Estudo de Caso Implementação de um Programa de Controle Ergonômico em uma Indústria Textil

June 16, 2017 | Autor: Márcio Marçal | Categoria: Ergonomics, Metodos Ergonomicos
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ESTUDO DE CASO: IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONTROLE ERGONÔMICO EM UMA INDÚSTRIA TÊXTIL Márcio Alves Marçal1,2, Ph.D. Cláudia Ferreira Mazzoni2, Ph.D. Aguinaldo Diniz Filho3 1 Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), 2Universidade FUMEC, 3 Presidente da Cedro Belo Horizonte - Minas Gerais Email: [email protected] Palavras-chave: Ergonomia, comitê de ergonomia, prevenção, têxtil, gestão.

O Programa de Controle Ergonômico – PCE é um conjunto de técnicas e instrumentos utilizados no sistema de gestão de ações ergonômicas dentro da empresa. Os membros do comitê foram divididos em sub-comitês que contaram com um líder, um secretário e funcionários. Cada sub-comitê foi constituído por uma média de cinco funcionários. Um treinamento de ergonomia com duração de 24horas/aula foi ministrado para os gerentes, supervisores e funcionários da empresa. Um exemplo de ação do comitê foi à análise ergonômica do posto de trabalho do setor de passadores. Funcionário transporta 160 latas de carda por turno. O funcionário deve alimentar 5 passadores, e retornar com as latas vazias. Estas latas se movimentam por um sistema de rodízio com buchas que estavam gastas e travadas devido ao acúmulo de pó e fios de algodão. Este fato dificultava puxar as latas sobrecarregando as articulações dos membros superiores e da coluna vertebral do trabalhador. Este fato foi confirmado com o alto índice de afastamento devido a lombalgia e dores nos ombros observados no ambulatório médico. O esforço para puxar as latas foi de 14 Kg e de empurrar a lata de 15 Kg. Foi sugerido a substituição do sistema de rodízio para rodízio com rolamento e nylon. No teste de esforço com as novas rodas observou-se uma redução de 54,7% no esforço exigido ao puxar a lata e 57,5% ao empurrar lata. O novo sistema de rodas é mais barato levando a uma economia de R$ 32.160,00 em 18 meses. O Programa de Controle Ergonômico está na fase final de implementação na empresa. A próxima etapa será o desligamento do consultor da empresa permitindo que o grupo seja o seu próprio gestor das questões ergonômicas. Num período ainda a ser determinado pela empresa teremos auditorias para certificar a continuidade e a eficácia do programa.

1. INTRODUÇÃO Este trabalho teve seu início a partir do diagnóstico das condições ergonômicas da empresa. Após uma detalhada análise ergonômica dos postos de trabalho foi elaborado um relatório indicando as situações criticas e recomendações. Com a demanda gerada sugeriu-se a criação do Programa de Controle Ergonômico – PCE como um instrumento de gestão que pudesse viabilizar a implementação das recomendações e uma administração das novas demandas pela própria empresa. O PCE, portanto, constituiu-se em um conjunto de técnicas e instrumentos utilizados no sistema de gestão de ações ergonômicas dentro da empresa. Este programa está ligado ao serviço de engenharia de segurança e medicina do trabalho (SESMT). Nesta indústria o PCE foi inserido dentro do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). O PCE, juntamente com o Programa de Conservação Auditiva (PCA) e o Programa de Proteção Respiratória (PPR), compõem a Comissão Interna de Apoio aos Programas de Proteção, Controle e Conservação de Saúde Ocupacional (CIAPS). O PCE trabalha também em sintonia com os programas de ações da segurança do trabalho, de Controle de Qualidade, de Gestão do Meio Ambiente e outros programas da empresa. 2. OBJETIVOS DO PCE 1) Criar o comitê de ergonomia; 2) Identificar, quantificar e propor medidas de controle dos riscos ergonômicos nos postos de trabalho; 3) Prevenir e controlar as doenças relacionadas com riscos ergonômicos;

4) Abordar os problemas ergonômicos numa base bem precoce; e 5) Garantir que considerações ergonômicas façam parte da decisão dos líderes, incorporando-as na concepção de um novo posto de trabalho. Para que o PCE obtivesse sucesso foi preciso que estivesse apoiado em um forte alicerce, ou seja, ter a participação efetiva da diretoria de recursos humanos, da gerência do serviço médico, da gerência da segurança do trabalho e do consultor. Este grupo foi a base para o início do programa, procurando, de imediato, garantir o apoio de outras gerências e da presidência para a sua implementação. As atribuições iniciais deste grupo foram: 1) Criação do comitê de ergonomia; 2) Estabelecimento das funções do comitê; 3) Indicação ou promoção das eleições dos membros para comporiam o comitê; 4) Nomeação formal dos integrantes do comitê de ergonomia pela gerência; e 5) Criação do conselho deliberativo.

