Estrategias de Operacionalização de Conceitos Teóricos

June 1, 2017 | Autor: Augusto Teixeira Jr. | Categoria: Relações Internacionais, Metodologias de Pesquisa, Projeto De Pesquisa Estrutura Metodológica
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26/07/2016

Estratégias de Operacionalização de Conceitos Teóricos | VOX MAGISTER: as relações internacionais pela voz dos pesquisadores.

Estratégias de Operacionalização de Conceitos Teóricos Publicado por marimenesesss24 de fevereiro de 2016

Por Augusto Teixeira Jr.*

Se  pensarmos  na  evolução  das  Relações  Internacionais  veremos  que  conceitos  teóricos  são  centrais  na  nossa compreensão estruturada do mundo. Entre estes, dicotomias teórico‑conceituais possuem um local especial no campo.  Por  exemplo,  em  oposição  à  Paz,  a  Guerra  –  pensada  através  da  teoria  clausewiᚰ뺡iana  –representa  a manifestação fática de um fenômeno apreensível à luz da razão e da História. Destarte a relevância de conceitos teóricos e dicotomias, se faz necessário indagar: como operacionalizar a ideia de guerra em termos empíricos? De uma forma geral, indo além do conceito Guerra, como classificar e mensurar conceitos teóricos abstratos? Como avaliar  sua  presença  e  efeito?  Na  prática,  estas  indagações  nos  remetem  a  um  desafio  comum  nas  Ciências Sociais: converter conceitos teóricos em operacionalizáveis. Como apresentado na figura abaixo, uma estratégia neste sentido consiste em “quebrar” o conceito teórico em níveis (organizado a partir de variáveis nominais ou ordinais). Figura 1. Five Levels of Intensity

Fonte: h윓둈p://www.hiik.de/en/methodik/index.html (h윓둈p://www.hiik.de/en/methodik/index.html).

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26/07/2016

Estratégias de Operacionalização de Conceitos Teóricos | VOX MAGISTER: as relações internacionais pela voz dos pesquisadores.

No  exemplo  em  tela,  ao  dividir  o  construto  Guerra  em  “Níveis  de  Conflito”,  a  metodologia  utilizada  pelo Conflict  Barometer  torna  possível  traçar  critérios  objetivos  que  ajudam  ao  pesquisador  afirmar  quando  o fenômeno em apreço (Guerra) está ou não em operação. Apesar  da  relevância  dos  Estudos  de  Conflito  na  seara  metodológica,  poucas  áreas  das  Ciências  Sociais propuseram  estratégias  tão  elegantes  para  operacionalizar  conceitos  teóricos  como  nos  estudos  do  Poder Nacional.  Como  exemplo,  apresentamos  abaixo  a  equação  de  Cline[1]  que  através  do  raciocínio  matemático visava pensar formas de quantificação do Poder. Figura 2 Power Equations

