ESTUDO COMPORTAMENTAL DOS PEDESTRES DURANTE A TRAVESSIA EM FAIXAS NÃO SEMAFORIZADAS

September 20, 2017 | Autor: Patricia Margon | Categoria: Pedestrian Movement
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ESTUDO COMPORTAMENTAL DOS PEDESTRES DURANTE A TRAVESSIA EM FAIXAS NÃO SEMAFORIZADAS Patrícia Vilela Margon Pastor Willy Gonzales Taco Universidade de Brasília Programa de Pós-Graduação em Transportes RESUMO Este texto contém o relatório de andamento de uma tese de doutorado que visa estudar o comportamento do pedestre durante a travessia em faixas de segurança. O objetivo é identificar, através da aplicação de teorias comportamentais, quais as características ambientais, do local da faixa de segurança e individuais, do pedestre, predominam durante a travessia na faixa. A partir da identificação destes fatores, acredita-se poder criar uma nova forma de abordagem das questões relativas aos deslocamentos dos pedestres, focando a avaliação comportamental. Essa nova abordagem pode servir de auxílio à modelagem do comportamento dos pedestres e ao planejamento da mobilidade.

1. CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA DE PESQUISA O planejamento da circulação urbana ainda representa um grande desafio para cidades de médio e grande porte. Com a necessidade crescente de tornar as cidades acessíveis para as pessoas, principalmente quando estas se deslocam no seu modo mais original – a pé, é fundamental entender o comportamento destas pessoas para que o planejamento da mobilidade seja eficiente. A modelagem em transportes, que vem sendo utilizada como ferramenta auxiliar de planejamento, pode estruturar e simular o comportamento do pedestre durante os seus deslocamentos. Para tal, é necessário o conhecimento das principais características do indivíduo e do ambiente de deslocamento, e das variáveis incidentes no fenômeno investigado. O desconhecimento das formas comportamentais do pedestre durante a travessia, pode induzir a equívocos na utilização de modelos auxiliares ao planejamento de transportes. Existem comportamentos frequentes de pedestres frente à situação de travessia, que devem ser considerados pelos modelos, para aumentar a qualidade dos estudos. Weberich, Pretto e Cybis (2012), descreveram os comportamentos de pedestres em momentos de travessia, baseados em observações e referências de literatura. Um fato comum à realidade brasileira é relatado no comportamento observado para travessia na faixa de segurança: o desrespeito ao espaço do pedestre representado pela faixa. Essa atitude de desrespeito pelos usuários do sistema viário, dificulta a observação de como se comporta o pedestre durante a travessia de uma via, na faixa de segurança, mas sem sinalização semafórica que interrompa o fluxo de veículos. A introdução das características reais deste comportamento pode causar mudanças significativas nas simulações que representam os deslocamentos dos pedestres. Existe no Brasil, um único exemplo dentre as grandes cidades que atingiu a meta de utilizar corretamente a faixa de pedestre, incentivando o pedestre a reconhecer o seu espaço na via e os condutores de veículos a respeitarem esse espaço. Desde o ano de 1997, tem sido possível observar em Brasília, capital do país, o respeito à faixa de segurança. Esse cumprimento da lei aconteceu a partir de uma mobilização social que promoveu a união entre a mídia, o governo e a sociedade civil brasiliense em prol de um mesmo objetivo: a Paz no Trânsito (Lé Sénéchal-Machado & Todorov, 2008). Assim sendo, Brasília representa o lugar ideal para a observação de como o pedestre se comporta durante a travessia em faixas de segurança.

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O trabalho resultante desta pesquisa é delimitado à pretensão de responder à pergunta: “Como o pedestre se comporta durante a da travessia na faixa de segurança?”. A delimitação proposta pela pesquisa, visa incluir no foco de estudo, somente os pedestres que atravessam as vias utilizando a faixa de segurança para a travessia de pedestres. Desta forma pode ser explorado o comportamento dos pedestres durante a travessia na faixa, na tentativa de identificar a relação pessoa – ambiente (espaço físico) existente, tomando como pressuposto o comportamento planejado da travessia. 2. HIPÓTESE DE PESQUISA A identificação dos fatores e crenças pessoais, que influenciam o comportamento do pedestre durante a travessia na faixa de segurança, são determinantes para a modelagem deste comportamento. 3. OBJETIVOS O objetivo geral da pesquisa é utilizar as teorias comportamentais, para analisar o comportamento dos pedestres durante a travessia na faixa de segurança, buscando identificar crenças pessoais predominantes, e como o ambiente onde a faixa está inserida influencia a percepção de controle comportamental. Os objetivos específicos são: i) identificar os principais fatores que influenciam a crença pessoal do pedestre em relação à utilização da faixa durante a travessia; e ii) identificar os fatores e características ambientais que possam atuar na percepção do controle comportamental. 4. JUSTIFICATIVA Este estudo pretende se tornar uma premissa básica de conhecimento das atitudes humanas durante a interação com o sistema de transporte urbano. Para tal, parte da investigação do comportamento do individuo que se desloca por este sistema em sua forma mais frágil – o pedestre, em um ponto de conflito com outros atuantes do sistema – os veículos, durante a travessia em faixas de pedestre não semaforizadas. A delimitação proposta pelo problema de pesquisa visa incluir no foco de estudo somente os pedestres que atravessam as vias utilizando a faixa de pedestres sinalizada e não semaforizada. Desta forma pode ser explorado o comportamento dos pedestres durante a travessia na faixa, na tentativa de identificar a relação pessoa – ambiente (espaço físico) existente, tomando como pressuposto o comportamento planejado da travessia. As abordagens tradicionais nos estudos que investigam os deslocamentos dos pedestres consideram estes como sendo um fluxo componente do sistema de transporte que se movimenta de forma semelhante aos veículos motorizados. Muitas delas investigaram o nível de serviço oferecido (Fruin, 1971; Khisty, 1994; Ferreira & Sanches, 2001; Muraleetharan et al., 2004; Carvalho, 2006), em que são avaliadas condições físicas de calçadas e travessias através de critérios semelhantes aos utilizados para os fluxos de veículos. Outras focaram a análise do comportamento do pedestre relacionado ao risco assumido durante o deslocamento e à percepção deste (Ariotti, 2006; Sant’anna, 2006; Barbosa, 2010; Choi & Sayyar, 2012; Kaparias et al., 2012). Mas ainda existe uma lacuna a ser preenchida pela investigação dos fatores ambientais e comportamentais que determinam a atitude do pedestre em relação às travessias de vias, pois esse é o ponto nevrálgico de conflitos mais graves entre veículos e pedestres. A identificação do comportamento dos pedestres é de suma importância para a definição das variáveis incidentes neste comportamento, possibilitando assim a assimilação de uma situação mais próxima da realidade, que seja capaz da atuar como ferramenta de apoio ao

