ESTRATÉGIAS MISSIONÁRIAS DO MOVIMENTO HARE KRISHNA VRINDA NA CIDADE DE SÃO PAULO

June 16, 2017 | Autor: Angelica Tostes | Categoria: Marketing, New Religious Movements, Hare Krishna, Vrindavan
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

ANGELICA TOSTES THOMAZ

ESTRATÉGIAS MISSIONÁRIAS DO MOVIMENTO HARE KRISHNA VRINDA NA CIDADE DE SÃO PAULO

São Paulo 2015

ANGELICA TOSTES THOMAZ

ESTRATÉGIAS MISSIONÁRIAS DO MOVIMENTO HARE KRISHNA VRINDA NA CIDADE DE SÃO PAULO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Teologia a Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para a obtenção do bacharelado em Teologia.

ORIENTADORA: Profa. Dra. Lídice Meyer Pinto Ribeiro

São Paulo 2015

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AGRADECIMENTOS À Deus, por sua graça imerecida. À minha orientadora Lídice Meyer, por toda ajuda e incentivo logo no primeiro semestre da graduação. Uma pessoa inspiradora e inteligentíssima, a quem eu devo muito do que sou. Aos meus queridos amigos Bruno Candiotto e Hanny Park, por terem me dado todo o apoio e incentivo para que eu concluísse essa graduação. Gratidão eterna por vocês. Aos professores da Teologia, em especial aos professores Cláudio Reis, que me ouviu e aconselhou em um momento de crise. Uma pessoa digna da mensagem que carrega, Cristo; Aos professores Ricardo Bitun e Cristiano Lopes, por terem exercido o chamado pastoral na minha vida e ao professor Jonathan Hack, que com sua simplicidade e seriedade me fez pensar teologicamente em todas as disciplinas dada por ele. À professora Suzana Ramos Coutinho, pois se tornou uma grande amiga que levarei pela vida. E sem ela não poderia concluir esse curso. Ao Paulo Velozo, um irmão e amigo fiel que a faculdade me presenteou. Aos devotos do Templo Vrinda Aclimação, em especial à Dina Dayal, uma querida amiga e devota que me acolheu desde 2013 para que essa pesquisa fosse realizada. À minha parceira de crises, risos e todas as fases: Patrícia Tostes, minha irmã e cúmplice, que sempre esteve do meu lado, seja nos momentos bons e ruins.

Om Shanti!

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"Um homem é, acima de tudo, sua vontade. Conforme é a sua vontade nesta vida, assim ele se torna quando a deixa. Desse modo, sua vontade deveria estar orientada para atingir Deus." Chandogya Upanishad

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RESUMO O objetivo dessa monografia é apresentar alguns apontamentos realizados na cidade de São Paulo, Bairro da Aclimação, sobre a religião Bhakti-Yoga, ou como são mais conhecidos, o Movimento Hare Krishna, especificamente, a Missão Vrinda, sobre as estratégias missionárias da religião. Entre os métodos que foram utilizados constam: entrevistas de transeuntes e devotos do templo; pesquisa bibliográfica e etnográfica e análise dos projetos para a propagação da religião na cidade de São Paulo. Os resultados da pesquisa mostram que a maior estratégia para atrair jovens para o Movimento Hare Krishna Vrinda é o convite de amigos/parentes e que os motivos que são mais preponderantes para a inserção na religião é o autoconhecimento e a busca de um sentido para a vida.

Palavras-chave: hare krishna, vrinda, estratégias missionárias

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ABSTRACT The aim of this monograph is to present some notes about the Bhakti-Yoga religion from São Paulo, in the neighbourhood of Aclimação. This religion is best known as the Hare Krishna movement and, more specifically, as the Vrinda Mission concerning the religion's missionary strategies. Are included between the used methods: passerby interviews and the temple’s devotees; bibliographic and ethnographic research and projects analyses for the religion propagation on the city of São Paulo. The work’s results show that the major strategy to bring/attract people for the Hare Krishna Vrinda Movement is the invitation of friends/family and the reasons that prevail on the religion insertion are the self-knowledge and the search for the meaning of the life. Keywords: hare krishna, vrinda, missionary strategies

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LISTA DE ILUSTRAÇÃO Tabela 1 História do Movimento para Consciência de Krishna ................................................. 5 Figura 1 Guru Maharaj ............................................................................................................. 21 Figura 2 Guru Atulananda ........................................................................................................ 22 Figura 3 Noite da Índia no Centro Cultural Vrinda ................................................................. 25 Figura 4 Curso no Centro Cultural Vrinda ............................................................................... 26 Figura 5 Flyer de divulgação do Ratha-Yatra 2015 ................................................................. 28 Figura 6 Guru Maharaj e os devotos na procissão na Avenida Paulista................................... 29 Figura 7 Guru Maharaj entregando panfletos ........................................................................... 29 Figura 8 Deidades percorrendo a Avenida Paulista ao som de mantras ................................... 30 Figura 9 Flyer de divulgação do Natal Indiano de 2014 .......................................................... 32 Figura 10 - 108 oferendas a Krishna pelo seu nascimento ....................................................... 32 Figura 11 Centro Cultural Indiano no Festival Janmastami em 2014 ...................................... 33 Gráfico 1 Estratégias Missionárias do Templo......................................................................... 38 Tabela 2 Razões para frequentar o templo ............................................................................... 40 Gráfico 2 Religiões pertencentes .............................................................................................. 42

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 2 CAPÍTULO 1 – ENTENDENDO AS ORIGENS .................................................... 4 1.1

A TRADIÇÃO VAISHNAVA................................................................................................ 4

1.2 BHAGAVAD-GITA E A LITERATURA VÉDICA ..................................................................... 6 1.2.1 CONTEXTO HISTÓRICO .................................................................................................... 7 1.2.2 ENREDO................................................................................................................................ 7 1.2.3 LITERATURA SAGRADA .................................................................................................. 8 1.2.4 A RELEVÂNCIA DO BHAGAVAD-GITA PARA A FÉ HINDU ......................................... 9 1.4 KRISHNA, O SENHOR DA BHAKTI-YOGA.......................................................................... 11

CAPÍTULO 2 - O MOVIMENTO HARE KRISHNA E A SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA KRISHNA (ISKCON) ........................... 13 2.1 CONTEXTO HISTÓRICO ......................................................................................................... 13 2.2 A FUNDAÇÃO DA ISCKON .................................................................................................... 14 2.3 MOVIMENTO HARE KRISHNA NO BRASIL ....................................................................... 16

CAPÍTULO 3 - MISSÃO VRINDA ........................................................................ 19 3.1 GURU MAHARAJ ..................................................................................................................... 19 3.2 GURU ATULANANDA............................................................................................................. 21 3.3 TEMPLO ACLIMAÇÃO ............................................................................................................ 23

CAPÍTULO 4 - FESTIVAIS E O PROSELITISMO ............................................ 27 4.1 RATHA-YATRA ........................................................................................................................ 27 4.2 JANMASTAMI........................................................................................................................... 30 4.3 SINCRETISMO RELIGIOSO .................................................................................................... 33

CAPÍTULO 5 - ESTRATÉGIAS MISSIONÁRIAS E O PÚBLICO-ALVO ..... 36 5.1 PROJETOS DO TEMPLO VRINDA ACLIMAÇÃO ................................................................ 36 5.2 ANÁLISES DA EFICÁCIA DOS PROJETOS COMO PROSELITISMO................................ 37 5.3 JOVENS ADULTOS E CONVERSÃO...................................................................................... 38 5.4 MOVIMENTO HARE KRISHNA VRINDA COMO MERCADO RELIGIOSO ..................... 41

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 47

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ANEXO I ................................................................................................................... 51

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INTRODUÇÃO Paulraj Michael define o Bhakti Yoga como “Bhakti may be defined as a love-impulse or love culture which demands both a vertical commitment (to serve God) and a horizontal envolvement (to share with others)”1 (MICHAEL, 2011, p. 250-251). Com uma filosofia de “vida simples e pensamentos elevados”, a religião vem ganhado seu espaço na sociedade ocidental desde a década de 70 (ADAMI, 2009, p.2). Porém, com altos e baixos, resurge como um novo “mercado” religioso para a juventude do século XXI. Os apontamentos foram feitos sobre os estudos desse mercado religioso e como se dá o proselitismo da religião na cidade de São Paulo. Peter Berger e sua teoria sobre Novos Mercados Religiosos é a base para essa pesquisa. Em O Dossel sagrado: Elementos para uma teoria sociológica da religião (1985) é tratado sobre a temática da religião como um grande mercado de bens simbólicos e significação. O Movimento Hare Krishna Vrinda consta nessa disputa do Mercado Religioso. Para uma análise sobre conceitos sobre sagrado e profano na religião foi utilizado Émile Durkheim em As Formas Elementares de Vida Religiosa (1989). Para que fosse notado que por mais que o Movimento Hare Krishna Vrinda possa ser considerado uma forma alternativa de crença, ainda permanece os mesmos conceitos de religiões ditas tradicionais. Esse trabalho foi desenvolvido através de entrevista de alguns devotos e visitantes que transitavam pelo templo, observação em rituais (serviços do templo e oferendas diárias paras as divindades) e ritos de passagem (iniciações e casamento) e análise de programas (workshops, cursos e palestras), folhetos, divulgação redes sociais (Facebook) e eventos. Para a análise destas observações e dados obtidos nas entrevistas foi de grande importância a pesquisa bibliográfica e etnográfica realizada. No primeiro capítulo, “Entendendo as origens”, serão abordados as tradições que desembocaram no Movimento Hare Krishna e o contexto de Chaitanya, o avivador da devoção a Krishna, Posteriormente será analisado a importância do Bhagavad-Gita e da literatura védica e sua influência na Bhakti-Yoga . 1

Tradução da autora: “Bhakti pode ser definida como impulso de amor ou cultura de amor, que demanda tanto comprometimento vertical (para servir a Deus) e o envolvimento horizontal (para compartilhar com os outros).”

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No segundo capítulo contará com um breve relado da vida de Srila Prabhupada, o fundador do Movimento Hare Krishna (ISKCON) e como o Movimento Hare Krishna toma forma e força nos EUA nos anos 60. O estabelecimento do movimento como religião e suas maneiras de sobrevivência e proselitismo. Também será relatado a chegada do Movimento Hare Krishna no Brasil e suas fases de adaptação a cultura brasileira. O capítulo intitulado “Missão Vrinda”, relatará a fundação da Missão Vrinda, um dos cimas do Movimento Hare Krishna após a morte de Srila Prabhupada. Terá uma etnografia do Templo da Aclimação, em São Paulo, e uma breve biografia dos dois gurus responsáveis pela fundação da Missão há 30 anos atrás. O quarto capítulo, “Festivais e proselitismo”, falará dos principais festivais de proselitismo do Movimento Hare Krishna: O Ratha-Yatra e o Krishna Janmastani. Ambos contêm muito sincretismo religioso, outro tema a ser abordado no capítulo 4. No quinto capítulo será analisado quais são as estratégias de proselitismo do Movimento Hare Krishna Vrinda em São Paulo e qual é seu público-alvo. Para tal foi necessário realizar entrevistas com os devotos e frequentadores do templo e dias de pesquisa etnográfica nos eventos do templo. E por fim, no sexto capítulo, será exposto as considerações finais dessa pesquisa e seus resultados.

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CAPÍTULO 1 – ENTENDENDO AS ORIGENS Para a melhor compreensão do Movimento Hare Krishna Vrinda, é necessário um estudo básico das tradições na Índia Antiga e o surgimento, ou avivamento, da devoção a Krishna, nomeada de Bhakti-Yoga. Serão abordadas questões sobre a tradição Vaishnava, liderança do movimento, a importância do Bhagavad-Gita e um breve relato sobre a pessoa de Krishna.

