ESTRATÉGIAS DE \"REMEDIAÇÃO\" NO TEXTO DO WhatsApp

July 21, 2017 | Autor: Lilian França | Categoria: Linguagem E Tecnologia, Gêneros Textuais, Linguagem, Whatsapp
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Anais Eletrônicos do VI ENPOLE VI Encontro de Pós-Graduação em Letras | ISSN: 2176-4956 Universidade Federal de Sergipe, Campus São Cristóvão, 19 e 20 de Janeiro de 2015

ESTRATÉGIAS DE "REMEDIAÇÃO" NO TEXTO DO WhatsApp Lilian Cristina Monteiro França INTRODUÇÃO

O ambiente digital da internet vem criando novas formas de leitura e de escrita, que aliam ao texto verbal toda uma série de elementos oriundos das linguagens não verbais, a exemplo do som e da imagem. A facilidade de utilização de ferramentas para a produção de texto na internet tem ampliado o acesso e as modalidades de escrita, permitindo que o internauta crie seus próprios sites, blogs, microblogs, posts para redes sociais, posts para comunicadores instantâneos, além de publicar fotos, vídeos, músicas e conteúdo que integra diferentes linguagens. Com a popularização do telefone celular, mais precisamente do smartphone, intensificou-se a troca de mensagens de texto, incentivada pela utilização de aplicativos sem custos de telefonia, dentre os quais destaca-se o WhatsApp. Desenvolvido em 2009 por Jam Koum, tornou-se uma das formas mais populares de comunicação entre os usuários de smartphones, ultrapassando a marca de 600 milhões de usuários em todo o mundo em 2014. Foi neste ano, aliás, que o aplicativo foi comprado pelo mesmo grupo do Facebook, por cerca de 19 bilhões de dólares, demonstrando a importância do veículo no atual contexto. A rapidez de sua disseminação gerou a demanda por um novo gênero textual, em sintonia com a possibilidade de transmissão de texto, imagem, som, vídeos e geolocalizações que o aplicativo oferece. Tal demanda tem levado à utilização de textos produzidos pelas mídias tradicionais (jornal, rádio e televisão) que são reformatados para o novo meio. De acordo com Church e Oliveira (2013) o diferencial do WhatsApp com relação a outros aplicativos similares de deve: ao fato de estar disponível para diferentes plataformas (Android, iOS, Windows Phone, entre outras); ao crescimento do acesso à internet móvel via smartphone; à disponibilização de avisos de entrega e de leitura das mensagens; ao acesso a um teclado com emoticons; ao funcionamento tanto on-line quanto off line. Os pesquisadores destacam, ainda, as principais razões para que os usuários optem pelo aplicativo: custo, influência social, facilidade de operação, senso de Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH

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conexão, instantaneidade e privacidade, confiança, estrutura de funcionamento e rapidez (CHURCH e OLIVEIRA, 2013, pp. 3-4). A intensificação do uso do WhatsApp no Brasil ensejou o presente estudo, cujo objetivo é analisar as mensagens transmitidas pelo WhatsApp para verificar em que medida são utilizadas estratégias de remediação. O conceito de "remediação" (BOLTER e GRUSIN, 2000) se refere à necessidade de apropriação e recriação de gêneros tradicionais e pode acontecer, segundo os autores, de quatro modos principais: Remediação Direta (não-irônico); Remediação que enfatiza a diferença; Remediação agressiva e Absorção como Remediação. Após a análise foi possível perceber que a forma mais comumente praticada foi a da "Remediação agressiva", decorrente, em especial, da velocidade e do volume de consumo de mensagens. O corpus da pesquisa foi composto uma amostra intencional, coletada durante o segundo semestre de 2014 e classificada em seis categorias: personagens, eventos, saudações, ironias, publicidade e notícias, para verificar quais os tipos de "remediação" mais frequentemente praticadas.

