Estratégia e Tácticas desenvolvidas nas Cruzadas

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Trabalho anual subordinado ao tema:
"Estratégia e tácticas desenvolvidas nas Cruzadas"

1- Introdução

2- Breve historial das Cruzadas.

3- Estratégia e tácticas desenvolvidas

3.1- pelos cruzados.

3.2- pelos árabes.

4- Conclusão

5- Bibliografia

6- Índice


1- INTRODUÇÃO
Quer sejam consideradas as mais arrojadas e românticas das aventuras
cristãs ou a última das invasões bárbaras, as Cruzadas são um facto
incontornável e central da história medieval. Antes do seu início, no sec.
XI, o centro da civilização encontrava-se em Bizâncio e nas terras do
califado árabe; pouco antes do seu término, no sec. XIV, tinha-se deslocado
para a Europa ocidental.
Do ponto de vista estritamente militar, tratou-se da primeira acção de
projecção de tropas à distância da História, utilizando meios nunca vistos
para a época, algo que só teria paralelo nas guerras do sec. XX.
Embora se mantivesse uma estrutura de base, houve necessidade de adaptar
técnicas e tácticas a diferentes circunstâncias como a morfologia do
terreno ou a acção do inimigo. Porém, em última análise, a campanha estava
condenada ao fracasso dadas as enormes distâncias a vencer pelo apoio
logístico, pois não bastava conquistar o território, havia que mantê-lo, e
os 4000 Km de permeio entre os reinos cristãos ocidentais e orientais
constituíam um obstáculo difícil de transpor. Somando o facto de os
cruzados serem estranhos numa terra estranha, dependendo de aliados – para
o reconhecimento do terreno, transporte das tropas ou protecção da
retaguarda –, os quais tinham os seus próprios interesses, não
necessariamente coincidentes, estavam reunidas as condições para a derrota,
a prazo, das hostes ocidentais.
É precisamente o aspecto militar das Cruzadas que se pretende aqui
desenvolver, comparando as tropas ocidentais com as suas congéneres árabes.

2- BREVE HISTORIAL DAS CRUZADAS[1]
1ª Cruzada (1096-1099)
Líderes: Godofredo de Bulhão, duque da Baixa Lorena (1082-1095) e defensor
do Santo Sepulcro (1099-1100); Hugo I, conde de Vermandois (1101);
Ademar de Monteil, bispo de Puy (1098); Raimundo IV de Saint-Gilles,
conde de Toulouse (1093-1105) e de Tripoli (1102-1105); Roberto Courtheuse,
duque da Normandia (1087-1106); Estêvão, conde de Blois; Roberto II, conde
da Flandres (1093-1111); Boemundo I de Tarento, príncipe de Antioquia (1098-
1111).
Através do apelo que dirigiu à Cristandade no final do Concílio de
Clermont, a 27 de Novembro de 1095, o papa Urbano II tinha dois objectivos:
ajudar Bizâncio e os cristãos do Oriente contra os Turcos e galvanizar os
cavaleiros para efectuarem uma peregrinação a Jerusalém, formando uma
expedição militar dirigida por ele. Porém a resposta ultrapassou todas as
expectativas.
O apelo do papa alcançou não apenas os cavaleiros do Sul de França, com os
quais não se contava à partida, mas também muitos outros de várias regiões
de França, bem como os Normandos do Sul de Itália. Todos eles tinham o
desejo de penitência e redenção, mas as riquezas do Oriente e o gosto pela
aventura também lhes conferiram grande entusiasmo.
Por outro lado, ao contrário do que seria habitual, os pregadores populares
espalham o apelo do papa imprimindo-lhe o seu cunho pessoal, o que leva a
partidas maciças entre os camponeses, por vezes de aldeias inteiras.
Pregadores como Pedro o Eremita proclamam que está próximo o fim dos tempos
e o reino do Anticristo, que a Jerusalém celeste irá descer em lugar da
terrestre e que quem aí se encontrar, vivo ou morto, sentar-se-á à direita
de Cristo no Dia do Juízo Final.
Partindo em Abril de 1096, a cruzada popular de Pedro o Eremita ficará
responsável por numerosos massacres de judeus na Renânia, aos quais viam
não como descendentes dos "assassinos" de Cristo, mas os seus próprios
assassinos. Indisciplinados chegam a Constantinopla pilhando as regiões que
atravessam. Aí, no inicio de Agosto de 1096, exigem ser transportados para
a outra margem do Bósforo sem esperar pelos cavaleiros, acabando por ficar
à mercê dos Turcos, que os massacram quase todos. Desta vez, os
sobreviventes irão esperar pelos cavaleiros.
Estes, agrupados em quatro exércitos, chegam entre Outubro de 1096 e Abril
de 1097. O imperador bizantino obriga-os a jurarem-lhe fidelidade e a
prometer a restituição ao Império de Bizâncio os territórios que lhe
pertenciam antes da invasão turca, oferecendo em contrapartida a sua
aliança.
Após derrotar os Turcos em Dorileia em Julho de 1097, os cruzados
atravessam a Anatólia em direcção à Síria e, antes ainda de chegar a
Antioquia, Balduíno de Bolonha faz um desvio por Edessa, cidade que
conquista após uma insurreição popular, formando o condado de Edessa,
primeiro Estado latino do Oriente, em Março de 1098. O restante dos
cruzados pára em frente a Antioquia em Outubro de 1097, por falta de
material de cerco, conseguindo conquistar a cidade em Junho de 1098,
aproveitando uma traição, e afugentar um exército muçulmano que vinha em
socorro.
A partir da conquista de Antioquia, deixam de contar com a assistência
bizantina, chegando a Jerusalém em 7 de Junho de 1099. Jejuam e fazem
procissões em redor da cidade, esperando deitar abaixo as muralhas com as
orações, assim como, na Bíblia, as trombetas de Josué haviam derrubado as
de Jericó. Valeu a chegada ao porto de Jafa de navios genoveses, pisanos e
venezianos que lhes forneceram carpinteiros e madeira para construir
material de cerco. Jerusalém é finalmente tomada a 15 de Julho de 1099,
seguindo-se a pilhagem e o massacre sistemático de toda a população.
Tendo-se tornado precária a posse da cidade após o regresso dos cruzados, o
novo papa, Pascoal II, faz um novo apelo à Cruzada com um sucesso tão
grande como o anterior. Porém, esta expedição fracassa sendo dizimada pelos
Turcos em 1101. Seguem-se outras mais modestas, entre 1101 e 1110, que
apenas conseguem o reforço dos domínios francos no Oriente.

