ESTUDO AMBIENTAL DO PROJETO UHE SALTO CAXIAS, PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO E PALEONTOLÓGICO

June 7, 2017 | Autor: Igor Chmyz | Categoria: Arqueologia Pré-Histórica
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ESTUDO AMBIENTAL DO PROJETO UHE SALTO CAXIAS PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO E PALEONTOLÓGICO

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL 1. OBJETIVO A execução de diversos projetos de salvamento arqueológico no rio Iguaçu, assim como a realização de pesquisas isoladas, revelaram a existência de valioso patrimônio arqueológico no seu vale. As informações etno-históricas, da mesma forma, demonstram a sua intensa ocupação. Considerando-se que a obra pretendida pela Companhia Paranaense de Energia implicará na perturbação do meio-ambiente, de acordo com a legislação vigente no país - Lei Nº 3924 de 26 de julho de 1961 - que dispõe sobre os locais pré-históricos e históricos e, a Resolução 001/86 do Ministério do Desenvolvimento Urbano e Meio-Ambiente, que determina a realização de estudos sobre os impactos ambientais sempre que sejam desenvolvidas atividades que venham a alterá-los, estudos arqueológicos foram realizados na área da UHE Salto Caxias, objetivando a verificação de seu potencial arqueológico e, a conseqüente sugestão de medidas que venham a mitigar os impactos negativos que possam ocorrer sobre o patrimônio arqueológico e paleontológico nela encerrados. 2. METODOLOGIA Para a obtenção de dados primários, espaços previamente selecionados pela equipe técnica foram percorridos e vistoriados, objetivando a localização de sítios arqueológicos que evidenciassem a ocupação da área em épocas pretéritas. Os sítios localizados, assim como pontos onde foram registrados apenas indícios de atividades humanas foram assinalados em carta planialtimétrica. Nos sítios registrados, pequenas amostras de material arqueológico de superfície foram coletadas para diagnóstico de fases e tradições da antiga ocupação humana. O material obtido encontra-se nas dependências do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná, registrado com os números 2804 a 2806 e 2820 a 2850. Em laboratório, após limpeza e marcação, as amostras foram analisadas e interpretadas de acordo com os procedimentos pertinentes à prática arqueológica. Definidos os traços diagnósticos da ocupação, estes foram reproduzidos através de desenhos técnicos, sendo evidenciadas as estruturas dos sítios, as tipologias cerâmicas e líticas e, as morfologias cerâmicas. Os dados secundários foram obtidos através de levantamentos bibliográficos referentes à área em pauta e regiões próximas. Abrangeram espaços situados no vale do médio e baixo rio Iguaçu e, no vale do baixo rio Paraná.

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2.1 - Definição da Área de Estudo Compreende-se como Área Diretamente Afetada pelo empreendimento, aquelas previstas para a construção do acampamento, do canteiro de obras, os espaços que serão atingidos pela formação do reservatório com cerca de 124 km2 e, aqueles comprometidos com a abertura ou melhoria de estradas de acesso aos alojamentos e ao canteiro de obras e, também, aqueles destinados à relocação de estradas vicinais. Como Área de Influência são consideradas, além daquelas situadas no limite de segurança do reservatório, as destinadas a usos múltiplos como lazer, estocagem e empréstimo de material, se localizadas em espaços distantes e isolados dos canteiros de obras, áreas reservadas para o reassentamento da população, à implantação de linhas de transmissão e, quaisquer outras que, mesmo afastadas, venham a sofrer alterações no solo em decorrência do empreendimento. Nestes espaços foram prospeccionados os trechos destinados pela empresa à construção do acampamento para solteiros, do canteiro de obras e eixo da barragem e, também, espaços localizados à montante da futura barragem compreendidos, na margem direita do rio Iguaçu, entre o rio Jacutinga e o antigo Porto Pichek e, na margem esquerda, aqueles situados nas proximidades do Porto Pereira até o rio Grápia. 2.2 - Levantamentos de Dados Para o levantamento de dados secundários foram utilizados relatórios de viajantes e monografias de pesquisadores, objetivando-se o reconhecimento da ocupação humana pré-histórica e histórica, além da megafauna da área a ser impactada pelo empreendimento pretendido pela Companhia Paranaense de Energia. As fontes primárias foram obtidas através da realização de prospecções em espaços pré-determinados pela equipe técnica, visando a caracterização da ocupação humana antiga no espaço em pauta. Amostras de material arqueológico foram coletadas superficialmente em pontos distintos das ocorrências assinaladas. Os sítios ocorreram no flanco de elevações, ou em terreno plano, entre 30 e 600m das margens do rio Iguaçu. Ocupavam áreas variáveis entre 1.551 e 24.335m2 e, a maioria correspondia a sítios-habitação. Indícios de atividades humanas foram registradas em 21 pontos da área trabalhada. Não puderam ser caracterizados, entretanto, em conseqüência da perturbação ambiental. Em laboratório, após a limpeza e marcação, as amostras foram analisadas e interpretadas de acordo com os procedimentos normais da prática arqueológica, resultando na definição dos traços diagnósticos das ocupações. As informações obtidas através das fontes primárias puderam ser associadas àquelas fornecidas pela etno-história e, comprovam a ocupação pretérita da área por grupos humanos.

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3. DIAGNÓSTICO 3.1. Apresentação dos Resultados Referências Arqueológicas Arqueologia: Conceitos Entende-se por sítio arqueológico, o espaço ocupado por cultura passada. No Brasil, os grupos indígenas, nômades e semi-nômades, basicamente caçadorescoletores e, às vezes, com agricultura incipiente estabeleciam-se temporariamente nos locais onde construíam suas aldeias, deixando neles os resíduos de sua ocupação. Após o abandono das áreas, estas camadas residuais eram cobertas novamente pela vegetação e pela sedimentação. Dependendo do tempo transcorrido após o abandono do espaço e, de fatores como o geológico, topográfico, etc., estas encontram-se próximas à superfície atual do terreno, ou em profundidades maiores. A sua localização, no primeiro caso, é decorrente de perturbações no solo, que podem ser tanto de origem natural (erosão), como de origem antrópica, ou seja, através das atividades desenvolvidas pelo homem, principalmente pelas agrícolas. Quando em profundidades maiores, são localizadas através da execução de pequenos cortes com profundidades variáveis (cortesexperimentais). Os sítios arqueológicos, representantes portanto das antigas habitações ou aldeias, são caracterizados de acordo com determinadas especificações relacionadas ao uso do local pelo grupo. De acordo com a Terminologia Arqueológica (CHMYZ, 1976a:142-3), podem ser classificados como: - sítio-acampamento: local com indícios de permanência temporária; - sítio-habitação: local com indícios de permanência prolongada; - sítio-oficina: local onde são encontradas somente evidências de fabricação de artefatos; - sítio-cemitério: local onde são encontradas apenas evidências de enterramentos; - sítio-cerimonial: local onde são encontradas evidências de práticas religiosas ou sociais; Temporalmente, os sítios arqueológicos podem abranger um período préhistórico, ou seja, anterior à ocupação européia e, um período histórico relacionado aos contatos entre índios, portugueses e espanhóis a partir do século XVI e, aos empreendimentos não ibéricos. Compreendem, ainda, os resíduos deixados pela população neobrasileira ou cabocla. Neste caso, a sua ocorrência coincide com os movimentos colonizadores. De acordo com o estágio de desenvolvimento tecnológico dos grupos, os sítios arqueológicos são classificados, também, como sítios cerâmicos e sítios précerâmicos ou não cerâmicos. Os sítios pertencentes a grupos ceramistas, geralmente, são de maiores dimensões e, apresentam camada arqueológica mais espessa, inferindo maior densidade populacional e permanência mais prolongada do grupo no local. Essa

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situação era favorecida pela produção de alimentos. A agricultura, mesmo quando incipiente, permitia a fixação dos grupos em um mesmo local por maior espaço de tempo e, a utilização dos recursos naturais aliados à produção agrícola possibilitavam o crescimento populacional. Já os grupos pré-ceramistas apresentavam maior mobilidade. Desta forma, os depósitos arqueológicos ocupam áreas menores e a camada arqueológica é mais delgada. Esta divisão não implica, entretanto, em significação cronológica, pois grupos ceramistas e pré-ceramistas poderiam viver contemporaneamente. Localizado um sítio arqueológico, as evidências são coletadas superficialmente ou através de escavações. Este material, depois de limpo e marcado é analisado em laboratório. A identificação e classificação dos objetos encontrados nas antigas habitações ou aldeias, pelas características que apresentam, levam à definição de um grupo humano que é, então, relacionado a uma fase arqueológica, a qual, por sua vez, é vinculada a uma tradição cultural. Entende-se por Tradição Cultural, um grupo de elementos ou técnicas com persistência temporal e, por fases arqueológicas, complexos cerâmicos, líticos, habitacionais, padrões de enterramentos e outras evidências culturais relacionadas no tempo e no espaço, em um ou mais sítios arqueológicos. As fases arqueológicas, dentro de uma tradição, têm conotação cronológica. Representam grupos humanos que possuem o mesmo padrão cultural mas, com periodicidades diferentes que são refletidas na sua tecnologia ou no seu padrão de assentamento. Periodização Arqueológica As primeiras referências sobre a existência de material arqueológico no rio Iguaçu foram registradas na segunda metade do século XIX pelo antropólogo argentino Juan B. Ambrosetti quando, em meados de 1892, visitando a Colônia Militar de Foz do Iguaçu, coletou farto material arqueológico. "Entre as peças cerâmicas arroladas por Ambrosetti, destacam-se as grandes urnas funerárias, algumas contendo restos de enterramento e, recipientes menores, como oferendas" (CHMYZ, 1968:1:48). Trabalhos arqueológicos, no entanto, foram iniciados apenas em 1955, sendo executados no município paranaense de União da Vitória, localizado no curso médio do rio Iguaçu. Foram intensificados em 1959, apesar de continuarem sendo realizados de forma isolada pelo Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná que, na época, contava com recursos próprios e, com o apoio do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Neste período, até meados da década de 60, foram abordados trechos do médio e alto rio Iguaçu. Pesquisas sistemáticas somente foram desenvolvidas no final da década de 60, com a realização do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas. O programa contava com o apoio do Smithsonian Institution, de Washingthon D.C., do Conselho Nacional de Pesquisas e do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Este projeto objetivava a ampliação e, a sistematização dos estudos arqueológicos. Espaços préestabelecidos foram então trabalhados, abordando o alto, médio e baixo rio Iguaçu, resultando na localização de 95 novos sítios arqueológicos (Fig. 1). No espaço compreendido pelo médio rio Iguaçu, as atividades sistemáticas de pesquisas arqueológicas foram intensificadas no final da década de 70 e, no começo

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de 80, com a construção das Usinas Hidrelétricas Salto Santiago (Convênio IPHANELETROSUL) e Foz do Areia (Convênio UFPR-COPEL). Projetos de salvamento foram executados nas duas áreas, resultando na localização de 76 sítios arqueológicos, sendo 41 no primeiro e, 35 no segundo. O Projeto Arqueológico Itaipu (Convênio IPHAN-ITAIPU BINACIONAL), executado também em ritmo de salvamento na segunda metade da década de 70, consolidou o conhecimento sobre a ocupação humana no baixo rio Iguaçu e no baixo rio Paraná.

Figura 1: Trechos dos vales dos rios Iguaçu e Paraná pesquisados sistematicamente: Projeto Arqueológico Foz do Areia (PAFA), Projeto Arqueológico Santiago (PAS), Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA) e Projeto Arqueológico Itaipu (PAI).

No baixo e médio rio Iguaçu, as pesquisas arqueológicas desenvolvidas até o momento possibilitaram, além da constatação do potencial arqueológico da área em pauta, a identificação de diversas fases arqueológicas relacionadas às tradições préceramistas Bituruna, Humaitá, Umbu e, das ceramistas Itararé, Tupiguarani e Neobrasileira. Algumas fases estabelecidas, entretanto, pelas características que apresentam, ainda não puderam ser relacionadas a nenhuma das tradições culturais citadas. Fases Bituruna e Vinitu As fases Bituruna e Vinitu, filiadas à tradição cultural Bituruna representam as mais antigas evidências da ocupação humana no Estado do Paraná. Os sítios da fase Bituruna foram registrados no médio rio Iguaçu, nas áreas dos Projetos Arqueológicos Salto Santiago e Foz do Areia. Aqueles relacionados à fase Vinitu foram localizados no baixo rio Iguaçu, na área do Projeto Arqueológico Itaipu. Os depósitos vinculados a estas fases situavam-se em pontos elevados mas, sempre nas proximidades de cursos fluviais. Ocupavam áreas variáveis entre 392m²

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e 1.059m² e, alguns eram formados por concentrações de material arqueológico, indicativas de habitações. O instrumental lítico das duas fases é caracterizado pela presença de grandes pontas-de-projéteis pedunculadas e foliáceas, além de grande variedade de raspadores, bifaces e facas, sendo estes de pequenas dimensões. Inferem atividades desenvolvidas por grupos de caçadores superiores com uma tecnologia adaptada para um ambiente com vegetação mais rarefeita que a atual, tipo de cerrado ou savana, em clima mais seco e frio. Datações radiométricas situam - nas entre 6.000 e 2.000 a. C. As datações coincidem com períodos de resfriamentos climáticos propostos por Rhodes FAIRBRIDGE (1976:353), ocasiões em que se formariam os ambientes próprios à tecnologia observada em seus sítios. Acervos comparáveis a estas fases ocorrem no médio e baixo rio Paranapanema, médio rio Ivaí e, no litoral paranaense, além de algumas áreas no centro-norte do Rio Grande do Sul. Podem ser correlacionadas, ainda, com manifestações arqueológicas existentes no sul da Patagônia, datadas de 10.000 antes do presente. Fase Pirajuí Fase pré-cerâmica relacionada à tradição cultural Humaitá, localizada no baixo rio Iguaçu, nas áreas estudadas pelo Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas e, pelo Projeto Arqueológico Itaipu. Seus sítios ocupavam o topo ou o flanco de elevações, nas proximidades de cursos fluviais. Os de maiores dimensões situavam-se nas nascentes ou, nas porções medianas de cursos fluviais pequenos. Os artefatos desta fase são, comumente, de grandes dimensões e, elaborados sobre núcleos de basalto e arenito silicificado. Estão representados por picões, lâminas de machados alongadas ou curvas (anguladas), trituradores, percutores e diversas modalidades de raspadores. Indicam o desenvolvimento de atividades de caça e coleta em ambiente florestado, úmido e quente. Datações por Carbono - 14 situam-na entre 5.000 e 3.000 a.C. O acervo desta fase pode ser comparado a outros sítios e fases pertencentes à mesma tradição estudados desde o Estado de São Paulo até o Rio Grande do Sul. Ocorrências similares observam-se na faixa paraguaia do rio Paraná englobada pelo reservatório de Itaipu e, na província argentina de Missiones. No Estado do Paraná pode ser correlacionada com a fase Ivaí, estabelecida no curso médio do rio homônimo, à fase Tapejara, registrada ao norte da área de Itaipu, à fase Inajá, do médio rio Paranapanema e à fase Timburi, do alto rio Paranapanema. Fase Ipacaraí Fase pré-cerâmica de tradição cultural não estabelecida, localizada no baixo rio Iguaçu, na área do Projeto Arqueológico Itaipu. Os sítios ocupavam áreas elípticas, que variavam entre 157m² e 706m². Situavam-se em lugares elevados, próximos aos cursos fluviais. Nesta fase os artefatos são escassos e elaborados sobre lascas e núcleos de arenito silicificado, meláfiro e sílex. São comuns vários tipos de raspadores,

