ESTUDO DE ASPECTOS PERCEPTIVOS E SIMBÓLICOS DAS CORES EM EMBALAGENS DE LEITE PARA IDENTIFICAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DE VARIEDADES | STUDY OF PERCEPTUAL AND SYMBOLIC ASPECTS OF COLORS IN MILK PACKAGING FOR IDENTIFICATION AND LOCATION OF VARIETIES

June 19, 2017 | Autor: Fernando Linhares | Categoria: Design, Packaging Design, Color Perception, Industrial Product Design, Food Packaging, Psicologia Das Cores
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XI Congresso de Iniciação Científica da Universidade Federal de Campina
Grande
" " " "
" " " "
" "PIBIC/CNPq-UFCG 2013 " "



ESTUDO DE ASPECTOS PERCEPTIVOS E SIMBÓLICOS DAS CORES EM EMBALAGENS DE
LEITE PARA IDENTIFICAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DE VARIEDADES


Fernando de Oliveira Linhares[1], Carla Patrícia de Araújo Pereira[2]


Resumo

Este artigo aborda aspectos perceptivos e simbólicos das cores no design
de embalagens de alimentos. Relata um estudo realizado com 205 embalagens
de leite, consistindo na observação, registro e análise do material; e
apresenta um levantamento realizado com um grupo de 50 consumidores,
entrevistados em supermercados, visando determinar se as cores das
embalagens funcionam como indicadores visuais das variedades do produto. A
análise das embalagens mostra que a distinção entre os tipos de leite
encontrados deve-se essencialmente às cores, usadas como códigos de
diferenciação, havendo, contudo, variações na codificação adotada pelos
diferentes fabricantes. Os resultados da pesquisa indicam que um número
significativo dos consumidores se orienta pela cor da embalagem, e que a
maioria tem dificuldades para localizar o tipo de leite que procura. Há
indicações de que as associações entre cores e variedades de leite feitas
pelos consumidores são influenciadas tanto pela familiaridade com os
códigos mais frequentes quanto pelo conteúdo simbólico da cor. Conclui-se
que a falta de padronização das cores indicativas e o uso de códigos que
desconsideram as relações de semelhança e de oposição presentes na
estrutura da linguagem cromática, conforme constatado pela pesquisa,
dificultam a utilização desse sistema de informação pelos usuários.

Palavras-chave: embalagens de alimentos, códigos de cores, simbolismo da
cor


STUDY OF PERCEPTUAL AND SYMBOLIC ASPECTS OF COLORS IN MILK PACKAGING FOR
IDENTIFICATION AND LOCATION OF VARIETIES




abstract


This paper discusses perceptual and symbolic aspects of colors in food
packaging design. Reports a study of 205 milk packaging, consisting in the
observation, recording and analysis of the material; and presents a survey
that was carried out with a group of 50 consumers, interviewed in
supermarkets, in order to determine if the packaging colors function as
visual indicators of product varieties. The analysis shows that the
distinction between types of milk found was due essentially to packaging
colors, used as codes of differentiation, but there are variations in the
coding adopted by different manufacturers. The survey results indicate that
a significant number of consumers is oriented by the packaging colors, and
that most of them have difficulty to locate the type of milk that they
seek. There are indications that the associations between colors and
varieties of milk made by consumers are influenced by both the familiarity
with the most frequent codes as the symbolic content of the color. It is
concluded that the lack of standardization of the indicative colors and the
use of codes that disregard the relations of similarity and opposition
present in chromatic language structure, as noted by research, makes it
difficult to use this information system by users.