1.O CONCEITO DE REMEDIAÇÃO

Bolter e Grusin (2000) formularam o conceito de “remediação”, afirmando: “O desejo de urgência leva a apropriação e a recriação de gêneros tradicionais, a este processo chamamos de remediação”, ou seja a utilização de um texto originalmente produzido em um meio em outro, ou seja, do impresso para o digital, da televisão para o vídeo, da história em quadrinhos para o cinema, entre tantas outras formas. O processo de remediação demanda o apagamento (ou a tentativa de) do meio original, baseando-se num paradigma de transparência, em que o leitor é levado a acreditar que o texto foi produzido especificamente para o meio no qual se encontra. Os autores destacam que: “O meio ambiente midiático está se proliferando mais rapidamente do que nossas instituições culturais, educacionais e legais podem lidar com elas” (BOLTER e GRUSIN, 2000, p. 4), o que significa o reaproveito de conteúdo para utilização em novos meios, uma vez que não há tempo para o desenvolvimento de

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novos gêneros textuais, gerando a apropriação e a recriação de gêneros textuais tradicionais. A lógica da remediação opera de modo contraditório: Ao abordar os imperativos contraditórios da cultura de imediatismo e “hypermediacidade”, apresenta-se uma dupla lógica de "re–mediação”. Nossa cultura quer multiplicar a sua mídia e ao mesmo tempo apagar todos os vestígios de mediação: quer apagar sua mídia no próprio ato de multiplicação das tecnologias mediadoras (BOLTER e GRUSIN, 2000, p. 8).

Sobre o conceito de remediação cabe citar Del Bianco (2008): Na raiz do conceito de remediação está o pensamento original de Marshall McLuhan [...]. Ao compreender a transformação dos meios de comunicação na década de 60, o pensador canadense verificou que o processo de mutação se dava por hibridização. Como afirmava, o híbrido ou o encontro de dois meios, libera grande força ou energia por fissão ou fusão, porque constitui o momento de verdade e revelação, do qual nasce a forma nova (DEL BIANCO, 2008, p. 1).

Durante o processo de remediação o texto original pode ser modificado de quatro modos principais: Remediação Direta (não irônico); Remediação que enfatiza a diferença; Remediação agressiva e Absorção como Remediação (BOLTER e GRUSIN, 2000). A remediação direta significa a transposição do texto de um meio para outro sem aparente crítica ou ironia, apenas pela adequação da linguagem à forma do novo meio, como na digitalização de textos impressos ou fotografias, para fins de divulgação na web. No caso da remediação que enfatiza a diferença, o conteúdo incorpora propriedades específicas do novo meio, como no caso de um livro que se torna um e-book e passa a permitir a navegação dentro do próprio texto através de links, a pesquisa em dicionários e na própria internet e a personalização do modo de leitura, com a escolha de tipos e tamanhos de fonte. O terceiro tipo, a remediação agressiva, procura refazer o texto da mídia tradicional completamente, reorganizando-o dentro de novos padrões que promovem o apagamento da mídia original.

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Finalmente, a Absorção como Remediação, procura absorver inteiramente o meio mais antigo, como acontece com um livro multimídia, que cria uma lógica de leitura inteiramente nova no que diz respeito ao acesso a conteúdo.

2. ESTRATÉGIAS DE REMEDIAÇÃO NO TEXTO DO WHATSAPP

O crescimento exponencial do WhatsApp (Figura 1), com mais de 1 milhão de novos usuários se registrando a cada dia e um tráfego de mensagens da ordem de 64 bilhões/dia em todo o mundo, faz do aplicativo um importante veículo de circulação de mensagens (STATISTA, 2014).

Figura 1 – Crescimento do número de usuários do WhatsApp (2009-2013)

Fonte: PRATHAP (2014, p. 2)

De acordo com o site especializado Statista (2014), o usuário médio envia cerca de 1.200 mensagens e recebe cerca de 2.300 mensagens por mês, gerando uma demanda por conteúdos que vai além da troca de usuários individuais, circulando em grupos e comunidades. A produção de conteúdo para o WhatsApp recupera estratégias de diferentes gêneros textuais (impresso, publicidade, televisão, cartazes, folders, rádio, entre outros) que são "remediados" para atender às necessidades do novo meio. Durante o segundo semestre de 2014, no Brasil, o uso do WhatsApp no Brasil intensificou-se em função, principalmente, da Copa do Mundo de Futebol e com a Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH

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realização de eleições para Presidente da República, ampliando a troca de mensagens de interesse geral e comentários sobre a atuação da seleção, suas vitórias e derrotas. Uma pesquisa utilizando operadores booleanos1 realizada através do Google Advanced Search2, após realizada a eliminação de textos duplicados, gerou uma lista das quais foram extraídas as 200 mensagens mais veiculadas. As mensagens foram categorizadas de acordo com o seu conteúdo: personagens, eventos, saudações, ironias, publicidade e notícias (Tabela 1).

