Estratégias Educativas do Movimento LGBT de Caruaru: Um relato de experiência das ações do coletivo Lutas e Cores

June 1, 2017 | Autor: Cleyton Feitosa | Categoria: Movimentos sociais, Direitos Humanos, Movimento Lgbt, Educação popular
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GT – 1: Educação, Movimentos Sociais e Epistemologias

ESTRATÉGIAS EDUCATIVAS DO MOVIMENTO LGBT DE CARUARU: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS AÇÕES DO COLETIVO LUTAS E CORES

Cleyton Feitosa Pereira
Emerson Silva Santos

Desde o seu surgimento no Brasil, na década de 1970, o movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) tem atuado no enfrentamento à homofobia (SIMÕES e FACCHINI, 2009) e na busca incessante por dignidade, direitos e cidadania. Para isso, o movimento tem se utilizado de diversas estratégias e ferramentas que possibilitem a construção de uma sociedade menos hostil e que respeite os direitos humanos da população LGBT.
Entendemos homofobia conforme Borrillo (2010) disserta como um fenômeno social construído historicamente que expressa relações de poder, ou seja, mais do que uma mera violência física dotada de um ódio irracional, a homofobia funciona como um marcador violento que hierarquiza relações e sujeitos/as, se articula com a cultura e com outros conceitos como a heteronormatividade e a heterossexualidade compulsória (COLLING, 2014).
Considerando o campo da Educação como sendo de grande importância na formação dos indivíduos, não por acaso, esse campo tem sido apontado como um dos mais estratégicos para a população LGBT (JUNQUEIRA, 2009). Aqui incluída a Educação não formal, pois quando falamos de educação compreendemo-la como um campo amplo que possibilita intervenções para além do interior das salas de aula com bem pontua Brandão (1981).
O presente trabalho visa apresentar um breve relato de experiência das estratégias educativas do Coletivo LGBT Lutas e Cores de Caruaru, Pernambuco. Para Gil (2008), o relato de experiência possibilita que os/as pesquisadores/as relatem suas experiências e vivências associando-as com o saber científico. É válido ressaltar que nós, os autores desse texto, também compomos o Lutas e Cores e participamos intensamente da formulação e execução das ações do grupo.
O Lutas e Cores surgiu na cidade de Caruaru no início de outubro de 2014 a partir do desejo de um agrupamento de pessoas em construir uma organização que reunisse indivíduos/as LGBT em torno de uma agenda política que fortalecesse a cidadania desse segmento na cidade. Sua organização interna é estruturada de forma horizontal, sem que exista uma direção nos moldes tradicionais de organizações da sociedade civil, sobretudo das Organizações Não-Governamentais, um dos braços do modelo neoliberal, que se organizam de maneira vertical e, muitas vezes, unilateral (composto por um presidente, sendo este, em geral, homem, secretários e diretores).
A preocupação com a horizontalidade do grupo se deu também em virtude de parte de seus membros já terem participado de espaços hierarquizados que flertam com o autoritarismo e com a baixa capacidade de diálogo.


Figura 1 - Panfletaço no Dia Internacional de Luta Contra a Homofobia – 17/05/2015.

Entre os objetivos do Lutas e Cores, destaca-se o desenvolvimento de uma prática política coletiva e atuante que atenda aos anseios de seus membros no campo da igualdade de direitos e da justiça social, enfrentando a homofobia e as discriminações diversas que se interseccionam (lesbofobia, transfobia, racismo, machismo, capacitismo, xenofobia, classismo, etc.). Este objetivo guarda estreita relação com a forma horizontal com que tentamos nos organizar haja vista que os diversos anseios só conseguem ganhar centralidade na medida em que todos e todas tem direito à voz e ao convencimento de tais demandas.


Figura 2 - Coletivo Lutas e Cores na I Intervenção Cultural do Orgulho LGBT de Caruaru – 28/06/2015.

Com vistas a atingir este objetivo, os/as ativistas que compõem o Lutas e Cores desenvolvem uma variedade de ações na cidade de Caruaru como a realização de reuniões (ora em espaços públicos, ora em espaços fechados, considerando a condição de "armariamento" de seus membros), panfletaços, intervenções nas redes sociais (Facebook, Instagram e Twitter) participações em conferências, formações de servidores/as públicos/as, espaços de interlocução com o Estado, diálogo e fiscalização do Poder Público, beijaços, rodas de diálogo, campanhas, mesas redondas, entrevistas e participações em programas da imprensa local, entre outras.


Figura 3 - Página do Lutas e Cores no Facebook - mirando formas alternativas de comunicação e democratização da mídia.

Desta forma, buscamos sempre empregar um caráter pedagógico nas diversas intervenções realizadas vislumbrando transformações significativas, pois uma das nossas inspirações teóricas é Paulo Freire e a sua visão politizadora da Educação e ao mesmo tempo pedagógica da ação política.
Por isso, mesmo nas atividades mais lúdicas que desenvolvemos, a exemplo da I Intervenção Cultural no Dia Internacional do Orgulho LGBT, onde promovemos shows de drag queens, música e poesia, buscamos estabelecer uma relação de ensino e aprendizagem com os atores e atrizes que se envolvem com o grupo: tanto na formação política dos membros do coletivo como nas pessoas externas a ele que contactamos. Como Freire bem ensinou: "Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo".

Palavras-Chave: Movimento LGBT. Educação. Direitos Humanos.

Referências

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Que é Educação. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981.

COLLING, Leandro; NOGUEIRA, Gilmaro. Relacionados mas diferentes: Sobre os conceitos de homofobia, heterossexualidade compulsória e heteronormatividade. In: RODRIGUES, A.; DALLAPICULA, C.; FERREIRA, S. R. S. (Orgs.). Transposições: lugares e fronteiras em sexualidade e educação. Vitória: EDUFES, 2014.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2008.

JUNQUEIRA, Rogério Diniz. "Aqui não tem gays nem lésbicas": estratégias discursivas de agentes públicos ante medidas de promoção do reconhecimento da diversidade sexual nas escolas. Revista Bagoas, vol. 3, n. 4, pp. 171-189, jan./jun. 2009. Disponível em: . Acesso em: 08/08/2015.

SIMÕES, Júlio Assis; FACCHINI, Regina. Na Trilha do Arco-Íris: Do movimento homossexual ao LGBT. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009.




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Licenciado em Pedagogia e Mestrando em Direitos Humanos pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Membro do Lutas e Cores. Email: [email protected].
Bacharel em Administração Pública pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Conselheiro do Conselho Estadual dos Direitos da População LGBT de Pernambuco. Membro do Lutas e Cores. Email: [email protected].
Para entender o "armário", sua dinâmica e efeitos, ler "A Epistemologia do Armário" de Eve Sedgwick (2007).



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