1.1 A TRADIÇÃO VAISHNAVA

Para a melhor compreensão do Movimento Hare Krishna é necessário entender suas origens. O movimento surge da tradição Vaishnava, “uma das muitas tradições que fazem parte do hinduísmo” (VIOLIN, 2012, p.9). O termo “hinduísmo” é muito amplo e genérico. Esse termo nunca foi utilizado por indianos e não consta em nenhum dos escritos sagrados (Vedas). Max Weber diz que o termo “hindu” ou “hinduísmo”

É uma expressão que aparece pela primeira vez com a dominação islâmica ao referir-se aos nativos da Índia não convertidos. Os próprios indianos não hão começado a designar como ‘hinduísmo’ sua afiliação religiosa até a literatura moderna (WEBER, 1987, tomo II: 14).

A tradição que deu origem ao Movimento Hare Krishna foi organizada por Sri Chaitanya Mahaprabhu (Bêngala; 1486-1533). Chaitanya reavivou o Krishna-Bhakti na Índia Oriental (TURNER, 1974, p. 188), a presença de Krishna nas tradições hindu consta há mais de 5.000 anos a.C. (ADAMI, 2005 p. 14). Conhecido como Gaudiya Vaishnava, foi a primeira tradição a elevar Krishna acima de todos os deuses do panteão hindu, considerando-o a Suprema Personalidade de Deus (BOTELHO, 2012, p.4). Seu fundador foi o grande incentivador do canto público do Maha Mantra e alertou sobre a importância de cantar os nomes do Senhor (COBRA, 2007, p.17). Chaitanya entrou em muitos conflitos com ortodoxos hindus por essas razões e também por acreditar que todos deveriam ter acesso aos textos sagrados em sua própria língua, não apenas em Sânscrito, incentivando, então, seus devotos a traduzirem os textos para o Bengalês. (BOTELHO, 2012, p.4). “Acreditando que todo o homem, independentemente de

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casta e de crença, poderia obter a salvação pela devoção pessoal a Krishna e a Radha, acentuava o aspecto missionário do vaisnavismo.” (TURNER, 1974, p. 194) No livro sagrado Srimad Bhaghavatam está escrito que “Simplesmente por cantar o Santo Nome de Krishna a pessoa é liberada de todas as reações de uma vida pecaminosa. [...]” (2.15.107). Em outras passagens há referência que cantar os nomes de Krishna é a “suprema atividade religiosa” (3.3.22) e que “ao cantar sem ofensas a pessoa conseguirá o tesouro do amor puro por Deus” (3.4.70-1). Muitas tradições encontram dificuldades para a perpetuação e definição da crença, o que não foi diferente com a tradição de Chaintanya. Segundo Turner foram os Goswamis em Vrindavam (1530 – 1592) (Primeiros Teóricos\Teólogos do Movimento)” (ALMEIDA, 2014, p. 37) “que tiveram a “tarefa de definir os conceitos centrais da seita” (1974, p. 195). Gabriel Almeida, estudioso no Movimento Hare Krishna, retira e traduz uma tabela do livro de Hopkins (1989, p.51) que mostra as influências e lideranças da tradição Gaudiya Vaishnava até 1965:

Figura 1 História do Movimento para Consciência de Krishna (HOPKINS, 1989, p. 51). Tradução de Gabriel Almeida

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Desde a sua fundação é notório a visão missionária da tradição vaishnava. Turner ressalta que Chaitanya e seu amigo íntimo, Nityananda. “Converteram muitos muçulmanos – e assim hostilizaram o poder muçulmano dominante – e deliberadamente quebraram um certo número de leis religiosas ortodoxas dos hindus.” (1974, p.194) Victor Turner classifica a “communitas” desse movimento como “communitas” do afastamento e do retiro” (1974, p. 187).

A “communitas” do afastamento não está tão estreitamente ligada à crença em um fim eminente do mundo, ao contrário, implica a renúncia, total ou parcial, à participação estruturais do mundo, que é, neste caso, concebido como uma espécie de permanente “área de desgraça”. Este tipo de “communitas” tem a tendência a ser mais exclusivista na constituição de seus membros, mas disciplinado nos hábitos e discreto nas práticas.

Por ter esse caráter “revolucionário” e por quebrarem a ortodoxia Silas Guerrieiro comenta a “communitas” da tradição Vaishnava.,:

Para Victor Turner, o movimento vaishnava de Chaitanya representava um amor ao mesmo tempo divino e ilícito, simbolizando uma “communitas”. A quebra da estrutura da época e o não reconhecimento das distinções hierárquicas demonstravam o caráter “communitas” do movimento (GUERRIERO,1989, p. 67)

Após as “revoluções” de Chaitanya e seu falecimento, a tradição começa a se deteriorar por questões de sucessão e organização. Depois de muitas crises de liderança da tradição, em 1918 Bhaktisiddhanta funda a Gaudya Math Institute for Teaching Krishna Consciousness. O discípulo mais famoso do mestre foi Abhay Charan De Bhaktivedanta S. Prabhupada que recebe a ordem de monge renunciante (sannyasi) aos 64 anos e após isso“começou a difundir a mensagem original de Chaitanya, além de traduzir e imprimir os livros sagrados védicos, viajando para o Ocidente em 1965) e iniciando sua pregação. (COBRA, 2007,p.4).

1.2 BHAGAVAD-GITA E A LITERATURA VÉDICA O Bhagavad-Gita e outros escritos védicos tem grande importância para a efetivação da Bhakti-Yoga. Seus textos contém a profunda filosofia védica e as grandes fontes de toda a filosofia da tradição Vaishnava e do Movimento Hare Krishna.

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1.2.1 CONTEXTO HISTÓRICO

O Bhagavad-Gita, ou Canção do Senhor, é uma clássica obra sagrada de grande importância para as tradições hindus. Esse texto é parte de um poema épico chamado Mahabharata, que normalmente é datado entre o quarto século a.C. e o quarto século d.C. É provável que o Bhagavad-Gita tenha sido escrito no terceiro século a.C. (GRIFFITHS, 2011, p.14). Há dúvidas quanto a datação do poema pois é visto como uma tradição oral. O outro ponto emblemático é se o que tudo o que é descrito no texto se baseia em fatos reais ou não. (FERREIRA, 2006, p.22). Segundo Kak” ( 2006, p. 23) “A batalha do Mahabarata foi um evento da Índia antiga. Alguns astrônomos datam-na de 3137 a.C. a 2449 a.C”. O Bhagavad-Gita, segundo Bede Griffiths, representa o “resumo da doutrina hindu”. E é “considerada, sem nenhuma dúvida, pelos indianos, a base fundamental do Hinduísmo, qualquer que seja sua sampradaya 2ou sucessão discipular” (Duarte, 1998, p. 31). A autoria do Bhagavad-Gita é misteriosa, entretanto, estudiosos apontam para o Vyasa. “De qualquer forma, seu autor é também tido como o mesmo de todo o épico indiano Mahabharata, de 100.000 versos, do qual a Bhagavad-Gita é um capítulo” (FERREIRA, 2006, p.22). Apesar de ser apenas uma parte do grande poema épico, o Bhagavad-Gita é um texto que se destacou independente de todo o restante do poema. Um texto que serviu de inspiração para muitos autores e ativistas, como Gandhi. Foi também o texto propagado por Srila Prabhupada na fundação do Movimento Hare Krishna. 1.2.2 ENREDO

É no Bhagavad-Gita que se encontra o famosíssimo diálogo de Krishna (encarnação de Vishnu) com Arjuna (princípe dos Pandavas), um pouco antes da batalha de Kurukshestra, o que “de acordo com a cronologia védica, teria ocorrido há 5.000 anos” (MOROTTO, 2007, 15). Arjuna não queria lutar nessa batalha para reconquistar a terra dos Pandavas porque teria que lutar com os antigos mestres, amigos, familiares, e desabafa com seu condutor da carruagem, que é Krishna, sobre essa difícil tarefa. E através desse dilema o diálogo perpassa questões da ética humana, propósito da vida, espírito, devoção, revelação de Deus e outras questões fundamentais da existência. E assim, Arjuna luta até o fim, completa seu carma e conquista a vitória.

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Linhas do Hinduísmo (FERREIRA, 2006, p.24).

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1.2.3 LITERATURA SAGRADA

Existem dois tipos de texto sagrados hindus: O Sruti e o Smriti.

O Sruti são

considerados revelação, sruti quer dizer “aquilo que é ouvido”.

A palavra “Veda” significa conhecimento, revelação. É um termo sânscrito que equivale ao de ciência. Os livros que compõe os Vedas são considerados autoridade, verdades no campo do conhecimento. O conjunto de livros védicos é denominado também de shastras – livros revelados – e oferecem explicações seja de cunho material, quanto espiritual. (MOROTTO, 2007, p.11)

Os srutis são compostos pelos quatro Vedas, as mais antigas escrituras hindus: 

O Rig Veda: contém os rituais, mantras, hinos para adoração.



O Yagur Veda: demonstra como devem ser feito os sacrifícios.



O Sama Veda: nele são explicitadas regras de como cantar os mantras.



O Atharva Veda: onde descrevem orações, cânticos e rituais, muito utilizado para a cura de doenças. (MOROTTO, 2007, p. 13) A literatura Sruti é, em geral, compartilhada por todas as linhas do Hinduísmo, como um corpo de conhecimento recebido por Deus, sem autoria humana. Cada Veda possui hinos (samhita), rituais (brahmanas), interpretações (aranyakas) e discussões filosóficas (upanishad). Os Agamas são a segunda autoridade na literatura hindu, depois dos Veda. São textos com mais de 2.000 anos de idade e apresentam questões sobre vida espiritual, devoção, yoga, filosofia etc., tendo um conteúdo mais específico que o dos Veda (FERREIRA, 2006, p.24).

A palavra Smriti significa “aquilo que é lembrado”, ou seja, esses textos não fazem parte da revelação, são uma literatura suplementar. Os smriti são os Puranas (mitologia) e os Dharma-Sastras (regras de conduta). Esta parte da literatura hindu é tida como fruto de idéias e inspirações de pessoas humanas (i.e. não-deuses). Cada linha do Hinduísmo (sampradaya) adota certos textos e interpretações da literatura smriti para se fundamentar (FERREIRA, 2006, p.24).

O Mahabharata é um poema smriti, e apesar de ser parte da literatura não-revelada, que poderia diminuir a importância do texto, é, o texto mais popular do hinduísmo, tanto para o Oriente quanto para o Ocidente (FERREIRA, 2006, p.24).

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1.2.4 A RELEVÂNCIA DO BHAGAVAD-GITA PARA A FÉ HINDU

Nos escritos sagrados Upanishads o entendimento para alcançar a sabedoria suprema (jnana) era preciso se retirar para meditar na floresta. Ou seja, somente um monge renunciante (sannayasi) conseguiria alcançar a verdadeira libertação (moksha). Assim, a religião pregada nos Upanishads era algo para poucos e muito difícil de ser alcançada. O Bhagavad-Gita muda essa percepção, todos podem alcançar a libertação (moksha) através da devoção (bhakti). Mesmo os que vivem uma vida comum podem alcançar essa verdadeira sabedoria e união suprema. “É muito comum a comparação da Bhagavad-Gita, em termos de época e importância, com o Novo Testamento ou mesmo com a Bíblia” (FERREIRA, 2006, p. 26). Bede Griffiths (2011, p.18) explica essa comparação: “É por isso que o Gita se tornou um manual para o hindu, um tipo de Novo Testamento, porque é um ensinamento para o chefe de família, o homem que vive sua vida comum no mundo, casado e com filhos”. E é por meio da devoção pessoal a Krishna que os seres humanos alcançariam esse estado de libertação, não apenas através da ação, sacrifícios, mas pela devoção. Shankara, grande doutor do Vedanta3 do século VIII, disse que não é possível alcançar a moksha por meio de carma (ação), ele estava afirmando que o ritual não era o suficiente para isso. (GRIFFITHS, 2011, p.19) A visão do Bhagavad-Gita é de que “pela ação, pelo serviço, ao cumprir com o próprio dever como chefe de família, é possível alcançar Deus. Porém, ao lado do carma, o indivíduo deve ser bhakti, a ação deve fluir a partir da devoção ao Deus pessoal” (GRIFFITHS, 2011, p.19)

1.2 BHAKTI-YOGA

A palavra Bhakti no Mahabharata tem muitos significados. De acordo com Vallabhacharya, bhakti é composto pela raiz bhaj-, e sufixo kti. A raiz bhaj – significa “serviço”, e o sufixo kti significa “amor” (MICHAEL, 2011, p. 250). “Para Sankara, bhakti tem valor instrumento É o instrumento do conhecimento (jnana). Mas para Ramanuja, bhakti é o

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Vendanta é uma das mais antigas filosofias, e são baseadas nos textos sagrados dos Vedas.