Keywords: food packaging, color codes, color symbolism
INTRODUÇÃO

Ao mesmo tempo em que as embalagens devem cumprir sua função
mercadológica — de se destacar dos concorrentes e atrair a atenção dos
consumidores —, no caso dos produtos alimentícios, elas têm o papel de
informar o tipo de produto embalado, bem como suas características e
ingredientes utilizados, tornando-se um meio complexo de comunicação e
informação. No contexto atual do consumo de alimentos — no qual uma parcela
crescente da população brasileira incorpora a seus hábitos alimentares
produtos industrializados menos calóricos ou mais "saudáveis" ― as
embalagens veiculam informações essenciais à saúde dos consumidores, como é
o caso da informação nutricional, que diz respeito à composição do produto
alimentício em termos da quantidade de gordura, presença de açúcares e
lactose, entre outros. Estas informações têm o objetivo de orientar o
consumo, a fim de evitar a ingestão indevida de nutrientes que possam
causar prejuízos à saúde da população.


Dados divulgados pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos
para Fins Especiais e Congêneres (2010) confirmam que o mercado desses
alimentos tem aumentado, por outro lado, mostram também a falta de
conhecimento dos consumidores a respeito de tais produtos, os quais
apresentam dificuldades em distingui-los. Se, por um lado, estudos recentes
tem constatado o interesse dos consumidores na leitura dos rótulos de
alimentos embalados, os mesmos estudos apontam para um alto índice de
dificuldade de compreensão das informações (FURNIVAL & PINHEIRO, 2009;
SOUZA et al., 2011). Embora os órgãos reguladores estabeleçam regras quanto
às informações que devem constar nas embalagens de alimentos (cf.
RESOLUÇÕES RDC/ANVISA 259/2002 e 54/2012), para a pessoa comum, a
compreensão é dificultada por informações verbais pouco esclarecedoras,
como ingredientes desconhecidos e termos especializados como "light",
"semidesnatado" ou "lactose", também pouco compreendidos. Nesse contexto, a
informação visual ganha importância, podendo facilitar a compreensão das
informações contidas nas embalagens assim como a identificação e
localização dos produtos.


Nesse sentido, a legislação vigente determina que as embalagens ou
rótulos de alimentos para fins especiais "devem diferenciar-se das
embalagens ou rótulos dos alimentos convencionais ou similares
correspondentes da mesma empresa" (PORTARIA SVS/MS 29/1998), entretanto,
não especifica os parâmetros dessa diferenciação, nem determina a
obrigatoriedade de diferenciação para as embalagens dos alimentos de
consumo geral da população. Um estudo realizado com embalagens de alimentos
light revelou que os fabricantes disponibilizam os produtos originais e
suas versões modificadas em embalagens distintas apenas quanto ao design
gráfico e, particularmente, à cor da embalagem, que indica ao usuário qual
variedade de produto está sendo consumida (PEREIRA, 2007).


Este artigo apresenta resultados de pesquisa sobre o uso de cores no
design de embalagens, cujo objetivo geral é identificar e analisar os
aspectos perceptivos e simbólicos envolvidos na compreensão dos códigos
cromáticos empregados em embalagens de alimentos para diferenciação de
variedades. Relata um estudo realizado com embalagens de leite, consistindo
na observação, registro e análise dos designs, e na realização de
entrevistas com um grupo de consumidores. A análise das embalagens teve
como objetivo identificar os códigos cromáticos utilizados na distinção das
oito variedades de leite disponibilizadas à população. As entrevistas
visaram determinar se os consumidores utilizam as cores das embalagens para
identificar as variedades de leite, quais cores eles associam a cada
variedade, e se encontram dificuldade na localização dos produtos.




MATERIAIS E MÉTODOS

Fase I – Análise das embalagens


O estudo foi realizado com todas as embalagens cartonadas de leite
encontradas em supermercados da cidade de Campina Grande, PB, e em lojas on
line das grandes redes de supermercados do país, durante o período de
observação (setembro e outubro de 2013). Foram selecionadas para análise as
marcas que tivessem no mínimo duas variedades de leite (leite integral e
uma versão modificada). Dentro dessas condições foram catalogadas 205
embalagens, sendo 70 do tipo integral, 68 do tipo desnatado, 40 do tipo
semidesnatado, 8 da variedade baixa lactose, 7 com adição de cálcio, 5 com
adição de vitaminas, 4 com adição de ferro, e 3 com adição de fibras. As 8
variedades de leite identificadas abrangeram um total de 69 marcas,
conforme discriminado na Tabela 1.