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talhadores, facas e picões. Inferem atividades de grupos de caçadores-coletores em ambiente florestado. Não foi possível, até o momento, datá-la radiometricamente. Pode-se, no entanto, relacioná-la a um período em que o ambiente se mostrava mais quente e úmido, propício ao desenvolvimento de florestas, situado em torno de 3.000 a.C. Estudos comparativos com outras fases são dificultados pela ausência de uma tipologia bem definida. Fase Iguaçu A fase pré-cerâmica Iguaçu, filiada à tradição cultural Umbu, foi localizada no alto e médio rio Iguaçu, nas áreas estudadas pelo Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas e, pelos Projetos Arqueológicos Salto Santiago e Foz do Areia. Os sítios, geralmente elípticos e com dimensões variáveis entre 541m2 e 3.532m2, foram registrados nas encostas de elevações e, em áreas de várzeas. O seu instrumental lítico é confeccionado, mais freqüentemente, sobre lascas, lâminas e microlascas de sílex. Neste caso correspondem a raspadores de vários tipos, buris e pontas de projéteis pedunculadas com aletas e foliáceas, de pequenas dimensões. Sobre núcleos de basalto foram registradas lâminas de machados, percutores, talhadores, quebradores de coquinhos, bigorna e raspadores diversos. Esta fase está vinculada a grupos de caçadores-coletores que desenvolviam atividades em ambientes diferentes e contíguos representados pela floresta densa, subtropical e, as mais rarefeitas, de araucária. Datações pelo Carbono-14 situam-na em 1.150 a.C. Comparativamente esta fase pode ser relacionada com a fase Itaió, localizada na região centro-norte de Santa Catarina e, com a fase Umbu, registrada no Rio Grande do Sul. Fase Candói A fase cerâmica Candói, pertencente à tradição cultural Itararé foi localizada no médio rio Iguaçu, nas áreas dos Projetos Arqueológicos Salto Santiago, Foz do Areia e, do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas. Os depósitos, pouco espessos, foram localizados às margens de rios, riachos e várzeas. Indicam curta permanência de pequenos grupos humanos no local. Estão representados tanto por sítios acampamento, como por habitações. Dos sítios registrados, até o momento, um ocupava o interior de um abrigo-sob-rocha e, em dois foram localizadas possíveis casas subterrâneas de dimensões reduzidas. No abrigo foram observadas, nas paredes, a ocorrência de gravações. A sua cerâmica apresenta paredes delgadas; os recipientes são de pequenas dimensões e com pouca variedade de formas. A decoração é representada por Engobo Vermelho, 3 variedades de Carimbado, que é o traço diagnóstico da fase, Ponteado, Inciso e Digitungulado. Nesta fase destaca-se, junto ao acervo cerâmico, um fragmento de estatueta humana, objeto único registrado na tradição Itararé até o momento. Os artefatos líticos, mais numerosos, estão representados por lâminas-demachados, mãos-de-pilões, vários tipos de raspadores, furadores, facas, alisadores, talhadores, picões e percutores inferindo atividades de caça, coleta e manipulação

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de sementes em ambiente florestado e, talvez uma agricultura incipiente. Alguns artefatos líticos, com resíduos de hematita sobre o córtex indicam o uso desse corante na decoração da cerâmica, possivelmente em outros objetos e, em pinturas corporais. Cronologicamente a fase Candói é a mais antiga da tradição Itararé no Estado do Paraná, situando-se em A.D. 475 ± 65. Comparações podem ser feitas com a fase Cantu, registrada na porção superior da área do Projeto Arqueológico Itaipu. Sítios com as mesmas características foram definidos no vale do rio Piquiri e, no médio rio Ivaí. A concentração de sítios e a cronologia disponível apontam o médio rio Iguaçu como polo dispersor dos grupos indígenas relacionados a esta fase, em direção ao oeste, sudoeste e centro-sul do Estado do Paraná. Esta subtradição seria contemporânea às fases e sítios da Subtradição Pintada Tupiguarani. Outro conjunto de dados comparativos ocorre no Rio Grande do Sul e, estão relacionados à tradição Taquara. Fase Açungui Esta fase cerâmica está relacionada à tradição cultural Itararé. Seus sítios foram localizados no médio rio Iguaçu, nos espaços estudados pelo Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas e, pelos Projetos Arqueológicos Santiago e Foz do Areia. Eram constituídos por pequenas habitações e, a camada arqueológica delgada indica curta permanência de reduzidos grupos humanos no local. Os recipientes cerâmicos desta fase são de pequenas dimensões; as paredes são de fina espessura, predominando as peças com acabamento simples de superfície. As evidências líticas são numerosas e constituídas por lascas e núcleos. Alisadores, bigornas, facas, raspadores, talhadores, picões e lâminas de machado indicam o desenvolvimento de atividades de caça e coleta em ambiente florestado. Impregnações de hematita sobre o córtex de algumas peças inferem o uso deste material corante na decoração de recipientes e, também em pintura corporal. Esta fase pode ser comparada à fase Itararé, registrada no nordeste do Estado do Paraná e, em São Paulo, ao longo dos rios Paranapanema e Itararé. Cerâmica semelhante também foi encontrada no litoral paranaense, na superfície de alguns sambaquis como o da Ilha das Cobras (RAUTH, 1963:2) e o da Ilha das Pedras (CHMYZ, 1976b:27). As pesquisas realizadas no rio Iguaçu sugerem um movimento migratório dos grupos desta fase no sentido Leste-Oeste, seguindo o curso do rio. Indicações cronológicas situam-na em A.D. 890 e A.D. 1.190. Fase Xagu Fase cerâmica filiada à tradição Itararé registrada no médio rio Iguaçu. Seus sítios, rarefeitos nas áreas de ocupação, inferem pequeno número de pessoas por curto espaço de tempo. A cerâmica desta fase é delgada e escassa. Entre as modalidades de acabamento de superfície predomina a cerâmica simples seguida do tipo Xagu Inciso, que é o seu traço diagnóstico.

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O instrumental lítico é numeroso e, constituído por facas, raspadores, bigornas, mãos-de-pilões, trituradores e lâminas-de-machados. O acervo desta fase sugere atividades de caça e coleta por grupos que, paralelamente, praticavam uma agricultura incipiente em ambiente florestado. A sua área de dispersão abrange o sudoeste e o centro-sul do Estado do Paraná. Datações radiométricas situam-na entre A.D. 1.190 ± 40 e A.D. 1.460 ± 40. Esta fase pode ser comparada a um conjunto de sítios com traços semelhantes encontrados no extremo norte do Projeto Arqueológico Itaipu, próximo à foz do rio Piquiri. Pode ser relacionada, ainda, às fases Guatambu e Xaxim, vinculadas à tradição Taquara e, registradas no alto e médio rio Uruguai, entre os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Fase Ibirajé Fase cerâmica relacionada à Subtradição Corrugada Tupiguarani. Seus sítios, localizados no baixo rio Iguaçu, nos trechos estudados pelo Projeto Arqueológico Itaipu, situavam-se em pontos elevados do terreno e, nas proximidades de cursos fluviais. Abrangiam áreas variáveis entre 2 e 9.891m². Formavam concentrações únicas de material arqueológico. Naqueles com áreas superiores a mil metros quadrados eram comuns agrupamentos de concentrações dispostas em arco, elipse, nos vértices de um triângulo, ou ainda, alinhadas em L ou filas paralelas. Manchas de terra preta, indicando as bases das antigas habitações, eram comuns. A cerâmica, numerosa, apresenta grande variedade decorativa, sendo predominantes as diversas modalidades de corrugações, que é o seu traço diagnóstico. Freqüentes, também, são as modelagens representadas por cachimbos angulares, rodelas-de-fuso, suportes de panelas, abrasadores sulcados e planos e colheres. O material lítico desta fase é escasso. Está representado por facas, raspadores, alisadores, abrasadores sulcados, pendentes, tembetás, batedores e lâminas de machados alongadas e polidas. Algumas urnas sugerem práticas funerárias com oferendas, embora os restos humanos tenham desaparecido em conseqüência da acidez do solo. Datações radiométricas situam esta fase entre A.D. 1.190 e A.D. 1.695. A fase Ibirajé pode ser relacionada com a fase Imbituva, do alto rio Iguaçu, a Tamboara do médio rio Ivaí, a Guaraci no médio rio Paranapanema, além da fase Ivinheima, estabelecida no espaço compreendido pelo baixo rio Paranapanema, alto rio Paraná e baixo rio Samambaia (Mato Grosso do Sul). Fase Sarandi Esta fase cerâmica, pertencente à subtradição Escovada Tupiguarani marca o contato do indígena com o elemento europeu.Foi registrada no baixo rio Iguaçu, na área estudada pelo Projeto Arqueológico Itaipu. Seus sítios ocupavam terrenos elevados, nas proximidades de cursos fluviais. Eram constituídos por concentrações únicas de material ou, por concentrações agrupadas que se dispunham em arco, círculo ou alinhadas. Os agrupamentos, às vezes marcados por manchas de terra preta, somente foram observados nos locais com áreas superiores a mil metros quadrados.

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Na cerâmica, o escovado é a variedade decorativa que a caracteriza, seguindo-se aqueles recipientes decorados com fina camada de tinta vermelha. As evidências líticas desta fase correspondem a lâminas-de-machados e mãos-de pilões picoteadas e alisadas, trituradores, talhadores, abrasadores planos e sulcados, raspadores e facas. Os indícios de contato destes grupos com o europeu estão relacionados, muitas vezes, com as Reduções Jesuíticas. Datações radiométricas situam-na entre A.D. 1.300 e A.D. 1.805. No Estado do Paraná, a fase Sarandi vincula-se às fases Loreto, Tibagi e Caloré, localizadas nas porções medianas dos rios Paranapanema, Tibagi e Ivaí, respectivamente. Fase Icaraíma Fase cerâmica ainda não filiada a tradição cultural, localizada no baixo rio Iguaçu, nos espaços pesquisados pelo Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas e, pelo Projeto Arqueológico Itaipu. Seus sítios ocupavam áreas variáveis entre 157m² e 353m² e, o material arqueológico era esparso e superficial. A cerâmica desta fase, apesar de semelhante à produzida pelos Tupiguarani, dela se diferencia através das formas dos recipientes. São comuns as formas esféricas, em meia-esfera, em meia-calota e ovóides. As bases dos recipientes são arredondadas e em pedestal, sendo raras as cônicas. São comuns, igualmente, vasilhas com lábios entalhados e com aplicações circundando o bojo. Esta fase pode ser relacionada com os índios Payaguá, da família lingüística Guaikuru. Relatos históricos da primeira metade do século XVI citam-nos como dominadores dos rios Paraná e Paraguai e, inimigos dos grupos Tupi-Guarani. Após o contato com os espanhóis passaram, também, a hostilizá-los. Estabelecidos nas proximidades de Assunção no final do século XVIII, extinguiram-se na primeira metade do século XIX. Informações etno-históricas e, evidências arqueológicas localizadas permitem situar esta fase entre A.D. 1.300 e A.D. 1.600. Fase Assuna Os sítios desta fase cerâmica filiada à tradição cultural Neobrasileira, foram localizados no baixo rio Iguaçu nos espaços estudados pelo Projeto Arqueológico Itaipu. Os depósitos situavam-se no flanco de suaves elevações, nas proximidades de córregos. Ocupavam áreas variáveis entre 200m² e 800m², inferindo pequenas habitações isoladas. O acervo desta fase inclui artefatos cerâmicos e líticos. Os primeiros apresentam tipologia diversificada, sendo uma característica da sua cerâmica, a associação de várias técnicas decorativas em uma mesma peça predominando, como modalidade decorativa, o engobo vermelho e o escovado. O material lítico é escasso e representado por raspadores, talhadores, abrasadores e pederneiras, estas relacionadas a aparelhos para obtenção de fogo ou armas de fogo. Em alguns artefatos observa-se o uso associado como quebrador de coquinho e percutor. Nos abrasadores são evidentes as marcas de atrito com lâminas metálicas.

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Cronologicamente, a fase Assuna pode ser remetida para a metade do século XIX, quando uma rarefeita população de brasileiros, isolados dos centros mais desenvolvidos, vivia em contato com grupos indígenas. Com acervo comparável ao desta fase estão a fase Lavrinha, estabelecida no litoral e primeiro planalto paranaense e, ligada aos movimentos portugueses. Outras fases da mesma tradição foram registrados no Rio Grande do Sul (Faxinal e Monjolo), Rio de Janeiro (Calandu e Parati) e Espírito Santo (Moenda). Periodização Histórica Pesquisas arqueológicas desenvolvidas na bacia do rio Iguaçu demonstraram a sua ocupação, por grupos humanos, a partir de 6.000 a.C. Informações mais recentes, fornecidas pela etno-história, evidenciam também que, além de intensamente ocupado por grupos tribais heterogêneos, o rio Iguaçu desempenhou papel importante como difusor e fixador não só dos povos indígenas, como também no processo de exploração e colonização da área. O espaço do rio Iguaçu pretendido para a construção da Usina Hidrelétrica Salto Caxias foi percorrido desde o século XVI, por exploradores espanhóis e portugueses, os quais utilizavam o caminho indígena do Peabiru e seus ramais, para suas incursões pelo continente. Caminho transcontinental, dois de seus ramais cortavam o rio Iguaçu: um situava-se na área em pauta, passando pela foz do rio Cotegipe e, outro nas suas proximidades, abrangendo as imediações do rio Santo Antonio (Fig. 2).

Figura 2: Movimentações européias no Estado do Paraná entre 1540 e 1560. As linhas tracejadas correspondem aos caminhos indígenas do Peabiru (extraída de CARDOSO e WESTPHALEN, 1981: Mapa 10).

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O primeiro europeu a utilizar o Caminho do Peabiru foi Aleixo Garcia que, em 1524, saindo de Santa Catarina, subiu a Serra do Mar atingindo os Campos Gerais do Paraná e, cruzando sucessivamente os rios Tibagi, Ivaí, Iguaçu e Paraná chegou ao Paraguai. Atravessando o Chaco e os Andes, alcançou a região de Potosi e Sucre. Em 1531 Pero Lobo, um dos capitães da armada de Martim Afonso de Souza, guiado por Francisco Chaves, penetrou a porção meridional do Guairá, sendo atacado por indígenas nas margens do rio Iguaçu. Entre as expedições que transitaram pelo Peabiru está a de Cabeza de Vaca, em 1541. Saindo de Santa Catarina, a expedição atravessou o rio Iguaçu nas proximidades de Araucária, alcançando os rios Tibagi e o Ivaí, até as proximidades da foz do rio Cantu, onde desviou a rota por um caminho secundário que atingia o rio Iguaçu, atravessava o Estado de Santa Catarina, passando pela aldeia indígena Carieseba, situada na zona sudoeste do Estado, alcançando o Rio Grande do Sul. Segundo Gentil de Moura, o rio Iguaçu foi transposto pela expedição, na altura do rio Cotegipe: "pela latitude que encontraram, de 25º e meio, parece que o ponto de chegada deve ser correspondente ao meridiano de Catanduvas, que nos mapas do Paraná corresponde mais ou menos á barra do rio Cotegipe no Iguassú." (MOURA, 1911:78). Prosseguindo a viagem, alcançaram Assunção em 1542. Dez anos mais tarde, Diogo de Sanabria seguiu a mesma rota de Cabeza de Vaca. O mesmo caminho foi percorrido em 1552 por Ulrich Schmidel que, saindo de Assunção, atravessou o continente até São Vicente e, por Rui Dias de Melgarejo, em 1555. No século XVIII, bandeiras paulistas e curitibanas, como a de Zacarias Dias Cortes em 1720, a quem se atribui o descobrimento dos Campos de Palmas, a de Domingos Lopes Cascaes, em 1768 que, saindo do porto de Caiacanga desceu o Iguaçu até a altura onde os saltos interrompiam a navegação ou, as de Bruno da Costa Filgueira (1769) que tinha o objetivo de explorar a margem direita do rio Iguaçu até a sua foz e, Antonio da Silveira Peixoto que atingiu os Saltos do Iguaçu em 1769, percorreram a região com objetivos de conquista e exploração (Fig. 3). Neste período são reconhecidos os grandes sistemas fluviais do segundo e terceiro planaltos, conhecidos como Sertões do Tibagi. No século XIX intensificou-se o processo de colonização da região com a conquista dos campos de Guarapuava. A fundação de Atalaia em 1810, por Diogo Pinto de Azevedo Portugal representou o primeiro núcleo povoador do terceiro planalto paranaense. Ataques indígenas à povoação, no entanto, foram freqüentes até 1812, quando um grupo formado por Camés e Votorões e, liderados pelo cacique Antonio José Pay, passou a conviver com o colonizador. Em 1820, a povoação mudou-se para a freguesia de Nossa Senhora de Belém de Guarapuava. Os indígenas, porém, permaneceram no aldeamento de Atalaia, o qual foi destruído em 1825 pelos Dorins. Após o ataque, o aldeamento começou a ser abandonado pelos indígenas, "até que em 1828 todos o abandonaram, ficando em Guarapuava apenas algumas famílias isoladas. A maior parte dos índios aldeados passaram para os campos de Palmas e/ou para a província do Rio Grande do Sul" (WACHOWICZ, 1983:57).

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Os Dorins, após o ataque ao aldeamento do Atalaia, continuaram a hostilizar a população de Guarapuava retirando-se depois para o oeste, para a região de Laranjeiras. Consolidou-se a ocupação de Guarapuava em 1871, quando foi elevada à categoria de cidade. Desempenhando papel de polo propulsor do povoamento do interior paranaense, decorrente de sua ocupação, teve início a penetração nos Campos de Palmas e, posteriormente, da região da foz do rio Iguaçu, com a fundação da Colônia Militar de Foz do Iguaçu.

Figura 3: Movimentações portuguesas no Estado do Paraná entre 1760 e 1780 (extraída de CARDOSO e WESTPHALEN, 1981: Mapa 21).