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cultivo do conhecimento (jnana) e ação (carma) e o caminho para alcançar moksha”. (VYAS, 1997, p. 171). Paul Michael (2011, p. 251) diz que é possível encontrar quatro tipos de bhakti: 

Daasya: o yogin4 considera-se um devoto e servo de Deus



Vatsala: Deus é retratado em uma relação parental



Sakya: o yogin se aproxima de Deus e o adora como um amigo



Kanta: o yogin se relaciona com Deus como o único Amado

Bhakti-Yoga no Bhagavad-Gita é basicamente a atitude de se tornar um com o Divino. A palavra bhakti ocorre perto de 42 vezes no texto sagrado. É a experiência de compartilhar a vida divina. No Bhagavad-Gita isso significa se render totalmente em devoção e lealdade a Krishna, o Deus pessoal, confiar nele e amá-lo. (MICHAEL, 2011, P. 252-253) Aqueles que praticam a bhakti-yoga são chamados de bhakta. O termo bhakta é utilizado pela primeira vez no verso 3 do capítulo 4 (“Esta mesma antiga Ioga, ensinei-te agora; porque és meu devoto e meu amigo, e porque este é o mistério supremo BG 4:3 – Gandhi). A raiz da palavra bhakta é a mesma da palavra bhakti, bhaj. “Originalmente, parecia significar “compartilhar”, “participar de”, e então, “participar através do afeto”; assim, possuía vários significados, mas, à época do Gita, ele chegou a significar “amor e lealdade” (GRIFFITHS, 2011, p.99). Dhavamony, um conhecido pesquisador da Índia, conceitua bhakti no Bhagavad-Gita da seguinte maneira: Bhakti is proposed both as a means of liberation and as the supreme goal of liberation itself. Bhakti as a means of release denotes the love of God shown by the devotee with the view of attaining final liberation and bhakti as the liberated state signifies union with and surrender to God; it is the felt participation of the soul in the total being of God (1982, 44).5

Esse amor e devoção é voltado para a pessoa de Krishna, a suprema personalidade de Deus. A meditação em Krishna é o exercício espiritual do amor (BG 12:6) e é o caminho mais

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Yogin é aquele que pratica a yoga. “Bhakti é proposto tanto como um meio de libertação quanto o objetivo supremo da própria libertação. Bhakti, como um meio de libertação, denota o amor de Deus demonstrado pelo devoto com o objetivo de alcançar a liberação final; Bhakti, como o estado da já liberação, significa a união e redenção a Deus. É a participação sentida pela alma na total presença de Deus”. Tradução nossa. 5

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fácil para o bhakta alcançar moksha. A seguir alguns versos do Bhagavad-Gita que expressam essa ideia: 

BG6 8:14 Esse iogue facilmente chega a Mim, ó Partha, por estar sempre unido a Mim, constantemente pensando em Mim com toda sua mente



BG 8:22 Este ser supremo, ó Partha, pode ser alcançado por uma devoção integral; Nele habitam todos os seres, tudo está compenetrado por Ele.



BG 9:13 Mas as grandes almas que participam da natureza divina, ó Partha, conhecem-me como a Fonte Imperecível de todos os seres e Me rendem culto com uma mente totalmente a Mim dedicada



BG 9:30 Mesmo o maior dos pecadores, se se voltar para Mim com uma devoção total, deve ser considerado como um santo, por que ele tomou uma firme resolução. (MICHAEL, 2011, p. 254)

O objeto de devoção (bhakti) no Bhagavad-Gita é a pessoa de Krishna. E a meta suprema dos bhaktas é tornar-se uno com Krishna, atingir a moksha.

1.4 KRISHNA, O SENHOR DA BHAKTI-YOGA

Krishna é o personagem central, juntamente com Arjuna, no poema épico BhagavadGita. E Krishna se revela como Deus no decorrer do diálogo, é um avatar de Deus. A ideia de avatar no Hinduísmo é associado primeiramente com o deus Vishnu e sua relação de amor com o bhakta. O avatar é a expressão da graça (prasada) de Deus. (MICHAEL, 2011, p. 258) Krishna seria a oitava encarnação de Vishnu. Os números dos avatares de Vishnu são muito variáveis, entretanto a tradição costuma afirmar a existência de dez avatares. (MICHAEL, 2011, p. 259) A aparição desses avatares sempre tem um objetivo em comum: restaurar no cosmos o Dharma (ordem). No Bhagavad-Gita, é notável que o avatar de Krishna é o Senhor Pessoal do que auxilia toda a humanidade, seja qual for o gênero e a casta, para buscar e encontrar o TodoPoderoso através do seu amor e graça. E ele é uma pessoa real, não apenas uma aparição. E não é apenas nesse processo de discernimento do caminho que o avatar auxilia, mas sim em alcançar a tão esperada moksha, a libertação que é a união em Brahman (MICHAEL, 2011, p. 258).

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BG: Bhagavad-Gita.

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O processo para se alcançar o conhecimento (ou a consciência) de Krishna é a Bhakti-Yoga (Ioga da devoção), sacrifício prescrito por Sri Chaitanya (século VI) – a Suprema Personalidade de Deus (avatar) no mundo material na forma de um devoto puro de Krishna. A forma de bhakti-ioga privilegiada nesta era (era das desavenças ou Kalu Yuga) – é um antigo canto dos vedas: o mantra Hare Krishna. O processo mais adequado para a auto-realização e o relacionamento com o mundo transcendental é cantar os nomes de Deus ( Rama e Krishna). (OLIVEIRA, 1990, p.199)

Krishna se revela no Bhagavad-Gita como o não-nascido e imutável, que não tem começo e nem fim (BG 4:5), tudo emana dele e ele é o criador de todas as coisas (BG 4:7), tem muitos nascimentos (BG 4:5), e assume a forma humana (BG 9:11). O Bhagavad-Gita deixa claro que ele é tudo e todos os deuses são manifestações dele. Entretanto, quem quiser alcançar plenamente a moksha deve adorar somente a Krishna.

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CAPÍTULO 2 - O MOVIMENTO HARE KRISHNA E A SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA KRISHNA (ISKCON) O capítulo 1 mostrou o desenrolar histórico e mitológico da tradição Vaishnava e da Bhakti-Yoga. Nesse capítulo será abordado o contexto histórico do fundador do Movimento Hare Krishna, a construção do Movimento e da Sociedade para a Consciência Krishna, e como foi seu crescimento no Ocidente. 2.1 CONTEXTO HISTÓRICO

A tradição Vaishnava, e em toda a tradição hindu, para levar uma vida espiritual é necessário ser iniciado por algum guru. Bhaktisiddhanta, líder da Gaudya Math, inicia espiritualmente Abbay Charan na tradição Vaishnava. Ainda ligado com seus afazeres “profanos”, Abbay concilia entre seu trabalho e a vida espiritual. Entretanto, os negócios começam a ir mal e assim, em 1944, começa a distribuir revistas propagando a consciência de Krishna. Entender toda a ISKCON é relembrar da disputa de poder que estava na tradição Gaudya Math.

[...] perde seu reconhecimento popular na “propagação da consciência de Krishna”. Para fazer com que este propósito não se perdesse, Charan funda, no ano de 1952, “a liga dos devotos”. A Liga dos devotos vaishnavas tinha como objetivo reviver os princípios religiosos da “consciência de Krishna” que estavam sendo desgastados com as lutas internas da missão Gaudya. (ADAMI, 2005, p. 20).

Em 1959, Abbay Charan aceita a ordem de sannyasi aos 64 anos, e recebe um novo nome espiritual A. C.Bhaktivedanta Swami Prabhupada. E assim, começa a viver sua vida monástica solitária em Vrindavan, localizada no estado de Uttar Pradesh, na Índia, e se dedica ao Bhagavad-Gita e ao Srimad Bhagavatam. E nessa sua estadia no templo ele traduziu as escrituras sagradas para o inglês. Mas, como a tradição Gaudya não era muito aceita, suas traduções não tiveram êxito. (VALLVERDÚ, 2000, p. 57). Após toda essa crise, Srila Prabhupada lembrou-se de uma orientação de seu guru Bhaktisiddhanta sobre ele ir ao Ocidente propagar a consciência de Krishna. E então “o Swami aceita a doação de uma passagem de navio e parte no dia 13 de agosto de 1965 para os Estado Unidos” (ADAMI, 2005, p. 21)

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Prabhupada foi para os EUA numa viagem de Calcutá até Boston, a bordo do cargueiro Jaladuta. Levando apenas o equivalente a U$8,00 em rúpias, recebera a passagem gratuita da Companhia de navegação Scindia. Teria escrito as seguintes palavras a bordo do navio: “Absortos em vida material, eles (os norte-americanos), julgam-se muito felizes e satisfeitos, e, por isso não sentem nenhum gosto transcendental pela mensagem de Krishna (...) Mais sei que tua misericórdia imotivada fará tudo o possível, pois és o místico mais hábil...” (MOROTTO, 2007, p. 59)

Após uma longa viagem, doenças enfrentadas, enfim Srila Prabhupada chega a Nova York,no dia 19 de setembro de 1965. Devido a falta de dinheiro Prabhupada mora em diversos bairros undergrounds, onde residiam muitos jovens adeptos a movimento de contracultura e ao movimento hippie. A situação dos EUA nos anos 60 era de desconstrução da sociedade tradicional, “os movimentos pelos direitos civis, a experimentação das drogas e o sexo livre” (ALMEIDA, 2014, p. 26) quebraram também paradigmas das religiões tradicionais. Os jovens estavam sedentos por novas formas de religiosidade, por uma espiritualidade oriental, uso de drogas, meditação e esse contexto foi favorável para que a mensagem de Prabhupada fosse aceita com curiosidade e interesse. “Os primeiros discípulos de Prabhupada foram, preponderantemente, músicos e artistas que se interessavam por música transcendental e filosofia.” (ADAMI, 2005, p. 21) 2.2 A FUNDAÇÃO DA ISCKON

A ISKCON (Sociedade Internacional para a Consciência Krishna) fundada em 1966 em Nova Iorque é a responsável pela construção e difusão dessa religião no mundo (ADAMI, 2009, p.1). Nos anos 70 ocorre a fundação da Bhaktivedanta Book Trust (BBT) principal editora utilizada na divulgação da religião e a fonte de renda do movimento. Os princípios que regem a ISKCON estão no livro sagrado Bhagavad-Gita e no livro Srimad Bhagavatam, que conta a história da infância de Krishna e seus passatempos preferidos. E é um guia para os devotos adorarem Krishna da maneira que ele o instruiu. Os vedas são a base para todo o Movimento Hare Krishna. É neles que se encontram a razão da doutrina que todos os caminhos levam a Deus, pois “Os Vedas [...] se referem a um Deus Supremo ao qual se atribuem diferentes nomes” (MOROTTO, 2007, p.16). Tendo como