Tabela 1 – Mensagens mais populares no WhatsApp, no Brasil, 2º. Semestre de 2014 (de acordo com os critérios explicitados na Nota 2)

Categoria

Frequência

%

Personagens

33

16,5

Eventos

14

7

Saudações

42

21

Ironias

74

37

Publicidade

21

10,5

Notícias

11

5,5

Outros

5

2,5

Total

200

100

Fonte: elaboração própria.

A categoria "personagens" reúne as mensagens que apresentam uma figura conhecida na mídia tradicional (por exemplo: "Félix" e "Carminha" das novelas da Globo, Neymar e Fred da seleção brasileira de futebol, a "Monalisa", de Leonardo da Vinci); "eventos" diz respeito a divulgação de shows, festas e comemorações; "saudações" diz respeito a mensagens de "bom dia", "boa noite", "boa semana" e similares; "ironias" – mensagens "por meio das quais se passa uma mensagem diferente, muitas vezes contrária, 1

Em linhas gerais, operadores booleanos são palavras ("e", "ou", "não") utilizadas com o objetivo de definir para o sistema como deve ser feita a pesquisa. 2 A pesquisa utilizou os recursos de pesquisa avançada para os termos "WhatsApp", "mensagens mais populares", "Brasil", no período de junho a dezembro de 2014, idioma "português", local: Brasil, ativados os filtros para "conteúdo impróprio", arquivos do tipo: ".pdf", ".jpeg", ".txt", ".doc", tipo de licença: "sem restrição de uso ou compartilhamento". Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH

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à mensagem literal", "com objetivo de criticar ou promover humor" (HOUAISS, 2009) 3; "publicidade" indica conteúdo que procura divulgar um produto de consumo; "notícias" trata de temas apresentados como pauta na mídia tradicional; "outros" indica as mensagens que não se enquadraram nas demais categorias. As mensagens mais veiculadas encontram na categoria "ironia" a maior frequência, com 37% do total, fato que se deve, em parte, ao próprio contexto do segundo semestre de 2014 no Brasil, com a realização da Copa do Mundo de Futebol e de eleições para Presidente da República. É interessante notar que a categoria "notícia" (5,5%) foi a menos frequente, o que indica, no caso dessa amostra selecionada, que o WhatsApp não funcionou como veículo noticioso, no que tange à retransmissão das principais manchetes presentes no período na mídia tradicional. Quanto ao tipo de remediação praticado nas mensagens analisadas (Tabela 2), percebe-se que a "remediação agressiva" é a forma mais comumente praticada e a "absorção como remediação" não foi encontrada na amostra analisada. Como destaca Canavilhas (2012) o processo de remediação: "pode ocorrer em diferentes níveis: no caso dos meios digitais, o nível pode variar entre uma melhoria discreta do meio antecessor, mantendo algumas das suas características, até remediações mais profundas, em que o novo meio digital tenta absorver completamente o anterior" (CANAVILHAS, 2012, p.9).

Tabela 2 – Tipos de remediação nas mensagens do WhatsApp analisadas Categoria

Frequência Remediação Remediação Remediação Direta que enfatiza agressiva a diferença Personagens 33 33 Eventos 14 8 1 5 Saudações 42 22 9 11 Ironias 74 74 Publicidade 21 17 3 1 Notícias 11 11 Outros 5 5 Total 200 Fonte: elaboração própria.

Absorção como Remediação -

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Como não é objetivo desta pesquisa discutir o conceito de "ironia" optou-se por utilizar a sua acepção mais comum presente no dicionário HOUAISS (2009). Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH

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A categoria "notícias" indicou a predominância da "remediação direta", não irônica, resultado da transposição do conteúdo original com pequenas adaptações para o novo meio (WhatsApp) (Figuras 1). Sobre o processo de remediação na imprensa portuguesa, Canavilhas (2012) argumenta que os processos de remediação são os mais frequentes, ocorrendo também a chamada "remediação inversa", ou seja, aquela em que a mídia tradicional passa a se utilizar da linguagem dos novos meios digitais. Assim, o fato da categoria "notícias" ser composta apenas por mensagens que passaram por um processo de "remediação direta" indica que o WhatsApp (no Brasil e considerando-se a amostra selecionada) ainda não desenvolveu uma linguagem própria para veiculação de notícias, como é o caso, por exemplo, do Twitter, que já possui um conjunto de regras definidas (quantidade de caracteres, uso de hashtags, encurtadores de links, etc.).

Figura 1 – Exemplo de notícia encaminhada por WhatsApp (Remediação direta)

Fonte:

http://ecode.messa.com.br/2013/11/acoes-de-publicidade-no-

whatsapp.html.