Densamente povoado por índios Dorins e Votorões, os campos de Palmas foram efetivamente conquistados a partir de 1839, pelas bandeiras organizadas por José Ferreira dos Santos e Pedro de Siqueira Cortes. A procura de novos campos "(...) quando os campos de Guarapuava já se achavam divididos em fazendas prósperas e chamavam a atenção de novos criadores de gado para as suas possibilidades, passou-se a olhar os campos de Palmas como ofertantes de possibilidades que algumas pessoas, mais animosas, entenderam de conquistar, a todo custo, aos índios." (MARTINS, 1937:292). As relações entre os indígenas e colonizadores, da mesma forma que em Guarapuava, eram de hostilidades por parte de alguns bandos e, de convivência pacífica por outros. Os últimos eram liderados pelos caciques Viri e Condá e, permaneceram nas cercanias da povoação até 1843. Neste ano, em conseqüência de desavenças, Condá abandonou o povoamento e dirigiu-se para o campo do Chopim, enquanto Viri permaneceu junto aos colonizadores.

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A presença de indígenas no novo povoado levou à criação efetiva, em 1869, da Colônia Indígena de Palmas. Documentos datados de 1855, no entanto, relatam a existência de um aldeamento irregular na área: "o aldeamento de Palmas era o único um tanto regular e que possuía diretor "parcial" (local) e que também não dispunha de misssionário, nem terras reservadas para a lavoura." (BOUTIN,1979:83). A falta de recursos humanos e financeiros resultou no abandono da colônia e, em 1884 "segundo alguns documentos da época, só havia em Palmas 3 toldos, isto é, três agrupamentos indígenas (...). Um desses toldos junto á vila de Palmas, outro no local denominado Formiga a três léguas e meia de Palmas. E o terceiro no Passo da Balsa." (BOUTIN, 1979:84). Outro aldeamento, visando acabar com os assaltos que a população indígena fazia a Guarapuava e Palmas foi estabelecido em 1856 às margens do rio Chagu, afluente do rio Iguaçu, no atual município de Laranjeiras do Sul. Com a ocupação dos campos de Guarapuava e Palmas, estendeu-se a penetração ao interior paranaense. A exploração da foz do rio Iguaçu e, a fundação de uma colônia militar era discutida por militares brasileiros desde 1880, entretanto somente em 1888, uma expedição foi organizada sob o comando do 2º tenente José Joaquim Firmino objetivando o reconhecimento da área. Partindo de Guarapuava "com uma pequena turma de trabalhadores, encetou os trabalhos aos 25 de novembro de 1888, no quilometro 16 da Estrada que se dirige para Colônia Militar do Chopim, estrada esta que até certo ponto era commum ás duas Colonias." (BRITO, 1977:56). A cerca de 7 léguas deste ponto, avistaram os primeiros sinais da passagem de indígenas. A Colônia Militar do Chopim foi instalada em 1882 à margem direita do rio Dória, afluente do rio Chopim. O povoado era cortado pelo rio Pedrosa e, ligava-se a Guarapuava e Palmas de onde distava 115 e 112 km, respectivamente. Destinavase à defesa da fronteira, em razão de litígio sobre o espaço situado entre os rios Iguaçu e Uruguai. Pretendia, também, arregimentar os índios que habitavam a região. Etnicamente, a Colônia Militar sofreu influência de nordestinos, caboclos e indígenas, principalmente Kaingáng. Chegando à foz do rio Iguaçu após sete meses de viagem, a expedição de José Joaquim Firmino deparou com uma população no local constituída por 9 brasileiros, 5 franceses, 2 espanhóis, 95 argentinos, 212 paraguaios e, 1 inglês, perfazendo um total de 324 pessoas. Retornando a Guarapuava, nova expedição foi organizada, sob o comando do 1º tenente Antonio Baptista da Costa Junior, com o objetivo da fundação de uma colônia militar. Partindo em setembro de 1889, a expedição atingiu a área em novembro do mesmo ano. Com a fundação da Colônia Militar de Foz do Iguaçu, a população da Colônia Militar do Chopim mudou-se para o novo povoamento, levados pelas melhores condições que oferecia, deixando a antiga vila no esquecimento e abandono. José Maria Brito, um dos integrantes do destacamento fundador da Colônia Militar menciona, em seu relato de viagem, a presença de índios Kaiuá na região. Em 1891, Brito foi encarregado da catequese destes indígenas, que passaram a ser reunidos em Catanduvas e Formigas. De acordo com a tradição oral, esses índios haviam deixado o Paraguai em fins do século XVII, atravessando o rio Paraná na altura das Sete Quedas. Depois de algum tempo passaram a sofrer ataques dos

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índios Kaingáng, o que os obrigava a viver em constante movimentação (PAI, 1980:9). Em 1889 concessões de vastas extensões de terras situadas ao noroeste, oeste e sudoeste do Estado do Paraná foram feitas pelo Governo Imperial à Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, subsidiária da Brazil Railways Company. Deveria esta empresa, em troca das terras recebidas, dar início à construção da estrada de ferro Guarapuava-Foz do Iguaçu, o que não ocorreu. No início deste século, nova viagem para reconhecimento da navegabilidade do rio Iguaçu foi realizada pelo Coronel Domingos Soares, saindo da barra do rio das Cobras até os Saltos de Santa Maria.

Figura 4: Grupos tribais localizados por viajantes na área de influência da UHE Salto Caxias (baseada no Mapa Etno-Histórico de NIMUENDAJÚ - IBGE, 1981).

A construção de uma estrada de rodagem ligando Clevelândia a Santo Antonio, na fronteira com a Argentina, em linha reta de leste a oeste, levou o Coronel Domingos Soares a tentar a ligação desta estrada à foz do rio Santo Antonio. Apesar de obtida a concessão do governo, a estrada foi concluída somente até a Serra da Separação e, depois abandonada. Desta investida, no entanto, resultaram viagens para reconhecimento da área e, para elaboração do traçado da estrada.

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Nos relatos resultantes destas viagens exploratórias e colonizadoras, são comuns informações sobre a presença de grupos indígenas na área e, sobre a sua cultura tradicional. Do espaço em questão, situado em região limítrofe entre o médio e baixo rio Iguaçu e, palco de movimentações espanholas e portuguesas desde o século XVI, são inúmeras as citações referentes a indígenas pertencentes à família lingüística Tupi-Guarani que habitavam preferencialmente o baixo rio Iguaçu e, aos grupos tribais relacionados à família lingüística Jê, que dominavam o médio e alto rio. Baseando-se nestas informações e, através de observações de campo, CURT NIMUENDAJÚ estabeleceu a presença, para a área em pauta, dos grupos tribais Gualachi (séc. XVII), Bituruna (1690), Chiqui (1640), Kaiguá e Guarani (1855), relacionados às famílias lingüísticas Jê e Tupi-Guarani, respectivamente. (Fig. 4). Jazidas Paleontológicas Os estudos realizados na bacia do rio Iguaçu resultaram, também, na localização de jazidas paleontológicas no seu curso médio, contendo ossos fossilizados da fauna pleistocênica, como megatério e mastodonte. Uma delas, registrada no início deste século no interior de uma caverna, foi encontrada em Porto Vitória (PAULA COUTO, 1953). Na década de 70, outra ocorrência foi assinalada. Estava em ambiente de turfeiras e cacimbas extintas, no município de Chopinzinho (PILATTI E BORTOLI, 1978). Os estudos paleontológicos são relevantes para a arqueologia, uma vez que podem comprovar a contemporaneidade do homem com a megafauna durante o Pleistoceno Superior. Resultado das Prospecções Área Diretamente Afetada Objetivando o levantamento de dados primários para a elaboração do Relatório de Impacto Ambiental, prospecções arqueológicas foram realizadas em duas etapas de campo e, abordaram espaços distintos da área a ser impactada pela construção da UHE Salto Caxias. Na primeira, foi vistoriado o espaço previamente designado pela empresa para a construção do acampamento para solteiros, aqueles destinados à implantação do canteiro de obras e da barragem da futura Usina Hidrelétrica, assim como a estrada de acesso da cidade de Leônidas Marques ao futuro canteiro de obras (Fig. 5). Na segunda etapa de campo, as prospecções focalizaram a área onde deverá ser, efetivamente, construído o acampamento para solteiros (Fig. 5) e, as margens do rio Iguaçu situadas à montante da futura barragem. Concentraram-se na margem direita do rio Iguaçu, entre o rio Jacutinga e o Porto Pichek. Optou-se pela intensificação dos trabalhos nesta margem face à constatação da existência de maiores espaços limpos e com áreas cultivadas, o que facilita a visualização da superfície e a conseqüente localização de sítios arqueológicos.Na margem oposta, que se caracteriza por grandes fazendas pecuárias com extensas pastagens alguns trechos, no entanto, que se mostravam mais limpos ou com pequenas plantações

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foram vistoriados. Abrangeram o espaço compreendido entre o Porto Pereira e o rio Grápia (Fig. 6). As prospecções desenvolvidas na área que virá a ser diretamente afetada pelo empreendimento, resultaram na localização de 8 sítios arqueológicos relacionados a tradições pré-ceramistas e ceramistas. As ocupações situam-se entre 30 e 600m das margens do rio Iguaçu. Apenas um sítio pré-cerâmico PR AM 2: Vertedouro, foi localizado beirando o rio numa extensão de aproximadamente 500m. Ocupam o flanco de elevações ou terreno plano, entre 10 e 165m acima do nível das águas do curso fluvial. Os pontos estão entre 270 e 420m sobre o nível médio do mar.

Figura 5: Localização de sítios e indícios arqueológicos em trechos da barragem e do reservatório da UHE Salto Caxias. No espaço hachurado, que corresponde ao acampamento, a letra L assinala a ocorrência de peças líticas e, a C, de peças cerâmicas.

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Abrangem áreas variáveis entre 1.551m² e 24.335m². O solo, mais freqüentemente, é marrom e granuloso. Poucos estão em terra vermelha argiloarenosa ou marrom-claro, arenosa. Um sítio é formado por 5 concentrações de material arqueológico, com áreas que variam entre 176,62m² e 2.826m². Em 2, foi registrada concentração isolada a leste da área de ocorrência. Correspondem, provavelmente, a habitação separada do corpo da aldeia e, talvez fossem utilizadas como casas rituais.

Figura 6: Localização de sítios e indícios arqueológicos em trecho do reservatório da UHE Salto Caxias. O círculo tracejado e assinalado por um X, corresponde a sítio cerâmico não prospeccionado.

Áreas com indícios de ocupação humana foram registradas em 21 pontos do espaço trabalhado. Não puderam ser caracterizados, no entanto, em conseqüência da perturbação ambiental. Deles restavam esparsas evidências, que foram coletadas. Estes espaços indicam a intensidade da ocupação da área e, o desenvolvimento de atividades de subsistência ligadas à caça, pesca, coleta e agricultura. Das grandes aldeias situadas nos platôs, deveriam partir grupos para o desempenho dessas funções e, cada um, geraria os resíduos que são encontrados esparsamente. Informações sobre a existência de outros sítios arqueológicos na área foram fornecidas pelos moradores locais. Um deles, localizado no Porto Pichek e, assinalado com um X na Fig. 6, segundo o proprietário do terreno permanece intacto, recoberto por pastagem e possibilita a realização de escavações. Os sítios e indícios localizados pela equipe técnica demonstram a ocupação pretérita da região por grupos tribais heterogêneos.

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Sítios Arqueológicos Registrados PR CA 1: ACAMPAMENTO UHE SALTO CAXIAS (NºC 2804, 2805, 2806 e 2850) Sítio cerâmico Tupiguarani localizado a 600m da margem direita do rio Iguaçu, 165m acima do nível de suas águas (420m s.n.m.). Ocupava o flanco de uma elevação, ao lado do Salto Caxias (Figs. 5 e 7).

Figura 7: Planta do sítio PR CA 1: Acampamento da UHE Salto Caxias. Os círculos e elipses tracejados e alfabetados correspondem às concentrações de material arqueológico.

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O local estava arado e ocupado por plantações variadas: milho, arroz, amendoim, etc. A leste havia uma extensa plantação de capim elefante e, a oeste, conservavam-se remanescentes de mata. Um pequeno açude foi construído a nordeste, para o acúmulo de água de um pequeno córrego. A terra era avermelhada, resultante da decomposição de basalto. Os indícios arqueológicos ocupavam uma área elíptica com 310 X 100m (24.335m²) e tendiam a formar concentrações circulares e elípticas. Foram delimitadas cinco concentrações: A= 54 X 43m(1.822,77m²), B= 26 X 16(326,56m²), C= 28 X 18m(395,64m²), D= 60 X 60m(2.826m²) e E= 15 X 15m(176,62m²). Nelas, o material arqueológico ocorre superficialmente e era esparso. As concentrações não eram realçadas por manchas de terra preta. No espaço do sítio, entre as concentrações, foram observados raros indícios. As prospecções realizadas no sítio proporcionaram 235 fragmentos de recipientes cerâmicos e, 3 indícios líticos. Grande parte da amostragem apresentava superfície simples, somente alisada. Estes fragmentos de recipientes foram diferenciados segundo a granulometria do antiplástico empregado para tempero da pasta, em duas variedades de vasilhas Simples com Antiplásticos Grossos e, uma variedade de peças Simples com Antiplásticos Finos, e representam 65,55% da amostragem. Os demais vasilhames, correspondentes a 34,45% do total da amostragem (Tabela 1), mostravam na face externa e/ou interna, decorações diversas. Todos foram confeccionados pela técnica acordelada. Para dar condições técnicas propícias a uma boa secagem e queima das peças foram utilizados, como desengordurante, além da areia fina natural, fragmentos de quartzo hialino e leitoso, cerâmica triturada e grânulos de hematita. Resumidamente, da análise deste material, obteve-se a seguinte tipologia (Tabela 1): PR CA 1 SUP. A 2804 SIMPLES GROSSO 1 SIMPLES GROSSO 2 SIMPLES FINO ENG. VERMELHO PINTADO COR. UNGULADO COR. LEVE COR. COMPLICADO UNGULADO UNG. TANGENTE ENTALHADO PONTEADO MODELAGEM

TOTAL

44 23 9 13 13 2 3 2 1 110

PR CA 1 SUP. B 2805

21 4 2 5 7 1 40

PR CA 1 SUP. C 2850

30 9 6 3 9 2 2 1 5 1 1 3 1 73

PR CA 1 SUP. D 2806

2 4 3 1 2 12

TOTAL

97 40 17 8 32 16 2 3 8 5 1 4 2 235

% 41,28 17,02 7,25 3,40 13,62 6,81 0,85 1,28 3,40 2,12 0,42 1,70 0,85 100%

Tabela 1. Freqüência do material cerâmico registrado no sítio PR CA 1: Acampamento UHE Salto Caxias.

97 Simples com Antiplástico Grosso: os recipientes mostram como tempero da pasta: areia fina, fragmentos de quartzo hialino e leitoso de granulação média e cerâmica triturada.

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40 Simples com Antiplástico Grosso: nas peças, como tempero da pasta foi utilizado areia fina e grânulos de hematita. 17 Simples com Antiplástico Fino: temperados com areia fina e grânulos de hematita até 1mm de diâmetro. 8 Engobo Vermelho: camada de tinta vermelha aplicada diretamente à face dos recipientes, antes da queima.

Figura 8: Material cerâmico (a-g) e lítico (h) do sítio PR CA 1: Acampamento UHE Salto Caxias: a-b, Corrugado-Ungulado; c-d, Ungulado; e, Ungulado-Tangente; f, Ponteado, g, Entalhado; h, Lâmina de Machado.