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referencial a literatura védica, Srila Prabhupada define princípios para todos os devotos de Krishna, os quatro essenciais são: 

Não comer carne, peixes, aves ou ovos



Não se intoxicar



Não praticar sexo ilícito (fora do casamento)



Não praticar jogos de azar Srila Prabhupada divulgou por toda Nova Iorque o mantra: “Hare Krishna Hare

Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare”. E é tido como o principal mantra da religião, pois, para eles, cantar os nomes de Deus é um ato sublime. “Os mantras são particularmente importantes no Hinduísmo. Os mantras acompanham os rituais da vida diária; um hindu vive e morre cercado de mantras, desde o ventre da mãe até a pira funeral. Manuais de mantras são publicados por toda a Índia” (SMITH, 2001, p 263). Para Oliveira (1990) “cantá-lo significa purificar a existência, neutralizar as ansiedades e alcançar a consciência de Deus”. O pesquisador Vallverdú (2000, p. 60) classifica sete propósitos da ISKCON: 1. Propagar sistematicamente o conhecimento espiritual entre a sociedade em geral e educar todas a pessoas nas técnicas da vida espiritual a fim de restabelecer o equilíbrio dos valores na vida e alcançar assim a verdadeira união e paz mundiais. 2. Propagar a consciência de Krishna (Deus), como é revelada nas grandes escrituras da Índia: Bhagavad-gita e o Srimad Bhagavatam. 3. Unir os membros da sociedade uns dos outros e torna-los mais próximos de Krishna, a entidade primordial, desta forma desenvolvendo a idéia, entre os membros e a humanidade em geral, que cada alma é parte integrante da qualidade do Supremo (Krishna). 4. Ensinar e encorajar o movimento de sankirtana, o canto congregacional do santo nome de Deus, como revelado nos ensinamentos do Senhor Sri Caitanya Mahaprabhu sagrado de passatempos transcendentais dedicado à personalidade de Krishna. 5. Erigir, para os membros e para a sociedade em geral, um local 6. Manter os membros unidos com o propósito de ensinar um modo de vida mais simples e natural. 7. Tendo em vista o cumprimento dos propósitos acima mencionados, publicar e distribuir periódicos, revistas, livros e outros escritos”.7

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Tradução: (ADAMI, 2005, p. 31-32)

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O que fez com que a ISKCON se estabelecesse foram as negociações simbólicas que Prabhupada teve que fazer para o Ocidente. Além das 4 regras primordiais, o devoto deveria cantar o Maha Mantra Hare Krishna diariamente 16 vezes usando a japa-mala (uma espécie de rosário) que contém 108 berloques. Na tradição indiana o número de voltas na japa-mala é 64. (ADAMI, 2005, p. 33). Assim, Prabhupada “acrescentou um tom diferenciado a sua prédica, ressaltando que um guru poderia observar e adaptar certos conteúdos a filosofia védica de acordo com tempo, lugar e circunstâncias (MOROTTO, 2007, p. 60) Dessa forma

[...] o movimento se alastrou pelos principais centros da juventude dos EUA, principalmente Califórnia, e logo em seguida pela Inglaterra. Em 1969, o movimento ganhou uma ajuda com a adesão de George Harrison, John Lennon e Yoko Ono. George gravou o maha mantra e o disco alcançou as primeiras colocações na parada de sucessos da BBC de Londres (GUERRIERO, 1989, p. 72).

A forma que o Movimento Hare Krishna se estabelece é através do Sankirtana, uma estratégia missionária e também financeira. O Sankirtana consiste em “canto e dança feito em espaço público e privado em louvor a Krishna e a distribuição de livros” (ALMEIDA, 2014, p. 11). A tradição do Sankirtana não surge com Prabhupada e sim com o Chaitanya, o avivador da devoção à Krishna:

Em princípio com um número reduzido de participantes, os vaishnavas se reuniam na casa de alguns deles para praticar a devoção espiritual e ler a literatura védica, principalmente o Bhagavatam. (...) Chaitanya começou a incentivar o canto do maha mantra em praças públicas, organizando grandes sankirtanas. Pregava que qualquer um poderia cantar os nomes do Senhor, antes restritos apenas aos brâmanes de casta (GUERRIERO, 1989, p.67)

E foi através disso que o movimento se expandiu e se sustentou. A única fonte de renda do Movimento Hare Krishna era a venda dos livros. “Burke (1984:173-174) citou que a ISKCON faturou, aproximadamente, 13 milhões de dólares no período de 1974 e 1978 somente com as vendas de livros.” (ADAMI, 2005, p. 32)

2.3 MOVIMENTO HARE KRISHNA NO BRASIL

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Em 1974 a ISKCON inicia suas atividades no Brasil. Jovens, que tiveram contato com o Movimento Hare Krishna por livros ou vindos dos EUA, que buscavam por um novo ideal e sentido de vida alugaram em São Paulo uma casa para que fosse iniciada práticas de BhaktiYoga. (COBRA, 2007, p.16)

A chegada ao Brasil se deu de forma quase que indireta, não havia e nem houve nenhuma tentativa de enviar devotos americanos, ou o próprio Prabhupada vir para cá, o que aconteceu se deu por esforço dos brasileiros que tendo contato com os livros e com o movimento que estava se estabilizado nos Estados Unidos o trouxeram para cá. O que parecia apenas um esforço para um pequeno grupo conseguiu, de certa forma, se estabilizar e manter durante todos esses anos e de uma forma muito particular se inserir no mercado religioso Brasileiro. (ALMEIDA, 2014, p. 56)

É possível numerar as razões que o Movimento Hare Krishna se consolidou no Brasil naquele período. E também, vale ressaltar que quando o MHK8 chega ao Brasil já fazem 7 anos que a ISKCON foi fundada no EUA. O primeiro item que se pode ressaltar é a influência dos EUA no Brasil no período pós Segunda Guerra Mundial, quando o American Way Of Life foi estabelecido no Brasil. O segundo ponto é sobre a propagação do ideal alternativo de vida, tradizos pelos movimentos de contracultura e hippie, recém-chegados ao Brasil. E por último tem-se os poucos livros de Srila Prabhupada que chegaram ao Brasil, através do contato indireto dos que haviam experimentado essa religiosidade no exterior e traziam seus escritos. (ALMEIDA, 2014, 56-57) Silas Guerriero (2001) em seu artigo sobre O Movimento Hare Krishna no Brasil distingue o movimento em três períodos: 1) 1974-1977, o início do movimento no Brasil, caracterizado por algumas poucas pessoas que traziam dos Estados Unidos e Europa artigos e livros de Prabhupada, começando assim pequenas comunidades religiosas, gerando estranhamento quando era feito seu proselitismo; 2) após 1977 foram construídos vários templos nas capitais e grandes cidades. Período de investimentos em marketing, institucionalização e crescimento para a religião. Forte crescimento editorial da BBT Brasil e de grande expansão, pois as pessoas estavam abertas para ouvir os devotos; 3) Nos anos 90 acontece a consolidação do Movimento Hare Krishna no Brasil, passando a ser um novo “produto” no mercado religioso brasileiro. Perde seu caráter revolucionário e passa a assumir

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MHK: Movimento Hare Krishna

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um papel mais de “igreja” do que o templo que outrora era. Grande rotatividade de membros e o Movimento Hare Krishna perde o seu vigor. Guerriero analisa o perfil dos novos devotos brasileiros nesse período de institucionalização da religião no Brasil:

Eram justamente aquelas pessoas (jovens de vinte a trinta anos) que estavam em busca de algo diferente, de uma experiência nova e plena de significados, além de não estarem ainda definidos em termos profissionais e familiares. Sem possibilidades de participação política, cansados da experiência das drogas e do psicodelismo, o Movimento Hare Krishna se encaixava perfeitamente naquilo que procuravam e queriam ouvir (GUERRIERO, 1989:90).

Após a morte de Prabhupada houve cismas da religião, no Brasil e no mundo. Alguns movimentos se separaram da grande ISKCON, porém, com o mesmo foco: propagar a consciência de Krishna pelo mundo, como por exemplo, a IRM (ISKCON Revival Movement), organização que se apresenta como vinda direta de Prabhupada. Em 1984 houve outro cisma, formando assim a Missão Vrinda.

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CAPÍTULO 3 - MISSÃO VRINDA Há um conhecimento restrito das instituições do Movimento Hare Krishna. Muitos pensam que apenas a ISKCON existe no Brasil. No entanto, há diversas missões e instituições com a prática Bhakti-Yoga. Dentre as muitas instituições presentes no Brasil está a Missão Vrinda. “A VRINDA – uma organização liderada por um dos discípulos mais antigos de Prabhupada. Possui uma abrangência significativa nos países da América do Sul.” (ADAMI, 2009,1). Esta possui os mesmos princípios e práticas da ISKCON, como foi explanado no capítulo 2, entretanto há alguns pontos que as diferenciam. A Missão Vrinda foi fundada há 30 anos atrás pelo para B.A. Paramadvaiti Swami, discípulo direto de Srila Prabhupada. VRINDA tem mais de 100 centros espalhados pelo mundo, mais de 20 fazendas ecológicas e muitos programas para propagar a filosofia védica e prática da Bhakti-Yoga. A VRINDA segue os preceitos da Bhakti-yoga e os ensinamentos de Srila Prabhupada, a quem eles reverenciam. É considerada, entre os devotos, mais avivada do que a ISKCON, que possui um caráter mais tradicional. Pode-se fazer uma comparação da mesma forma que um cristão enxerga as igrejas protestantes tradicionais e as pentecostais. O símbolo da Missão Vrinda é uma planta chamada Tulasi e há uma razão para isso. Na mitologia do Movimento Hare Krishna Vrinda, Vrinda Desi é uma devota muito pura em forma de planta, a tulasi. E essa planta ajudaria a todos os devotos sinceros de Krishna a permanecerem nos princípios da Bhakti-Yoga e abençoando toda a sua casa. É possível receber sementes de tulasi gratuitamente em todos os centros Vrinda. No Brasil a Missão Vrinda tem suas primeiras tentativas de se estabelecer há 20 anos atrás, porém, se consolidou efetivamente há 12 anos, segundo o Guru Maharaj Mangala. Hoje consta com mais de 5 templos e fazendas ecológicas em todo Brasil (São Paulo, Guarujá, Mairiporã, Florianópolis, Minas Gerais e Belém).