Tabela 1: Variedades de leite e marcas que compusera a amostra.
"Variedades "Marcas "
"Integral; "Alimba; Aurora; BarraMansa; Batavo; Betânia; "
"Semidesnatado; "Bom gosto; Bom leite; Boa vida; Calu; Camponesa"
"Desnatado; Adição "(Embraé); Capel; Castrolanda; Cemil; "
"de Cálcio; Adição "Centenário; Compleite; Conaprole; Cotochés; "
"de Fibras; Adição "Dália; Damare, DaMatta; Damby; Elegê; Fazendo "
"de Ferro; Baixa "Mineira; Frimesa; Godam; Hércules; Ibituruna; "
"Lactose; Adição de "Italac; Jaguaribe; Jussara; Karinho; "
"Vitaminas. "Lactoplasa; Languiru; Latco; Latteria Soresina;"
" "Latvida; LeitBom; Líder; Long; Macuco; Manacá; "
" "Maranguape; Mineiro Novo; Mococa; Mu-Mu; "
" "Mucuri; Nenê; Nilza; Ninho; Parmalat; Paulista;"
" "Piá; Piracanjuba; Polly; Porto Alegre; "
" "Premiare; Qualitá; Quatá; Regina, Sabe; Santa "
" "Clara; São Gabriel; Selita; Shefa; Talento "
" "Mineiro; Terra Viva; Tirol; Triângulo; "
" "ValeDourado. "
"Total: 8 "Total: 69 "


(Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada)


A observação das cores e demais elementos visuais deu-se exclusivamente
em relação ao painel principal das embalagens. Após a catalogação dos
designs, foram registradas as cores e demais elementos caracterizadores das
variedades de leite encontradas. Nesta etapa, para a identificação e
descrição das cores observadas, foi adaptado o método Universal Color
Language (KELLY & JUDD, 1976). Desse modo, as diversas tonalidades
encontradas nos designs foram agrupadas por semelhança em categorias gerais
e nomeadas de acordo com seus atributos de matiz, claridade e saturação.


Fase II – Consulta aos consumidores


Posteriormente, foram realizadas entrevistas estruturadas com 50
indivíduos de ambos os sexos, com faixa etária entre 18 e 62 anos. As
entrevistas foram realizadas em supermercados de Campina Grande. Os
participantes foram abordados no setor de laticínios e entrevistados
individualmente. Foi utilizado formulário previamente elaborado, preenchido
pelo pesquisador, contendo quatro perguntas fechadas e uma questão aberta.
As entrevistas buscaram verificar a familiaridade dos consumidores com as
variedades de leite estudadas, determinar se eles utilizam as cores das
embalagens para identificar as variedades de leite, quais cores eles
associam a cada variedade, e se encontram dificuldade na localização dos
produtos.




RESULTADOS

Análise das embalagens

Figura 1 – Além do texto verbal obrigatório, a cor foi o único indicador
visual utilizado para distinção das variedades de leite em mais de 80% das
embalagens.

(Fotografia: Carla Pereira).


Em todas as marcas analisadas a cor da embalagem foi usada como
indicadora das diferentes variedades de leite e, em mais de 80% dos casos,
além da informação escrita, a cor foi o único elemento de diferenciação.
Desse modo, do leite integral para o desnatado de determinada marca, toda a
diagramação, tipografia e imagens são mantidas e, na maioria das vezes,
também o layout das informações, alterando-se apenas a cor (Figura 1).