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32 Pintado: tipo de decoração executada antes ou depois da queima da cerâmica, com pigmentos minerais ou vegetais, diretamente sobre a superfície ou sobre engobo engobo branco ou banho previamente aplicado, formando padrões. Pode ocorrer na face externa das peças, na interna ou em ambas as faces. 16 Corrugado-Ungulado: depressões produzidas pelo pressionamento da polpa dos dedos na pasta ainda úmida das vasilhas, associadas a ungulações. Comumente são vistas na face externa das peças (Fig. 8, a-b). 2 Corrugado-Leve: obliteração parcial praticada na superfície corrugada das vasilhas. 3 Corrugado-Complicado: após a colocação dos roletes, este é ligado ao anterior por meio de depressões regulares e espaçadas, executadas com o dedo polegar, em sentido transversal ou perpendicular à boca da vasilha. 8 Ungulado: incisões produzidas pelo pressionamento da borda da unha na superfície ainda úmida das vasilhas. De modo geral são executadas na face externa das peças (Fig. 8, c-d). 5 Ungulado-Tangente: incisões causadas pela borda da unha e, ligadas entre si pelas extremidades (Fig. 8, e). 4 Ponteado: decoração feita com objetos de pontas largas, deixando marcas independentes. Podem ser de várias formas e tamanhos e, normalmente são executadas na face externa das peças (Fig. 8, f). 1 Entalhado: tipo de decoração que consiste na execução de pequenos cortes alongados no lábio do vasilhame ou em qualquer outra parte dele (Fig. 8, g). 2 Modelagens: representadas por um fragmento de recipiente elaborado à mão livre, a partir de massa uniforme. Esse apresenta ungulações esparsas na face interna e, corrugações irregulares na externa. A outra modelagem corresponde a um suporte de panela fragmentado. A superfície externa é simples e irregular. De formato hemisférico (plano-convexo), apresenta na base 16cm de diâmetro. As evidências líticas registradas correspondem a uma lasca residual de basalto obtida através da percussão direta, uma lasca utilizada e, um núcleo retocado apresentando as seguintes características: 1 Faca: lasca de sílex retirada de seixo-rolado pela técnica de percussão direta. Ferramenta destinada a cortar, mostra gume em bisel duplo, com pequenos lascamentos de uso. 1 Lâmina de Machado: a peça foi elaborada sobre núcleo de basalto. Tem formato petalóide, com talão reto e gume convexo. Mostra toda a superfície alisada (Fig. 8, h). PR AM 1: EIXO DA BARRAGEM (NºC 2820) Sítio cerâmico Itararé localizado a 30m da margem esquerda do rio Iguaçu, entre dois córregos (Figs. 5 e 9). Situava-se no flanco de suave elevação voltada para o curso fluvial maior, 10m acima do nível de suas águas (280m s.n.m.). O terreno era marrom, granuloso e com pedregulhos. Estava com plantação de milho. Nos arredores havia pasto, cultivo de milho e, às margens do rio e dos córregos, capoeira. Uma estrada que dava acesso às fazendas próximas passava a leste.

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As evidências arqueológicas ocorriam por uma área elíptica com 95 X 65m (4.847m²), dispondo o eixo maior em sentido paralelo ao curso do rio Iguaçu. São mais numerosas no lado oeste do sítio. O sítio será destruído pelas obras de engenharia civil, pois localiza-se exatamente no eixo da barragem projetada.

Figura 9: Planta do sítio cerâmico PR AM 1: Eixo da Barragem

Das coletas superficiais efetuadas no sítio resultaram 22 fragmentos de recipientes cerâmicos e 28 evidências líticas. As vasilhas, confeccionadas pela técnica acordelada apresentaram superfície simples (Fig. 10). A tipologia constatada foi: 6 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina e fragmentos de quartzo hialino e leitoso de granulação média. A espessura da parede dos recipientes varia entre 4 e 7mm. 5 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina, fragmentos de quartzo e grânulos de hematita. A espessura da parede das vasilhas varia entre 3 e 5mm. 11 Simples com Antiplástico Fino: temperados com areia fina e pequenos fragmentos de quartzo. A espessura das paredes varia entre 4 e 6 mm.

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O material lítico deste sítio foi confeccionado em basalto, meláfiro e sílex. Está representado por lascas residuais resultantes de lascamentos iniciais de núcleos e de retoques dos artefatos e, um núcleo esgotado. Entre os artefatos estão presentes talhador, raspador lateral, quebrador de coquinho, lâmina de machado e um raspador lateral fragmentado. As suas características são:

Figura 10: Vasilhas reconstruídas da cerâmica de tradição Itararé na área da UHE Salto Caxias.

1 Talhador: lasca de meláfiro, com lascamentos de uso no lado esquerdo. São marginais e ocorrem em ambas as faces do artefato. Os talhadores geralmente apresentam um extremo ou um lado adelgaçado, formado pela intersecção das faces e, o oposto, espesso. 2 Raspadores Laterais: 1 lasca de meláfiro com pequenos lascamentos marginais de uso no lado esquerdo. Limitam-se à face interna do artefato. Outra peça corresponde a um fragmento de raspador lateral elaborado sobre núcleo de sílex. Da peça resta um lado retocado por percussão direta em uma face. Sobre os retoques são vistos lascamentos de uso. Artefatos utilizados para raspar, ralar, aplainar, retirando partículas finas da matéria trabalhada como couro, madeira, etc. 1 Quebrador de Coquinho: núcleo de basalto utilizado como suporte para a quebra de sementes. Mostra uma depressão circular em uma face. É áspera e mede 35 X 35 X 5mm de diâmetro. Na face oposta e nos lados da peça ocorrem outras depressões pequenas, também circulares e ásperas com 15 X 3mm. Associativamente o artefato foi utilizado como Percutor, mostrando as extremidades esmagadas (Fig. 11, a). 1 Lâmina de Machado: a peça foi elaborada sobre núcleo de basalto. Conserva córtex em uma face. A oposta mostra lascamentos por percussão direta. São mais intensos na sua extremidade distal, onde ocorrem nas duas faces. Apesar de bastante oxidado, percebem-se esmagamentos nas arestas medianas do artefato (Fig. 11, b). PR AM 2: VERTEDOURO

(NºC 2821)

Sítio pré-cerâmico localizado abaixo da barragem da UHE Salto Caxias (Fig. 12). Sofrerá danos, no entanto, em conseqüência do vertedouro da usina.

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Situava-se na margem esquerda do rio Iguaçu, em terreno plano (270m s.n.m.).

Figura 11: Artefatos líticos da tradição Itararé na área da UHE Salto Caxias: a, Quebrador de Coquinho (uso associado: Percutor); b-d, Lâminas de Machados.

A superfície estava coberta por pastagem. Ao norte, conservava-se pequena reserva de mata rala. Nas proximidades do rio era visível a sedimentação causada por enchentes periódicas e, a erosão da encosta, que expôs os restos arqueológicos. As evidências arqueológicas ocorriam ao longo do rio por uma área com aproximadamente 500m de extensão. Eram numerosas. Coletas superficiais realizadas no sítio proporcionaram 32 evidências líticas.

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Correspondem a 14 lascas sem sinais de utilização, 3 lascas utilizadas, 8 lascas com retoques, 1 núcleo esgotado, 1 núcleo utilizado e 5 núcleos retocados. As lascas residuais são de meláfiro, sílex e arenito silicificado. Como técnica de acabamento das peças estão o lascamento escamado, produzido marginalmente com o auxílio de percutores de madeira dura ou osso e, o escamado progressivo, que é mais elaborado. Os artefatos foram confeccionados em meláfiro e sílex e estão representados por:

Figura 12. Planta do sítio pré-cerâmico PR AM 2: Vertedouro.

3 Raspadores Laterais: pequenos lascamentos resultantes de uso são vistos no lado direito de 1 peça e, no esquerdo de outra. Ocorrem marginalmente nas duas faces dos artefatos. A terceira peça apresenta lascamentos escamados, de retoque, em ambos os lados. Limitam-se à face interna. 1 Raspador de Extremidade: em uma extremidade e, em parte do lado esquerdo do artefato ocorrem diminutos lascamentos de uso. São marginais. 1 Raspador Perpendicular: a peça apresenta retoque, obtido através de lascamentos escamados progressivos, no lado esquerdo e em uma extremidade. Limitam-se à sua face interna. 3 Raspadores Plano-Convexos: as peças receberam acabamento através de pequenos lascamentos escamados. São vistos nos lados e em uma extremidade de 2 e, no lado esquerdo e, em ambas as extremidades da terceira. Ocorrem na face externa de 1 e, na interna de 2 artefatos. 1 Raspador Elíptico: o artefato recebeu, primeiramente, lascamentos de percussão direta em quase a totalidade da face externa. Como retoque, foram executados em toda a sua periferia, pequenos lascamentos escamados progressivos. Limitam-se, também, à face externa (Fig. 13, c). 1 Raspador de Ponta: núcleo de meláfiro com 1 face retocada por percussão direta, que lhe deu a forma. Em 1 extremidade, que é afilada e, em parte dos lados, lascamentos escamados foram executados. 1 Raspador Carenado: núcleo de meláfiro retocado através de lascamentos escamados progressivos em uma extremidade e parte dos lados. Os retoques foram executados em apenas uma face, que é convexa. A oposta é reta. 1 Ponta de Flecha: a peça está quebrada na ponta. Apresenta pedúnculo reto e, lascamentos resultantes de percussão direta nas faces. Nelas, foram executados, perifericamente, diminutos lascamentos escamados progressivos (Fig. 13, f).

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1 Artefato em Elaboração: Folha?: a peça estava sendo elaborada. Mostra lascamentos de percussão direta em ambas as faces e, retoques escamados em dois lados e em parte de uma face. 1 Percutor: núcleo circular de sílex com toda a periferia esmagada pelo uso.

Figura 13: Artefatos líticos da tradição Bituruna na área da UHE Salto Caxias: a, Raspador Lateral (uso associado: Goiva); b, Raspador Perpendicular; c, Raspador Elíptico: d, Raspador Unciforme; e, g, Raspadores de Ponta; f, Ponta de Flecha; h, Cavadeira.

2 Cavadeiras: 1 núcleo de meláfiro com talão reto e 1 extremidade afilada, retocado nas faces através de lascamentos de percussão direta. Nas arestas recebeu pequenos lascamentos escamados. Apresenta as laterais, até as porções medianas, esmagadas em conseqüência do uso (Fig. 13, g). A outra peça está fragmentada,

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restando apenas uma parte com lascamentos escamados na periferia. Limitam-se a uma face. 1 Talhador: núcleo de meláfiro com lascamentos resultantes de percussão direta nas faces. Nos lados, apresenta lascamentos escamados. Ocorrem marginalmente, nas duas faces da peça. As arestas próximas ao talão mostram-se esmagadas em conseqüência do uso. Intrusivamente foram localizadas, junto ao material lítico deste sítio, três lâminas de machado relacionadas à tradição Itararé. As peças foram confeccionadas em basalto. Apresentam retoques efetuados pela percussão direta. Estes ocorrem em uma extremidade e em parte dos lados de 2 e, na extremidade e em ambos os lados de outra (Fig. 11, c-d). PR CA 4: PORTO PEREIRA (NºC 2822) Sítio Tupiguarani localizado a 250m da margem direita do rio Iguaçu e, a 500m do Porto Pereira (Fig 14). Ocupava a encosta de uma elevação 37m acima do nível do rio (317m s.n.m.).

Figura 14: Planta do sítio cerâmico PR CA 4: Porto Pereira.

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O solo na área do sítio e nos arredores era marrom e granuloso, com pedregulhos no extremo sul e afloramento de basalto a sudeste. A superfície estava arada e com plantação de algodão. Segundo informações do proprietário, quando o local foi desmatado e arado eram encontrados grandes fragmentos cerâmicos e peças completas. Nos arredores havia plantação de milho e, beirando um pequeno córrego situado a oeste da área de ocorrência, capoeira. As evidências arqueológicas ocupavam uma área com 52 X 38m(1.551m²), dispondo o eixo maior em sentido oblíquo ao rio. A leste do sítio, pequena concentração foi localizada. Está a 7m de distância e mede 6 X 6m( 28,26m²). Os indícios são rarefeitos e podem corresponder à base de uma habitação isolada do corpo da aldeia. As prospecções realizadas neste sítio resultaram na coleta de 247 fragmentos de recipientes cerâmicos. Confeccionados pela técnica de acordelamento, para tempero da pasta foram utilizados, além da areia fina natural, fragmentos de quartzo hialino e leitoso de granulometria média e fina, cerâmica triturada e grânulos de hematita. A cerâmica simples, com a superfície apenas alisada, foi numerosa. Entre os recipientes decorados, mostraram-se mais freqüentes aqueles com a superfície corrugada-ungulada, seguindo-se os pintados e, ungulados-tangentes. A tipologia cerâmica registrada neste sítio foi: 72 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina, fragmentos de quartzo hialino e leitoso de granulação média e cerâmica triturada. A espessura da parede dos recipientes varia entre 4 e 17mm. 15 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina, fragmentos de quartzo e grânulos de hematita. A espessura da parede dos recipientes varia entre 5 e 12mm. 11 Simples com Antiplástico Fino: temperados com areia fina e fragmentos de quartzo com granulação fina. A espessura das paredes varia entre 5 e 7mm. 8 Engobo Vermelho: a camada de tinta vermelha foi aplicada na face interna de 6 peças e, em ambas as faces de 2. A espessura da parede das vasilhas varia entre 6 e 10mm. 25 Pintado: 23 peças receberam engobo branco na face externa. Em 2 o engobo foi aplicado na face interna. Somente uma conserva traços de pintura executados com tinta vermelha sobre o engobo branco. Na face interna de 5 recipientes foi aplicada, associativamente, camada de engobo vermelho. A espessura da parede dos recipientes varia entre 6 e 17 mm. 59 Corrugado-Ungulado: na face externa das peças foram executadas depressões associadas a ungulações. Em uma, ocorrem somente no pescoço e bojo. Associativamente, 4 vasilhas apresentam na face interna camada de tinta vermelha. A espessura da parede dos recipientes varia entre 6 e 12 mm. 16 Corrugado-Leve: as peças apresentam, na face externa, depressões leves e parcialmente obliteradas resultantes do pressionamento da polpa dos dedos. A espessura da parede das vasilhas varia entre 6 e 13mm. 8 Corrugado-Complicado: corrugações espaçadas, perpendiculares ou transversais à borda foram praticadas na face externa das peças. A espessura das paredes varia entre 9 e 13mm.

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3 Corrugado-Espatulado: os recipientes mostram, na face externa, corrugações estreitas e longas executadas com o auxílio de espátula. A espessura da parede das vasilhas é de 13 e 14mm. 3 Ungulado: limitam-se à face externa das vasilhas, formando fileiras paralelas à boca das peças. Sobre as ungulações de 1 peça foram praticados entalhes com objeto de ponta afilada, produzindo sulcos estreitos e longos. A espessura das paredes varia entre 3 e 5 mm. 23 Ungulado-Tangente: as incisões causadas pela borda da unha e ligadas entre si nas extremidades ocorrem na face externa das peças. A espessura das paredes varia entre 6 e 9mm. 1 Inciso: a peça foi decorada externamente com incisões executadas por objeto de ponta aguçada. Formam linhas finas paralelas entre si e losangos concêntricos. A espessura da parede da vasilha é de 9mm. 2 Ponteado: na face externa das peças foram praticadas, como decoração, pequenas marcas independentes. Em uma, são elípticas e, em outra, traços curtos e finos produzidos por objeto com ponta afilada. A espessura das paredes é de 8mm. 1 Marcado com Malha: impressões de malha efetuadas na superfície externa do recipiente, executadas antes de sua queima. A espessura da parede é de 6mm. PR CA 7: SANGA FABRICIANO (NºC 2825) Sítio cerâmico localizado a 100m da margem direita do rio Iguaçu (Fig. 15). É ladeado por córregos, distando 150m da margem esquerda de um deles. Estava 600m a oeste do sítio PR CA 6: Fazenda Recapadora. Situava-se no flanco de suave elevação, 36m acima do nível das águas do rio e, 7m das dos córregos (316m s.n.m.). O local estava arado. Às margens dos córregos havia capoeira e, margeando o rio Iguaçu, pequena faixa de mata rala. Uma estrada passava ao sul do sítio. As evidências arqueológicas são encontradas em meio à terra marrom, granulosa, por uma área com 130 X 120m (12.246m²). O eixo maior dispunha-se em sentido perpendicular ao rio Iguaçu. Apesar de perturbado e com a camada de ocupação desestruturada é possível, ainda, perceber manchas de terra escura na superfície do terreno indicando as bases das antigas habitações. Para o diagnóstico do material arqueológico do sítio foram coletados 227 fragmentos cerâmicos e 1 evidência lítica. Os recipientes cerâmicos foram confeccionados pela técnica acordelada. A maioria dos fragmentos obtidos corresponde a vasilhas com superfície apenas alisada (simples); os demais apresentam, na face externa e/ou interna, decorações variadas. A pasta utilizada para a confecção dos recipientes foi temperada com areia fina, fragmentos de quartzo hialino e leitoso de granulação média e fina, cerâmica triturada e grânulos de hematita. A análise do material cerâmico revelou a seguinte tipologia: 87 Simples com Antiplástico Grosso: as peças apresentam como tempero de pasta: areia fina, fragmentos de quartzo e cerâmica triturada. A espessura das paredes varia entre 6 e 14mm.

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23 Simples com Antiplástico Grosso: na pasta foi utilizado como tempero: areia fina, fragmentos de quartzo e grânulos de hematita. A espessura da parede dos recipientes varia entre 8 12mm. 11 Simples com Antiplástico Fino: como tempero da pasta foram utilizados areia fina e fragmentos de quartzo até 1mm de diâmetro. A espessura da parede das vasilhas varia entre 6 e 10mm.

Figura 15: Planta dos sítios cerâmicos PR CA 7: Sanga Fabriciano e PR CA 8: Água Brasil e, dos indícios pré-cerâmicos PR CA L-9.