3.1 GURU MAHARAJ

Ulrich Harlan nasceu na Alemanha em 1953, na cidade de Osterkappeln.. Na sua infância as injustiças sociais sempre o incomodaram. Quando jovem se juntou a causa Socialista

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e tinha como ídolo Che Guevara, que logo o decepcionou por notar a superficialidade dos movimentos políticos. Enquanto estudava Marx, estudava também os escritos védicos. Aos 17 anos entra para um Yoga Ashram 9na Alemanha, entretanto entrou em conflito com o mestre espiritual do Ashram e decide sair e buscar um verdadeiro Guru. E então, conhece Srila Prabhupada, a quem logo se afeiçoa e serve fielmente, aprendendo profundamente sobre a Bhakti-Yoga. Recebe o nome de Alanath das Brahmacary quando se inicia em Paris no ano de 1972. E aos 24 anos torna-se monge renunciante (sannyasa) e tem seu nome modificado para Swami Bhakti Aloka Paramadvaiti. O Swami B.A. Paramadvaiti desvincula-se da ISKCON, formando sua própria missão em 1984, com a benção de Srila Bhakti Raksaka Sridhar Deva Goswami Maharaj, irmão espiritual de Srila Prabhupada,. Partindo dos primeiros templos na Alemanha e Suíça, viajou continentes até a América Latina e propagou a Consciência Krishna através de templos no Chile, Colômbia, Uruguai, Brasil e outros países, destacados no site dedicado à Paramadvaiti (Disponível em: < http://gurumaharaj.wikispaces.com/32-+o+que+e+vrinda > Data de acesso: 24 de out. 2013). Os motivos do cisma com a ISKCON são encobertos, alguns devotos dizem que foi por causa de escândalos acontecidos após a morte de Prabhupada, outros que simplesmente foi a resposta para um “chamado” de Krishna. Nas próprias palavras do Guru Maharaj, ele explica: Yo serví a mi Maestro Espiritual Srila Prabhupada en ISKCON desde 1971 hasta su partida del mundo en 1977. Luego recibí una inspiración en mi corazón de mi Sannyas Guru, Srila Sridhara Maharaja. Aprendí la importancia de la unión en diversidad. Fundé mi misión con base en el principio amoroso: La inspiración, en vez de la imposición institucional. Fue este espíritu el que me llevó también a aceptar discípulos para continuar el servicio a mis Maestros. (Disponível em: < http://www.vrindavan.org/vrinda/fundador.htm > Data de acesso: 10 de dez. 2014).´

Guru Maharaj, como é conhecido pelos seus devotos, é também o fundador do Instituto de Estudos Védicos na América (ISEV) e é secretário da WVA (Associação Mundial Vaisnava) iniciada por Srila Jiva Goswami há 450 atrás e que reúne os Vaishnavas de todo o mundo.

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Ashram pode ser considerado os mosteiros hindus. Onde os sábios se retiravam no mundo para viver uma vida espiritual e dedicada a práticas da Yoga.

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Figura 1 Guru Maharaj

3.2 GURU ATULANANDA

Outro Guru de suma importância para a Missão Vrinda é o Srila Atulananda Acharya, ou como é conhecido, Gurudeva Atulananda. Nascido no Chile em 1952, de família tradicionalmente católica, sempre teve um bom relacionamento com a religião cristã. Entretanto, após conhecer a filosofia da Bhakti-Yoga, recebeu iniciação espiritual em 1973 do próprio Srila Praphubada. É formado em filosofia na Universidade de Buenos Aires “e em suas frequentes viagens a Índia aprofundou seu conhecimento de Sânscrito, Bengali, Hindi e escrituras orientais”. Depois da morte de Prabhupada, volta para o Chile em 1977 com o objetivo de divulgar mais a religião em seu próprio pa. Srila casa-se em 1984. Em 1985 ajuda a Srila Paramadvaiti Swami a fundar definitivamente a Missão Vrinda. Segundo Mangala Swami, monge renunciante (sannyasi)10 que vive e é responsável pelos templos no Brasil, diz sobre Srila Atulananda:

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“Sannyasin= renunciante, nome dado aos monges hindus. A palavra Sannyasa significa perfeito abandono (San = perfeito; Nyasa = abandonar, renunciar). Os sannyasins abandonaram completamente todas as ataduras familiares, deveres profissionais e posses materiais. Usam vestimentas alaranjadas, a cor da chama do fogo, para simbolizar que queimaram todos os desejos no fogo da renúncia.” (GANDHI, 2011, p. 83).

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Sua forma de apresentar a filosofia Védica é especialmente encantadora e erudita, através de suas mais de 50 obras em forma de livros, artigos, poesias e canções. Além disso realizou traduções do sânscrito ao espanhol dos textos mais seletos da Cultura Védica, como por exemplo, o Srimad Bhagavatam, Bhagavad Gita e Caitanya Caritamrita, entre outros. (Disponível em: < http://atulanandadas.com.br/sobre/srila-atulananda-acarya/> Data de acesso: 03 de mar. 2015).

Srila Atulananda é responsável por mais 20 centros de Yogas e Ashrams ao redor do mundo. Escreveu livros como: Os Belos Passatempos de Krishna, O Doce Canto do Infinito, Poemas a Alma, Cantos ao Sadhaka, Exemplos de Meu Mestre, Lótus Vermelho e outros. É um filósofo e poeta nato, escreve também para revistas como a World Vaishnava Magazine, VNN.

Figura 2 Guru Atulananda

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3.3 TEMPLO ACLIMAÇÃO

A cidade de São Paulo é conhecida pela miscigenação de culturas. Em cada bairro, existem diversos centros religiosos. O bairro da Aclimação não é exceção dessa diversidade. Entre diversos templos evangélicos, católicos, budistas, maçons, umbandistas, consta também o Templo Vrinda Aclimação, localizado na Rua Muniz de Souza. Há 7 anos em um casarão antigo e convencional de dois andares do bairro da Aclimação as práticas Bhakti-Yoga são diariamente efetuadas. Logo na entrada encontram-se plantas, flores, destaca-se aqui o respeito pela natureza como forma de adoração a Krishna, e uma pequena escada que leva para a recepção, uma pequena varanda com uma mesa e cadeiras. Lá os devotos recepcionam os visitantes, devotos e clientes do restaurante vegetariano que funciona durante a semana. O aroma de incenso e pimenta é peculiar e único, sendo possível senti-lo a distância. O primeiro salão é o lugar em que é servido as refeições do restaurante, também serve de espaço para a venda de incensos, livros, representações das deidades e outros objetos relacionados ao Movimento Hare Krishna. E é neste lugar onde se tem que deixar os sapatos para se entrar do salão no qual se encontram as deidades, um lugar santo. Este comportamento demonstra a clara percepção de separação entre o espaço sagrado e o espaço profano, que cerca o templo. Para Mircea Eliade isso se explica da seguinte forma:

O sagrado é sempre perigoso para quem entra em contado com ele sem estar preparado, sem ter passado pelos “movimentos de aproximação” que qualquer ato de religião requer. “Não te aproximes daqui – diz o Senhor a Moisés - , tira os teus sapatos, porque o lugar onde estás é terra santa”. Daí os inúmeros ritos e prescrições (como é o caso dos pés nus) relativos à entrada no templo, atestados frequentemente tanto entre os semitas como entre os outros povos do mediterrâneo. (ELIADE, 1998, p. 298)

Este salão é o maior do casarão e muito bem decorado. Nas paredes brancas se encontram quadros de Srila Prabhupada, Guru Maharaj, Gurudeva Atulananda e também, claro, com muitas imagens de Krishna em diversos momentos e fases da vida. Também há uma faixa de tecido da Missão Vrinda com muitos símbolos das religiões do mundo como forma de respeito a todas. E é nesse lugar que se encontra o altar com as deidades, coberto por cortinas vermelhas que vão do teto até o chão. No altar encontram-se as diversas deidades, entre elas,

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Sri Caitanya Mahaprabhu, Sri Nityananda, Sri Gandharvika, Sri Giridhari (Krishna). No altar também é possível encontrar fotos de Srila Prabuphada, Guru Maharaj, Gurudeva Atulananda e outros gurus anteriores a estes mencionados. Adentrando-se ao templo logo se vê a cozinha de Krishna – onde só é possível entrar com a roupa de adoração, dhoti para os homens e saree para as mulheres,

...uma faixa comprida de tecido de algodão elaboradamente amarrada ao corpo. Para as mulheres são 6m e para os homens 4m. Pode ser colorido, branco, laranja – e como é característico na Cultura Védica, as cores têm significado e história. (Disponível em: < http://vrindasp.com.br/importanciada-roupa-espiritual/> Data de acesso: 24 de mar. 2015).

Nessa cozinha são feitos os alimentos das divindades, portanto há uma dicotomia entre o sagrado e profano que Durkheim propõe: “A divisão do mundo em dois domínios, compreendendo, um tudo o que é sagrado, outro tudo o que é profano, tal é o traço distintivo do pensamento religioso” (1989, p. 68). Essa divisão do mundo se aplica igualmente aos rituais. Fazer os alimentos para as deidades é um rito diário do templo e que tem suas regras, como por exemplo, não experimentar a comida enquanto se está preparando, pois primeiramente deve ser consagrada à Krishna e ele deve ser servido primeiro.

Mas o aspecto característico do fenômeno religioso é o fato de que ele pressupõe uma divisão bipartida do universo conhecido e conhecível em dois gêneros que compreendem tudo o que existe, mas que se excluem radicalmente. As coisas sagradas são aquelas que os interditos protegem e isolam; as coisas profanas, aquelas às quais esses interditos se aplicam e que devem permanecer à distância das primeiras. As crenças religiosas são representações que exprimem a natureza das coisas sagradas que essas mantêm entre si e com as coisas profanas. Enfim, os ritos são regras de comportamento que prescrevem como o homem deve se comportar com as coisas sagradas (DURKHEIM, 1989, p. 72).

Bem perto se encontra a cozinha dos devotos e a lanchonete Vrinda. Ao fundo se encontra o dormitório masculino, conhecido como “castelinho” e a área de serviços. No segundo andar há três outros cômodos, um deles é o dormitório do Srila Maharaj Mangala, responsável pelo templo. O outro cômodo é o dormitório feminino para as devotas internas e o outro é um salão para as práticas de Yoga-Inboud.

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Na garagem do Templo são realizados eventos e palestras do projeto sobre alimentação vegetariana, discussões de filmes, festivais de pizza etc.. Na garagem também é o lugar no qual os devotos têm suas aulas diárias sobre os livros sagrados (Bhagavad-Gita e Srimad Bhagavadam). O Templo Vrinda Aclimação, além de Templo, funciona como o Centro Cultural Vrinda, utilizado para festivais, eventos e cursos. Segue alguns exemplos dos eventos promovidos pelo Centro Cultural Vrinda:

Figura 3 Noite da Índia no Centro Cultural Vrinda

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Figura 4 Curso no Centro Cultural Vrinda

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CAPÍTULO 4 - FESTIVAIS E O PROSELITISMO O proselitismo é uma característica inerente às religiões. O Movimento Hare Krishna Vrinda não estaria de fora dessa característica. Os festivais de rua, como serão relatados a seguir, são um forte proselitismo para dar a visibilidade à uma religião não tão convencional para o Ocidente. Caminhar pela a Avenida Paulista, comemorar um “Natal” diferenciado, são ações que chamam a atenção da sociedade. Com todo o proselitismo vem uma espécie de sincretismo para poder atrair mais membros para a religião, e isso também ocorre com o Movimento. Serão analisados alguns festivais e eventos promovidos pelo Templo Vrinda e como se dá esse proselitismo religioso. 4.1 RATHA-YATRA

Todos os anos na cidade de São Paulo, próximo ao mês de agosto, acontece um festival no Templo Vrinda Aclimação. O festival é conhecido como Ratha-Yatra, que é a celebração do aparecimento do Senhor Jagannatha, seu irmão mais velho Baladeva e sua irmã Subhadra. As manifestações de Krishna saem do Templo e desfilam em uma carruagem pela Avenida Paulista. Os participantes são encorajados a puxarem as cordas da carruagem para simbolizar o desejo de estarem perto de Deus. Esse festival é realizado em todo o mundo, mais ou menos na mesma época. A procissão de Ratha-yatra tem como modelo o milenar festival do mesmo nome em Orissa, Índia, e apresenta três carruagens belamente ornamentadas, pesando cinco toneladas e medindo dezesseis metros. Com seus reluzentes dosséis de seda colorida, os veículos de madeira com torres elevadas são puxados bem devagar numa fila única através de uma multidão de milhares de pessoas. (ISKCON PORTUGAL)

Ratha-Yatra é um festival milenar que foi trazido para o Ocidente por Srila Prabhupada na fundação do Movimento Hare Krishna. É considerado o festival religioso mais antigo da Índia, segundo a ISKCON Portugal. A primeira vez que o festival foi realizado fora da Índia, foi em 1968, na cidade de São Francisco, nos EUA. Com cantos, danças, instrumentos os devotos percorrem a Avenida Paulista. É um período de visita de Guru Maharaj ao Brasil, o fundador da Missão Vrinda, e ele sempre

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acompanha a procissão, liderando os devotos em como proceder. É entregue prasada 11para os transeuntes como forma de abençoa-los e divulgar a Missão Vrinda. No Ratha-Yatra da Vrinda também ocorre a divulgação do vegetarianismo. Os devotos levam cartazes questionando sobre a razão de comer carne e os malefícios desse hábito para a Mãe-Terra. Ratha-Yatra tem um caráter de propagação do Movimento Hare Krishna. Durante a festividade, devotos entregam convites aos transeuntes para conhecerem o templo, e irem na palestra que Guru Maharaj daria logo após a procissão. Explicam quem é Krishna e o motivo da festividade, convidando todos para as danças. Tudo isso gera um olhar suspeito das pessoas na Avenida Paulista, pois é algo muito distinto da cultura Ocidental e brasileira. Não é possível mensurar a eficácia desse proselitismo, porém é observável que esse tipo de festival coloca o MHK em evidência para concorrer no Mercado Religioso.