As variedades de leite integral, semidesnatado e desnatado foram as mais
encontradas nos estabelecimentos comerciais, totalizando 87% da amostra.
Como pode ser observado na Tabela 2, o matiz mais utilizado como indicador
da variedade integral foi o vermelho, observado em 54% das embalagens;
seguido por rosa (9%), azul (9%), ciano (6%), amarelo e laranja (4% cada),
verde (3%) e magenta (1%). Para o leite semidesnatado, o verde foi o mais
recorrente, aparecendo em 64% dos designs, seguido por vermelho (10%),
ciano e violeta (8%), laranja (6%) e, por fim, cinza, azul e amarelo (3%
cada). Na variedade desnatado, o ciano foi o mais frequente (38%), seguido
por verde (23%), azul (23%), violeta e vermelho (4% cada), laranja e cinza
(1% cada).

Tabela 2 – Distribuição das cores identificadas nas embalagens para
distinção entre variedades de leite: ciano (A), azul (B), azul claro (C),
azul escuro (D), azul violeta (E), azul acinzentado (F), verde (G), verde
claro (H), verde escuro (I), verde azulado (J), verde amarelado (K),
amarelo (L), amarelo alaranjado (M), laranja (N), laranja escuro (O),
vermelho (P), vermelho escuro (Q), magenta (R), rosa (S), rosa escuro (T),
violeta (U), cinza (V), e branco (W).
" "A "B "
"Integral "50 "100,0 "
"Semidesnatado "37 "74,0 "
"Desnatado "49 "98,0 "
"Com Ferro "12 "24,0 "
"Rico em Cálcio "09 "18,0 "
"Baixa Lactose "15 "30,0 "
"Vitaminado "18 "36,0 "
"Com Fibras "08 "16,0 "


(Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada)


A primeira questão da entrevista buscou verificar se os consumidores
estavam familiarizados com os oito tipos de leite que foram objeto da
pesquisa. Conforme pode ser observado na Tabela 3, todas as variedades eram
conhecidas de ao menos parte das pessoas entrevistadas. Os leites mais
conhecidos foram o tipo integral (que 100,0% dos respondentes declararam
conhecer), o desnatado (98,0%) e o semidesnatado (74,0%), os três mais
encontrados nos estabelecimentos comerciais durante o levantamento das
embalagens. O tipo menos familiar foi o leite com fibras, mencionado por
16,0% das pessoas.


A segunda questão procurou determinar se os consumidores têm ou não
dificuldade na tarefa de localizar determinado tipo de leite durante a
compra. A maioria dos participantes (66,0%) afirmou ter dificuldades para
encontrar o produto (Tabela 4). Quando perguntados se procuram o tipo de
leite pela cor da embalagem, 58,0% dos consumidores entrevistados
declararam que sim, recorrem à cor com esta finalidade (Tabela 5). Para
estes consumidores, foi pedido que informassem as cores que procuram para
localizar os tipos de leite que conhecem (Tabela 6).

Tabela 4 – Questão 2: 'Você encontra rapidamente o tipo de leite que você
quer na prateleira ou tem alguma dificuldade?'
" "Nº "% "
"Encontra rapidamente "17 "34,0 "
"Tem dificuldade "33 "66,0 "
"Total "50 "100,0 "


(Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada)

Tabela 5 – Questão 3: 'Você identifica o tipo de leite que procura pela cor
da embalagem?'
" "Nº "% "
"Sim "29 "58,0 "
"Não "21 "42,0 "
"Total "50 "100,0 "


(Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada)