2ª Cruzada (1147-1149)
Líderes: Luís VII, rei de França (1137-1180); Conrado III de Hohenstaufen,
imperador da Alemanha (1138-1152).
A conquista de Edessa pelo aio do príncipe de Mossul em 1144, teve grande
efeito no Ocidente, pois se o Islão vence isso quer dizer que os cristãos
deixaram de merecer a protecção divina. Assim, o papa Eugénio III decide-se
por uma nova Cruzada e promulga uma Bula que dirige à nobreza francesa e a
Luís VII, especificando os objectivos da Cruzada e os privilégios de que os
cruzados poderão beneficiar. Não se trata apenas de retomar Edessa, mas
também de realizar uma obra de penitência através da Cruzada, pois os
fracassos de algumas expedições dever-se-ão mais à falta de fé que a uma
insuficiente capacidade militar. A pregação desta nova Cruzada é levada a
cabo por S. Bernardo e tem enorme aceitação em todas as classes da
sociedade, mas o pregador restringe a participação aos grandes da época.
Assim, formam-se dois exércitos sob o comando do imperador Conrado III e do
rei Luís VII, os quais irão percorrer um itinerário terrestre para chegar à
Terra Santa, o que se revelará uma opção desgastante, pois o exército do
imperador alemão é derrotado pelos Turcos na Anatólia, sofrendo pesadas
baixas, e, embora Luís VII siga junto à costa do Mar Egeu, ambos os
exércitos que chegam à Terra Santa em 1148, foram bastante enfraquecidos.
Por fim, uma vez no seu destino, os franceses dividem-se quanto aos
objectivos a alcançar. O príncipe de Antioquia aconselha o ataque à cidade
de Alepo e depois a Edessa; o rei de França prefere seguir directamente
para Jerusalém. Chega-se a uma difícil solução de compromisso: a Cruzada
irá cercar Damasco, aliada dos Francos. O ataque falha e os Francos do
Oriente e os cruzados culpam-se mutuamente pela derrota.

3ª Cruzada (1189-1192)
Líderes: Frederico I Barba-Ruiva, imperador da Alemanha (1152-1190) e o seu
filho Frederico da Suábia; Filipe II Augusto, rei de França (1180-1223);
Ricardo I Coração de Leão, rei de Inglaterra (1189-1199).
Após a derrota de Haittin em Julho de 1187, os Estados latinos são quase
completamente recuperados pelos exércitos de Saladino; Jerusalém e o Santo
sepulcro estão perdidos. Relativamente aos vastos territórios na sua posse
no principio do sec. XII, os Francos apenas conservam Tiro, Tripoli,
Antioquia, e algumas fortalezas isoladas como o Krak dos Cavaleiros. A
derrota produz escândalo e indignação, pelo que o papa Gregório VIII decide
uma nova Cruzada, ao mesmo tempo que incita os cristãos ao arrependimento.
Mais uma vez tropas tomam a direcção do Oriente. Dos três exércitos
enviados, o primeiro, liderado por Frederico I, dispersa-se depois de se
afogar numa torrente de água junto das portas cilicianas. Os outros dois,
comandados por Ricardo I e Filipe Augusto, chegam à Terra Santa por mar na
Primavera de 1191. Porém, o rei de França volta a embarcar alguns meses
mais tarde e é apenas Ricardo que fica a dirigir a Cruzada. Consegue mediar
com sucesso os conflitos políticos entre os Francos da Síria/Palestina, ao
reconhecer Henrique de Champagne como rei de Jerusalém e dar em compensação
Chipre ao pretendente vencido Guy de Lusignan. Os seus sucessos militares,
porém, são limitados, conseguindo reconquistar quase todo o litoral mas
sendo forçado a ceder Jerusalém. É assinada uma trégua com Saladino, mas a
notícia causa maior escândalo no Ocidente que a perda da Cidade Santa,
alimentando um movimento de crítica à Cruzada iniciado após o fracasso da
anterior.

