDM
Método convencional A (∇ )
Método convencional B (♣)
Forma
pouca espessura
variável, sem controle variável, sem controle específico específico
Características
monocamada
Massa única + textura Massa única + cerâmica ou pintura
Desempenho na aplicação
gasta metade do tempo tempo tradicional, duas tempo tradicional, duas que os concorrentes, é fases fases mais prático
Conformidade
referência IPT
Durabilidade
comprovada somente no comprovada exterior, produto novo mercado
Confiabilidade
marca forte e tradicional método tradicional
método tradicional
Facilidade de reparo
ponto fraco, estão sendo comprovada desenvolvidos métodos que permitam o reparo
comprovada
Design
muitas cores acabamentos superfícies
técnica no segue normas existentes segue normas existentes no comprovada mercado
e flexibilidade na grande variedade de associação a diferentes cores e texturas pinturas e textura
no
de
Tabela 5: Diferenciação em serviços. KOTLER (2000) Diferenciação em serviços
RDM
Método convencional A
Método convencional B
Facilidade de pedido
sim, exige uma única sim negociação
Entrega
feita pelo fabricante que requer o controle de requer o controle de
∇
Método A: Massa única + textura ou pintura
♣
Método B: Massa única + cerâmica
sim
gerencia o estoque
do não
Orientação ao cliente
elabora produto
manual
sim, quando necessário
sim, quando necessário
do sim, quando necessário
sim, quando necessário
Manutenção e reparo coberta pela garantia de coberta pela garantia de cinco anos cinco anos, podem existir dificuldades na garantia da mão de obra Serviços diversos
diversos insumos
amplamente técnica amplamente feita por mão de obra do técnica utilizada e difundida próprio fabricante do utilizada e difundida. RDM..
Desempenho na aplicação Treinamento cliente
diversos insumos
serviço de avaliação não pós-ocupação
coberta pela garantia de cinco anos, podem existir dificuldades na garantia da mão de obra não
Tabela 6: Diferenciação em pessoal. KOTLER (2000) Diferenciação em pessoal
RDM
Método convencional A
Método convencional B
Competência
sim, mão de obra depende das empresas depende das empresas envolvidas treinada e equipe de envolvidas vendas atualizada e de bom nível
Cortesia
sim, característica depende das empresas depende das empresas marcante envolvidas envolvidas
Credibilidade
marca forte no mercado método tradicional
método tradicional
Confiabilidade
produto novo, enfrenta sim resistências
sim
Comunicação
boa estrutura atendimento
variável, envolve diversos fabricantes com características muito diversas
de variável, envolve diversos fabricantes com características muito diversas
Tabela 7: Diferenciação em canal. KOTLER (2000) Diferenciação em canal
RDM
Método convencional A
Cobertura
região sudeste
todo o país
Especialidade
alta, existe equipe e baixa ou relativa gerência exclusiva para o produto
Método convencional B todo o país baixa ou relativa
Tabela 8: Diferenciação em imagem. KOTLER (2000) Diferenciação em imagem
RDM
Método convencional A
Método convencional B
Símbolos
não
não
Mídia
grande participação
participação pulverizada grande participação dos revestimentos cerâmicos
Eventos
promove constantes pulverizados eventos e palestras para a promoção de seus produtos
4.
não
promove eventos mais nos setores ligados a decoração
CONCLUSÕES
O setor de revestimentos para fachadas se caracteriza por ser pulverizado, com muita sensibilidade ao preço e com grande rivalidade entre os concorrentes. Dada a quantidade de opções, o poder dos compradores é bastante fortalecido não existindo altas barreiras de ingresso para novos entrantes. As empresas de RDM estão adotando mais de uma estratégia genérica pois buscam enfoque nos custos e na diferenciação, pois o comprador é pouco sensível á diferenciação. A vantagem do RDM, em reduzir a mão-de-obra pela metade, além da economia no acabamento final, pode estar sendo repassada em sua grande parte ao comprador pois a estratégia que vem sendo adotada pelas empresas do setor se baseia em mais de uma estratégia genérica. Entendemos que esta deva ser uma estratégia competitiva temporária, pois, segundo PORTER (1986), a possibilidade de ser diferenciada e ter baixo custo é, contudo, uma função de ser a única empresa com a recente inovação. Uma vez que os concorrentes também introduzam a inovação, a empresa está mais uma vez na posição de precisar fazer um tradeoff.2 Os estudos mostram que este mercado é bastante dinâmico e está em constante evolução. A preferência pela alvenaria estrutural poderá conferir um nicho que permita sustentabilidade ao produto, pois é neste sistema que ele encontra sua maior rentabilidade. Nos sistemas convencionais, o produto perde em performance pois os desaprumos geram maiores consumos de material.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROS, M.M.B. Revestimento mínimo: entrevista; Revista Téchne, São Paulo, n°58, p.14-16, janeiro 2002. CAPOZZI, S. Materiais: fachada paulistana. Revista Construção, São Paulo, v.50, n°2540, p18-19, junho 1996 CENTRE SCIENTIFIQUE ET TECHNIQUE DU BATIMENT. (CSTB) D.T.U.26.1 – Cahiers des charges. Paris, CSTB, setembro 1978, 28p. CRESCENCIO, R.M. Avaliação de desempenho do revestimento decorativo monocamada, 2003. 185p. Dissertação de Mestrado – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003. KOTLER, P. Administração de marketing. 3a edição. São Paulo: Editora Prentice Hall. 2000. 761p. PORTER, M.E. Estratégia competitiva – técnicas para análise de indústrias e da concorrência. 28a edição. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1986. 362p.
2
Análise de compromisso entre duas situações.
AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Quartzolit Weber e a Argamont.