Tabela 6 – Questão 4: 'Quais cores você procura para os tipos de leite que
você conhece?' Distribuição das cores e características cromáticas
mencionadas: azul (B), verde (G), amarelo (L), laranja (N), vermelho (P),
rosa (S), branco (W), 'cores fortes' (X), 'cores claras' (Y).
"B "G "L "N "P "S "W "X "Y "Não responderam "Total " "Integral "01 "0
"03 "02 "20 "05 "0 "02 "0 "03 "36* " "Semidesnatado "09 "08 "0 "0 "0 "0 "01
"0 "04 "10 "32* " "Desnatado "15 "08 "0 "0 "0 "0 "01 "0 "05 "0 "29 " "Ferro
"0 "0 "0 "01 "05 "01 "0 "01 "0 "21 "29 " "Cálcio "03 "01 "0 "0 "0 "0 "0 "0
"0 "25 "29 " "Lactose "0 "0 "0 "03 "0 "0 "0 "0 "0 "26 "29 " "Vitaminas "0
"0 "02 "0 "04 "01 "0 "01 "0 "21 "29 " "Fibras "01 "0 "0 "01 "0 "0 "0 "0 "01
"26 "29 " "* Alguns consumidores indicaram mais de uma cor para estas
variedades (total de respondentes: 29)
(Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada)


Para as variedades de leite mais reconhecidas pelos consumidores —
integral, semidesnatado e desnatado, as cores mais mencionadas foram: para
o integral, vermelho (68,9%); para o desnatado, azul (51,7%) e verde
(27,6%); e para o semidesnatado, também azul (31,0%) e verde (27,6%). Para
os tipos menos conhecidos — ferro, cálcio, baixa lactose, fibras e
vitaminas —, a maioria dos respondentes não indicou uma cor. Para os que
informaram, as cores mais mencionadas foram: para o leite com ferro,
vermelho (17,2%); para cálcio, azul (10,3%); para baixa lactose, laranja
(10,3%); e para vitaminas, vermelho (13,8%). Para o tipo com fibras, cada
pessoa indicou uma cor diferente.




DISCUSSÃO


A pesquisa identificou 23 cores distintas usadas para sinalizar os oito
tipos de leite comercializados, demonstrando que não existe uma codificação
única para informar ao consumidor qual variedade está contida na embalagem.
Desse modo, uma embalagem azul pode indicar ao mesmo tempo o leite
semidesnatado e desnatado e uma embalagem rosa pode caracterizar tanto o
tipo desnatado como o integral, dependendo da codificação adotada por cada
fabricante (Figura 2). Entre os tipos de leite menos comuns, foi observado
certo padrão, como é o caso do leite com adição de fibras ― caracterizado
pelo matiz verde ― e o de baixa lactose, particularizado pelo matiz
laranja, embora com variação de tonalidade. Já para o tipo integral, por
exemplo, são empregados oito matizes, cada um deles com pelo menos uma
variação tonal.


Figura 2 – Nas embalagens de leite, tanto a mesma variedade é caracterizada
por cores diferentes (azul ciano/desnatado e rosa/desnatado) quanto uma
mesma cor identifica tipos distintos (rosa/integral e rosa/desnatado).

(Fotografia: Carla Pereira).


Os resultados das entrevistas mostram que as cores das embalagens podem
ser um recurso eficiente para indicar as diferentes variedades de leite,
visto que um percentual considerável dos consumidores (58,0%) utiliza os
códigos de diferenciação, identificando o tipo de leite pela cor da
embalagem. Contudo, a maioria informou ter dificuldades para localizar o
leite no momento da compra. Comparando-se os dados da análise das
embalagens com os resultados das entrevistas, pode-se inferir que a
dificuldade dos usuários desse sistema de informação reside na variação dos
códigos. Na ausência de regulamentação específica, cada fabricante pode
utilizar uma codificação diferente, o que confunde o consumidor,
dificultando a identificação e localização dos produtos, o que pode induzir
a erro.


Quanto às cores que os consumidores associam às diversas variedades de
leite, observa-se que os nomes de cor mais mencionados nas entrevistas em
parte correspondem aos matizes mais frequentes observados no design das
embalagens. Vermelho para os leites do tipo integral e com adição de ferro;
e laranja para o leite de baixa lactose são exemplos dessa correspondência.
Pode-se inferir que estes resultados sejam decorrentes do contato frequente
dos consumidores com as embalagens expostas, o que leva ao aprendizado das
cores indicativas mais utilizadas pelos fabricantes, apesar das variações
de codificação. Por outro lado, azul e verde foram associados pelos
consumidores tanto ao leite desnatado quanto ao semidesnatado, uma variação
que reproduz a ausência de padrão observada nos designs.