4ª Cruzada (1202-1204)
Líderes: Luís, conde de Blois e duque de Niceia; Balduíno IX, conde da
Flandres (1194-1206) e imperador latino do Oriente (1204-1206); Bonifácio
I, marquês de Monferrat (1192-1207) e rei de Tessalonica (1204-1207);
Enrico Dándolo, doge de Veneza (1192-1205).
O papa Inocêncio III lança novo apelo à Cruzada, em 1198, para a libertação
de Jerusalém, convidando os príncipes do Ocidente a unirem-se. Pede aos
barões, aos condes e às cidades para fornecerem tropas e ao clero para
contribuir com o dinheiro. Embora nenhum grande rei ou imperador responda,
o apelo encontra grande eco junto dos cavaleiros e do povo. A Cruzada terá
por objectivo o Egipto e será por mar via Veneza, que se compromete a
fornecer os navios necessários para o embarque de um total de 33 500 homens
(entre cavaleiros, escudeiros e soldados) pela soma de 85 000 marcos de
prata. A verdade, porém, é que os cruzados apenas dispunham de cerca de 11
000 homens, faltando-lhes ainda uma grande parte da verba prometida a
Veneza. Então o doge propõe-lhes ajudar Veneza a conquistar Zara, cidade
rebelde mas cristã da Dalmácia, para saldar a dívida e, apesar da oposição
do clero, é invadida e pilhada. No entanto, a falta de fundos continua.
Então, Aleixo Ange, filho de Isaac II, imperador destronado de
Constantinopla, pede aos cruzados para intervir a fim de repor o seu pai no
trono, pela soma de 200 000 marcos de prata mais a promessa de um exército
bizantino de 10 000 homens para ajudar na recuperação de Jerusalém. Assim,
Constantinopla é tomada uma primeira vez a 17 de Julho de 1203: Isaac II é
reposto no trono, mas não pode cumprir os compromissos assumidos pelo seu
filho. Os dois são novamente vencidos pelo seu rival Aleixo Doukas, que
obriga a cidade a pegar em armas contra os cruzados. A cidade é tomada pela
segunda vez, por mar, a 12 de Abril de 1204, e desta vez os cruzados pilham-
na e massacram a população.
E é assim que, escândalo dos escândalos, a maior cidade cristã do mundo é
destruída por uma Cruzada.

5ª Cruzada (1217-1221)
Líderes: Pelágio, cardeal embaixador; André II, rei da Hungria (1205-1235);
Leopoldo VI de Babenberg, duque da Áustria; João de Brienne, rei de
Jerusalém (1210-1225) e imperador do Oriente (1231-1237).
De novo o papa Inocêncio III lança um apelo à Cruzada para libertar
Jerusalém, no sermão de abertura do 4º Concílio de Latrão em 1215. Desta
vez a expedição será comandada por um embaixador representante do Sumo
Pontífice e serão concedidos privilégios aos que participarem nas operações
de guerra ou no seu financiamento, o qual será, parcialmente, assegurado
pela Igreja graças a um imposto criado sobre os seus ganhos. O apelo do
papa é ouvido em toda a cristandade, mas particularmente nas regiões que
não participaram nas expedições anteriores.
Quando os cruzados chegam a S. João de Acre no Outono de 1217, estão em
desacordo com o rei de Jerusalém. Este prevê a conquista do Egipto para
obter, por meio de negociação, a devolução da cidade de Jerusalém e dos
territórios do antigo reino. Por seu lado, os cruzados preferem provocar os
muçulmanos da Síria/Palestina, que não respondem, aderindo ao partido do
rei, o qual desembarca em Damieta e apodera-se da Torre da Cadeia que
defende a entrada do Nilo. Isolado, o sultão do Egipto oferece a
restituição do antigo reino de Jerusalém, a troco da evacuação do delta do
rio. João de Brienne é a favor do acordo, mas o cardeal embaixador opõe-se,
tencionando conquistar o Egipto com o auxílio de reforços que estariam para
chegar.
Em Novembro de 1219, Damieta é ocupada e os muçulmanos dão a Palestina como
perdida, desmantelando as fortificações, incluindo a de Jerusalém. Os
Francos aguardam a chegada do imperador Frederico II da Alemanha, antevendo
uma conquista fácil do Egipto. Todavia, de novo surge a divisão entre eles,
com João de Brienne, cansado da arrogância do cardeal embaixador, a
abandonar Damieta em Março de 1220.
Em Junho de 1221, o cardeal Pelágio ordena o ataque à cidade do Cairo mas,
detidos pela fortaleza de Mansurá, os Francos são cercados em Agosto do
mesmo ano, capitulando e saindo de Damieta no fim do mês.
Assim acabou, com uma importante derrota, uma guerra levada a cabo com
importantes meios e de prometedores princípios.