Fonte: CHANG, Chin‑Lung. “A Measure of National Power”. Conference Paper. The National University of Malaysia, Bangi. 2004. Traduzir um conceito teórico numa equação matemática não é uma tarefa simples. Existem várias teorias sobre Poder, cada uma argumentando a favor de um conjunto específico de fatores, variáveis e caminhos causais que disputam a melhor explicação[2]. Contudo, a fórmula de Cline (1994) é ilustrativa do esforço de sintetizar na expressão Poder noções caras à disciplinas como a Geopolítica e a Geoestratégia tais como o Poder Real, Latente e  Prestígio.  Uma  análise  detida  da  equação  de  Poder  de  Cline  permite  observar  a  tentativa  de  combinar  a manutenção da complexidade do conceito teórico ilustrada por um conjunto de variáveis mais simples. Dentre estas  se  destacam  os  fatores  de  massa  crítica  (território  e  população),  força  econômica,  força  militar,  proposta estratégica e vontade nacional. Apesar  da  clareza  ilustrativa  da  fórmula  de  Cline,  a  sua  equação  peca  em  trazer  em  seus  termos  aspectos  de difícil  avaliação  objetiva.  Afinal,  como  operacionalizar  “proposta  estratégica”  e  “vontade  nacional”?  Como converter estes fatores em variáveis mensuráveis? Uma resposta criativa a essa indagação surgiu com o Project Correlates  of  War  (COW),  em  particular  com  o  Composite  Indicator  of  National  Capabilitie  (CINC) (h윓둈p://www.correlatesofwar.org/data‑sets/national‑material‑capabilities)[3]. Diante do desafio da mensuração, a metodologia  utilizada  no  National  Material  Capabilities  data  set  simplifica  “Poder”  através  da  ideia  de Capacidades.  Com  isso,  se  lembrarmos  dos  termos  da  equação  de  Cline,  o  construto  Capabilities  do  COW trabalha apenas com as dimensões mensuráveis e operacionalizáveis do conceito teórico de Poder. Na construção do índice CINC as seguintes variáveis são utilizadas: gastos militares, pessoal militar (contingente), consumo de energia, produção de ferro e aço, população urbana e produção total. De forma conclusiva, podemos afirmar que em particular nas Relações Internacionais, a busca por maior rigor metodológico e qualidade das inferências leva o pesquisador a buscar mais evidências e de maior qualidade. Uma forma útil de fazê‑lo consiste em converter os conceitos teórico em conceitos e variáveis operacionalizáveis, sejam elas  qualitativas  ou  quantitativas.  Desta  forma,  a  pergunta  “como  saber  que  o  fenômeno  em  apreço  está  em operação”  torna‑se  passível  de  ser  respondida  pela  introdução  no  desenho  de  pesquisa  de  variáveis  aptas  a apreender empiricamente as características e marcas do objeto estudado. Contudo, vale salientar que a conversão conceitual  para  operacionalidade  reduz  a  riqueza  do  construto  teórico  do  qual  se  parte  e  coloca  o  pesquisador diante  de  trade‑offs  metodológicos  independente  se  a  abordagem  for  qualitativa  ou  quantitativa.  De  forma  a ilustrar esta ideia usando Cline e o COW, indaga‑se: afinal, o que a variável “gastos militares” nos diz per  si sem termos em mente a “proposta estratégica” do país analisado? ———‑ https://voxmagister.wordpress.com/2016/02/24/estrategias­de­operacionalizacao­de­conceitos­teoricos/ *  Doutor  em  Ciência  Política  pela  Universidade  Federal  de  Pernambuco 

2/3 (UFPE).  Atualmente  é  professor

26/07/2016

Estratégias de Operacionalização de Conceitos Teóricos | VOX MAGISTER: as relações internacionais pela voz dos pesquisadores.

*  Doutor  em  Ciência  Política  pela  Universidade  Federal  de  Pernambuco  (UFPE).  Atualmente  é  professor Adjunto  do  Departamento  de  Relações  Internacionais  da  UFPB.  Líder  do  Grupo  de  Pesquisa  em  Estudos Estratégicos e Segurança Internacional (GEESI/UFPB /CNPq). Membro da Associação Brasileira de Estudos de Defesa. [1]  CLINE,  Ray  S.  The  Power  of  Nations  in  the  1990s:  A  Strategic  Assessment.  Lanham,MD:  University Press of America, 1994. [2]  BALDWIN,  David  A.,  “Power  and  International  Relations”,  in  Handbook  of  International  Relations. Disponível  em:  h윓둈p://www.princeton.edu/~dbaldwin/selected%20articles/Baldwin%20(2012)%20 (h윓둈p://www.princeton.edu/~dbaldwin/selected%20articles/Baldwin%20(2012)%20) Power%20and%20International%20Relations.pdf [3]  Ao  usar  o  data  set  favor  citar:  Singer,  J.  David,  Stuart  Bremer,  and  John  Stuckey.  (1972).  “Capability Distribution,  Uncertainty,  and  Major  Power  War,  1820‑1965.”  in  Bruce  Russe윓둈  (ed)  Peace,  War,  and Numbers, Beverly Hills: Sage, 19‑48.

———————————————————————————————————————————————— As  opiniões aqui expressas  são  de  responsabilidade  exclusiva  de  seu/sua  autor  e, portanto, não representam a opinião do Vox Magister nem de todos os seus colaboradores. Sobre estes anúncios (https://wordpress.com/about­these­ads/)

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