Além do grau de familiaridade dos usuários com os códigos atualmente em
uso, a eficiência dos códigos de cores está relacionada aos mecanismos de
associação envolvidos na interpretação dos signos, à facilidade ou
dificuldade dos usuários em associarem determinada cor a determinado
significado. As cores das embalagens funcionam como índices, chamando a
atenção para aquilo que representam (os alimentos embalados) e sinalizando
características dos produtos; contudo, essa representação pode ocorrer
tanto por semelhança quanto por convenção (PEREIRA, 2011). A cor da
embalagem torna-se índice pelo uso, pela repetição, pelo aprendizado do
código cromático, mas a conexão original pode ser icônica ou simbólica
(ibid.). As associações que têm como base o princípio da semelhança ― por
exemplo, a cor marrom utilizada para indicar o 'sabor chocolate' ― tendem a
ser mais facilmente interpretadas pelos usuários, mas no caso das
variedades de alimentos que são distintas apenas quanto à sua composição
nutricional, como ocorre com os tipos de leite, o sentido do signo
cromático é arbitrário ou convencional.


A esse respeito, chama a atenção o fato de que os consumidores associaram
a cor vermelha apenas aos leites integral, com ferro e com vitaminas,
embora no design das embalagens observadas essa cor algumas vezes indique
os tipos desnatado e semidesnatado. Na cultura ocidental, o vermelho é
historicamente associado à ideia de força e vitalidade, por ser a cor do
sangue (cf. PASTOUREAU, 1993; HELLER, 2012). Esta associação simbólica pode
explicar o vínculo que os consumidores estabelecem entre a cor vermelha e
as variedades de leite que eles podem considerar como mais "fortes" ou mais
completas, como é o caso do leite integral (sem redução de gordura), do
leite com vitaminas e do leite com adição de ferro (indicado para prevenção
de anemia).


Para as cores verde e azul, que os consumidores associaram principalmente
aos leites desnatado (sem gordura) e semidesnatado (com teor de gordura
reduzido), de um lado deve-se ter em conta o fato de que estes matizes
estão entre os mais utilizados em embalagens de alimentos light (PEREIRA,
2007), de onde o sentido de redução de nutrientes ou redução de gordura
assumido pelas cores nesse contexto torna-se mais familiar aos usuários. De
outra parte, em nossa cultura azul e verde são frequentemente considerados
como opostos ao vermelho tanto por suas características perceptivas quanto
por seu conteúdo semântico (cf. GOETHE, 1993; KANDINSKY, 2000; PASTOUREAU,
1993, 2000). Sob esse aspecto, tornam-se apropriados para indicar os leites
com redução de nutrientes, que os usuários podem considerar como mais
"fracos", em oposição ao vermelho dos leites "fortes". Nas palavras de
Heller (2012, p. 32), "O azul é o polo oposto, passivo e tranquilo, do
vermelho, ativo, forte [...]". Assim como o azul, o verde é considerado
frio, passivo e tranquilo (KANDINSKY, 2000), o que também os aproxima em
termos semânticos. Adicionalmente, o verde é também associado à saúde, uma
cor historicamente ligada à medicina (PASTOUREAU, 1993), o que contribui
para estabelecer uma relação simbólica com alimentos de menor teor de
gordura, considerados mais "saudáveis".


Estas relações simbólicas, presentes na percepção das cores, deveriam ser
levadas em conta na elaboração dos códigos, o que não se verifica no
design. Nas embalagens de leite integral, por exemplo, foi observado que
são sinalizadas tanto por cores quentes, como amarelo e vermelho, como por
cores frias, como verde azul, desconsiderando-se os campos semânticos
característicos de cada cor e, desse modo, dificultando a compreensão da
informação que se pretende transmitir ao usuário (Figura 3).