6ª Cruzada (1228-1229)
Líder: Frederico II de Hohenstaufen, imperador da Alemanha (1212-1250) e
rei de Jerusalém (1225-1250).
Forçado pelo Papa a cumprir o voto de Cruzada e já excomungado em 1227 por
a ter adiado por mais de dez anos, o imperador Frederico II dirige-se, por
mar, à Terra Santa e desembarca
em Acre em Setembro de 1227 com 1000 cavaleiros. Por causa da excomunhão
que pesa sobre ele, não pode contar com o auxílio das instituições
religiosas e das ordens militares da Síria/Palestina. Por outro lado,
conhece a língua árabe e a cultura islâmica e toma conhecimento das
divisões entre os Aiúbidas do Cairo, de Damasco e de Jezirah. Por meio de
negociações, obtém do sultão do Egipto, sobrinho de Saladino, a restituição
de Jerusalém e um vasto território entre o litoral e o rio Jordão, excepto
a esplanada de suporte da mesquita al-Aqsa e a Cúpula do Rochedo (mesquita
de Omar), lugares santos para o Islão. É ainda assinada uma trégua de dez
anos e o imperador faz-se coroar rei de Jerusalém e do Santo Sepulcro em
Março de 1229.
Se bem que inesperado, o sucesso desta Cruzada também causa escândalo no
Ocidente, por ter sido conseguido por um excomungado e através da
negociação com um infiel. Toda a ideia de Cruzada sofre um profundo golpe,
além de que a grandeza do sucesso obtido não dá lugar a grandes ilusões. Os
Francos não conseguem utilizar em seu proveito as divisões do Islão e o
território obtido é dificilmente defensável, por não estar protegido por
qualquer fortaleza.
Assim, em Agosto de 1244, os árabes, convocados pelo sultão do Egipto,
apoderam-se de Jerusalém e pilham o Santo Sepulcro.
7ª (1248-1254) e 8ª Cruzadas (1270)
Líder: Luís IX, rei de França (1226-1270).
Comparativamente à maioria dos seus contemporâneos, Luís IX adere ao
espírito de Cruzada com o mesmo fervor dos primeiros cruzados. Para ele não
se trata apenas de reconquistar os lugares santos, é também necessário
combater os infiéis; daí a sua recusa de massacres. Muito depois os Francos
compreenderam ser impossível apoderarem-se de Jerusalém directamente pela
força, considerando a cidade do Cairo como um melhor objectivo, por ser a
capital de um Estado rico e poderoso onde se encontra a verdadeira força do
Islão.
O rei de França parte assim numa Cruzada em que é o chefe e em que nada é
deixado ao acaso no financiamento, abastecimento, equipamento e armamento.
Essencialmente francês, este exército conta com um total de 25 000 homens
embarcados em navios genoveses.
Em Junho de 1249, o desembarque em Damieta é um sucesso e o rei francês
recusa qualquer negociação. Contudo, o exército é detido em Dezembro
defronte da fortaleza de Mansurá, que já tinha parado a 5ª Cruzada,
guardando o acesso ao Cairo. Fragilizado por permanentes dificuldades, o
rei é forçado a uma retirada difícil, acabando por ser capturado junto com
os seus próximos. Serão libertados ao fim de um mês, mediante o pagamento
de pesado resgate e o abandono de Damieta. É assinada uma trégua com os
Mamelucos que acabam de tomar o poder.
Apesar da dimensão do desastre, Luís IX prolonga a Cruzada por mais quatro
anos na Síria e na Palestina. Repara as fortalezas dos Francos e constrói
outras. Não se conforma com a derrota e volta a empunhar a cruz reagindo ao
ataque vitorioso do sultão mameluco. Em 1270, dirige-se para o Norte de
África, sem um propósito definido, possivelmente para efectuar um vasto
movimento de cerco, acabando por morrer de peste diante de Tunes.

3 – ESTRATÉGIA E TÁCTICAS DESENVOLVIDAS
De um modo geral, tanto os cruzados como os árabes utilizavam basicamente a
mesma estratégia de guerra: o cerco às cidades. Montava-se um exército tão
numeroso quanto possível e tentava-se isolar uma cidade para que esta
capitulasse pela fome. Naturalmente, isto não era exactamente fácil. Não
apenas havia que contar com a guarnição do castelo ou da fortificação, como
também tinha de haver precaução contra um possível exército de socorro à
cidade sitiada que surgisse na retaguarda do exército sitiante.
Era sempre mais difícil ao exército atacante promover um assalto bem
sucedido ou isolar a cidade, pois embora qualquer fortificação pudesse ser
bloqueada da ajuda exterior e acabasse por capitular pela fome, os
sitiantes também não podiam suportar um cerco prolongado sem terem meios de
subsistência, além de que estavam mais expostos ao mau tempo e à doença e
ao provável ataque de um exército de socorro.
Foi assim que, no cerco à cidade de Acre, na 5ª Cruzada, Ricardo I "Coração
de Leão" argumentou contra um ataque a Jerusalém em 1192, por receio que
Saladino lhe cortasse a comunicação com a costa, deixando-o isolado de
reforços.
Por outro lado, todos estes problemas eram agravados pela falta de
disciplina nos exércitos medievais, compostos por elementos das mais
diversas proveniências. No cerco a Ascalon, em 1153, os Templários
comseguiram abrir uma brecha nas muralhas da cidade, mas recusaram que
outros pudessem tirar proveito dela, o que teve resultados desastrosos.
Além disso, outro problema em impor um cerco a uma grande cidade era a
capacidade de resistência desta. O combate rua a rua era tão penoso e
dispendioso em vidas na Idade Média como o foi na Segunda Guerra Mundial e
mesmo uma pequena guarnição tinha vantagem, atrás das muralhas, contra um
exército atacante muito mais numeroso.
Era também necessário, para impor o cerco, um comando forte e competente,
equipamento e pessoal especializado, persistência e, acima de tudo,
organização para manter as tropas unidas, qualidades que nem sempre surgiam
combinadas nos exércitos medievais, pelo que, na verdade, muitos cercos
eram mal sucedidos.
O cerco era assim um teste de vontade política e de recursos para ambos os
lados. Os defensores precisavam de arranjar comida e manter a esperança de
sucesso, tarefa idêntica à dos atacantes, mas complicada pela necessidade
de montar abrigos e uma infraestrura de apoio.