13 Engobo Vermelho: 10 peças receberam camada de tinta vermelha na face interna; 2 na externa e, 1, em ambas as faces. A tinta foi aplicada diretamente na face dos recipientes. A espessura das paredes varia entre 6 e 13mm. 12 Pintado: as peças conservam restos de engobo branco. O engobo ocorre na face externa de 6 recipientes e, na interna de outras 6. Um apresenta, na face externa, engobo vermelho associado. A espessura das paredes varia entre 7 e 12mm. 25 Corrugado-Ungulado: as corrugações, associadas a ungulações, ocorrem na face externa das peças. Formam linhas paralelas entre si e à borda dos recipientes. A espessura das paredes varia entre 7 e 13mm. 7 Corrugao-Leve: as peças apresentam, na face externa, corrugações levemente obliteradas. A espessura das paredes varia entre 7 e 13mm. 3 Corrugado-Complicado: as corrugações limitam-se à face externa das peças. Formam fileiras paralelas à borda. A espessura das paredes varia de 10 a 13mm. 1 Corrugado-Espatulado: depressões estreitas, alongadas e profundas causadas pelo pressionamento de objeto em forma de espátula. A espessura da parede da vasilha é de 15mm.

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2 Corrugado-Entalhado: na face externa dos recipientes, sobre as corrugações, sulcos estreitos, curtos e profundos foram executados. A espessura das paredes é de 12 e 14mm. 16 Ungulado: na face externa dos recipientes, incisões produzida pelo pressionamento da borda da unha foram executadas. São paralelas entre si e à borda. Associativamente, em 1 peça foi aplicada camada de tinta vermelha. A espessura das paredes varia entre 5 e 11mm. 13 Ungulado-Tangente: as ungulações limitam-se à face externa das vasilhas, ligando-se entre si pelas extremidades. Na face interna de 1 peça foi aplicado engobo vermelho. A espessura das paredes varia entre 7 e 13 mm. 10 Ponteado: os recipientes mostram, na face externa, pequenas marcas produzidas por objeto de ponta elíptica. Formam linhas paralelas entre si. A espessura das paredes varia de 8 a 12mm. 1 Marcado com Cestaria: com a pasta ainda úmida, impressões de cestaria foram produzidas na face externa do recipiente. A espessura da parede é de 11mm. 3 Restos de Pasta: pedaços de argila com que eram confeccionados os recipientes cerâmicos.

Figura 16: Artefatos líticos da tradição Tupiguarani na área da UHE Salto Caxias: a ,Lâmina de Machado; b, Mãode-Pilão.

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O material lítico registrado neste sítio corresponde a: 1 Lâmina de Machado: elaborado sobre núcleo de basalto, mostra as faces e o gume alisados. Nas faces podem ser percebidos os sinais de picoteamento, como preparação para o alisamento posterior (Fig. 16, a). PR CA 8: ÁGUA BRASIL (NºC 2826) Sítio cerâmico Tupiguarani localizado a 100 m da margem direita do rio Iguaçu e, a 200m a oeste do sítio PR CA 7: Sanga Fabriciano (Fig. 15). Ocupava terreno plano, 25m acima do nível das águas do rio (305m s.n.m.). O solo, marrom e granuloso estava arado. Nos arredores havia pasto e, margeando o rio, mata rala. Uma estrada carroçável cortava o sítio no sentido longitudinal. As evidências arqueológicas ocorriam superficialmente por uma área com 125 X 75m (7.359m²). Eram rarefeitas. O eixo maior dispunha-se em sentido paralelo ao rio. As coletas superficiais efetuadas neste sítio proporcionaram 57 fragmentos de recipientes cerâmicos. A análise do material obtido evidenciou que a técnica utilizada para a confecção das peças foi acordelada, e permitiu o estabelecimento da seguinte tipologia: 13 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina e fragmentos de quartzo hialino e leitoso de granulação média. A espessura da parede dos recipientes varia entre 5 e 12mm. 13 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina, fragmentos de quartzo hialino e leitoso de granulação média e cerâmica triturada. A espessura da parede das vasilhas varia de 6 a 12mm. 3 Simples com Antiplástico Fino: temperados com areia fina fragmentos de quartzo hialino e leitoso e, cerâmica triturada até 1mm de diâmetro. A espessura das paredes é de 8 e 10mm. 2 Engobo Vermelho: as peças receberam camada de tinta vermelha na face interna. A espessura das paredes é de 9 e 11mm. 2 Pintado: as duas peças conservam, na face interna, restos de engobo branco. A espessura das paredes é de 7 e 10 mm. 14 Corrugado-Ungulado: as corrugações limitam-se à face externa dos recipientes, formando fileiras paralelas à borda. A espessura da parede dos recipientes varia entre 7 e 14mm. 1 Corrugado-Leve: as corrugações ocorrem na face externa das peças. São leves e parcialmente obliteradas. A espessura da parede é de 9mm. 1 Corrugado-Complicado: depressões regulares e espaçadas, executadas com o dedo polegar, ocorrem na face externa da peça. A espessura da parede é de 12mm. 1 Corrugado-Espatulado: na face externa da vasilha, ocorrem corrugações estreitas e longas, produzidas com o auxílio de espátulas. A espessura da parede é de 9mm. 6 Ungulado: na face externa das peças foram executadas marcas com a extremidade das unhas. São paralelas entre si e formam linhas horizontais à boca dos recipientes. A espessura das paredes varia de 7 a 10mm.

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1 Terra Queimada: fragmento de terra consolidada pela ação do fogo. PR CA 2: CÓRREGO TIGRINHO – 1

(NºC 2827)

Sítio cerâmico Tupiguarani localizado a aproximadamente 80m da margem direita do rio Iguaçu (Fig. 17). Está 750m a oeste do sítio PR CA 8: Água Brasil. Ocupava o flanco de suave elevação, 30m acima do nível do rio (310 m s.n.m). A terra era marrom, granulosa. O terreno, desmatado e arado estava com plantação de milho. Nas proximidades havia pasto e cultivo de milho e, às margens do rio, capoeira.

Figura 17: Planta do sítio cerâmico PR CA 2: Córrego Tigrinho - 1 e do sítio pré-cerâmico PR CA 3: Córrego Tigrinho - 2.

O sítio sofreu perturbações decorrentes dos trabalhos agrícolas, com a utilização de curvas de níveis para contenção de erosão. No seu canto SO restos de habitação recente foram registrados, inferindo alterações causadas também por moradores. Estão representados por fragmentos de telhas de cimento amianto, cerâmica industrializada, louças e vidros. Apesar das perturbações era possível perceber, ainda, coloração diferenciada da terra, que se mostrava escura nos locais onde o material arqueológico era mais numeroso. As evidências arqueológicas ocorriam por uma área com 125 X 100m (9.812m²), orientando o eixo maior em sentido paralelo ao curso fluvial. Cento e quinze fragmentos cerâmicos foram coletados neste sítio. Confeccionados através da superposição de cordéis (acordelamento), apresentam como tempero de pasta, além da areia fina, fragmentos de quartzo e cerâmica

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triturada. É grande o número de recipientes com as superfícies apenas alisadas. Estes foram classificados de acordo com a granulometria do antiplástico em duas variedades de Simples com Antiplástico Grosso e, uma variedade de Simples com Antiplástico Fino. Entre os decorados, são mais freqüentes as peças com pintura e, escovadas. Resumidamente, a tipologia da cerâmica encontrada é a seguinte: 33 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina e fragmentos de quartzo hialino e leitoso de granulação média. A espessura das paredes varia de 6 a 18mm. 21 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina, fragmentos de quartzo e cerâmica triturada. A espessura da parede das vasilhas varia entre 5 e 15mm. 3 Simples com Antiplástico Fino: temperados com areia fina e fragmentos de quartzo hialino e leitoso até 1mm de diâmetro. A espessura das paredes varia de 6 a 8mm. 3 Engobo Vermelho: camada de tinta vermelha foi aplicada na face interna de 2 peças e, em ambas as faces de 1. A espessura das paredes varia entre 7 e 8mm. 16 Pintado: os recipientes conservam apenas o engobo branco. A pintura foi totalmente erodida. O engobo foi aplicado na face externa de 12 peças e, na interna de 4. Associativamente, 3 peças apresentam camada de tinta vermelha na face interna, outras 3 mostram-no na face externa e em 1, ocorrem em ambas as faces. A espessura das paredes varia entre 8 e 15mm. 6 Corrugao-Ungulado: as corrugações associadas a ungulações limitam-se à face externa das peças. A espessura das paredes varia entre 7 e 13mm. 3 Corrugado-Leve: a face externa dos recipientes mostra corrugações leves e parcialmente obliteradas. A espessura das paredes varia entre 5 e 16mm. 17 Escovado: estrias produzidas por sabugo-de-milho antes da queima das vasilhas são vistas na face externa das peças. Associativamente, engobo vermelho foi aplicado na face interna de 4 recipientes; outros 4 apresentam ungulações na face externa, sobre o escovado e, 1 mostra digitungulações na face externa, junto ao ombro. A espessura da parede das vasilhas varia entre 6 e 13mm. 6 Ungulado: incisões resultantes do pressionamento da borda da unha. Ocorrem na face externa das vasilhas, formando fileiras paralelas à borda. A espessura das paredes varia entre 6 e 10mm. 7 Ungulado-Tangente: as peças mostram, na face externa, ungulações ligadas entre si pelas extremidades. A espessura das paredes varia de 5 a 8mm. Intrusivamente, foram registrados junto ao material deste sítio, evidências relacionadas às tradições Itararé e Neobrasileira. Pertencente à primeira tradição estão três fragmentos cerâmicos com superfície apenas alisada e, uma lasca de basalto resultante de percussão direta. Entre a cerâmica, dois fragmentos apresentam, como antiplástico, areia fina e fragmentos de quartzo e 1, apenas areia fina. As espessuras das paredes são de 5, 2 e 3mm, respectivamente. Vinculado à tradição Neobrasileira está um fragmento cerâmico torneado. A pasta apresenta, como antiplástico, somente areia de granulação média. A face

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externa é bem alisada e, a interna, áspera e com sinais do torno. A peça foi queimada em forno e, a sua espessura é de 13mm. PR CA 3: CÓRREGO TIGRINHO –2 (NºC 2828) Sítio pré-cerâmico localizado a 80m da margem direita do rio Iguaçu (Fig. 17). Ocupava a encosta de suave elevação voltada para o curso fluvial, 30m acima do nível de suas águas (310m s.n.m.). Situava-se a leste do sítio PR CA 2: Córrego Tigrinho -1. O material arqueológico dos dois sítios chegava a se misturar no extremo SO da ocorrência, revolvidos que foram por trator durante a preparação do terreno para cultivo. As perturbações resultantes das atividades agrícolas praticadas foram maiores em conseqüência da utilização de curvas de níveis, que desestruturaram a camada de ocupação e expuseram o material arqueológico. As evidências foram encontradas em uma área elíptica com 125 X 40 (3.925m²), sendo mais numerosas nas proximidades das curvas de níveis. O eixo maior do sítio dispunha-se em sentido perpendicular ao rio. As coletas superficiais efetuadas neste sítio resultaram na obtenção de 54 evidências líticas. Estão representadas por lascas residuais de meláfiro, arenito silicificado, silte silicificado e sílex, núcleos esgotados de meláfiro e silte silicificado, lascas e núcleos com sinais de utilização, lascas e núcleos retocados. Como técnica de acabamento das peças figuram o lascamento escamado e o escamado progressivo. Sucintamente, as evidências líticas apresentam as seguintes características: 7 Raspadores Laterais: 6 foram elaborados sobre lascas de meláfiro, silte silicificado e sílex. Três mostram apenas sinais de utilização. Neste caso, os pequenos lascamentos ocorrem marginalmente em ambos os lados de 2 peças e, no lado esquerdo de outra. Limitam-se à face externa. Em três artefatos elaborados sobre lascas foram efetuados retoques. Uma peça mostra lascamentos escamados na face interna e, a outra, escamados progressivos na face externa. Em ambas, o retoque foi praticado no lado esquerdo. Uma delas apresenta, associativamente, sinais de utilização como Goiva (Fig. 13, a). Os lascamentos ocorrem no lado direito e são vistos nas duas faces. A terceira peça está fragmentada. Dela resta somente porção de um dos lados com lascamentos escamados progressivos na face externa. Um artefato foi elaborado sobre núcleo de meláfiro. A peça mostra lascamentos de percussão direta em uma face e, sinais resultantes do uso em um lado. Limitam-se a uma face. 1 Raspador de Extremidade: lasca de meláfiro com sinais de uso em uma extremidade. Os pequenos lascamentos são marginais e limitam-se à face externa. 2 Raspadores com Escotadura: os artefatos, elaborados em meláfiro e silte silicificado, apresentam reentrância em forma de arco em uma extremidade. O desgaste provocado pelo uso ocorre na face externa de 1 peça e, em ambas as faces de outra. 1 Raspador Carenado: lasca de meláfiro com o lado esquerdo e uma extremidade convexos e, com lascamentos de retoque efetuados através de escamados progressivos. O retoque limita-se à face externa da peça.

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1 Raspador Circular: artefato elaborado sobre lasca circular de meláfiro. Retoques executados por lascamentos escamados progressivos foram praticados em toda a periferia da peça. 4 Raspadores de Ponta: 2 artefatos foram elaborados sobre lascas de meláfiro e 2 sobre núcleos, sendo um de meláfiro e outro de arenito silicificado. Em 3, os retoques foram obtidos através de lascamentos escamados progressivos e, em 1 foram executados através de pequenos lascamentos escamados marginais. Os retoques são vistos nos lados e em uma extremidade de três peças (Fig. 13, e) e, em parte dos lados e uma extremidade de 1. Ocorrem na face externa dos artefatos elaborados sobre lascas e, na face interna daqueles confeccionados sobre núcleos. 1 Raspador Convexo: elaborado sobre lasca de silte silicificado, o artefato apresenta uma extremidade e parte do lado esquerdo retocados através de lascamentos escamados progressivos. O retoque limita-se à face externa da peça. 1 Raspador Unciforme: lasca de meláfiro retocada em parte dos lados e em uma extremidade. Os retoques, obtidos através de lascamentos escamados progressivos, limitam-se à face externa do artefato (Fig. 13, d). 1 Raspador Elíptico: lasca de meláfiro fragmentada. Da peça resta a metade. Nela são vistos, sobre toda a periferia da face externa, lascamentos escamados progressivos. 1 Goiva: lasca de meláfiro com sinais de uso nas duas faces do lado esquerdo. A peça é levemente arqueada e mostra os lascamentos da face interna desgastados. 1 Cavadeira: núcleo de meláfiro com lascamentos de percussão direta nas duas faces. A peça recebeu acabamento, através de pequenos lascamentos escamados, em parte dos lados e em uma extremidade. Ocorrem nas duas faces e, aqueles situados nas suas porções medianas mostram-se esmagados em conseqüência do uso. Intrusivamente ocorreu junto ao material arqueológico registrado neste sítio, um artefato relacionado à tradição Itararé. A peça corresponde a um Talhador elaborado sobre lasca de basalto. Mostra retoques em uma extremidade, executados através de lascamentos escamados grandes. Ocorrem nas duas faces da peça. Outros Indícios Arqueológicos Constatados PR AM C-1 (NºC 2829)

(ex-indício 1)

Indício de ocupação ceramista Itararé localizado a 30m da margem esquerda do rio Iguaçu (Fig. 5) e, a 5m de altura em relação ao nível de suas águas (275m s.n.m.). No local havia plantação de milho e, nos arredores, pasto. A terra era marrom, granulosa e com pedregulhos. Os indícios arqueológicos ocorriam esparsa e superficialmente. Foram localizados na área que será diretamente afetada pela construção da barragem da UHE Salto Caxias. O material arqueológico registrado compreende 1 fragmento cerâmico Simples com Antiplástico Grosso. Para tempero da pasta foi utilizada areia fina e fragmentos de quartzo hialino e leitoso de granulação média. As evidências líticas

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correspondem a 8 lascas residuais de basalto, meláfiro e sílex; 1 núcleo esgotado de meláfiro e 2 lascas retocadas. Estas, foram classificadas como: 1 Raspador Lateral: lasca de basalto com sinais de oxidação. A peça recebeu acabamento através de pequenos lascamentos escamados. Foram executados nos dois lados do artefato e limitam-se à face externa. 1 Raspador de Extremidade: a peça foi elaborada sobre lasca de meláfiro. Os retoques, obtidos através de lascamentos escamados, foram executados nas duas extremidades do artefato. Ocorrem nas duas faces de uma extremidade e, somente na face externa de outra. PR AM L-1 (NºC 2830)

(ex-indício 2)