Figura 3 – Nas embalagens, a mesma variedade de leite é indicada por cores
opostas como amarelo/azul e vermelho/verde.

(Fotografia: Carla Pereira)


Deve-se destacar ainda a atenção que foi dada por alguns participantes ao
atributo de claridade da cor. Embora não tenham sido questionados sob esse
aspecto, esta foi, em alguns casos, a característica cromática associada a
certas variedades de leite. Os leites desnatado e semidesnatado são um
exemplo: eles foram associados a "cores claras" por alguns participantes,
que espontaneamente mencionaram a claridade da cor ao invés de um matiz
específico. Alguns participantes também associaram os leites integral, com
ferro e vitaminas a "cores fortes", sem indicar um matiz.




CONSIDERAÇÕES FINAIS


Este estudo mostrou que a diferenciação por cores é o principal recurso
empregado no design de embalagens para sinalizar os diferentes tipos de
leite disponibilizados à população e que um número significativo dos
consumidores se orienta pela cor da embalagem. Entretanto, na falta uma
codificação de cores única, as variações adotadas pelos diferentes
fabricantes comprometem a eficiência desse sistema visual. Embora todas as
embalagens contenham a informação verbal correspondente, todas sejam
diferenciadas por cores e, em alguns casos, por outros elementos visuais, a
maioria dos consumidores informou ter dificuldades para localizar o tipo de
leite que procura.


Quanto às associações entre cores e variedades de leite feitas pelos
consumidores, há indicações de que estas são influenciadas tanto pela
familiaridade dos usuários com os códigos mais frequentes veiculados pelo
design, quanto por associações simbólicas referentes às cores, como é o
caso do matiz vermelho, que foi associado apenas aos leites considerados
mais "fortes" ou de algum modo associados a essa ideia. Ainda no que tange
à significação, foi observado que o sistema visual das embalagens de leite
veicula informações não apenas ambíguas, mas também contraditórias, visto
que um mesmo tipo de produto ora é sinalizado por verde, ora é sinalizado
por vermelho, que são matizes opostos tanto do ponto de vista perceptivo
quanto do ponto de vista simbólico. Sabe-se que oposições cromáticas
determinam oposições semânticas e deveriam ser empregadas para indicar
diferenças importantes entre os produtos. Foi constatado ainda que,
independente do matiz, os atributos de saturação e claridade da cor
sugeriram ao observador uma relação quantitativa: a cor mais intensa
equivalendo à adição de nutrientes e a mais clara correspondendo à redução
de nutrientes.


Conclui-se que falta de padronização das cores indicativas e o uso de
códigos que desconsideram as relações de semelhança e de oposição presentes
na estrutura da linguagem cromática, conforme constatado pela pesquisa,
contribuem para um sistema de orientação pouco eficiente, que pode
dificultar a tarefa e induzir o consumidor a erro. Para que os códigos
sejam eficazes devem ser fixadas cores exclusivas para sinalizar cada
variedade de leite, e a codificação deve ter ampla divulgação para que seja
conhecida pelos consumidores. Recomenda-se a realização de novos estudos
visando estabelecer critérios para a concepção de códigos cromáticos
dirigidos às embalagens de alimentos, assim como ações junto aos órgãos
reguladores a fim de normatizar tais sistemas de orientação.



AGRADECIMENTOS

A minha orientadora, professora Drª Carla Patrícia de Araújo Pereira,
pela confiança no meu potencial para a pesquisa, pelo incentivo e pela
atenção dedicada durante o desenvolvimento da pesquisa. O presente trabalho
foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – Brasil, através da concessão de bolsa PIBIC.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[1]Aluno do Curso de Design, Unidade Acadêmica de Design, UFCG, Campina
Grande, PB, e-mail: [email protected].
[2]Professora, Doutora, Unidade Acadêmica de Design, UFCG, Campina Grande,
PB, e-mail: [email protected].

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