3. COMITÊ DE ERGONOMIA O comitê de ergonomia teve a participação de vários membros da empresa, preenchendo os seguintes cargos: coordenador, secretária geral e membros do comitê. Os membros do comitê foram divididos em sub-comitês que contaram com um líder, um secretário e funcionários. O número de sub-comitês foi determinado de acordo com o número de setores que o comitê teve que se responsabilizar. Cada sub-comitê foi constituído por uma média de cinco funcionários escolhidos de acordo com os critérios abaixo: A coordenação geral do comitê ficou a cargo da engenheira de segurança. Ela ficou responsável por coordenar todos os sub-comitês e por ser o contato entre os trabalhadores e o comitê deliberativo, gerência ou diretoria da empresa. A secretária geral era um funcionário do SESMT. Este funcionário ficou responsável pelo controle documental e pelas convocações para as reuniões. Para este cargo buscou-se um funcionário com as seguintes características: 1) Ser uma pessoa organizada; 2) Ter conhecimento de informática; 3) Ter facilidade de escrita e síntese. Para liderança do sub-comitê foi escolhido um funcionário da produção, que tivesse um bom conhecimento de todo o processo produtivo da empresa e que tivesse uma boa relação interpessoal. A função deste funcionário era de gerenciar as ações dos integrantes do sub-comitê e ser o elo de conexão do sub-comitê com o coordenador do comitê de ergonomia. O secretário de cada sub-comitê era um técnico de segurança e apresentava o mesmo perfil da secretária geral. Este funcionário ficou responsável pelo controle documental e pelas convocações para as reuniões. Os outros membros representantes dos sub-comitês foram selecionados dentro do seguinte perfil: 1) Conhecimento do processo produtivo; 2) Ter um papel de destaque e liderança nos seus respectivos setores; 3) Ter boa relação com os colegas; O Comitê de Ergonomia fazia pelo menos uma reunião mensal para cumprir o gerenciamento ergonômico. Estas reuniões foram previstas no calendário anual da empresa. Os principais objetivos que o comitê tinha que alcançar seguem listados abaixo: • Atender a legislação vigente, NR17 do ministério do trabalho; • Identificar situações críticas de problemas ergonômicos; • Criar soluções que melhor se aplicassem aos problemas ergonômicos; • Desenvolver medidas preventivas visando redução de transtornos músculo esqueléticos entre os trabalhadores; • Criar o mapa do nível de risco ergonômico para todos os setores da empresa; • Acompanhar o andamento das implementações ergonômicas; • Preparar agenda das ações ergonômicas para um período de 6 meses;

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Prestar conta periodicamente das atividades ao diretor industrial da unidade; Promover um ambiente de trabalho seguro e sadio, estabelecendo um eficiente método de gerenciamento de riscos ergonômicos; Participar de forma ativa de novos projetos de reestruturação, criação ou expansão das áreas de trabalho; e Contribuir nas certificações que envolvessem saúde, segurança e meio ambiente e qualidade total, em especial OSHAS 18001,18002.

4. CONSELHO DELIBERATIVO O conselho deliberativo foi composto pelo gerente da fábrica (Presidente do Conselho), médico coordenador do PCMSO, engenheiro de segurança e o coordenador de recursos humanos. A função deste conselho era deliberar sobre questões que não puderam ser resolvidas pelo comitê de ergonomia. Tais como: • Questões ergonômicas que requeressem intervenções de ordem organizacionais • Questões ergonômicas que requeressem aprovação de orçamento • Conflitos entre integrantes do comitê • Substituições com nomeações de um novo membro • Outras