Figura 5 Flyer de divulgação do Ratha-Yatra 2015

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Alimento sacrificado no altar de Krishna, é considerado a graça de Krishna. Considerada pelos devotos alimento sagrado, não apenas para o corpo, mas também para o espírito.

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Figura 6 Guru Maharaj e os devotos na procissão na Avenida Paulista

Figura 7 Guru Maharaj entregando panfletos de divulgação do Movimento Hare Krishna Vrinda

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Figura 8 Deidades percorrendo a Avenida Paulista ao som de mantras

4.2 JANMASTAMI

Outro festival que é de grande relevância para a propagação da Consciência de Krishna é o Sri Krishna Janmastami. É o aparecimento de Krishna na sua forma suprema. Krishna nasceu da virgem Devaki, que foi escolhida pelos sábios rishis para ser a mulher que traria ao mundo um Deva (anjo).

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Sri Krishna Janmastami – aparecimento do Senhor Krishna neste mundo. (Astami significa “oitavo”, isso quer dizer “o oitavo dia da Lua do mês de Hrishikesha, agosto-setembro”. O calendário védico é lunar, e não solar como o do Ocidente. Devido a isso, as datas mudam de ano para ano, mas são sempre comemoradas na exata fase da Lua do dia original).

Em 2014 esse festival foi no Centro Cultural Indiano, no Jardins, e em 2015 foi realizado na Federação Japonesa, localizada na Vila Mariana. Nesse festival são oferecidas 108 preparações para adornar no altar de Krishna. É como uma cerimônia convencional, contendo bhajan (canto congregacional), arakti (oferenda a Krishna), pujari (distribuição dos elementos da adoração), palestra sobre os Vedas com o foco no nascimento de Krishna, meditação e prasada. É interessante notar o uso da linguagem como proselitismo. O MHK utiliza-se sempre o termo “Natal Indiano”. O natal é uma festividade religiosa cristã, que tem por sua ressignificação (pois, originalmente é uma festa pagã para o deus Sol, no solstício de inverno) o nascimento de Jesus de Nazaré.12 Para atrair o público foi utilizado um termo convencional para a cultura ocidental no lugar do verdadeiro nome indiano para a festividade do nascimento de Krishna, o Janmastami.

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“Ninguém sabe o dia, o mês ou estação do nascimento de Jesus. A data 25 de dezembro só foi decidia em meados do século IV d.C, antes disso os cristãos celebravam seu nascimento em ocasiões diferentes, entre março, abril, maio e novembro. Mas por volta de 350 d.C, o papa Júlio, em Roma, declarou que a data seria dia 25 de dezembro, e com isso integrou a um festival romano do solstício de inverno que celebrava o “Nascimento do Sol Invicto.” (BORG; CROSSAN, 2008, p. 204)

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Figura 9 Flyer de divulgação do Natal Indiano de 2014

Figura 10 - 108 oferendas a Krishna pelo seu nascimento

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Figura 11 Centro Cultural Indiano no Festival Janmastami em 2014

4.3 SINCRETISMO RELIGIOSO

A categoria proposta por Sanchis (2001, p.45), a porosidade, se encontra nitidamente no Movimento Hare Krishna. Uma adaptação ocidental a uma cultura dita “oriental”. Esse sincretismo é visível quando bem observado nas palestras, declarações, textos do Movimento Hare Krishna. Uma radicalidade duradoura e constantemente reinvestida teria assim dotado o Brasil de um habitus (história feita estrutura) de porosidade das identidades e de ambivalência dos valores de uma tendência, sempre frustrada, mas permanentemente retomada, em direção a conjunção do múltiplo numa unidade nunca atingida. Com a condição de situá-la claramente em seu nível estrutural, de não confundi-la com fáceis versões que, em lugares e momentos diferentes, ela apresenta, talvez continue sendo epistemologicamente chamar esta porosidade de “sincretismo”. (SANCHIS, 2001, p.45).

Nas palestras de domingo há até mesmo o uso do termo Deus para se referir à Krishna e citações bíblicas, como, por exemplo, quando o Guru Maharaj proferiu a palestra no Templo Aclimação, São Paulo, Brasil (06/04/2014) e citou a passagem bíblica que diz:

34 Mestre, qual é o maior mandamento da Lei? "Respondeu Jesus:” ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. (Mateus 22:36-39)

Logo no início do Movimento Hare Krishna, se tornar um devoto implicaria em você abdicar de toda sua vida - trabalho, família, estudos - e morar no templo e ser um devoto interno. Ainda existem casos assim, porém o perfil da religião mudou e o que antes era algo restrito aos que renunciavam tudo, hoje é muito mais aberto aos que escolhem a vida “secular” e também “espiritual”.

O movimento deixa de ser revolucionário e inovador, acomodando-se no interior de um campo mais amplo das demais denominações religiosas. Passa a ser mais uma religião dentre várias ofertas existentes na sociedade brasileira, assumindo as características próprias de uma igreja. (GUERRIERO, 2001, p.5)

Essa mudança abre as portas para que o Movimento Hare Krishna seja mais uma religião no já chamado Novos Mercados Religiosos – NMR, visão proposta por Berger (1985). O que por Sanchis é tido como “o lugar onde o consumidor adquire produtos simbólicos das várias sínteses que lhes são oferecidas, construindo seu próprio universo de significados, que está em constante refazer e de acabamento sempre protelado” (SANCHIS, 2001). Essa “oportunidade” do consumidor poder escolher ser devoto de Krishna sem abdicar do que antes era cobrado torna o Movimento mais aprazível, atraindo assim mais fiéis.

Resulta daí que a tradição religiosa, que antigamente podia ser imposta pela autoridade, agora em que ser “colocada no mercado”. Ela tem que ser “vendida” para uma clientela que não está mais obrigada a “comprar”. A situação pluralista é, acima de tudo, uma situação de mercado. Nela, as instituições religiosas tornam-se agência de mercado e as tradições religiosas tornam-se comodidades de consumo. (BERGER,1985, p. 149).

Em quase todas as palestras é dito que “não importa sua religião, apenas a pratique bem”. Essa frase sempre ressoa nos ouvidos dos visitantes, dos quase devotos e devotos do templo. Para os devotos de Krishna todos os deuses são avatares (encarnações) de Krishna, assim não importa qual seja sua religião, se você a praticar bem está, na verdade, adorando a

35

Krishna. Essa mentalidade tem como bases alguns textos do livro sagrado Bhagavad-Gita. No capítulo 10 trata sobre as manifestações de Krishna, entre alguns versos está: “Nem os deuses nem os grandes videntes conhecem Minha origem; porque Eu sou, de todos os modos, a origem deles.” v.2 ; “Eu sou a fonte de tudo, tudo procede de Mim” v.8. Tendo isso em vista, observamos o seguinte acontecimento: em 2014 uma mulher cristã visitou o templo para conhecer a religião e a questão cultural do Movimento Hare Krishna. Nesse dia, essa mulher fez amizade com uma das futuras devotas do templo (que ainda não era iniciada), entre conversas e trocas de contato, ela a convidou para ir visitar um grupo de sua igreja evangélica. A futura devota respondeu-lhe que veria com os seus gurus a respeito. Dias se passaram e a resposta veio: Não. O pedido para visitar outras correntes de fé foi negado e todo o discurso sobre “todos os caminhos levam ao mesmo Deus” caiu em descrédito. Ao negar essa simples ida ao grupo de outra religião nota-se o medo de perder consumidores da fé em Krishna para outro tipo de fé religiosa. E todas as similaridades com a fé cristã descritas aqui que o Movimento Hare Krishna Vrinda tanto menciona, na verdade não existem no sentido prático, apenas no teórico para atrair novos membros.

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CAPÍTULO 5 - ESTRATÉGIAS MISSIONÁRIAS E O PÚBLICOALVO Este capítulo analisará as diferentes estratégias missionárias do Templo Vrinda Aclimação. Igualmente será definido um público-alvo no qual essas estratégias são direcionadas. E abordará o Movimento Hare Krishna Vrinda dentro do Mercado Religioso Brasileiro.

5.1 PROJETOS DO TEMPLO VRINDA ACLIMAÇÃO

No templo Vrinda Aclimação existem diversos projetos de cunho social e espiritual, e todos eles surgem também como estratégias missionárias para atrair novos adeptos à religião. Segue abaixo uma lista de projetos e atividades: - Yoga Inbound: Esse projeto é uma Escola de Yoga Inboud fundada pelo Guru Maharaj. É um sistema de Yoga que mescla a sabedoria védica com os princípios básicos do autoconhecimento. Aberto a todo o público, oferece aulas semanais de acordo com o pacote que o cliente escolher. - Artivismonk: Um grupo de monges e voluntários do templo Aclimação fundaram o Artivismonk, uma organização que realiza palestras, apresentações de teatro, aulas de yoga, circo, música em diversos locais como orfanatos, praças, universidades, escolas, presídios etc. As campanhas que o projeto trabalha são: yoga x droga; ecologia; consumo consciente, alimentação saudável e outros. -Casa da Sabedoria: É o projeto de distribuição de roupas e alimentos para comunidades carentes. Toda quinta-feira o Templo Vrinda Aclimação entrega sopa para os moradores de rua da

Praça

da

Sé.

- Revolução da Colher: é a divulgação do vegetarianismo e ecologia que o Centro Cultural Vrinda promove. A Revolução da Colher atua com publicações de artigos e receitas vegetarianas; -Sexta-Feita OK – exibição de filmes no Centro Cultural Vrinda (templo); distribuição de panfletos

sobre

vegetarianismo;

seminários

e

palestras.

- Oida Terapia e Valores e Ciência: que são os princípios para uma vida em sociedade

37

segundo o movimento. É a cura pela fé que é apresentada no livro do Guru Maharaj sobre OidaTerapia (Psicologia Perene). - Festival Indiano: onde acontece a prática do Bhakti-Yoga através do Mantra Yoga e de palestras com diversos gurus. Um dos principais meios de propagação da religião. - Academia Vaishnava: A Academia Vaishnava tem dois braços: 1) curso de culinária vegetariana e consciente; 2) grupos de estudos da filosofia védica que acontece todos os dias às 19h. - Facebook: plataforma na rede social para a divulgação dos eventos e projetos, fotos, vídeos e notícias do templo Vrinda Aclimação, da filosofia védica e dos gurus do templo. -Workshops diversos: Workshops acontecem esporadicamente no templo Vrinda. Workshops para diversos públicos como crianças, mães, mulheres, vegetarianos, etc. Já foi realizado workshops sobre panquecas vegetarianas, ciclo feminino, origami para as crianças, cura e tratamento pela alimentação e muitos outros. -Site institucional e blog: No site institucional são divulgados todos os eventos e o calendário mensal do templo, assim como ensinamentos, textos e explicações sobre o Movimento Hare Krishna Vrinda. E no blog do Vrinda as questões mais específicas da fé védica são explicadas, como por exemplo, o porquê das roupas devocionais, quem são, no que acreditam, etc. - Sankirtana: distribuição e venda de livros sobre a Consciência de Krishna. Grupos se reúnem em praça pública (Av. Paulista, em frente universidades, em diversos pontos da cidade) cantam seus mantras e param os transeuntes para conversar e propagar a filosofia védica.