3.1 – Pelos cruzados[2] [3] [4]
A 1ª Cruzada, assim como as posteriores, teve aliados. O Papa Urbano II,
impulsionador da Cruzada, orientou os cruzados para se encontrarem em
Constantinopla, capital do Império Bizantino. Aí foi-lhes oferecido um tipo
de auxílio que se revelaria de vital importância. As tropas imperiais
tomariam a seu cargo o território capturado, libertando os cruzados da
necessidade de deixar guarnições, e o império providenciaria guias e apoio
diplomático para lidar com grupos como os Arménios, e, sobretudo, apoio
logístico durante o longo cerco a Antioquia. No entanto, apesar de os
Estados cristãos na Terra Santa terem desenvolvido estreitas relações com
Bizâncio, por altura da 3ª Cruzada um abismo havia sido cavado entre os
bizantinos e os ocidentais devido à luta pela supremacia religiosa e
política entre o Papa e o Patriarca de Constantinopla. Assim, Bizâncio
aliar-se-ia a Saladino e faria tudo ao seu alcance para frustrar o ataque
de Frederico I "Barbaruiva" na sequência da queda de Jerusalém em 1187.
Falharia, o que conduziria a um mais profundo distanciamento com o
Ocidente, resultando em graves consequências estratégicas, pois impediu
Bizâncio de reconquistar a Ásia Menor e assim proporcionar uma ligação
terrestre com a Terra Santa, que traria peregrinos em massa, os quais
poderiam ter fornecido reforços para os cruzados no Oriente, além do que,
os Estados cristãos aí criados passaram a depender inteiramente das
comunicações por mar.
Aliás, desde o princípio que as Cruzadas estiveram dependentes do poder
marítimo. Urbano II apelaria pessoalmente aos Genoveses para providenciarem
uma frota para transportar a 1ª Cruzada, o que, juntamente com navios
italianos, ingleses e – sobretudo – bizantinos, foi indispensável para o
seu sucesso. Depois, as frotas foram vitais para as comunicações com o
Ocidente; a 2ª Cruzada ficou depauperada porque a sua frota ficou absorvida
no cerco a Lisboa. O exército de Barbaruiva, na 3ª Cruzada, foi o último a
forçar a sua passagem por terra; as tropas de Ricardo I de Inglaterra e de
Filipe de França chegaram por mar, tal como todas as das Cruzadas
posteriores.
Os marinheiros e o material que traziam, tiveram papel importante nos
cercos da 1ª Cruzada e foi com a sua ajuda que as cidades do litoral da
Palestina – sem as quais as testas-de-ponte estabelecidas pelos cruzados em
1099 não teriam sido viáveis – foram capturadas. Foi também a chegada
inesperada de uma frota de peregrinos que salvou Balduíno I de Jerusalém
após a sua derrota em Ramla em 1102; as frotas de peregrinos que chegavam
duas vezes por ano eram a linha vital do reino, pois traziam peregrinos que
podiam ser recrutados em alturas de emergência, assim como os artigos de
luxo cujo comércio era vital para os rendimentos dos reis.
As Cruzadas tornaram-se uma instituição no Ocidente Medieval, na sequência
do triunfo da Primeira. Porém, para a manutenção do domínio Latino na Terra
Santa, este era um instrumento demasiado imperfeito, sofrendo de longos
intervalos entre cada uma que proporcionavam às potências islâmicas a
recuperação dos ataques. Todos os que empunhavam a cruz faziam-no como
indivíduos e eram, teoricamente, iguais, mas a verdade é que a estrutura
social da Europa persistia nos exércitos dos cruzados, agravando o já de si
delicado problema do comando. A 1ª Cruzada era liderada por um comité de
príncipes e somente em circunstâncias extremas é que os líderes concordavam
na nomeação de um único comandante e apenas por um curto período de tempo.
Sérias divergências surgiram após a queda de Antioquia em 1098 e tomaram
tal proporção que o cerco a Jerusalém foi levado a cabo por aquilo que
eram, na prática, dois exércitos antagónicos. A Cruzada de 1101, proclamada
pelo Papa Pascoal II após o sucesso da Primeira, envolveu grande número de
tropas que lutaram em contingentes separados, acabando por ser derrotadas
por um pequeno número de Turcos na Ásia Menor. Semelhante destino teve a
Segunda Cruzada, porque Luís VII de França e Conrado III da Alemanha não
conseguiram actuar em conjunto. As questões entre Ricardo I de Inglaterra e
Filipe Augusto atrasaram a sua partida para a 3ª Cruzada e, uma vez lá
chegados, não conseguiram cooperar; depois da partida de Filipe, Ricardo
foi um brilhante comandante, mas teve de enfrentar graves tensões entre
Ingleses, Franceses e Alemães e as opiniões prevalecentes no exército
levaram-no a enveredar pelo ataque a Jerusalém, quando teria preferido
atacar o Egipto. No fim, foi forçado a retirar de Jerusalém devido ao risco
de levar a cabo um cerco na vizinhança de um exército hostil e às
dificuldades de o aguentar depois que os cruzados tivessem partido.
Na 4ª Cruzada, os nobres elegeram Bonifácio de Montferrat como seu líder,
mas ele teve que repartir a autoridade com Balduíno da Flandres e com os
Venezianos, que controlavam a frota; como resultado, a Cruzada foi dirigida
mais por acidente e circunstância que por decisão. Na 5ª Cruzada, a
sucessão de líderes e contingentes foi tal que a liderança ficou investida
em Pelagio, o enviado do Papa. Embora na 1ª Cruzada o enviado do Papa,
Adhemar, tenha exercido grande influência até sobre as decisões militares,
ele tinha, contrariamente ao habitual, experiência militar; Pelagio, por
seu lado, subiu a uma posição de comando por acaso e tomou uma série de
decisões erradas que contribuíram para o fracasso da expedição. Frederico
II tinha apenas um pequeno exército, sendo desprezado pelas forças em
Jerusalém por ter sido excomungado, mas libertou Jerusalém através de uma
hábil diplomacia, mostrando o que uma pequena força, cuidadosamente
aplicada, poderia fazer. Outras Cruzadas redundaram em completos desastres
devido à falta de liderança ou liderança militarmente incompetente.
Além dos problemas de comando, as Cruzadas, dado o seu apelo internacional,
juntavam diversificados e pobremente organizados exércitos, podendo até
recrutar contingentes de povos mutuamente hostis, não apresentando qualquer
clara vantagem técnica ou táctica sobre o inimigo. Assim, a diversidade, o
largo espectro do apelo papal e os diferentes tipos de contingentes
recrutados, adicionados à ausência de um comando central unificado,
tornavam estas tropas ainda mais ocasionais que a maioria dos exércitos
medievais.
A guerra no Médio Oriente, era grandemente condicionada por factores
geográficos e climáticos; a água era vital nestas terras áridas e qualquer
exército sem ela pereceria. De um modo geral, a paisagem era muito mais
vazia que no Ocidente, existindo grandes porções de deserto e semi-deserto,
o que colocava grande ênfase na guerra montada, por ser necessário cobrir
grandes distâncias entre os principais centros populacionais. Nas terras
abertas do Norte da Síria, nos montes Golan, na Galileia e no deserto entre
Gaza e o Egipto, a infantaria estava em enorme desvantagem.
É aqui que entra o contributo das ordens religiosas militares, como os
Templários e os Hospitalários – inicialmente criadas para proteger os
peregrinos – pois rapidamente a sua função foi reajustada para o combate
directo aos muçulmanos. Extremamente disciplinados, estes corpos de tropas
eram temíveis pela sua competência e empenho em combate, sendo por isso
muito utilizados, fornecendo frequentemente, no seu conjunto, metade ou
mais de metade das forças combatentes. Templários e Hospitalários, eram
quase sempre colocados na vanguarda e na retaguarda do exército,
precisamente as zonas que sofriam todo o impacto do ataque inimigo ou o
aguentavam e repeliam. Conta-se que, na 5ª Cruzada, no acampamento dos
cruzados frente a Damieta, uma incursão nocturna dos muçulmanos foi
repelida pelos Templários que na altura rezavam as matinas na tenda-capela
da Ordem. Pela sua ferocidade e dedicação em destruir o inimigo, eram por
este particularmente odiados[5].
O pesado equipamento dos cavaleiros – armadura 25 kg, elmo 5 kg, armas 5 kg
–, tornava-os praticamente invencíveis no combate próximo, em que formavam
um bloco compacto de lanças. Porém, se o cavalo fosse morto, o cavaleiro
atirado ao chão ficava indefeso, pois teria muita dificuldade em levantar-
se sozinho, pelo que o escudeiro o seguia de perto, pronto para o auxiliar.
Isto era um problema nos amplos espaços abertos do Médio Oriente, em que os
cruzados podiam ser facilmente flanqueados pela cavalaria ligeira muçulmana
especializada em disparar o arco a galope e em que a importância da
cavalaria provinha da obrigatoriedade do combate em amplos espaços abertos;
a táctica da carga em massa era a resposta necessária à maior variedade de
expedientes tácticos à disposição dos muçulmanos. No entanto, os arqueiros
montados acabariam por infligir pesadas baixas até na mais unida das
formações de cavalaria se esta não fosse protegida, sendo necessária a
infantaria composta de frecheiros, para aguentarem o inimigo a uma
distância segura, e de homens de espada, para protegerem os frecheiros e
evitar que a sua relativamente baixa cadência de disparo os colocasse à
mercê da cavalaria inimiga. Isto exigia um elevado grau de disciplina da
parte de todos, mas, em particular, dos cavaleiros que tinham de calcular a
sua carga para o momento em que o inimigo oferecesse um bom alvo, ao mesmo
tempo que deviam ser capazes de efectuar pequenos ataques para contrariar a
movimentação inimiga, sem alterar a sua formação base. Uma condição
fundamental deste tipo de guerra era que os exércitos Francos deviam manter-
se unidos mesmo quando cercados e uma adaptação às condições de batalha das
Cruzadas, foi a utilização dos Turcópolos, uma força de cavalaria ligeira
baseada em cristãos-turcos ou nativos recrutados, apelidados pelos
muçulmanos de "archeiros dos Francos"
Esta guerra de rápidas movimentações era muito diferente das guerras
europeias e representou um impressionante desenvolvimento das tácticas
ocidentais, em que a tradição de ordem unida e ataque em massa conjugando
cavalaria e infantaria, dependia de disciplina e coordenação a níveis
verdadeiramente excepcionais, de tal forma que a agressividade dos
exércitos ocidentais granjeou o respeito dos seus oponentes, os quais,
mesmo em número superior – como em 1182 com Saladino –, hesitavam em
arriscar a confrontação, temendo o combate corpo-a-corpo.