Indício de ocupação pré-ceramista Bituruna localizado a 10m da margem esquerda do rio Iguaçu, 1m acima do nível de suas águas (270m s.n.m.). Situava-se a aproximadamente 330m ao norte do sítio PR AM 1: Eixo da Barragem (Fig. 5). No local havia pasto e, algumas árvores de pequeno porte. Valas de erosão atravessavam-no, mostrando solo marrom, granuloso. As evidências arqueológicas ocorriam esparsa e superficialmente. A análise do material arqueológico coletado resultou na seguinte classificação: 2 lascas de meláfiro resultantes de percussão direta; 1 fragmento de meláfiro com arestas arredondadas possivelmente pela ação da água e, com pequenos lascamentos de uso também desgastados; 1 lasca retocada e 1 núcleo utilizado. Os últimos correspondem a: 1 Raspador Perpendicular: o artefato foi elaborado sobre lasca de meláfiro. Apresenta retoques executados através de lascamentos escamados progressivos no lado direito e em uma extremidade. Os retoques são contínuos e limitam-se à face externa da peça. 1 Raspador Lateral: núcleo de meláfiro com lascamentos de percussão direta em uma face. Em um lado do artefato ocorrem pequenos lascamentos marginais de uso. Limitam-se a uma face. PR CA L-1 (Nº C 2831) (ex-indício 3) Indício de ocupação pré-ceramista Bituruna localizado a 1.200m da margem direita do rio Iguaçu (Fig. 5). Estava 70m acima do nível de suas águas (340m s.n.m.). Situava-se nas margens do Lajeado Sanga dos Porcos. O terreno, marrom e granuloso, sofria processo erosivo. Estava com pastagem e árvores esparsas. Nos arredores conservava-se pequena faixa de mata secundária. O material arqueológico foi encontrado junto ao corte de uma estrada de acesso ao sítio PR CA 1: Acampamento UHE Salto Caxias e, ao futuro canteiro de obras da usina. Ocorria também, nas valas de erosão. Resumidamente, o material coletado apresentou a seguinte tipologia: 4 lascas residuais de meláfiro obtidas pela percussão direta; 4 núcleos esgotados de meláfiro, sílex e basalto; 1 lasca utilizada, 2 lascas retocadas e 1 núcleo utilizado, sendo definidos os seguintes artefatos:

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1 Faca: lasca de meláfiro com sinais de utilização no lado esquerdo. Os pequenos lascamentos são marginais e ocorrem nas duas faces da peça. Associativamente, no seu lado direito, que é arqueado, o artefato foi utilizado como Goiva. Este lado, da mesma forma, apresenta sinais de uso em ambas as faces. 2 Raspadores de Extremidade: 1 peça foi elaborada sobre lasca de meláfiro. Esta recebeu retoques por lascamentos escamados progressivos em uma extremidade e, em pequena parte do lado esquerdo. São contínuos e limitam-se à face interna. A outra peça foi confeccionada sobre núcleo de meláfiro. Apresenta lascamentos resultantes de percussão direta nas faces, extremidades e em um lado e, pequenos lascamentos em conseqüência do uso em uma das extremidades. São marginais e ocorrem em apenas uma face do artefato. 1 Raspador de Ponta: lasca de meláfiro retocada através de lascamentos escamados progressivos nas duas extremidades e no lado esquerdo. São contínuos e limitam-se à face externa. PR CA L-2 (NºC 2832) (ex-indício 4) Indício de ocupação pré-ceramista Bituruna localizado a 110m da margem direita do córrego da Mata e, a aproximadamente 500m da margem direita do rio Iguaçu (Fig. 6). Situava-se no flanco de uma elevação, 21m acima do nível das águas do córrego e, 36m das do curso fluvial maior (316m s.n.m.). O solo, marrom e granuloso, estava com plantação de milho. Para contenção de erosão, curvas de níveis foram utilizadas na área e, o material arqueológico foi localizado nas suas proximidades. Da sua análise resultou uma lasca de meláfiro obtida pela percussão direta e, um núcleo retocado correspondente a: 1 Lâmina de Machado ou Cavadeira: núcleo de meláfiro com lascamentos de percussão direta. Mostra uma extremidade espessa, como talão, tornando-se afilada em direção à extremidade oposta, formando um gume. Nesta extremidade e nos lados, a peça recebeu acabamento através de lascamentos escamados progressivos. PR CA C-1 (NºC 2845)

(ex-indício 5)

Indício de ocupação ceramista Tupiguarani localizado a 370m da margem direita do rio Iguaçu e, a 36m acima do nível de suas águas (316m s.n.m.) (Fig.6). Situava-se 70m a nordeste do indício PR CA L-2 e apresentava as mesmas características nele descritas. Sete fragmentos de recipientes cerâmicos foram coletados na área. De sua análise resultou: 1 Simples com Antiplástico Grosso: temperado com areia fina e fragmentos de quartzo de granulação média. A espessura da parede é de 7mm. 2 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina, fragmentos de quartzo e cerâmica triturada. A espessura das paredes é de 7mm. 2 Pintado: camada de engobo branco ocorre na face interna das duas peças. A espessura da parede é de 8 e 12 mm.

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1 Corrugado-Ungulado: o recipiente mostra, na face externa, corrugações associadas a ungulações. A espessura da parede é de 5mm. 1 Escovado: estrias produzidas por sabugo de milho são vistas na face externa da peça. A espessura da parede é de 8mm. PR CA L-3 (NºC 2833) (ex-indício 6) Indício de ocupação pré-ceramista Bituruna localizado a 150m da margem direita do rio Iguaçu e, a 135m da direita do córrego da Mata (Fig. 6). Ocupava o flanco de suave elevação, 18 m acima do nível das águas do rio maior (298m s.n.m.). No local havia capoeira e o solo era marrom-avermelhado, argiloso. O material arqueológico ocorria esparsamente, e está representado por: 1 Lasca: lasca residual de meláfiro resultante de percussão direta; 1 Núcleo Esgotado: bloco de meláfiro com lascamentos de percussão direta, sem indícios de uso como artefato. PR CA C-2 (NºC 2846)

(ex-indício 7)

Indício de ocupação ceramista Tupiguarani localizado a 370m da margem direita do rio Iguaçu e, a aproximadamente 150m da esquerda de um córrego (Figs. 6 e 19). Situava-se no flanco de uma elevação, 18m acima do nível das águas do curso fluvial maior (298m s.n.m). O local estava arado e com plantação de milho e algodão. Nos arredores havia cultivo de café e arroz. Às margens do córrego, capoeira. O terreno era formado por latossolo vermelho resultante da decomposição de basalto. O material cerâmico ocorria esparsamente por uma área elíptica com 22 X 15m(259,05m²). Estava 200m ao norte do sítio PR CA 5: Linha Flor d'Oeste. As coletas superficiais efetuadas proporcionaram 39 fragmentos cerâmicos confeccionados pela técnica acordelada. De sua análise resultou a seguinte tipologia: 4 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina, cerâmica triturada e fragmentos de quartzo. A espessura das paredes varia de 9 a 12mm. 2 Pintado: na face externa das peças, foi aplicada camada de engobo branco, preparando-as para pintura. A espessura das paredes é de 8 e 9 mm. 33 Corrugado-Ungulado: corrugações associadas a ungulações foram executadas na face externa das peças. Os fragmentos podem corresponder a três peças. A espessura das paredes varia entre 9 e 13mm. PR CA C-3 (NºC 2847) (ex-indício 8) Indício de provável ocupação ceramista Itararé localizado a 30m da margem direita do rio Iguaçu (Fig. 6). Estava 1m acima do nível de suas águas (281m s.n.m.). O local estava arado e com plantação de milho. A terra era argilo-arenosa, marrom-claro. O material coletado corresponde a:

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1 Artefato em Elaboração: possivelmente uma lâmina de machado. O núcleo de basalto estava quebrado em três partes. Mostra lascamentos de percussão direta em ambas as faces. Outros, menores, são vistos nas duas faces de uma extremidade. A peça está oxidada. PR CA L-4 (NºC 2834) (ex-indício 9) Indício de ocupação pré-ceramista Bituruna localizado a 280m da margem direita do rio Iguaçu (Fig. 6), 15m acima do nível de suas águas (295m s.n.m.). Ocupava o flanco de uma elevação voltada para o curso fluvial. O solo era marrom, com pedregulhos. O material arqueológico obtido está representado por: 1 Lasca: lasca residual de meláfiro obtida pela percussão direta; 1 Raspador Perpendicular: lasca de meláfiro, com acabamentos de retoque efetuados por lascamentos escamados progressivos no lado esquerdo e em uma extremidade. Os pequenos lascamentos limitam-se à face interna (Fig. 13, b). PR CA L-5 (NºC 2835) (ex-indício 10) Indício de ocupação pré-ceramista Bituruna localizado a 500m da margem direita do rio Iguaçu (Fig. 6). Estava 15m acima do nível de suas águas (295m s.n.m.). Situava-se 135m a leste da margem direita de uma estrada carroçável de acesso ao Porto Pichek. O local fora arado e estava com plantação de milho. O solo era marrom, granuloso. As evidências arqueológicas eram esparsas. De sua análise resultaram 5 lascas residuais obtidas pela percussão direta, 1 lasca utilizada e 1 lasca retocada, correspondentes a: 1 Raspador de Extremidade: o artefato foi elaborado sobre lasca de sílex. Apresenta pequenos lascamentos de uso em uma extremidade. São marginais e limitam-se à face externa. 1 Raspador Lateral: a peça está fragmentada nas extremidades. Mostra a face interna plana e, a externa com crista e lascamentos longos. Na aresta foram executados retoques através de lascamentos escamados progressivos. PR CA L-6 (NºC 2836)

(ex-indício 11)

Indícios de ocupação pré-ceramista Bituruna, e ceramista Tupiguarani, localizados a 50m da margem direita do rio Iguaçu e a 70m da esquerda de um córrego (Fig. 6). Situavam-se no flanco de uma elevação, 5m acima do nível de suas águas (285m s.n.m.). O terreno fora arado e estava com plantação de milho na encosta e algodão nas proximidades do rio. Era cortado por uma estrada que dava acesso à residência

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do proprietário. O solo era marrom-avermelhado, com grande quantidade de pedras aflorando à superfície. O material arqueológico ocorria esparsamente. Foram coletados 2 fragmentos de recipientes cerâmicos relacionados à tradição Tupiguarani e, 4 evidências líticas pertencentes ao grupo pré-ceramista Bituruna. Estas estão representadas por 2 lascas residuais de meláfiro, 1 núcleo esgotado de basalto e, 1 núcleo retocado. A tipologia cerâmica e lítica constatada foi: 2 Corrugado-Ungulado: a decoração limita-se à face externa das peças. Associativamente, em uma vasilha foi executada pintura na face interna. A espessura das paredes é de 5 mm. 1 Cavadeira: núcleo de meláfiro fragmentado em uma extremidade. A peça mostra, nas arestas, pequenos lascamentos escamados. O retoque foi executado em ambas as faces do artefato. PR CA C- 4 (NºC 2848)

(ex-indício 12)

Indício de ocupação ceramista Tupiguarani localizado a 470m da margem direita do rio Iguaçu (Fig. 6) e, a 46m acima do nível de seu nível (326m s.n.m.). Ocupava o flanco de uma elevação voltada para o curso fluvial. No local havia plantação de milho e algodão. O solo era marrom e granuloso. As evidências arqueológicas eram esparsas. Situavam-se cerca de 440m a leste dos indícios registrados como PR CA C-3. Nas coletas superficiais foram obtidos 21 fragmentos de recipientes cerâmicos. Confeccionados pela técnica acordelada apresentam, como tempero de pasta: areia fina, fragmentos de quartzo e cerâmica triturada. De sua análise resultou: 4 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina e fragmentos de quartzo de granulação média. A espessura das paredes varia de 10 a 12mm. 5 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina, fragmentos de quartzo e cerâmica triturada. A espessura das paredes varia entre 10 e 12mm. 1 Engobo Vermelho: a peça recebeu camada de tinta vermelha na face interna. A espessura da parede é de 9mm. 5 Ungulado: incisões produzidas pela unha ocorrem na face externa dos recipientes. A espessura das paredes varia de 9 a 11mm. 5 Digitungulado: impressões simultâneas da ponta dos dedos e da unha foram executadas na face externa dos recipientes. A espessura das paredes varia de 11 a 13mm. PR CA L-7 (NºC 2837) (ex-indício 13) Indícios de ocupação pré-ceramista Bituruna e, ceramista Itararé localizados a 370m da margem direita do rio Iguaçu (Fig 6). Estavam no flanco de uma elevação, 42m acima do nível das águas do curso fluvial (322m s.n.m.). A área estava arada e com plantação de algodão. Curvas de níveis para contenção de erosão eram vistas no local. Sobre elas havia milho. O solo era marrom-avermelhado, granuloso.

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O material arqueológico era superficial e esparso, sendo coletadas 6 evidências líticas. Tipologicamente, foram classificadas como: 3 lascas de meláfiro e silte silicificado obtidas por percussão direta; 1 lâmina utilizada, 1 núcleo utilizado e 1 núcleo retocado, representados pelos seguintes artefatos: 1 Raspador Lateral: lâmina de meláfiro com pequenos lascamentos de uso em ambos os lados. Os sinais de uso são marginais e limitam-se à face interna da peça. Associativamente, o artefato foi utilizado também como Raspador com Escotadura, apresentando uma reentrância em forma de arco no lado esquerdo. Os lascamentos de uso limitam-se à face externa. 1 Percutor: peça elaborada sobre núcleo de meláfiro. Mostra lascamentos de percussão direta em uma face. Na aresta de um lado do artefato são vistos esmagamentos resultantes do uso. 1 Artefato em Elaboração: núcleo de basalto com lascamentos de percussão direta em um lado e uma extremidade. A peça não chegou a ser completada e, possivelmente está relacionada à tradição Itararé. PR CA L-8 (NºC 2838) (ex-indício 14) Indício de ocupação pré-ceramista Bituruna localizado a 150m da margem direita do rio Iguaçu e, a 65m da direita de um córrego (Fig. 6). Situava-se no flanco de uma elevação, 16m acima do nível das águas do rio (296m s.n.m.). A terra, marrom e granulosa estava arada e com plantação de milho. O material arqueológico era esparso e estava representado por 13 lascas residuais de meláfiro e arenito silicificado; 4 núcleos esgotados de meláfiro, 2 núcleos utilizados e 1 núcleo retocado correspondentes a: 2 Percutores: núcleos de meláfiro fragmentados. De uma peça resta uma extremidade com esmagamentos em conseqüência do uso e, de outra, um lado com sinais de utilização. 1 Raspador Lateral: núcleo de meláfiro fragmentado. O artefato apresenta lascamentos de percussão direta e, em um lado, retoques efetuados por pequenos lascamentos escamados. Limitam-se a uma face. PR AM L-2 (NºC 2840) (ex-indício 15) Indício de ocupação pré-ceramista Bituruna localizado a 170m da margem esquerda do rio Iguaçu e a 175m da esquerda de um córrego (Fig. 6). Ocupava terreno plano, 20m acima do nível das águas do rio maior (300m s.n.m.). O terreno fora desmatado e arado. Estava com plantação de arroz e mandioca. Nos arredores havia plantação de milho e pasto e, beirando o córrego, capoeira. A terra era arenosa, de coloração marrom-claro. As evidências líticas coletadas, em número de 5, correspondem a 2 lascas residuais de meláfiro, 1 núcleo esgotado de meláfiro, 1 lasca utilizada e 1 lasca retocada. As últimas estão representadas por:

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2 Raspadores Laterais: lascas de meláfiro obtidas pela percussão direta. Uma mostra apenas lascamentos de uso no lado direito. São marginais e limitam-se à face interna. O outro artefato recebeu retoques no lado esquerdo. Foram efetuados através de lascamentos escamados e são vistos somente na face externa. Associativamente a peça foi utilizada como Talhador. Apresenta, no lado direito, sinais de uso em ambas as faces. PR AM L-3 (NºC 2841) (ex-indício 16) Indício de ocupação pré-ceramista Bituruna localizado a 100m da margem esquerda do rio Iguaçu (Fig. 6) e, a 2m acima do nível de suas águas (282m s.n.m.). Ocupava terreno plano marrom-avermelhado, argilo-arenoso e com pedregulhos. O local fora arado e estava com plantação de milho. O material coletado corresponde a uma lasca de meláfiro obtida pela percussão direta e, 1 lasca utilizada: 1 Talhador: lasca de meláfiro com sinais de uso no lado direito. São marginais e ocorrem nas duas faces da peça. PR CA L-9 (NºC 2839) (ex-indício 17) Indício de ocupação pré-ceramista Bituruna localizado a 250m da margem direita do rio Iguaçu e, a aproximadamente 100m da direita de um córrego (Figs. 6 e 15). Estava 25m acima do nível das águas do curso fluvial maior (305m s.n.m.). Situava-se na encosta de uma elevação, a aproximadamente 50m ao nordeste do sítio PR CA 8: Água Brasil. O local estava arado. Margeando o rio conservava-se estreita faixa de mata rala. O solo era marrom-avermelhado, granuloso. Os indícios arqueológicos coletados estão representados por 2 lascas residuais de meláfiro, 1 núcleo esgotado de meláfiro e 1 fragmento de artefato. 1 Fragmento de Artefato: a peça apresenta uma extremidade convexa. A face interna é quase plana. Mostra alguns lascamentos escamados. A face oposta é carenada. Nela são vistos lascamentos pequenos obtidos por percussão direta. PR CA C-5 (NºC 2849) (ex-indício 18) Indício de ocupação ceramista Tupiguarani localizado a 120m da margem direita do rio Iguaçu (Fig. 6). Situava-se no flanco de uma elevação voltada para o curso fluvial, 35m acima do nível de suas águas (315m s.n.m). Estava cerca de 125m a oeste do sítio PR CA 9: Córrego Tigrinho - 1. O terreno fora arado e estava com plantação de milho. Nos arredores havia pasto. A terra era marrom-avermelhado, granulosa. As coletas superficiais efetuadas resultaram em 9 fragmentos de recipientes cerâmicos confeccionados pela técnica acordelada. A tipologia observada foi:

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4 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina e fragmentos de quartzo de granulação média. A espessura da parede dos recipientes varia entre 7 e 15mm. 2 Pintado: na face interna de 1 peça e, na externa de outra foi aplicado engobo branco. A espessura das paredes é de 8 e 11mm. 1 Corrugado-Ungulado: na face externa da vasilha foram executadas corrugações associadas a ungulações. A espessura da parede é de 10mm. 1 Escovado: o recipiente mostra, na face externa, estrias produzidas por sabugode-milho. A espessura da parede é de 11mm. 1 Ungulado-Tangente: ungulações ligadas entre si pelas extremidades são vistas na face externa da peça. A espessura da parede é de 5mm. PR CA L-10 (NºC 2842) (ex-indício 19) Indício de ocupação pré-ceramista Bituruna localizado a 1.550m da margem direita do rio Iguaçu (Fig. 6). Espalhava-se no flanco de uma elevação, 160m acima do nível das águas do curso fluvial (430m s.n.m.). A terra era marrom e granulosa. Estava arada e com plantação de milho e algodão. Nas proximidades, avistavam-se as cabeceiras de dois córregos cercadas por capoeira. O material arqueológico era encontrado esparsamente junto à estrada de acesso da Vila Ajuricaba à PR 484. Está representado por 4 lascas residuais de meláfiro; 3 núcleos esgotados de meláfiro e silte silicificado; 1 lasca utilizada e 2 núcleos retocados. Os artefatos foram classificados como: 1 Raspador Lateral: lasca de meláfiro obtida pela percussão direta. Pequenos lascamentos de uso ocorrem no lado direito da peça. São marginais e limitam-se à face externa. 1 Lâmina de Machado ou Cavadeira: núcleo de meláfiro fragmentado em uma extremidade. Da peça resta o talão e parte do corpo. Apresenta lascamentos de percussão direta e, nos lados, pequenos lascamentos escamados de acabamento. Estes, são vistos em ambas as faces do artefato. 1 Artefato em Elaboração: núcleo de silte silicificado com lascamentos de percussão direta nas faces. Mostra lascamentos pequenos e escamados, em uma extremidade e em um lado. Estes ocorrem com maior intensidade em uma face. As arestas próximas ao talão estão esmagadas. A peça poderia corresponder a uma Lâmina de Machado ou a uma Cavadeira, que não chegou a ser concluída. PR CA L-11 (NºC 2843) (ex-indício 20) Indícios de ocupações ceramistas Tupiguarani e Itararé e, pré-ceramista Bituruna localizados a 1200m da margem direita do rio Iguaçu (Fig. 5) e, a 155m acima do nível de suas águas (425m s.n.m.). Situavam-se na encosta de uma elevação voltada para o curso fluvial. A terra, marrom e granulosa estava com plantação de milho associada a algodão. Para proteção do terreno contra a erosão foram construídas curvas de níveis. Nos arredores havia capoeira, pasto e milho.

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No local foram registrados 10 fragmentos de recipientes cerâmicos e, 2 evidências líticas. De sua classificação obteve-se: 1 Simples com Antiplástico Grosso: temperado com areia fina e fragmentos de quartzo. A espessura da parede é de 6mm. 2 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina, fragmentos de quartzo e cerâmica triturada. A espessura das paredes é de 10 e 12mm. 1 Pintado: a peça mostra engobo branco na face externa. A espessura da parede é de 7mm.

Figura 18: Vasilhas reconstruídas da cerâmica de tradição Tupiguarani na área da UHE Salto Caxias.

1 Corrugado-Ungulado: na face externa do recipiente ocorrem corrugações associadas a ungulações. A espessura da parede é de 11mm.

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1 Corrugado-Leve: corrugações parcialmente obliteradas são vistas na face externa do recipiente. A espessura da parede é de 11mm. 1 Corrugado-Complicado: as corrugações foram executadas na face externa da peça. A espessura da parede é de 7mm. 1 Ungulado: as incisões produzidas pela borda da unha ocorrem na face externa do recipiente. A espessura da parede é de 7mm. 1 Ungulado-Tangente: as ungulações, ligadas entre si pelas extremidades, foram executadas na face externa da vasilha. A espessura da parede é de 7mm. As coleções obtidas nos vários sítios e, nos pontos em que também havia indícios de ocupação Tupiguarani, proporcionaram fragmentos de bordas, bojos e bases de recipientes cerâmicos. Classificados, esses elementos permitiram a reconstrução das formas de vasilhas desta tradição na área do estudo (Fig. 18). O material lítico está representado por: 1 Abrasador Plano: núcleo de arenito friável com desgastes provocados pela abrasão nas duas faces. 1 Mão-de-Pilão: núcleo cilíndrico de basalto com uma extremidade rombuda e, a oposta mais delgada. A peça está picoteada em toda a superfície. Mostra-se oxidada (Fig. 16, b). Intrusivamente, foram registradas 2 evidências líticas. Um artefato estava sendo elaborado e, possivelmente relaciona-se à tradição Itararé. A peça, de basalto, apresenta as faces lascadas por percussão direta e, nos lados, lascamentos menores obtidos pela mesma técnica. Está oxidada. O outro artefato, da tradição Bituruna, está fragmentado na extremidade proximal. Provavelmente foi utilizado como Cavadeira. É de meláfiro, tem formato anguloso e mostra lascamentos de percussão direta na periferia das duas faces. Na extremidade são vistos lascamentos menores, escamados. PR CA L-12 (NºC 2844) (ex-indício 21) Indício de ocupação ceramista Itararé localizado a 1400m da margem direita do rio Iguaçu (Fig. 5). Estava no flanco de uma elevação, 130m acima do nível das águas do rio (400m s.n.m.). Na área havia plantação de milho e algodão. Nos arredores via-se pasto e, pequena reserva de mata secundária. O material arqueológico ocorria em meio a terra marrom, granulosa. Era esparso e está representado por 1 fragmento cerâmico e, 5 evidências líticas. A análise efetuada revelou a seguinte classificação: 1 Simples com Antiplástico Grosso: temperado com areia fina e, raros fragmentos de quartzo. A espessura da parede é de 4mm. Entre o material lítico foram registradas 3 lascas residuais de meláfiro e sílex; 1 lasca utilizada e, 1 núcleo retocado.

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1 Raspador Lateral: lasca de silte silicificado com pequenos lascamentos de uso no lado esquerdo. São marginais e limitam-se à face externa. 1 Lâmina de Machado: o artefato foi confeccionado sobre núcleo de basalto. Conserva porções de córtex no talão e apresenta lascamentos de retoque efetuados por percussão direta. Foram executados em ambas as faces da peça. Está oxidada. Área de Influência Indireta Na área indiretamente afetada pela construção da UHE Salto Caxias, 2 sítios arqueológicos de tradição ceramista foram localizados. Os depósitos ocupam áreas com 5.934m² e 28.260m². Situam-se no flanco de elevações, 270 e 175m da margem direita do rio Iguaçu e, a 326 e 340m acima do nível médio do mar. Estão em terreno marrom, granuloso e, o material arqueológico é numeroso. O sítio cadastrado como PR CA 6: Fazenda Recapadora, inclusive, é formado por manchas de terra preta, indicativas de bases de habitações. Conserva porções intactas que permitem a realização de escavações. Sítios Arqueológicos Registrados PR CA 5: LINHA FLOR D'OESTE (NºC 2823) Sítio cerâmico Tupiguarani localizado a 270m da margem direita do rio Iguaçu (Fig. 19) e, a 50m da direita de um córrego. Estava 46m acima do nível das águas do rio (326m s.n.m.).

Figura 19: Planta do sítio cerâmico PR CA 5: Linha Flor d'Oeste e, dos indícios cerâmicos PR CA C-2.

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Ocupava o flanco de uma elevação voltada para o curso fluvial maior. O local era arado há 29 anos. O solo marrom, granuloso, estava com plantação de milho associado a algodão. Nos arredores havia pastagem e, cultivo de algodão. O material arqueológico espalhava-se por uma área com 90 X 84m (5.934m²), orientando o eixo maior em sentido paralelo ao rio. Outra concentração foi registrada 35m a leste do sítio. Era pequena, medindo 10 X 10m (78,50m²) e, como no sítio PR CA 4, pode corresponder à base de habitação isolada. Durante a prospecção foram recolhidos, superficialmente, 147 fragmentos de recipientes cerâmicos. As vasilhas foram confeccionadas através da superposição de cordéis de pasta (acordelamento) e, a maioria mostra a superfície externa decorada com corrugações associadas a ungulações, seguindo-se depois aquelas com as faces somente alisadas (simples). Para tempero da pasta, mais comumente foram utilizados areia fina, fragmentos de quartzo e cerâmica triturada; em alguns ocorre apenas areia fina e fragmentos de quartzo hialino e leitoso. A coleção do sítio apresenta a seguinte tipologia: 34 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina e quartzo de granulometria média. A espessura da parede dos recipientes varia entre 6 e 21mm. 20 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina, fragmentos de quartzo hialino e leitoso de granulometria média e cerâmica triturada. A espessura da parede das vasilhas varia entre 6 e 13mm. 6 Simples com Antiplástico Fino: temperados com areia fina e bolas de argila com até l,5mm de diâmetro. A espessura da parede das peças varia entre 7 e 10mm. 4 Engobo Vermelho: a camada de tinta vermelha foi aplicada na face interna de 1 peça, na externa de outra e, em ambas as faces de 2. A espessura das paredes varia entre 8 e 9 mm. 15 Pintado: restos de engobo branco ocorrem na face externa de 9 recipientes e, na interna de 6, indicando preparação para pintura. Associativamente, na face interna de 4 peças e na externa de 1 foi aplicada fina camada de engobo vermelho. A espessura das paredes varia entre 7 e 11mm. 46 Corrugado-Ungulado: a decoração limita-se à face externa das vasilhas. Consiste em depressões obtidas pelo pressionamento da polpa dos dedos na pasta ainda úmida, associadas a ungulações. Duas peças apresentam, na face interna, camada de tinta vermelha. A espessura das paredes dos recipientes varia entre 6 e 13mm. 2 Corrugado-Leve: as vasilhas mostram na face externa, depressões leves e parcialmente obliteradas. A espessura das paredes é de 11 e 12mm. 2 Corrugado-Complicado: as corrugações limitam-se à face externa das peças. Formam linhas paralelas entre si e à boca dos recipientes. A espessura das paredes é de 8 e 11mm. 2 Corrugado-Entalhado: na face externa das peças, sulcos estreitos longos e profundos resultantes do pressionamento de objeto com extremidade aguçada foram executados sobre as corrugações. A espessura das paredes é de 8 e 11mm. 6 Ungulado: marcas resultantes do pressionamento da borda da unha na pasta ainda úmida são vistas na face externa dos recipientes. Na face interna de 1, foi aplicada, associativamente, fina camada de tinta vermelha. A espessura das paredes varia entre 7 e 11mm.

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7 Ungulado-Tangente: ungulações ligadas entre si pelas extremidades foram executadas na face externa das vasilhas. Em 3, ocorre engobo vermelho na face interna. A espessura da parede dos recipientes varia entre 5 e 11mm. 1 Entalhado: entalhes executados com a borda da unha ocorrem no lábio da peça. A espessura da parede é de 9mm. 2 Ponteado: marcas independentes feitas com objeto de ponta rombuda são vistas na face externa de 1 peça e, por objeto com ponta afilada, em outra. Nesta ocorrem, também, ungulações abaixo do ponteado. A espessura das paredes é de 6 e 8mm. Intrusivamente ocorreu, junto ao material cerâmico, uma Lâmina de meláfiro relacionada a ocupação pré-ceramista Bituruna. PR CA 6: FAZENDA RECAPADORA (NºC 2824) Sítio cerâmico Tupiguarani localizado a 175m da margem direita do rio Iguaçu e, a 275m da esquerda do córrego Fabriciano (Fig. 20). Ocupava o flanco de uma elevação, 60m acima do nível das águas do rio (340m s.n.m.).

Figura 20: Planta do sítio cerâmico PR CA 6: Fazenda Recapadora.

O terreno, marrom e granuloso estava com pastagem. Somente a parte central do sítio apresentava perturbações decorrentes da construção de duas residências, abertura de estrada de acesso e, das atividades diárias de seus moradores. Neste espaço, pequena área fora preparada para a plantação de uma

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horta e, evidências arqueológicas afloraram. Nele, foi efetuada coleta superficial para amostragem. De acordo com informações dos moradores da fazenda, o trecho com pastagem foi apenas desmatado, não sofrendo ação do arado. Na época do desmatamento era possível observar manchas de terra escura na superfície, o que foi constatado pela equipe técnica, por ocasião das prospecções. No local alterado pelas residências, horta e estrada, fragmentos cerâmicos eram vistos em meio à terra escura tendendo para o preto. As evidências arqueológicas foram observadas em uma área com 200 X 180m (28.260m²), dispondo o eixo maior em sentido paralelo ao rio. O sítio possibilita a execução de escavações nos espaços não alterados. Para o diagnóstico do material arqueológico do sítio, foram coletados 189 fragmentos de recipientes cerâmicos confeccionados pela técnica de acordelamento. Para o tempero da pasta foram utilizados, mais freqüentemente, fragmentos de quartzo hialino e leitoso e cerâmica triturada. Alguns apresentavam somente fragmentos de quartzo. A maioria das peças mostrava superfície decorada, sendo mais numerosas aquelas com corrugações associadas a ungulações. A tipologia desse material é a seguinte: 26 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina e fragmentos de quartzo hialino e leitoso de granulação média. A espessura da parede das vasilhas varia de 7 a 18mm; 29 Simples com Antiplástico Grosso: temperados com areia fina, fragmentos de quartzo hialino e leitoso e cerâmica triturada. A espessura da parede das vasilhas varia de 6 a 19mm. 21 Pintado: todos os recipientes receberam engobo branco na face externa, como base para execução de pintura. A espessura das paredes varia de 6 a 13mm. 105 Corrugado-Ungulado: depressões resultantes do pressionamento da polpa dos dedos na superfície ainda úmida das vasilhas, associadas a ungulações. Foram executadas na face externa das peças formando fileiras paralelas entre si e horizontais à boca dos recipientes. Em algumas peças são vistas ungulações como técnica decorativa associada. Estas, podem ocorrer circundando o pescoço ou em espaços delimitados, formando zonas. A espessura das paredes varia de 6 a 13mm. 5 Corrugado-Leve: na face externa das peças, os cordéis de pasta foram parcialmente achatados e levemente pressionados com os dedos formando depressões suaves. Formam fileiras paralelas entre si e à boca dos recipientes. A espessura das paredes varia entre 6 e 9mm. 2 Corrugado-Entalhado: depressões estreitas, longas e profundas obtidas pelo pressionamento de objeto com extremidade aguçada. Foram executadas sobre corrugações. A espessura das paredes é de 9 e 11mm. 1 Ponteado: na face externa da peça são vistos pequenos pontos elípticos e independentes entre si. A espessura da parede da vasilha é de 11mm.