5.2 ANÁLISES DA EFICÁCIA DOS PROJETOS COMO PROSELITISMO

Foram realizadas entrevistas em dias alternados com as pessoas que estavam frequentando o templo (devotos, não-devotos, visitantes, simpatizantes) para saber como eles encontraram o Templo Vrinda. Com tantos projetos supõe-se que algum deles seja o mais eficaz para esse proselitismo. A seguir o gráfico demonstrativo do resultado das entrevistas realizadas com vinte e cinco participantes das atividades do Templo Vrinda Aclimação:

38

Estratégias Missionárias 25

Amigos

20 15

Sites e Blog

10

Escola de Yoga

Academia…

Oida Terapia

Artivismonk

Sankirtana

Casa da…

Workshops

Facebook

Revolução da…

Viagens do…

Festival Indiano

Centro Cultural…

Festival Indiano

Escola de Yoga

0

Amigos

Centro Cultural Vrinda

Sites e Blog

5

Viagens do Templo Vrinda Revolução da Colher Facebook

Gráfico 1 Estratégias Missionárias do Templo

Segundo esta pesquisa, realizada entre 2014-2015, 44% das pessoas entrevistada conheceram o Movimento Hare Krishna Vrinda através de amigos devotos/ simpatizantes da religião. Com isso, nota-se que o método mais eficaz para atrair novos adeptos para a religião Bhakti Yoga é por influência de amigos pertencentes à religião ou com algum laço afetivo. Por mais que o mercado da religião use técnicas e métodos de proselitismo vindas do marketing, como eventos, apoio de mídias sociais etc. ainda assim o maior meio para a atração/conversão é o social.

5.3 JOVENS ADULTOS E CONVERSÃO

Observa-se que a faixa-etária dos entrevistados se situa entre 18 a 38 anos, portanto, pode-se dizer que os principais frequentadores são jovens adultos. Segundo M. P. Riccards, professor da Universidade de Massachusetts, esses jovens estão entre duas etapas no desenvolvimento religioso. Os jovens de 19 a 30 estão na etapa de reavaliação:

Nela parece surgir num grande número de pessoas uma reavaliação durante a qual as realidades religiosas perdem seu caráter sobressalente e se fazem cada vez menos aparentes. A religião ou é aceita de forma bastante passiva ou é abandonada com a mesma passividade (ÁVILA, 2003, p. 179).

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A partir dos 30 anos essa etapa é passada para trás entrando em uma nova, a etapa da determinação: “Implica uma determinação última da importância da religião na vida do indivíduo. A religião ou é incorporada à sua visão da realidade ou abandonada durante a maturidade. ” (ÁVILA, 2003, p.179). Esses jovens adultos ao serem introduzidos em alguma religião podem ou não se “converter” a ela. Segundo Antônio Ávila (2003), pelo viés da psicologia da religião, o processo de pode ter 4 fatores:

1)

Predisposição de personalidade: pessoas com vulnerabilidade psicológica tem

mais disposição para a conversão, principalmente de Novos Movimentos Religiosos, segundo C. Ullman (1982). 2)

A busca de solução para um conflito pessoal: William James (1986) já afirmava

em sua obra Variedades da experiência religiosa que, grande parte dos convertidos havia enfrentado uma crise pessoal profunda. Ou seja, buscar na religião a resposta para essas crises. 3)

A identidade e busca de sentido: Geralmente acontece na adolescência e

juventude. Uma busca de algo que transcende a eles mesmos. 4)

Razões sociais: Amigos, familiares, parceiros que animam para frequentar

alguma religião e assim a conversão acaba acontecendo por um contágio coletivo.

A tabela a seguir mostra quais os motivos que levam/levaram as pessoas a frequentar/visitar o Templo Vrinda Aclimação. O questionário respondido pelos entrevistados permitia assinalar mais de uma opção. Os dados revelam um índice grande pelo interesse em autoconhecimento e busca do sagrado, o que se entende por “identidade e busca de sentido”.

40

RAZÕES QUE MOTIVARAM A IDA AO TEMPLO Liberdade de culto

5

Ausência de preconceitos sexuais

3

Ausência

de

preconceitos 4

sociais/econômicos Busca do sagrado

13

Realização espiritual

12

Realização pessoal

6

Autoconhecimento

14

Vivência em comunidade

4

Outros

6 Tabela 2 Razões para frequentar o templo Fonte: Questionário.

Na descrição de Ávila (2003) sobre os 4 tipos de conversão nota-se que dois últimos fatores são os mais preponderantes no caso do Movimento Hare Krishna Vrinda, pois muitos são levados para a religião justamente por essas causas: autoconhecimento/busca do sagrado (identidade/busca de sentido) e influência de amigos (razão social.) Nos dois fatores está presente a questão de identidade e alteridade. Para Berger

Uma das qualidades essenciais do sagrado, como é encontrado na “experiência religiosa”, é a alteridade, sua manifestação como algo totaliter aliter, se comparado à vida humana comum, profana. É precisamente essa alteridade que jaz no coração do temor religioso [...] É essa alteridade, por exemplo, que esmaga a Arjuna na clássica visão da forma divina de Krishna no Bhagavad Gita [...] (1985, p. 99)

A seguir Berger discorre sobre versos do livro sagrado do Movimento Hare Krishna que mostram a visão assombrosa e numinosa de sua divindade. Observar Krishna como

41

totalmente um Outro é vê-lo como algo que pode suprir essa busca de sentido, esse autoconhecimento, pois só há conhecimento de si mesmo quando comparado a outro ser. “Os conceitos de identidade e diferença parecem ser então antes de tudo relacionais. Ou seja, um não é sem o outro, eles se determinam reciprocamente. ” (REPA, 2010, p. 21). Da mesma maneira que é possível fazer esse reconhecimento de si mesmo quando comparado ao sagrado, é possível também se reconhecer no outro “comum”. A construção de identidade nos jovens adultos se dá muito através de suas relações de amizade. Pois, como Luiz Repa indaga: “O que é essa identidade que parece não existir senão por um ato ao mesmo tempo cognitivo e social por parte do outro? ” (2010, p. 20). Essa construção de identidade está ligada ao fato que o homem constrói o mundo de maneira coletiva (BERGER, 1983, 29) e que essa construção de mundo se dá pela conversação entre aqueles os quais há uma significação (amigos, parentes, mestres). Sobre a questão da identidade, Berger afirma

É possível resumir a formação dialética da identidade pela afirmação de que o indivíduo se torna aquilo que os outros o consideram quando tratam com ele. Pode-se acrescentar que o indivíduo se apropria do mundo em conversação com os outros e, além disso, que tanto a identidade como o mundo permanecem reais para ele enquanto ele continua a conversação. (1985, p. 29).

Não importa a idade, o ser humano é um ser sociável, que deve se relacionar e se construir a partir de sua relação com os outros seres humanos. É por isso que, como mencionado anteriormente, 44% desses jovens adultos conheceram a religião através de relações de amizade. Essa conversação com os outros que leva o jovem adulto a construir sua própria religiosidade e completa sua própria significância em relação a si mesma (autoconhecimento).

5.4 MOVIMENTO HARE KRISHNA VRINDA COMO MERCADO RELIGIOSO

Entende-se por igreja: um grupo social caracterizado pelas mesmas práticas e costumes regidos por uma crença comum. “[...] a ideia de religião é inseparável da ideia de igreja, faz pressentir que a religião deve ser coisa eminentemente coletiva” (DURKHEIM, 1989, p. 79). O Movimento Hare Krishna, ou a Bhakti-Yoga, é uma religião que tem como base a vida em comunidade de fé, ou seja, nos termos de Durkheim, possui uma igreja.

42

A questão do termo igreja para o MHK pode ser estendido e analisado segundo a visão de mercado religioso. O mercado religioso é uma metáfora atual proposta por Berger (1985, p.159) sobre como a sociedade contemporânea lida com a religião. A religião torna-se uma “marca” que deve satisfazer seu “cliente” e suas “necessidades”, portanto, há uma competição de mercado, assim como no grande sistema capitalista. Esse “consumidor” do produto religião tem um livre mercado para escolher qual produto lhe apraz e lhe satisfaz de maneira completa, não tendo assim nenhum vínculo permanente com nenhuma instituição fixa. Assim, deve haver um forte marketing nas religiões para que elas se fixem no topo do ranking de “religiões consumidas”. Isso gera uma certa padronização e um forte sincretismo entre elas, pois hoje quem está no controle das religiões é o consumidor delas, o “cliente”. “Na medida em que as “necessidades religiosas” de certas camadas de clientes ou de clientes em potenciais, são semelhantes, as instituições religiosas, ao atender a essas “necessidades”, tenderão a padronizar seus produtos de acordo com elas” (BERGER, 1985, p.159). Um exemplo disso é a padronização dos Festivais de Indianos do Templo serem realizados em um domingo, visto que, o domingo é considerado culturalmente como dia do Senhor para muitos que professam a fé cristã. Ao estabelecer o dia de domingo como centro de sua atividade, o Templo estabelece uma competição/correlação com as igrejas católicas e evangélicas que pregam o domingo como dia sagrado. Nota-se no gráfico a seguir que o grande percentual dos entrevistados era de religião católica. 25

Católicos

20

Ateus e sem religião

15

Espíritas

10

Umbandistas

5

União do Vegetal

0

Santo Daime Religiões

Gráfico 2 Religiões pertencentes

Judeu

43 A religião que se professa hoje já não é aquela na qual se nasce, mas a que se escolhe. A religião que alguém elege para si hoje, escolhida de pluralidade em permanente expansão, também não é a que seguirá amanhã. (PRANDI, 2001, p. 51)