3.2 – Pelos árabes[6] [7]
Os exércitos islâmicos, tal como os Ocidentais, eram maioritariamente
corpos ocasionais. O governante de uma determinada região mantinha uma
pequena força e formava o exército à volta deste núcleo quando tinha
necessidade. No coração do sistema islâmico, estava o Diwan, o ministro
responsável pelas tropas e pelo seu financiamento, o que, no Egipto dos
Fatimidas, englobava arsenais, quartéis e um exército pago baseado em 4000
a 5000 cavaleiros e a infantaria pesada africana. Isto poderia ser
aumentado com forças recrutadas em povos especializados em determinados
tipos de guerra, como, por exemplo, a cavalaria ligeira Berber, Beduína e
Norte Africana. Nas terras dominadas pela dinastia Seljuk, o núcleo podia
ser acrescentado com cavalaria pesada assim como cavalaria ligeira e
archeiros do Irão, archeiros da Arménia e da Síria e infantaria da região
do mar Cáspio. O núcleo, porém, era composto de Mamelucos, soldados
escravos, cavaleiros turcos especializados em disparar o arco a cavalo.
A composição dos exércitos islâmicos era substancialmente diferente daquela
dos ocidentais. A infantaria tinha um papel limitado e eram predominantes
cavaleiros de todos os tipos sempre pesadamente equipados: agulani cujos
cavalos eram protegidos com placas de ferro foram vistos na 1ª Cruzada,
sendo também o núcleo do exército Fatimida. A tendência dos muçulmanos era
de usar cada vez mais cavalaria pesada: um ghulãm do sec. XII não era muito
diferente de um cavaleiro ocidental. Porém, a diferença mais marcante era
que os exércitos islâmicos usavam enxames de cavalaria ligeira e de
arqueiros a cavalo, o que levava à implementação de tácticas diferentes.
Havia muito maior insistência na emboscada, em parte por ser uma táctica
óbvia da cavalaria ligeira, em parte tirando partido do melhor conhecimento
do terreno. Todavia, o maior contraste entre Oriente e Ocidente era no
engajamento na batalha. Em todo o lado, o combate próximo, corpo-a-corpo,
era decisivo e a tradição ocidental era provocá-lo tão rápido quanto
possível; no Oriente, a cavalaria ligeira podia flanquear e confundir as
formações graças à rápida movimentação.
Mas, ainda mais determinante, era o uso táctico de grandes grupos de
arqueiros-cavaleiros que disparavam da sela; os seus arcos tinham um
alcance de 50 a 80 metros, o que lhes permitia abater cavalos e homens a
uma certa distância. Podiam decidir uma batalha se a moral do inimigo
quebrasse ou enervar as formações inimigas – pois era necessária uma grande
disciplina para aguentar uma chuva de flechas sem debandar –, obrigando-as
a abrir brechas nas quais as cavalarias ligeira e pesada podiam penetrar.
Estes enxames de arqueiros a cavalo tiveram um enorme impacto psicológico
nos cavaleiros da 1ª Cruzada, que não tinham meios de responder a este tipo
de bombardeamento.
A defesa contra este tipo de ataque traduziu-se na intensificação da
tradição ocidental da ordem unida, na qual os cavaleiros em formação
cerrada podiam proteger-se uns aos outros da nuvem de flechas e,
simultaneamente, ameaçar uma carga que iria dispersar os arqueiros
levemente armados que se haviam aproximado para obterem um bom disparo.
Outra diferença substancial residia nas comunicações.[8] Cada exército
muçulmano em marcha trazia consigo pombos que haviam sido criados em várias
cidades e fortificações e treinados para regressar aos seus ninhos de
origem. Era assim suficiente escrever uma mensagem, enrolá-la e atá-la à
perna de um pombo e libertar a ave que voaria muito mais depressa que o
mais rápido cavaleiro, para anunciar a morte de um príncipe, a vitória ou a
derrota, pedir auxílio ou encorajar a resistência de uma guarnição cercada.
À medida que a mobilização árabe contra os cruzados se organizava melhor,
um serviço regular de pombos-correio era estabelecido entre as cidades de
Damasco, Cairo, Aleppo e outras, chegando o Estado a pagar salários às
pessoas encarregues de criar e treinar estas aves. Quando em Junho de 1137
o rei de Jerusalém, ido em auxílio dos cavaleiros de Tripoli, acabou com o
seu exército dizimado e cercado pelas tropas de Zangï – o líder muçulmano
–, teve apenas tempo de enviar uma mensagem a Jerusalém pedindo reforços,
antes de as comunicações serem completamente cortadas. O rei cercado deixou
de receber notícias sobre o que se passava no seu reino, tal era o controle
apertado nas estradas. O chefe muçulmano tirou o melhor proveito da
situação, aumentando a pressão sobre os ocidentais, prometendo poupar-lhes
a vida em troca da rendição; estes não tiveram alternativa senão aceitar,
porém, quando galopavam dali para fora, encontraram, a poucos quilómetros,
os reforços vindos em seu auxílio, mas então já era tarde. Foi
efectivamente durante a sua permanência no Médio Oriente que os ocidentais
seriam iniciados na arte de criar e treinar pombos-correio, o que, mais
tarde, se tornaria uma moda nos seus países de origem.
Por fim, uma diferença fundamental existia entre os dois campos: o facto de
os muçulmanos lutarem na sua terra. Em Agosto de 1192, Ricardo I de
Inglaterra estava numa situação desesperada e desmoralizante. Seriamente
doente, abandonado por muitos cavaleiros que o acusavam de não ter tentado
reconquistar Jerusalém e alertado pelos seus amigos para os problemas em
manter o trono de Inglaterra, não consegue desalojar Saladino da cidade de
Ascalon. Envia mensagens ao seu inimigo, praticamente implorando-lhe que
deixe a cidade, pedindo um acordo de paz a curto prazo para que não seja
forçado a passar ali o Inverno. Saladino responde que não deixará a cidade
e que, por outro lado, não vê outra solução que não seja o rei inglês ali
passar o Inverno, lembrando-lhe que o território conquistado lhe será
retirado assim que ele o abandone. Pergunta-lhe ainda se realmente deseja
ali passar o Inverno, mais dois meses longe da sua família e da sua terra,
enquanto ainda é novo e forte para gozar os prazeres da vida; quanto a ele,
Saladino, poderá passar o Inverno, o Verão, outros Invernos e outros
Verões, pois está na sua terra entre a sua família e amigos, podendo dispor
de um exército para o Verão e outro para o Inverno. Bastar-lhe-á apenas
esperar até que a vitória lhe venha cair nas mãos.[9]