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Discussão dos Resultados Área Diretamente Afetada As fontes arqueológicas primárias, representadas pelos 8 sítios e 21 indícios localizados na área diretamente afetada pelo pretendido empreendimento hidrelétrico, corroboram as informações fornecidas pelas fontes secundárias. Os vários sítios e indícios encontrados nas margens do rio Iguaçu correspondem a ocupações humanas sucessivas e heterogêneas. As mais antigas, situadas em uma faixa temporal entre 6000 e 2000 a.C., referem-se à tradição pré-ceramista Bituruna. A ela correspondem os sítios PR AM 2: Vertedouro e PR CA 3: Córrego Tigrinho - 2. É provável que o primeiro sítio constitua, na realidade, uma série de sítios-acampamento. A extensa e estreita faixa marginal ocupada pelos vestígios arqueológicos situa-se ao lado das corredeiras do Salto Caxias. Para esse local devem ter afluído grupos de índios para o desenvolvimento de atividades de pesca e caça; os resíduos dessas atividades foram se superpondo e se espalhando sucessivamente, formando o sítio contínuo hoje registrado. As prospecções realizadas, pelo seu caráter rápido, não permitiram a constatação destes detalhes de implantação. O sítio PR CA 3 foi localizado, igualmente, ao lado de uma extensa corredeira do rio Iguaçu. A área de ocupação e o grande número de artefatos bem elaborados permitem a sua classificação como sítio-habitação. Em treze locais dos dois espaços prospeccionados foram encontrados indícios que apontam para a mesma tradição. Talvez a presença de poucas peças arqueológicas nesses pontos esteja refletindo a degradação ambiental em função das atividades modernas, que culminaram com a destruição dos sítios. Alguns indícios foram encontrados junto às curvas de níveis agrícolas, deslocados pelos tratores em profundidades variando de 70 a 100cm. Podem representar, também, o que é mais provável para a maioria dos casos, atividades de subsistência desenvolvidas pelos pré-ceramistas fora das suas aldeias. Essas peças devem ter sido confeccionadas no próprio local, conforme as necessidades imediatas. Geralmente são lascas ou núcleos de rocha que apresentam apenas sinais de utilização; raras vezes as peças encontradas isoladamente revelam trabalhos de retoque. Os dois sítios e os treze indícios demonstram, por outro lado, a grande intensidade da ocupação pré-ceramista das áreas prospeccionadas, permitindo a avaliação do potencial das restantes em, pelo menos, cinco vezes mais. Os demais sítios e indícios registrados nas duas áreas da UHE Salto Caxias selecionados para a avaliação do potencial arqueológico correspondem a grupos ceramistas. Um desses grupos, relacionado à tradição Itararé, está representado pelo sítio PR AM 1: Eixo da Barragem. É um sítio-habitação e os seus vestígios, encontrados superficialmente, inferem sobre índios que desenvolviam atividades de coleta e caça e que se dedicavam à horticultura. Em três pontos das áreas prospeccionadas foram localizados, ainda, indícios isolados desta tradição, que apontam para atividades de subsistência mantidas pelos seus representantes fora das aldeias. A cronologia existente para a tradição Itararé no vale do rio Iguaçu, situa-a entre 475 e 1460 d.C.

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Os sítios da tradição Itararé são constituídos por pouca cerâmica e peças líticas, estas geralmente elaboradas sobre lascas e núcleos de basalto. A cerâmica, de consistência muito frágil é tão prejudicada pela ocupação moderna e pelo intemperismo, que deixa de existir em pouco tempo, depois de exposta nos terrenos em que a agricultura é praticada sucessivamente. São, por isso, sítios de difícil localização. As amostras recolhidas nos sítios desta tradição permitiram a reconstituição da forma de dois recipientes cerâmicos, representados na Fig. 10. A baixa incidência de sítios da tradição Itararé poderia estar indicando, também, que este espaço corresponde ao limite de sua dispersão para oeste; esta tradição é mais representativa no médio e alto rio Iguaçu. Pelos dados disponíveis, entretanto, estima-se em 35 o número de sítios da tradição Itararé que podem ser encontrados na área de influência direta da UHE Salto Caxias. A outra tradição ceramista detectada foi a Tupiguarani. A ela correspondem os sítios PR CA 1: Acampamento UHE Salto Caxias, PR CA 4: Porto Pereira, PR CA 7: Sanga Fabriciano, PR CA 8: Água Brasil e, PR CA 2: Córrego Tigrinho - 1. Todos são sítios-habitação, a maioria localizada ao lado ou nas proximidades de corredeiras do rio Iguaçu. As suas evidências foram encontradas superficialmente; em alguns casos foi possível a percepção de manchas de terra escura ou concentrações de material que indicavam as bases das habitações e, em um caso, pequena habitação isolada do corpo da aldeia. A análise das peças recolhidas superficialmente, além da caracterização cultural e da definição das atividades de caça, coleta e horticultura por eles desenvolvidas, permitiu a observação de diferenças tecnológicas existentes nos vários acervos. Foi possível, também, a reconstituição das formas dos recipientes através de fragmentos de bordas, bojos e bases, representados na Fig. 17. Os sítios constituem dois grupos ou fases que refletem a cronologia diferenciada da sua dispersão pela área: um dos grupos está ligado à subtradição Corrugada Tupiguarani, cuja cronologia para o baixo rio Iguaçu oscila entre 1190 e 1695 d.C. O segundo grupo representa a subtradição Escovada Tupiguarani, que foi datada entre 1300 e 1805 d.C. naquela mesma área. A origem da tradição Tupiguarani na área da UHE Salto Caxias certamente está relacionada às migrações que se processaram a partir do rio Paraná e do baixo rio Iguaçu, provavelmente oriundas das fases Ibirajé e Sarandi. Além dos sítios registrados, foram localizados indícios isolados da mesma tradição em cinco pontos dos espaços trabalhados. Neles estão manifestas, igualmente, as diferenças tecnológicas citadas acima e que indicam fases distintas. A tradição Tupiguarani revelou-se, portanto, como a segunda mais representada na área do empreendimento hidrelétrico. Informações prestadas por moradores locais apontam para outros sítios da mesma tradição, que não chegaram a ser prospeccionados; um deles foi assinalado na margem direita do rio Iguaçu, ao lado do extinto Porto Pichek. Calcula-se que o número de sítios desta tradição existentes na área de impacto direto seja em torno de 60. As estimativas feitas sobre a densidade populacional adquirem mais consistência quando se consideram, além dos dados apontados, as reocupações constatadas junto às ocorrências. Nas áreas de dois sítios da tradição Bituruna havia indícios de reocupação pela tradição Itararé; junto ao material de dois sítios da

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tradição Tupiguarani também foram encontradas peças da tradição Itararé. Material Tupiguarani ocorreu intrusivamente no da tradição Bituruna, assim como o desta no espaço ocupado pelo da tradição Tupiguarani. Indícios da tradição Neobrasileira foram encontrados, ainda, no espaço de um sítio da tradição Tupiguarani. Área de Influência Indireta Na área indiretamente afetada pela construção da UHE Salto Caxias, dois sítios arqueológicos foram localizados: PR CA 5: Linha Flor d'Oeste e PR CA 6: Fazenda Recapadora. Relacionados a grupos ceramistas e, vinculados à subtradição Corrugada Tupiguarani, pelas características que apresentam, podem ser classificados como sítios-habitação As evidências arqueológicas eram numerosas e espalhavam-se por áreas com 5.934 e 28.260m², respectivamente. No primeiro sítio, a leste da área de ocorrência, pequena concentração de material arqueológico indicava a base de provável habitação afastada da aldeia, possivelmente relacionada a casa ritual. No sítio PR CA 6, manchas de terra preta indicativas de bases de habitações eram vistas na superfície do terreno. Conservando parte da área intacta, recoberta por pastagem, o sítio permite a realização de escavações amplas e, a sua reconstituição espacial. No decorrer do trabalho de salvamento, a equipe responsável pelo seu desenvolvimento poderá estudá-lo mais detalhadamente e, talvez o sítio possibilite a estruturação de estudos mais abrangentes. Indício de reocupação foi registrado junto ao sítio PR CA 5: Linha Flor d'Oeste. Está representado por material lítico relacionado a tradição pré-ceramista Bituruna e, evidencia a possibilidade de encontrar-se em maior profundidade. O registro destas ocupações infere que, não somente os espaços próximos ao rio, mas também aqueles situados nas partes mais elevadas da área foram ocupados por grupos indígenas e devem ser estudados.

4. CONCLUSÕES Área Diretamente Afetada A construção da UHE Salto Caxias no baixo rio Iguaçu, pretendida pela Companhia Paranaense de Energia, implicará na destruição do patrimônio arqueológico pré-histórico e histórico nele existente. Informações etno-históricas assinalando a presença de grupos indígenas na área em pauta relacionados às famílias lingüísticas Jê e Tupi-guarani e, os resultados obtidos nas prospecções arqueológicas efetuadas para o levantamento de dados primários, confirmam a ocupação deste trecho do território paranaense por grupos tribais. Na área que será diretamente impactada pelo empreendimento 8 sítios arqueológicos e, 21 locais com resíduos de atividades humanas foram assinalados. Datações radiométricas de sítios arqueológicos localizados ao longo do rio Iguaçu e, relacionados às mesmas fases e tradições dos registrados pela equipe técnica para

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a elaboração do presente trabalho, remetem a ocupação do espaço em questão a uma faixa temporal compreendida entre 6000 a.C. e 1805 d.C. Os grupos pré-ceramistas mais antigos estão relacionados à fase Bituruna, pertencentes à tradição homônima, e representam grupos nômades de caçadorescoletores com tecnologia adaptada a ambiente com vegetação mais rarefeita que a atual, em clima frio e seco. Entre os grupos vinculados às tradições ceramistas, formados por grupos de caçadores-coletores com agricultura incipiente estão as tradições Itararé, mais antiga, e Tupiguarani, esta representada pelas subtradições Corrugada e Escovada. Indícios de ocupação cabocla, onde são visíveis a aculturação e a miscigenação do indígena com o europeu, também foram assinalados na área. Os sítios arqueológicos foram registrados entre 30 e 600m das margens do rio Iguaçu. Situavam-se no flanco de elevações ou em terreno plano, ocupando áreas variáveis entre 1.551 e 24.335 m². Espaços indicativos de bases de habitações foram constatados em dois sítios. Em 1, correspondiam a cinco áreas de concentrações que poderiam representar as casas que formavam o corpo da aldeia e, em outro, estava representado por uma concentração isolada da aldeia, podendo assinalar a presença de casa ritual. Os indícios de ocupação humana, que não puderam ser caracterizados, principalmente em decorrência das perturbações causadas pelas práticas agrícolas que desestruturaram a camada arqueológica e expuseram o material fora de seu contexto indicam a intensidade de ocupação da área e, o desenvolvimento de atividades de subsistência ligadas à caça, pesca, coleta e agricultura. Lacunas existem ainda a respeito desses grupos, relacionadas ao período anterior à ocupação do espaço pelo europeu e, somente serão preenchidas através da realização de trabalhos de pesquisas arqueológicas. Mesmo para o período posterior à penetração européia, as referências sobre a ocupação da região poderão ser enriquecidas com a execução de trabalhos sistemáticos. Paralelamente aos trabalhos de salvamento arqueológico, jazidas paleontológicas que porventura forem constatadas na área, deverão ser estudadas em conjunto com os paleontólogos. Para os estudos arqueológicos, este trabalho é de fundamental importância, uma vez que poderá comprovar a contemporaneidade da megafauna com o homem. Considerando-se que durante as viagens efetuadas para o reconhecimento do espaço pretendido pela empresa para a implantação da UHE Salto Caxias, sítios arqueológicos foram localizados e, vários locais com indícios de atividades foram registrados, demonstrando a sua ocupação em tempos pretéritos, assim como, de acordo com a Resolução Nº 001/86, do Conselho Nacional do Meio Ambiente que prevê a obrigatoriedade da execução de medidas mitigadoras no espaço a ser impactado e, ainda, fundamentando-se na lei Nº 3.924/61 que protege o patrimônio arqueológico, torna-se evidente a necessidade da realização de trabalhos de salvamento arqueológico anterior e paralelamente àqueles pretendidos pela empresa.

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Área de Influência Indireta Da mesma forma que na área diretamente afetada pela construção da Usina Hidrelétrica, aquelas situadas nos espaços de influência também foram ocupadas por grupos indígenas. As prospecções efetuadas pela equipe técnica resultaram na localização de dois sítios arqueológicos relacionados a grupos ceramistas pertencentes à subtradição Corrugada Tupiguarani. Os sítios, de grandes dimensões, estavam quase no topo de elevações e se caracterizavam como sítio-habitação. Deles partiam pequenos grupos para a execução de atividades de subsistência, que poderiam corresponder aos diversos pontos com indícios registrados nas cercanias. Um deles, de menor dimensão, apresentava afastado da área da aldeia, pequena concentração de material arqueológico e poderia indicar uma habitação isolada. O outro era constituído por manchas de terra preta e conserva grande parte preservada, recoberta por pastagem, permitindo a execução de escavações amplas. A localização destes sítios demonstra que, não somente as áreas situadas nas proximidades do rio foram habitadas por grupos indígenas, mas também aquelas mais afastadas onde, provavelmente, se estabeleciam as grandes aldeias. Estas áreas, da mesma forma que aquelas diretamente impactadas, necessitarão de atendimento em ritmo de salvamento pois, o patrimônio arqueológico nela encerrado sofrerá danos irreparáveis com a efetivação dos trabalhos paralelos que, normalmente, são desenvolvidos pelas empresas responsáveis pela construção de usinas hidrelétricas e que atendem, muitas vezes, reivindicações dos municípios atingidos como forma compensatória pelas perdas sofridas.

5. RECOMENDAÇÕES Área Diretamente Afetada Considerando-se que nos trabalhos realizados pela equipe técnica para levantamento de dados primários, 10 sítios arqueológicos e numerosos indícios de atividades humanas pretéritas foram registrados, atestando que a área foi densamente povoada por grupos tribais heterogêneos e, a implantação da UHE Salto Caxias acarretará danos irreversíveis a este patrimônio, recomenda-se para a Área Diretamente Afetada pelo empreendimento: 1 - que o trecho seja atendido em caráter prioritário através da execução de um programa de salvamento arqueológico; 2 - este trabalho seja desenvolvido paralela e concomitantemente às obras de engenharia civil; 3 - o acompanhamento, por arqueólogo, do espaço destinado à instalação do acampamento de solteiros quando forem iniciadas as obras. Indícios arqueológicos foram assinalados na área que, apesar de descaracterizada pelas atividades agrícolas pode encerrar, ainda sítios pré-cerâmicos em profundidades maiores. 4 - considerando-se que, para a implantação do acampamento de solteiros e do canteiro de obras estradas deverão ser abertas, ou melhoradas as já existentes, recomenda-se a vistoria prévia, por arqueólogos, nos traçados que vierem a ser definidos. Indícios arqueológicos foram registrados nas proximidades do Lajeado

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Sanga dos Porcos, na estrada de acesso do canteiro de obras à cidade de Capitão Leonidas Marques. 5- vistoria prévia, por arqueólogos, dos traçados das estradas vicinais que forem relocadas. 6 - o programa seja dotado de recursos próprios e, todos os profissionais envolvidos sejam remunerados pelos serviços prestados. 7 - se constatadas jazidas paleontológicas na área, a contratação de um paleontólogo e, o trabalho conjunto dos dois profissionais - arqueólogo e paleontólogo - mediante a importância que representa para a arqueologia a localização de resíduos de atividades humanas junto à fauna extinta, atestando assim a sua contemporaneidade. 8 - a criação, pela empresa, de espaço para depósito do material coletado durante o desenvolvimento do programa de salvamento arqueológico. 9 - a publicação dos resultados obtidos pelo programa de salvamento arqueológico. 10 - a criação de um Museu Regional que poderia enfocar não somente a história da região, como outras áreas de pesquisa tornando-se um polo educativo junto à comunidade; 11 - o licenciamento junto ao Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural para execução do programa de salvamento. A autorização poderá ser obtida pelo coordenador do programa ou, pela instituição que vier a desenvolvê-la. Área de Influência Indireta Para as áreas que sofrerão influências indiretas da obra, subtendidas como aquelas que forem destinadas à relocação de estradas vicinais, construção de áreas de lazer, implantação de linhas de transmissão ou quaisquer outras atividades que vierem a ser desenvolvidas pela empresa, e que resultarem em alterações no solo ou em construções, recomenda-se: 1 - o atendimento através da execução de planos de monitoramento, os quais devem ser encaminhados à empresa pela equipe responsável pela execução dos trabalhos de salvamento; 2 - o acompanhamento periódico, por arqueólogos, das margens do reservatório. A oscilação de seu nível, com a conseqüente erosão das margens poderá expor resíduos arqueológicos. Os sítios que porventura forem registrados devem ser cadastrados e, o material arqueológico, resgatado. Para o desenvolvimento desta atividade deve ser elaborado plano de trabalho pelo coordenador do programa de salvamento e, encaminhado à empresa empreendedora. 3- se constatada a existência de sítios especiais pré-históricos ou históricos, o seu aproveitamento múltiplo educativo e turístico através de proposições que devem ser encaminhadas à empresa pelo grupo executante do trabalho. 4- se registrada a presença de jazidas paleontológicas, a contratação de paleontólogo e, a execução de trabalho conjunto com os de arqueologia. 5 - a publicação dos dados obtidos nos trabalhos efetuados nestas áreas. 6- para o desenvolvimento dessas atividades deve ser obtida autorização junto ao Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural. O pedido de licenciamento deve ser encaminhado pelo coordenador do programa ou pela institutição que vier a executá-lo.

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Equipe Técnica. Igor Chmyz Eliane Maria Sganzerla Jonas Elias Volcov

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