O Movimento Hare Krishna Vrinda se coloca em posição de mais uma religião no vasto campo da pluralidade do mercado religioso brasileiro. Mesmo com discurso sincrético de “você pode ter a sua religião e obter a Consciência de Krishna”, na prática não é bem assim. Não existe religião sem igreja. Embora o conceito de mercado religioso e a “compra” de produtos de várias religiões para compor a sua própria “religiosidade” esteja em evidência, ainda assim é algo muito vazio, é uma suposta espiritualidade enfraquecida pela pluralidade. Este discurso também entra em discordância com o conceito de religião proposto por Durkheim (1989, p. 79), no qual define religião como: “um sistema solidário de crenças seguintes e de práticas relativas a coisas sagradas, ou seja, separadas, proibidas; crenças e práticas que unem a mesma comunidade moral, chamada igreja, todos os que a ela se aderem”. Ou talvez seja a hora de considerar a decadência da religião como “comunidade” e apenas considerar as práticas de magia, proposta igualmente por Durkheim (1989, p. 74), que está igualmente repleta de religião, sendo constituída por crenças, ritos, mitos, dogmas, porém apenas servem para “fins técnicos e utilitários”. Finalizando com as palavras de Silas Guerriero, considerando a ISKCON a Missão Vrinda: O Movimento Hare Krishna é, ou pretende ser, igual em todo canto, mas termina assumindo características locais devido aos estereótipos da cultura em que se insere e às idiossincrasias de suas lideranças. De maneira geral, o ethos americano, dado que a expansão do movimento partiu dos EUA, empreendeu à ISKCON uma estrutura rígida muito mais próxima de algumas igrejas cristãs que a seita oriental. Entre nós, é interessante notar certo paralelismo entre o que acontece com nesse movimento e aquelas características de independência frente à ortodoxia, sincretismo e mobilidade. Essa forma de viver a religião acabou influenciando os próprios rumos do Movimento Hare Krishna por aqui. Muito além de ser uma corrente hindu dentro dos moldes tradicionais da vivência e aprendizagem com o guru, a ISKCON é mais uma religião ocidental com crenças em mitos e símbolos védicos (GUERRIERO, 2010, p.114)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Os fundamentos históricos do capítulo 1 permitiu entender as origens do Movimento Hare Krishna. A tradição vaishnava revolucionou a Índia com a ideia de universalidade do maha mantra Hare Krishna. Chaitanya reavivou a devoção à Krishna, e por essa razão, é considerado um dos santos do Movimento Hare Krishna. Também foi mostrado a importância da literatura védica e em especial do poema do Mahabarata chamado Bhagavad-Gita, pois é pela devoção que se alcança a libertação, que é o fundamento de Bhakti-Yoga. Para o melhor entendimento da criação do Movimento Hare Krishna é necessário entender seu contexto histórico. A tradição Gaudya Math estava passando por muitas turbulências devido a questão de sucessão de liderança, portanto, havia caído em descrédito na Índia. Um homem chamado Abbay Charan inicia a vida espiritual com o mestre Bhaktisiddhanta, então líder da Gaudya Math. Entretanto, Abbay Charan conciliava entre a vida secular e espiritual, e após uma crise econômica resolve tomar a ordem de sannyasi, monge renunciante, aos 64 anos de idade e assim muda seu nome para A. C.Bhaktivedanta Swami Prabhupada. E a partir desse momento sua vida se transforma totalmente, traduz muitos dos escritos sagrados, e por uma antiga orientação de seu mestre espiritual vai para o Ocidente, EUA, para propagar a Consciência de Krishna. E é nos EUA, Nova York, que Srila Prabhupada cria a ISKCON (Sociedade Internacional para a Consciência Krishna) em 1966. Com os princípios da antiga tradição védica, mas com alguns elementos adaptados para a sociedade ocidental. Todo o contexto dos EUA na década de 70 contribuiu para que a pregação de Prabhupada fosse aceitável, pois o Movimento de Contracultura e o Movimento Hippie estavam florescendo naquela época. Muitos dos convertidos ao Movimento Hare Krishna eram artistas, poetas, músicos, como o George Harrison, guitarrista da famosa banda de rock inglês, Beatles. A ISCKON se torna autossustentável através da prática da sankirtana, distribuição e venda dos livros sobre o Movimento Hare Krishna. E pregando a prática de desapego material muitos criaram comunidades alternativas para viver o Movimento. Essa prática já era muito comum desde Chaitanya, Prabhupada apenas utilizou o mesmo método com sua nova religião. O Movimento Hare Krishna chega ao Brasil em 1974 através da literatura e de alguns brasileiros que tiveram contato com o Movimento nos EUA. Não foram devotos americanos que vieram implantar a religião, mas foi de maneira indireta que o movimento chegou ao Brasil.

45

Guerrieiro (2001) fala de três momentos do MHK no Brasil: 1) 1974-1977, essa chegada de brasileiros e literatura védica; 2) após 1977, vários templos foram construídos no Brasil e campanhas de marketing foram realizadas; 3) a partir dos anos 90, consolidação do Movimento Hare Krishna como mercado religioso. Após a morte de Prabhupada houve uma crise de sucessão e isso causou vários cismas. Entre eles está a Missão Vrinda, fundada por um alemão discípulo direto de Prabhupada, há 30 anos atrás. Seu nome é B.A. Paramadvaiti Swami, conhecido entre os devotos como Guru Maharaj. A Missão Vrinda segue os mesmos preceitos propostos por Srila Prabhupada, entretanto, entre os devotos é vista como mais avivada e feliz do que a ISKCON, que segue uma linha mais tradicional. Outro guru que esteve apoiando essa missão foi o chileno Srila Atulananda Acharya, conhecido por Gurudeva Atulananda. Os dois são os responsáveis pela Missão Vrinda, que contém diversos templos, fazendas ecológicas, centros de estudos por todo o mundo. Há mais de 6 anos o Templo da Aclimação foi instituído. Um casarão antigo e grande do Bairro Aclimação é o Templo e o Centro Cultural Vrinda. Lá diversos devotos de diferentes lugares do Brasil e mundo residem, e também é o palco de muitas atividades religiosas e culturais. Todo domingo é realizado o Festival Indiano, onde a cerimônia principal do Movimento Hare Krishna Vrinda ocorre. O templo realiza diversos cursos para atrair todos os tipos de pessoas e não apenas devotos, favorecendo assim o proselitismo religioso. Os festivais podem ser considerados um dos grandes meios de divulgação da religião em massa, principalmente o festival Ratha-Yatra. Esse antigo festival veio da Índia e é a comemoração da aparição de três divindades: Senhor Jagannatha, seu irmão mais velho Baladeva e sua irmã Subhadra. E uma pequena carruagem com as imagens dessas divindades são levadas para percorrer toda a Avenida Paulista ao som de mantras e entrega de panfletos da Vrinda. Outro festival de grande renome é o Janmastami, aniversário de Krishna, ou como eles mesmos divulgam: Natal Indiano. Utilizam um nome mais comum ao Ocidente para poder atrair mais pessoas para o festival. E nota-se um sincretismo religioso na utilização da linguagem. E em outros momentos foi observado o uso de referências cristãs para gerar essa aproximação com a sociedade brasileira. Foram analisadas diversas estratégias missionárias do Movimento Hare Krishna Vrinda para a conversão de novos devotos. Entre cursos, programas de vegetarianismo, redes sociais, nenhum deles foi relevante quando o convite de amigos e parentes para visitar o templo.

46

Essa é a estratégia mais eficaz no proselitismo Vrinda. Por ser uma religião de jovens, o públicoalvo acaba sendo jovens e, segundo Silas Guerrieiro (2001), de classe média e que buscam por uma vida mais significativa. São jovens-adultos, na categoria de M. P. Riccards (2003), entre 18 - 36 anos que mais se convertem a novas religiões e isso se enquadra no Movimento Hare Krishna Vrinda. Outro ponto a ser destacado é o motivo do qual as pessoas (devotos ou não) vão ao templo. No questionário proposto para a realização dessa pesquisa continham diversas razões para a frequência ao Templo Vrinda Aclimação. As duas que mais se destacaram entre os entrevistados foram: autoconhecimento e busca pelo sagrado. Reitero a citação de Vernant que está introdução do livro de Peter Berger (1985) para as considerações finais desta pesquisa:

Quanto mais se estudam as religiões, melhor se compreende que elas, do mesmo modo que as ferramentas e a linguagem estão inscritas no aparelho do pensamento simbólico. Por mais diversas que elas sejam, respondem sempre a esta vocação dupla e solidária: para além das coisas, atingir um sentido que lhe dê uma plenitude das quais elas mesmas parecem privadas; e arrancar cada ser humano de seu isolamento, enraizando-o numa comunidade que o conforte e o ultrapasse. (1985, p.5)

Berger aborda a religião, em seus dois primeiros capítulos de O Dossel Sagrado, como construtora do mundo e como mantenedora do mundo (1985). O homem tem o poder de mudar a si próprio, mudar a sociedade, mudar a própria religião. Portanto, em 2015, notam-se tais resultados sobre a religião Bhakti-Yoga e suas estratégias missionárias em São Paulo, entretanto, tudo pode mudar, pois o mundo é um fluxo contínuo, ou também, tudo pode permanecer o mesmo. A citação de Vernant sintetiza os resultados dessa pesquisa. As maiores estratégias missionárias que qualquer religião pode ter é a dupla vocação proposta por ele, recapitulando: 1) “atingir um sentido que lhe dê uma plenitude” – autoconhecimento e busca do sagrado; 2) “arrancar cada ser humano de seu isolamento, enraizando-o numa comunidade que o conforte e o ultrapasse” – razão social.

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VALLVERDÚ, J. El cant de la devoció un estudi antropològic sobre els Hare Krishna. Tarragona. Arola. 2000. VYAS, R. The Bhagavata Bhakti Cult and Three Avaita Acharyas, Delhi, 1977. VIOLIN, Marcelo Henrique. “Cante E Seja Feliz”: George Harrison E O Movimento Hare Krishna”. Monografia, Londrina: UEL. Disponível em: < http://www.uel.br/grupopesquisa/socreligioes/pages/arquivos/monografia%20especializacao%20%20Marcelo%20Henrique%20Violin.pdf> Data de acesso: 22 de fev. 2015. VRINDA- Un lugar donde todo el mundo puede vivir . Disponível em: Acesso em: 09 de Nov. 2014 WEBER, MAX. Ensayos Sobre Sociología de la Religión. Versión Castellana de Julio Carabaña. 1ª edição, Tomo II, Madrid: Taurus, 1987.

Sites consultados: http://www3.iskcon.com.br/

http://pt.krishna.com/ http://voltaaosupremo.com http://vrindasp.com.br http://www.vrindavan.org/

Referências das imagens: Tabela 1 História do Movimento para Consciência de Krishna: (HOPKINS, 1989, p. 51) Figura 1 Guru Maharaj: http://www.vrindavan.org/ Figura 2 Guru Atulananda: http://www.atulanandadas.cl/ Figura 3 Noite da Índia no Centro Cultural Vrinda: http://vrindasp.com.br/ Figura 4 Curso no Centro Cultural Vrinda: http://vrindasp.com.br/ Figura 5 Flyer de divulgação do Ratha-Yatra 2015: http://vrindasp.com.br/ Figura 6 Guru Maharaj e os devotos na procissão na Avenida Paulista: Arquivo da pesquisa Figura 7 Guru Maharaj entregando panfletos: www.facebook.com Figura 8 Deidades percorrendo a Avenida Paulista ao som de mantras: www.facebook.com

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Figura 9 Flyer de divulgação do Natal Indiano de 2014: http://vrindasp.com.br/ Figura 10 - 108 oferendas a Krishna pelo seu nascimento: www.facebook.com Figura 11 Centro Cultural Indiano no Festival Janmastami em 2014: www.facebook.com Gráfico 1 Estratégias Missionárias do Templo: Arquivo da pesquisa Tabela 2 Razões para frequentar o templo: Arquivo da pesquisa Gráfico 2 Religiões pertencentes: Arquivo da pesquisa

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ANEXO I Entrevista realizada entre os devotos e visitantes do Templo Vrinda Aclimação durante o período do trabalho.

1) Nacionalidade:_________ Cidade /Estado onde nasceu: __________ 2) Data de nascimento: ______________ 3) Gênero: F ( ) M ( ) 4) Antes de se tornar devoto, pertencia a alguma religião? SIM ( ) Qual? _____________

NÃO ( )

5) Devoto interno ( ) Devoto externo (

ATEU ( )

) Simpatizante ( )

6) Há quanto tempo frequenta o templo? 7 anos 7) Formação acadêmica: Ensino Fundamental Completo ( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Ensino Superior Completo ( ) Ensino Superior Incompleto ( ) Mestrado ( ) Doutorado ( ) 8) Como conheceu o Templo Vrinda Aclimação: Sankirtana ( ) Centro Cultural Vrinda ( ) Casa da Sabedoria ( ) Revolução da Colher ( ) Festival Indiano ( ) Facebook ( ) Site e blogs ( ) Escola de Yoga Inbound ( ) Através das viagens entre os Templos Vrinda ( )

9) O que levou você a frequentar o Templo? Liberdade de culto ( ) Ausência de preconceitos sexuais ( ) Ausência de preconceitos sociais/econômicos ( ) Busca do sagrado Realização espiritual ( ) Realização pessoal ( ) Autoconhecimento ( ) Vivência em comunidade ( ) Outro ___________________________________

( )

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