4 – CONCLUSÃO
Em última análise, como anteriormente referido, os cruzados eram estranhos
numa terra estranha. As Cruzadas foram uma experiência horrível: a
distância, a fome, a doença e combates brutais cobraram uma pesada factura
em vidas. Ir em Cruzada era sofrer uma particularmente intensa experiência
de guerra; viver na Terra Santa, era estar constantemente em guerra e
entendê-la como um modo de vida.
Se numa primeira fase os cruzados conseguiram vitórias fulgurantes e
estrondosas frente a um inimigo desorganizado – preso em infindáveis
rivalidades internas e com líderes prontos a cedências que preservassem os
seus privilégios e a manutenção de uma vida faustosa –, a médio prazo os
custos de manter territórios tão longínquos tornaram-se avassaladores.
Enquanto os muçulmanos, apanhados de surpresa pela agressividade e tácticas
de guerra diferentes dos cruzados, se foram submetendo e deixando o tempo
passar à sombra das glórias passadas, optando por tirar o melhor proveito
desta nova força político-militar na região para resolver as suas disputas
internas, os ocidentais foram expandindo o seu território, impondo as suas
condições, acumulando riqueza.
Quando finalmente a sua presença se tornou por demais opressiva, a vantagem
militar de lutar na sua terra dos árabes, sobrepôs-se aos cruzados;
enquanto os primeiros conheciam o território, estavam habituados ao clima e
podiam recompor-se com relativa facilidade das baixas, os segundos estavam
longe da sua pátria, davam-se mal com o clima agreste e, nas grandes
batalhas que marcaram o princípio do fim dos Estados Cristãos do Oriente,
foram completamente esmagados, sofrendo pesadíssimas baixas impossíveis de
colmatar.
A condição básica que permitiu o sucesso da 1ª Cruzada – a desunião entre
as forças árabes – deixou progressivamente de se verificar e uma aliança de
potências islâmicas derrotou a Cruzada de 1101, intermédia entre a 1ª e a
2ª Cruzadas, após o que líderes carismáticos foram emergindo: Zangï, em
Mosul e Aleppo, Nur-ad-Din, que conquistou Damasco, e Saladino, que
unificou a Síria e o Egipto.
Ironicamente, nenhum deles era árabe: Zangï e Nur-ad-Din eram Turcos e
Saladino era Curdo.