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planejamento da circulação e da mobilidade do pedestre em áreas urbanas. 5. MARCO TEÓRICO As travessias de pedestres representam o local onde ocorrem as principais interações entre veículos e pedestres, interferindo nas escolhas de rotas, causando atrasos nos deslocamentos e representando os locais com maior exposição ao risco de acidentes. De acordo com as interações mais comuns existentes nas vias, as travessias de pedestres podem ocorrer em locais: i) não sinalizados, nos quais os veículos têm preferência e os pedestres atravessam em brechas existentes no fluxo; ii) sinalizados, com a utilização das faixas de travessia de pedestre nas quais, segundo as leis de trânsito brasileiras, os veículos devem dar preferência aos pedestres e iii) semaforizados, nos quais os veículos e pedestres devem obedecer aos tempos semafóricos sem que ocorra interação direta entre eles. Entretanto, em cada tipo de travessia, os pedestres e veículos apresentam comportamentos diferentes. A Teoria do Comportamento Planejado (Ajzen, 1991), afirma que se o interesse está em entender o comportamento humano, e não simplesmente em prevê-lo, é necessária a identificação dos determinantes da intenção desse comportamento. A intenção de uma pessoa é uma função de três determinantes básicos: um fator pessoal (natural), um que reflete a influência social e outro que avalia as facilidades ou dificuldades de executar um comportamento. O fator pessoal significa a avaliação positiva ou negativa da realização de um comportamento. O segundo determinante da intenção é a percepção pessoal das pressões sociais (expectativa da opinião de outras pessoas) que lhe são colocadas para executar ou não o comportamento em questão. O terceiro trata-se da percepção de controle da prática do comportamento em questão. De forma geral, as pessoas pretendem desempenhar um comportamento quando avaliam a sua positividade, quando acreditam na importância que outras pessoas darão a este comportamento e quando analisam a possibilidade de transposição de obstáculos relativos a tal comportamento. 6. METODOLOGIA A metodologia aplicada é desenvolvida com base na fundamentação teórica das teorias comportamentais (Comportamento Planejado - Ajzen, 1991; Teoria da Ação Racional Ajzen, 1985; Comportamento Habitual - Bamberg, Ajzen & Schmidt, 2003). Uma amostra de indivíduos será usada para identificar, através de questionário, respondido individualmente, em um formato de resposta livre. O questionário da pesquisa abrange: i) definição do comportamento a ser investigado; ii) especificação da população de interesse para a pesquisa; iii) formulação de medidas diretas para identificação de atitudes, norma percebida, percepção de controle comportamental, intenção e comportamento passado, através de uma escala de sete pontos entre conceitos bipolares, tais como: provável – improvável; bom – ruim. Weberich, Pretto e Cybis (2012) consideraram o comportamento do pedestre durante a travessia similar ao comportamento por eles denominado “caminhando”. Desta forma, na modelagem realizada pelos autores, os comportamentos dos pedestres na realização dos movimentos 2-6 e 2-3 (Figura 1), foram considerados similares em suas representações. Espera-se, com o presente estudo, definir e tornar claras as diferenças entre o comportamento durante a realização do movimento de travessia, identificando as variáveis incidentes nas atitudes do pedestre ao fazer a travessia na faixa de segurança.

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Figura 1. Modelo de Comportamento do Pedestre. Fonte: Weberich, Pretto e Cybis (2012).

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final da pesquisa pretende-se definir as características necessárias para a modelagem da travessia para os pedestres, de acordo com a percepção de controle comportamental identificada para satisfazer as crenças pessoais determinantes dos indivíduos. A partir destas definições poderão ser delineadas propostas de planejamento para pedestres que possam auxiliar a replicar a experiência de Brasília em outros centros urbanos.

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