A este respeito, ainda, Del Bianco (2008) observa: É na apropriação dessa lógica que o novo rivaliza com a mídia tradicional. Exemplo disso é a notícia na Internet. De acordo com Bolter e Grusin, ao atuar no sentido de levar a notícia mais rápida, a Internet já se transformou numa das mídias estabelecidas que rivaliza com a televisão, rádio e imprensa. Agora é um participante ativo incorporado aos acontecimentos mais importantes, a exemplo das eleições, escândalos, desastres, entre outros (DEL BIANCO, 2008, p.3)

Na categoria "publicidade" observa-se um fato semelhante: a maior parte das mensagens também se concentram no processo de "remediação direta", adaptando a Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH

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linguagem da publicidade impressa com pequenas variações, numa espécie de micro anúncio, muito semelhante aos veiculados em banners na web (Figura 2). Tal fato se coaduna com os estudos de Souza (2014) sobre o processo de remediação na publicidade apontam para o fato de que: "As dimensões condizentes à Remediação para os autores [BOLTER e GRUSIN, 2000] consideram que a emergência de uma nova mídia não extingue as anteriores, mas, sim, as conduz a rearranjos marcados pela incorporação de características despontadas na mais recente" (SOUZA, 2014, p. 11).

Figura 2 - Exemplo de publicidade encaminhada por WhatsApp (Remediação direta)

Fonte: http://www.marketdesign.com.br/whatsapp-marketing/200. Já na categoria "saudações" embora o predomínio seja o da "remediação direta", encontramos exemplos de "remediação que enfatiza a diferença" e de "remediação agressiva". A produção de mensagens que têm por objetivo saudar os integrantes da lista de contato do WhatsApp ao mesmo tempo em que apenas transpõe o formato de uma saudação tradicional vai criando uma linguagem própria, como pode ser percebido no exemplo a seguir (Figura 3).

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Figura 3 - Exemplo de saudação encaminhada por WhatsApp (remediação agressiva – do álbum de família para o aplicativo)

Fonte: http://www.mundowhatsapp.com/listings/bom-dia-whatsapp/. Analisando-se as mensagens da categoria "eventos", mais uma vez observação as estratégias de "remediação direta". Em alguns casos, os eventos divulgados na web já apresentam um link para ser enviado pelo WhatsApp (Figura 4).

Figura 4 – Link para divulgação pelo WhatsApp

Fonte: http://www.mundowhatsapp.com/listings/bom-dia-whatsapp/.

A "remediação agressiva" está presente em todas as mensagens das categorias "personagens" e "ironia". O personagem "Fred", da novela "Amor a Vida" (rede Globo), aparece em uma série de mensagens críticas à atuação da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2014. Na novela, o vilão Fred ficou famoso por seus bordões que foram, juntamente com a imagem do ator que o representa, Matheus Solano, remediados de forma agressiva, a partir da remodelagem (refashion) da imagem televisiva (Figura 5).

FIGURA 5 – Exemplos de mensagens veiculadas pelo WhatsApp com o personagem Fred, da novela "Amor a Vida"(Rede Globo)

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Fontes: http://fredsonpaivareporter.blogspot.com.br/2014/07/copa-do-mundo-derrotada-selecao-vira.html; https://www.putsgrilo.com.br/esporte/copa-2014-o-vexame-brasilx-alemanha-e-o-melhor-da-internet/; http://algodaoazedo.com/7-motivos-para-vcchorar-de-rir/; As mensagens enquadradas na categoria "ironia" valem-se de contextos amplamente divulgados pelas mídias tradicionais para transmitir mensagens irônicas, a exemplos das apresentadas na Figura 6. Como ressaltam Bolter e Grusin (2000) "todas as funções de uma nova mídia, como a remediação, nos oferecem outro meio de interpretar as obras das mídias anteriores” (BOLTER e GRUSIN, 2000, p. 55). Figura 6 - Exemplos de mensagens veiculadas pelo WhatsApp na categoria "ironia"

Fontes: http://www.mundowhatsapp.com/whatsapp/; http:// geloelimao.com; http://pitacosdepa.blogspot.com.br/2013/10/em-terra-de-cego.html

As mensagens das categorias "ironia" e "personagens" valem-se, muitas vezes, de um processo de múltipla remediação, como pode ser observado nas mensagens que se utilizam da imagem da Monalisa, de Leonardo da Vinci, que é retirada da tela para a fotografia (primeira remediação), passa para o editor de fotografia (segunda remediação), é publicada na web (terceira remediação) e enviada pelo WhatsApp (quarta remediação) (Figura 7).