5. TREINAMENTO EM ERGONOMIA Um treinamento de ergonomia com duração de 24horas/aula foi ministrado para os gerentes, supervisores e funcionários da empresa. O conteúdo programático abordava os seguintes tópicos: • Definição de ergonomia; • Considerações sobre a biomecânica ocupacional com ênfase nas regiões da coluna vertebral e dos membros superiores; • Fatores de risco associados a disfunções musculoesqueléticas relacionadas ao trabalho; • Posturas no trabalho; • Apresentação de estudos de casos ilustrativos de intervenções ergonômicas; • Conceitos de sistema; • Equipe multidisciplinar; • Papel do ergonomista; • Ergonomia participatória; • Conceitos de microergonomia e macroergonomia; • Conceito de organização do trabalho; • Fatores organizacionais que influenciam a relação homem X trabalho; • Discussão sobre a Norma Regulamentadora de Ergonomia – NR 17; • Métodos e procedimentos utilizados na coleta de informações para análise ergonômica; • Instrumentação; • Apresentação de estudos de casos; • Discussão de situações problemas; • O papel do comitê de ergonomia; e • Abordagem prática do grupo analisando situações de trabalho dentro da fábrica.

6. EXEMPLO DE UMA AÇÃO ERGONÔMICA BEM SUCEDIDA DESENVOLVIDA POR UM DOS SUBCOMITÊS DA EMPRESA.

6.1 Análise Ergonômica do Posto de Trabalho do Setor de Passadores 6.1.1 Análise da Atividade Funcionário transporta 160 latas de carda por turno. O peso calculado foi de 87,5Kg cada, totalizando 14.000 kg./turno. O funcionário deve alimentar 5 passadores, e retornar com as latas vazias (Figura 1). Estas latas se movimentam por um sistema de rodízio com buchas que estavam gastas e travadas devido ao acúmulo de pó e fios de algodão (Figura 2). Este fato dificultava puxar as latas sobrecarregando as articulações dos membros superiores e da coluna vertebral do trabalhador. Ao aplicar um questionário de dor/desconforto nos funcionários deste setor observou-se queixa de 74% na articulação do ombro e 65% na região lombar. Este fato foi confirmado com o alto índice de afastamento devido a lombalgia e dores nos ombros observados no ambulatório médico. Com o objetivo de quantificar o esforço exigido ao transportar as latas foi feito o teste de dinamômetria usando uma célula de força e um dinamômetro digital. O esforço para puxar as latas foi de 14 Kg (Figura 3) e de empurrar a lata de 15 Kg (Figura 4). 6.1.2 Medidas Proposta Substituição do sistema de rodízio atual (bucha e borracha) das latas das cardas para rodízio com rolamento e nylon (Figura 5). Para justificar esta medida um levantamento dos custos envolvidos e nova avaliação de esforço usando dinamômetro foi feito com os novos rodízios com rolamento e nylon. No teste de esforço observou-se uma redução de 54,7% no esforço exigido ao puxar a lata e 57,5% ao empurrar lata. 6.1.3 Justificativas para substituição e ganhos para os funcionários e empresa •

Redução dos Riscos Ergonômicos e Atendimento à NR 17



Diminuição das queixas de dor e desconforto em relação ao trabalho



Melhoria das condições do trabalho, do grau de satisfação e conseqüentemente da qualidade de vida do trabalhador



Redução de custos devido à durabilidade superior e menor preço das rodas de nylon e rolamento



Melhoria da produtividade e qualidade do produto



Redução do nº de intervenções mecânicas



Custo do rodízio atual: R$ 28,00



Custo do rodízio proposto: R$ 17,00



Durabilidade média do sistema atual: 06 meses



Durabilidade média do sistema proposto: 18 meses

Custo com sistema atual em 06 meses (borracha/bucha) 160 latas x 3 rodas x R$ 28,00 = R$ 13.440,00 R$ 13.440,00 x 3 (durabilidade) = R$ 40.320,00 Custo com sistema proposto em 18 meses (nylon/bucha) 160 latas x 3 rodas x R$ 17,00 = R$ 8.160,00

Redução de custo em 18 meses: R$ 32.160,00 7. CONCLUSÃO: O Programa de Controle Ergonômico está na fase final de implementação na empresa. Os comitês estão começando a desenvolver suas atividades de uma forma mais independente sem muita participação do consultor para direcionar as suas ações. A próxima etapa será o desligamento do consultor da empresa permitindo que o grupo seja o seu próprio gestor das questões ergonômicas. Num período ainda a ser determinado pela empresa teremos auditorias para certificar a continuidade e a eficácia do programa.

FIGURAS EM ANEXO

FIGURAS ANEXO

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