5 – BIBLIOGRAFIA
AA.VV., As Cruzadas (1096-1270), Cascais, Editora Pergaminho, 2001.
AA.VV., O Tempo dos Cavaleiros, Cascais, Editora Pergaminho, 2001.
FRANCE, John, Western Warfare in the Age of the Crusades - 1000-1300, New
York, Cornell University Press, 1999.
MAALOUF, Amin, The Crusades Trough Arab Eyes, trad. Jon Rothschild, New
York, Shocken Books, 1985.
RUNCIMAN, Steven, História das Cruzadas, Lisboa, Livros Horizonte, 1992,
vol. I.







6 – ÍNDICE
"1 – Introdução "pág. 02"
"2 – Breve historial das Cruzadas "pág. 02"
"3 – Estratégia e tácticas desenvolvidas "pág. 08"
"3.1 – Pelos cruzados "pág. 09"
"3.2 – Pelos árabes "pág. 13"
"4 – Conclusão "pág. 15"
"5 – Bibliografia "pág. 16"

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[1] Cfr. AA.VV., As Cruzadas (1096-1270), pp. 20-28.
[2] Cfr. John France, Western Warfare In The Age Of The Crusades 1000-1300.
[3] Cfr. AA.VV., O Tempo Dos Cavaleiros.
[4] Cfr. Amin Maalouf, The Crusades Trough Arab Eyes.
[5] Amin Maalouf, The Crusades Trough Arab Eyes, pp. 193, 194.
[6] Cfr. John France, Western Warfare In The Age Of The Crusades 1000-1300.
[7] Cfr. Amin Maalouf, The Crusades Trough Arab Eyes.
[8] Amin Maalouf, The Crusades Trough Arab Eyes, pp. 123, 124.
[9] Amin Maalouf, The Crusades Trough Arab Eyes, p. 214.
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