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Figura 7 - Exemplos de mensagens com múltiplas remediações veiculadas pelo WhatsApp utilizando a imagem da Monalisa, de Leonardo da Vinci.

Fontes: http:// epiclol.com; http://funnyalltime.com; http://perolas.com/mona-lisacansou/. As análises aqui empreendidas pretendem realizar uma primeira leitura acerca da linguagem das mensagens do WhatsApp. A presença das diferentes formas de remediação é uma característica dos gêneros textuais digitais, aparecendo de modo mais frequente nos meios mais recentes, que ainda não desenvolveram formas específicas para produção de conteúdo. De acordo com Canavilhas (2012), A história dos mass media mostra que cada novo meio passa por um período de indefinição até estabilizar um conjunto de características próprias. Isto significa que os novos meios começam por misturar os conteúdos dos seus antecessores (remediação) até estabilizarem uma linguagem própria (convergência) (CANAVILHAS, 2012, p.10).

O WhatsApp está ainda desenvolvendo sua linguagem, o que intensifica a presença dos diferentes tipos de remediação. De acordo com Bolter e Grusin (2000), "O meio ambiente midiático está se proliferando mais rapidamente do que nossas instituições culturais, educacionais e legais podem acompanhar" (BOLTER e GRUSIN, 2000, p. 32), o que torna mais difícil a análise do gênero textual digital em uma conjuntura tão movediça.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As especificidades da internet bem como a velocidade com que novas ferramentas são criadas nesse ambiente levam a apropriação da linguagem das mídias

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tradicionais pelos meios digitais, tornando, dessa forma, o processo de remediação mais visível (BOLTER E GRUSIN, 2000; CANAVILHAS, 2012, 2013). O WhatsApp surge como um aplicativo popular, agregando a cada dia novos usuários e produzindo uma quantidade expressiva de mensagens que não possuem um formato perfeitamente delineado. As estratégias de remediação presentes nas mensagens analisadas indicam que em alguns casos o conteúdo do WhatsApp tem sido produzido a partir da remodelação de conteúdos de outras mídias, quer seja pela mera transposição (remediação direta) quer seja pela modificação mais significativa (remediação agressiva). O conceito de remediação (tal como formulado por Bolter e Grusin) ajuda a compreender os processos de construção de gêneros textuais digitais e o caráter híbrido que as novas mídias vem assumindo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOLTER, Jay David e GRUSIN, Richard. Remediation. Massachusetts: MIT Press, 2000. CANAVILHAS, João. Notícias e Mobilidade - O jornalismo na era dos dispositivos móveis. Covilhã, Portugal: Labcom Books, 2013. CANAVILHAS, João. "Da remediação à convergência: um olhar sobre os media portugueses". In: Brazilian Journalism Research - Volume 8 - Número 1 – 2012. Disponível em: http://bjr.sbpjor.org.br/bjr/article/view/369. Acesso em: janeiro de 2015. CHURCH, Karen e OLIVEIRA, Rodrigo. "What’s up with WhatsApp? Comparing Mobile Instant Messaging Behaviors with Traditional SMS". In: MOBILE HCI 2013 – COLLABORATION AND COMMUNICATION. 2013. Disponível em: . Acesso em: janeiro de 2015. DEL BIANCO, Nélia R. "Remediação do radiojornalismo na era da informação". In: Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação – BOCC. 2008. Disponível em: < http://www.bocc.ubi.pt/pag/bianco-nelia-remediacao-radiojornalismo-era-dainformacao.pdf>. Acesso em: janeiro de 2015. JOE PRATAP, P. M. "Facebook - WhatsApp Merger – A Revolution in the Social Networks". In: International Journal of Electrical & Computer Sciences IJECSIJENS Vol:14 No:04. 2014. Disponível em: < http://www.ijens.org/Vol_14_I_04/141204-5757-IJECS-IJENS.pdf>. Acesso em: janeiro de 2015. SOUZA, Alessandro. Reivindicando imediação e hipermediação em esforços persuasivos: uma proposição para se pensar publicidade e propaganda na web. In: Anais Apoio FAPITEC/CAPES | POSGRAP | PPGL | CECH

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do XXXVII Intercom, 2014. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2014/resumos/R9-1252-1.pdf. Acesso em: janeiro de 2015. STATISTA. The Statistics Portal. 2014. Disponível em: www.statista.com. Acesso em: janeiro de 2015.

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